Entre a emoção e a técnica impecável, fico com a primeira. O perfeccionismo em cada mínimo detalhe em 3D vale o ingresso, mas não vale a memória. Um filme para se ver, regozijar-se e esquecer.
"São Petersburgo é triste / São Petersburgo é frio / Eu vivo enregelado / Aqui nesse vazio / Revolução danada / Em vez de melhorar / Só trouxe desencantos / Fez tudo piorar".
A letra é digna das piores obras produzidas sob as regras dogmáticas do realismo socialista.
Em algumas cenas, o filme parece mesmo revelar seu teor romântico-conservador,
Enfim, para uma peça de propaganda anticomunista, ainda consegue ser um filme agradável de assistir. Pena ter assistido com idade suficiente para não me deixar encantar pelos czares. Ou não.
Quando as pessoas chegam ao Hotel, elas têm que decidir em qual animal desejam se transformar caso não consigam um parceiro em 45 dias. O personagem principal escolhe a lagosta, alegando que elas vivem mais de 100 anos e têm uma vida sexual ativa até seus últimos dias, etc. O primeiro pensamento que nos chega (pelo menos, foi o que me chegou) é: se aquilo é um castigo, por que alguém desejaria viver por 100 anos? Aqui acredito que acontece algo semelhante à invasão do quarto do casal de idosos pelos "solitários". Os porquês que ele apresenta à administradora do Hotel são uma consciência narrativa - falsa ou não, se ele realmente passou a acreditar nela não importa -, mas o verdadeiro motivo, inconsciente, é outro. Quem assistiu Friends já conhece a teoria da lagosta. Segundo Phoebe, uma das personagens do sitcom, quando as lagostas ficam velhas, elas sempre encontram uma outra lagosta, sua “alma gêmea”, e ficam de patinhas dadas até a morte. No fundo, ele só queria alguém para morrer ao lado dele, ao que os solitários responderão: "cave sua própria cova, ninguém cavará por você".
O primeiro dualismo que aparece no filme é o do amor sexual individual (monogamia) e a forma primitiva das relações sexuais desordenadas. Superado o "comunismo primitivo", a partir da crescente densidade demográfica, a monogamia surge historicamente enquanto vitória da propriedade privada sobre a primitiva propriedade comum. A partir da monogamia é que surgiria a ideia do amor sexual individual, tal como o concebemos a partir da modernidade. Como assinala Engels, toda a história da civilização humana é uma libertação contínua do homem dos obstáculos do reino animal: o homem natural evoluiu para o homem social. Pensada enquanto união espiritual ou mesmo enquanto algo funcional, a monogamia é certamente uma das construções sociais que nos separam da bestialidade.
Acredito que aqui entra a metáfora mais "fácil" do filme (embora não se torne menos interessante por isso). A ideia de "metade da laranja" - que, salvo engano, surge na Grécia Antiga, apresentada em uma narrativa mitológica por Aristófanes no livro "O Banquete", de Platão - segue sendo uma imagem forte em nosso imaginário e diz muito sobre como vemos as relações amorosas em nossa sociedade ocidental/capitalista/burguesa. A cena mais interessante é quando os "solitários" tentam destruir essas relações. No caso do casal de idosos, a cena mais parece uma sessão de psicanálise. À medida em que o marido responde que a ama, mas que ela não conseguiria viver sem ele e que, por isso, seria melhor que ela fosse primeiro, etc, etc, o que se apresenta para nós, espectadores, são as desculpas que damos para nós mesmos, as narrativas que construímos dentro de nossas relações. No caso do sujeito que sangrava o nariz, é incrível o modo como a esposa se nega a enxergar o que ela já sabe, inclusive a filha, que pede para que a mãe mate a "verdade" que chegou para desestabilizar aquele castelo de areia.
Afinal, por que os "solitários" não se permitiam ter um relacionamento?
Bem, a minha leitura é que os solitários são aqueles que já não se conformam com uma relação nestes moldes judaico-cristãos, que adoram apontar suas falhas, que adoram repetir o mantra de que "todos morreremos sozinhos" ("cave a sua cova, ninguém cavará ela por você"), e que não percebem que eles não estão isolados da sociedade só porque conseguem ter uma visão crítica sobre ela. Eles também fazem projeções, eles também buscam semelhanças, eles também sentem ciúmes, têm sentimentos de posse, etc. Na medida em que se negam a aceitar isso, podem ferir até mais que os relacionamentos tradicionais que tanto criticam.
Eu aposto que ele se cegou. E acho que isso não necessariamente é um cenário distópico. Eles passaram pelas duas fases anteriores e agora recomeçam, cegos, sem respostas, sem modelos, de igual pra igual.
Tudo no museu eram obras do Renascimento, o quadro Leda e o Cisne reproduz um episódio em que uma mortal adquire o conhecimento através de Zeus. Paralelamente, o projeto do lugar para onde eles deveriam ir se chamava Êxodo, trecho da Bíblia hebraica e cristã sobre a saída dos judeus do Egito, a crença na "terra prometida". E no final ainda temos aquela citação de T. S. Eliot ("Não deixaremos de explorar e, ao término da nossa exploração, deveremos chegar ao ponto de partida e conhecer esse lugar pela primeira vez").
A ideia do filme é boa. Romper com dogmas religiosos, Novos Mundos, terras prometidas e apostar na ciência, na razão e no homem. Um diretor decente talvez tivesse feito um bom trabalho com esse texto.
Sobre a citação de "O Banquete", me chamou a atenção o fato de Micah não apresentar a interpretação socrática de Eros, mas a mitologia defendida por Aristófanes na obra de Platão. Primeiro, porque essa ideia de metade da laranja é bem judaico-cristã. Segundo, porque ele acaba indo, e ela não. Ela rompe com sua "metade da laranja" ao transar com ele.
Enfim... por ter sido uma boa tentativa, darei um 5/10.
"Houve um protesto racial que virou um motim na convenção [do Partido Republicano] em Miami. Eram duas versões dos EUA se chocando. As fontes de divisão em nossa política foram decididas na eleição de 1968. Alianças que mudaram a nível racial, religioso, socioeconômico. O que agora chamamos de 'política de identidade' estava sendo formada naquele momento e [Bill] Buckley sabia disso por que em parte ele ajudou a criá-la. [...] Bill Buckley disse: 'Essa eleição será decidida pela questão da lei e da ordem'. E ele estava certo. O que passa pela cabeça das pessoas, o que lhes dá medo é que uma geração que através do New Deal foi colocada na classe media, vá perder agora todas essas conquistas. Essas são as questões que estamos debatendo hoje. [...] Essas personalidades se tornam mais interessantes quando já não atraem tanta atenção, porque daí tem este tipo de silêncio dentro delas. Eu comparo isso num ensaio que escrevi sobre o grande poema de Wallace Stevens, 'O Boneco de Neve', onde ele diz: 'Você precisa ter uma mente de inverno para ver nada do que não está ali e o nada que está'." Sam Tanenhaus (autor da biografia de William F. Buckley, Jr.)
Richard Attenborough é realmente um mestre quando o assunto são biografias. Já gostava dele pela biografia de C. S. Lewis, agora, com a do Chaplin, passei a me interessar ainda mais por sua obra. Não fugiu das polêmicas nas quais Chaplin se envolveu, embora tenha dado um sentido de resignação para todas elas (como fez com Lewis). De qualquer modo, não se podia esperar algo muito distante... Trata-se de uma homenagem, antes de mais nada. A grande surpresa do filme é Robert Downey Jr., sem dúvida!
O trabalho de Daniel Rezende me lembrou o texto clássico de Paulo Emílio Salles Gomes, "Artesãos e autores". Um domínio impressionante sobre a técnica, mas uma visão muito limitada enquanto autor. A construção da personagem e sua ascensão são muito bem desenvolvidas, mas o ponto alto do filme, que deveria ser o declínio e a conversão, são bem frágeis. Não há clímax, tudo é resolvido às pressas nos últimos minutos do filme. Até mesmo a cena da televisão (que remete como um insight à clássica sequência de Taxi Driver) não tem nenhuma carga dramática, não chega a despertar a mínima empatia no espectador. Enfim... é um bom filme, e só. O incômodo é porque poderia ter sido um grande filme.
“Todos los edificios, absolutamente todos, tienen una cara inútil, inservible, que no da al frente ni al contra-frente: la medianera: Superficies enormes que nos dividen y nos recuerdan el paso del tiempo, el smog y la mugre de la ciudad. Las medianeras muestran nuestro costado más miserable, reflejan nuestra inconstancia, las grietas, las soluciones provisorias, es las basura que escondemos debajo de la alfombra, sólo nos acordamos de ellas excepcionalmente, cuando vulnerada por las inclemencias del tiempo dejan filtrar sus reclamos. Las medianeras se han convertido un medio más de la publicidad, que en raras excepciones han logrado embellecerla, por lo general son dudosas indicaciones de los minutos que nos separan de los grandes supermercados o de la comida rápida, anuncios de loterías que nos prometen mucho a cambio de casi nada, aunque últimamente nos recuerdan la terrible crisis económica que nos dejó así: desocupados. Contra toda la opresión que significa vivir en estas cajas de zapatos, existe una salida, una vía de escape, ilegal, como todas las vías de escape, en clara contravención contra el código de planeación urbana se abren unas minúsculas e irregulares e irresponsables ventanas que permiten que unos milagrosos rayos de luz iluminen la oscuridad en la que vivimos.”
1- a sequência da festa de fones de ouvido tinha tudo pra ser algo interessante (o jogo entre a experiência com/sem os fones) - a propósito, não sei se de fato existem festas assim na Inglaterra ou mesmo no Brasil, achei curiosa a ideia -, mas do modo como foi conduzido ficou bastante superficial, algumas atuações ficaram forçadas/amadoras e alguns enquadramentos foram mal feitos ao ponto de me incomodar. 2- aquela coisa dele cantar com letras aleatórias sobre o dia deles era de uma pieguice que destoava da linha dramática que o filme tenta seguir... sobretudo naquela cena da London Eye... putz, de repente parecia que eu estava assistindo um filme indiano.
... o filme é muito bom! Ou talvez não tenham sido deslizes, são observações bem pessoais e subjetivas.
Gostei de todos os filmes de Tom McCarthy que vi até hoje, e reparei que as pessoas que não gostam de Adam Sandler foram as que mais gostaram do filme, logo... Não é um filme típico do Adam Sandler, ou seja... Já marquei no "Quero ver".
O jornalista perguntou por que Saramago era tão ignorado em Portugal ao mesmo tempo em que era tão estudado nas universidades brasileiras. Pilar respondeu que os (intelectuais) portugueses ainda dizem que as universidades brasileiras são uma merda e não aceitam o novo acordo ortográfico, criticando a arrogância dos intelectuais portugueses.
Daí a pessoa assiste e vem aqui no Filmow chamá-la de arrogante porque disse que "as universidades brasileiras são uma merda". Dá uma sensação de descrença na humanidade, porque além da falta de cognição interpretativa, não consigo entender como que alguém assiste um documentário sobre a vida de um casal tão fantástico e só consegue absorver isso.
É um bom filme. É a segunda adaptação que assisto de uma obra do escritor Rubem Fonseca - a primeira foi "A Grande Arte", de Walter Salles -, e desconfio que adaptá-lo para as telonas, ao mesmo tempo que deve ser uma grande tentação, pode ser um grande equívoco. Quer dizer, "Bufo e Spallanzani" chega a ser regular, e certamente muito melhor que "A Grande Arte" (um dos poucos equívocos na filmografia de Walter Salles, na minha opinião). Contudo, o filme não convence. Creio que a obra de Rubem Fonseca exige que o cineasta, que queira adaptá-lo, se arrisque. E creio que nem Walter, nem Tambellini conseguiram ultrapassar essa linha de transgressão. Rubem Fonseca trabalha com algumas cenas fortes
(como os testículos cortados, em "Bufo e Spallanzani")
e outras que, de certo modo, exigem do espectador uma "suspensão de descrença", ou seja, exige que o espectador aceite como verdadeiras certas premissas, mesmo que elas sejam fantásticas, impossíveis ou contraditórias
. Enfim... não foi dessa vez. É um filme regular, com boas atuações, com boa cenografia, e certamente vale a pena assisti-lo. Mas aquele algo mais, sabe? Aquela sensação de que poderia ser melhor... muito melhor... essa sensação é inevitável.
como que toda a equipe técnica do filme ignorou o microfone, que aparece em todas as cenas da delegacia? Vemos Tony Ramos e Milton Gonçalves excelentes em seus papéis... e o microfone lá, indo e voltando.
O filme possui alguns méritos, com uma narrativa envolvente e um roteiro que, a princípio, desperta interesse, embora cedendo a alguns clichês. Contudo, alguns pontos da história ficam mal costurados e no final o filme se perde completamente, caindo num melodrama forçado e mal desenvolvido. Os diálogos da sequência final são péssimos, inverossímeis e, por vezes, cafonas. É bem intencionado, mas poderia ter sido menos autoexplicativo. Não é a toa que Roberto Santucci acabou virando o que virou, um cineasta chinfrim de "comédias" globais sem qualquer valor artístico ou mesmo humorístico. Por fim, cabe aqui dizer que Claudio Gabriel e Silvio Guindane estão muito bem em seus personagens.
Teria dado cinco estrelas, se a história não tivesse se arrastado tanto. Teve um momento em que eu já nem queria saber o que era real e o que não era kkkk Mas o final é muito bom!
Tem como dar zero? Sério, é um dos filmes mais 'vergonha alheia' que eu já assisti. Mais um filme da Globo para o meu Top 10 piores da história.
O Hassum tenta ser o Jim Carrey (no filme "O mentiroso"), mas falha miseravelmente. Seu personagem é uma suposta mistura de Lula e Collor, e seu partido se assemelha ao PSDB (pelas cores e o símbolo do pica-pau). Embora esses elementos deixem a impressão de que "estamos atacando a todos, não temos lado", fica muito claro que a crítica é mais direcionada ao Lula/PT (até mesmo pelo discurso do político, na cena final, sobre alianças políticas e corrupção). Enfim, o filme oscila entre tentativas grotescas de emocionar e piadas que qualquer pessoa - minimamente atualizada nos stand-ups da vida - já conhece. Piadas do Hassum e da peça "Hermanoteu na Terra de Godah" rolam solta no filme. Conclusão: Lixo total com evidentes intenções políticas.
O ato da traição geralmente é uma quimera na cabeça do traído e um fardo na consciência do traidor. O filme, a princípio, parece ser muito bom justamente por abordar esse tema. Mas depois perde a consistência, descamba para uma tentativa infeliz de homenagear o clássico de Dostoiévski, "Crime e castigo", e do meio para o final segue ladeira abaixo.
O Rei Leão
3.8 1,6K Assista AgoraEntre a emoção e a técnica impecável, fico com a primeira. O perfeccionismo em cada mínimo detalhe em 3D vale o ingresso, mas não vale a memória. Um filme para se ver, regozijar-se e esquecer.
Anastasia
3.9 829 Assista AgoraPorra, Fox, me ajuda a te ajudar. O maniqueísmo vem logo numa das primeiras canções do filme.
"São Petersburgo é triste / São Petersburgo é frio / Eu vivo enregelado / Aqui nesse vazio / Revolução danada / Em vez de melhorar / Só trouxe desencantos / Fez tudo piorar".
A letra é digna das piores obras produzidas sob as regras dogmáticas do realismo socialista.
Em algumas cenas, o filme parece mesmo revelar seu teor romântico-conservador,
como na canção "Volta ao passado", cantada pela personagem principal.
Por fim, não deixa de chamar a atenção a referência ao clássico da Disney, "Rei Leão" -
na cena em que Rasputin exclama "Da svidaniya, Sua Alteza!"
"Viva os Romanov".
Enfim, para uma peça de propaganda anticomunista, ainda consegue ser um filme agradável de assistir. Pena ter assistido com idade suficiente para não me deixar encantar pelos czares. Ou não.
O Lagosta
3.8 1,5K Assista AgoraAh, refletindo um pouco mais sobre o filme: por que "O Lagosta"?
Quando as pessoas chegam ao Hotel, elas têm que decidir em qual animal desejam se transformar caso não consigam um parceiro em 45 dias. O personagem principal escolhe a lagosta, alegando que elas vivem mais de 100 anos e têm uma vida sexual ativa até seus últimos dias, etc. O primeiro pensamento que nos chega (pelo menos, foi o que me chegou) é: se aquilo é um castigo, por que alguém desejaria viver por 100 anos?
Aqui acredito que acontece algo semelhante à invasão do quarto do casal de idosos pelos "solitários". Os porquês que ele apresenta à administradora do Hotel são uma consciência narrativa - falsa ou não, se ele realmente passou a acreditar nela não importa -, mas o verdadeiro motivo, inconsciente, é outro.
Quem assistiu Friends já conhece a teoria da lagosta. Segundo Phoebe, uma das personagens do sitcom, quando as lagostas ficam velhas, elas sempre encontram uma outra lagosta, sua “alma gêmea”, e ficam de patinhas dadas até a morte.
No fundo, ele só queria alguém para morrer ao lado dele, ao que os solitários responderão: "cave sua própria cova, ninguém cavará por você".
O Lagosta
3.8 1,5K Assista AgoraPor que eles viram animais?
O primeiro dualismo que aparece no filme é o do amor sexual individual (monogamia) e a forma primitiva das relações sexuais desordenadas. Superado o "comunismo primitivo", a partir da crescente densidade demográfica, a monogamia surge historicamente enquanto vitória da propriedade privada sobre a primitiva propriedade comum. A partir da monogamia é que surgiria a ideia do amor sexual individual, tal como o concebemos a partir da modernidade. Como assinala Engels, toda a história da civilização humana é uma libertação contínua do homem dos obstáculos do reino animal: o homem natural evoluiu para o homem social. Pensada enquanto união espiritual ou mesmo enquanto algo funcional, a monogamia é certamente uma das construções sociais que nos separam da bestialidade.
Por que eles têm que ser iguais?
Acredito que aqui entra a metáfora mais "fácil" do filme (embora não se torne menos interessante por isso). A ideia de "metade da laranja" - que, salvo engano, surge na Grécia Antiga, apresentada em uma narrativa mitológica por Aristófanes no livro "O Banquete", de Platão - segue sendo uma imagem forte em nosso imaginário e diz muito sobre como vemos as relações amorosas em nossa sociedade ocidental/capitalista/burguesa.
A cena mais interessante é quando os "solitários" tentam destruir essas relações. No caso do casal de idosos, a cena mais parece uma sessão de psicanálise. À medida em que o marido responde que a ama, mas que ela não conseguiria viver sem ele e que, por isso, seria melhor que ela fosse primeiro, etc, etc, o que se apresenta para nós, espectadores, são as desculpas que damos para nós mesmos, as narrativas que construímos dentro de nossas relações. No caso do sujeito que sangrava o nariz, é incrível o modo como a esposa se nega a enxergar o que ela já sabe, inclusive a filha, que pede para que a mãe mate a "verdade" que chegou para desestabilizar aquele castelo de areia.
Afinal, por que os "solitários" não se permitiam ter um relacionamento?
Bem, a minha leitura é que os solitários são aqueles que já não se conformam com uma relação nestes moldes judaico-cristãos, que adoram apontar suas falhas, que adoram repetir o mantra de que "todos morreremos sozinhos" ("cave a sua cova, ninguém cavará ela por você"), e que não percebem que eles não estão isolados da sociedade só porque conseguem ter uma visão crítica sobre ela. Eles também fazem projeções, eles também buscam semelhanças, eles também sentem ciúmes, têm sentimentos de posse, etc. Na medida em que se negam a aceitar isso, podem ferir até mais que os relacionamentos tradicionais que tanto criticam.
E o que rolou no banheiro?
Eu aposto que ele se cegou. E acho que isso não necessariamente é um cenário distópico. Eles passaram pelas duas fases anteriores e agora recomeçam, cegos, sem respostas, sem modelos, de igual pra igual.
Já entrou para a minha lista de preferidos!
IO: O Último na Terra
2.2 276 Assista AgoraTudo no museu eram obras do Renascimento, o quadro Leda e o Cisne reproduz um episódio em que uma mortal adquire o conhecimento através de Zeus. Paralelamente, o projeto do lugar para onde eles deveriam ir se chamava Êxodo, trecho da Bíblia hebraica e cristã sobre a saída dos judeus do Egito, a crença na "terra prometida". E no final ainda temos aquela citação de T. S. Eliot ("Não deixaremos de explorar e, ao término da nossa exploração, deveremos chegar ao ponto de partida e conhecer esse lugar pela primeira vez").
A ideia do filme é boa. Romper com dogmas religiosos, Novos Mundos, terras prometidas e apostar na ciência, na razão e no homem. Um diretor decente talvez tivesse feito um bom trabalho com esse texto.
Sobre a citação de "O Banquete", me chamou a atenção o fato de Micah não apresentar a interpretação socrática de Eros, mas a mitologia defendida por Aristófanes na obra de Platão. Primeiro, porque essa ideia de metade da laranja é bem judaico-cristã. Segundo, porque ele acaba indo, e ela não. Ela rompe com sua "metade da laranja" ao transar com ele.
Enfim... por ter sido uma boa tentativa, darei um 5/10.
La Vingança
3.2 81- Señor, usted está loco?
- Sí
Como já disseram aqui, sem Daniel Furlan esse filme não seria o mesmo. Muito bom!
Melhores Inimigos
4.1 22"Houve um protesto racial que virou um motim na convenção [do Partido Republicano] em Miami. Eram duas versões dos EUA se chocando. As fontes de divisão em nossa política foram decididas na eleição de 1968. Alianças que mudaram a nível racial, religioso, socioeconômico. O que agora chamamos de 'política de identidade' estava sendo formada naquele momento e [Bill] Buckley sabia disso por que em parte ele ajudou a criá-la. [...]
Bill Buckley disse: 'Essa eleição será decidida pela questão da lei e da ordem'. E ele estava certo. O que passa pela cabeça das pessoas, o que lhes dá medo é que uma geração que através do New Deal foi colocada na classe media, vá perder agora todas essas conquistas. Essas são as questões que estamos debatendo hoje. [...]
Essas personalidades se tornam mais interessantes quando já não atraem tanta atenção, porque daí tem este tipo de silêncio dentro delas. Eu comparo isso num ensaio que escrevi sobre o grande poema de Wallace Stevens, 'O Boneco de Neve', onde ele diz: 'Você precisa ter uma mente de inverno para ver nada do que não está ali e o nada que está'."
Sam Tanenhaus (autor da biografia de William F. Buckley, Jr.)
Chaplin
4.2 363Richard Attenborough é realmente um mestre quando o assunto são biografias. Já gostava dele pela biografia de C. S. Lewis, agora, com a do Chaplin, passei a me interessar ainda mais por sua obra. Não fugiu das polêmicas nas quais Chaplin se envolveu, embora tenha dado um sentido de resignação para todas elas (como fez com Lewis). De qualquer modo, não se podia esperar algo muito distante... Trata-se de uma homenagem, antes de mais nada. A grande surpresa do filme é Robert Downey Jr., sem dúvida!
Bingo - O Rei das Manhãs
4.1 1,1K Assista AgoraO trabalho de Daniel Rezende me lembrou o texto clássico de Paulo Emílio Salles Gomes, "Artesãos e autores". Um domínio impressionante sobre a técnica, mas uma visão muito limitada enquanto autor. A construção da personagem e sua ascensão são muito bem desenvolvidas, mas o ponto alto do filme, que deveria ser o declínio e a conversão, são bem frágeis. Não há clímax, tudo é resolvido às pressas nos últimos minutos do filme. Até mesmo a cena da televisão (que remete como um insight à clássica sequência de Taxi Driver) não tem nenhuma carga dramática, não chega a despertar a mínima empatia no espectador. Enfim... é um bom filme, e só. O incômodo é porque poderia ter sido um grande filme.
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual
4.3 2,3K Assista Agora“Todos los edificios, absolutamente todos, tienen una cara inútil, inservible, que no da al frente ni al contra-frente: la medianera: Superficies enormes que nos dividen y nos recuerdan el paso del tiempo, el smog y la mugre de la ciudad. Las medianeras muestran nuestro costado más miserable, reflejan nuestra inconstancia, las grietas, las soluciones provisorias, es las basura que escondemos debajo de la alfombra, sólo nos acordamos de ellas excepcionalmente, cuando vulnerada por las inclemencias del tiempo dejan filtrar sus reclamos. Las medianeras se han convertido un medio más de la publicidad, que en raras excepciones han logrado embellecerla, por lo general son dudosas indicaciones de los minutos que nos separan de los grandes supermercados o de la comida rápida, anuncios de loterías que nos prometen mucho a cambio de casi nada, aunque últimamente nos recuerdan la terrible crisis económica que nos dejó así: desocupados. Contra toda la opresión que significa vivir en estas cajas de zapatos, existe una salida, una vía de escape, ilegal, como todas las vías de escape, en clara contravención contra el código de planeación urbana se abren unas minúsculas e irregulares e irresponsables ventanas que permiten que unos milagrosos rayos de luz iluminen la oscuridad en la que vivimos.”
Forget Me Not
3.4 18Tirando dois "deslizes"...
1- a sequência da festa de fones de ouvido tinha tudo pra ser algo interessante (o jogo entre a experiência com/sem os fones) - a propósito, não sei se de fato existem festas assim na Inglaterra ou mesmo no Brasil, achei curiosa a ideia -, mas do modo como foi conduzido ficou bastante superficial, algumas atuações ficaram forçadas/amadoras e alguns enquadramentos foram mal feitos ao ponto de me incomodar.
2- aquela coisa dele cantar com letras aleatórias sobre o dia deles era de uma pieguice que destoava da linha dramática que o filme tenta seguir... sobretudo naquela cena da London Eye... putz, de repente parecia que eu estava assistindo um filme indiano.
... o filme é muito bom! Ou talvez não tenham sido deslizes, são observações bem pessoais e subjetivas.
O Homem Irracional
3.5 553 Assista AgoraWoody Allen no piloto automático.
Trocando os Pés
2.8 441 Assista AgoraGostei de todos os filmes de Tom McCarthy que vi até hoje, e reparei que as pessoas que não gostam de Adam Sandler foram as que mais gostaram do filme, logo... Não é um filme típico do Adam Sandler, ou seja... Já marquei no "Quero ver".
Magia Negra
3.6 94Freaks and Geeks!
hahaha mais um pra lista do "quero ver".
Oslo, 31 de Agosto
3.9 194Sobre a sinopse: Anders é viciado em reabilitação? Que vício mais saudável. hahaha
José e Pilar
4.5 160 Assista AgoraO jornalista perguntou por que Saramago era tão ignorado em Portugal ao mesmo tempo em que era tão estudado nas universidades brasileiras. Pilar respondeu que os (intelectuais) portugueses ainda dizem que as universidades brasileiras são uma merda e não aceitam o novo acordo ortográfico, criticando a arrogância dos intelectuais portugueses.
Daí a pessoa assiste e vem aqui no Filmow chamá-la de arrogante porque disse que "as universidades brasileiras são uma merda". Dá uma sensação de descrença na humanidade, porque além da falta de cognição interpretativa, não consigo entender como que alguém assiste um documentário sobre a vida de um casal tão fantástico e só consegue absorver isso.
Memórias
4.0 168 Assista AgoraPessoal criticando o final do filme, será que só eu que gostei?
Batalha Real
3.6 588 Assista AgoraAinda não sei como avaliá-lo...
Alguém aí se arrisca a uma análise sobre o quadro na cena final?
Bufo & Spallanzani
3.1 49 Assista AgoraÉ um bom filme. É a segunda adaptação que assisto de uma obra do escritor Rubem Fonseca - a primeira foi "A Grande Arte", de Walter Salles -, e desconfio que adaptá-lo para as telonas, ao mesmo tempo que deve ser uma grande tentação, pode ser um grande equívoco. Quer dizer, "Bufo e Spallanzani" chega a ser regular, e certamente muito melhor que "A Grande Arte" (um dos poucos equívocos na filmografia de Walter Salles, na minha opinião). Contudo, o filme não convence. Creio que a obra de Rubem Fonseca exige que o cineasta, que queira adaptá-lo, se arrisque. E creio que nem Walter, nem Tambellini conseguiram ultrapassar essa linha de transgressão. Rubem Fonseca trabalha com algumas cenas fortes
(como os testículos cortados, em "Bufo e Spallanzani")
(como o duelo com facas, em "A Grande Arte")
Enfim... não foi dessa vez. É um filme regular, com boas atuações, com boa cenografia, e certamente vale a pena assisti-lo. Mas aquele algo mais, sabe? Aquela sensação de que poderia ser melhor... muito melhor... essa sensação é inevitável.
P.S.
como que toda a equipe técnica do filme ignorou o microfone, que aparece em todas as cenas da delegacia? Vemos Tony Ramos e Milton Gonçalves excelentes em seus papéis... e o microfone lá, indo e voltando.
Alucinados
2.7 36O filme possui alguns méritos, com uma narrativa envolvente e um roteiro que, a princípio, desperta interesse, embora cedendo a alguns clichês. Contudo, alguns pontos da história ficam mal costurados e no final o filme se perde completamente, caindo num melodrama forçado e mal desenvolvido. Os diálogos da sequência final são péssimos, inverossímeis e, por vezes, cafonas. É bem intencionado, mas poderia ter sido menos autoexplicativo. Não é a toa que Roberto Santucci acabou virando o que virou, um cineasta chinfrim de "comédias" globais sem qualquer valor artístico ou mesmo humorístico. Por fim, cabe aqui dizer que Claudio Gabriel e Silvio Guindane estão muito bem em seus personagens.
Alucinações do Passado
3.9 257Teria dado cinco estrelas, se a história não tivesse se arrastado tanto. Teve um momento em que eu já nem queria saber o que era real e o que não era kkkk Mas o final é muito bom!
A Última Noite de Boris Grushenko
4.0 218 Assista AgoraUma bela paródia de "O Sétimo Selo" (e, por mais estranho que possa parecer, ajuda a compreender alguns elementos do filme de Bergman).
O Candidato Honesto
2.5 432 Assista AgoraTem como dar zero? Sério, é um dos filmes mais 'vergonha alheia' que eu já assisti. Mais um filme da Globo para o meu Top 10 piores da história.
O Hassum tenta ser o Jim Carrey (no filme "O mentiroso"), mas falha miseravelmente. Seu personagem é uma suposta mistura de Lula e Collor, e seu partido se assemelha ao PSDB (pelas cores e o símbolo do pica-pau). Embora esses elementos deixem a impressão de que "estamos atacando a todos, não temos lado", fica muito claro que a crítica é mais direcionada ao Lula/PT (até mesmo pelo discurso do político, na cena final, sobre alianças políticas e corrupção). Enfim, o filme oscila entre tentativas grotescas de emocionar e piadas que qualquer pessoa - minimamente atualizada nos stand-ups da vida - já conhece. Piadas do Hassum e da peça "Hermanoteu na Terra de Godah" rolam solta no filme. Conclusão: Lixo total com evidentes intenções políticas.
Infidelidade
3.4 483 Assista AgoraO ato da traição geralmente é uma quimera na cabeça do traído e um fardo na consciência do traidor. O filme, a princípio, parece ser muito bom justamente por abordar esse tema. Mas depois perde a consistência, descamba para uma tentativa infeliz de homenagear o clássico de Dostoiévski, "Crime e castigo", e do meio para o final segue ladeira abaixo.