Um filme sobre todas as mulheres. Todas mesmo, com uma sensibilidade admirável que as aprofunda muito mais que os tipos clichê tão saturados de Hollywood.
Almodóvar consegue brilhantemente referenciar obras cinematográficas mantendo sempre sua assinatura. Os tons saturados de vermelho em contraste com o amarelo e o azul sustentam a dor e amargura de um passado que a protagonista escondeu de seu filho, porém o reencontra após seu fatídico destino. O roteiro é muito bem amarrado e, apesar de parecer uma novela às vezes, nunca fica meloso.
A mãe; a atriz; a viciada em heroína; a prostituta; a rebelde... Todas estão sublimes em seus respectivos papéis, com diferentes características, mas de igual importância para a narrativa.
Me sinto culpado por não ter visto essa obra-prima do diretor antes. Ou talvez tenha sido o momento para apreciá-la devidamente.
Um incêndio numa boate lotada, pessoas gravemente queimadas, hospitais sem condições de receber tantos feridos. Estes elementos podem facilmente lembrar um caso ocorrido no Brasil, mas tudo o que se passa neste documentário aconteceu na Romênia, em 2016. E o que é pior: há vítimas do incêndio morrendo sob complicações oriundas dos hospitais mal higienizados.
Saber o que houve naquela época é, no mínimo, revoltante. O descaso do antigo ministro da Saúde e a corrupção engendrada entre os diretores dos hospitais romenos revelam que a situação é podre "até a medula". Infelizmente receio que este documento seja "nada demais" para quem já normalizou o absurdo.
A montagem é muito bem feita, e foi uma decisão corajosa do diretor em deixar que somente as imagens expliquem o contexto e as circunstâncias. Isso denota transparência e reforça o caráter da denúncia presente neste filme. Contudo, recomendo que pesquise mais a respeito da política na Romênia no Google para compreender a gravidade da situação. Apesar da hombridade e do esforço de quem lutou para corrigir os erros, esta não é uma obra de ficção para se esperar um final feliz com resolução satisfatória.
Após assisti-lo, fui pesquisar mais a respeito e tive dificuldade de encontrar mais informações sobre o caso. Acredito que os mafiosos dos hospitais romenos tentaram calar a denúncia, mas falharam. Falharam porque este documento não se apagará tão fácil, muito menos de nossas mentes.
Lembrei-me de quando fiz uma cadeira de LIBRAS no meu último ano de faculdade. Tive curiosidade quanto à comunicação, mas não imaginava o grau da importância de haver o apoio ao surdo, de nascença ou por perda auditiva severa. Com este filme, experimentei a angustiante sensação de perder um sentido.
O mundo de Ruben é sonoramente poluído, não permitindo que ele contemple a paz de um momento de serenidade. Um frenesi do qual Ruben não está habituado a frear. O ritmo de sua vida mudou, e ele precisou desacelerar para poder seguir em frente.
As razões de ter acontecido assim ao protagonista brilhantemente incorporado por Riz Ahmed são irrelevantes; o que interessa é como lidar com isso. Nunca estamos devidamente preparados quando uma perda nos ocorre. Ruben precisava aceitar que sua "vida cigana" não voltaria mais.
Este filme ousa utilizar-se de uma abordagem mais crua dos momentos. É um drama nada meloso, um imprevisto da vida que nos obriga a aceitar lições ainda que dolorosas de engolir. É um musical silencioso, cuja melodia é o contraste entre a agressividade e a serenidade, passando por todas as nuances da percepção auditiva.
Não é necessário que o mesmo nos ocorra para perceber que é preciso ocasionalmente parar antes de dar o próximo passo adiante.
Nunca pisei em São Paulo nem tive acesso a nenhuma das locadoras apresentadas no documentário, mas senti como se eu tivesse vivido um pedaço dessa história. De fato, vivi um pedaço disso aqui em Fortaleza (CE).
A todo momento, me lembrei das videolocadoras que visitei na infância e adolescência e fomentaram minha paixão pelo cinema e por vídeo. Lembrei-me das horas de pesquisa no acervo da Distrivideo, em filiais ou na loja matriz, que ocupava meio quarteirão de uma avenida e hoje ocupa uma lojinha e resiste amparado por um café e uma pet shop do mesmo dono. Lembrei-me de alugar na Cinéfilo Videolocadora, que ficava num posto de gasolina e tinha um acervo tão seleto que me rendia boas descobertas e horas de papo com o dono. Lembrei-me da primeira locadora onde pisei, quando havia apenas VHS e eu era novo demais para preferir alugar filmes legendados. Lembrei-me de ficar deslumbrado com o catálogo da Blockbuster. Lembrei-me de alugar muito nas lojas da AzA Vídeo. Lembrei-me do meu primeiro DVD e do meu primeiro Blu-ray. Lembrei-me de ter vergonha para alugar um filme erótico quando já tinha idade para fazê-lo.
Hoje tenho uma modesta coleção de Home-Video que mantenho com carinho, fruto deste universo mágico com o qual descobri, frequentei e apreciei cinema.
Muito obrigado Ghaba, por dar o primeiro passo. Muito obrigado Oceano e Fernando, por fazer parte da minha vida fortemente com a Versátil Home Video. Muito obrigado a todos que fizeram parte dessa história.
A grande maioria dos filmes de guerra vistos aqui no ocidente costuma tratar do front de batalha, seja de forma gloriosa ou crítica. Aqui temos uma história atrás das linhas que chega a ser tão impactante quanto.
O filme põe sua empatia à prova em várias ocasiões, ao apresentar pessoas comuns em situações que são consequências da guerra. O golpe de sorte do protagonista mostra-se justamente um privilégio que poucos soldados conquistaram: a volta para casa. Isso vale mais do que qualquer medalha do exército e o protagonista sabia disso.
A narrativa é patriótica, mas ao mesmo tempo questionadora de maneira sutil. Uma história de amor com alfinetadas à guerra, da mesma maneira que o filme antecessor (O Quadragésimo Primeiro) fez ao tratar da Guerra Civil Russa. Essa sutileza torna o roteiro do diretor Grigori Chukhrai em parceria com Valentin Yezhov ainda mais genial.
Além do roteiro impecável, a fotografia em preto-e-branco comprova que a estranha fotografia contrastada de O Quadragésimo Primeiro não foi um equívoco, mas uma decisão segura de um diretor que sabe guiar a narrativa visual tão bem quanto a textual.
Apesar de toda a beleza, o final é de partir o coração. Um choque profundo de realidade após a épica aventura de um rapaz como qualquer outro que esteve no front.
Me pergunto como demorei tanto a ver este filme. Seus aspectos técnicos se destacam muito mais do que a narrativa.
A história nos introduz a uma mulher forte, guerreira e obstinada. Ela é a alma do filme, mesmo que parte da história de mais destaque ao pequeno pelotão perdido no deserto de Karakum. Sua história dividiu-se entre o amor e o dever por causa de um improvável romance com um tenente.
A fotografia aqui é impressionante, trabalhando contrastes de claro e escuro e utilizando-se da cor para ressaltar a desolação dos momentos difíceis e a saturação dos momentos alegres. O mar é causa e consequência, a guerra civil idem. Um melodrama poderoso.
Minha experiência anterior com Pablo Larraín com "No" não foi das melhores pela confusa fluidez narrativa e pela falta de emoção em alguns momentos. Desta vez, encontrei um filme muito diferente e até visualmente mais agradável.
Ao contar a história de Ema, Pablo utiliza-se da alegoria da garota "em chamas", similar ao que Céline Sciamma fez em seu último filme. Uma garota que é livre para viver como quer, apesar das amarras de suas relações sociais. Aqui, porém, envolve um desmoronamento moral provocado por decisões equivocadas. Ema perdeu a guarda do filho adotivo e então passa o filme inteiro se sentindo culpada por isso, mesmo que não pareça diante das colegas de dança.
Mariana Di Girolamo conduz muito bem sua protagonista e convence como uma dançarina profissional. Ela às vezes me lembrava uma das dançarinas do novo "Suspiria" com seu cabelo platinado e penteado para trás.
O filme é visualmente muito bonito e há uma tensão sexual muito forte. Os diálogos chegam a ser mais explícitos que os atos, mas ainda assim demonstra um denso erotismo narrativo.
Está disponível de graça no MUBI somente hoje, primeiro de maio de 2020.
Henri-Georges Clouzot é uma figura tão enigmática quanto seus próprios filmes. Tive meu primeiro contato com sua obra ao ver O Mistério de Picasso. Mas foi com O Salário do Medo que busquei compreender mais sobre sua pessoa.
Infelizmente o documentário tem seu acesso dificultado. Eu soube de sua existência quando passou em uma mostra dedicada a Clouzot em minha cidade, numa sessão que eu desavisadamente perdi, e somente meses mais tarde pude vê-lo pelo aplicativo do canal Arte1 sob o título Clouzot em Ebulição.
Mas a espera valeu a pena. Apenas lamento que não pude aproveitá-lo como fonte para um artigo científico com o qual analisei Salário do Medo. Assisti a título de curiosidade e agora busco ver mais filmes do diretor. Um dos melhores do cinema francês.
Creio que o motivo maior que me manteve interessado neste filme até o final foi a importância diplomática deste brasileiro cuja história desconheci este tempo todo até agora. Sim, isso é consequência do parco ensino de história em nosso país. Infelizmente o filme em si não faz tanta justiça à memória de Sérgio Vieira de Mello, justamente por parecer uma colcha de retalhos.
Noto que o diretor, Greg Barker, com seu histórico de documentários, no momento que assumiu este projeto de ficção, tratou-o como um documento. Consigo contar nos dedos a quantidade de momentos de emoção, abstratos, que humanizam e buscam mostrar além do Sérgio diplomata da ONU. Muitos deles vão e voltam. Não sei dizer se é um problema de roteiro ou de montagem, talvez dos dois.
Infelizmente isso é uma armadilha costumeira na produção de cinebiografias no qual o diretor caiu e não soube desenvolver além da reconstituição fiel dos fatos. A vida real raramente entrega uma linha temporal coesa. Essa fidelidade quase documental contrasta com a profunda e cativante interpretação do versátil Wagner Moura.
Wagner Moura e Ana de Armas sustentam a narrativa por vezes confusa deste filme. Não apenas por serem ótimos atores, mas também pelo carisma. Há cenas que mais parecem trabalho diplomático maçante do que desenvolvimento do arco narrativo, seja do personagem ou da missão em si. Boa parte do filme parece esfregar na cara do espectador: "Veja só o quanto o mundo perdeu ao matar Sérgio de Mello num trágico atentado. Ele era como um de nós!"
Isso mesmo. Em tom de afronta.
A narrativa, no entanto, parece engatar a marcha na meia hora final. Leva mais tempo para desenvolver a empatia com Sérgio. Se a proposta era mostrar "a vida diante dos olhos" na hora da morte, não pareceu.
Apesar dos pesares, Sérgio Vieira de Mello tem um papel importante na história da diplomacia mundial. Ele, com certeza, soube muito mais do que apenas "fritar hambúrgueres" e por isso merece ser lembrado por manter o espírito conciliador com o qual o povo brasileiro é reconhecido no estrangeiro.
Dentre as adaptações de Fantasma da Ópera (excetuando as versões adaptadas do musical da Broadway), esta é a que menos desenvolve a narrativa do horror. Chega a ser decepcionante mesmo para o público da época, que provavelmente estava familiarizado com a versão muda de 1925 (que é a minha favorita).
A narrativa tem momentos de drama, comédia e até musical, mas muito pouco suspense ou terror. Por ter adotado uma temporalidade linear, a história não apavora nem instiga o espectador a questionar quem seria o suposto "fantasma" justamente por desenvolver a trama secundária da pessoa por trás da máscara no primeiro ato em paralelo com a trama da protegida do Fantasma.
Em compensação, o uso do Technicolor permite um espetáculo visual atraente e a evoluída presença do som sincronizado apresenta óperas e concertos ao público pela primeira vez em uma adaptação cuja arte denomina a obra.
Fui ver este filme com a expectativa baixa, já que eu adoro a violência e a grosseria do filme de Brian De Palma. Acabei encontrando um filme que envelheceu muito bem.
Os EUA estavam nos derradeiros momentos da Lei Seca quando este filme foi feito. A criminalidade estava violentamente alta e Al Capone era um dos principais gângsters do mercado clandestino de álcool. Seu apelido "Scarface" chamou a atenção do público para uma história de ficção que estava muito próxima da realidade americana da época.
Howard Hawks compensa a falta de violência gráfica com recursos narrativos muito bem empregados. A cena do massacre de São Valentim é de uma simplicidade genial e não se gasta uma gota sequer de sangue falso. Paul Muni aqui é capaz de ser confundido com um malandro carioca.
Ver este filme reforça que uma das maiores qualidades do Scarface de De Palma foi manter a engenhosa narrativa de Hawks com as devidas adaptações.
Para um filme que eu amo por ter visto apenas a versão de cinema (com a excelente dublagem da Herbert Richers), revê-lo na versão do diretor (master da Arrow Video) é uma experiência primorosa.
A diferença entre as duas versões parece pouca pelo tempo, mas são segundos preciosos para dar ainda mais intensidade às cenas. A brutalidade de Verhoeven fica ainda mais evidente e essencial para dar peso à trama. Uma profunda e intrínseca narrativa que aborda a humanidade de um ciborgue revivido por uma corporação multimilionária dedicada a combater o crime das ruas, mesmo que ponham seus podres para debaixo dos panos.
José Padilha não tinha a menor chance de fazer uma refilmagem à altura do clássico, mesmo divulgado em versões mais amenas para TV e cinema. O diretor tinha seu propósito e aqui o fez, agora disponível graças à existência do home video.
Antes de vê-lo, descobri que o filme tinha uma versão com mais cenas. No entanto, na versão que vi já achei um tanto extenso.
Acredito que a narrativa seja um pano de fundo para a trilha sonora, o que deveria ser o contrário. Mesmo que a trama apresente um forte dilema, as músicas roubam muito mais a cena do que se pensa. Há diversas críticas e mensagens, explícitas ou subliminares, à então situação política de Cuba. A história ficou coadjuvante, mesmo com cenas marcantes e personagens de intérpretes talentosíssimos.
Cuba faz ótimos filmes, apenas lamento haver tão pouco reconhecimento.
O poder do cinema mudo de apresentar cenas simples e antológicas é de um primor que faz falta no cinema atual. Não à toa que A Carruagem Fantasma seja forte referência e influência.
Esta trágica parábola sobre um homem decadente em véspera de Ano Novo, com elementos e narrativa similares ao Conto de Natal, de Charles Dickens, traz uma discussão a respeito de valores, fé e família de maneira sombria e macabra. Mesmo sendo um filme de quase 100 anos, ainda impacta na mensagem e no visual.
Victor Sjöström, além de excelente diretor, atua aqui de forma sublime no papel de David Holm e isso reforça sua escalação para o clássico Morangos Silvestres, do pupilo Ingmar Bergman, que já declarou em entrevista que A Carruagem Fantasma foi "o começo de tudo".
É uma das maiores obras-primas do cinema mudo. Vale a conferida.
FINALMENTE fizeram uma refilmagem de Monstros da Universal que prestasse. No entanto, o mérito maior vai para o roteirista e diretor Leigh Whannell e para a atriz principal, Elizabeth Moss.
Se fosse feito nos EUA, seria repleto de elipses, cortes velozes e trilha musical melodramática. No entanto, não funcionaria. Funciona porque é narrativamente cru.
É daqueles filmes em que você precisa acompanhar a todo momento para sentir o suspense e o horror. As arbitrariedades cometidas pelo Dr. Génessier impactam muito mais gestualmente que por diálogos.
Não sei nem por onde começo a falar deste filme. Achei lindo, sublime, sedutor. Achei extenso, complexo, um primor. Certamente surreal, sacro, poético.
Este filme é um exemplar folclórico. Um panteão representativo de uma obra cujo contato eu jamais tive, mas pude sentir pelas imagens, pelas trovas e pela atriz principal, cuja presença andrógina interpretando a juventude do poeta é de uma delicadeza ímpar.
Minha experiência não foi das melhores: numa tela pequena (e rachada) de celular, pausando de tempo em tempo por causa de interferências externas. Porém a cada retorno não me senti perdido no filme. Parecia que a cada cena trazia uma novidade a acrescentar, com alegorias que vão desde referências bíblicas no início a um grupo de monges lamentando.
Se puder ver este filme em grupo (para discutir) e numa sala climatizada (pelo conforto que eu não tive para dedicar ao filme), aproveite. Eu definitivamente pretendo revê-lo muito em breve.
O que poderia ser um thriller policial qualquer, nas mãos de Campanilla tornou-se um tocante melodrama cujo título é capaz de resumir tudo. Fui tocado pelos olhares dos atores, pela decupagem engenhosa do roteiro e da edição e pelo ritmo que em momento algum é vagaroso ou estafante.
De fato, tem seus altos e baixos. No entanto, essas nuances são o que deixam o filme mais saboroso. Nuances doces, amargas, azedas ou salgadas. Não há uma cena insípida aqui.
Mudam-se os ventos, os lares, os convívios e os sabores. Mas a paixão pelo cinema não muda jamais. Como foi gostoso ter visto este filme!
Eu poderia falar mil maravilhas sobre a estética do filme aqui, mas isso todos fazem. Eu, no entanto, ainda estou pensativo...
Penso em como nossas relações são efêmeras, em como existem momentos em que não há satisfações ou explicações, apenas acontecem. Amores que vão e vêm. Pessoas que ficam ou não. Paixão por paixão, todos sentem. Resta saber da recíproca.
Aqui não há heróis ou vilões. Há pessoas normais, vivendo uma vida normal e rotineira. Por trás da rotina, traços sutis de personalidade inerentes a cada personagem, sejam próprios ou lembretes de outros relacionamentos. No fim, sempre deixamos marcas nas vidas dos outros.
Vez ou outra me peguei pensando se deviam ficar juntos. Também cogitei de me aproximar da Faye, sendo ela uma figura tão singela e característica que provocou minha profunda simpatia. Sinto um misto de emoções confuso e revigorante pelo filme. Não sinto o que estou sentindo agora desde que vi Anjos Caídos, do mesmo diretor.
Talvez eu morra sem saber o que estou sentindo agora, mas...
"Desde quando as coisas receberam prazo de validade"?
John Landis é un diretor inconstante, mas de uma obra curiosa. Recentemente me decepcionei com Um Tira da Pesada 3, mas já me diverti muito com Um Príncipe em Nova York e Os Irmãos Cara-de-Pau. Novamente, ele mostra do que é capaz nesse terrir.
Mais interessante que a própria narrativa, são os efeitos visuais. A maquiagem caprichada se destaca muito nas cenas do Jack "Alma Penada" Goodman, mas o destaque vai para a cena da transformação. É uma sequência de dar inveja.
O humor tem traços próprios da comédia britânica, com locais absurdos, diálogos esdrúxulos e uma completa anarquia pythonesca. É divertido demais para passar batido. Um filmaço.
Tudo Sobre Minha Mãe
4.2 1,3K Assista AgoraUm filme sobre todas as mulheres. Todas mesmo, com uma sensibilidade admirável que as aprofunda muito mais que os tipos clichê tão saturados de Hollywood.
Almodóvar consegue brilhantemente referenciar obras cinematográficas mantendo sempre sua assinatura. Os tons saturados de vermelho em contraste com o amarelo e o azul sustentam a dor e amargura de um passado que a protagonista escondeu de seu filho, porém o reencontra após seu fatídico destino. O roteiro é muito bem amarrado e, apesar de parecer uma novela às vezes, nunca fica meloso.
A mãe; a atriz; a viciada em heroína; a prostituta; a rebelde... Todas estão sublimes em seus respectivos papéis, com diferentes características, mas de igual importância para a narrativa.
Me sinto culpado por não ter visto essa obra-prima do diretor antes. Ou talvez tenha sido o momento para apreciá-la devidamente.
Colectiv
4.0 99Um incêndio numa boate lotada, pessoas gravemente queimadas, hospitais sem condições de receber tantos feridos. Estes elementos podem facilmente lembrar um caso ocorrido no Brasil, mas tudo o que se passa neste documentário aconteceu na Romênia, em 2016. E o que é pior: há vítimas do incêndio morrendo sob complicações oriundas dos hospitais mal higienizados.
Saber o que houve naquela época é, no mínimo, revoltante. O descaso do antigo ministro da Saúde e a corrupção engendrada entre os diretores dos hospitais romenos revelam que a situação é podre "até a medula". Infelizmente receio que este documento seja "nada demais" para quem já normalizou o absurdo.
A montagem é muito bem feita, e foi uma decisão corajosa do diretor em deixar que somente as imagens expliquem o contexto e as circunstâncias. Isso denota transparência e reforça o caráter da denúncia presente neste filme. Contudo, recomendo que pesquise mais a respeito da política na Romênia no Google para compreender a gravidade da situação. Apesar da hombridade e do esforço de quem lutou para corrigir os erros, esta não é uma obra de ficção para se esperar um final feliz com resolução satisfatória.
Após assisti-lo, fui pesquisar mais a respeito e tive dificuldade de encontrar mais informações sobre o caso. Acredito que os mafiosos dos hospitais romenos tentaram calar a denúncia, mas falharam. Falharam porque este documento não se apagará tão fácil, muito menos de nossas mentes.
O Som do Silêncio
4.1 985 Assista AgoraLembrei-me de quando fiz uma cadeira de LIBRAS no meu último ano de faculdade. Tive curiosidade quanto à comunicação, mas não imaginava o grau da importância de haver o apoio ao surdo, de nascença ou por perda auditiva severa. Com este filme, experimentei a angustiante sensação de perder um sentido.
O mundo de Ruben é sonoramente poluído, não permitindo que ele contemple a paz de um momento de serenidade. Um frenesi do qual Ruben não está habituado a frear. O ritmo de sua vida mudou, e ele precisou desacelerar para poder seguir em frente.
As razões de ter acontecido assim ao protagonista brilhantemente incorporado por Riz Ahmed são irrelevantes; o que interessa é como lidar com isso. Nunca estamos devidamente preparados quando uma perda nos ocorre. Ruben precisava aceitar que sua "vida cigana" não voltaria mais.
Este filme ousa utilizar-se de uma abordagem mais crua dos momentos. É um drama nada meloso, um imprevisto da vida que nos obriga a aceitar lições ainda que dolorosas de engolir. É um musical silencioso, cuja melodia é o contraste entre a agressividade e a serenidade, passando por todas as nuances da percepção auditiva.
Não é necessário que o mesmo nos ocorra para perceber que é preciso ocasionalmente parar antes de dar o próximo passo adiante.
Helvetica
4.0 28Assistido com legendas em Arial Nova porque sim.
CineMagia - A História das Videolocadoras de São Paulo
4.0 109Nunca pisei em São Paulo nem tive acesso a nenhuma das locadoras apresentadas no documentário, mas senti como se eu tivesse vivido um pedaço dessa história. De fato, vivi um pedaço disso aqui em Fortaleza (CE).
A todo momento, me lembrei das videolocadoras que visitei na infância e adolescência e fomentaram minha paixão pelo cinema e por vídeo. Lembrei-me das horas de pesquisa no acervo da Distrivideo, em filiais ou na loja matriz, que ocupava meio quarteirão de uma avenida e hoje ocupa uma lojinha e resiste amparado por um café e uma pet shop do mesmo dono. Lembrei-me de alugar na Cinéfilo Videolocadora, que ficava num posto de gasolina e tinha um acervo tão seleto que me rendia boas descobertas e horas de papo com o dono. Lembrei-me da primeira locadora onde pisei, quando havia apenas VHS e eu era novo demais para preferir alugar filmes legendados. Lembrei-me de ficar deslumbrado com o catálogo da Blockbuster. Lembrei-me de alugar muito nas lojas da AzA Vídeo. Lembrei-me do meu primeiro DVD e do meu primeiro Blu-ray. Lembrei-me de ter vergonha para alugar um filme erótico quando já tinha idade para fazê-lo.
Hoje tenho uma modesta coleção de Home-Video que mantenho com carinho, fruto deste universo mágico com o qual descobri, frequentei e apreciei cinema.
Muito obrigado Ghaba, por dar o primeiro passo. Muito obrigado Oceano e Fernando, por fazer parte da minha vida fortemente com a Versátil Home Video. Muito obrigado a todos que fizeram parte dessa história.
O Diabo a Quatro
3.8 88 Assista AgoraÉ tão bobo que chega a ser ofensivo. Adorei!
A Balada do Soldado
4.3 48 Assista AgoraA grande maioria dos filmes de guerra vistos aqui no ocidente costuma tratar do front de batalha, seja de forma gloriosa ou crítica. Aqui temos uma história atrás das linhas que chega a ser tão impactante quanto.
O filme põe sua empatia à prova em várias ocasiões, ao apresentar pessoas comuns em situações que são consequências da guerra. O golpe de sorte do protagonista mostra-se justamente um privilégio que poucos soldados conquistaram: a volta para casa. Isso vale mais do que qualquer medalha do exército e o protagonista sabia disso.
A narrativa é patriótica, mas ao mesmo tempo questionadora de maneira sutil. Uma história de amor com alfinetadas à guerra, da mesma maneira que o filme antecessor (O Quadragésimo Primeiro) fez ao tratar da Guerra Civil Russa. Essa sutileza torna o roteiro do diretor Grigori Chukhrai em parceria com Valentin Yezhov ainda mais genial.
Além do roteiro impecável, a fotografia em preto-e-branco comprova que a estranha fotografia contrastada de O Quadragésimo Primeiro não foi um equívoco, mas uma decisão segura de um diretor que sabe guiar a narrativa visual tão bem quanto a textual.
Apesar de toda a beleza, o final é de partir o coração. Um choque profundo de realidade após a épica aventura de um rapaz como qualquer outro que esteve no front.
O Quadragésimo Primeiro
3.7 12Me pergunto como demorei tanto a ver este filme. Seus aspectos técnicos se destacam muito mais do que a narrativa.
A história nos introduz a uma mulher forte, guerreira e obstinada. Ela é a alma do filme, mesmo que parte da história de mais destaque ao pequeno pelotão perdido no deserto de Karakum. Sua história dividiu-se entre o amor e o dever por causa de um improvável romance com um tenente.
A fotografia aqui é impressionante, trabalhando contrastes de claro e escuro e utilizando-se da cor para ressaltar a desolação dos momentos difíceis e a saturação dos momentos alegres. O mar é causa e consequência, a guerra civil idem. Um melodrama poderoso.
Ema
3.5 80 Assista AgoraMinha experiência anterior com Pablo Larraín com "No" não foi das melhores pela confusa fluidez narrativa e pela falta de emoção em alguns momentos. Desta vez, encontrei um filme muito diferente e até visualmente mais agradável.
Ao contar a história de Ema, Pablo utiliza-se da alegoria da garota "em chamas", similar ao que Céline Sciamma fez em seu último filme. Uma garota que é livre para viver como quer, apesar das amarras de suas relações sociais. Aqui, porém, envolve um desmoronamento moral provocado por decisões equivocadas. Ema perdeu a guarda do filho adotivo e então passa o filme inteiro se sentindo culpada por isso, mesmo que não pareça diante das colegas de dança.
Mariana Di Girolamo conduz muito bem sua protagonista e convence como uma dançarina profissional. Ela às vezes me lembrava uma das dançarinas do novo "Suspiria" com seu cabelo platinado e penteado para trás.
O filme é visualmente muito bonito e há uma tensão sexual muito forte. Os diálogos chegam a ser mais explícitos que os atos, mas ainda assim demonstra um denso erotismo narrativo.
Está disponível de graça no MUBI somente hoje, primeiro de maio de 2020.
Banquete de Sangue
3.0 54 Assista AgoraAo invés de fazer uma resenha crítica, vou listar aqui pensamentos recorrentes que me vieram durante a sessão:
- Era pra ele ser velho? Não parece...
- Pelo amor de Deus, ajeita o foco.
- Morreu com uma faca de pão kkkkkkkkkkkkkk
- Ui, tinta guache.
- O fígado não era órgão de barriga?
- Que câmera desgraçado. Ajeita o foco!
- Alguém dá um Oscar pra esse pobre rapaz que perdeu a namorada? Ele tá tão triste...
- AJEITA A PORRA DO FOCO, CARALHO!
- AH FALA SÉRIO, TIA! (quando a mãe da Suzette diz que vão jantar hambúrgueres)
- Que polícia incompetente que não consegue prender um COXO é essa?
- E morreu. Cabô.
Obrigado pela atenção.
O Escândalo Clouzot
3.7 2Henri-Georges Clouzot é uma figura tão enigmática quanto seus próprios filmes. Tive meu primeiro contato com sua obra ao ver O Mistério de Picasso. Mas foi com O Salário do Medo que busquei compreender mais sobre sua pessoa.
Infelizmente o documentário tem seu acesso dificultado. Eu soube de sua existência quando passou em uma mostra dedicada a Clouzot em minha cidade, numa sessão que eu desavisadamente perdi, e somente meses mais tarde pude vê-lo pelo aplicativo do canal Arte1 sob o título Clouzot em Ebulição.
Mas a espera valeu a pena. Apenas lamento que não pude aproveitá-lo como fonte para um artigo científico com o qual analisei Salário do Medo. Assisti a título de curiosidade e agora busco ver mais filmes do diretor. Um dos melhores do cinema francês.
Sérgio
3.2 222 Assista AgoraCreio que o motivo maior que me manteve interessado neste filme até o final foi a importância diplomática deste brasileiro cuja história desconheci este tempo todo até agora. Sim, isso é consequência do parco ensino de história em nosso país. Infelizmente o filme em si não faz tanta justiça à memória de Sérgio Vieira de Mello, justamente por parecer uma colcha de retalhos.
Noto que o diretor, Greg Barker, com seu histórico de documentários, no momento que assumiu este projeto de ficção, tratou-o como um documento. Consigo contar nos dedos a quantidade de momentos de emoção, abstratos, que humanizam e buscam mostrar além do Sérgio diplomata da ONU. Muitos deles vão e voltam. Não sei dizer se é um problema de roteiro ou de montagem, talvez dos dois.
Infelizmente isso é uma armadilha costumeira na produção de cinebiografias no qual o diretor caiu e não soube desenvolver além da reconstituição fiel dos fatos. A vida real raramente entrega uma linha temporal coesa. Essa fidelidade quase documental contrasta com a profunda e cativante interpretação do versátil Wagner Moura.
Wagner Moura e Ana de Armas sustentam a narrativa por vezes confusa deste filme. Não apenas por serem ótimos atores, mas também pelo carisma. Há cenas que mais parecem trabalho diplomático maçante do que desenvolvimento do arco narrativo, seja do personagem ou da missão em si. Boa parte do filme parece esfregar na cara do espectador: "Veja só o quanto o mundo perdeu ao matar Sérgio de Mello num trágico atentado. Ele era como um de nós!"
Isso mesmo. Em tom de afronta.
A narrativa, no entanto, parece engatar a marcha na meia hora final. Leva mais tempo para desenvolver a empatia com Sérgio. Se a proposta era mostrar "a vida diante dos olhos" na hora da morte, não pareceu.
Apesar dos pesares, Sérgio Vieira de Mello tem um papel importante na história da diplomacia mundial. Ele, com certeza, soube muito mais do que apenas "fritar hambúrgueres" e por isso merece ser lembrado por manter o espírito conciliador com o qual o povo brasileiro é reconhecido no estrangeiro.
O Fantasma da Ópera
3.5 46 Assista AgoraDentre as adaptações de Fantasma da Ópera (excetuando as versões adaptadas do musical da Broadway), esta é a que menos desenvolve a narrativa do horror. Chega a ser decepcionante mesmo para o público da época, que provavelmente estava familiarizado com a versão muda de 1925 (que é a minha favorita).
A narrativa tem momentos de drama, comédia e até musical, mas muito pouco suspense ou terror. Por ter adotado uma temporalidade linear, a história não apavora nem instiga o espectador a questionar quem seria o suposto "fantasma" justamente por desenvolver a trama secundária da pessoa por trás da máscara no primeiro ato em paralelo com a trama da protegida do Fantasma.
Em compensação, o uso do Technicolor permite um espetáculo visual atraente e a evoluída presença do som sincronizado apresenta óperas e concertos ao público pela primeira vez em uma adaptação cuja arte denomina a obra.
Moral da história: NÃO SEJA GADO.
Scarface, a Vergonha de uma Nação
4.0 117 Assista AgoraFui ver este filme com a expectativa baixa, já que eu adoro a violência e a grosseria do filme de Brian De Palma. Acabei encontrando um filme que envelheceu muito bem.
Os EUA estavam nos derradeiros momentos da Lei Seca quando este filme foi feito. A criminalidade estava violentamente alta e Al Capone era um dos principais gângsters do mercado clandestino de álcool. Seu apelido "Scarface" chamou a atenção do público para uma história de ficção que estava muito próxima da realidade americana da época.
Howard Hawks compensa a falta de violência gráfica com recursos narrativos muito bem empregados. A cena do massacre de São Valentim é de uma simplicidade genial e não se gasta uma gota sequer de sangue falso. Paul Muni aqui é capaz de ser confundido com um malandro carioca.
Ver este filme reforça que uma das maiores qualidades do Scarface de De Palma foi manter a engenhosa narrativa de Hawks com as devidas adaptações.
Uma Noite em Casablanca
3.5 11 Assista AgoraQuem se importa com roteiro quando os Irmãos Marx chegam improvisando tudo?
RoboCop: O Policial do Futuro
3.6 682 Assista AgoraPara um filme que eu amo por ter visto apenas a versão de cinema (com a excelente dublagem da Herbert Richers), revê-lo na versão do diretor (master da Arrow Video) é uma experiência primorosa.
A diferença entre as duas versões parece pouca pelo tempo, mas são segundos preciosos para dar ainda mais intensidade às cenas. A brutalidade de Verhoeven fica ainda mais evidente e essencial para dar peso à trama. Uma profunda e intrínseca narrativa que aborda a humanidade de um ciborgue revivido por uma corporação multimilionária dedicada a combater o crime das ruas, mesmo que ponham seus podres para debaixo dos panos.
José Padilha não tinha a menor chance de fazer uma refilmagem à altura do clássico, mesmo divulgado em versões mais amenas para TV e cinema. O diretor tinha seu propósito e aqui o fez, agora disponível graças à existência do home video.
RoboCop é mais que uma máquina, é uma lenda.
Habana Blues
3.7 20Antes de vê-lo, descobri que o filme tinha uma versão com mais cenas. No entanto, na versão que vi já achei um tanto extenso.
Acredito que a narrativa seja um pano de fundo para a trilha sonora, o que deveria ser o contrário. Mesmo que a trama apresente um forte dilema, as músicas roubam muito mais a cena do que se pensa. Há diversas críticas e mensagens, explícitas ou subliminares, à então situação política de Cuba. A história ficou coadjuvante, mesmo com cenas marcantes e personagens de intérpretes talentosíssimos.
Cuba faz ótimos filmes, apenas lamento haver tão pouco reconhecimento.
A Carruagem Fantasma
4.3 116O poder do cinema mudo de apresentar cenas simples e antológicas é de um primor que faz falta no cinema atual. Não à toa que A Carruagem Fantasma seja forte referência e influência.
Esta trágica parábola sobre um homem decadente em véspera de Ano Novo, com elementos e narrativa similares ao Conto de Natal, de Charles Dickens, traz uma discussão a respeito de valores, fé e família de maneira sombria e macabra. Mesmo sendo um filme de quase 100 anos, ainda impacta na mensagem e no visual.
Victor Sjöström, além de excelente diretor, atua aqui de forma sublime no papel de David Holm e isso reforça sua escalação para o clássico Morangos Silvestres, do pupilo Ingmar Bergman, que já declarou em entrevista que A Carruagem Fantasma foi "o começo de tudo".
É uma das maiores obras-primas do cinema mudo. Vale a conferida.
O Homem Invisível
3.8 2,0K Assista AgoraFINALMENTE fizeram uma refilmagem de Monstros da Universal que prestasse. No entanto, o mérito maior vai para o roteirista e diretor Leigh Whannell e para a atriz principal, Elizabeth Moss.
Os Olhos Sem Rosto
4.0 232Se fosse feito nos EUA, seria repleto de elipses, cortes velozes e trilha musical melodramática. No entanto, não funcionaria. Funciona porque é narrativamente cru.
É daqueles filmes em que você precisa acompanhar a todo momento para sentir o suspense e o horror. As arbitrariedades cometidas pelo Dr. Génessier impactam muito mais gestualmente que por diálogos.
A Cor da Romã
4.1 133Não sei nem por onde começo a falar deste filme. Achei lindo, sublime, sedutor. Achei extenso, complexo, um primor. Certamente surreal, sacro, poético.
Este filme é um exemplar folclórico. Um panteão representativo de uma obra cujo contato eu jamais tive, mas pude sentir pelas imagens, pelas trovas e pela atriz principal, cuja presença andrógina interpretando a juventude do poeta é de uma delicadeza ímpar.
Minha experiência não foi das melhores: numa tela pequena (e rachada) de celular, pausando de tempo em tempo por causa de interferências externas. Porém a cada retorno não me senti perdido no filme. Parecia que a cada cena trazia uma novidade a acrescentar, com alegorias que vão desde referências bíblicas no início a um grupo de monges lamentando.
Se puder ver este filme em grupo (para discutir) e numa sala climatizada (pelo conforto que eu não tive para dedicar ao filme), aproveite. Eu definitivamente pretendo revê-lo muito em breve.
O Segredo dos Seus Olhos
4.3 2,1K Assista AgoraO que poderia ser um thriller policial qualquer, nas mãos de Campanilla tornou-se um tocante melodrama cujo título é capaz de resumir tudo. Fui tocado pelos olhares dos atores, pela decupagem engenhosa do roteiro e da edição e pelo ritmo que em momento algum é vagaroso ou estafante.
De fato, tem seus altos e baixos. No entanto, essas nuances são o que deixam o filme mais saboroso. Nuances doces, amargas, azedas ou salgadas. Não há uma cena insípida aqui.
Mudam-se os ventos, os lares, os convívios e os sabores. Mas a paixão pelo cinema não muda jamais. Como foi gostoso ter visto este filme!
Amores Expressos
4.2 355 Assista AgoraEu poderia falar mil maravilhas sobre a estética do filme aqui, mas isso todos fazem. Eu, no entanto, ainda estou pensativo...
Penso em como nossas relações são efêmeras, em como existem momentos em que não há satisfações ou explicações, apenas acontecem. Amores que vão e vêm. Pessoas que ficam ou não. Paixão por paixão, todos sentem. Resta saber da recíproca.
Aqui não há heróis ou vilões. Há pessoas normais, vivendo uma vida normal e rotineira. Por trás da rotina, traços sutis de personalidade inerentes a cada personagem, sejam próprios ou lembretes de outros relacionamentos. No fim, sempre deixamos marcas nas vidas dos outros.
Vez ou outra me peguei pensando se deviam ficar juntos. Também cogitei de me aproximar da Faye, sendo ela uma figura tão singela e característica que provocou minha profunda simpatia. Sinto um misto de emoções confuso e revigorante pelo filme. Não sinto o que estou sentindo agora desde que vi Anjos Caídos, do mesmo diretor.
Talvez eu morra sem saber o que estou sentindo agora, mas...
"Desde quando as coisas receberam prazo de validade"?
Um Lobisomem Americano em Londres
3.7 611John Landis é un diretor inconstante, mas de uma obra curiosa. Recentemente me decepcionei com Um Tira da Pesada 3, mas já me diverti muito com Um Príncipe em Nova York e Os Irmãos Cara-de-Pau. Novamente, ele mostra do que é capaz nesse terrir.
Mais interessante que a própria narrativa, são os efeitos visuais. A maquiagem caprichada se destaca muito nas cenas do Jack "Alma Penada" Goodman, mas o destaque vai para a cena da transformação. É uma sequência de dar inveja.
O humor tem traços próprios da comédia britânica, com locais absurdos, diálogos esdrúxulos e uma completa anarquia pythonesca. É divertido demais para passar batido. Um filmaço.