um passeio onírico e anestesiante embalado pela intensa rapsódia de liszt por entre as danças geométricas, embrenhado na formosura das formas e das abstrações rigorosamente ritmadas com o entusiasmo musical rapsódico; é como um delírio quimérico onde os sons se materializam em obras de klee e mondrian; se trata de um laborioso trabalho manual de fornecer corporalidade às imagens mentais que a música amontoa na consciência, portanto, um prato cheio para todos os acometidos pelo distúrbio neurológico da sinestesia
a névoa cobrindo a paisagem verde como um manto, as árvores quietas e nuas, os cavalos extáticos numa bonança espiritual, pacatos e arrebatados como quem pensa demais em uma tragédia existencial ou num drama irremediável e a também a confirmação de que a tristeza é quieta; tudo isso contribui para a totalidade da composição desse quadro chamado "melancolia etérea"
a imagem da barricada é tão pungente no imaginário francês (vide maio de 1588 e maio de 1968 com a noite das barricadas ) — simbologia daquilo que é interdição, revolta e efervescência, morreremos junto à liberdade sob as barricadas populares — elas são feitas de literalmente qualquer coisa, tudo serve de matéria para a barricada, tudo é ingrediente; mais do que uma simples defesa, a barricada é uma mentalidade.. mentalité.— ah isso é tão francês
“O meu mau humor está desaparecendo graças ao trabalho duro. Embarquei em um tema moderno — uma barricada, pois se eu ainda não lutei pela liberdade em meu país, pelo menos vou pintar para ela. E, para mim, a liberdade é feminina e é ela quem conduz o povo.” - Eugène Delacroix
as demoradas visões das ondas banhando os rochedos são especialmente bonitas, porque parecem elementos tão distintos, mas a teimosia da água faz pensarmos que a colisão é bruta e capaz de fazer ruir as duríssimas pedras
acho tão mais nobre sentir-se atravessado pelo horror que a natureza causa, - especialmente a violência trazida à costa pelo furor das ondas - pois penso que invocar a sabedoria dum velho zoroastro seja uma atitude tão essencialmente humana, essa negociação tão cheia de afeto entre nossa fraqueza e as potências do cosmos
hoje em dia não se teme tanto quanto antes, o que é uma premissa fundamental para o exercício de dominação
esse cinema corpóreo da yoko é tão sedutor e vistoso... é tanto mais valioso levando em consideração a trajetória dela e a relação da mulher com o próprio corpo; na verdade todos nós temos algum tipo de doença dos olhos quando o assunto é geografia corporal;
a mosca estudando cada centímetro de pele, perscrutando cada cantinho do corpo nu feminino; é praticamente inevitável não imaginar um passeio sobre a nudez através dos olhos da mosca, tocando toda a extensão do solo epidérmico com as patinhas frágeis; querendo ou não, a investigação da mosca é a inauguração de um novo olhar sobre o nu, conduzimos nosso olhar através da dança da mosca, dos pés á cabeça, administrando essa divagação nesse novo terreno
um tratado muito bem harmonizado sobre a violência e crueldade — violência que habita no interior do amor, inclusive — sobre aquela categoria de ira que toma conta num instante, que ferve no sangue e logo se espalha por todo o corpo através das veias: desde as cenas de corte de carne, o contraste entre os dois cavalos, os discursos um tanto luciféricos na televisão, a rudeza das transições entre as cenas juntamente com a crueza sonora — que me deu uma torturante agonia — tudo isso cientificamente posicionado a fim de indicar a cólera e todo o rancor envolvido na trama das personagens; uma bela composição sobre o sangue parental e também o sangue que jorra abundantemente depois de um corte matematicamente bem feito no pescoço de um cavalo
certa vez eu li um comentário no youtube dizendo que the residents é a estética do coragem, o cão covarde só que musicalmente transmitida; eu estou até hoje digerindo essa brilhante tautologia; sejamos francos aqui, skinny seria um baita personagem absurdo pra assustar o pobre cãozinho na sua vidinha kafkiana e disparatada
the residents são pioneiros na apresentação artística, estendendo o experimentalismo da obra aos figurinos e aos famosíssimos videoclipes... a parceria com renaldo & the loaf também foi um deleite prazerosíssimo aos interessados em avant-garde
o curta não apresenta nenhum diálogo, nenhuma possível gramática...e nem precisa.. a atmosfera orgiástica, a homossexualidade, o ocultismo, o sadomasoquismo, as jaquetas de couro e as drogas, extratos simbólicos de uma subcultura colérica e subversiva que, através dum ar de delinquência juvenil, denuncia a lama de caretice de uma sociedade de valores dogmáticos; o frenesi underground é tão forte que até mesmo a suástica aparece como uma ferramente de choque; em scorpio rising a obscenidade da imagem basta para transmitir seu significado, um caleidoscópio de símbolos e transgressão
o problema de um banheiro muito branco e cândido é que qualquer mancha de sangue e horror se torna logo evidente; por onde andam os dermatologistas da cultura? são indispensáveis quando se passa o gillette onde não precisava mais
como induzir uma polução noturna tutorial 2020 atualizado pesquisar; uma profusão psicodélica-psicótica-hipnótica de visões eróticas e paisagens voluptuosas; praticamente um surrealismo libidinoso, dadaísmo sensual
"Em 1925, os surrealistas em Paris começaram a usar uma técnica de escrita e desenho que chamaram de “Cadavre exquis” ou “Exquisite Corpse”, em que vários participantes colaboraram cegamente na criação de uma única imagem ou frase unificada: Uma pessoa escreveu uma palavra ou desenhou parte dela um corpo em um pedaço de papel, dobrou-o e o passou para o próximo participante, que adicionaria outro elemento sem ver o que o precedeu. (...) O resultado foi uma frase ou imagem altamente sintética, uma composição no sentido original da palavra, consistindo de elementos conjugados provenientes de diferentes origens."
a morte atravessa a carne humana, seja no drama barroco da finitude da vida e, quero dizer, na iminência de sermos atingidos pela decomposição da matéria ou pela morte que nós mesmos nos infligimos e em tudo o que se move
seria pertinente aí pensar na natureza humana em sua similaridade com a natureza do fogo, que só existe no aniquilamento de outra coisa; o fogo não é nada, mas morte
sempre achei que a criança fosse mesmo os restos explícitos da expressão do homem religioso arcaico; costurar as folhas para que deixem de cair significa viver num cosmos que é organismo, não mecanismo; isso aí define a natureza ou como sacralidade ou como profanidade; é a fundação de toda uma ontologia a partir dessa consciência
esse curta é teatralmente e poeticamente muito bonito, tã franco e puro; cada vez mais alegre por ter descoberto a alice e as suas narrativas
periodicamente se tem sonhos que conservam essa estética do kubelka, tensionada entre o positivo e negativo, de movimentação irregular - frame rate orgânico e cambiante - e onde as sombras determinam muito mais a identidade dos objetos
adebar conversa muito mais com seus próprios significados do que com os cânones estabelecidos, na verdade é isso que determina todo vanguardismo
uma prova experimental de que a variação sonora pode transfigurar nossas arquiteturas e nos dar a impressão de um passeio futurista-urbano-extraterreno
a fotografia do man ray é um estudo -arracional- da geografia que a luz inaugura intuitivamente; do universo luminoso sobre a matéria; o dualismo entre o claro e o escuro; o suposto retorno à razão é só uma forma de tirar sarro.. razão pra que(m)?
uma exploração surrealista das camadas mais profundas das possibilidades e conflitos dialógicos: porque a conversa é sempre, em alguma medida, kafkiana (confusa, irreal, entorpecente, laboriosa ou absurda)
1) do diálogo ad infinitum, imperecível e eterno, antropofagia dialógica, pra depois vomitar versões alternativas do outro, cada um deglutindo e cuspindo com mais voracidade; 2) do diálogo passional, um desmanchar-se numa volúpia de barro, desentendimento e aniquilação da maleabilidade transitória; 3) eu tenho de ser eu, o outro tem de ser outro, cada cabeça, um cosmos: um diálogo é uma colisão astronômica
da brasilidade mais essencial, da feiura social, do trabalho como alienação de si e (des)cuidado, mas também de uma nostalgia infantil, uma alegria desocupada, um bem-estar que compete com a tranquilidade da natureza
um livrinho ilustrado e simpático de poemas do portinari é minha mais nova obsessão
"Quantas vezes montado nas árvores fazia grandes viagens./O silêncio do campo nos transportava para longe./Entrávamos no mundo Desconhecido./A imaginação varava as nuvens e o vento./Ao nosso redor os zebus pastavam./ O mugir de algum assustava-nos E caíamos na realidade./Já começavam a aparecer as sombras da noite."
o mundo é regular, previsível, "matematizável": só por isso ele é ainda suportável; queria eu que tudo fosse orgânico, a densidade da madeira fosse intuitiva, a dureza de um ovo fosse arbitrariamente indecisa, os objetos se recusassem, num ato de revolta, a serem pragmáticos... mas caso assim fosse, já estaríamos todos enforcados e podres num circo surrealista
quer mais modernidade do que isso? plasticidade, tudo se fazendo em farelos, quer dizer, é porque tudo está realmente em ruína... o homem moderno é aquele que pega do chão todo o pó das grandes belas conquistas e obras da antiguidade (a honra, as esculturas, os signos maravilhosos por detrás de toda banalidade) e assopra ao nada; não tem mais nada pra fazer a não ser destruir; nosso ideal estético é agora também as cinzas
o riso das plateias nos programas de talk show, o trato com o skylab como se ele fosse um comediante confesso, tudo isso demonstra ao menos uma coisa fundamental: é muito difícil tratar a escatologia com seriedade; e às vezes mesmo os tabus do corpo, onde os gracejos se misturam com pudor; há nele um lirismo do grotesco literário e POR QUÊ NÃO? acho que a figura da puta e do travesti, por exemplo, merecem todo o entusiasmo lírico
alice também retalhou carne fresca com seus bisturis e fez o seu próprio processo cirúrgico, sem anestesias e, mais importante, SEM CHORO; montou uma obra que mistura um sci-fi ousado, uma comédia modesta e o horror: tudo isso muito bem costurado e sem rebarbas: um belíssimo frankenstein
cavalos normalmente troteiam com muito estilo, mas eles correndo para trás desse jeito levando as carruagens francesas é uma das coisas mais absurdas e formosas que já vi
An Optical Poem
4.0 3um passeio onírico e anestesiante embalado pela intensa rapsódia de liszt por entre as danças geométricas, embrenhado na formosura das formas e das abstrações rigorosamente ritmadas com o entusiasmo musical rapsódico; é como um delírio quimérico onde os sons se materializam em obras de klee e mondrian; se trata de um laborioso trabalho manual de fornecer corporalidade às imagens mentais que a música amontoa na consciência, portanto, um prato cheio para todos os acometidos pelo distúrbio neurológico da sinestesia
The Ethereal Melancholy of Seeing Horses in the Cold
3.7 5a névoa cobrindo a paisagem verde como um manto, as árvores quietas e nuas, os cavalos extáticos numa bonança espiritual, pacatos e arrebatados como quem pensa demais em uma tragédia existencial ou num drama irremediável e a também a confirmação de que a tristeza é quieta; tudo isso contribui para a totalidade da composição desse quadro chamado "melancolia etérea"
L'enfant de la barricade
3.8 1a imagem da barricada é tão pungente no imaginário francês (vide maio de 1588 e maio de 1968 com a noite das barricadas ) — simbologia daquilo que é interdição, revolta e efervescência, morreremos junto à liberdade sob as barricadas populares — elas são feitas de literalmente qualquer coisa, tudo serve de matéria para a barricada, tudo é ingrediente; mais do que uma simples defesa, a barricada é uma mentalidade.. mentalité.— ah isso é tão francês
“O meu mau humor está desaparecendo graças ao trabalho duro. Embarquei em um tema moderno — uma barricada, pois se eu ainda não lutei pela liberdade em meu país, pelo menos vou pintar para ela. E, para mim, a liberdade é feminina e é ela quem conduz o povo.” - Eugène Delacroix
O Fazedor de Tempestades
4.3 5as demoradas visões das ondas banhando os rochedos são especialmente bonitas, porque parecem elementos tão distintos, mas a teimosia da água faz pensarmos que a colisão é bruta e capaz de fazer ruir as duríssimas pedras
acho tão mais nobre sentir-se atravessado pelo horror que a natureza causa, - especialmente a violência trazida à costa pelo furor das ondas - pois penso que invocar a sabedoria dum velho zoroastro seja uma atitude tão essencialmente humana, essa negociação tão cheia de afeto entre nossa fraqueza e as potências do cosmos
hoje em dia não se teme tanto quanto antes, o que é uma premissa fundamental para o exercício de dominação
Fly
3.3 4esse cinema corpóreo da yoko é tão sedutor e vistoso... é tanto mais valioso levando em consideração a trajetória dela e a relação da mulher com o próprio corpo; na verdade todos nós temos algum tipo de doença dos olhos quando o assunto é geografia corporal;
a mosca estudando cada centímetro de pele, perscrutando cada cantinho do corpo nu feminino; é praticamente inevitável não imaginar um passeio sobre a nudez através dos olhos da mosca, tocando toda a extensão do solo epidérmico com as patinhas frágeis; querendo ou não, a investigação da mosca é a inauguração de um novo olhar sobre o nu, conduzimos nosso olhar através da dança da mosca, dos pés á cabeça, administrando essa divagação nesse novo terreno
Carne
3.7 98um tratado muito bem harmonizado sobre a violência e crueldade — violência que habita no interior do amor, inclusive — sobre aquela categoria de ira que toma conta num instante, que ferve no sangue e logo se espalha por todo o corpo através das veias: desde as cenas de corte de carne, o contraste entre os dois cavalos, os discursos um tanto luciféricos na televisão, a rudeza das transições entre as cenas juntamente com a crueza sonora — que me deu uma torturante agonia — tudo isso cientificamente posicionado a fim de indicar a cólera e todo o rancor envolvido na trama das personagens; uma bela composição sobre o sangue parental e também o sangue que jorra abundantemente depois de um corte matematicamente bem feito no pescoço de um cavalo
The Residents Video Voodoo
3.5 1certa vez eu li um comentário no youtube dizendo que the residents é a estética do coragem, o cão covarde só que musicalmente transmitida; eu estou até hoje digerindo essa brilhante tautologia; sejamos francos aqui, skinny seria um baita personagem absurdo pra assustar o pobre cãozinho na sua vidinha kafkiana e disparatada
the residents são pioneiros na apresentação artística, estendendo o experimentalismo da obra aos figurinos e aos famosíssimos videoclipes... a parceria com renaldo & the loaf também foi um deleite prazerosíssimo aos interessados em avant-garde
Scorpio Rising
3.6 44o curta não apresenta nenhum diálogo, nenhuma possível gramática...e nem precisa.. a atmosfera orgiástica, a homossexualidade, o ocultismo, o sadomasoquismo, as jaquetas de couro e as drogas, extratos simbólicos de uma subcultura colérica e subversiva que, através dum ar de delinquência juvenil, denuncia a lama de caretice de uma sociedade de valores dogmáticos; o frenesi underground é tão forte que até mesmo a suástica aparece como uma ferramente de choque; em scorpio rising a obscenidade da imagem basta para transmitir seu significado, um caleidoscópio de símbolos e transgressão
The Big Shave
4.0 86o problema de um banheiro muito branco e cândido é que qualquer mancha de sangue e horror se torna logo evidente; por onde andam os dermatologistas da cultura? são indispensáveis quando se passa o gillette onde não precisava mais
The Exquisite Corpus
3.9 2como induzir uma polução noturna tutorial 2020 atualizado pesquisar; uma profusão psicodélica-psicótica-hipnótica de visões eróticas e paisagens voluptuosas; praticamente um surrealismo libidinoso, dadaísmo sensual
"Em 1925, os surrealistas em Paris começaram a usar uma técnica de escrita e desenho que chamaram de “Cadavre exquis” ou “Exquisite Corpse”, em que vários participantes colaboraram cegamente na criação de uma única imagem ou frase unificada: Uma pessoa escreveu uma palavra ou desenhou parte dela um corpo em um pedaço de papel, dobrou-o e o passou para o próximo participante, que adicionaria outro elemento sem ver o que o precedeu. (...) O resultado foi uma frase ou imagem altamente sintética, uma composição no sentido original da palavra, consistindo de elementos conjugados provenientes de diferentes origens."
Os Tempos Mortos
4.2 12a morte atravessa a carne humana, seja no drama barroco da finitude da vida e, quero dizer, na iminência de sermos atingidos pela decomposição da matéria ou pela morte que nós mesmos nos infligimos e em tudo o que se move
seria pertinente aí pensar na natureza humana em sua similaridade com a natureza do fogo, que só existe no aniquilamento de outra coisa; o fogo não é nada, mas morte
O Cair das Folhas
3.9 33 Assista Agorasempre achei que a criança fosse mesmo os restos explícitos da expressão do homem religioso arcaico; costurar as folhas para que deixem de cair significa viver num cosmos que é organismo, não mecanismo; isso aí define a natureza ou como sacralidade ou como profanidade; é a fundação de toda uma ontologia a partir dessa consciência
esse curta é teatralmente e poeticamente muito bonito, tã franco e puro; cada vez mais alegre por ter descoberto a alice e as suas narrativas
Adebar
3.4 2periodicamente se tem sonhos que conservam essa estética do kubelka, tensionada entre o positivo e negativo, de movimentação irregular - frame rate orgânico e cambiante - e onde as sombras determinam muito mais a identidade dos objetos
adebar conversa muito mais com seus próprios significados do que com os cânones estabelecidos, na verdade é isso que determina todo vanguardismo
Bridges-Go-Round
3.5 2uma prova experimental de que a variação sonora pode transfigurar nossas arquiteturas e nos dar a impressão de um passeio futurista-urbano-extraterreno
O Retorno à Razão
3.3 8a fotografia do man ray é um estudo -arracional- da geografia que a luz inaugura intuitivamente; do universo luminoso sobre a matéria; o dualismo entre o claro e o escuro; o suposto retorno à razão é só uma forma de tirar sarro.. razão pra que(m)?
Dimensões do Diálogo
4.4 188uma exploração surrealista das camadas mais profundas das possibilidades e conflitos dialógicos: porque a conversa é sempre, em alguma medida, kafkiana (confusa, irreal, entorpecente, laboriosa ou absurda)
1) do diálogo ad infinitum, imperecível e eterno, antropofagia dialógica, pra depois vomitar versões alternativas do outro, cada um deglutindo e cuspindo com mais voracidade; 2) do diálogo passional, um desmanchar-se numa volúpia de barro, desentendimento e aniquilação da maleabilidade transitória; 3) eu tenho de ser eu, o outro tem de ser outro, cada cabeça, um cosmos: um diálogo é uma colisão astronômica
Cândido Portinari - Um Pintor de Brodowski
3.8 2da brasilidade mais essencial, da feiura social, do trabalho como alienação de si e (des)cuidado, mas também de uma nostalgia infantil, uma alegria desocupada, um bem-estar que compete com a tranquilidade da natureza
um livrinho ilustrado e simpático de poemas do portinari é minha mais nova obsessão
"Quantas vezes montado nas árvores fazia grandes viagens./O silêncio do campo nos transportava para longe./Entrávamos no mundo Desconhecido./A imaginação varava as nuvens e o vento./Ao nosso redor os zebus pastavam./
O mugir de algum assustava-nos E caíamos na realidade./Já começavam a aparecer as sombras da noite."
O Apartamento
4.3 34 Assista Agorao mundo é regular, previsível, "matematizável": só por isso ele é ainda suportável; queria eu que tudo fosse orgânico, a densidade da madeira fosse intuitiva, a dureza de um ovo fosse arbitrariamente indecisa, os objetos se recusassem, num ato de revolta, a serem pragmáticos... mas caso assim fosse, já estaríamos todos enforcados e podres num circo surrealista
quer mais modernidade do que isso? plasticidade, tudo se fazendo em farelos, quer dizer, é porque tudo está realmente em ruína... o homem moderno é aquele que pega do chão todo o pó das grandes belas conquistas e obras da antiguidade (a honra, as esculturas, os signos maravilhosos por detrás de toda banalidade) e assopra ao nada; não tem mais nada pra fazer a não ser destruir; nosso ideal estético é agora também as cinzas
Faust et Méphistophélès
3.2 5" Ah! Prisioneiro estou desta vil matéria?
Desta masmorra escura a sofrer a miséria."
(FAUSTO, Goethe)
Einstürzende Neubauten: Stahlmusik-Video
2.8 1um mantra dentro de uma oficina mecânica desabando; uma chuva de bigornas sobre um chão de metal
The Residents: Hello Skinny
3.9 1eu compraria um jogo de facas tramontina do skinny mesmo que ele batesse na porta de casa às 3:40 da manhã
a vibe noir creepy surrealista desse clipe é tudo pra mim
Rogério Skylab: É Tudo Atonal
4.5 3o riso das plateias nos programas de talk show, o trato com o skylab como se ele fosse um comediante confesso, tudo isso demonstra ao menos uma coisa fundamental: é muito difícil tratar a escatologia com seriedade; e às vezes mesmo os tabus do corpo, onde os gracejos se misturam com pudor; há nele um lirismo do grotesco literário e POR QUÊ NÃO? acho que a figura da puta e do travesti, por exemplo, merecem todo o entusiasmo lírico
Chirurgie fin de siècle
3.4 4alice também retalhou carne fresca com seus bisturis e fez o seu próprio processo cirúrgico, sem anestesias e, mais importante, SEM CHORO; montou uma obra que mistura um sci-fi ousado, uma comédia modesta e o horror: tudo isso muito bem costurado e sem rebarbas: um belíssimo frankenstein
Avenue de l'opéra
3.3 5cavalos normalmente troteiam com muito estilo, mas eles correndo para trás desse jeito levando as carruagens francesas é uma das coisas mais absurdas e formosas que já vi