Um dos meus clássicos de moleque. Revi agora, depois de 20 anos, e constatei que ainda funciona. Ação rápida e que nunca pára, o espectador chega a ficar cansado em alguns momentos de tantos tiros, malabarismos e correrias.
Você já viu "O Inferno" antes, só que ele se chamava "Traffic", "Scarface", "Profissão de Risco"... Há bem pouco de novo na história de um chicano miserável que precisa virar capanga de um poderoso traficante de drogas para conseguir sobreviver - a tradicional historinha de ascensão e queda de um bandido.
Por isso mesmo, é questionável a longa duração do filme, que torna-se um tanto repetitivo ao longo de suas quase 2h30min de projeção. Mesmo assim, "O Inferno" não é nem um pouco desprezível e consegue manter-se um tantinho acima da média ao desmistificar o "trabalho" dos traficantes de drogas, usando um bizarro humor negro para retratar a sangrenta rotina dos criminosos.
Lembrando um Tarantino mexicano, o diretor-roteirista Luis Estrada põe seus traficantes e assassinos frios para falar bobagem e discutir amenidades, além de resgatar atores outrora conhecidos do cinema mexicano (como Mario Almada e Isela Vega) em pequenas participações.
Só não pense estar diante de uma comédia; pelo contrário, Estrada às vezes pega pesado em cenas brutais que têm o impacto de um soco no estômago, como a execução de um informante com serra elétrica, numa citação mais do que escancarada a "Scarface". Para quem não se assustar com a longa duração (que nunca se justifica, pois o filme podia tranquilamente ter uns 40 minutos a menos), é um passatempo divertido, engraçado e sanguinolento, que aborda um problema social sério - o narcotráfico nas pequenas cidades da fronteira mexicana - sem soar chato e pedante como uma aula de sociologia (ou como 90% das produções brasileiras sobre o mesmo tema).
O que "Tucker & Dale Enfrentam o Mal" fez pelos filmes sobre caipiras psicopatas anos atrás, o divertido "Um Pouquinho Zumbi" faz agora pelos filmes sobre mortos-vivos comedores de cérebros. Indo na contramão das produções clichês sobre zumbis realizadas às dúzias todo ano, o diretor Casey Walker realizou uma comédia despretensiosa com um pé na fantasia, e, o que importa, ENGRAÇADÍSSIMA!
A trama sobre um rapaz que começa a se transformar em zumbi e seus amigos que tentam ajudá-lo a adaptar-se à "nova condição" rende um festival de piadas de rolar de rir, como o ataque do protagonista "meio-zumbi" à mascote da noiva. E o veterano Stephen McHattie (o Coruja original de "Watchmen") rouba toda cena em que aparece como o troglodita caçador de zumbis.
"Um Pouquinho Zumbi" guarda certas semelhanças com outro filme independente chamado "The Revenant" (2009), em que um morto-vivo de primeira viagem também precisava lidar com sua nova condição. Mas narra a história parecida com frescor e originalidade. O que me faz pensar: por que diabos continuam fazendo vinte filmes de zumbis iguais uns aos outros todo ano (incluindo personagens que precisam aprender que morto-vivo só morre com tiro na cabeça), se ainda é possível enfocar novas olhares sobre um mesmo tema, como vemos aqui?
Esta aventura simples e divertida parece uma mistura de "Sin City" e "Drive" com os filmes de pancadaria made in Hong-Kong. O filme surpreende com sua atmosfera ora noir, ora comicamente exagerada e cartunesca, lembrando história em quadrinhos (tanto que o filme começa e termina com uma revista abrindo e se fechando, como se fosse uma legítima "pulp fiction" de ação barata).
E o herói Jason Yee, também roteirista, luta pra caramba - anos atrás ele já tinha dirigido, escrito e estrelado (!!!) a aventura "Dragão Negro", que passou batida. Por sinal, uma das melhores coisas de "Vingança Sem Limites" é que as cenas de pancadaria são filmadas como deve ser: câmera imóvel em planos mais abertos, permitindo que o espectador enxergue (e entenda) o que se passa.
A grande cena do filme é uma recriação de um plano-sequência de "Oldboy", em que o protagonista lutava contra vários oponentes ao longo de um corredor, sempre seguido pela câmera. Arrisco afirmar que a homenagem feita aqui ficou bem melhor que a cena original, com o pau comendo ao som de "Bolero", de Ravel - numa união perfeita de imagem e som.
O resultado é uma aventura bem-realizada e sem frescura, que talvez só peque na insistência em tentar soar "moderninha" ao copiar os filmes que Guy Ritchie e Tarantino faziam nos anos 90, com seus personagens excêntricos com diálogos engraçadinhos que hoje soam ultrapassados. Perdoando esse defeito (que para alguns pode até passar como qualidade), não leve a sério, divirta-se e olho vivo para reconhecer as pequenas participações da musa pornô Sasha Grey e da ex-Lolita Dominique Swain.
O que mais impressiona neste pequeno grande filme dirigido e co-escrito por Zack Parker é a sua simplicidade: conta-se uma mesma história a partir de três pontos de vista diferentes, e somente no terceiro e último ato percebemos que a coisa pode não ser como pensávamos que era lá no começo.
Não é exatamente uma ideia original, mas a forma como ela é executada é que funciona bem: os três personagens centrais (uma mãe super-protetora, seu filho problemático e a adolescente que aceita a tarefa de cuidar do rapaz) são simbolizados por cores bem marcantes, e a transição de um "ponto de vista" para outro é assinalado pelo uso dessas cores em figurinos, cenários e objetos de cena.
Também serve como impressionante demonstração de domínio da câmera pelo novato Parker, que usa takes longos e momentos de silêncio sem ser chato ou abusar do recurso, além de diferentes artifícios narrativos, da última cena no começo do filme à câmera assumindo a visão em primeira pessoa de um dos personagens. Vale a pena acompanhar os futuros trabalhos do cara.
Esta curiosa mistura de horror e comédia de humor negro vinda de Israel (não, não é o primeiro filme de terror israelense, como já vi dizerem por aí) é uma bela opção para quem acha que já viu de tudo e gosta de ser surpreendido.
A trama começa como centenas de outras produções do gênero: um grupo de jovens pega um atalho errado, acaba numa reserva ambiental abandonada e descobre que há um psicopata à solta. Aí você começa a se ajeitar na poltrona, esperando pela tradicional enxurrada de clichês com uma sensação de "E lá vamos nós de novo". E é exatamente aí que "Raiva" começa a surpreender: o tal psicopata some da narrativa, vários outros personagens entram em cena e o inesperado toma conta do filme. Movidos pela raiva do título, amigos se tornam inimigos mortais, desconhecidos se matam por puro acaso ou por uma simples interpretação equivocada, e torna-se completamente impossível prever para onde a história se encaminha - ou, mais especificamente, quem sobreviverá ao festival de mal-entendidos, se é que alguém escapará vivo!
No fim, "Raiva" pode ser descrito como uma mórbida comédia de erros parecida com os melhores trabalhos dos Irmãos Coen, como "Gosto de Sangue" e "Fargo", em que os personagens cometem as maiores idiotices e o espectador se pega rindo de nervoso diante da estupidez geralmente seguida de violência.
Imagine "REC" sem aqueles infectados que se transformam em zumbis/demônios; assim é "Fase 7", mais um filmaço vindo dos nossos vizinhos da Argentina. Inspirado no pânico provocado pelo surto de Gripe A anos atrás, o diretor-roteirista Nicolás Goldbart recria o início de "REC", com um velho edifício sendo colocado em quarentena pelos órgãos de saúde quando verifica-se um caso de uma gripe raríssima e mortal entre os moradores.
Não há os zumbis-demônios de "REC", mas não demora para uma atmosfera de paranóia tomar conta dos residentes, que começam a lutar entre si para proteger suas famílias (por medo de que os vizinhos estejam infectados), ou simplesmente por egoísmo (para roubar víveres que estão em falta em casa). A situação evolui drasticamente até iniciar-se uma pequena guerra entre os andares do condomínio.
Mas o mais legal de "Fase 7" é que, apesar do que o resumo da trama possa indicar, o filme tem uma pegada de humor negro e não busca ser tão sério quanto, por exemplo, "O Exército do Extermínio", de George A. Romero (uma das inspirações do diretor). Até porque o protagonista é um bonachão interpretado pelo astro argentino Daniel Hendler, ótimo no papel de um sujeito normal e covarde obrigado a se transformar em "herói" para proteger a esposa grávida.
E a trilha sonora é confessadamente inspirada em John Carpenter, o que torna o filme um deleite para os fãs do gênero. Com tantas qualidades, "Fase 7" também é um belo argumento de que ainda existem boas histórias para serem contadas a partir de argumentos batidos, dependendo apenas da criatividade dos realizadores. O filme funciona que é uma beleza - e merecia ser mais conhecido.
"Tropa de Elite" + "Assalto à 13ª DP" + "Território Inimigo" = O melhor filme de ação desde "Fervura Máxima". Foda vai ser nivelar por "The Raid" toda e qualquer produção do gênero feita a partir de agora. Sério, os caras vão ter que rebolar muito para conseguir ultrapassar o nível de pancadaria/tiros/adrenalina representado aqui!!!
A grande piada de "Machete", de Robert Rodriguez, era colocar o feioso Danny Trejo, mais conhecido pelos seus papéis de vilão, como protagonista. Infelizmente, a brincadeira não passou disso e o resultado foi bem abaixo da média. Agora, "Bad Ass" repete o mesmo erro e também se demonstra um filme de uma piada só.
O filme até é divertido e interessante em seus primeiros 20 minutos, quando enfoca um episódio real que virou febre no YouTube e a inacreditável transformação do protagonista - um coroa bombadão - em herói do bairro.
Mas logo o diretor-roteirista Craig Moss perde a mão e transforma a história em mais um "Desejo de Matar" genérico e sem grandes ousadias ou reviravoltas. As cenas de ação não empolgam, o roteiro é ridículo e cheio de furos (o que um velhote sem-teto faz com um pendrive contendo informações secretas envolvendo o prefeito da cidade?) e bons atores, como Ron Pearlman, fazem apenas participações especiais de poucos minutos.
Tirando uma ou outra cena mais inspirada, como o sangrento interrogatório em que a mão do sujeito é colocada no triturador de lixo, o resultado é uma aventura burocrática que até diverte, mas some da memória tão logo os créditos finais começam a subir. Uma pena, considerando que, com um bom diretor e um bom roteiro, poderíamos ter uma curiosa variação de "Gran Torino" ou "Harry Brown", outras duas aventuras recentes com heróis geriátricos.
Produção extremamente convencional que narra, pela enésima vez, a história de um terrível assassino obcecado por uma jovem vítima, e que passa o restante do tempo de projeção enganando a polícia e perseguindo a pobre coitada. O roteiro consegue ser praticamente uma coletânea de todos os clichês mais batidos do gênero - do assassino que se disfarça de policial até o cobertor colocado nas costas da vítima que escapou de um ataque.
Parece que não pode piorar, mas a coisa só vai ladeira abaixo: o serial killer, auto-intitulado "The Griffon", é interpretado pelo australiano John Jarratt (o vilão de "Wolf Creek"), mas não tem como acreditar que um velhinho como ele possa fazer tanto estrago; isso sem contar que o vilão é tão chato que poderia matar suas vítimas de tédio.
Já a mocinha em perigo é interpretada por Danielle Harris, que enfrentou Michael Myers quatro vezes (duas na série original e duas nos remakes de Rob Zombie), mas pelo visto não aprendeu nada, pois tem 200 chances de fugir e/ou matar o vilão, mas sempre as desperdiça.
Para arrematar, temos a presença de dois veteranos do cinema classe B, Casper Van Dien e Rae Dawn Chong (!!!), mas eles passam pelo filme como mero enfeite, sem fazer absolutamente nada que justifique suas presenças.
Não consegue nem mesmo ser divertido de tão ruim: é apenas ruim, e totalmente deslocado no tempo, já que talvez conseguisse atrair alguma atenção se fosse feito vinte anos atrás, na época de "O Silêncio dos Inocentes", e não hoje, depois de dezenas (quiçá centenas) de filmes idênticos sobre serial killers à solta...
O retorno de David Schmoeller depois de 14 anos sem fazer um filme para cinema é uma bela surpresa. Dessa vez, ao invés de um horror convencional, ele preferiu explorar a maldade humana numa produção mais séria e dramática.
A história é inspirada num chocante episódio real, o assassinato do menino James Bulger, acontecido em Londres no começo dos anos 90. Schmoeller pula os detalhes macabros do crime e muda a localização da história para os EUA, dando assim a sua própria versão do que teria acontecido aos dois pequenos assassinos quando eles atingiram a maioridade e foram libertados da prisão com identidades falsas e novas famílias adotivas.
Paralelamente, o roteiro critica o circo da mídia sensacionalista, na pele de dois repórteres de tablóide que recebem a missão de descobrir e revelar as novas identidades dos "pequenos monstros".
O diretor não escapa de alguns clichês, como o garoto malvado que aparece sempre fumando e que exagera nos trejeitos de psicopata. E não dá a devida atenção a um personagem interessante: o homem que caça os dois rapazes com a intenção de matá-los para "tranquilizar" a opinião pública.
Descontando esses defeitos, "Pequenos Monstros" é uma mistura eficiente de suspense e drama, curiosa também por resgatar um episódio trágico que estava quase esquecido, e com uma conclusão irônica que não faz nenhum julgamento. Um retorno bem decente de Schmoeller ao cinema depois de mais de uma década de curtas e produções para a TV.
Se "Esqueceram de Mim" tivesse sido dirigido por Wes Craven, o resultado seria algo bem próximo desse "A Escala da Agressão". A trama é simples e vai direto ao assunto sem enrolação: bandidos truculentos encontram num garotinho problemático um obstáculo inesperado para a sua "missão".
Aqui, a "versão malvada" de Macaulay Culkin é Owen (Ryan Hartwig), um pequeno diabinho que faria a órfã do filme homônimo mijar nas fraldas de medo. E, felizmente, o roteiro de Ben Powell não tenta inflar o "heroísmo" do garoto e nem esconder o fato de que, na verdade, ele é um verdadeiro psicopata mirim, mais ou menos como se o Michael Myers moleque deixasse a série "Halloween" para invadir um outro filme.
O diretor Miller não poupa na violência e na brutalidade (em cenas com participação direta da criança, sem frescura), de maneira que não fica absurdo quando os experientes bandidões (incluindo o gigante Derek Mears, o Jason do remake de "Sexta-feira 13") começam a ficar com medo do moleque.
Apesar das referências explícitas à obra de David Cronenberg e a "O Enigma do Outro Mundo", o horror médico-científico orquestrado por Todd E. Freeman lembrou-me muito mais o filme australiano "Corrosão - Ameaça em Seu Corpo", de Philip Brophy, com o qual tem em comum a narrativa fragmentada que vai empilhando efeitos repulsivos de mutações dos personagens.
Algumas cenas são visualmente impactantes, como a do sujeito que tem a cabeça toda coberta por uma segunda pele e vira uma criatura asquerosa (em destaque na arte do pôster). Freeman também acerta em fugir dos clichês, e mantém o espectador entre interessado e incomodado ao não explicar direito o que está acontecendo.
Infelizmente, "Cell Count" tem uma conclusão de certa forma decepcionante, anunciando que a história continuará em uma futura Parte 2. Como nada é resolvido e não há sequer algo parecido com um desfecho - pelo contrário, a ação é interrompida literalmente no meio! -, não deixa de ser injusto com a audiência.
Então agora o negócio agora é esperar (à força) pela conclusão da trama, já que Freeman promete que "Cell Count 2" será completamente diferente do primeiro e uma mistura de "Aliens - O Resgate" e "Mad Max 2". Certamente estarei no cinema quando estrear.
Este aqui é o grande filme sobre caipiras psicopatas que o Rob Zombie tentou fazer duas vezes (com "A Casa dos Mil Corpos" e "Rejeitados Pelo Diabo"), mas cagou fora da panela. Já o diretor inglês Alex Chandon dá uma aula de conhecimento do tema e do gênero, citando uma infinidade de filmes dos anos 70-80, como "Amargo Pesadelo", "O Massacre da Serra Elétrica" e "2.000 Maniacs".
A exemplo dos clássicos citados, a história tem um desenvolvimento lento na primeira parte, descambando para o horror explícito apenas da metade para o final. E tome sangue, mutilações e tripas em cenas gráficas e exageradas (a câmera nunca desvia do alvo), produzidas ora com efeitos práticos (aleluia!), ora com uma ajudinha de retoques digitais.
Felizmente, "Inato" não é sério e pesado como as produções que reverencia, e o diretor prefere entregar um humor negro crudelíssimo, inclusive com uma asquerosa "homenagem" ao modismo do cinema 3-D. O filme também demonstra a notável evolução de Chandon num período de dez anos, considerando que ele foi o sujeito responsável pelo péssimo "Nascido do Inferno" (2001), aquele terror podreira estrelado pelo roqueiro poser Dani Filth.
E eu espero MESMO que o cineasta inglês continue fazendo filmes de horror tão divertidos, descerebrados e sanguinolentos quanto este.
Só a cena em que Yor mata uma criatura voadora, tipo um pterodáctilo, e usa sua carcaça como asa-delta já valeria as cinco estrelas. Mas esta aventura bizarra ainda tem um ato final absurdamente hilário ao estilo "O Planeta dos Macacos", em que vemos homens pré-históricos enfrentando robôs, raios laser e naves espaciais! Ultra-super-hiper-mega-recomendado para públicos específicos e de bom (?) gosto.
O Enxame
2.5 29Sobre abelhas assassinas, cinema-catástrofe e o micão pago por todos os envolvidos nesse filme...
Liquid Sky
3.7 71O cult movie dos cult movies...
Anjos da Morte
4.0 15Um dos meus clássicos de moleque. Revi agora, depois de 20 anos, e constatei que ainda funciona. Ação rápida e que nunca pára, o espectador chega a ficar cansado em alguns momentos de tantos tiros, malabarismos e correrias.
Ruas Selvagens
3.4 33Sobre estupro e vingança, a arte de foder icebergs e os melões de Linda Blair.
Fúria no Deserto
2.6 10Impossível não imaginar o filmaço que seria com alguém como Enzo G. Castellari na direção...
Hamburguer: O Filme
2.9 13Sobre loucademias de fast food e mulheres peladas:
Sol Vermelho
3.8 40 Assista AgoraSobre pistoleiros ianques e franceses, índios, samurais e Ursula Andress pelada:
Comando Explícito
2.3 4Sobre estupros sem resistência e açougueiros produtores de cinema:
O Inferno
4.0 43 Assista AgoraVocê já viu "O Inferno" antes, só que ele se chamava "Traffic", "Scarface", "Profissão de Risco"... Há bem pouco de novo na história de um chicano miserável que precisa virar capanga de um poderoso traficante de drogas para conseguir sobreviver - a tradicional historinha de ascensão e queda de um bandido.
Por isso mesmo, é questionável a longa duração do filme, que torna-se um tanto repetitivo ao longo de suas quase 2h30min de projeção. Mesmo assim, "O Inferno" não é nem um pouco desprezível e consegue manter-se um tantinho acima da média ao desmistificar o "trabalho" dos traficantes de drogas, usando um bizarro humor negro para retratar a sangrenta rotina dos criminosos.
Lembrando um Tarantino mexicano, o diretor-roteirista Luis Estrada põe seus traficantes e assassinos frios para falar bobagem e discutir amenidades, além de resgatar atores outrora conhecidos do cinema mexicano (como Mario Almada e Isela Vega) em pequenas participações.
Só não pense estar diante de uma comédia; pelo contrário, Estrada às vezes pega pesado em cenas brutais que têm o impacto de um soco no estômago, como a execução de um informante com serra elétrica, numa citação mais do que escancarada a "Scarface". Para quem não se assustar com a longa duração (que nunca se justifica, pois o filme podia tranquilamente ter uns 40 minutos a menos), é um passatempo divertido, engraçado e sanguinolento, que aborda um problema social sério - o narcotráfico nas pequenas cidades da fronteira mexicana - sem soar chato e pedante como uma aula de sociologia (ou como 90% das produções brasileiras sobre o mesmo tema).
Um Pouquinho Zumbi
3.0 19O que "Tucker & Dale Enfrentam o Mal" fez pelos filmes sobre caipiras psicopatas anos atrás, o divertido "Um Pouquinho Zumbi" faz agora pelos filmes sobre mortos-vivos comedores de cérebros. Indo na contramão das produções clichês sobre zumbis realizadas às dúzias todo ano, o diretor Casey Walker realizou uma comédia despretensiosa com um pé na fantasia, e, o que importa, ENGRAÇADÍSSIMA!
A trama sobre um rapaz que começa a se transformar em zumbi e seus amigos que tentam ajudá-lo a adaptar-se à "nova condição" rende um festival de piadas de rolar de rir, como o ataque do protagonista "meio-zumbi" à mascote da noiva. E o veterano Stephen McHattie (o Coruja original de "Watchmen") rouba toda cena em que aparece como o troglodita caçador de zumbis.
"Um Pouquinho Zumbi" guarda certas semelhanças com outro filme independente chamado "The Revenant" (2009), em que um morto-vivo de primeira viagem também precisava lidar com sua nova condição. Mas narra a história parecida com frescor e originalidade. O que me faz pensar: por que diabos continuam fazendo vinte filmes de zumbis iguais uns aos outros todo ano (incluindo personagens que precisam aprender que morto-vivo só morre com tiro na cabeça), se ainda é possível enfocar novas olhares sobre um mesmo tema, como vemos aqui?
Vingança Sem Limites
2.6 41 Assista AgoraEsta aventura simples e divertida parece uma mistura de "Sin City" e "Drive" com os filmes de pancadaria made in Hong-Kong. O filme surpreende com sua atmosfera ora noir, ora comicamente exagerada e cartunesca, lembrando história em quadrinhos (tanto que o filme começa e termina com uma revista abrindo e se fechando, como se fosse uma legítima "pulp fiction" de ação barata).
E o herói Jason Yee, também roteirista, luta pra caramba - anos atrás ele já tinha dirigido, escrito e estrelado (!!!) a aventura "Dragão Negro", que passou batida. Por sinal, uma das melhores coisas de "Vingança Sem Limites" é que as cenas de pancadaria são filmadas como deve ser: câmera imóvel em planos mais abertos, permitindo que o espectador enxergue (e entenda) o que se passa.
A grande cena do filme é uma recriação de um plano-sequência de "Oldboy", em que o protagonista lutava contra vários oponentes ao longo de um corredor, sempre seguido pela câmera. Arrisco afirmar que a homenagem feita aqui ficou bem melhor que a cena original, com o pau comendo ao som de "Bolero", de Ravel - numa união perfeita de imagem e som.
O resultado é uma aventura bem-realizada e sem frescura, que talvez só peque na insistência em tentar soar "moderninha" ao copiar os filmes que Guy Ritchie e Tarantino faziam nos anos 90, com seus personagens excêntricos com diálogos engraçadinhos que hoje soam ultrapassados. Perdoando esse defeito (que para alguns pode até passar como qualidade), não leve a sério, divirta-se e olho vivo para reconhecer as pequenas participações da musa pornô Sasha Grey e da ex-Lolita Dominique Swain.
Escaleno
3.7 15O que mais impressiona neste pequeno grande filme dirigido e co-escrito por Zack Parker é a sua simplicidade: conta-se uma mesma história a partir de três pontos de vista diferentes, e somente no terceiro e último ato percebemos que a coisa pode não ser como pensávamos que era lá no começo.
Não é exatamente uma ideia original, mas a forma como ela é executada é que funciona bem: os três personagens centrais (uma mãe super-protetora, seu filho problemático e a adolescente que aceita a tarefa de cuidar do rapaz) são simbolizados por cores bem marcantes, e a transição de um "ponto de vista" para outro é assinalado pelo uso dessas cores em figurinos, cenários e objetos de cena.
Também serve como impressionante demonstração de domínio da câmera pelo novato Parker, que usa takes longos e momentos de silêncio sem ser chato ou abusar do recurso, além de diferentes artifícios narrativos, da última cena no começo do filme à câmera assumindo a visão em primeira pessoa de um dos personagens. Vale a pena acompanhar os futuros trabalhos do cara.
Raiva
3.0 58Esta curiosa mistura de horror e comédia de humor negro vinda de Israel (não, não é o primeiro filme de terror israelense, como já vi dizerem por aí) é uma bela opção para quem acha que já viu de tudo e gosta de ser surpreendido.
A trama começa como centenas de outras produções do gênero: um grupo de jovens pega um atalho errado, acaba numa reserva ambiental abandonada e descobre que há um psicopata à solta. Aí você começa a se ajeitar na poltrona, esperando pela tradicional enxurrada de clichês com uma sensação de "E lá vamos nós de novo". E é exatamente aí que "Raiva" começa a surpreender: o tal psicopata some da narrativa, vários outros personagens entram em cena e o inesperado toma conta do filme. Movidos pela raiva do título, amigos se tornam inimigos mortais, desconhecidos se matam por puro acaso ou por uma simples interpretação equivocada, e torna-se completamente impossível prever para onde a história se encaminha - ou, mais especificamente, quem sobreviverá ao festival de mal-entendidos, se é que alguém escapará vivo!
No fim, "Raiva" pode ser descrito como uma mórbida comédia de erros parecida com os melhores trabalhos dos Irmãos Coen, como "Gosto de Sangue" e "Fargo", em que os personagens cometem as maiores idiotices e o espectador se pega rindo de nervoso diante da estupidez geralmente seguida de violência.
Fase 7
2.9 23Imagine "REC" sem aqueles infectados que se transformam em zumbis/demônios; assim é "Fase 7", mais um filmaço vindo dos nossos vizinhos da Argentina. Inspirado no pânico provocado pelo surto de Gripe A anos atrás, o diretor-roteirista Nicolás Goldbart recria o início de "REC", com um velho edifício sendo colocado em quarentena pelos órgãos de saúde quando verifica-se um caso de uma gripe raríssima e mortal entre os moradores.
Não há os zumbis-demônios de "REC", mas não demora para uma atmosfera de paranóia tomar conta dos residentes, que começam a lutar entre si para proteger suas famílias (por medo de que os vizinhos estejam infectados), ou simplesmente por egoísmo (para roubar víveres que estão em falta em casa). A situação evolui drasticamente até iniciar-se uma pequena guerra entre os andares do condomínio.
Mas o mais legal de "Fase 7" é que, apesar do que o resumo da trama possa indicar, o filme tem uma pegada de humor negro e não busca ser tão sério quanto, por exemplo, "O Exército do Extermínio", de George A. Romero (uma das inspirações do diretor). Até porque o protagonista é um bonachão interpretado pelo astro argentino Daniel Hendler, ótimo no papel de um sujeito normal e covarde obrigado a se transformar em "herói" para proteger a esposa grávida.
E a trilha sonora é confessadamente inspirada em John Carpenter, o que torna o filme um deleite para os fãs do gênero. Com tantas qualidades, "Fase 7" também é um belo argumento de que ainda existem boas histórias para serem contadas a partir de argumentos batidos, dependendo apenas da criatividade dos realizadores. O filme funciona que é uma beleza - e merecia ser mais conhecido.
Operação Invasão
3.9 628 Assista Agora"Tropa de Elite" + "Assalto à 13ª DP" + "Território Inimigo" = O melhor filme de ação desde "Fervura Máxima". Foda vai ser nivelar por "The Raid" toda e qualquer produção do gênero feita a partir de agora. Sério, os caras vão ter que rebolar muito para conseguir ultrapassar o nível de pancadaria/tiros/adrenalina representado aqui!!!
Bad Ass: Acima da Lei
2.9 150 Assista AgoraA grande piada de "Machete", de Robert Rodriguez, era colocar o feioso Danny Trejo, mais conhecido pelos seus papéis de vilão, como protagonista. Infelizmente, a brincadeira não passou disso e o resultado foi bem abaixo da média. Agora, "Bad Ass" repete o mesmo erro e também se demonstra um filme de uma piada só.
O filme até é divertido e interessante em seus primeiros 20 minutos, quando enfoca um episódio real que virou febre no YouTube e a inacreditável transformação do protagonista - um coroa bombadão - em herói do bairro.
Mas logo o diretor-roteirista Craig Moss perde a mão e transforma a história em mais um "Desejo de Matar" genérico e sem grandes ousadias ou reviravoltas. As cenas de ação não empolgam, o roteiro é ridículo e cheio de furos (o que um velhote sem-teto faz com um pendrive contendo informações secretas envolvendo o prefeito da cidade?) e bons atores, como Ron Pearlman, fazem apenas participações especiais de poucos minutos.
Tirando uma ou outra cena mais inspirada, como o sangrento interrogatório em que a mão do sujeito é colocada no triturador de lixo, o resultado é uma aventura burocrática que até diverte, mas some da memória tão logo os créditos finais começam a subir. Uma pena, considerando que, com um bom diretor e um bom roteiro, poderíamos ter uma curiosa variação de "Gran Torino" ou "Harry Brown", outras duas aventuras recentes com heróis geriátricos.
Shiver
1.8 8Produção extremamente convencional que narra, pela enésima vez, a história de um terrível assassino obcecado por uma jovem vítima, e que passa o restante do tempo de projeção enganando a polícia e perseguindo a pobre coitada. O roteiro consegue ser praticamente uma coletânea de todos os clichês mais batidos do gênero - do assassino que se disfarça de policial até o cobertor colocado nas costas da vítima que escapou de um ataque.
Parece que não pode piorar, mas a coisa só vai ladeira abaixo: o serial killer, auto-intitulado "The Griffon", é interpretado pelo australiano John Jarratt (o vilão de "Wolf Creek"), mas não tem como acreditar que um velhinho como ele possa fazer tanto estrago; isso sem contar que o vilão é tão chato que poderia matar suas vítimas de tédio.
Já a mocinha em perigo é interpretada por Danielle Harris, que enfrentou Michael Myers quatro vezes (duas na série original e duas nos remakes de Rob Zombie), mas pelo visto não aprendeu nada, pois tem 200 chances de fugir e/ou matar o vilão, mas sempre as desperdiça.
Para arrematar, temos a presença de dois veteranos do cinema classe B, Casper Van Dien e Rae Dawn Chong (!!!), mas eles passam pelo filme como mero enfeite, sem fazer absolutamente nada que justifique suas presenças.
Não consegue nem mesmo ser divertido de tão ruim: é apenas ruim, e totalmente deslocado no tempo, já que talvez conseguisse atrair alguma atenção se fosse feito vinte anos atrás, na época de "O Silêncio dos Inocentes", e não hoje, depois de dezenas (quiçá centenas) de filmes idênticos sobre serial killers à solta...
Pequenos Monstros
3.3 35O retorno de David Schmoeller depois de 14 anos sem fazer um filme para cinema é uma bela surpresa. Dessa vez, ao invés de um horror convencional, ele preferiu explorar a maldade humana numa produção mais séria e dramática.
A história é inspirada num chocante episódio real, o assassinato do menino James Bulger, acontecido em Londres no começo dos anos 90. Schmoeller pula os detalhes macabros do crime e muda a localização da história para os EUA, dando assim a sua própria versão do que teria acontecido aos dois pequenos assassinos quando eles atingiram a maioridade e foram libertados da prisão com identidades falsas e novas famílias adotivas.
Paralelamente, o roteiro critica o circo da mídia sensacionalista, na pele de dois repórteres de tablóide que recebem a missão de descobrir e revelar as novas identidades dos "pequenos monstros".
O diretor não escapa de alguns clichês, como o garoto malvado que aparece sempre fumando e que exagera nos trejeitos de psicopata. E não dá a devida atenção a um personagem interessante: o homem que caça os dois rapazes com a intenção de matá-los para "tranquilizar" a opinião pública.
Descontando esses defeitos, "Pequenos Monstros" é uma mistura eficiente de suspense e drama, curiosa também por resgatar um episódio trágico que estava quase esquecido, e com uma conclusão irônica que não faz nenhum julgamento. Um retorno bem decente de Schmoeller ao cinema depois de mais de uma década de curtas e produções para a TV.
A Escala da Agressão
3.1 12Se "Esqueceram de Mim" tivesse sido dirigido por Wes Craven, o resultado seria algo bem próximo desse "A Escala da Agressão". A trama é simples e vai direto ao assunto sem enrolação: bandidos truculentos encontram num garotinho problemático um obstáculo inesperado para a sua "missão".
Aqui, a "versão malvada" de Macaulay Culkin é Owen (Ryan Hartwig), um pequeno diabinho que faria a órfã do filme homônimo mijar nas fraldas de medo. E, felizmente, o roteiro de Ben Powell não tenta inflar o "heroísmo" do garoto e nem esconder o fato de que, na verdade, ele é um verdadeiro psicopata mirim, mais ou menos como se o Michael Myers moleque deixasse a série "Halloween" para invadir um outro filme.
O diretor Miller não poupa na violência e na brutalidade (em cenas com participação direta da criança, sem frescura), de maneira que não fica absurdo quando os experientes bandidões (incluindo o gigante Derek Mears, o Jason do remake de "Sexta-feira 13") começam a ficar com medo do moleque.
Cell Count
2.3 37Apesar das referências explícitas à obra de David Cronenberg e a "O Enigma do Outro Mundo", o horror médico-científico orquestrado por Todd E. Freeman lembrou-me muito mais o filme australiano "Corrosão - Ameaça em Seu Corpo", de Philip Brophy, com o qual tem em comum a narrativa fragmentada que vai empilhando efeitos repulsivos de mutações dos personagens.
Algumas cenas são visualmente impactantes, como a do sujeito que tem a cabeça toda coberta por uma segunda pele e vira uma criatura asquerosa (em destaque na arte do pôster). Freeman também acerta em fugir dos clichês, e mantém o espectador entre interessado e incomodado ao não explicar direito o que está acontecendo.
Infelizmente, "Cell Count" tem uma conclusão de certa forma decepcionante, anunciando que a história continuará em uma futura Parte 2. Como nada é resolvido e não há sequer algo parecido com um desfecho - pelo contrário, a ação é interrompida literalmente no meio! -, não deixa de ser injusto com a audiência.
Então agora o negócio agora é esperar (à força) pela conclusão da trama, já que Freeman promete que "Cell Count 2" será completamente diferente do primeiro e uma mistura de "Aliens - O Resgate" e "Mad Max 2". Certamente estarei no cinema quando estrear.
Inato
2.9 56Este aqui é o grande filme sobre caipiras psicopatas que o Rob Zombie tentou fazer duas vezes (com "A Casa dos Mil Corpos" e "Rejeitados Pelo Diabo"), mas cagou fora da panela. Já o diretor inglês Alex Chandon dá uma aula de conhecimento do tema e do gênero, citando uma infinidade de filmes dos anos 70-80, como "Amargo Pesadelo", "O Massacre da Serra Elétrica" e "2.000 Maniacs".
A exemplo dos clássicos citados, a história tem um desenvolvimento lento na primeira parte, descambando para o horror explícito apenas da metade para o final. E tome sangue, mutilações e tripas em cenas gráficas e exageradas (a câmera nunca desvia do alvo), produzidas ora com efeitos práticos (aleluia!), ora com uma ajudinha de retoques digitais.
Felizmente, "Inato" não é sério e pesado como as produções que reverencia, e o diretor prefere entregar um humor negro crudelíssimo, inclusive com uma asquerosa "homenagem" ao modismo do cinema 3-D. O filme também demonstra a notável evolução de Chandon num período de dez anos, considerando que ele foi o sujeito responsável pelo péssimo "Nascido do Inferno" (2001), aquele terror podreira estrelado pelo roqueiro poser Dani Filth.
E eu espero MESMO que o cineasta inglês continue fazendo filmes de horror tão divertidos, descerebrados e sanguinolentos quanto este.
Vingança Sem Limites
2.6 41 Assista AgoraAcho que eu não vi o mesmo filme que os três colegas aí embaixo...
Yor: O Caçador do Futuro
2.6 11Só a cena em que Yor mata uma criatura voadora, tipo um pterodáctilo, e usa sua carcaça como asa-delta já valeria as cinco estrelas. Mas esta aventura bizarra ainda tem um ato final absurdamente hilário ao estilo "O Planeta dos Macacos", em que vemos homens pré-históricos enfrentando robôs, raios laser e naves espaciais! Ultra-super-hiper-mega-recomendado para públicos específicos e de bom (?) gosto.
Cyborg, o Dragão do Futuro
2.8 100 Assista AgoraUma ópera-rock pós-apocalíptica daquele tipo que os caras desaprenderam a fazer: