Divisor de águas em ambos terror e sci-fi, Alien transformou o otimismo das space operas dos anos 70 em um futuro espacial dark e tomado pelas corporações (coisa que o Ridley Scott ia explorar ainda mais no Blade Runner), misturou com a grande ascensão que o horror teve na mesma década (ele vendeu como "Tubarão no espaço"), pegou elementos de filmes antigos como "Thing from another world" e criou o clássico definitivo do híbrido "Sci-fi + Horror"
Alien é um dos filmes mais importantes do cinema moderno por inúmeras razões. Não só o trabalho state-of-art em direção, som, visuais, atmosfera e o design artístico do Alien by H.R Giger que influenciaram tudo dos dois gêneros que vieram a seguir, mas uma atuação humana e mais que convincente de um elenco que não era estrelar na época, e introduziu Ellen Ripley, a protagonista feminina mais importante da história do cinema, empoderada sem dar satisfação a ninguém, sem precisar ser salva e fora a desnecessária parte da cena da calcinha no fim, sem ser sexualizada.
Assistindo hoje é difícil se assustar; nossa geração viu horror trash e hardcore e coisa mais violenta e assustadora em jornal na TV aberta, mas em 1979, numa época sem internet e sem excessos gráficos, o filme deixou muita gente sem dormir. O que não envelheceu é a atmosfera e a tensão. Alien é uma obra-prima e um dos filmes mais influentes, não só no cinema, de todos os tempos
Alien 3 é o grande injustiçado da quadrilogia Alien. Criticado pelos fãs e pela crítica até hoje, foi o primeiro filme do impecável David Fincher e o desenvolvimento foi intensamente problemático com problemas na equipe, nas filmagens e roteiros sendo reescritos.
É fácil ver porque Alien 3 foi tão impopular: o filme já toma atitudes impopulares nas primeiras cenas
matando personagens principais do filme anterior - a cena da autopsia da Newt é a mais perturbadora de toda a série pra mim
. Então ele ignora a mitologia de Aliens e recua ao formato do primeiro Alien - sem armas e apenas um Alien. E para terminar de tirar o estilo blockbuster que deixou seu antecessor tão acessível, insere uma história depressiva, em uma das guinadas mais downbeat de uma grande franquia.
Alien 3 é um grande filme onde o xenomorph é um personagem que talvez nem precisava existir. Talvez fosse um filme sem o nome da franquia seria mais aclamado - mas Ripley é essencial aqui. O setting low-tech no planeta-prisão, onde Ripley é a única mulher, é particularmente meu favorito de toda a série. A direção do Fincher é espetacular e o tom noir dado ao espaço já prevê seu próximo trabalho, Se7en.
Quando o xeno começa a atacar e os prisioneiros, todos estupradores, pedófilos, criminosos e assassinos, começam a se questionar o que realmente tem a perder. É quando Alien 3 toca no seu tema central: niilismo. O filme é um drama perturbador que mostra personagens que bem antes do monstro começar a atacar, já tinham perdido a esperança. A religião é usada de forma excelente pela primeira vez na série.
O problema em Alien 3 são suas cenas de ação, onde os prisioneiros tentam capturar/enfrentar o xenomorph sem armas. São particularmente confusas e desinteressantes - a primeira metade do filme onde exploram o universo do planeta prisão é a melhor
O desfecho da trilogia, nas cenas finais, até fãs que não gostaram do filme aprovaram. Alien 3 é (mais) uma brava drástica mudança de direção na franquia e merece ser reavaliado pelos seus méritos próprios e seus temas únicos tratados de forma peculiar.
PS: A "Assembly Cut" tem 30 minutos de novo material, além de "consertar" cenas antigas. É a versão definitiva disparada e alguns críticos já começaram a reavaliar o filme por essa versão.
Uma das melhores sequels da história do cinema ao lado do segundo Godfather, Aliens é uma aula de como fazer uma sequência de uma história fechada. O filme dedica o seu primeiro ato a expandir a mitologia do primeiro, contando o trágico futuro de Ripley, mostrando mais da corrupta "companhia" e eventualmente colocando a heroína de volta ao planeta do primeiro filme. O segundo ato de Aliens é perfeição cinematográfica. Sem jamais largar o horror do primeiro filme, James Cameron transforma Aliens num irretocável épico de ação. Há mais monstros, há armas dessa vez, e muitas armas gigantes e descoladas. Toda fórmula de transformar um filme intimista em ação tinha tudo para destruir um filme Alien, mas a ação é comandada por desespero, tensão, claustrofobia e a luta para sobreviver. Protagonistas militares começam a sucumbir psicologicamente e Aliens fica incessante.
Os novos personagens são todos excelentes e mais uma vez bem atuados - Bishop e Newt em especical - e Ellen Ripley se consolida como protagonista feminina mais importante da história do cinema. É aqui a atuação onde ela chuta bundas, dramática, estressada, não-sexualizada, uma sobrevivente que não deve nada a ninguém. A Director's Cut contém uma cena que dá toda uma profundidade nova pra personagem durante o todo filme, inacreditável ter sido cortada
Aliens é quase tão importante quanto seu primeiro filme - a influência até nos one-liners em filmes de ação é inegável - e provável é mais divertido de se assistir. Se tem um problema, é o diálogo cheesy quando os marines são apresentados. Aliens é um raríssimo exemplo de terror ganhando elementos de ação de forma impecável, uma raríssima sequel de um clássico a altura do seu original e o melhor filme da carreira de James Cameron
OBS: Recomendo mais uma vez o Director's Cut fortemente
A história, no livro "Four Past Midnight", é uma obra-prima.
O filme é um TV Movie B de baixo orçamento feito em 1995. Levando isso em consideração, é uma adaptação muito digna e com todo seu charme de filme B pra história (uma das mais underated da carreira do King). O orçamento baixo e os atores menos conhecidos contribuem pra estranheza da história ser ainda maior.
O fato de que uma história média (é apenas uma das 4 histórias do livro) ter sido adaptada pra uma minisérie de 3h de conteúdo significa que deu tempo para colocar TUDO que acontece na história. Em termos de plot, é uma adaptação perfeita.
Langoliers tem todo seu culto, muita gente viu numa tarde ou noite perdida na TV a cabo nos anos 90 e na época os CGIs ruins criticados aqui eram normais, então foi uma das coisas mais estranhas pra muita gente, especialmente quem era mais novo.
No final das contas, o feeling é de um longo episódio de Twilight Zone escrito pelo Stephen King, muito estranho e desolado, sem deixar de ser assustador e perturbado. Ainda que tenha seu valor como companion piece, seria legal ver essa história sendo refeita com um orçamento melhor - até porque o livro não é "terror B" de forma alguma.
Obs: Patética a tradução pra português com o spoiler. Por sorte quando eu vi isso na TV a cabo eu não vi o nome e tive a surpresa intacta
(Spoilers) Direção boa. Fotografia linda (em uma locação que até a camera de um motorola daquele de 2007 ia conseguir uma fotografia espetacular).
Mas o roteiro é simplesmente uma fuckfest. Os acontecimentos da metade do filme foram filmados fora de ordem e depois que escolheram como colocar, tenho certeza. As coisas não fazem exatamente sentido. O filme já perde a credibilidade quando um urso ataca 3 vezes o Leo DiCaprio e em todas elas parece que ele foi orientado: urso, não amputa nada nem executa o Leo, porque o filme tem que durar 2 horas. E a grande cena de impacto dramático sobrevivencialista é o Leo dormir dentro de um cavalo? Wtf, amigos?
Nada no filme acontece fora do esperado o tempo todo. São cenas de sobrevivência clichês. A simpatia pelo protagonista é porque ele é o cara do Titanic, o personagem é inexistente - nada contra ser quietão, desde que ele não soltasse só frase vergonha alheia de tough-guy quando abre a boca. O filho aparece umas 3 vezes antes de morrer então nem deu tempo de ligar pra ele. Daí tem o Gui Wesley e o Tom Hardy, esse com o único personagem desenvolvido do filme. Ou seja, com tanto personagem pouco desenvolvido, é difícil comprar a agonia do filme. Vira tédio. E o final do filme lança uns lances de alucinações/fantasmas que nem o próprio filme levava a sério antes. Pelo menos o filme critica o homem branco e fica do lado dos índios , mas o homem branco do mal não são os AMERICANOS, ok? São os franceses!. Mas enfim, qual o ponto? Não tem mensagem política nem moral, é tudo uma desculpa pra mostrar paisagens legais
E se o Leo ganhar o Oscar por essa atuação onde ele basicamente faz o que eu faço todo dia que acordo de ressaca - tendo perdido pela atuação legendária de Wolf of wall street - vai ser triste demais.
Difícil entender o propósito desse filme. Não que ele não devia existir, mas a proposta mesmo. Além de vários documentários, dois filmes notáveis sobre o Jobs já tinham sido feitos - o "Piratas do Vale do Silício", mesmo desatualizado em 1997, é o melhor disparado. Então esse tenta ser diferente, ter outra perspectiva, mas de uma forma pouco definida que acho que nem o Danny Boyle entendeu direito no que ele quis focar.
O recorte é muito estranho. Ele passa no backstage de três conferências vitais na carreira de Jobs: o Macintosh, o Next (ambos fracassos), e a sua volta a Apple nos anos 90 - e o ponto mais legal dessa última, que é a parceria anunciada com o Bill Gates no telão, é ignorado. Ou seja, é um filme com ênfase na decadência, profissional e pessoal, da vida do Jobs.
De cara ele já ignora os maiores feitos da carreira dele - o Apple 2 e a popularização dos PCs; e o sucesso do iPod, iPhone, iPad nos anos 2000. Esses momentos de glória são tratados com mínimas menções, praticamente ignorados no filme, ou seja, ele é o pior possível pra mostrar para alguém que quer saber QUEM FOI Steve Jobs - a Pixar é esquecida.
Fica pior. Vários momentos fictícios são inseridos nessa que devia ser uma biografia. O diretor ainda assume com orgulho nas entrevistas, usando shakespeare como desculpa. O relacionamento do Jobs com o Woz, o Sculley e com a filha Lisa é perigosamente romantizado - o print no fim, uma história falsa, não emociona e parece até mal gosto à história de uma figura importante como o Jobs. Numa vida com tanto a falar quanto a dele, pra que colocar coisas ficticias? Sabendo dessas coisas, o filme perde credibilidade - e mesmo o filme não tem foco se está falando sobre a vida pessoal ou profissional dele, acabando mostrando as duas de forma superficial.
Não é uma perda total. É bonito, bem dirigido, bem atuado - apesar do Fassbender novo ficar absurdamente diferente de como era o Jobs. Tem algumas cenas memoráveis (que como o filme não faz questão de ser verdadeiro o tempo todo, eu não faço ideia se aconteceram de verdade). E se esforçar muito para encontrar algum lugar para esse "Steve Jobs", é como um recorte complementar às outras obras sobre a vida dele. Ou seja, se você é apaixonado pela história da informática e já assistiu todos os outros filmes sobre o Jobs, talvez esse seja um recorte diferente interessante. Mas fora isso, use melhor seu tempo pra ver o filme que indiquei no primeiro parágrafo - até em respeito a importância do próprio Steve Jobs.
--------
ou resumindo em uma frase: "um filme pointless sobre 30% da vida do Jobs - e o 30% menos importante que aconteceu no meio dela".
Esse filme ser considerado "obra-prima" ou "filme do ano" diz muito sobre o estado das coisas atuais onde hype, marketing e a empolgação coletiva são muito maiores que qualquer julgamento crítico sobre as obras.
Mad Max Fury Road é bom, mas só bom. A ambientação, atuações, direção, efeitos especiais, cenas de ação e direção artística são excelentes - tirando aquele cara tocando guitarra que é a coisa mais cheesy do mundo. O que é compensado com um filme praticamente sem plot, sem desenvolvimento de história nenhum, é praticamente uma cena de perseguição de 2h, só ação e ação e os bons momentos de desenvolvimento de personagem ou mesmo do universo pós-apocalíptico são raríssimos. Mesmo a ação, carro chefe do filme, é apenas boa, com poucos momentos memoráveis.
No fim das contas é um filme de ação com algumas cenas legais, ambientação incrível, mas que nunca desenvolve seu mundo ou seus personagens, ficando constantemente tedioso, monótono e repetitivo. Ainda vale se assistir pela excelência técnica, mas não é nada imperdível. Sou grande fã de filmes pós-apocalipticos, inclusive do Road Warrior que esse aqui não chega nem aos pés, e esse não acrescenta nada ao gênero.
O ponto mais alto do filme mesmo é a narrativa com empoderamento das mulheres, um ponto onde o filme foi atualizado com esplendor - mas mesmo isso é muito menos desenvolvido do que tinha potencial para ser, nesse filme que capricha no estilo mas esquece a substância.
Na altura que esse filme saiu, X-Files era um dos produtos culturais mais quentes dos anos 90, os episódios chegavam a números absurdos de 20-25 milhões de TVs ligadas na audiência e o filme usou uma boa parte do seu orçamento maior na parte do marketing, criando um hype gigantesco.
Quado ele saiu, cinemas lotados, todo mundo viu, retornou 3 vezes o investimento que foi colocado nele... mas ao contrário da expectativa (surreal) de alguns produtores, não virou uma super saga cinematográfica como Star Wars. E nem teria como, visto que a série é tão bem sucedida e bem apegada ao formato televisivo, tendo sido a série de ficção cientifica que ficou no ar seguidamente por mais tempo.
X-files já era uma super franquia, mas em outro meio, na televisão. Para conquistar o cinema também, seria necessário abandonar muito do que foi construído nos então 5 anos de série até aqui, já que mesmo sendo uma das séries mais populares da década, grande parte do público do cinema não assistia a série regularmente.
Felizmente e assumidamente, Chris Carter, Frank Spotniz e cia ficaram em cima do muro, fazendo um filme com apelo tanto para os fãs de longa data quanto para os novos espectadores - pesando bem mais pros fãs.
Para quem não é fã da série, X-Files é um ótimo filme que na primeira metade tem toda a conspiração paranoica da série e na segunda se aproveita do orçamento para evoluir para um sci-fi épico.
Para os fãs da série, o filme é um sonho. Tudo que os fãs amaram na TV por 5 anos está aqui potencializado pelo orçamento e produção de pontas: as conspirações, a paranoia, o tom noir, praticamente todos os personagens principais (menos Krycek; como explicar ele pra quem nao vê a série?), o humor, o relacionamento muito bem trabalhado do Mulder e da Scully - e ponto pra eles por não ter rolado beijo, fugindo dos clichês - aliens, abelhas, black oil, vírus, híbridos, gente morrendo misteriosamente, tecnologia dos anos 90... Tudo que fez X-Files ser a série zeitgeist dos anos 90 aparece aqui de alguma forma. A história da mitologia anda, mesmo tendo que dar uns passos atrás para explicar coisas para quem não assiste, e algumas perguntas chave são respondidas.
Todo mundo que trabalha bem na série trabalha ainda melhor aqui. O roteiro é criativo e o filme voa porque nunca deixa de ser interessante. A direção é espetacular. Os efeitos especiais dão de 10x0 em filme que sai hoje quase 20 anos depois. A trilha sonora do gênio Mark Snow é talvez a melhor da sua carreira e comanda o filme. Duchovny mostra o quanto ele evoluiu em 5 anos e encara o grande papel como a estrela que virou. Gillian Anderson é absolutamente perfeita, seriamente uma das melhores atrizes da história da TV
Todos esses estavam fazendo uma série cult de um novo canal chamado Fox em 1993, saindo da obscuridade, e anos depois estavam fazendo um dos filmes mais produzidos do ano em Hollywood. Ver a lenta evolução das minhocas em CG na primeira temporada pras cenas impressionantes na Antartida no fim é fantástico
Chamar de "episódio estendido" é injusto. Bem verdade que os fãs da série vão apreciar muito mais isso aqui - é a razão da nota máxima, daria 8 como filme avulso da série. Mas é difícil chamar algo com dessas proporções de episódio de TV estendido - embora X-Files sempre tenha sido a série mais cinematografica da TV até ali, de qualquer forma.
No fim do filme, os X-Files são reabertos e meses depois, a Fox cancela a ideia de tornar a série uma franquia de filmes e renova por mais duas ótimas temporadas. Filmes de X-Files são sempre bem vindos, mas como grandes aberturas para, no final, voltarmos para o meio que deu, no final das contas, tanta liberdade criativa pra essa série ser o que é
O programa dele era genial, mas o personagem não se traduziu tão bem no cinema, ainda mais na estrutura roterizada. Quando foi fazer o filme dos outros dois personagens do show, Borat e Bruno, o Sasha inteligentemente reverteu à estrutura de falso documentário e colocou eles pra interagir com pessoas de verdade - como o próprio Ali G fazia no programa e no filme se enfraqueceu por estar interagindo com atores, com falas escritas e etc. Sasha é sempre melhor no improviso, quando ele mesmo vira os personagens, do que em fazer comédia roterizada. Ele é bom em fazer interações sociais e usar seus personagens imbecis como ferramenta para tirar o preconceito das próprias pessoas, algo que acontece em Borat e Bruno.
Ainda assim o filme tem momentos engraçados e toscos, sobretudo da cultura dos anos 2000 que olhando de hoje é muito, muito tosca, mas só é recomendado pros fãs do Sasha e pra quem conhece o lado mais pobre da Inglaterra moderna o suficiente pra captar o humor bem interno em vários trechos.
O Ali G, mesmo sendo o personagem que deu fama ao Sasha, não é o seu melhor, mas quem quiser conhecê-lo em ação pra valer, recomendo baixar os episódios do Ali G Show. O filme é um mero complemento divertido.
Gummo, pra mim, fica em um meio termo entre quem o ama e quem o odeia. A direção é estilosa e a demonstração de uma América que é completamente o oposto daquela glamourizada do Sonho Americano é convincente. Xenia é uma cidade destruída pela pobreza e o seu povo é tão ignorante e sem recursos que o completo niilismo é praticamente a única coisa que lhes resta.
Dito isso, o filme acaba sendo raso, uma vez que a crítica é superficial já que em nenhum momento é analisado quem é o causador de toda aquela situação. Também entra em contradição com o background de classe média de seu diretor - Gummo nunca parece um retrato da pobreza sob quem a vive, e sim sob os olhos de alguém de outra classe que está ali como o observador - no caso, o próprio Korine. O que faz algumas cenas, como a que ele próprio se apaixona por um anão negro, parecerem simplesmente uma piada hipster, enquanto outras, como da conversa na cozinha com quedas de braço, são mais convincentes.
Assim, Gummo funciona mais como um retrato interessante do que como uma crítica definitiva. É uma curiosidade para cinéfilos mais aventurosos, um filme saiu da zona de conforto, trouxe alguns frutos interessantes de lá, mas nada que efetivamente mudasse as regras do jogo.
O melhor filme de 2014 na minha opinião, Gone Girl é um clássico dos nossos tempos. A história absurda é cheia de críticas à relacionamentos, redes sociais e principalmente à mídia. O thriller é cheio de reviravoltas insanas e cada pedaço é construído cheio de detalhes que conciliam a paranoia do trama com as mensagens que o filme tenta passar com sua linguagem absurdista.
Ben Affleck é beneficiado pelo seu papel - ele é um cara tão estúpido que ser um ator ruim caiu como uma luva. Rosamund Pike, impecável, sobra no filme, mas a estrela mesmo é David Fincher, que retornou ao território thriller (embora Gone Girl não seja um thriller convencional), mas ainda usa várias ideias originais de direção e edição que foram concebidas no The Social Network.
É o próprio Fincher e sua equipe (que conta com a própria Gillian Flynn, autora do livro, escrevendo o roteiro) que torna a versão cinematográfica de Gone Girl um tour-de-force, confirmando junto com os últimos trabalhos do diretor que ele nunca parou de se atualizar e aperfeiçoar e talvez se encontre atualmente no ápice da forma artística, construindo imagens que estão entre as mais estilosas do cinema atual.
Um exemplo disso é soundtrack espetacular, mais uma vez a cargo de Trent Reznor, fugindo completamente do estilo tradicional de trilhas sonoras, uma vez que Trent, assim como Fincher, tem um estilo peculiar e uma forma não convencional de construir seus recortes.
O que, não menos como "Fight Club", nos dá a receita para transformar um grande livro em um grande filme: colocá-lo na mão de um diretor que tem seus próprias ambições artísticas.
Talvez o filme de humor mais relevante dos anos 2000, Borat é brilhante por dois motivos: pelo seu humor absurdamente agressivo e destemido e pela ironia de que tudo é justificado pela forma como o personagem do Cohen (que já existia no The Ali G show, popular na Inglaterra), ao se passar de um idiota que vem de uma sociedade atrasada e preconceituosa, acaba expondo o próprio ódio e preconceito dos tão "desenvolvidos" Estados Unidos.
O filme funciona tanto pelo humor trash quanto pelo significado profundo por trás dele, principalmente nos inteligentes choques culturais que a cultura ocidental causa não só com Borat, mas com tantos milhões no mundo afetados pela influência cultural dos EUA e da Europa.
Em uma cena especialmente genial, Borat e um cidadão de bem norte-americano encontram a homofobia como algo em comum; em outra, minimalisticamente, a adoração pela bandeira dos Estados Confederados é criticada. A Guerra do Iraque que rolava no momento que o filme saiu também não escapou de críticas.
Não fosse tão inteligente, Borat seria apenas insanamente agressivo e uma comédia definitiva para quem tem esse tipo de humor. Mas a significação de tudo por trás torna esse filme também essencial para qualquer um interessado em temas como antropologia, etnocentrismo e choque cultural.
[Pontos pro Cohen que durante toda a divulgação do filme, sempre deu entrevistas e apareceu em público dentro do personagem Borat, mostrando o quão talentoso ele é como performer e o quanto ele levou a sério a proposta.]
Interestelar é um épico de quase 3h bem dirigido, que entretem, tem uma fotografia e efeitos especiais bastante bonitos e caprichados, mas que como praticamente todos os filmes desde que Nolan deixou de ser um diretor independente, não fogem de uma linguagem mais fácil, rasa e comercial para dialogar com as massas, mesmo que ainda assim tenha gente que não tenha entendido tudo no filme.
A tentativa de encaixar uma história de amor paterno com as missões épicas da NASA é particularmente embaraçosa, assim como várias decisões forçadas para juntar personagens, e depois de tanto hype, até o absurdo de falarem "novo 2001", Interestelar decepciona por ser não acrescentar nada de novo ao jogo.
É um filme de Hollywood, bem hollywoodiano, que deve cumprir a missão de te divertir. Daquele que vai passar na Globo daqui a 10 anos e sua mãe vai ver e gostar. Só não espere por algo mais.
Uma tech-demo de efeitos especiais casada com um hype e um marketing gigantesco. O que resulta num filme bonito, bem comandado tecnicamente, mas esquecível, genérico e irrelevante, de mais 1h, que recebeu um fuss gigantesco porque hoje em dia, afinal, a campanha publicitária é mais importante do que o produto em si.
Chega a ser um desrespeito compararem com 2001 ou qualquer outro filme de sci-fi que tenha tido algum tipo de importância
Lynch monta um filme bastante experimental e inovador. Filmado todo com uma câmera digital, tem um toque visual inovador, com ângulos inusitados (e bem sacados) de câmera
A parte artística do filme também é extremamente bem sucedida. Músicas, lugares, som, visão, efeitos, coelhos, mulheres em problemas... ele monta um mosaico único.
E com uma montagem aleatória de cenas, ele faz seu trabalho mais difícil e desafiador. Perto disso, só "Eraserhead" do fim pra frente e algumas cenas do Black Lodge de Twin Peaks. Noções de tempo, espaço, lógica e tudo mais se misturam e o filme toca como uma coletânea de imagens e hyperlinks para o espectador tomar sua própria interpretação de acordo com a própria filosofia e a própria espiritualidade de cada um.
No caminho do triunfo, uma explosão de sentimentos e situações construídas pelo mestre, mas também uma ausência que torna Inland Empire menos tocante do que seus sucessores Muholland Dr e Lost Highway: a ausência de dois elementos que Lynch é especialista: personagens e enredo
O que deixa não só seus dois filmes anteriores, mas praticamente todas suas obras (Blue Velvet, Twin Peaks, Wild At Heart e tudo mais) tão chocante é a criação de um enredo que, mesmo confuso e cheio de reviravoltas, desenvolva personagens que vão se revelando surpreendentemente durante a narrativa.
Aqui, apesar da atuação fantástica de Laura Dern, não há um enredo em primeiro plano aqui, e os personagens não são desenvolvidos, são apenas enfeites no Tour Audiovisual que esse filme proporciona.
Não sentimos a ponta da arma do Mr Eddie de Lost Highway na parte do marido com medo da traição da esposa; não sentimos a dor de Noemi Watts ao ver seu amor perdido em Muholland Dr, nem há nada próximo das duas maiores invenções do diretor: Agent Dale Cooper e Frank Both.
Tudo isso aponta Inland Empire como uma grande e relevante obra de arte, mas posicionada em um plano de apreciação onde você não vai chorar, perder o sono ou sentir aquele choque ao final - e essa é a maior das muitas diferenças deste filme pra seu antecessor, de 2001, que até hoje aguarda seu verdadeiro sucessor espiritual.
Quando o filme acabou, pensei em duas coisas: aos prantos com a cena final, na obra-prima que eu tinha acabado de assistir. E depois, em como eu consegui entender tudo de primeira, pelo simples fato de ter visto e refletido "Lost Highway" antes. Lynch usa a mesma fórmula e linguagem nos dois filmes, apenas de forma um pouco mais simples (sem deixar de ser muito complexa) aqui em Mulholland Drive, e o engraçado é que a crítica reagiu de forma muito empolgada com o filme de 2001, aclamando as mesmas coisas que criticou no de 1997. Mulholland Drive é um clássico imediato, é uma obra prima dos tempos atuais. A narrativa neo-nir, o desenrolar dos fatos, os personagens apresentados, cada detalhe é ambíguo e vira ao avesso no momento onde a verdade vem atona, onde se acorda do sonho. É aí que Lynch prova o gênio que é, seu simbolismo é simples e bonito (como a caixa azul e sua chave), os elementos constantes em todos os seus filmes aparecem sempre de forma belíssima, seu bom amigo Angelo Badalamenti, que faz uma ponta como um mafioso, entrega outra trilha sonora absurdamente palpável, a linda Naomi Watts tem a melhor atuação da sua carreira, e uma das melhores atuações que consigo lembrar no cinema em geral. E mais uma vez, Lynch indica todo o roteiro para um "algo mais", e é aí que destoa dos demais diretores: o algo mais nunca acontece, o próprio sentido todo do enredo está em um "pequeno problema" que aparece durante a própria história, e quando nos damos conta, tomou proporções gigantescas e engoliu todo o seu arredor. E enfim, cada nova assistida revela novos detalhes, além de novo sentido para o filme - não apenas uma mente desesperada após romance frustrado, mas uma reflexão total as relações de prestígio, sexo e inveja não só em Hollywood, mas na vida em geral. Pra ser perfeccionista, a única coisa que faltou foi um pouco mais de humor, marcas típicas dos meus favoritos do diretor, Blue Velvet, Twin Peaks e Lost Highway, tirando uma cena de um assassino de aluguel que se complica e tem que matar até o aspirador de pó, Mulholland Drive é um filme sério, intenso, perturbado e muito bonito. Se você é fã de thrillers, de grandes atores, de uma grande fotografia, de uma direção original, de uma grande trilha sonora, e de cinema e arte em geral, e não tem preguiça de pensar um pouco mais, veja Mulholland Drive pronto para quebrar a cabeça. E o coração.
Filme destinado apenas a quem viu a série até o fim. A reação da crítica extremamente negativa na época do seu lançamento é prova disso. Fire Walk With Me é o único PREQUEL e SEQUEL ao mesmo tempo que vi na vida, já que tanto mostra o que acontece antes do inicio da série como esclarece seu final. E apesar de deixar fios abertos - uma terceira temporada e/ou outros filmes eram planejados - a obra dá o desfecho grandioso que a série merece. Lynch não faz o óbvio de continuar aonde tudo terminou, acertando em cheio ao mostrar os últimos dias de Laura Palmer. Para quem viu a série até a solução do assassino, não há surpresa - os fatos acontecem exatamente como foram apurados pela investigação de Dale Cooper e cia. na série. Mas é impactante ver Laura, a personagem mais falada da série, viva, com sua vida em queda livre. Sheryl Lee, com todo o sofrimento a flor da pele, tem uma atuação incrível, perdendo só pra Ray Wise, que faz um papel fantástico ao incorporar duas personalidades opostas. E é muito especial para os amantes da série ver as cenas que ficavam no imaginário sendo reconstruídas com grande fidelidade - ao mesmo tempo que, de forma sutil, novas informações são adicionadas. O visceralismo de Lynch desta vez não tem as barreiras da TV e Twin Peaks chega um nível mais pesado do que em qualquer de seus episódios da ABC, tanto em cenas surrealistas que chegam a lembrar um filme de terror, quanto com cenas com violência e sexo muito mais explícitos. Pelo seu formato, pelo formato inovador da sua série e pela época que saiu, Fire Walk With Me foi injustamente massacrado - hoje é possível ver com clareza a realização da obra. Decepções ficam por conta de boa parte do elenco não aparecer no filme (apesar de eu ter gostado da atriz que substituiu a Donna - pelo tom mais frágil que ela passou) e das poucas aparições do querido Agent Dale Cooper, protagonista da série - e esses poucos momentos são os mais especiais. De qualquer forma, uma cena insana como incrível quarteto Lynch, Bowie, MacLachlan e Ferrer fica pra história. E a trilha de Angelo Badalamenti está no nível de perfeição habitual da série - foi a única parte do filme que não foi criticada, ganhando até prêmios. O que nos resta agora é torcer pela liberação das cenas excluídas da versão final do filme - reza a lenda que Lynch filmou 5h de material, ou seja, haveria cerca de 3h de material não lançado até hoje. Cruzem os dedos e aguardem o re-lançamento da série em Bluray, é possível!
Sacha Baron Cohen é um deus do humor e "O Ditador" é mais uma obra espetacular. Humor negro muito inteligente e de certa forma bem variado. História divertida, personagens engraçados e estereotipados, onde na verdade, tudo funciona como uma sátira a realidade. Perto do fim, o filme tem seu momento mais genial:
no discurso do Aladeen falando em "como seria os EUA se fossem uma ditadura", ele cita tudo que os Estados Unidos já são, mesmo sendo uma "democracia".
Uma dose de comentário social cheia de ironia para fechar uma obra gargalhante com chave de ouro.
Ideia original, proposta boa, mas mal executada. Personagens mal desenvolvidos, roteiro fraco e cheio de clichês, atuações ruins e uma história que pouco explora o ótimo pretexto que tem. Não é lá tempo perdido, mas o filme não marca e poderia ser muito mais. Valeria a pena ser refilmado e re-escrito por pessoas mais competentes... não parei de imaginar David Lynch dirigindo um filme com essa proposta.
Cabuloso, original, distintivo, atmosférico, muito criativo e intrigante. Lost Highway tem uma direção espetacular, típica de seu diretor, que por si só já faz valer a pena toda a obra. Mas não para por aí; todo o elenco tem grande atuação, a trilha sonora, produzida por nada menos que Trent Reznor, é soberba, com David Bowie, Lou Reed, Nine Inch Nails, Rammstein, Smashing Pumpkins, Marilyn Manson (o próprio aparece como ator pornô!) e até Tom Jobin, é responsável por dar boa parte da vida que o filme tem, sendo utilizada de forma espetacular. E por fim, a história, que pode receber milhares de interpretações ou simplesmente, como já falaram, ser sentida e não entendida, algo totalmente não-linear, pronto para bagunçar (ou não) a cabeça do espetador de forma pouco convencional. O resultado da obra é um filme único, embora para um público restrito, que proporciona pouco mais de 2h de uma rara satisfação para quem o assistir de cabeça aberta. Infelizmente, arriscar e sair muito da linha de conforto por muitas vezes tem um preço negativo a se pagar. Lost Highway foi um fracasso de bilheteria e obteve críticas fracas, mas por fim, a internet apareceu e o número de fãs que esse filme ganhou após mais de uma década mostra que a justiça foi feita, de certa forma. Lost Highway não é um filme convencional e é aí que mora sua mágica. Muito a frente de seu tempo, mesmo com suas falhas e irregularidades normais para quem está entrando em novo território, consegue realizar em grande estilo as boas pretensões de David Lynch.
Django é um filme brilhante que correspondeu a todas as expectativas acerca do seu lançamento. São 2 horas e 45 minutos muito recompensantes ao espectador. É difícil achar algo que não seja excelente: a fotografia belíssima, os cenários, figurinos, armas e ambientes extremamente fiéis ao da época retratada, a trilha sonora eclética e usada de forma inteligente e divertida, a atuação excelente de cada ator que passa pelo filme, entre outros.
Assim como Bastardos Inglórios, mostra o quanto a transição de um Tarantino de filmes baratos para filmes com grande investimento foi positiva. Ele não é só o diretor que faz pouco com muito, como em seus primeiros filmes, mas que também sabe fazer muito trabalhando com recursos, e todo o trabalho para Django ter uma bela fotografia, um belo audiovisual e ser fiel a época que a história passa é extremamente bem realizado.
As cenas de ação são várias das melhores da carreira de Tarantino, são tiroteios memoráveis que se revezam com diálogos, também muito divertidos e intrigantes, e outras cenas dando mais ênfase ao belo visual do filme. No final, a transição de elementos é muito bem coordenada e quem está assistindo nunca fica enjoado.
Os dois únicos poréns que tenho ao filme são: os personagens de Di Caprio e Samuel Jackson, que tem uma bela atuação, mas são personagens que poderiam ser mais bem explorados pelo Tarantino. São carismáticos, mas ficaram muito como "vilões tradicionais", poderiam ter um impacto maior como o Coronel Landa do Bastardos Inglórios, que é um vilão com muito mais personalidade que estes dois de "Django", que estão um pouco mais contidos.
A atuação deles é excelente, mas são dois grandes atores que Tarantino poderia aproveitar melhor. O outro porém é que Django é claramente um filme mais fácil e direto do que se espera do diretor. Não há cortes cronológicos, os diálogos, mesmo ainda bem inteligentes, estão mais simplificados e no final Django soa como um esforço para um público mais amplo.
Mas são duas observações que de forma alguma afetam as tantas outras coisas que deram tão certo nesse filme. Uma continuidade em alto nível da carreira dos envolvidos aqui, com um filme muito original, tratando de forma irreverente um assunto bem delicado - ainda mais nos EUA a essa altura - e sendo muito bem sucedida. Um dos filmes mais relevantes dos últimos tempos, o melhor de 2012, na minha opinião.
Filme trata sobre assunto bem delicado com eficiência e se torna um bom drama, bem nervoso em certos pontos. Se destaca entre os filmes que abordam o tema pedofilia.
É um filme de valor histórico, especialmente para o Brasil, muito introspectivo e inovador, mas assim como criticamos filmes óbvios demais, o mesmo vale para filmes difíceis demais. Limite requer paciência, atenção e horas de dedicação para que se possa retribuir algo ao espectador. Se até suas 2h inicias parecem longas, o que dizer de uma repetição para tentar absorver algo? É um filme que pode recompensar quem se dedicar, mas o caminho até lá pode não valer a pena. O melhor mesmo é apreciar as filmagens dos anos 30.
Alien: O Oitavo Passageiro
4.1 1,3K Assista AgoraDivisor de águas em ambos terror e sci-fi, Alien transformou o otimismo das space operas dos anos 70 em um futuro espacial dark e tomado pelas corporações (coisa que o Ridley Scott ia explorar ainda mais no Blade Runner), misturou com a grande ascensão que o horror teve na mesma década (ele vendeu como "Tubarão no espaço"), pegou elementos de filmes antigos como "Thing from another world" e criou o clássico definitivo do híbrido "Sci-fi + Horror"
Alien é um dos filmes mais importantes do cinema moderno por inúmeras razões. Não só o trabalho state-of-art em direção, som, visuais, atmosfera e o design artístico do Alien by H.R Giger que influenciaram tudo dos dois gêneros que vieram a seguir, mas uma atuação humana e mais que convincente de um elenco que não era estrelar na época, e introduziu Ellen Ripley, a protagonista feminina mais importante da história do cinema, empoderada sem dar satisfação a ninguém, sem precisar ser salva e fora a desnecessária parte da cena da calcinha no fim, sem ser sexualizada.
Assistindo hoje é difícil se assustar; nossa geração viu horror trash e hardcore e coisa mais violenta e assustadora em jornal na TV aberta, mas em 1979, numa época sem internet e sem excessos gráficos, o filme deixou muita gente sem dormir. O que não envelheceu é a atmosfera e a tensão. Alien é uma obra-prima e um dos filmes mais influentes, não só no cinema, de todos os tempos
Alien 3
3.2 540Alien 3 é o grande injustiçado da quadrilogia Alien. Criticado pelos fãs e pela crítica até hoje, foi o primeiro filme do impecável David Fincher e o desenvolvimento foi intensamente problemático com problemas na equipe, nas filmagens e roteiros sendo reescritos.
É fácil ver porque Alien 3 foi tão impopular: o filme já toma atitudes impopulares nas primeiras cenas
matando personagens principais do filme anterior - a cena da autopsia da Newt é a mais perturbadora de toda a série pra mim
Alien 3 é um grande filme onde o xenomorph é um personagem que talvez nem precisava existir. Talvez fosse um filme sem o nome da franquia seria mais aclamado - mas Ripley é essencial aqui. O setting low-tech no planeta-prisão, onde Ripley é a única mulher, é particularmente meu favorito de toda a série. A direção do Fincher é espetacular e o tom noir dado ao espaço já prevê seu próximo trabalho, Se7en.
Quando o xeno começa a atacar e os prisioneiros, todos estupradores, pedófilos, criminosos e assassinos, começam a se questionar o que realmente tem a perder. É quando Alien 3 toca no seu tema central: niilismo. O filme é um drama perturbador que mostra personagens que bem antes do monstro começar a atacar, já tinham perdido a esperança. A religião é usada de forma excelente pela primeira vez na série.
O problema em Alien 3 são suas cenas de ação, onde os prisioneiros tentam capturar/enfrentar o xenomorph sem armas. São particularmente confusas e desinteressantes - a primeira metade do filme onde exploram o universo do planeta prisão é a melhor
O desfecho da trilogia, nas cenas finais, até fãs que não gostaram do filme aprovaram. Alien 3 é (mais) uma brava drástica mudança de direção na franquia e merece ser reavaliado pelos seus méritos próprios e seus temas únicos tratados de forma peculiar.
PS: A "Assembly Cut" tem 30 minutos de novo material, além de "consertar" cenas antigas. É a versão definitiva disparada e alguns críticos já começaram a reavaliar o filme por essa versão.
Aliens: O Resgate
4.0 810 Assista AgoraUma das melhores sequels da história do cinema ao lado do segundo Godfather, Aliens é uma aula de como fazer uma sequência de uma história fechada. O filme dedica o seu primeiro ato a expandir a mitologia do primeiro, contando o trágico futuro de Ripley, mostrando mais da corrupta "companhia" e eventualmente colocando a heroína de volta ao planeta do primeiro filme. O segundo ato de Aliens é perfeição cinematográfica. Sem jamais largar o horror do primeiro filme, James Cameron transforma Aliens num irretocável épico de ação. Há mais monstros, há armas dessa vez, e muitas armas gigantes e descoladas. Toda fórmula de transformar um filme intimista em ação tinha tudo para destruir um filme Alien, mas a ação é comandada por desespero, tensão, claustrofobia e a luta para sobreviver. Protagonistas militares começam a sucumbir psicologicamente e Aliens fica incessante.
Os novos personagens são todos excelentes e mais uma vez bem atuados - Bishop e Newt em especical - e Ellen Ripley se consolida como protagonista feminina mais importante da história do cinema. É aqui a atuação onde ela chuta bundas, dramática, estressada, não-sexualizada, uma sobrevivente que não deve nada a ninguém. A Director's Cut contém uma cena que dá toda uma profundidade nova pra personagem durante o todo filme, inacreditável ter sido cortada
-mostrar que ela tinha uma filha
Aliens é quase tão importante quanto seu primeiro filme - a influência até nos one-liners em filmes de ação é inegável - e provável é mais divertido de se assistir. Se tem um problema, é o diálogo cheesy quando os marines são apresentados. Aliens é um raríssimo exemplo de terror ganhando elementos de ação de forma impecável, uma raríssima sequel de um clássico a altura do seu original e o melhor filme da carreira de James Cameron
OBS: Recomendo mais uma vez o Director's Cut fortemente
Fenda no Tempo
3.4 206A história, no livro "Four Past Midnight", é uma obra-prima.
O filme é um TV Movie B de baixo orçamento feito em 1995. Levando isso em consideração, é uma adaptação muito digna e com todo seu charme de filme B pra história (uma das mais underated da carreira do King). O orçamento baixo e os atores menos conhecidos contribuem pra estranheza da história ser ainda maior.
O fato de que uma história média (é apenas uma das 4 histórias do livro) ter sido adaptada pra uma minisérie de 3h de conteúdo significa que deu tempo para colocar TUDO que acontece na história. Em termos de plot, é uma adaptação perfeita.
Langoliers tem todo seu culto, muita gente viu numa tarde ou noite perdida na TV a cabo nos anos 90 e na época os CGIs ruins criticados aqui eram normais, então foi uma das coisas mais estranhas pra muita gente, especialmente quem era mais novo.
No final das contas, o feeling é de um longo episódio de Twilight Zone escrito pelo Stephen King, muito estranho e desolado, sem deixar de ser assustador e perturbado. Ainda que tenha seu valor como companion piece, seria legal ver essa história sendo refeita com um orçamento melhor - até porque o livro não é "terror B" de forma alguma.
Obs: Patética a tradução pra português com o spoiler. Por sorte quando eu vi isso na TV a cabo eu não vi o nome e tive a surpresa intacta
O Regresso
4.0 3,5K(Spoilers)
Direção boa. Fotografia linda (em uma locação que até a camera de um motorola daquele de 2007 ia conseguir uma fotografia espetacular).
Mas o roteiro é simplesmente uma fuckfest. Os acontecimentos da metade do filme foram filmados fora de ordem e depois que escolheram como colocar, tenho certeza. As coisas não fazem exatamente sentido. O filme já perde a credibilidade quando um urso ataca 3 vezes o Leo DiCaprio e em todas elas parece que ele foi orientado: urso, não amputa nada nem executa o Leo, porque o filme tem que durar 2 horas. E a grande cena de impacto dramático sobrevivencialista é o Leo dormir dentro de um cavalo? Wtf, amigos?
Nada no filme acontece fora do esperado o tempo todo. São cenas de sobrevivência clichês. A simpatia pelo protagonista é porque ele é o cara do Titanic, o personagem é inexistente - nada contra ser quietão, desde que ele não soltasse só frase vergonha alheia de tough-guy quando abre a boca. O filho aparece umas 3 vezes antes de morrer então nem deu tempo de ligar pra ele. Daí tem o Gui Wesley e o Tom Hardy, esse com o único personagem desenvolvido do filme. Ou seja, com tanto personagem pouco desenvolvido, é difícil comprar a agonia do filme. Vira tédio. E o final do filme lança uns lances de alucinações/fantasmas que nem o próprio filme levava a sério antes. Pelo menos o filme critica o homem branco e fica do lado dos índios , mas o homem branco do mal não são os AMERICANOS, ok? São os franceses!. Mas enfim, qual o ponto? Não tem mensagem política nem moral, é tudo uma desculpa pra mostrar paisagens legais
E se o Leo ganhar o Oscar por essa atuação onde ele basicamente faz o que eu faço todo dia que acordo de ressaca - tendo perdido pela atuação legendária de Wolf of wall street - vai ser triste demais.
Steve Jobs
3.5 591Difícil entender o propósito desse filme. Não que ele não devia existir, mas a proposta mesmo. Além de vários documentários, dois filmes notáveis sobre o Jobs já tinham sido feitos - o "Piratas do Vale do Silício", mesmo desatualizado em 1997, é o melhor disparado. Então esse tenta ser diferente, ter outra perspectiva, mas de uma forma pouco definida que acho que nem o Danny Boyle entendeu direito no que ele quis focar.
O recorte é muito estranho. Ele passa no backstage de três conferências vitais na carreira de Jobs: o Macintosh, o Next (ambos fracassos), e a sua volta a Apple nos anos 90 - e o ponto mais legal dessa última, que é a parceria anunciada com o Bill Gates no telão, é ignorado. Ou seja, é um filme com ênfase na decadência, profissional e pessoal, da vida do Jobs.
De cara ele já ignora os maiores feitos da carreira dele - o Apple 2 e a popularização dos PCs; e o sucesso do iPod, iPhone, iPad nos anos 2000. Esses momentos de glória são tratados com mínimas menções, praticamente ignorados no filme, ou seja, ele é o pior possível pra mostrar para alguém que quer saber QUEM FOI Steve Jobs - a Pixar é esquecida.
Fica pior. Vários momentos fictícios são inseridos nessa que devia ser uma biografia. O diretor ainda assume com orgulho nas entrevistas, usando shakespeare como desculpa. O relacionamento do Jobs com o Woz, o Sculley e com a filha Lisa é perigosamente romantizado - o print no fim, uma história falsa, não emociona e parece até mal gosto à história de uma figura importante como o Jobs. Numa vida com tanto a falar quanto a dele, pra que colocar coisas ficticias? Sabendo dessas coisas, o filme perde credibilidade - e mesmo o filme não tem foco se está falando sobre a vida pessoal ou profissional dele, acabando mostrando as duas de forma superficial.
Não é uma perda total. É bonito, bem dirigido, bem atuado - apesar do Fassbender novo ficar absurdamente diferente de como era o Jobs. Tem algumas cenas memoráveis (que como o filme não faz questão de ser verdadeiro o tempo todo, eu não faço ideia se aconteceram de verdade). E se esforçar muito para encontrar algum lugar para esse "Steve Jobs", é como um recorte complementar às outras obras sobre a vida dele. Ou seja, se você é apaixonado pela história da informática e já assistiu todos os outros filmes sobre o Jobs, talvez esse seja um recorte diferente interessante. Mas fora isso, use melhor seu tempo pra ver o filme que indiquei no primeiro parágrafo - até em respeito a importância do próprio Steve Jobs.
--------
ou resumindo em uma frase: "um filme pointless sobre 30% da vida do Jobs - e o 30% menos importante que aconteceu no meio dela".
Mad Max: Estrada da Fúria
4.2 4,7KEsse filme ser considerado "obra-prima" ou "filme do ano" diz muito sobre o estado das coisas atuais onde hype, marketing e a empolgação coletiva são muito maiores que qualquer julgamento crítico sobre as obras.
Mad Max Fury Road é bom, mas só bom. A ambientação, atuações, direção, efeitos especiais, cenas de ação e direção artística são excelentes - tirando aquele cara tocando guitarra que é a coisa mais cheesy do mundo. O que é compensado com um filme praticamente sem plot, sem desenvolvimento de história nenhum, é praticamente uma cena de perseguição de 2h, só ação e ação e os bons momentos de desenvolvimento de personagem ou mesmo do universo pós-apocalíptico são raríssimos. Mesmo a ação, carro chefe do filme, é apenas boa, com poucos momentos memoráveis.
No fim das contas é um filme de ação com algumas cenas legais, ambientação incrível, mas que nunca desenvolve seu mundo ou seus personagens, ficando constantemente tedioso, monótono e repetitivo. Ainda vale se assistir pela excelência técnica, mas não é nada imperdível. Sou grande fã de filmes pós-apocalipticos, inclusive do Road Warrior que esse aqui não chega nem aos pés, e esse não acrescenta nada ao gênero.
O ponto mais alto do filme mesmo é a narrativa com empoderamento das mulheres, um ponto onde o filme foi atualizado com esplendor - mas mesmo isso é muito menos desenvolvido do que tinha potencial para ser, nesse filme que capricha no estilo mas esquece a substância.
Arquivo X: O Filme
3.5 182 Assista AgoraNa altura que esse filme saiu, X-Files era um dos produtos culturais mais quentes dos anos 90, os episódios chegavam a números absurdos de 20-25 milhões de TVs ligadas na audiência e o filme usou uma boa parte do seu orçamento maior na parte do marketing, criando um hype gigantesco.
Quado ele saiu, cinemas lotados, todo mundo viu, retornou 3 vezes o investimento que foi colocado nele... mas ao contrário da expectativa (surreal) de alguns produtores, não virou uma super saga cinematográfica como Star Wars. E nem teria como, visto que a série é tão bem sucedida e bem apegada ao formato televisivo, tendo sido a série de ficção cientifica que ficou no ar seguidamente por mais tempo.
X-files já era uma super franquia, mas em outro meio, na televisão. Para conquistar o cinema também, seria necessário abandonar muito do que foi construído nos então 5 anos de série até aqui, já que mesmo sendo uma das séries mais populares da década, grande parte do público do cinema não assistia a série regularmente.
Felizmente e assumidamente, Chris Carter, Frank Spotniz e cia ficaram em cima do muro, fazendo um filme com apelo tanto para os fãs de longa data quanto para os novos espectadores - pesando bem mais pros fãs.
Para quem não é fã da série, X-Files é um ótimo filme que na primeira metade tem toda a conspiração paranoica da série e na segunda se aproveita do orçamento para evoluir para um sci-fi épico.
Para os fãs da série, o filme é um sonho. Tudo que os fãs amaram na TV por 5 anos está aqui potencializado pelo orçamento e produção de pontas: as conspirações, a paranoia, o tom noir, praticamente todos os personagens principais (menos Krycek; como explicar ele pra quem nao vê a série?), o humor, o relacionamento muito bem trabalhado do Mulder e da Scully - e ponto pra eles por não ter rolado beijo, fugindo dos clichês - aliens, abelhas, black oil, vírus, híbridos, gente morrendo misteriosamente, tecnologia dos anos 90... Tudo que fez X-Files ser a série zeitgeist dos anos 90 aparece aqui de alguma forma. A história da mitologia anda, mesmo tendo que dar uns passos atrás para explicar coisas para quem não assiste, e algumas perguntas chave são respondidas.
Todo mundo que trabalha bem na série trabalha ainda melhor aqui. O roteiro é criativo e o filme voa porque nunca deixa de ser interessante. A direção é espetacular. Os efeitos especiais dão de 10x0 em filme que sai hoje quase 20 anos depois. A trilha sonora do gênio Mark Snow é talvez a melhor da sua carreira e comanda o filme. Duchovny mostra o quanto ele evoluiu em 5 anos e encara o grande papel como a estrela que virou. Gillian Anderson é absolutamente perfeita, seriamente uma das melhores atrizes da história da TV
Todos esses estavam fazendo uma série cult de um novo canal chamado Fox em 1993, saindo da obscuridade, e anos depois estavam fazendo um dos filmes mais produzidos do ano em Hollywood. Ver a lenta evolução das minhocas em CG na primeira temporada pras cenas impressionantes na Antartida no fim é fantástico
Chamar de "episódio estendido" é injusto. Bem verdade que os fãs da série vão apreciar muito mais isso aqui - é a razão da nota máxima, daria 8 como filme avulso da série. Mas é difícil chamar algo com dessas proporções de episódio de TV estendido - embora X-Files sempre tenha sido a série mais cinematografica da TV até ali, de qualquer forma.
No fim do filme, os X-Files são reabertos e meses depois, a Fox cancela a ideia de tornar a série uma franquia de filmes e renova por mais duas ótimas temporadas. Filmes de X-Files são sempre bem vindos, mas como grandes aberturas para, no final, voltarmos para o meio que deu, no final das contas, tanta liberdade criativa pra essa série ser o que é
Ali G Indahouse
2.9 82O programa dele era genial, mas o personagem não se traduziu tão bem no cinema, ainda mais na estrutura roterizada. Quando foi fazer o filme dos outros dois personagens do show, Borat e Bruno, o Sasha inteligentemente reverteu à estrutura de falso documentário e colocou eles pra interagir com pessoas de verdade - como o próprio Ali G fazia no programa e no filme se enfraqueceu por estar interagindo com atores, com falas escritas e etc. Sasha é sempre melhor no improviso, quando ele mesmo vira os personagens, do que em fazer comédia roterizada. Ele é bom em fazer interações sociais e usar seus personagens imbecis como ferramenta para tirar o preconceito das próprias pessoas, algo que acontece em Borat e Bruno.
Ainda assim o filme tem momentos engraçados e toscos, sobretudo da cultura dos anos 2000 que olhando de hoje é muito, muito tosca, mas só é recomendado pros fãs do Sasha e pra quem conhece o lado mais pobre da Inglaterra moderna o suficiente pra captar o humor bem interno em vários trechos.
O Ali G, mesmo sendo o personagem que deu fama ao Sasha, não é o seu melhor, mas quem quiser conhecê-lo em ação pra valer, recomendo baixar os episódios do Ali G Show. O filme é um mero complemento divertido.
Vidas sem Destino
3.7 659Gummo, pra mim, fica em um meio termo entre quem o ama e quem o odeia. A direção é estilosa e a demonstração de uma América que é completamente o oposto daquela glamourizada do Sonho Americano é convincente. Xenia é uma cidade destruída pela pobreza e o seu povo é tão ignorante e sem recursos que o completo niilismo é praticamente a única coisa que lhes resta.
Dito isso, o filme acaba sendo raso, uma vez que a crítica é superficial já que em nenhum momento é analisado quem é o causador de toda aquela situação. Também entra em contradição com o background de classe média de seu diretor - Gummo nunca parece um retrato da pobreza sob quem a vive, e sim sob os olhos de alguém de outra classe que está ali como o observador - no caso, o próprio Korine. O que faz algumas cenas, como a que ele próprio se apaixona por um anão negro, parecerem simplesmente uma piada hipster, enquanto outras, como da conversa na cozinha com quedas de braço, são mais convincentes.
Assim, Gummo funciona mais como um retrato interessante do que como uma crítica definitiva. É uma curiosidade para cinéfilos mais aventurosos, um filme saiu da zona de conforto, trouxe alguns frutos interessantes de lá, mas nada que efetivamente mudasse as regras do jogo.
Garota Exemplar
4.2 5,0KO melhor filme de 2014 na minha opinião, Gone Girl é um clássico dos nossos tempos. A história absurda é cheia de críticas à relacionamentos, redes sociais e principalmente à mídia. O thriller é cheio de reviravoltas insanas e cada pedaço é construído cheio de detalhes que conciliam a paranoia do trama com as mensagens que o filme tenta passar com sua linguagem absurdista.
Ben Affleck é beneficiado pelo seu papel - ele é um cara tão estúpido que ser um ator ruim caiu como uma luva. Rosamund Pike, impecável, sobra no filme, mas a estrela mesmo é David Fincher, que retornou ao território thriller (embora Gone Girl não seja um thriller convencional), mas ainda usa várias ideias originais de direção e edição que foram concebidas no The Social Network.
É o próprio Fincher e sua equipe (que conta com a própria Gillian Flynn, autora do livro, escrevendo o roteiro) que torna a versão cinematográfica de Gone Girl um tour-de-force, confirmando junto com os últimos trabalhos do diretor que ele nunca parou de se atualizar e aperfeiçoar e talvez se encontre atualmente no ápice da forma artística, construindo imagens que estão entre as mais estilosas do cinema atual.
Um exemplo disso é soundtrack espetacular, mais uma vez a cargo de Trent Reznor, fugindo completamente do estilo tradicional de trilhas sonoras, uma vez que Trent, assim como Fincher, tem um estilo peculiar e uma forma não convencional de construir seus recortes.
O que, não menos como "Fight Club", nos dá a receita para transformar um grande livro em um grande filme: colocá-lo na mão de um diretor que tem seus próprias ambições artísticas.
Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão …
3.4 1,2K Assista AgoraTalvez o filme de humor mais relevante dos anos 2000, Borat é brilhante por dois motivos: pelo seu humor absurdamente agressivo e destemido e pela ironia de que tudo é justificado pela forma como o personagem do Cohen (que já existia no The Ali G show, popular na Inglaterra), ao se passar de um idiota que vem de uma sociedade atrasada e preconceituosa, acaba expondo o próprio ódio e preconceito dos tão "desenvolvidos" Estados Unidos.
O filme funciona tanto pelo humor trash quanto pelo significado profundo por trás dele, principalmente nos inteligentes choques culturais que a cultura ocidental causa não só com Borat, mas com tantos milhões no mundo afetados pela influência cultural dos EUA e da Europa.
Em uma cena especialmente genial, Borat e um cidadão de bem norte-americano encontram a homofobia como algo em comum; em outra, minimalisticamente, a adoração pela bandeira dos Estados Confederados é criticada. A Guerra do Iraque que rolava no momento que o filme saiu também não escapou de críticas.
Não fosse tão inteligente, Borat seria apenas insanamente agressivo e uma comédia definitiva para quem tem esse tipo de humor. Mas a significação de tudo por trás torna esse filme também essencial para qualquer um interessado em temas como antropologia, etnocentrismo e choque cultural.
[Pontos pro Cohen que durante toda a divulgação do filme, sempre deu entrevistas e apareceu em público dentro do personagem Borat, mostrando o quão talentoso ele é como performer e o quanto ele levou a sério a proposta.]
Interestelar
4.3 5,7KInterestelar é um épico de quase 3h bem dirigido, que entretem, tem uma fotografia e efeitos especiais bastante bonitos e caprichados, mas que como praticamente todos os filmes desde que Nolan deixou de ser um diretor independente, não fogem de uma linguagem mais fácil, rasa e comercial para dialogar com as massas, mesmo que ainda assim tenha gente que não tenha entendido tudo no filme.
A tentativa de encaixar uma história de amor paterno com as missões épicas da NASA é particularmente embaraçosa, assim como várias decisões forçadas para juntar personagens, e depois de tanto hype, até o absurdo de falarem "novo 2001", Interestelar decepciona por ser não acrescentar nada de novo ao jogo.
É um filme de Hollywood, bem hollywoodiano, que deve cumprir a missão de te divertir. Daquele que vai passar na Globo daqui a 10 anos e sua mãe vai ver e gostar. Só não espere por algo mais.
Gravidade
3.9 5,1KUma tech-demo de efeitos especiais casada com um hype e um marketing gigantesco. O que resulta num filme bonito, bem comandado tecnicamente, mas esquecível, genérico e irrelevante, de mais 1h, que recebeu um fuss gigantesco porque hoje em dia, afinal, a campanha publicitária é mais importante do que o produto em si.
Chega a ser um desrespeito compararem com 2001 ou qualquer outro filme de sci-fi que tenha tido algum tipo de importância
Império dos Sonhos
3.8 433Lynch monta um filme bastante experimental e inovador. Filmado todo com uma câmera digital, tem um toque visual inovador, com ângulos inusitados (e bem sacados) de câmera
A parte artística do filme também é extremamente bem sucedida. Músicas, lugares, som, visão, efeitos, coelhos, mulheres em problemas... ele monta um mosaico único.
E com uma montagem aleatória de cenas, ele faz seu trabalho mais difícil e desafiador. Perto disso, só "Eraserhead" do fim pra frente e algumas cenas do Black Lodge de Twin Peaks. Noções de tempo, espaço, lógica e tudo mais se misturam e o filme toca como uma coletânea de imagens e hyperlinks para o espectador tomar sua própria interpretação de acordo com a própria filosofia e a própria espiritualidade de cada um.
No caminho do triunfo, uma explosão de sentimentos e situações construídas pelo mestre, mas também uma ausência que torna Inland Empire menos tocante do que seus sucessores Muholland Dr e Lost Highway: a ausência de dois elementos que Lynch é especialista: personagens e enredo
O que deixa não só seus dois filmes anteriores, mas praticamente todas suas obras (Blue Velvet, Twin Peaks, Wild At Heart e tudo mais) tão chocante é a criação de um enredo que, mesmo confuso e cheio de reviravoltas, desenvolva personagens que vão se revelando surpreendentemente durante a narrativa.
Aqui, apesar da atuação fantástica de Laura Dern, não há um enredo em primeiro plano aqui, e os personagens não são desenvolvidos, são apenas enfeites no Tour Audiovisual que esse filme proporciona.
Não sentimos a ponta da arma do Mr Eddie de Lost Highway na parte do marido com medo da traição da esposa; não sentimos a dor de Noemi Watts ao ver seu amor perdido em Muholland Dr, nem há nada próximo das duas maiores invenções do diretor: Agent Dale Cooper e Frank Both.
Tudo isso aponta Inland Empire como uma grande e relevante obra de arte, mas posicionada em um plano de apreciação onde você não vai chorar, perder o sono ou sentir aquele choque ao final - e essa é a maior das muitas diferenças deste filme pra seu antecessor, de 2001, que até hoje aguarda seu verdadeiro sucessor espiritual.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraQuando o filme acabou, pensei em duas coisas: aos prantos com a cena final, na obra-prima que eu tinha acabado de assistir. E depois, em como eu consegui entender tudo de primeira, pelo simples fato de ter visto e refletido "Lost Highway" antes. Lynch usa a mesma fórmula e linguagem nos dois filmes, apenas de forma um pouco mais simples (sem deixar de ser muito complexa) aqui em Mulholland Drive, e o engraçado é que a crítica reagiu de forma muito empolgada com o filme de 2001, aclamando as mesmas coisas que criticou no de 1997. Mulholland Drive é um clássico imediato, é uma obra prima dos tempos atuais. A narrativa neo-nir, o desenrolar dos fatos, os personagens apresentados, cada detalhe é ambíguo e vira ao avesso no momento onde a verdade vem atona, onde se acorda do sonho. É aí que Lynch prova o gênio que é, seu simbolismo é simples e bonito (como a caixa azul e sua chave), os elementos constantes em todos os seus filmes aparecem sempre de forma belíssima, seu bom amigo Angelo Badalamenti, que faz uma ponta como um mafioso, entrega outra trilha sonora absurdamente palpável, a linda Naomi Watts tem a melhor atuação da sua carreira, e uma das melhores atuações que consigo lembrar no cinema em geral. E mais uma vez, Lynch indica todo o roteiro para um "algo mais", e é aí que destoa dos demais diretores: o algo mais nunca acontece, o próprio sentido todo do enredo está em um "pequeno problema" que aparece durante a própria história, e quando nos damos conta, tomou proporções gigantescas e engoliu todo o seu arredor. E enfim, cada nova assistida revela novos detalhes, além de novo sentido para o filme - não apenas uma mente desesperada após romance frustrado, mas uma reflexão total as relações de prestígio, sexo e inveja não só em Hollywood, mas na vida em geral. Pra ser perfeccionista, a única coisa que faltou foi um pouco mais de humor, marcas típicas dos meus favoritos do diretor, Blue Velvet, Twin Peaks e Lost Highway, tirando uma cena de um assassino de aluguel que se complica e tem que matar até o aspirador de pó, Mulholland Drive é um filme sério, intenso, perturbado e muito bonito. Se você é fã de thrillers, de grandes atores, de uma grande fotografia, de uma direção original, de uma grande trilha sonora, e de cinema e arte em geral, e não tem preguiça de pensar um pouco mais, veja Mulholland Drive pronto para quebrar a cabeça. E o coração.
Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer
3.9 273 Assista AgoraFilme destinado apenas a quem viu a série até o fim. A reação da crítica extremamente negativa na época do seu lançamento é prova disso. Fire Walk With Me é o único PREQUEL e SEQUEL ao mesmo tempo que vi na vida, já que tanto mostra o que acontece antes do inicio da série como esclarece seu final. E apesar de deixar fios abertos - uma terceira temporada e/ou outros filmes eram planejados - a obra dá o desfecho grandioso que a série merece. Lynch não faz o óbvio de continuar aonde tudo terminou, acertando em cheio ao mostrar os últimos dias de Laura Palmer. Para quem viu a série até a solução do assassino, não há surpresa - os fatos acontecem exatamente como foram apurados pela investigação de Dale Cooper e cia. na série. Mas é impactante ver Laura, a personagem mais falada da série, viva, com sua vida em queda livre. Sheryl Lee, com todo o sofrimento a flor da pele, tem uma atuação incrível, perdendo só pra Ray Wise, que faz um papel fantástico ao incorporar duas personalidades opostas. E é muito especial para os amantes da série ver as cenas que ficavam no imaginário sendo reconstruídas com grande fidelidade - ao mesmo tempo que, de forma sutil, novas informações são adicionadas. O visceralismo de Lynch desta vez não tem as barreiras da TV e Twin Peaks chega um nível mais pesado do que em qualquer de seus episódios da ABC, tanto em cenas surrealistas que chegam a lembrar um filme de terror, quanto com cenas com violência e sexo muito mais explícitos. Pelo seu formato, pelo formato inovador da sua série e pela época que saiu, Fire Walk With Me foi injustamente massacrado - hoje é possível ver com clareza a realização da obra. Decepções ficam por conta de boa parte do elenco não aparecer no filme (apesar de eu ter gostado da atriz que substituiu a Donna - pelo tom mais frágil que ela passou) e das poucas aparições do querido Agent Dale Cooper, protagonista da série - e esses poucos momentos são os mais especiais. De qualquer forma, uma cena insana como incrível quarteto Lynch, Bowie, MacLachlan e Ferrer fica pra história. E a trilha de Angelo Badalamenti está no nível de perfeição habitual da série - foi a única parte do filme que não foi criticada, ganhando até prêmios. O que nos resta agora é torcer pela liberação das cenas excluídas da versão final do filme - reza a lenda que Lynch filmou 5h de material, ou seja, haveria cerca de 3h de material não lançado até hoje. Cruzem os dedos e aguardem o re-lançamento da série em Bluray, é possível!
O Ditador
3.2 1,8K Assista AgoraSacha Baron Cohen é um deus do humor e "O Ditador" é mais uma obra espetacular. Humor negro muito inteligente e de certa forma bem variado. História divertida, personagens engraçados e estereotipados, onde na verdade, tudo funciona como uma sátira a realidade. Perto do fim, o filme tem seu momento mais genial:
no discurso do Aladeen falando em "como seria os EUA se fossem uma ditadura", ele cita tudo que os Estados Unidos já são, mesmo sendo uma "democracia".
Visões de um Crime
3.1 442Ideia original, proposta boa, mas mal executada. Personagens mal desenvolvidos, roteiro fraco e cheio de clichês, atuações ruins e uma história que pouco explora o ótimo pretexto que tem. Não é lá tempo perdido, mas o filme não marca e poderia ser muito mais. Valeria a pena ser refilmado e re-escrito por pessoas mais competentes... não parei de imaginar David Lynch dirigindo um filme com essa proposta.
Estrada Perdida
4.1 469Cabuloso, original, distintivo, atmosférico, muito criativo e intrigante. Lost Highway tem uma direção espetacular, típica de seu diretor, que por si só já faz valer a pena toda a obra. Mas não para por aí; todo o elenco tem grande atuação, a trilha sonora, produzida por nada menos que Trent Reznor, é soberba, com David Bowie, Lou Reed, Nine Inch Nails, Rammstein, Smashing Pumpkins, Marilyn Manson (o próprio aparece como ator pornô!) e até Tom Jobin, é responsável por dar boa parte da vida que o filme tem, sendo utilizada de forma espetacular. E por fim, a história, que pode receber milhares de interpretações ou simplesmente, como já falaram, ser sentida e não entendida, algo totalmente não-linear, pronto para bagunçar (ou não) a cabeça do espetador de forma pouco convencional. O resultado da obra é um filme único, embora para um público restrito, que proporciona pouco mais de 2h de uma rara satisfação para quem o assistir de cabeça aberta. Infelizmente, arriscar e sair muito da linha de conforto por muitas vezes tem um preço negativo a se pagar. Lost Highway foi um fracasso de bilheteria e obteve críticas fracas, mas por fim, a internet apareceu e o número de fãs que esse filme ganhou após mais de uma década mostra que a justiça foi feita, de certa forma. Lost Highway não é um filme convencional e é aí que mora sua mágica. Muito a frente de seu tempo, mesmo com suas falhas e irregularidades normais para quem está entrando em novo território, consegue realizar em grande estilo as boas pretensões de David Lynch.
Django Livre
4.4 5,8K Assista AgoraDjango é um filme brilhante que correspondeu a todas as expectativas acerca do seu lançamento. São 2 horas e 45 minutos muito recompensantes ao espectador. É difícil achar algo que não seja excelente: a fotografia belíssima, os cenários, figurinos, armas e ambientes extremamente fiéis ao da época retratada, a trilha sonora eclética e usada de forma inteligente e divertida, a atuação excelente de cada ator que passa pelo filme, entre outros.
Assim como Bastardos Inglórios, mostra o quanto a transição de um Tarantino de filmes baratos para filmes com grande investimento foi positiva. Ele não é só o diretor que faz pouco com muito, como em seus primeiros filmes, mas que também sabe fazer muito trabalhando com recursos, e todo o trabalho para Django ter uma bela fotografia, um belo audiovisual e ser fiel a época que a história passa é extremamente bem realizado.
As cenas de ação são várias das melhores da carreira de Tarantino, são tiroteios memoráveis que se revezam com diálogos, também muito divertidos e intrigantes, e outras cenas dando mais ênfase ao belo visual do filme. No final, a transição de elementos é muito bem coordenada e quem está assistindo nunca fica enjoado.
Os dois únicos poréns que tenho ao filme são: os personagens de Di Caprio e Samuel Jackson, que tem uma bela atuação, mas são personagens que poderiam ser mais bem explorados pelo Tarantino. São carismáticos, mas ficaram muito como "vilões tradicionais", poderiam ter um impacto maior como o Coronel Landa do Bastardos Inglórios, que é um vilão com muito mais personalidade que estes dois de "Django", que estão um pouco mais contidos.
A atuação deles é excelente, mas são dois grandes atores que Tarantino poderia aproveitar melhor. O outro porém é que Django é claramente um filme mais fácil e direto do que se espera do diretor. Não há cortes cronológicos, os diálogos, mesmo ainda bem inteligentes, estão mais simplificados e no final Django soa como um esforço para um público mais amplo.
Mas são duas observações que de forma alguma afetam as tantas outras coisas que deram tão certo nesse filme. Uma continuidade em alto nível da carreira dos envolvidos aqui, com um filme muito original, tratando de forma irreverente um assunto bem delicado - ainda mais nos EUA a essa altura - e sendo muito bem sucedida. Um dos filmes mais relevantes dos últimos tempos, o melhor de 2012, na minha opinião.
Réquiem para um Sonho
4.3 4,4K Assista AgoraBoas atuações e direção, mas no geral, o filme parece uma propaganda anti-drogas gigantesca. Coisas dando errado o tempo todo. Vá de Trainspotting.
Confiar
3.4 1,8K Assista grátisFilme trata sobre assunto bem delicado com eficiência e se torna um bom drama, bem nervoso em certos pontos. Se destaca entre os filmes que abordam o tema pedofilia.
Limite
4.0 168 Assista AgoraÉ um filme de valor histórico, especialmente para o Brasil, muito introspectivo e inovador, mas assim como criticamos filmes óbvios demais, o mesmo vale para filmes difíceis demais. Limite requer paciência, atenção e horas de dedicação para que se possa retribuir algo ao espectador. Se até suas 2h inicias parecem longas, o que dizer de uma repetição para tentar absorver algo? É um filme que pode recompensar quem se dedicar, mas o caminho até lá pode não valer a pena. O melhor mesmo é apreciar as filmagens dos anos 30.