A metalinguagem e a alegoria de que somos manipulados por Deus assim como os robôs são por nós (criadores) em Westworld é de tirar o chapéu. A relação das crenças e da pergunta "somos mesmos donos da nossa história?" é formidável! Chega mais, quarta temporada!
Terminei Undone e... quanta magia o audiovisual pode nos proporcionar, fazer refletir sobre quem somos e o que estamos fazendo neste pequeno circuito do tempo chamado VIDA! Esta série é bela como a fé que nos faz ter forças, é poderosa como a esperança que nos faz ter paz.
Em 2007 eu era um adolescente babaca descobrindo a minha sexualidade. Certo dia, vagando pela locadora vi um filme com uma capa intrigante e escrito: INDICADO AO OSCAR. Eu gostava do Oscar, era aquela cerimônia que passava cenas inéditas de filmes do Homem Aranha, Matrix e O Senhor dos Anéis. Pra quem era do interior, vivendo numa época sem internet, assistir cenas inéditas de um filme que só poderia ver quando chegasse na locadora era cool. Então levei Sangue Negro, e neste dia eu senti que mudei.
Religião sempre foi o foco da minha vida, das minhas perturbações, do meu aceitar, e do meu ódio pela metodologia do mundo em diagnosticar o certo e errado com base no que dizem ser a palavra oficial de Deus. Eu nunca tive um relacionamento saudável na minha família por conta disso, mas ao ver aquele protagonista tomando aquelas atitudes, eu me revirei. Porque eu era aquele homem cheio de ódio, e eu era o filho dele que fomentava o ódio a partir da criação do pai. Sangue Negro é difícil pra expressar, eu o assisto algumas vezes a cada dez anos, e ainda me sinto a diluir em cada personagem que aparece. Quanto mais amadureço, mais apodreço. Que filme poderoso, que filme audacioso, que filme capaz!
Não há mais volta, é impossível despertar tanta gente inerte e refém ao que o sistema impõe.
Com essa mensagem fico a pensar como Matrix 4 é complexo dentro de sua própria magnitude, rindo de si mesmo e criando um desconforto no espectador. As pessoas se levam a sério demais sem dar a devida atenção ao que realmente importa. Discussões sobre a sobreposição da realidade, a perspectiva da loucura e da submissão do meio em que o ser humano foi criado, a derrubada da idolatria - do messianismo - e sobre o desejo de existir um propósito. É um filme bom, autocrítico, cínico e desaforado. Matrix sempre foi sobre renegar tudo que nos é imposto, de romper com o que estamos acostumados para contradizer o óbvio e incomodar (inclusive a primeira parte fala exatamente sobre isso, da gente aceitar sempre as mesmas coisas e negar o novo, o diferente, ou apenas nos entregar para o que está sendo proposto. Não queremos mais absorver nada, somente aceitamos as mesmas histórias, com outros personagens).
Não é um filme ruim. É um filme difícil. E difícil não quer dizer que um dia se torne bom. É diferente, apesar de parecer o mesmo. E é igual.
É preciso apreciar o discurso para poder entender a mensagem. É preciso se incomodar para enfim entreter.
Mas no fim as pessoas querem mesmo viver na Matrix.
Que rolê torto o documentário Três Estranhos Idênticos! Começa uma parada meio inacreditável e termina numa situação ainda mais absurda! E quanto mais se pensa neste filme, pior fica.
Assistir a este documentário depois de ler "O Mundo Assombrado pelos Demônios" faz de Erich von Däniken um malandro ou ingênuo. Quem sabe os dois? O mais incrível sobre as ideias e as crenças é o despertar para a imaginação. Nada como sonhar sobre as sequelas de um mundo recoberto por inúmeras perguntas que talvez jamais serão respondidas.
Um filme problemático e compreensível. Problemático ao dar a um homem branco o discurso final sobre problemas de pigmentação (em suas próprias palavras), deixando claro que sua perspectiva é a voz da decisão (mesmo que a sua fala seja sobre exatamente o contrário). O monólogo é repleto de simbolismo que, apesar das boas intenções do diretor, nos traz um sentimento muito dúbio sobre a declaração, causando um certo desconforto. É um filme compreensível por ter sido rodado em uma época diferente da que vivemos. Não é somente o tema que incomoda, os personagens não usam cinto de segurança, fumam em estabelecimentos fechados, e por aí vai. A sensatez não parece bater sequer na porta da "empregada doméstica." Mais uma vez, os tempos são outros e há muitas camadas a serem exploradas no roteiro que expõe a vida daquelas pessoas.
"Você não é meu dono. Não pode me dizer quando estou saindo da linha, ou tentar que viva segundo as suas regras. Nem sabe quem eu sou, pai, o que sinto, o que penso. Tem 30 anos a mais que eu. Para você e sua geração miserável, tudo tem que continuar a mesma. Só quando todos vocês desaparecerem é que deixarão de ser um peso morto nas nossas costas."
Seaspiracy começa dizendo que as algas marinhas são responsáveis pela produção de 54% do oxigênio do mundo e termina dando sugestão de trocar o consumo dos peixes pelas algas. É o fim, literalmente!
Um problema desses intervalos entre temporadas é que traz a possibilidade da gente esquecer muita coisa que se passou. "É só assistir tudo de novo, oras!". Quando alguém diz isso, se tratando de The Handmaid's Tale, está garantindo que pouco conhece sobre o que se trata esta série e de como ela nos deixa depois de cada episódio. Eu gostaria de saber se mais alguém que está acompanhando a nova temporada ficou insensível para os acontecimentos e até de certa forma indiferente com as personagens. Pode ser que, pela própria tristeza que tomamos nestes últimos meses, ficamos com o olhar um pouco mais perverso, de alguém que tomou bastante porrada e agora chora porque até mesmo as pessoas que amamos ficaram distantes de nós. É quase como não conhecer mais o mundo que vivemos. Há beleza na mentira, na subordinação. Há leveza no desrespeito, no desumano cotidiano, um flerte com o inadmissível. E quando a morte chega, o baque vem! Uma outra teoria é que talvez acostumamos a ver sofrimento no decorrer das temporadas, e isso nos faz perder a esperança. O famoso normalizar o que não se deve jamais ser normalizado. Ao final do terceiro episódio, The Handmaid's Tale me lembrou que podemos pensar diferente, agir diferente e acreditar em coisas diferentes, mas jamais devemos permitir que o outro dite sobre quem somos. Que a esperança esteja sempre presente para que não nos tornemos como Gilead: insensíveis, apáticos, mesquinhos e corrompidos pela a ideia de que somos melhores que os outros. Eu comecei a ver pela distopia e agora tudo que eu espero é que estes personagens encontrem paz, pra eu também me sentir em paz. Que a liberdade, em todos os seus sentidos, seja o final feliz: na realidade ou na ficção.
Damon Lindelof, em uma entrevista, se disse empolgado com os rumos que tomaria a série após o término da terceira temporada. Isso porque a emissora tinha colocado finalmente um prazo para o encerramento de Lost e os showrunners poderiam seguir a caminho da linha de chegada. A lei de Murphy veio como um monstro da fumaça e os roteiristas entraram em greve nos EUA prejudicando o show. Esta temporada parece muito desconectada com o enredo que estavam criando. Grupos andando de um lado para o outro num eterno enrolation e desvio de conduta de personagens em relação à personalidade que fora lapidada ao longo dos últimos três anos são apenas alguns dos enormes defeitos da quarta temporada. É bem difícil chegar ao final a esta que me parece um filler. Há uma teoria do "pulo do tubarão" que significa "o momento específico em que se perdeu o controle de uma série; uma sensação de que a série já não é mais aquela, mesmo que a gente ainda não tenha parado pra se perguntar o porquê. Ambas as coisas levam à mesma ideia: a série já deu o que tinha que dar."
A caminho da quinta temporada na esperança de que Lost tenha voltado aos trilhos depois de uma enorme turbulência. Porque eu não aguentei o insuportável do Jack por mais de oitenta episódios pra chegar nisso!
PS: Grey's Anatomy (quarta temporada) e Heroes foram algumas das séries que tiveram roteiros sofríveis por conta da greve dos roteiristas. Breaking Bad, por outro lado, se salvou ao decidirem diminuir a quantidade de episódios ao invés de encherem linguiça - isso poupou a vida do personagem Hank que morreria no final da primeira temporada.
PS2: Sempre é bom lembrar a quem interessar que Damon Lindelof, co-criador de Lost, deu vida a duas obras-primas anos mais tarde: The Leftovers e Watchmen, ambas da HBO. Coisa de outro nível!!!!
Se você está chegando aqui agora e não conhece Damon Lindelof, showrunner de Lost, aconselho você dar uma espiada em outros dois trabalhos dele que são o suprassumo do audiovisual:
The Leftovers - série curtinha de três temporadas (que envolve questões filosóficas e fé, muitas vezes abordadas pelo personagem Locke).
Me perguntando se quando os roteiristas escreveram a série criaram um protagonista insuportável pra que a gente pudesse suportar todo o resto. Jack só é relevante porque é o único médico na ilha, do contrário certeza que no primeiro chilique já teriam amarrado esse embuste numa árvore e aplicado um sossega desavisado.
O final com aquela música foi pra mim o maior soco no estômago. Indigesto e potente. Adultos agindo com inconsequência como se fossem eternos adolescentes irresponsáveis pela própria vida e a dos outros. Se o que importa é a felicidade, será mesmo que a bebida é o motor principal na busca desta?
"Não sei onde estarei em cinco anos, mas sou jovem e vivo Foda-se o que eles estão dizendo, que vida Está tudo bem, está tudo bem Que estamos vivendo, estamos vivendo assim"
Gostaria muito de saber como estes personagens, assim como muitos na vida real, estão celebrando a vida após alguns anos. A busca pela felicidade através da fuga da consciência não é felicidade, é apenas a mediocridade de revelar à sociedade o quão frágil e covarde é o ser humano.
O Senhor dos Anéis foi a primeira trilogia que assisti no cinema. Lembro de, ao final do último filme, sair da sala com um vazio no peito e uma sensação de ter vivido algo muito maior que magia. Revisitando os filmes tenho a certeza que Tolkien é grande demais pra nós mortais.
Há um trecho em "O Senhor dos Anéis" onde ocorre uma batalha entre o bem e o mal no abismo de Helm. Homens, elfos e anões se unem para derrotar o mal, representado por seres que destroem a natureza e instauram o caos e forças malignas que corrompem tudo que há de bom no planeta. Longe, na floresta, os ents (árvores vivas) discutem entre entre eles se devem ou não participar do embate. Após uma longa conversa decidem se ausentar do conflito.
- Como pode ser essa a sua decisão? - pergunta o hobbit sem compreender a falta de motivação das árvores. - Isso não é a nossa guerra. - Mas vocês são parte deste mundo! - Merry suplica.
Merry, decepcionado pela falta de perspectiva, é amparado por seu amigo Pippin:
- Talvez as árvores tenham razão. Isso tudo é muito grande para nós. O que nós podemos fazer afinal? Nós temos nossa casa e para lá devemos voltar. - Os fogos se espalharão e os bosques queimarão. Tudo que era verde e bom neste mundo estará perdido. Não existirá mais casa, Pippin.
Quando achamos que ser uma árvore é o melhor para não atrapalhar o curso da história, ou interferir no futuro de uma sociedade, é sempre bom lembrar que as consequências chegam para todos. Cedo ou tarde a gente sempre toma uma decisão. Mesmo que a floresta esteja toda tomada pelo fogo, é possível encontrar uma solução.
Como diz Gandalf, o mago cinzento, 'é preciso calar a língua bifurcada das cobras atrás dos dentes. Não passamos por fogo e morte para trocar débeis palavras com vermes e tolos.'
- Você não sabia que Ritchie era gay? - Está insinuando ser problema? Pareceu-me surpresa por eu não saber do meu filho. - Deixe-me esclarecer. Se não sabia que ele era gay todos esses anos, o que via? É a mãe dele, deveria pensar nele dia e noite. Então, que merda estava fazendo?
It's A Sin narra a história de jovens que se distanciam de seus familiares para se permitirem e se conhecerem, uma vez que não encontram apoio para descobrirem mais sobre eles mesmos dentro de casa. Jovens que recém abandonaram suas áureas de criança e passam a vida adulta contando histórias que seus pais nunca conhecerão por vergonha do que eles se tornaram. Não saberão quem são seus filhos, seus amigos e o que fazem para serem felizes. A minissérie de cinco episódios se passa na década de oitenta, época que se descobre uma doença que anda de mãos dadas com o preconceito: a aids. É possível compreender ao término a tolice que nos tornamos ao abrirmos o peito para os julgamentos e virarmos as costas para aqueles que amamos. O quanto se perde por não desfrutar do amor genuíno é o que se ganha por se afastar, se desfazer, diluir. Depois que a morte nos aborda só há o consolo, a culpa e o arrependimento. Pessoas não são heterossexuais ou homossexuais; aliás existe um mundo além disso. Pessoas são pedacinhos de sonhos, angústias, alegrias e tristezas. Um caminho enorme de passos curtos e longos que se transformam no que conhecemos como vida.
A série ultrapassa a elegância. As entrelinhas que dialoga com o espectador questionando os interesses em acompanhar a história da rainha é sutil e mordaz. A real intenção é te fisgar. E no quinto episódio o espectador é definitivamente hipnotizado com um texto aparentemente singelo, no entanto devastador. A relação entre a tradição e renúncias causa um impacto tremendo no telespectador. Estou arrepiado!
"Quem quer transparência quando se pode ter magia? Quem quer prosa quando se pode ter poesia? Se afastarmos o véu, o que resta? Uma mulher comum, de habilidades modestas e pouca imaginação. Mas se ungi-la com óleo, o que você tem? Uma deusa!
- E pensar que você recusou isso tudo: a oportunidade de ser um deus. - Eu recusei por uma coisa ainda maior. - Por amor."
Considerando que um advogado precise tomar como verdade o que está defendendo, quando termina o julgamento, mesmo derrotado, ele continua a acreditar?
“O que fazer quando não se tem certeza? Este será o tópico de hoje”, segue o monólogo do padre Flynn, interpretado por Philip Seymour Hoffman. “Uma mulher fazia fofoca com a amiga sobre um homem que mal conhecia. Sei que vocês nunca fizeram isso. Ela teve um sonho aquela noite. Uma mão enorme aparecia e apontava para ela. Ela se sentiu culpada na mesma hora. No dia seguinte se confessou. Ela perguntou se fofocar era pecado. E se aquela era a mão do Todo-poderoso apontando para ela. ‘Sim, sua mulher ignorante. Você levantou falso testemunho contra um irmão. Você brincou com a reputação dele, e deve se envergonhar disso!’ Então a mulher pediu perdão. ‘Quero que vá para casa, leve um travesseiro até o telhado, corte-o com uma faca, e traga-o pra mim’. […] Ela voltou ao padre e ele perguntou: cortou o travesseiro com a faca? ‘Sim, padre.’ ‘E qual foi o resultado?’ Plumas por toda parte, ela disse. ‘Agora quero que volte e recolha todas plumas que voaram com o vento.’ Ela disse: não posso, não sei para onde foram. Foram levadas pelo vento.’ E o padre disse: E assim é a fofoca!”
Onze anos atrás, quando assisti à “Dúvida” pela primeira vez, tive absoluta certeza que o padre era culpado da acusação que permeia o longa-metragem. Isto não dizia sobre o filme, mas sobre meus preconceitos. Minha mente divagava: por que escândalos como este continuam existindo na igreja católica?
-Sobre o que foi o sermão do padre Flynn semana passada? -Bem, dúvida. Ele falava sobre dúvida. -Por quê? O padre Flynn tem dúvidas? Está preocupado que alguém esteja em dúvida? -É perturbador suspeitar das pessoas, me sinto menos próxima de Deus. - Quando dá um passo para corrigir um erro, se distancia de Deus, mas a serviço dele.
Fiquei torcendo profundamente que fosse mentira a moléstia cometida pelo padre, pois é inadmissível diante do discurso dos dogmas que isto ainda ocorra entre nós. Inadmissível, à favor da crença, as pessoas isentarem a culpa do culpado enquanto a vítima se dilacera. Uma vida quando abusada não retorna nunca mais. Uma sombra paira e destrói a inocência e tudo que há de bom. O corpo sofre, a alma sofre. A vida recai. E a culpa sempre será daqueles que não são santos.
Mas pior que ter a certeza sobre algo, é viver sobre dúvidas. E este filme irá confrontar tudo que encontramos em nossa arrogância sobre ser juiz de um caso que não cabe a nós julgar. A justiça vendou os olhos por muitos anos, e me parece que a sensatez deu lugar a uma visão impossível de se justificar. Que a justiça reorganize o conceito de se parecer cega, porque precisamos que alguém enxergue por nós para que possamos continuar a acreditar.
“A dúvida pode ser um elo tão forte e duradouro quanto a certeza. Quando está perdido, não está sozinho.”
Nota-se no episódio especial da série Euphoria o comprometimento com a sobriedade visual. Há uma certa necessidade de mostrar que ambas protagonistas estão desconfortáveis sem suas máscaras, mesmo que estejam revelando muito mais sobre elas agora do que durante uma temporada inteira. Jules é verdadeiramente algo que me encanta em qualquer pessoa. É inteligente, criativa, poética. Simplesmente por que pessoas enriquecedoras precisam sofrer tanto na sociedade? Havia uma época em que ser único o tornava especial. Ter estes pequenos traços que, quando somados, nos revelam uma pessoa rica em detalhes era um baita diferencial! A marginalização da padronização tornou tudo opaco, sem cor. E então surgiram as redes sociais que transformaram homens em sistemas operacionais. Quem se importa se estamos falando com um ser humano de verdade do outro lado da tela, quando o que queremos é suprir nossa imaginação? É este mundo escasso de possibilidades que torna tudo pobre e falso. Há um raio de brilho nas imagens projetadas na consciência da protagonista, uma vontade de tornar real tudo aquilo que nos falta. Não é homem que Jules procura, é o amor. Não é de Rue que a Jules foge, é do que a sociedade destrói quando toca.
Parece que devemos sentir culpa por quem somos. As pessoas estão tão enraizadas num ensinamento que dissemina o medo, que as impede de assumir a mudança. Imagina se os homens tivessem consciência da sua existência para questionar as asneiras que propagam? Sendo assim, é preciso afirmar o tempo todo para afastar o preconceito.
Concluindo o episódio tenho a convicção de que este produto audiovisual é um dos mais relevantes atualmente. Fala sobre o comportamento de homens que se mostram másculos e seguros, mas que em quatro paredes são frágeis e reprimidos. Fala da pluralidade da orientação sexual, identidade de gênero, de relacionamentos abusivos, da imoralidade e a farsa social, do enaltecimento e romantismo de bebidas alcoólicas e ilícitos como se fossem a solução para a verdadeira droga: a sociedade. Euphoria é indiscutivelmente a série mais importante, não só pela sua grandeza, mas por nos revelar a verdade. O que está velado precisa ser dito. Se doer, que seja rápido para seguirmos em frente. Então, por onde quer começar?
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KA metalinguagem e a alegoria de que somos manipulados por Deus assim como os robôs são por nós (criadores) em Westworld é de tirar o chapéu. A relação das crenças e da pergunta "somos mesmos donos da nossa história?" é formidável! Chega mais, quarta temporada!
Undone (2ª Temporada)
4.4 45Terminei Undone e... quanta magia o audiovisual pode nos proporcionar, fazer refletir sobre quem somos e o que estamos fazendo neste pequeno circuito do tempo chamado VIDA! Esta série é bela como a fé que nos faz ter forças, é poderosa como a esperança que nos faz ter paz.
Sangue Negro
4.3 1,2K Assista AgoraEm 2007 eu era um adolescente babaca descobrindo a minha sexualidade. Certo dia, vagando pela locadora vi um filme com uma capa intrigante e escrito: INDICADO AO OSCAR. Eu gostava do Oscar, era aquela cerimônia que passava cenas inéditas de filmes do Homem Aranha, Matrix e O Senhor dos Anéis. Pra quem era do interior, vivendo numa época sem internet, assistir cenas inéditas de um filme que só poderia ver quando chegasse na locadora era cool. Então levei Sangue Negro, e neste dia eu senti que mudei.
Religião sempre foi o foco da minha vida, das minhas perturbações, do meu aceitar, e do meu ódio pela metodologia do mundo em diagnosticar o certo e errado com base no que dizem ser a palavra oficial de Deus. Eu nunca tive um relacionamento saudável na minha família por conta disso, mas ao ver aquele protagonista tomando aquelas atitudes, eu me revirei. Porque eu era aquele homem cheio de ódio, e eu era o filho dele que fomentava o ódio a partir da criação do pai. Sangue Negro é difícil pra expressar, eu o assisto algumas vezes a cada dez anos, e ainda me sinto a diluir em cada personagem que aparece. Quanto mais amadureço, mais apodreço. Que filme poderoso, que filme audacioso, que filme capaz!
Matrix Resurrections
2.8 1,3K Assista AgoraNão há mais volta, é impossível despertar tanta gente inerte e refém ao que o sistema impõe.
Com essa mensagem fico a pensar como Matrix 4 é complexo dentro de sua própria magnitude, rindo de si mesmo e criando um desconforto no espectador. As pessoas se levam a sério demais sem dar a devida atenção ao que realmente importa. Discussões sobre a sobreposição da realidade, a perspectiva da loucura e da submissão do meio em que o ser humano foi criado, a derrubada da idolatria - do messianismo - e sobre o desejo de existir um propósito. É um filme bom, autocrítico, cínico e desaforado. Matrix sempre foi sobre renegar tudo que nos é imposto, de romper com o que estamos acostumados para contradizer o óbvio e incomodar (inclusive a primeira parte fala exatamente sobre isso, da gente aceitar sempre as mesmas coisas e negar o novo, o diferente, ou apenas nos entregar para o que está sendo proposto. Não queremos mais absorver nada, somente aceitamos as mesmas histórias, com outros personagens).
Não é um filme ruim. É um filme difícil. E difícil não quer dizer que um dia se torne bom. É diferente, apesar de parecer o mesmo. E é igual.
É preciso apreciar o discurso para poder entender a mensagem.
É preciso se incomodar para enfim entreter.
Mas no fim as pessoas querem mesmo viver na Matrix.
Três Estranhos Idênticos
4.0 215 Assista AgoraQue rolê torto o documentário Três Estranhos Idênticos! Começa uma parada meio inacreditável e termina numa situação ainda mais absurda! E quanto mais se pensa neste filme, pior fica.
Succession (1ª Temporada)
4.2 261Acho tão errado gostar de Succession, porque você torce pras pessoas mais odiosas do mundo, ao mesmo tempo que quer que elas se fodam.
Succession (2ª Temporada)
4.5 228 Assista AgoraNão importa quantas vezes eu assista a cena final, ela me arrepia de bambear as pernas! Tem tudo pra se tornar uma das melhores séries da atualidade!
It's Always Sunny in Philadelphia (1ª Temporada)
4.2 70Você gosta desta série porque de alguma forma se identifica com os personagens, ou porque ridiculariza pessoas estúpidas que se acham incríveis.
Eram os Deuses Astronautas?
3.7 99Assistir a este documentário depois de ler "O Mundo Assombrado pelos Demônios" faz de Erich von Däniken um malandro ou ingênuo. Quem sabe os dois? O mais incrível sobre as ideias e as crenças é o despertar para a imaginação. Nada como sonhar sobre as sequelas de um mundo recoberto por inúmeras perguntas que talvez jamais serão respondidas.
Adivinhe Quem Vem Para Jantar
4.1 222 Assista AgoraUm filme problemático e compreensível. Problemático ao dar a um homem branco o discurso final sobre problemas de pigmentação (em suas próprias palavras), deixando claro que sua perspectiva é a voz da decisão (mesmo que a sua fala seja sobre exatamente o contrário). O monólogo é repleto de simbolismo que, apesar das boas intenções do diretor, nos traz um sentimento muito dúbio sobre a declaração, causando um certo desconforto. É um filme compreensível por ter sido rodado em uma época diferente da que vivemos. Não é somente o tema que incomoda, os personagens não usam cinto de segurança, fumam em estabelecimentos fechados, e por aí vai. A sensatez não parece bater sequer na porta da "empregada doméstica." Mais uma vez, os tempos são outros e há muitas camadas a serem exploradas no roteiro que expõe a vida daquelas pessoas.
"Você não é meu dono. Não pode me dizer quando estou saindo da linha, ou tentar que viva segundo as suas regras. Nem sabe quem eu sou, pai, o que sinto, o que penso.
Tem 30 anos a mais que eu. Para você e sua geração miserável, tudo tem que continuar a mesma. Só quando todos vocês desaparecerem é que deixarão de ser um peso morto nas nossas costas."
E assim seguimos aprendendo sempre.
Seaspiracy: Mar Vermelho
4.3 49Seaspiracy começa dizendo que as algas marinhas são responsáveis pela produção de 54% do oxigênio do mundo e termina dando sugestão de trocar o consumo dos peixes pelas algas. É o fim, literalmente!
O Conto da Aia (4ª Temporada)
4.3 428 Assista AgoraUm problema desses intervalos entre temporadas é que traz a possibilidade da gente esquecer muita coisa que se passou. "É só assistir tudo de novo, oras!". Quando alguém diz isso, se tratando de The Handmaid's Tale, está garantindo que pouco conhece sobre o que se trata esta série e de como ela nos deixa depois de cada episódio. Eu gostaria de saber se mais alguém que está acompanhando a nova temporada ficou insensível para os acontecimentos e até de certa forma indiferente com as personagens. Pode ser que, pela própria tristeza que tomamos nestes últimos meses, ficamos com o olhar um pouco mais perverso, de alguém que tomou bastante porrada e agora chora porque até mesmo as pessoas que amamos ficaram distantes de nós. É quase como não conhecer mais o mundo que vivemos. Há beleza na mentira, na subordinação. Há leveza no desrespeito, no desumano cotidiano, um flerte com o inadmissível. E quando a morte chega, o baque vem! Uma outra teoria é que talvez acostumamos a ver sofrimento no decorrer das temporadas, e isso nos faz perder a esperança. O famoso normalizar o que não se deve jamais ser normalizado.
Ao final do terceiro episódio, The Handmaid's Tale me lembrou que podemos pensar diferente, agir diferente e acreditar em coisas diferentes, mas jamais devemos permitir que o outro dite sobre quem somos. Que a esperança esteja sempre presente para que não nos tornemos como Gilead: insensíveis, apáticos, mesquinhos e corrompidos pela a ideia de que somos melhores que os outros. Eu comecei a ver pela distopia e agora tudo que eu espero é que estes personagens encontrem paz, pra eu também me sentir em paz. Que a liberdade, em todos os seus sentidos, seja o final feliz: na realidade ou na ficção.
Lost (4ª Temporada)
4.2 329 Assista AgoraDamon Lindelof, em uma entrevista, se disse empolgado com os rumos que tomaria a série após o término da terceira temporada. Isso porque a emissora tinha colocado finalmente um prazo para o encerramento de Lost e os showrunners poderiam seguir a caminho da linha de chegada. A lei de Murphy veio como um monstro da fumaça e os roteiristas entraram em greve nos EUA prejudicando o show. Esta temporada parece muito desconectada com o enredo que estavam criando. Grupos andando de um lado para o outro num eterno enrolation e desvio de conduta de personagens em relação à personalidade que fora lapidada ao longo dos últimos três anos são apenas alguns dos enormes defeitos da quarta temporada. É bem difícil chegar ao final a esta que me parece um filler. Há uma teoria do "pulo do tubarão" que significa "o momento específico em que se perdeu o controle de uma série; uma sensação de que a série já não é mais aquela, mesmo que a gente ainda não tenha parado pra se perguntar o porquê. Ambas as coisas levam à mesma ideia: a série já deu o que tinha que dar."
A caminho da quinta temporada na esperança de que Lost tenha voltado aos trilhos depois de uma enorme turbulência. Porque eu não aguentei o insuportável do Jack por mais de oitenta episódios pra chegar nisso!
PS: Grey's Anatomy (quarta temporada) e Heroes foram algumas das séries que tiveram roteiros sofríveis por conta da greve dos roteiristas. Breaking Bad, por outro lado, se salvou ao decidirem diminuir a quantidade de episódios ao invés de encherem linguiça - isso poupou a vida do personagem Hank que morreria no final da primeira temporada.
PS2: Sempre é bom lembrar a quem interessar que Damon Lindelof, co-criador de Lost, deu vida a duas obras-primas anos mais tarde: The Leftovers e Watchmen, ambas da HBO. Coisa de outro nível!!!!
Lost (3ª Temporada)
4.3 387 Assista AgoraA última cena desta temporada é SEM SOMBRA DE DÚVIDA um dos maiores plot twist da história do audiovisual!!!
Lost (1ª Temporada)
4.5 773 Assista AgoraSe você está chegando aqui agora e não conhece Damon Lindelof, showrunner de Lost, aconselho você dar uma espiada em outros dois trabalhos dele que são o suprassumo do audiovisual:
The Leftovers - série curtinha de três temporadas (que envolve questões filosóficas e fé, muitas vezes abordadas pelo personagem Locke).
Watchmen - minissérie exibida em 2019
Disponíveis na HBO GO
Lost (2ª Temporada)
4.4 377 Assista AgoraMe perguntando se quando os roteiristas escreveram a série criaram um protagonista insuportável pra que a gente pudesse suportar todo o resto. Jack só é relevante porque é o único médico na ilha, do contrário certeza que no primeiro chilique já teriam amarrado esse embuste numa árvore e aplicado um sossega desavisado.
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 798 Assista AgoraO final com aquela música foi pra mim o maior soco no estômago. Indigesto e potente. Adultos agindo com inconsequência como se fossem eternos adolescentes irresponsáveis pela própria vida e a dos outros. Se o que importa é a felicidade, será mesmo que a bebida é o motor principal na busca desta?
"Não sei onde estarei em cinco anos, mas sou jovem e vivo
Foda-se o que eles estão dizendo, que vida
Está tudo bem, está tudo bem
Que estamos vivendo, estamos vivendo assim"
Gostaria muito de saber como estes personagens, assim como muitos na vida real, estão celebrando a vida após alguns anos. A busca pela felicidade através da fuga da consciência não é felicidade, é apenas a mediocridade de revelar à sociedade o quão frágil e covarde é o ser humano.
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O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
4.4 1,9K Assista AgoraO Senhor dos Anéis foi a primeira trilogia que assisti no cinema. Lembro de, ao final do último filme, sair da sala com um vazio no peito e uma sensação de ter vivido algo muito maior que magia. Revisitando os filmes tenho a certeza que Tolkien é grande demais pra nós mortais.
O Senhor dos Anéis: As Duas Torres
4.4 1,1K Assista AgoraHá um trecho em "O Senhor dos Anéis" onde ocorre uma batalha entre o bem e o mal no abismo de Helm. Homens, elfos e anões se unem para derrotar o mal, representado por seres que destroem a natureza e instauram o caos e forças malignas que corrompem tudo que há de bom no planeta. Longe, na floresta, os ents (árvores vivas) discutem entre entre eles se devem ou não participar do embate. Após uma longa conversa decidem se ausentar do conflito.
- Como pode ser essa a sua decisão? - pergunta o hobbit sem compreender a falta de motivação das árvores.
- Isso não é a nossa guerra.
- Mas vocês são parte deste mundo! - Merry suplica.
Merry, decepcionado pela falta de perspectiva, é amparado por seu amigo Pippin:
- Talvez as árvores tenham razão. Isso tudo é muito grande para nós. O que nós podemos fazer afinal? Nós temos nossa casa e para lá devemos voltar.
- Os fogos se espalharão e os bosques queimarão. Tudo que era verde e bom neste mundo estará perdido. Não existirá mais casa, Pippin.
Quando achamos que ser uma árvore é o melhor para não atrapalhar o curso da história, ou interferir no futuro de uma sociedade, é sempre bom lembrar que as consequências chegam para todos. Cedo ou tarde a gente sempre toma uma decisão. Mesmo que a floresta esteja toda tomada pelo fogo, é possível encontrar uma solução.
Como diz Gandalf, o mago cinzento, 'é preciso calar a língua bifurcada das cobras atrás dos dentes. Não passamos por fogo e morte para trocar débeis palavras com vermes e tolos.'
E as árvores, no fim, marcharam para a guerra.
It's a Sin
4.4 102 Assista Agora- Você não sabia que Ritchie era gay?
- Está insinuando ser problema? Pareceu-me surpresa por eu não saber do meu filho.
- Deixe-me esclarecer. Se não sabia que ele era gay todos esses anos, o que via? É a mãe dele, deveria pensar nele dia e noite. Então, que merda estava fazendo?
It's A Sin narra a história de jovens que se distanciam de seus familiares para se permitirem e se conhecerem, uma vez que não encontram apoio para descobrirem mais sobre eles mesmos dentro de casa. Jovens que recém abandonaram suas áureas de criança e passam a vida adulta contando histórias que seus pais nunca conhecerão por vergonha do que eles se tornaram. Não saberão quem são seus filhos, seus amigos e o que fazem para serem felizes.
A minissérie de cinco episódios se passa na década de oitenta, época que se descobre uma doença que anda de mãos dadas com o preconceito: a aids.
É possível compreender ao término a tolice que nos tornamos ao abrirmos o peito para os julgamentos e virarmos as costas para aqueles que amamos.
O quanto se perde por não desfrutar do amor genuíno é o que se ganha por se afastar, se desfazer, diluir.
Depois que a morte nos aborda só há o consolo, a culpa e o arrependimento. Pessoas não são heterossexuais ou homossexuais; aliás existe um mundo além disso. Pessoas são pedacinhos de sonhos, angústias, alegrias e tristezas. Um caminho enorme de passos curtos e longos que se transformam no que conhecemos como vida.
The Crown (1ª Temporada)
4.5 389 Assista AgoraA série ultrapassa a elegância. As entrelinhas que dialoga com o espectador questionando os interesses em acompanhar a história da rainha é sutil e mordaz. A real intenção é te fisgar. E no quinto episódio o espectador é definitivamente hipnotizado com um texto aparentemente singelo, no entanto devastador. A relação entre a tradição e renúncias causa um impacto tremendo no telespectador. Estou arrepiado!
"Quem quer transparência quando se pode ter magia? Quem quer prosa quando se pode ter poesia? Se afastarmos o véu, o que resta? Uma mulher comum, de habilidades modestas e pouca imaginação. Mas se ungi-la com óleo, o que você tem? Uma deusa!
- E pensar que você recusou isso tudo: a oportunidade de ser um deus.
- Eu recusei por uma coisa ainda maior.
- Por amor."
Peter Morgan, aqui você ganhou meu coração!
Dúvida
3.9 1,0K Assista AgoraConsiderando que um advogado precise tomar como verdade o que está defendendo, quando termina o julgamento, mesmo derrotado, ele continua a acreditar?
“O que fazer quando não se tem certeza? Este será o tópico de hoje”, segue o monólogo do padre Flynn, interpretado por Philip Seymour Hoffman. “Uma mulher fazia fofoca com a amiga sobre um homem que mal conhecia. Sei que vocês nunca fizeram isso. Ela teve um sonho aquela noite. Uma mão enorme aparecia e apontava para ela. Ela se sentiu culpada na mesma hora. No dia seguinte se confessou. Ela perguntou se fofocar era pecado. E se aquela era a mão do Todo-poderoso apontando para ela. ‘Sim, sua mulher ignorante. Você levantou falso testemunho contra um irmão. Você brincou com a reputação dele, e deve se envergonhar disso!’ Então a mulher pediu perdão. ‘Quero que vá para casa, leve um travesseiro até o telhado, corte-o com uma faca, e traga-o pra mim’. […] Ela voltou ao padre e ele perguntou: cortou o travesseiro com a faca? ‘Sim, padre.’ ‘E qual foi o resultado?’ Plumas por toda parte, ela disse. ‘Agora quero que volte e recolha todas plumas que voaram com o vento.’ Ela disse: não posso, não sei para onde foram. Foram levadas pelo vento.’ E o padre disse: E assim é a fofoca!”
Onze anos atrás, quando assisti à “Dúvida” pela primeira vez, tive absoluta certeza que o padre era culpado da acusação que permeia o longa-metragem. Isto não dizia sobre o filme, mas sobre meus preconceitos. Minha mente divagava: por que escândalos como este continuam existindo na igreja católica?
-Sobre o que foi o sermão do padre Flynn semana passada?
-Bem, dúvida. Ele falava sobre dúvida.
-Por quê? O padre Flynn tem dúvidas? Está preocupado que alguém esteja em dúvida?
-É perturbador suspeitar das pessoas, me sinto menos próxima de Deus.
- Quando dá um passo para corrigir um erro, se distancia de Deus, mas a serviço dele.
Fiquei torcendo profundamente que fosse mentira a moléstia cometida pelo padre, pois é inadmissível diante do discurso dos dogmas que isto ainda ocorra entre nós. Inadmissível, à favor da crença, as pessoas isentarem a culpa do culpado enquanto a vítima se dilacera. Uma vida quando abusada não retorna nunca mais. Uma sombra paira e destrói a inocência e tudo que há de bom. O corpo sofre, a alma sofre. A vida recai. E a culpa sempre será daqueles que não são santos.
Mas pior que ter a certeza sobre algo, é viver sobre dúvidas. E este filme irá confrontar tudo que encontramos em nossa arrogância sobre ser juiz de um caso que não cabe a nós julgar. A justiça vendou os olhos por muitos anos, e me parece que a sensatez deu lugar a uma visão impossível de se justificar. Que a justiça reorganize o conceito de se parecer cega, porque precisamos que alguém enxergue por nós para que possamos continuar a acreditar.
“A dúvida pode ser um elo tão forte e duradouro quanto a certeza. Quando está perdido, não está sozinho.”
Euphoria: Fuck Anyone Who’s Not a Sea Blob
4.3 128Nota-se no episódio especial da série Euphoria o comprometimento com a sobriedade visual. Há uma certa necessidade de mostrar que ambas protagonistas estão desconfortáveis sem suas máscaras, mesmo que estejam revelando muito mais sobre elas agora do que durante uma temporada inteira. Jules é verdadeiramente algo que me encanta em qualquer pessoa. É inteligente, criativa, poética. Simplesmente por que pessoas enriquecedoras precisam sofrer tanto na sociedade? Havia uma época em que ser único o tornava especial. Ter estes pequenos traços que, quando somados, nos revelam uma pessoa rica em detalhes era um baita diferencial! A marginalização da padronização tornou tudo opaco, sem cor. E então surgiram as redes sociais que transformaram homens em sistemas operacionais. Quem se importa se estamos falando com um ser humano de verdade do outro lado da tela, quando o que queremos é suprir nossa imaginação? É este mundo escasso de possibilidades que torna tudo pobre e falso. Há um raio de brilho nas imagens projetadas na consciência da protagonista, uma vontade de tornar real tudo aquilo que nos falta. Não é homem que Jules procura, é o amor. Não é de Rue que a Jules foge, é do que a sociedade destrói quando toca.
Parece que devemos sentir culpa por quem somos. As pessoas estão tão enraizadas num ensinamento que dissemina o medo, que as impede de assumir a mudança. Imagina se os homens tivessem consciência da sua existência para questionar as asneiras que propagam? Sendo assim, é preciso afirmar o tempo todo para afastar o preconceito.
Concluindo o episódio tenho a convicção de que este produto audiovisual é um dos mais relevantes atualmente. Fala sobre o comportamento de homens que se mostram másculos e seguros, mas que em quatro paredes são frágeis e reprimidos. Fala da pluralidade da orientação sexual, identidade de gênero, de relacionamentos abusivos, da imoralidade e a farsa social, do enaltecimento e romantismo de bebidas alcoólicas e ilícitos como se fossem a solução para a verdadeira droga: a sociedade.
Euphoria é indiscutivelmente a série mais importante, não só pela sua grandeza, mas por nos revelar a verdade. O que está velado precisa ser dito. Se doer, que seja rápido para seguirmos em frente.
Então, por onde quer começar?
Nomadland
3.9 896 Assista AgoraAinda vou precisar de um tempo pra pensar sobre este filme. Neste momento só me deixe chorar.