A história é interessante, nada que nunca tenha sido explorada no cinema, e é bem simples até, no quesito inovação é bem fraco, porém gostei da textura do cenário, dos robôs, é sim um filme bem feito, sem contar as referências a Blade Runner pra lá de visíveis, e mais outros muitos filmes. O grande atrativo é a animação bem feita e a trilha sonora (sem contar a parte clichê das cantoras cantando pop) que sobressai e deixa algo marcante, embora parece bem Os Incríveis e Wifi Ralph em certos momentos, e deste último posso dizer, se Wifi Ralph pode concorrer ao Oscar, acho que este também, porque achei bem melhor na sua proposta.
A trama revela um perigo real na nossa atualidade, onde estamos cercados de eletrônicos que captam toda nossa ação, seja por som, imagem, movimento, etc, sem que sequer saibamos, e primeiramente o intuito é o lucro, mas acaso de uma guerra, qual governo não iria requerer todo esse conhecimento? Aliás, China, EUA são campeões nisto, no monitoramento por meio da tecnologia para o controle das pessoas. E o mais surpreendente é que estas inovações tecnológicas são vendidas como salvação para alguma necessidade criada, e hoje vemos como a tecnologia permeou nossa relação e interação. Se podemos nos conectar com uma pessoa do outro lado do mundo, podemos com isso deixar de relacionar ainda mais com quem está ao nosso lado.
que o megaempresário dá um deslize e se revela como um robô, mas o faz por um descuido, apesar de ser uma máquina, ele diz "humanos" como se não fizesse parte da categoria de humanos, e se mostra real logo em seguida, ele fora substituído por um robô idêntico, e não passou despercebido a quem fez o filme uma teoria que diz que o Mark Zuckerberg na realidade é, ou fora, substituído por um robô, isto porque suas expressões faciais são muito artificias e não desmonstram sentimentos e porque numa coletiva disse algo análogo como "vocês humanos" e tentou se explicar "é claro eu também sou um humano" ... Coisa de doido! A vida imita a arte, a arte a vida, ou sei lá o quê!
Um filme bem reflexivo, me pôs a pensar, mais sobre a arquitetura mostrada, a arte, e de alguma maneira nalgumas poesias dos vários Pessoas, mas num resumo é um filme que tem um roteiro um tanto quanto confuso, não elucida uma ideia clara, não é uma jornada, mas é um um vagar sobre o passado, sobre o tempo acontecido, andar onde os fantasmas povoam... A maior qualidade do filme, e esta é muito boa mesmo, é no aspecto de como foi filmado, a câmera desliza, dá voltas, se aproxima, e é um dos grandes atributos deste filme, aspecto esse que não vemos em muitos filmes estadunidenses ou nos filmes mais comerciais.
Eu sempre costumo dar uma nota maior aos filmes que assisto quando sou eu que tenho uma crítica mais ácida acerca da obra. Aqui faço o mesmo. É um filme divertido em certos momentos, tem lá sua parte engraçada, sua parte de ação, sua parte subversiva, sua parte reflexiva, sua parte comovente, tem o desfecho esperado. Portanto esta previsibilidade é um clichê cinematográfico pra agradar as plateias (quem dera fosse um filme iraniano rs), mas a crítica principal é em torno do porquê sempre tem que os EUA serem o centro do universo, a história para mim seria passada na Coréia do Sul, tem a estética dos filmes coreanos, o enquadramento, e é perceptível, mas em certo momento há a diminuição da protagonista como protagonista e entram outros atores mais ocidentais para ajudá-la. É claro, o diretor é sul-coreano, e a produtora do filme é a do Brad Pitt, então, haveria alguns pré-requisitos, e isto soa o mais do mesmo, Nova York novamente como pano de fundo...
Nos quesitos técnicos a fotografia é interessante, a direção de arte também, a paleta de cores usadas, mas não me agradou muito o visual bem CGI dos animais, poderiam tê-lo feito sem o uso da CGI, seria mais interessante, e sairia um pouco dessa comodidade que se tornou este truque. Porém a crítica é válida, não só sobre a indústria da carne, mas sobre a obtenção do lucro acima de tudo, ainda mais por gente que já detém o poder, e enganam o povo para poder ter mais dinheiro e controle sobre o povo, até mesmo nos seus hábitos alimentares e culturais. E a outra crítica as celebridades destes programas animais que na verdade são mais atores que respeitadores da natureza, tipo aquele Richard Rasmussen, que tem um caso interessante; para criar conteúdo sensacionalista pagou para ribeirinhos da região amazônica caçarem um boto-cor-de-rosa para usá-lo de isca para pescar outros peixes, assim denunciou que estavam caçando botos!!! É bem isso, que representa a personagem de Johnny, a hipocrisia.
No meio do caos os homens tendem a serem criminosos, cometerem atos mais sanguinários possíveis motivados por crenças irracionais, as drogas ajudam a cair nesse abismo, mas o mau maior de todos, pelo visto, se chama ainda EUA, e a hipocrisia da ajuda dos países ricos é imensa. Pobre Libéria, nascida das entranhas racistas dos EUA, que até sua lei fizeram porque acharam que aqueles negros não eram capazes, e pior, os negros que por lá aportaram, como estadunidenses libertos da escravidão, escravizaram os nativos tal como com eles aconteceu. O que pensar disto tudo? Há muitas coisas...
Devido aos muitos comentários lidos e mais do que a vontade de vê-lo de fato, houve um momento que esta vontade veio. E o filme me surpreendeu, porque ouvia falar dele como pretensioso, embora o fora em certos momentos, nada que considere tão absurdo foi posto em cena. Afinal, é cinema, e o cinema tem coisas mais bizarras ainda.
Nem causou a tal aversão que muitos sentem ao vê-lo, pelo contrário, houve um deleite, porque abundam nas cenas um surrealismo mais cru e cruel, tendo tabus como assuntos nas cenas, e há muito simbolismo nisto tudo. É muito poético, mesmo sendo gore, extremo, ofensivo, e assim eram também os poemas em prosa de Baudelaire, os escritos de Rimbaud, algumas músicas de rock, a arte hoje em dia tem também o grotesco como um ideal a ser alcançado, que Goya quem o diga! E há o tal desejo sexual e o desejo de matar andando juntos. Não que eu considere isso como real, mas há uma correlação entre este erotismo sexual e de morte, e como disse, Georges Bataille em seus livros.
Talvez porque tenha lido Os Cantos de Maldoror estes tempos, e nesta mesma semana Uma Temporada no Inferno de Rimbaud, e ainda nesta mesma semana A história do Olho de Bataille. Esta percepção deve-se ao fato de minhas experiências e impressões, e dizem unicamente ao meu estado atual de apreciar a arte transgressora, subversiva e acima do que a maioria apreciaria, arte em suas facetas mais surreais, que é o que me agrada, me encanta, me fascina. A película lembra muito uma vídeo-arte em certos momentos, nalguns outros lembra os filmes de Derek Jarman...
Bataille começou como escritor sob um pseudônimo, A História do Olho fora escrita devido ao seu psicanalista dizer que se ele colocasse para fora num papel tudo aquilo que em sua mente havia e que atormentava-o, talvez pudesse ser curado, nasce aí um dos autores mais criativos que pude um dia ler. Sua empreitada deu início neste gozo artístico. No prólogo do filme há quase o mesmo argumento, é um intento para adentrar os recônditos mais obscuros da mente humana. E, para Bataille, com sua perversão o olho simbolizava muito, principalmente o ânus. Uma das primeiras cenas há a retirada de um olho de dentro da barriga da mulher, é uma cena que parece querer insinuar Bataille, não sei se só fora mera coincidência, porém, a cena merece esta atenção. Num determinado ponto quando a narração compara o dar à vida com a morte e o poder exercido sobre isto, para quem leu O Erotismo de Bataille, entende este permeamento destes antagônicos complementares. O ato do sexo em si é um ato que em última instância tem como finalidade gerar a vida, porém, a mente humana também pode querer o contrário, e querer gerar a morte.
As cores insinuantes, que por ora refletem os estados emocionais e criativos, racionais e lógicos associados com os lados do cérebro me remeteram a Suspiria de Argento. O vermelho pulsante combinava muito com as cenas absurdas e grotescas, a trilha tinha um toque sutil e delicado, enquanto algumas cenas eram enquadradas pela escuridão. Pulo adiante e comento sobre a cena profana, onde literalmente
come-se o corpo de Cristo, porém, simbolicamente há isto na própria religião, há a relação das devotas castas que casam com Deus, com Cristo, e literalmente -dizem- a bíblia e os livros míticos não devem ser lidos literais, mas e quando se lê literalmente numa linguagem cinematográfica cria-se um absurdo, há contudo o questionamento simbólico da cruz, pois fora o objeto de tortura com o qual Cristo fora pregado e morto, e não faz muito sentido racional usarmos o objeto que matou o nosso Deus como objeto sacro. Sobre a cena das três mulheres numa orgia canibal; as cenas finais do livro de Bataille mostram algo parecido, 4 pessoas adentram uma igreja, uma delas, a mulher transa com o padre e o mata, mas mesmo assim continua a transar com ele enquanto os outros dois apenas observam aquela coisa monstruosa, isto me prendeu a atenção. Este filme e o livro foram obras da perversidade doentia e sexual de seus autores. Há claramente um correlato entre Bataille e os postulados surreais de Subconscious Cruelty.
De resto não comentarei outras partes, até porque não devo eu dizer o que penso sobre tudo e me estender nestes comentários. Porém uma ressalva, é um filme que é curto, poderia ter mais cenas ousadas e surreais, mas sabemos dos problemas que envolveram o filme, ainda mais quando a censura é num país capitalista, nunca se insinua que é o sistema o culpado... A única coisa, e talvez por ser datado de uma época ainda remota à internet, coisa que me incomodou, foi usarem a analogia dos hemisférios do cérebro, que é mero mito, ou melhor dizendo, história falsa, não tem respaldo científico, mas admito que abstraiu isso e coloco como algo também simbólico que não deva ser pormenorizado e racionalizado. Esteticamente o filme é impactante, mesmo tendo um toque quase que amador em algumas cenas, talvez propositais. Grande obra surreal. Não colocaria "fantasia" como categorização, nem mesmo "terror".
Bom filme, poderia ter sido melhor, mas pecaram nalguns pontos, principalmente em prolongar demais a trama, deveriam dar mais dramaticidade quando necessário, mas, eu sei, é um filme educativo, e portanto deveriam se atenuar certas coisas. O interessante é o não desistir que o filme inspira, que é possível sim mudar o mundo mesmo que todos pensem o contrário. Confrontar é necessário, tem lá suas consequências, como pode ver o chefe Wimbe, que é interpretado pelo Joseph Marcell (o Geoffrey de Um Maluco no Pedaço), e ao vê-lo na tela fora impossível de não reconhecê-lo.
Venho tentado ver a filmografia completa do Bergman, mas de certa forma, é uma tarefa árdua, são filmes densos, com reflexões profundas, e na maioria das vezes, como na trilogia do silêncio, permeados pela falta de uma trilha sonora, há cenas onde mal há qualquer som, porém o detalhamento deste silêncio é uma personagem, é o silêncio que entoa o ritmo. A fotografia como sempre é de uma beleza singular, e os atores, os mesmos preferidos de Bergman.
Mas em Através do Espelho não vi nada que estivesse à altura de Bergman, os diálogos não foram nada ousadas, e muito menos complexos. Não há tanta profundidade como o esperado, há algumas cenas que se destacam, a do barco quando os personagens remam e a câmera os acompanha, a do teatro, as que se passam dentro do navio encalhado, e só, outras porém, toscas, como a do helicóptero, uma das cenas mais desprezíveis que vi num filme de Bergman, de um amadorismo sem tamanho, beirando o ridículo. No mais, nada que me comoveu neste filme enfadonho. Diferentemente de Luz de Inverno da mesma trilogia, que é angustiante e diz muito, contém diálogos memoráveis e passa a nós todo o tormento das personagens com suas inquietações existências.
Mas antes havia visto A Paixão de Ana, que também considerei mais do mesmo, sem muito a acrescentar de profundidade esperada num filme do Bergman, apesar dele ser acima da média geral, contém muito mais criatividade, e cenas polêmicas, questões pertinentes e cenas bem elaboradas. E antes ainda, havia visto Fanny e Aleksander, embora sei que a ordem cronológica não esteja sendo respeitada, ainda assim é relevante pensar que como todo artista, há obras excepcionais e outras medianas.
A interpretação de Klaus Maria é impactante, sobretudo quando insinua-se com expressões faciais sutis porém monstruosas na sua negação de uma atitude frente à barbárie. É interessante neste aspecto, surge daí a figura emblemática de Hamlet que, como ele, se vê num dilema de agir ou não agir. Porém, o tempo é que determina a ação, e quando acerca-se do abismo quase nada pode ser mudado. Resta ainda pensar que somos ainda livres mesmo esperando o momento da fera dar-nos o bote e nos abocanhar.
Não por menos a figura de Mefistófeles é como que invertida com a de Fausto, é algo ainda pior, Mefistófeles é que faz o pacto. Todo o filme permeia a cultura alemã, desde o romantismo que buscava essa essência de uma cultura superior, até nas esculturas com traços românticos e que detalhavam um ideal de pureza ariana.
Entendo que a leitura do livro deve ser requisito para uma melhor compreensão do filme, porém não sabia da existência do livro, ainda assim fascinaram-me o modo como os arquétipos de Fausto e Hamlet foram postos na trama, destes tenho algum conhecimento, e é impressionante como os diálogos destes têm ainda muito a dizer aos tempos vindouros.
A reflexão sobre a arte é ainda recorrente, ainda mais em tempos tenebrosos que vivemos, o filme com aqueles diálogos e situações pareceram sair de um cotidiano vivido, num hoje visto nos jornais. É o cerceamento da liberdade, começa-se antes de tudo, dando poder aos que primeiros são corrompidos, logo, serão eles próprios as presas. E é relevante o papel da arte, tem ela um papel determinante para sua época, mais ainda para a posterioridade, requer que ela dialogue não sobre um universo falso encenado mas sobre a vida humana, de uma forma ou de outra a arte não pode ser apolítica ou se situar numa ilha fora dos acontecimentos humanos. Mas a própria arte pode ser corrompida quando precisa-se de um mecenas para sua confecção. É aí neste ponto que Hamlet vem a se encaixar novamente, o "to be or not to be that is the question" é não só uma reflexão sobre o agir de um personagem que depara-se com um destino infeliz, mas de sua própria consciência sobre o que deve ser feito, e encontrar coragem para fazê-lo, pode haver arte sem o "mecenas"? Fausto quer poder, é assim que o pacto é feito na lenda, Hamlet quer coragem, pois sabe que a situação requer ação. Eis arte que dialoga com a arte mas não se esquece do nosso mundo.E, alfim, recaí sobre nós julgar Hendrik.
Com o prólogo do Jan já imaginei que haveria de ser uma película um pouco mais simplista e com certo teor artístico abaixo do esperado, ele mesmo diz que os recursos foram limitados, o que não torna imediatamente um filme ruim, mas não é uma de suas melhores performances, porém ele ousa usar a criatividade para dar vida à esta obra. Ele consegue, deveras ao roteiro inusitado e surreal, porém até um pouco previsível em partes, mas repleto de elementos oníricos, bizarros e cômicos. A ousadia de usar estes colocar elementos destoam este filme da normalidade do cinema padrão, porém há um enfastio provocado pelos excessos, e pelo tipo de recurso usado ao longo do filme, principalmente no tocante aos close-ups nas bocas dos personagens quando estes falam, e como em Alice, coloca no filme algo cansativo de se ver.
Mas Svankmajer é mestre, e eu o admiro, não poderia deixar de admirar este filme apesar das críticas a ele feitas por mim. É cinema que se faz por paixão.
Querô é de 2007 mas se assemelha muito a Pixote e até mesmo a Cidade de Deus e Carandiru em certos momentos, e por isso não considerei ousado o intento deste filme, foi algo mais do mesmo, apesar de a história ser bem interessante, considerei pouco desenvolvida e que não inovou em nada em termos de linguagem cinematográfica. As únicas partes marcantes que foram ousadas e saiam um pouco do realismo cru eram as do pensamento atordoado do protagonista, achei-as bem interessante, mas bem pouco exploradas, no todo é um filme bom, tem seus méritos, mas a denúncia pela denúncia já foi feita, haveria outras formas de explorar mais esta realidade, já fora por demais explorada temas iguais, porém com maior maestria. Como cinema nacional não há nada de marcante que fique deste filme. Penso, porém, que pelo conteúdo deveriam ter se empenhado mais em criar algo à altura, as cenas violentas por vezes eram atenuadas por câmeras que não imergiam na situação, mas deslocavam o foco para as faces, se é para mostrar a violência que seja chocante mesmo, penso assim.
Essencialmente o filme é sobre a arte de atuar, e há muitos méritos na composição dos quadros, planos sequências muito bem feitos, há cenas que repugnam e outros que encantam, é um exercício ousado assistir ao filme, penso ainda mais em fazê-lo.
Holy Motors não merece a fama que tem, até porque deveria ser um filme experimental longe do grande público, e por ter atingido um público maior do que o esperado, talvez o julguem com menos valor. O filme é de uma originalidade que se perdeu no cinema recente, ele reinventa e renova a linguagem cinematográfica e não é quer se inserir nos pormenores de explicar a situação, elas acontecem, e se há ou não lógica não interessa. Apesar de que a narrativa ainda seja linear, não há como discordar que se fossem invertidas as cenas não fariam muita diferença, e essa ousadia é a grande maestria do filme. Portanto o filme é dirigido à um público especifico, que aprecia filmes experimentais e de arte.
As cenas no cemitério, dentro dos galpões e no teatro abandonado são merecedoras de aplausos. Sem contar o retratado da arquitetura que é bem visível, e achei interessante este aspecto, já que parece que o filme quis se entremear por diversas épocas, de começo uma mansão no estilo bauhaus, depois a Paris do neoclassicismo, mais adiante art nouveau em algumas cenas (como na entrada da estação de metrô e no teatro abandonado) e no final uma vila em estilo bauhaus. Sem contar a arte tumular mostrada. O filme é sobre a arte. Sobre o cinema, sobre as mil facetas de atuar. Não há que encontrar uma lógica, apesar de que eu gostaria de ver uma quebra da quarta parede nalguma cena para me satisfazer mais e ousar mais ainda.
O ponto negativo fora que por momentos há quase que um padrão hollywoodiano de se filmar e enquadrar os atores e as cenas, e a música cantada em inglês me causou uma certa aversão, assim como a escolha de atrizes estrangeiras como Eva Mendes e Kylie Minogue, que não sei o porquê, afinal de contas há ótimas atrizes francesas que poderiam ter sido colocadas naqueles papéis e assim soaria um pouco menos hollywoodiano o filme.Já que ele pretende ser uma obra experimental e diferente dos demais filmes assistidos pelo grande público,
A solidão em meio à multidão, o estático frente ao se mover, o cotidiano como rotina morta, a falta de sentido de agir, livros lidos, relidos e outros por ler que não serão lidos... filme muito poético, e que é assimilável por muitos pelos sentimentos e pensamentos colocados, afinal, é este vazio que corrompe o mundo, a tal modernidade. Tecnicamente o filme é resultado de uma montagem excepcional, o movimento das câmeras é imersivo e dá-nos que um olhar meditativo, o texto é excelente, e a narração feminina é interessante, pois o personagem é um homem, e estamos quase sempre acostumados com narradores homens. A única coisa péssima é que o livro é quase impossível de se encontrar aqui no Brasil, merecia uma atenção especial, mas fazer o quê num país como este...
Documentário muito competente que foge à regra de quase todos os documentários biográficos, é relato encenado sobre o poeta meteórico que abalou o mundo, veio como um demônio e questionou até mesmo seus admiradores com seus modos de vida burguesa, participou da Comuna de Paris, e creio, que ali fora um ponto culminante para este abandono de ser poeta, pois ele depositara a confiança na mudança do mundo... só lhe resta o refúgio de ir buscar o que quisera desde de sua infância, viveu-as, fugiu de sua pátria, quis ser outro, quis abandonar o passado, mas, alfim, lá estava novamente para ser eternizado.
Fez o seu poeta interior morrer em vida, mas quando morreu o Rimbaud homem, nasceu o Rimbaud poeta eterno. Sem dúvida, o rebelde que encarnou mais que qualquer um os desejos da juventude contra as imposições, contra os velhos costumes, contra as regras, contra as leis, contra a família.
Rimbaud, segundo Paulo Leminsky foi o primeiro rokeiro, se lermos Uma Temporada No Inferno, é possível pensar mesmo isso, já que ele queria formas novas de amar, dizia que queria machucar seu corpo, cobri-lo de tatuagens. Um visionário!
Será que algum dia irá se encontrar algum outro escrito deste gênio que faça mudar a sua história de que abandonou a literatura? Seria um tesouro, uma tumba de Tuntankamon nova a ser descoberta.
E certamente, para quem viu Teorema de Pasolini, verá alguma coincidência (talvez muitas) com Rimbaud e sua vida, e com esse magnetismo que ele impunha aos outros ao seu redor.
Não é um filme difícil de ser entendido, é difícil de ser apenas assimilado, por conter certas metáforas que poderiam ser melhor delineadas se pensássemos acerca da nossa própria realidade, ou seja, um mundo onde a população é aficcionada por celebridades, e dariam da própria saúde (talvez vida) para poderem ter algum contato com elas, seja visual, físico, etc. -- Poxa, este é o nosso mundo! -- Já há milhares pessoas que pagam para se expor em chuvas, em longas viagens, ficam endividadas (podem até vender os órgãos), matam, tudo para ir nalgum show. O filme simula um universo tal como esse, onde as celebridades são vendáveis a quem quiser consumi-las literalmente.
Há tanta alienação em torno das pessoas que não seria raro se acontecesse de um fã seguir seu ídolo e tiver a mesma doença, ou, até o mesmo fim. Basta ver que celebridades tem alto poder de influenciar o consumo. Vírus no caso, doença, carne, são só metáforas para o que já acontece.
Há ainda a insinuação sobre morrer jovem e ser eternamente admirada pela beleza, tal qual acontece com muitas celebridades, que querem se perpetuar e dão a vida para isso, morrendo jovens, tal como o ideal da Grécia Antiga de guerreiro. Não só os fãs se vendem, mas as próprias celebridades se vendem para serem consumidas, basta ver a extenuante gama delas que morrem em decorrência de uma vida agitada. Principalmente com artistas da música.
A história é bem ousada, não é do Villeneuve, mas derivada de um livro, não sei se o relato é autobiográfico, mas é bem impactante. E o maior mérito do filme é em conseguir contar a trágica história da guerra civil libanesa. O filme faz um convite bem ousado ao mostrar que árabes também são cristãos, e cristãos também falam árabe e, assim, rompe com o estereótipo que os países ocidentais criaram atualmente. É bom acentuar isto, de que o ódio não tem lado, muito menos religião, e de que todos fazemos parte de uma mesma família: a humanidade. Sempre quanto possível devemos reflexionar sobre nossos atos, pois são ações que tem outras consequências que poderão eternamente ecoar e ainda causar outras consequências trágicas.
Villeneuve não me agrada muito com seu estilo de direção, porém aqui ele consegue dar atmosfera e prender o espectador ao próximo passo da jornada. É admissível que ele tem seu toque autoral, não o considero um primor, mas tem lá suas qualidades, porém ele na sua direção não ousa, não sai do lugar comum e não inova na narrativa documentária, o que ele faz já fora visto antes, e em Incendies dou uma nota alta não pela direção em si, que para mim não mereceu, que não ousou e foi muito convencional, muito hollywoodiana, mas dou pela história e pela documentação de um conflito que nunca havia visto antes no cinema.
A outra camada da história em retratar como tradições são estúpidas, e em como o amor é o que une a humanidade, e o mais importante, o filme consegue retratar uma mulher e toda sua luta em um mundo machista e opressor,
mundo este que levou seu próprio filho a estuprá-la e a engravidar. Relato cruel mas bem crível frente às possibilidades da capacidade humana de errar e cometer crimes, ainda mais contra mulheres. Mas o relato de Nawal Marwan é de uma mulher que também rompe com o estereótipo, ela é forte, não se deixa abalar, tem atitude heroica, está acima de qualquer herói homicida de guerra. Sua batalha de mais empenho é em amar aquilo que deveria odiar. Aí dessa consequência trágica é que somente o amor é capaz de romper com todo o ódio, e como o filme mostra, ela prefere começar a história como uma história de amor.
Uma reflexão sobre a existência das pessoas, que pensam em si mesmas no sentido individualista e tentam sobrepujar seus problemas acima dos demais. É o puro egoísmo, todos num certo grau o tem, uns mais outros menos, mas sempre a pensar primeiro no "eu" individual do que no coletividade. O interessante é que a arte aqui do cinema é retratar um evento onde um intruso invade uma peça de teatro, ou seja, parou-se a arte para dar lugar a reflexão verdadeira da vida, e como diz o próprio personagem, que aquilo tudo é mentira, falso, "maquiagem". Eleva-se assim o filme numa metalinguagem que diz muito acerca da nossa vida, afinal, somos nós os espectadores da peça de Manoel de Oliveira. Será que temos algum caso pessoal mais importante que ver o próprio filme? O que é a arte senão uma fuja da própria existência sem sentido ou dos nossos tormentos, será isso?
As partes em que se divide o filme são um complemento para entender esta mensagem. Nós espectadores somos levados a ver todos os personagens como iguais, seus "casos" são irrelevantes perante algo maior, e em certo momento nem falam, se igualam numa não-linguagem, se equivalem em suas irrelevâncias existências perante o todo que é muito maior que a particularidade.
É um exercício existencial, que entremeado por um texto de Beckett dá um tom de ironia sobre nossa existência e, reflexiona que o não existir talvez seja a melhor coisa possível. Mas há ainda um contraponto, que é o desfecho; uma expectativa de alguma gratificação. E a queixa existencial das nossas desgraças individuais é tamanha que nesse desfecho se encontra um diálogo provocativo dos maiores, àquele que mais nos deve resposta é justamente àquele a que devemos a nossa própria existência. Podemos ver tudo ao redor ruir, e aparece Jó num mundo apocalíptico se queixando com Deus de sua desgraça pessoal. Os atores que eram o que o intruso desprezava agora são seus parentes, a quem deveria ter alguma estima. Significando que todos fazemos parte de uma mesma família, de algo maior que o egoismo bloqueia de nos fazer pensar. Há uma recompensa ainda porvir.
E neste desfecho o filme se encerra da maneira oposto ao que começara, o filme começou com a interrupção de uma peça, uma obra de arte é interrompida por alguém que se indaga que aquela farsa não é mais importante do que "seu caso" pessoal, e que ele tem mais a dizer que aqueles atores. O filme encerra-se com a arte se mostrando ainda como o final de tudo, insinuando que ela é a maior obra humana, talvez o sentido existencial, mesmo para aqueles, que como Beckett, tendiam ao niilismo. O triunfo da arte sobre a significância da vida é posto, o "sorriso" emblemático de Monalisa surge carregado por alguns personagens.
Quem fora Monalisa ninguém ao certo saberá, mas seu emblema se afigura intacto na arte como algo admirável. A existência da figura retratada e sua vida pessoal não importam, não há como sabê-los, mas sua existência para a arte tem um sentido grandioso. É um ícone. Monalisa não tem seu caso retratado. Mas retrata a arte, que é obra dos homens.
Tá aí um filme com ótima fotografia, direção de arte e trilha sonora que é uma comédia! E contém cenas hilariantes, pena que o roteiro tenha uma certa previsibilidade do que aconteceria com alguns personagens, e mais para o final do filme haja muitas coisas absurdas. Mas é legal ver o que é o preconceito com quem curte heavy metal e a pira de alguns militares (ou mesmo de europeus) que só esperam alguma ameaça terrorista acontecer, mesmo que não acontece. Citação do Dio nem se fala, é uma sacada pra ver que há muita profundidade nalgumas letras de heavy metal.
Que doc ruim, putz... mal explicado, chato, parado. Sem nenhuma ousadia em criar algo diferente... nem terminei de vê-lo, há outros melhores. No começo é quase como uma ode à numerologia.
Esteticamente deslumbrante, cores vivas, personagens bem feitos, cenários detalhistas, uma animação ousada e bem produzida, que compete diretamente com as animações japonesas, e das que já vi, creio que supera muitas em qualidades técnicas.
O problema é mais pessoal, já que não assimilo tanto assim essas mitologias orientais utilizadas em animações, por serem por vezes muito confusas, entendo que é a minha disposição, e creio que para quem goste de animações orientais há uma obra aqui a ser admirada e aclamada.
Outro ponto é que há ainda um certo padrão e um estilo bem característico nestas animações, como o roteiro; a história é quase sempre previsível, as músicas épicas nas batalhas, aquela coisa por demais emotiva, etc. Por não sair desse lugar comum o filme não me agradou tanto, e neste aspecto não houve ousadia. O que mais prevalece sempre uma padronização mesmo. Eu queria mais ousadia, e esperei por isso. Mas...
"Largou tudo e foi conhecer o mundo" --- é o que dizem. E a atitude de Gabriel é mesquinha, principalmente porque ser um turista sem dizer sê-lo, quer andar de elefante, quer ver gnus, quer se aventurar sozinho como se tivesse mais inteligencia que os próprios locais, é soberbo demais. É de uma pretensão sem tamanho.
Oras o apelo sentimentalista e este quê de heroísmo virtuoso que muitos veem não existe, é apenas mais um turista que quer tirar fotos dos locais onde se sentem mais elevados pois há um desafio, sem contar a impertinência de querer se mostrar o superior mesmo quando as condições não favorecem Gabriel. São situações onde a personagem provinda de um mundo materialmente melhor crê que pode superar aquela população "pobre e atrasada"; É tipo isso, em certo sentido.
E, diferentemente de Into The Wild, aqui não se coloca grande questões não, aqui de fato impera o egoismo, porque ele tinha família, amigos, namorada, já com Alexander Supertramp não, era o abandono total, ele não usa nem o dinheiro que ele tinha, ele o queima de início, assim como abandona seu carro, são filmes diferentes mas que estão sendo comparados. Supertramp abandona a carreira dos sonhos na faculdade, portanto já não se identifica com aquela sociedade, possivelmente por lr autores do calibre de Tolstoy, Dostoievsky, Thoreau, Jack London, etc.
McCandless tinha em si não uma questão de conhecer ou escalar montanhas para se superar, mas ele queria a solicitude para poder pensar mais sobre a vida, ele queria encontrar algo mais íntimo e maior no refúgio natural longe da sociedade. Com Gabriel é superficial isso, até porque ele já está no seu doutorado, e só aí percebe que o que estudou não influem no mundo, mas mesmo assim, o que transparece é que ele foi apenas mais um mochileiro do que um buscador de algo. Era apena uma jornada física com objetivos físicos e não metafísicos ou espirituais. Bastava ver que ele tirava exaustivas fotos de tudo que para ele era exótico e mantinha contato com e-mails, redes sociais, internet.
Quanto ao filme, as falas são rasas, vazias, por vezes infantis e bobas, não fogem ao clichê, e ao que foi esperado, assim como a bela fotografia não salva o filme de ser chato e desinteressante, não tem uma trilha que prende, e nem uma direção de arte que inove nesse tipo de filme, principalmente na câmera de mão nos momentos finais de Gabriel, poderia ter melhorado e utilizado coisas mais ousadas, porque todo filme que vejo no canal Brasil tem esse padrão de normalidade de mesmo a fotografia sendo bonita nunca se inova em nada.
Há algumas horas assisti ao Os Canibais de Manoel de Oliveira, já havia visto Non ou a Vã Glória de Mandar, e estes considerei excelentes, filmes que verei sempre que puder, mas aqui não é o caso, filme que me deixou não só entendiado como que desagradado quanto aos efeitos, ao roteiro, atuações (principalmente a da atriz brasileira, que é muito artificial) e ao desfecho, sem contar que não entendi muito o porquê de a história ser passada na década de 50 e o cenário e principalmente os carros serem atuais. Não entendi isso, e não consegui digerir. Os únicos pontos que me tocaram foram a beleza de Angélica, assim como todo o enquadramento e a fotografia, a trilha sonora que não é ousada mas está bem encaixada e as referências literárias, principalmente já de início com uma citação de Antero de Quental.
Uma obra do genial Manoel de Oliveira de uma qualidade ímpar como esta me entristece de não ser tão conhecida, e para poder vê-la há a necessidade de um exercício hercúleo para poder encontrá-la nalgum canto escondido da internet. Mas está feito! Mal sabia do que se tratava o filme, e a ousadia da utilização de ser uma ópera dá um toque mais artístico e eleva o nível à uma arte sublime, e o desfecho, por demais bizarro, é o que impacta e se contrapõe com toda essa arte de início. Como se trata de um filme num formato peculiar de ópera, é necessário legendas, que não foram difíceis de se encontrar. Um filme que me surpreendeu, o segundo desse diretor que pude ver, e sem dúvida, não será o último.
Next Gen
3.4 109A história é interessante, nada que nunca tenha sido explorada no cinema, e é bem simples até, no quesito inovação é bem fraco, porém gostei da textura do cenário, dos robôs, é sim um filme bem feito, sem contar as referências a Blade Runner pra lá de visíveis, e mais outros muitos filmes.
O grande atrativo é a animação bem feita e a trilha sonora (sem contar a parte clichê das cantoras cantando pop) que sobressai e deixa algo marcante, embora parece bem Os Incríveis e Wifi Ralph em certos momentos, e deste último posso dizer, se Wifi Ralph pode concorrer ao Oscar, acho que este também, porque achei bem melhor na sua proposta.
A trama revela um perigo real na nossa atualidade, onde estamos cercados de eletrônicos que captam toda nossa ação, seja por som, imagem, movimento, etc, sem que sequer saibamos, e primeiramente o intuito é o lucro, mas acaso de uma guerra, qual governo não iria requerer todo esse conhecimento? Aliás, China, EUA são campeões nisto, no monitoramento por meio da tecnologia para o controle das pessoas. E o mais surpreendente é que estas inovações tecnológicas são vendidas como salvação para alguma necessidade criada, e hoje vemos como a tecnologia permeou nossa relação e interação. Se podemos nos conectar com uma pessoa do outro lado do mundo, podemos com isso deixar de relacionar ainda mais com quem está ao nosso lado.
O mais emblemático é que há uma cena
que o megaempresário dá um deslize e se revela como um robô, mas o faz por um descuido, apesar de ser uma máquina, ele diz "humanos" como se não fizesse parte da categoria de humanos, e se mostra real logo em seguida, ele fora substituído por um robô idêntico, e não passou despercebido a quem fez o filme uma teoria que diz que o Mark Zuckerberg na realidade é, ou fora, substituído por um robô, isto porque suas expressões faciais são muito artificias e não desmonstram sentimentos e porque numa coletiva disse algo análogo como "vocês humanos" e tentou se explicar "é claro eu também sou um humano" ... Coisa de doido! A vida imita a arte, a arte a vida, ou sei lá o quê!
Réquiem - Um Encontro Com Fernando Pessoa
3.3 8Um filme bem reflexivo, me pôs a pensar, mais sobre a arquitetura mostrada, a arte, e de alguma maneira nalgumas poesias dos vários Pessoas, mas num resumo é um filme que tem um roteiro um tanto quanto confuso, não elucida uma ideia clara, não é uma jornada, mas é um um vagar sobre o passado, sobre o tempo acontecido, andar onde os fantasmas povoam...
A maior qualidade do filme, e esta é muito boa mesmo, é no aspecto de como foi filmado, a câmera desliza, dá voltas, se aproxima, e é um dos grandes atributos deste filme, aspecto esse que não vemos em muitos filmes estadunidenses ou nos filmes mais comerciais.
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraEu sempre costumo dar uma nota maior aos filmes que assisto quando sou eu que tenho uma crítica mais ácida acerca da obra. Aqui faço o mesmo.
É um filme divertido em certos momentos, tem lá sua parte engraçada, sua parte de ação, sua parte subversiva, sua parte reflexiva, sua parte comovente, tem o desfecho esperado. Portanto esta previsibilidade é um clichê cinematográfico pra agradar as plateias (quem dera fosse um filme iraniano rs), mas a crítica principal é em torno do porquê sempre tem que os EUA serem o centro do universo, a história para mim seria passada na Coréia do Sul, tem a estética dos filmes coreanos, o enquadramento, e é perceptível, mas em certo momento há a diminuição da protagonista como protagonista e entram outros atores mais ocidentais para ajudá-la. É claro, o diretor é sul-coreano, e a produtora do filme é a do Brad Pitt, então, haveria alguns pré-requisitos, e isto soa o mais do mesmo, Nova York novamente como pano de fundo...
Nos quesitos técnicos a fotografia é interessante, a direção de arte também, a paleta de cores usadas, mas não me agradou muito o visual bem CGI dos animais, poderiam tê-lo feito sem o uso da CGI, seria mais interessante, e sairia um pouco dessa comodidade que se tornou este truque. Porém a crítica é válida, não só sobre a indústria da carne, mas sobre a obtenção do lucro acima de tudo, ainda mais por gente que já detém o poder, e enganam o povo para poder ter mais dinheiro e controle sobre o povo, até mesmo nos seus hábitos alimentares e culturais. E a outra crítica as celebridades destes programas animais que na verdade são mais atores que respeitadores da natureza, tipo aquele Richard Rasmussen, que tem um caso interessante; para criar conteúdo sensacionalista pagou para ribeirinhos da região amazônica caçarem um boto-cor-de-rosa para usá-lo de isca para pescar outros peixes, assim denunciou que estavam caçando botos!!! É bem isso, que representa a personagem de Johnny, a hipocrisia.
O Estado Islâmico
4.0 4Grande ousadia estes jornalistas da VICE sempre se arriscando no meio de gente insana. Melhor documentário sobre o ISIS que pude ver.
The Cannibal Warlords of Liberia
4.1 3No meio do caos os homens tendem a serem criminosos, cometerem atos mais sanguinários possíveis motivados por crenças irracionais, as drogas ajudam a cair nesse abismo, mas o mau maior de todos, pelo visto, se chama ainda EUA, e a hipocrisia da ajuda dos países ricos é imensa. Pobre Libéria, nascida das entranhas racistas dos EUA, que até sua lei fizeram porque acharam que aqueles negros não eram capazes, e pior, os negros que por lá aportaram, como estadunidenses libertos da escravidão, escravizaram os nativos tal como com eles aconteceu. O que pensar disto tudo? Há muitas coisas...
Subconscious Cruelty
3.0 243Devido aos muitos comentários lidos e mais do que a vontade de vê-lo de fato, houve um momento que esta vontade veio. E o filme me surpreendeu, porque ouvia falar dele como pretensioso, embora o fora em certos momentos, nada que considere tão absurdo foi posto em cena. Afinal, é cinema, e o cinema tem coisas mais bizarras ainda.
Nem causou a tal aversão que muitos sentem ao vê-lo, pelo contrário, houve um deleite, porque abundam nas cenas um surrealismo mais cru e cruel, tendo tabus como assuntos nas cenas, e há muito simbolismo nisto tudo. É muito poético, mesmo sendo gore, extremo, ofensivo, e assim eram também os poemas em prosa de Baudelaire, os escritos de Rimbaud, algumas músicas de rock, a arte hoje em dia tem também o grotesco como um ideal a ser alcançado, que Goya quem o diga! E há o tal desejo sexual e o desejo de matar andando juntos. Não que eu considere isso como real, mas há uma correlação entre este erotismo sexual e de morte, e como disse, Georges Bataille em seus livros.
Talvez porque tenha lido Os Cantos de Maldoror estes tempos, e nesta mesma semana Uma Temporada no Inferno de Rimbaud, e ainda nesta mesma semana A história do Olho de Bataille. Esta percepção deve-se ao fato de minhas experiências e impressões, e dizem unicamente ao meu estado atual de apreciar a arte transgressora, subversiva e acima do que a maioria apreciaria, arte em suas facetas mais surreais, que é o que me agrada, me encanta, me fascina. A película lembra muito uma vídeo-arte em certos momentos, nalguns outros lembra os filmes de Derek Jarman...
Bataille começou como escritor sob um pseudônimo, A História do Olho fora escrita devido ao seu psicanalista dizer que se ele colocasse para fora num papel tudo aquilo que em sua mente havia e que atormentava-o, talvez pudesse ser curado, nasce aí um dos autores mais criativos que pude um dia ler. Sua empreitada deu início neste gozo artístico.
No prólogo do filme há quase o mesmo argumento, é um intento para adentrar os recônditos mais obscuros da mente humana. E, para Bataille, com sua perversão o olho simbolizava muito, principalmente o ânus. Uma das primeiras cenas há a retirada de um olho de dentro da barriga da mulher, é uma cena que parece querer insinuar Bataille, não sei se só fora mera coincidência, porém, a cena merece esta atenção. Num determinado ponto quando a narração compara o dar à vida com a morte e o poder exercido sobre isto, para quem leu O Erotismo de Bataille, entende este permeamento destes antagônicos complementares. O ato do sexo em si é um ato que em última instância tem como finalidade gerar a vida, porém, a mente humana também pode querer o contrário, e querer gerar a morte.
As cores insinuantes, que por ora refletem os estados emocionais e criativos, racionais e lógicos associados com os lados do cérebro me remeteram a Suspiria de Argento. O vermelho pulsante combinava muito com as cenas absurdas e grotescas, a trilha tinha um toque sutil e delicado, enquanto algumas cenas eram enquadradas pela escuridão.
Pulo adiante e comento sobre a cena profana, onde literalmente
come-se o corpo de Cristo, porém, simbolicamente há isto na própria religião, há a relação das devotas castas que casam com Deus, com Cristo, e literalmente -dizem- a bíblia e os livros míticos não devem ser lidos literais, mas e quando se lê literalmente numa linguagem cinematográfica cria-se um absurdo, há contudo o questionamento simbólico da cruz, pois fora o objeto de tortura com o qual Cristo fora pregado e morto, e não faz muito sentido racional usarmos o objeto que matou o nosso Deus como objeto sacro. Sobre a cena das três mulheres numa orgia canibal; as cenas finais do livro de Bataille mostram algo parecido, 4 pessoas adentram uma igreja, uma delas, a mulher transa com o padre e o mata, mas mesmo assim continua a transar com ele enquanto os outros dois apenas observam aquela coisa monstruosa, isto me prendeu a atenção. Este filme e o livro foram obras da perversidade doentia e sexual de seus autores. Há claramente um correlato entre Bataille e os postulados surreais de Subconscious Cruelty.
De resto não comentarei outras partes, até porque não devo eu dizer o que penso sobre tudo e me estender nestes comentários. Porém uma ressalva, é um filme que é curto, poderia ter mais cenas ousadas e surreais, mas sabemos dos problemas que envolveram o filme, ainda mais quando a censura é num país capitalista, nunca se insinua que é o sistema o culpado... A única coisa, e talvez por ser datado de uma época ainda remota à internet, coisa que me incomodou, foi usarem a analogia dos hemisférios do cérebro, que é mero mito, ou melhor dizendo, história falsa, não tem respaldo científico, mas admito que abstraiu isso e coloco como algo também simbólico que não deva ser pormenorizado e racionalizado. Esteticamente o filme é impactante, mesmo tendo um toque quase que amador em algumas cenas, talvez propositais. Grande obra surreal. Não colocaria "fantasia" como categorização, nem mesmo "terror".
O Menino que Descobriu o Vento
4.3 741Bom filme, poderia ter sido melhor, mas pecaram nalguns pontos, principalmente em prolongar demais a trama, deveriam dar mais dramaticidade quando necessário, mas, eu sei, é um filme educativo, e portanto deveriam se atenuar certas coisas. O interessante é o não desistir que o filme inspira, que é possível sim mudar o mundo mesmo que todos pensem o contrário. Confrontar é necessário, tem lá suas consequências, como pode ver o chefe Wimbe, que é interpretado pelo Joseph Marcell (o Geoffrey de Um Maluco no Pedaço), e ao vê-lo na tela fora impossível de não reconhecê-lo.
Através de um Espelho
4.3 249Venho tentado ver a filmografia completa do Bergman, mas de certa forma, é uma tarefa árdua, são filmes densos, com reflexões profundas, e na maioria das vezes, como na trilogia do silêncio, permeados pela falta de uma trilha sonora, há cenas onde mal há qualquer som, porém o detalhamento deste silêncio é uma personagem, é o silêncio que entoa o ritmo. A fotografia como sempre é de uma beleza singular, e os atores, os mesmos preferidos de Bergman.
Mas em Através do Espelho não vi nada que estivesse à altura de Bergman, os diálogos não foram nada ousadas, e muito menos complexos. Não há tanta profundidade como o esperado, há algumas cenas que se destacam, a do barco quando os personagens remam e a câmera os acompanha, a do teatro, as que se passam dentro do navio encalhado, e só, outras porém, toscas, como a do helicóptero, uma das cenas mais desprezíveis que vi num filme de Bergman, de um amadorismo sem tamanho, beirando o ridículo. No mais, nada que me comoveu neste filme enfadonho. Diferentemente de Luz de Inverno da mesma trilogia, que é angustiante e diz muito, contém diálogos memoráveis e passa a nós todo o tormento das personagens com suas inquietações existências.
Mas antes havia visto A Paixão de Ana, que também considerei mais do mesmo, sem muito a acrescentar de profundidade esperada num filme do Bergman, apesar dele ser acima da média geral, contém muito mais criatividade, e cenas polêmicas, questões pertinentes e cenas bem elaboradas. E antes ainda, havia visto Fanny e Aleksander, embora sei que a ordem cronológica não esteja sendo respeitada, ainda assim é relevante pensar que como todo artista, há obras excepcionais e outras medianas.
Mephisto
3.9 55 Assista AgoraA interpretação de Klaus Maria é impactante, sobretudo quando insinua-se com expressões faciais sutis porém monstruosas na sua negação de uma atitude frente à barbárie. É interessante neste aspecto, surge daí a figura emblemática de Hamlet que, como ele, se vê num dilema de agir ou não agir. Porém, o tempo é que determina a ação, e quando acerca-se do abismo quase nada pode ser mudado. Resta ainda pensar que somos ainda livres mesmo esperando o momento da fera dar-nos o bote e nos abocanhar.
Não por menos a figura de Mefistófeles é como que invertida com a de Fausto, é algo ainda pior, Mefistófeles é que faz o pacto. Todo o filme permeia a cultura alemã, desde o romantismo que buscava essa essência de uma cultura superior, até nas esculturas com traços românticos e que detalhavam um ideal de pureza ariana.
Entendo que a leitura do livro deve ser requisito para uma melhor compreensão do filme, porém não sabia da existência do livro, ainda assim fascinaram-me o modo como os arquétipos de Fausto e Hamlet foram postos na trama, destes tenho algum conhecimento, e é impressionante como os diálogos destes têm ainda muito a dizer aos tempos vindouros.
A reflexão sobre a arte é ainda recorrente, ainda mais em tempos tenebrosos que vivemos, o filme com aqueles diálogos e situações pareceram sair de um cotidiano vivido, num hoje visto nos jornais. É o cerceamento da liberdade, começa-se antes de tudo, dando poder aos que primeiros são corrompidos, logo, serão eles próprios as presas. E é relevante o papel da arte, tem ela um papel determinante para sua época, mais ainda para a posterioridade, requer que ela dialogue não sobre um universo falso encenado mas sobre a vida humana, de uma forma ou de outra a arte não pode ser apolítica ou se situar numa ilha fora dos acontecimentos humanos. Mas a própria arte pode ser corrompida quando precisa-se de um mecenas para sua confecção. É aí neste ponto que Hamlet vem a se encaixar novamente, o "to be or not to be that is the question" é não só uma reflexão sobre o agir de um personagem que depara-se com um destino infeliz, mas de sua própria consciência sobre o que deve ser feito, e encontrar coragem para fazê-lo, pode haver arte sem o "mecenas"? Fausto quer poder, é assim que o pacto é feito na lenda, Hamlet quer coragem, pois sabe que a situação requer ação. Eis arte que dialoga com a arte mas não se esquece do nosso mundo.E, alfim, recaí sobre nós julgar Hendrik.
Surviving Life (Theory and Practice)
4.2 13Com o prólogo do Jan já imaginei que haveria de ser uma película um pouco mais simplista e com certo teor artístico abaixo do esperado, ele mesmo diz que os recursos foram limitados, o que não torna imediatamente um filme ruim, mas não é uma de suas melhores performances, porém ele ousa usar a criatividade para dar vida à esta obra. Ele consegue, deveras ao roteiro inusitado e surreal, porém até um pouco previsível em partes, mas repleto de elementos oníricos, bizarros e cômicos.
A ousadia de usar estes colocar elementos destoam este filme da normalidade do cinema padrão, porém há um enfastio provocado pelos excessos, e pelo tipo de recurso usado ao longo do filme, principalmente no tocante aos close-ups nas bocas dos personagens quando estes falam, e como em Alice, coloca no filme algo cansativo de se ver.
Mas Svankmajer é mestre, e eu o admiro, não poderia deixar de admirar este filme apesar das críticas a ele feitas por mim. É cinema que se faz por paixão.
Querô
3.5 127 Assista AgoraQuerô é de 2007 mas se assemelha muito a Pixote e até mesmo a Cidade de Deus e Carandiru em certos momentos, e por isso não considerei ousado o intento deste filme, foi algo mais do mesmo, apesar de a história ser bem interessante, considerei pouco desenvolvida e que não inovou em nada em termos de linguagem cinematográfica. As únicas partes marcantes que foram ousadas e saiam um pouco do realismo cru eram as do pensamento atordoado do protagonista, achei-as bem interessante, mas bem pouco exploradas, no todo é um filme bom, tem seus méritos, mas a denúncia pela denúncia já foi feita, haveria outras formas de explorar mais esta realidade, já fora por demais explorada temas iguais, porém com maior maestria.
Como cinema nacional não há nada de marcante que fique deste filme. Penso, porém, que pelo conteúdo deveriam ter se empenhado mais em criar algo à altura, as cenas violentas por vezes eram atenuadas por câmeras que não imergiam na situação, mas deslocavam o foco para as faces, se é para mostrar a violência que seja chocante mesmo, penso assim.
Holy Motors
3.9 651Essencialmente o filme é sobre a arte de atuar, e há muitos méritos na composição dos quadros, planos sequências muito bem feitos, há cenas que repugnam e outros que encantam, é um exercício ousado assistir ao filme, penso ainda mais em fazê-lo.
Holy Motors não merece a fama que tem, até porque deveria ser um filme experimental longe do grande público, e por ter atingido um público maior do que o esperado, talvez o julguem com menos valor. O filme é de uma originalidade que se perdeu no cinema recente, ele reinventa e renova a linguagem cinematográfica e não é quer se inserir nos pormenores de explicar a situação, elas acontecem, e se há ou não lógica não interessa. Apesar de que a narrativa ainda seja linear, não há como discordar que se fossem invertidas as cenas não fariam muita diferença, e essa ousadia é a grande maestria do filme. Portanto o filme é dirigido à um público especifico, que aprecia filmes experimentais e de arte.
As cenas no cemitério, dentro dos galpões e no teatro abandonado são merecedoras de aplausos. Sem contar o retratado da arquitetura que é bem visível, e achei interessante este aspecto, já que parece que o filme quis se entremear por diversas épocas, de começo uma mansão no estilo bauhaus, depois a Paris do neoclassicismo, mais adiante art nouveau em algumas cenas (como na entrada da estação de metrô e no teatro abandonado) e no final uma vila em estilo bauhaus. Sem contar a arte tumular mostrada. O filme é sobre a arte. Sobre o cinema, sobre as mil facetas de atuar. Não há que encontrar uma lógica, apesar de que eu gostaria de ver uma quebra da quarta parede nalguma cena para me satisfazer mais e ousar mais ainda.
O ponto negativo fora que por momentos há quase que um padrão hollywoodiano de se filmar e enquadrar os atores e as cenas, e a música cantada em inglês me causou uma certa aversão, assim como a escolha de atrizes estrangeiras como Eva Mendes e Kylie Minogue, que não sei o porquê, afinal de contas há ótimas atrizes francesas que poderiam ter sido colocadas naqueles papéis e assim soaria um pouco menos hollywoodiano o filme.Já que ele pretende ser uma obra experimental e diferente dos demais filmes assistidos pelo grande público,
Um Homem que Dorme
4.4 195A solidão em meio à multidão, o estático frente ao se mover, o cotidiano como rotina morta, a falta de sentido de agir, livros lidos, relidos e outros por ler que não serão lidos... filme muito poético, e que é assimilável por muitos pelos sentimentos e pensamentos colocados, afinal, é este vazio que corrompe o mundo, a tal modernidade. Tecnicamente o filme é resultado de uma montagem excepcional, o movimento das câmeras é imersivo e dá-nos que um olhar meditativo, o texto é excelente, e a narração feminina é interessante, pois o personagem é um homem, e estamos quase sempre acostumados com narradores homens.
A única coisa péssima é que o livro é quase impossível de se encontrar aqui no Brasil, merecia uma atenção especial, mas fazer o quê num país como este...
Arthur Rimbaud: Uma Biografia
4.0 5Documentário muito competente que foge à regra de quase todos os documentários biográficos, é relato encenado sobre o poeta meteórico que abalou o mundo, veio como um demônio e questionou até mesmo seus admiradores com seus modos de vida burguesa, participou da Comuna de Paris, e creio, que ali fora um ponto culminante para este abandono de ser poeta, pois ele depositara a confiança na mudança do mundo... só lhe resta o refúgio de ir buscar o que quisera desde de sua infância, viveu-as, fugiu de sua pátria, quis ser outro, quis abandonar o passado, mas, alfim, lá estava novamente para ser eternizado.
Fez o seu poeta interior morrer em vida, mas quando morreu o Rimbaud homem, nasceu o Rimbaud poeta eterno. Sem dúvida, o rebelde que encarnou mais que qualquer um os desejos da juventude contra as imposições, contra os velhos costumes, contra as regras, contra as leis, contra a família.
Rimbaud, segundo Paulo Leminsky foi o primeiro rokeiro, se lermos Uma Temporada No Inferno, é possível pensar mesmo isso, já que ele queria formas novas de amar, dizia que queria machucar seu corpo, cobri-lo de tatuagens. Um visionário!
Será que algum dia irá se encontrar algum outro escrito deste gênio que faça mudar a sua história de que abandonou a literatura? Seria um tesouro, uma tumba de Tuntankamon nova a ser descoberta.
E certamente, para quem viu Teorema de Pasolini, verá alguma coincidência (talvez muitas) com Rimbaud e sua vida, e com esse magnetismo que ele impunha aos outros ao seu redor.
Antiviral
3.2 159Não é um filme difícil de ser entendido, é difícil de ser apenas assimilado, por conter certas metáforas que poderiam ser melhor delineadas se pensássemos acerca da nossa própria realidade, ou seja, um mundo onde a população é aficcionada por celebridades, e dariam da própria saúde (talvez vida) para poderem ter algum contato com elas, seja visual, físico, etc. -- Poxa, este é o nosso mundo! -- Já há milhares pessoas que pagam para se expor em chuvas, em longas viagens, ficam endividadas (podem até vender os órgãos), matam, tudo para ir nalgum show. O filme simula um universo tal como esse, onde as celebridades são vendáveis a quem quiser consumi-las literalmente.
Há tanta alienação em torno das pessoas que não seria raro se acontecesse de um fã seguir seu ídolo e tiver a mesma doença, ou, até o mesmo fim. Basta ver que celebridades tem alto poder de influenciar o consumo. Vírus no caso, doença, carne, são só metáforas para o que já acontece.
Há ainda a insinuação sobre morrer jovem e ser eternamente admirada pela beleza, tal qual acontece com muitas celebridades, que querem se perpetuar e dão a vida para isso, morrendo jovens, tal como o ideal da Grécia Antiga de guerreiro. Não só os fãs se vendem, mas as próprias celebridades se vendem para serem consumidas, basta ver a extenuante gama delas que morrem em decorrência de uma vida agitada. Principalmente com artistas da música.
Antiviral
3.2 159Num universo paralelo onde fetos abortados são usados como adoçantes pela Pepsi-cola... rs
Incêndios
4.5 1,9K Assista AgoraA história é bem ousada, não é do Villeneuve, mas derivada de um livro, não sei se o relato é autobiográfico, mas é bem impactante. E o maior mérito do filme é em conseguir contar a trágica história da guerra civil libanesa. O filme faz um convite bem ousado ao mostrar que árabes também são cristãos, e cristãos também falam árabe e, assim, rompe com o estereótipo que os países ocidentais criaram atualmente. É bom acentuar isto, de que o ódio não tem lado, muito menos religião, e de que todos fazemos parte de uma mesma família: a humanidade. Sempre quanto possível devemos reflexionar sobre nossos atos, pois são ações que tem outras consequências que poderão eternamente ecoar e ainda causar outras consequências trágicas.
Villeneuve não me agrada muito com seu estilo de direção, porém aqui ele consegue dar atmosfera e prender o espectador ao próximo passo da jornada. É admissível que ele tem seu toque autoral, não o considero um primor, mas tem lá suas qualidades, porém ele na sua direção não ousa, não sai do lugar comum e não inova na narrativa documentária, o que ele faz já fora visto antes, e em Incendies dou uma nota alta não pela direção em si, que para mim não mereceu, que não ousou e foi muito convencional, muito hollywoodiana, mas dou pela história e pela documentação de um conflito que nunca havia visto antes no cinema.
A outra camada da história em retratar como tradições são estúpidas, e em como o amor é o que une a humanidade, e o mais importante, o filme consegue retratar uma mulher e toda sua luta em um mundo machista e opressor,
mundo este que levou seu próprio filho a estuprá-la e a engravidar. Relato cruel mas bem crível frente às possibilidades da capacidade humana de errar e cometer crimes, ainda mais contra mulheres. Mas o relato de Nawal Marwan é de uma mulher que também rompe com o estereótipo, ela é forte, não se deixa abalar, tem atitude heroica, está acima de qualquer herói homicida de guerra. Sua batalha de mais empenho é em amar aquilo que deveria odiar. Aí dessa consequência trágica é que somente o amor é capaz de romper com todo o ódio, e como o filme mostra, ela prefere começar a história como uma história de amor.
O Meu Caso
4.1 4Uma reflexão sobre a existência das pessoas, que pensam em si mesmas no sentido individualista e tentam sobrepujar seus problemas acima dos demais. É o puro egoísmo, todos num certo grau o tem, uns mais outros menos, mas sempre a pensar primeiro no "eu" individual do que no coletividade. O interessante é que a arte aqui do cinema é retratar um evento onde um intruso invade uma peça de teatro, ou seja, parou-se a arte para dar lugar a reflexão verdadeira da vida, e como diz o próprio personagem, que aquilo tudo é mentira, falso, "maquiagem". Eleva-se assim o filme numa metalinguagem que diz muito acerca da nossa vida, afinal, somos nós os espectadores da peça de Manoel de Oliveira. Será que temos algum caso pessoal mais importante que ver o próprio filme? O que é a arte senão uma fuja da própria existência sem sentido ou dos nossos tormentos, será isso?
As partes em que se divide o filme são um complemento para entender esta mensagem. Nós espectadores somos levados a ver todos os personagens como iguais, seus "casos" são irrelevantes perante algo maior, e em certo momento nem falam, se igualam numa não-linguagem, se equivalem em suas irrelevâncias existências perante o todo que é muito maior que a particularidade.
É um exercício existencial, que entremeado por um texto de Beckett dá um tom de ironia sobre nossa existência e, reflexiona que o não existir talvez seja a melhor coisa possível. Mas há ainda um contraponto, que é o desfecho; uma expectativa de alguma gratificação. E a queixa existencial das nossas desgraças individuais é tamanha que nesse desfecho se encontra um diálogo provocativo dos maiores, àquele que mais nos deve resposta é justamente àquele a que devemos a nossa própria existência. Podemos ver tudo ao redor ruir, e aparece Jó num mundo apocalíptico se queixando com Deus de sua desgraça pessoal. Os atores que eram o que o intruso desprezava agora são seus parentes, a quem deveria ter alguma estima. Significando que todos fazemos parte de uma mesma família, de algo maior que o egoismo bloqueia de nos fazer pensar. Há uma recompensa ainda porvir.
E neste desfecho o filme se encerra da maneira oposto ao que começara, o filme começou com a interrupção de uma peça, uma obra de arte é interrompida por alguém que se indaga que aquela farsa não é mais importante do que "seu caso" pessoal, e que ele tem mais a dizer que aqueles atores. O filme encerra-se com a arte se mostrando ainda como o final de tudo, insinuando que ela é a maior obra humana, talvez o sentido existencial, mesmo para aqueles, que como Beckett, tendiam ao niilismo. O triunfo da arte sobre a significância da vida é posto, o "sorriso" emblemático de Monalisa surge carregado por alguns personagens.
Quem fora Monalisa ninguém ao certo saberá, mas seu emblema se afigura intacto na arte como algo admirável. A existência da figura retratada e sua vida pessoal não importam, não há como sabê-los, mas sua existência para a arte tem um sentido grandioso. É um ícone. Monalisa não tem seu caso retratado. Mas retrata a arte, que é obra dos homens.
Heavy Trip
3.5 39Tá aí um filme com ótima fotografia, direção de arte e trilha sonora que é uma comédia! E contém cenas hilariantes, pena que o roteiro tenha uma certa previsibilidade do que aconteceria com alguns personagens, e mais para o final do filme haja muitas coisas absurdas. Mas é legal ver o que é o preconceito com quem curte heavy metal e a pira de alguns militares (ou mesmo de europeus) que só esperam alguma ameaça terrorista acontecer, mesmo que não acontece.
Citação do Dio nem se fala, é uma sacada pra ver que há muita profundidade nalgumas letras de heavy metal.
A História dos Números Primos
4.6 1Que doc ruim, putz... mal explicado, chato, parado. Sem nenhuma ousadia em criar algo diferente... nem terminei de vê-lo, há outros melhores. No começo é quase como uma ode à numerologia.
O Peixe Grande & Begônia
4.0 211 Assista AgoraEsteticamente deslumbrante, cores vivas, personagens bem feitos, cenários detalhistas, uma animação ousada e bem produzida, que compete diretamente com as animações japonesas, e das que já vi, creio que supera muitas em qualidades técnicas.
O problema é mais pessoal, já que não assimilo tanto assim essas mitologias orientais utilizadas em animações, por serem por vezes muito confusas, entendo que é a minha disposição, e creio que para quem goste de animações orientais há uma obra aqui a ser admirada e aclamada.
Outro ponto é que há ainda um certo padrão e um estilo bem característico nestas animações, como o roteiro; a história é quase sempre previsível, as músicas épicas nas batalhas, aquela coisa por demais emotiva, etc. Por não sair desse lugar comum o filme não me agradou tanto, e neste aspecto não houve ousadia. O que mais prevalece sempre uma padronização mesmo. Eu queria mais ousadia, e esperei por isso. Mas...
Gabriel e a Montanha
3.7 141 Assista Agora"Largou tudo e foi conhecer o mundo" --- é o que dizem. E a atitude de Gabriel é mesquinha, principalmente porque ser um turista sem dizer sê-lo, quer andar de elefante, quer ver gnus, quer se aventurar sozinho como se tivesse mais inteligencia que os próprios locais, é soberbo demais. É de uma pretensão sem tamanho.
Oras o apelo sentimentalista e este quê de heroísmo virtuoso que muitos veem não existe, é apenas mais um turista que quer tirar fotos dos locais onde se sentem mais elevados pois há um desafio, sem contar a impertinência de querer se mostrar o superior mesmo quando as condições não favorecem Gabriel. São situações onde a personagem provinda de um mundo materialmente melhor crê que pode superar aquela população "pobre e atrasada"; É tipo isso, em certo sentido.
E, diferentemente de Into The Wild, aqui não se coloca grande questões não, aqui de fato impera o egoismo, porque ele tinha família, amigos, namorada, já com Alexander Supertramp não, era o abandono total, ele não usa nem o dinheiro que ele tinha, ele o queima de início, assim como abandona seu carro, são filmes diferentes mas que estão sendo comparados. Supertramp abandona a carreira dos sonhos na faculdade, portanto já não se identifica com aquela sociedade, possivelmente por lr autores do calibre de Tolstoy, Dostoievsky, Thoreau, Jack London, etc.
McCandless tinha em si não uma questão de conhecer ou escalar montanhas para se superar, mas ele queria a solicitude para poder pensar mais sobre a vida, ele queria encontrar algo mais íntimo e maior no refúgio natural longe da sociedade. Com Gabriel é superficial isso, até porque ele já está no seu doutorado, e só aí percebe que o que estudou não influem no mundo, mas mesmo assim, o que transparece é que ele foi apenas mais um mochileiro do que um buscador de algo. Era apena uma jornada física com objetivos físicos e não metafísicos ou espirituais. Bastava ver que ele tirava exaustivas fotos de tudo que para ele era exótico e mantinha contato com e-mails, redes sociais, internet.
Quanto ao filme, as falas são rasas, vazias, por vezes infantis e bobas, não fogem ao clichê, e ao que foi esperado, assim como a bela fotografia não salva o filme de ser chato e desinteressante, não tem uma trilha que prende, e nem uma direção de arte que inove nesse tipo de filme, principalmente na câmera de mão nos momentos finais de Gabriel, poderia ter melhorado e utilizado coisas mais ousadas, porque todo filme que vejo no canal Brasil tem esse padrão de normalidade de mesmo a fotografia sendo bonita nunca se inova em nada.
O Estranho Caso de Angélica
3.4 40Há algumas horas assisti ao Os Canibais de Manoel de Oliveira, já havia visto Non ou a Vã Glória de Mandar, e estes considerei excelentes, filmes que verei sempre que puder, mas aqui não é o caso, filme que me deixou não só entendiado como que desagradado quanto aos efeitos, ao roteiro, atuações (principalmente a da atriz brasileira, que é muito artificial) e ao desfecho, sem contar que não entendi muito o porquê de a história ser passada na década de 50 e o cenário e principalmente os carros serem atuais. Não entendi isso, e não consegui digerir.
Os únicos pontos que me tocaram foram a beleza de Angélica, assim como todo o enquadramento e a fotografia, a trilha sonora que não é ousada mas está bem encaixada e as referências literárias, principalmente já de início com uma citação de Antero de Quental.
Os Canibais
4.1 5Uma obra do genial Manoel de Oliveira de uma qualidade ímpar como esta me entristece de não ser tão conhecida, e para poder vê-la há a necessidade de um exercício hercúleo para poder encontrá-la nalgum canto escondido da internet.
Mas está feito! Mal sabia do que se tratava o filme, e a ousadia da utilização de ser uma ópera dá um toque mais artístico e eleva o nível à uma arte sublime, e o desfecho, por demais bizarro, é o que impacta e se contrapõe com toda essa arte de início. Como se trata de um filme num formato peculiar de ópera, é necessário legendas, que não foram difíceis de se encontrar.
Um filme que me surpreendeu, o segundo desse diretor que pude ver, e sem dúvida, não será o último.