A arte de falsificar ainda assim é uma arte, a arte feita por um falsificador é arte, o que é feito por um artista é arte, até mesmo quando aquilo seja mentira, ou no caso uma ficção também é arte, assim como Welles insinua a si mesmo quando explorou o sensacionalismo quando narrou um capítulo da Guerra dos Mundos no rádio. Era mentira feita de arte, e aquele mentira se tornou parte da própria história da humanidade.
São tantas coisas a se pensar sobre, mas lembro muito bem quando li sobre Di Chirico, que falsificava a si mesmo, pois um período de seus quadros era mais valioso... portanto, se existe um mercado que demanda de algo, mesmo que inexista esse algo, poderá ser criado, e quem fará aquilo ser verdade não é o falsificador.
Filme meio sem sentido, se perde em sua própria história, há uma parte longa onde nada acontece e outra onde tudo se passa rápido demais e superficial demais. Acho que este filme é muito superestimado, não há nada de interessante nele, não há nenhuma inovação, achei que o gore seria ainda maior, mas nada, sonolento e fraco...
O filme é empolgante, mesmo contendo elementos visivelmente impactantes já no início, e não perde seu encanto e delicadeza mesmo ao tratar de temas polêmicos e tabus. A trilha sonora é um caso à parte, incrivelmente bonita e ao mesmo tempo polêmica com uma mensagem importante e necessária.
O filme não só tem intuito de retratar a militância pela emancipação feminina de apenas um ponto de vista, mas tem um percurso que acrescenta mais coisas à trama, como os questionamentos do que é amar, do que é ser feliz, do que é uma vida ideal, do que é viver, coisa comum para todas as pessoas. E a incursão que as personagens tomam durante esse percurso demonstra que há outras formas de se viver e se considerar livre ou feliz, o que para uma personagem poderia ser considerado o ideal de vida e uma meta a ser atingida, para a outra já não é o caso, e o nome do filme já diz muito, uma tem vida boêmia, mais dinâmica, mais ousada, e a outra mais apegada a uma vida familiar mais comum, mas ambas querem ser felizes e livres, e querem encontrar um sentido às suas vidas.
em certos momentos transita entre um mundo romântico e um mundo tal qual o dos hippies, uma vida mais nômade, e há uma incerteza com a personagem, e pelo menos para mim, pareceu que ela sofria de uma certa depressão, de um entusiasmo grande em certas ocasiões e em outras era totalmente apática, até mesmo o oposto do que idealizamos para alguém que consideramos um ideal a ser seguido, Pauline trata seu filho como um mero objeto, e chega num acordo com o pai de que para compensá-la ele deveria dar uma outra criança a ela, como se assim a vida assumisse um valor de mercadoria trocável, e isso pecou a imagem que tinha da personagem, porém é deveras real que grandes pessoas em alguns momentos de suas vidas foram totalmente humanas e deslizaram em suas ações, e por vezes eram totalmente desvirtuosas, portanto pode ser mais um aspecto do próprio ser humano, o que não invalida a obra e os ideais de Pauline.
Ousmane Sembene conseguiu colocar as questões femininas e feministas na tela com muito mais precisão do que muitas mulheres, aqui a crítica gira em torno não só do racismo, mas do passado colonialista, do machismo, e claro do capitalismo.
O filme é impecável na fotografia, e é bem direto ao ponto, não é nada agradável apesar de ser sútil na sua linguagem. Se comprova que os países desenvolvidos só desenvolvidos devido ao seu passado de colonização, exploração e escravidão, e isto ainda se mantém, nas sociedade capitalistas isto é mantido como mão-de-obra barata ou como mão-de-obra ilegal, como hoje pode acontece em Dubai ou a Arábia Saudita, onde as empregadas domésticas estrangeiras, de países periféricos mais pobres, têm exploração semelhante à retratada no filme, recebem promessas, porém são consideradas como semi-escravas ou escravas.
No Brasil há também essa herança, e casos assim não são raros, mas tendiam a diminuir com um governo progressista... agora talvez volte a crescer.
E outrora disseram que "Que Horas Ela Volta" era um filme que impactou lá fora por mostrar essa realidade onde havia uma empregada doméstica pobre que vivia num quartinho num regime de semi-escravidão para servir uma família de classe média ou burguesa - oras como são civilizados estes (principalmente europeus, que amaram ao filme)... mas não, era apenas hipocrisia, a mais simples e pura hipocrisia.
Takashi Miike é realmente um diretor muito versátil e que tem uma filmografia incalculável. E por está experiência e pela quantidade de filmes já feitos consegue se dar bem nas bizarrices que se propõe a fazer. A Felicidade dos Katakuris é bem dirigido, contém humor, os personagens têm carisma suficiente para manter-nos conectados com eles. A inovação do filme é no uso incomum do stop-motion e a retirada em certos momentos dos atores e paisagens para maquetes e bonecos de massa de modelar, lembra bem o que Svankmajer faz, mas aqui é mais incomum o uso porque é impensável que um diretor ousasse introduzir esses elementos todos num filme como esse.
O ponto alto fica para esta ousadia desta cenas, e cativa em certa medida por ter uma fotografia legal, mas a história e o roteiro não têm lá muito de genial, é fraco e raso, e o uso mirabolante dos efeitos e elementos incomuns, assim como das músicas, é o que prende mesmo o espectador. O grande mérito de Miike é que ele realiza muitos filmes em curtos períodos de tempo e muitos com orçamento limitadíssimo.
É um filme que para mim foi mais para matar a curiosidade do que para entreter ou acrescentar algo ao cinema, não assistiria de novo, mas a experiência é válida, mas pecou ao final em tentar dar um teor filosófico e profundo ao sentido da vida e da felicidade.
Li o Fausto de Goethe na versão portuguesa várias vezes, e é um livro pelo qual tenho enorme apreço. Pois é atemporal, contém filosofia na sua mais ácida vontade de compreender e poder sobre o mundo.
Svankmajer não poderia fazer algo não proveitoso com a história, o faz, mas se supera ao colocar seu toque pessoal na obra, e o filme invoca elementos que vão desde o teatro clássico ao teatro de marionetes, os elementos se misturam numa fusão alquímica única, torna-se ouro! Fantasia e realidade, cenário e paisagem, bonecos e atores, tudo no filme é maravilhoso. É um trabalho monumental, o filme é muito bem construído, tem uma montagem que consegue dizer muito, o filme condensa quase toda a história numa linguagem visual, e recusa a língua falada - e assim o próprio filme insinua-se sobre si mesmo - basta lembrar quando há o diálogo entre Fausto e Mefistófeles onde este diz que a linguagem humana não pode compreender todas as coisas do universo. E a sutileza em como isso é mostrado no filme é o que alça-o a um patamar único no cinema, e talvez seja essa obra a que melhor consegue captar a obra de Goethe, mesmo sendo uma adaptação, ela consegue acrescentar coisas novas, ao contrário da ousada e fraca versão de Sukorov, aqui os limites foram rompidos, e tal como Peter Greenaway faz, Svankmajer também coloca o teatro dentro do cinema para mostrar mais uma vez que o cinema não é a evolução do teatro, ou que o teatro é um estágio anterior ao cinema, mas diz que, ambos podem se encaixar um no outro, e o cinema possibilita inúmeras abordagens.
A cena do homúnculo é muito emblemática, ali há um cruzamento com a Cabala, é um golem a ser criado, e tem todo aquele detalhe de dar vida à matéria inanimada através de colocar um papel com palavras mágicas na boca do ser, remetendo assim ao "no princípio era o verbo", e dá linguagem se faz a vida, mas a capacidade da linguagem humana é limitada, como dito no filme, Fausto desmancha sua criação. A linguagem tem papel central no mito, pois o pacto é pela palavra, assinado com sangue que é o que representa a vida, a invocação é pela palavra, e quando ela não mais pode ser utilizada há o questionamento sobre aquilo que não se pode dizer.
Este filme é aquele tipo de filme que não poupa críticas a quem quer que seja. Ousmane Sembene por ser africano e por ter tido um passado proletariado e participado do sindicalismo, assim como como vivido na Europa, tem uma visão mais ampla da própria cultura do continente Africano, seja dos costumes tribais, seja dos costumes religiosos, seja dos costumes que os colonizadores trouxeram, e há aqui o choque entre a manutenção de uma cultura baseada num rito pra lá de questionável, que impacta diretamente na vida de mulheres e pode em muitos casos acarretar morte e dor a vida toda, e a não aceitação desta submissão.
O filme não poupa em tentar amenizar a situação nem mesmo para algumas mulheres que seguem a risca uma tradição cruel e são cúmplices nisso, há um embate diretor entre a cultura arcaica e a ideia de progresso, e é em muitas cenas visível isto, há um contraponto, há uma simbologia minuciosa para detalhar isso, e as ameaças ao status quo é reprimida da forma mais cruel possível.
Visualmente deslumbrante, passado num lugar bucólico com uma arquitetura peculiar, ( dessas que atrai muitos turistas, que hoje em dia chamam de orgânica), as vestes das personagens são exuberantes, assim como seus laços comunitários são, e soam bem diferentes dos nossos hábitos ocidentais. O filme traz questões da luta de classes, que o machismo é uma parte disso ao passo que consideram a mulher uma classe inferior, e que cumpre o dever de ser a geradora de filhos para o patriarca e uma certa divisão do trabalho. Cabe à elas a submissão, principalmente quanto ao que é tabu, como se contrapor à religião ou a própria cultura. É um trabalho monumental este filme, que geraria debates imensos. A experiência de vê-lo é única e, certamente, um marco não só no cinema africano, mas mundial.
A nota que dei é mais pelos gráficos da animação que do pelo filme em si, que é extremamente chato, piegas, e não tem nenhum clímax, sem contar a falta de uma trilha sonora que faça a imersão na trama.
O livro é sem dúvida muito bom, e é impossível colocá-lo numa obra cinematográfica, até porque isso seria algo que nunca iria ter um ótimo resultado, afinal, é um cachorro o protagonista. Mas aqui falta emoção às personagens, nem mesmo os vilões se saem bem, tiveram que apelar ao aspecto físico grotesco para causar este impacto.
Ontem mesmo vi a versão da Disney, que é um bom filme, não excelente, mas ainda assim consegue ser uma adaptação melhor, tem uma fotografia excelente, tem todo um trabalho de reconstrução de cenários, e as personagens têm quando carisma, os vilões tem o ar desprezível sem apelar à aparência física.
O livro é emocionante, e transmite uma liberdade selvagem, diferentemente dos filmes da Netflix e da Disney, que não puderam transmitir isso. Afinal seria pouco provável que as críticas quanto à civilização aparecesse de forma perceptível nos dois, mas não há nem isso.
Quando mais novo era um dos meus filmes favoritos, pude ver e não é mais, mas marcou minha infância, sempre assistia ao filme, o problema é que o conteúdo virou algo padrão "Disney" e aí perdeu o que poderia dar, mesmo que fosse uma adaptação. O destaque fica pela ótima fotografia e a trilha sonora, de resto é filme comum, mediano. Longe do que é o livro, que é por demais emocionante, e é focado no Caninos Brancos e não neste protagonista. O bom é que por gostar bastante do filme soube quem era Jack London e pude assim ir atrás de seus livros.
Pra não dizer que detesto o Woody Allen, que pra mim é além de uma pessoa desprezível, alguém que nem tem tanto talento para fazer um filme, porque tudo que ele faz é superestimado e a legião de fãs gourmet dele o consideram excepcional, mas os filmes são, quando muito, medianos.
Em Homem Irracional há grandes questões filosóficas e morais no enredo, e a levada amena e cômica ainda prende um pouco a atenção, e isso é até um ponto alto para o filme, mas é bem superficial às vezes isso. E se não fosse um aqui e outro lá de citação de alguma coisa do campo acadêmico poderia dizer que o Joaquin Phoenisx, que até tem um papel aceitável, poderia ser o Adan Sandler, e daria quase no mesmo se os atores fossem trocados, é claro, que para o último haveria uma linguagem mais chula e também o mesmo romancinho com alguém. E essa comparação não é absurda, até porque é um filme mediano de comédia boba, mas como disse, tem algumas questões interessantes a serem consideradas.
No mais é aquele coisa pseudo cult, que pretende dar um conteúdo soberbo e repleto de elementos reflexivos mas não sai do lugar comum de um filme de comédia, o toque aqui é a justificativa para a ação, o desfecho nos levanta estes questionamentos, mas que foram mal executados, ao menos o nome irracional no nome do filme é bem acertada, porque o existencialismo e todas essas questões são quase que estritas do campo irracionalista da filosofia.
O anterior, o Ato de Matar, é mais perturbador, esse tem um tom meio vago em tentar apenas saber e ficar cara a cara com os assassinos ou colaborados daquele tempo que nunca parece ter acabado.
E muitos dos assassinos disseram "Deixo o passado no passado" e "Se ficarmos falando do passado vai acontecer novamente."... Creio que é fundamental falar do passar, fazer uma arqueologia que não a dos vencidos para dar luz ao que ocorreu, principalmente quando milhões de pessoas inocentes morrem nas mãos de gangues legitimadas e lideradas por um exército.
A proposta é bem ousada, pois nunca havia visto um filme no idioma basco e foi uma sensação única, até porque o idioma e o povo basco tem um ar de mistério quanto ao seus ancestrais, derivam de um outro ramo de povos. E é sobre uma lenda folclórica que fora reproduzida em um conto, então, aqui eu vejo que a Netflix tem um potencial bem amplo para estas regionalidades atingirem um público mais amplo, e também, de serem patrocinadas.
O filme não é um filme de terror que assusta, é mais como um conto fantástico, pois é folclórico, assim como aquelas história de literatura de Cordel que contém a figura do Diabo, ele sempre é sacaneado, trapaceado, etc. E o intuito é retratar a figura com uma abordagem para gerar risos, aqui é evidente que é isso. E o filme se saiu muito bem, a fotografia, a direção e a maquiagem foram excelentes. Contém aquele humor negro igual a do Alex de la Iglesia faz em seus filmes, e seu nome em meio a esse filme foi o que me chamou a atenção para poder vê-lo.
Baixei o filme sem nem saber que era uma produção da Netflix, e a busca e as sugestões da Netflix nunca me indicaram este filme, nem mesmo quando procurei por filmes estrangeiros, terror... etc, e quase sempre os indicados são sempre os que estão em alta e quando os vejo são "mais do mesmo".
Não entendi qual a vibe desse filme que conseguiu conquistar uma fama além do que deveria. Ainda bem que eu não vi a série, porque, pelo filme, é bem chato, nada acontece, nem tem uma explicação sobre nada, e o que gera tensão é só o clima de suspense.
A previsibilidade é tanta que eu já bolei onde eles iriam desembocar e quais os tipos de pessoas se dariam melhor numa situação dessas.
Não assimilei o conteúdo, até porquê não tem muito a ser assimilado, portanto para mim o filme tem uma pretensão imensa em tentar ser transgressor e subversivo, mas não causa nada além de ser bobo. É um tanto quanto vago, e fora feito quase nos anos 90, e nessa época o cinema já havia vandalizado o que havia de mais sacro. Nem espanto causa, apesar de algumas cenas tentarem isso, e para alguns ainda possa fazer algum desconforto. Pareceu uma tentativa de recriar o cinema marginal da Boca do Lixo de São Paulo com alguma outro mistura de um anti-herói pervertido, louco, e ao mesmo tempo refém de um mundo que a única fuga capaz de dar alguma liberdade é a não existência.
A atuação do protagonista é excelente, por diversas vezes pareceu-me mesmo um louco, o filme não é confuso, então o roteiro não é lá uma grande coisa, mas o mais interessante é que há momentos que se torna documental o que se mostra, como nas cenas onde se vê a crítica ao governo Sarney feito pelo PC do B, na parte onde se mostra militantes do PT com a bandeira do partido junto ao povo negro, etc. Eram tempos onde a esperança na política era maior. O filme ao menos nesse quesito documental de uma época é interessante.
Mais uma vez eu tenho que ser o dissenso por aqui. Mas... Vamos lá!
Primeiro que, não sei nem porquê insistir em ver todo o filme, pensei ser uma animação, e era, mas somente nas primeiras partes.
O resto foi apenas um vídeo clipe com ideias difusas, atuações exageradas, e músicas ruins que foram mal interpretadas, dava pra ver bem que era uma dublagem, principalmente nas cenas finais. E, até vi por causa do Childish Gambino, que foi ousado e lançou aquele "This is America"... nada de uma música excepcional que fugia aos padrões já pré-estabelecidos pela indústria musical estadunidense, o clipe não propositalmente, foi divulgado aos 4 cantos do mundo por todos veículos jornalísticos, atingindo uma quantidade de views muito grande no youtube em algumas poucas horas, era bom, a coreografia e as encenações impactantes, a violência e a forma crua como foi confeccionado causavam uma sensação profunda ao espectador.
Era uma crítica ousada, direcionada aos EUA, tendo como pano de fundo várias ideias abordadas em forma de símbolos que tentavam evidenciar e escancarar a hipocrisia do país; racista, violento, segregacionista, com policiais que matavam negros só por serem negros, etc.
Aqui neste "vídeo-clip" algumas pitadas de uma dose de politicagem em forma de paródia, para dar aquela cutucada no regime cubano ou nos países que não são alinhados com os EUA ideologicamente, ou seja, aqueles que mídia taxa como ditaduras. E, não pode passar batido que a ideia é que existam dois grupos opostos, que por ora um se sobrepôs ao outro no controle da exploração das riquezas e da mão de obra, que "America" (como dito) era apenas um conceito que se aplicava a quem queria ser seu próprio patrão, e que era também igual ao regime da ilha fictícia que muito se assemelha com a própria Cuba, ou seja, em ambos não há a liberdade. (e o filme fora gravado na ilha -uau!), mostra um ditador que pensa que tem o controle do que é bom para o povo e proíbe assim o exercício da livre manifestação tanto política como artística (acaso forem duas coisas opostas e não são), e é evidente que a intenção fora mesmo parodiar o regime cubano, ou até mesmo outro país vizinho ao nosso. Mas, é uma crítica vazia e proposital, porque apenas repete os mesmos jargões de sempre, nunca mostra a realidade tal como ela deve ser, e mesmo que digam que a intenção aqui não fora essa... não sou assim tão ingênuo ao ponto de negar o óbvio.
Pra começar, é impactante a direção de fotografia e arte, as cenas são bem fotografadas, enquadradas, têm tonalidades que lembram filmes gravados na década de 60 ou 70, a coreografia é bonita, as cenas são bem compostas, a cena com o cortejo é impecável e lembrou até Jodorowsky, mas... mesmo com as cores saltando aos olhos, assim como a clara inspiração em Cidade de Deus, como já exposto pelos jornais acerca da obra, é óbvio que a fotografia detalhada tem um recorte; um recorte da pobreza e da precariedade dessa ilha, do povo que, alegre, quer apenas festejar, porque dançar é ser livre e é viver, a arte é um exercício ousado de rebeldia que garante a liberdade... Aqueles clichês de sempre, misturados com um tom ameno acerca do capitalismo e o socialismo/comunismo não serem opostos, mas ambos iguais na exploração, e no cerceamento das liberdades individuais, ou de que ambos tem em si o germe de serem ruins porque não consideram outros pormenores dos indivíduos e cerceiam as liberdades. Embora não queria entrar em conceitos difíceis, temos que ter em mente que um sistema visa a exploração e o outro (em sua síntese) a abolição da exploração. Porém, aí é conceitual o que consideram liberdade ou não, pois uns pensam que ela seja ser livre para consumir, outros que seja livre para usar drogas, etc. São muitas as tentativas disto, mas a liberdade de uns não é a de outros, e daí a confusão conceitual, pois para um a liberdade é individual, para outro ela é da extensão de que só se pode ser livre quando outro ao seu redor é livre, ou quando todos tem os mesmos direitos, igualdades e oportunidades, etc.
Nada desloca do seu tempo, e a obra vem a calhar nesse momento atípico que passa o mundo (talvez nem tão atípico assim, porque fora já previsto), e o tom nesta crítica recai mais para um lado da balança. O mundo pendendo ao nacionalismo, ao sentimento de que devemos superar ideologias, e cada um ter sua vida, e que o que importa é cantar/dançar, e para outros (no caso dos ricos) é ficar cada vez mais ricos, ou, seja, deixar os pobres mais pobres. E é nesse contexto que situo este filme, numa tentativa de ataque aos sistemas ideológicos opostos ao capitalismo. E é até forçado demais, porque cortina-se através de uma ficção, de uma tal história, mas sabemos o que de fato é, e assim, tomando esta direção, fica meio nebuloso para alguns o que é a mensagem, e dá um tom apolítico para a arte como forma máxima de expressão da liberdade. Assim, como passa o mundo, é tipo um "nem esquerda, nem direita, pra frente"... quer dizer, crítica vazia e que se mascara como despolitizada mas é politizada e tem uma intenção clara e bem direta a quem compreende um pouco o mundo em que vive e sabe se situar nele.
A história de muitos ninguéns que preferem beber champagne na estrada, pois, talvez seja melhor. Aqui temos um tom dramático sobre uma desconhecida, e a história já se inicia trágica, pois parte do encontro de seu corpo congelado numa vala, e segue nos pormenores antes do incidente/acidente da bela jovem.
É impossível ter certeza, mas ao menos podemos pensar no porquê dessa fuga da sociedade, desse querer ir a lugar nenhum, e, ao meu ver, pelo semblante triste não era uma busca para algum aprendizado e muito menos por liberdade, mas era apenas uma fuga por não se ter para onde ir.
E segue assim com os marginalizados, que pouco conseguem, talvez devido aos traumas, se enraizarem ou se encaixarem nalgum lugar de maior conforto. Pareceu não um querer encontrar a si mesmo na solidão, mas querer se afastar dos outros pois nada se encontra neles. É uma fuga de tudo e de todos, e numa hora ou outra até se encontra alguém com quem se compartilhe algo a mais, um sorriso, uma história, um cigarro, mas, no fim estamos sempre de partida, das estradas ou da vida, infelizmente ou felizmente para alguns, pois a vida, que deveria ser celebrada é apenas uma dor constante. É um estado de fuga, e fugir da realidade é o que faz com que sabemos da existência de drogas nesse mundo (não é só isso, claro, mas um dos fatores é).
Me lembrou (definitivamente não teve como fugir desta comparação) o Into the Wild, porém de uma forma mais dramática, sem aqueles sorrisos de Supertramp, menos romântico; aqui os sorrisos logo são seguidos por apatia e decepções, sem contar, é claro, o fato de ser mulher o que eleva em muitas vezes a periculosidade de estar sozinha pedindo carona e sem qualquer companhia. Um homem quando exposto ao mundo das estradas sem fim não sofre o que uma mulher pode sofrer. Aqui Mona parece não ser alguém vinda de um padrão de vida elevado e de uma família estável economicamente, ela não tinha um futuro pelas frentes como no filme americano.
Comparo ambos, mas são tramas talvez que se originaram num ponto em comum, mas são diferentes, e complementares, é sobre o drama de existir, mas não que a existência seja ruim por si só, mas que pelos outros ela se torna uma fardo terrível.
É deslumbrante esteticamente, as cores dos néons dão um charme, e isto me lembrou Paris, Texas, que também não curti muito, mas que tem em si uma legião, igual a este aqui, deveras mais ao apelo visual e o efeito colorido de ambos, e as histórias melancólicas, etc...
Mas nem a potência da frenética câmera que cria imagens distorcidas aliada a uma trilha sonora envolvente não me despertaram muitos sentimentos, é bonito, e isso é fato, assim como algumas cenas são interessante e bem montadas, outras são bem idiotas, outras apelam a efeitos que me lembraram outro filme do mesmo diretor, Cinzas do Passado, que como esse, nas cenas de ação e lutas tem um efeito que geram um borrão nos movimentos, uma distorção, uma menor quantidade de frames e uma câmera lenta, e efeito este que me entediou, empobreceu o filme, este o ar de vídeo-clip (ainda mais dos anos 90) poderia vir a ser algo aceitável à época. E ambos os filmes entendiantes, que deveriam ter sido bem reduzidos, com roteiros estranhos, situações que não dizem nada.
As história paralelas não fazem muito sentido e não tem muito o que falar, é o submundo, mas não se adentra nele como em outros filmes orientais do mesmo estilo, ficando apenas um pano de fundo para que se desenvolvesse um visual incrível, cenas de tiroteios, brigas, movimentos rápidos, e demais elementos de filmes de ação, mas no caso aqui é um drama que se direciona a ter um tom mais artístico, mas a fundo mesmo não tem muito a dizer a não ser duas histórias paralelas que não exploram muito suas personagens, nem seus mundos, é tudo muito vago, muito entendiante.
E será um esforço imenso assistir outro obra do mesmo diretor.
É claro que quero ser dissidência por aqui. Pois o filme fora nomeado ao que chamam de máxima celebração do cinema... como se isso fosse algo que comprovasse a qualidade das obras por si só.
E aqui neste os efeitos especiais são tão exagerados que nem devo deles falar. Mas isto foi o principal para sua badalação. E, claro, filmes que abusam de CGI e de universos que não o nosso, explorando a ficção científica rasa, de pano de fundo, podem de fato ganhar, pois não foi pouco a grana para a confecção do filme. Mas houve cenas que foram péssimas, como daquela dos aliens adentrando Wakanda.
Mas o filme em si não é nada além do que se espera (pelo menos eu) de um filme de super-heróis feitos para crianças de mais de 20 anos. Sempre dentro daqueles padrões, sempre com aqueles mesmas sequências, sempre dentro do esperado, e não sai disso. Nada de novo, nada de novidade, nada de criativo, só a evolução dos efeitos... Mesmas piadas bobas, em contextos nada a ver, com tentativas de alívio cômico... aí, chega a dar vergonha, como na parte em que em Wakanda uma personagem diz que pensou que abrir Wakanda seria para as olimpíadas ou para ter uma loja da STARBUCKS !!! (WTF?!)
Conteúdo poético imenso, que demonstra que o otimismo sempre deve ser uma constante mesmo naqueles que se veem espoliados de qualquer pose material ou até mesmo da vida. A obra mostra que aqueles que lutam ao lado dos oprimidos nunca morrem, eles ressurgem, ou seja, ressuscitam, se tornam mártires. Já os traidores morrem, e são apagados pelo tempo, quando lembrados o são sem qualquer honra.
Me interessei bastante que apesar do conteúdo ser claramente sobre uma tese de base materialista, ainda assim, não invalidam a religiosidade e a espirituosidade. Em certos momentos se mostra que, como o filme diz "Salmos Vermelhos", que àquelas canções e história são mais que algo político, mas algo libertador, algo ligado com uma religiosidade que busca a felicidade dos oprimidos, algo que o cristianismo prometeu mas que não cumpriu, e se conluiou com os poderosos para manter sempre o status quo. Os que monopolizaram tanto Deus, a religião, a fé, as propriedades, não podem ser pessoas de boa índole. Em certo ponto demonstra que todas as formas de diálogo com um opressor são falhas, ou mais à frente desmanteladas, e no encerramento do filme se mostra clara a mensagem, de que lutar não é um crime, mas sim uma virtude.
O otimismo que é mostrado, com danças, músicas, festejos e muita coragem é o que mais impressiona no filme, assim como as letras e os diálogos à causa emancipatória da humanidade.
Interessante o resgate que o documentário dá a algo que se perderia da maioria das pessoas, e sobre abordar não só a obra mas também a infância e as possíveis causas e traumas que o fizeram ser assim tão recluso, e talvez, mentalmente instável mesmo.
Mas o interessante não é apenas mostrar o mundo de refúgio que essa criança crescida queria criar e viver, mas em mostrar claramente como as instituições (tanto a família, a igreja, o colégio, os reformatórios, casas de saúde pública, etc) tiveram papel determinante para o tipo de personalidade a ser moldada.
O abuso, o abandono, a violência e a situação de escravidão explícita na infância são absurdos que aconteceram, acontecem, e que se não ficarmos mais atentos podem de novo voltar a serem normais e aumentarem numa proporção incomensurável. A infância deve ser protegida. E o Darger mandou esta mensagem claramente para aqueles que puderem ler, tamanho o trauma que viveu.
Em termos artísticos e estéticos não há como pontuar algo negativo, a textura usada, as técnicas, onde se observava claramente pinceladas, dando um tom maior de arte manual e artesanal ao longa foram pontos que me impactaram e fizeram a avaliação subir alguns pontos, sendo um longa de animação brasileiro me surpreendi ainda mais.
Porém a história é bem básica, simplista e o roteiro deixa um pouco a desejar, o andamento fora um pouco previsível, embora todo o conteúdo tenha um apelo poético e simbólico enorme (principalmente para a crítica a nossa sociedade onde o medo é lucro para alguns) isso contribui bastante para que a ideia do filme seja melhor expandida para um horizonte que seja familiar ao nosso entendimento. Para muitos o filme fora claro em sua mensagem otimista e de união para quem lucra com o medo.
Embora o conteúdo possa também não ser de todo assimilado pela maioria, deveras à lupa ideológica que imprime o mundo às suas voltas, é oportuno para o momento, tem uma mensagem direcionada a todos para que acordem desse pesadelo criado por alguns.
O roteiro meio que se perde no meio, mas ainda assim consegue ter momentos altos e baixos, mas o dono do pedaço, o explorador que aprisionou o pai do Tito e quis causar tudo aquilo sai impune ainda vendendo a cura! Isso acho que foi demais, esperava que acontecesse uma lição de moral, ou que as pessoas fossem esclarecidas acerca da situação.
Verdades e Mentiras
4.2 69A arte de falsificar ainda assim é uma arte, a arte feita por um falsificador é arte, o que é feito por um artista é arte, até mesmo quando aquilo seja mentira, ou no caso uma ficção também é arte, assim como Welles insinua a si mesmo quando explorou o sensacionalismo quando narrou um capítulo da Guerra dos Mundos no rádio. Era mentira feita de arte, e aquele mentira se tornou parte da própria história da humanidade.
São tantas coisas a se pensar sobre, mas lembro muito bem quando li sobre Di Chirico, que falsificava a si mesmo, pois um período de seus quadros era mais valioso... portanto, se existe um mercado que demanda de algo, mesmo que inexista esse algo, poderá ser criado, e quem fará aquilo ser verdade não é o falsificador.
Museu de Horrores
2.9 13Para quem quer ver encontrei nesse blog http:// hawkmenblues .blogspot. com
O Teste Decisivo
3.6 381Filme meio sem sentido, se perde em sua própria história, há uma parte longa onde nada acontece e outra onde tudo se passa rápido demais e superficial demais. Acho que este filme é muito superestimado, não há nada de interessante nele, não há nenhuma inovação, achei que o gore seria ainda maior, mas nada, sonolento e fraco...
Uma Canta, a Outra Não
4.2 45 Assista AgoraO filme é empolgante, mesmo contendo elementos visivelmente impactantes já no início, e não perde seu encanto e delicadeza mesmo ao tratar de temas polêmicos e tabus. A trilha sonora é um caso à parte, incrivelmente bonita e ao mesmo tempo polêmica com uma mensagem importante e necessária.
O filme não só tem intuito de retratar a militância pela emancipação feminina de apenas um ponto de vista, mas tem um percurso que acrescenta mais coisas à trama, como os questionamentos do que é amar, do que é ser feliz, do que é uma vida ideal, do que é viver, coisa comum para todas as pessoas. E a incursão que as personagens tomam durante esse percurso demonstra que há outras formas de se viver e se considerar livre ou feliz, o que para uma personagem poderia ser considerado o ideal de vida e uma meta a ser atingida, para a outra já não é o caso, e o nome do filme já diz muito, uma tem vida boêmia, mais dinâmica, mais ousada, e a outra mais apegada a uma vida familiar mais comum, mas ambas querem ser felizes e livres, e querem encontrar um sentido às suas vidas.
Uma ressalva que acrescento é sobre Pauline que
em certos momentos transita entre um mundo romântico e um mundo tal qual o dos hippies, uma vida mais nômade, e há uma incerteza com a personagem, e pelo menos para mim, pareceu que ela sofria de uma certa depressão, de um entusiasmo grande em certas ocasiões e em outras era totalmente apática, até mesmo o oposto do que idealizamos para alguém que consideramos um ideal a ser seguido, Pauline trata seu filho como um mero objeto, e chega num acordo com o pai de que para compensá-la ele deveria dar uma outra criança a ela, como se assim a vida assumisse um valor de mercadoria trocável, e isso pecou a imagem que tinha da personagem, porém é deveras real que grandes pessoas em alguns momentos de suas vidas foram totalmente humanas e deslizaram em suas ações, e por vezes eram totalmente desvirtuosas, portanto pode ser mais um aspecto do próprio ser humano, o que não invalida a obra e os ideais de Pauline.
A Negra de...
4.4 71Ousmane Sembene conseguiu colocar as questões femininas e feministas na tela com muito mais precisão do que muitas mulheres, aqui a crítica gira em torno não só do racismo, mas do passado colonialista, do machismo, e claro do capitalismo.
O filme é impecável na fotografia, e é bem direto ao ponto, não é nada agradável apesar de ser sútil na sua linguagem. Se comprova que os países desenvolvidos só desenvolvidos devido ao seu passado de colonização, exploração e escravidão, e isto ainda se mantém, nas sociedade capitalistas isto é mantido como mão-de-obra barata ou como mão-de-obra ilegal, como hoje pode acontece em Dubai ou a Arábia Saudita, onde as empregadas domésticas estrangeiras, de países periféricos mais pobres, têm exploração semelhante à retratada no filme, recebem promessas, porém são consideradas como semi-escravas ou escravas.
No Brasil há também essa herança, e casos assim não são raros, mas tendiam a diminuir com um governo progressista... agora talvez volte a crescer.
E outrora disseram que "Que Horas Ela Volta" era um filme que impactou lá fora por mostrar essa realidade onde havia uma empregada doméstica pobre que vivia num quartinho num regime de semi-escravidão para servir uma família de classe média ou burguesa - oras como são civilizados estes (principalmente europeus, que amaram ao filme)... mas não, era apenas hipocrisia, a mais simples e pura hipocrisia.
A Felicidade dos Katakuris
3.5 25Takashi Miike é realmente um diretor muito versátil e que tem uma filmografia incalculável. E por está experiência e pela quantidade de filmes já feitos consegue se dar bem nas bizarrices que se propõe a fazer. A Felicidade dos Katakuris é bem dirigido, contém humor, os personagens têm carisma suficiente para manter-nos conectados com eles. A inovação do filme é no uso incomum do stop-motion e a retirada em certos momentos dos atores e paisagens para maquetes e bonecos de massa de modelar, lembra bem o que Svankmajer faz, mas aqui é mais incomum o uso porque é impensável que um diretor ousasse introduzir esses elementos todos num filme como esse.
O ponto alto fica para esta ousadia desta cenas, e cativa em certa medida por ter uma fotografia legal, mas a história e o roteiro não têm lá muito de genial, é fraco e raso, e o uso mirabolante dos efeitos e elementos incomuns, assim como das músicas, é o que prende mesmo o espectador. O grande mérito de Miike é que ele realiza muitos filmes em curtos períodos de tempo e muitos com orçamento limitadíssimo.
É um filme que para mim foi mais para matar a curiosidade do que para entreter ou acrescentar algo ao cinema, não assistiria de novo, mas a experiência é válida, mas pecou ao final em tentar dar um teor filosófico e profundo ao sentido da vida e da felicidade.
Fausto
4.2 44Li o Fausto de Goethe na versão portuguesa várias vezes, e é um livro pelo qual tenho enorme apreço. Pois é atemporal, contém filosofia na sua mais ácida vontade de compreender e poder sobre o mundo.
Svankmajer não poderia fazer algo não proveitoso com a história, o faz, mas se supera ao colocar seu toque pessoal na obra, e o filme invoca elementos que vão desde o teatro clássico ao teatro de marionetes, os elementos se misturam numa fusão alquímica única, torna-se ouro! Fantasia e realidade, cenário e paisagem, bonecos e atores, tudo no filme é maravilhoso. É um trabalho monumental, o filme é muito bem construído, tem uma montagem que consegue dizer muito, o filme condensa quase toda a história numa linguagem visual, e recusa a língua falada - e assim o próprio filme insinua-se sobre si mesmo - basta lembrar quando há o diálogo entre Fausto e Mefistófeles onde este diz que a linguagem humana não pode compreender todas as coisas do universo. E a sutileza em como isso é mostrado no filme é o que alça-o a um patamar único no cinema, e talvez seja essa obra a que melhor consegue captar a obra de Goethe, mesmo sendo uma adaptação, ela consegue acrescentar coisas novas, ao contrário da ousada e fraca versão de Sukorov, aqui os limites foram rompidos, e tal como Peter Greenaway faz, Svankmajer também coloca o teatro dentro do cinema para mostrar mais uma vez que o cinema não é a evolução do teatro, ou que o teatro é um estágio anterior ao cinema, mas diz que, ambos podem se encaixar um no outro, e o cinema possibilita inúmeras abordagens.
A cena do homúnculo é muito emblemática, ali há um cruzamento com a Cabala, é um golem a ser criado, e tem todo aquele detalhe de dar vida à matéria inanimada através de colocar um papel com palavras mágicas na boca do ser, remetendo assim ao "no princípio era o verbo", e dá linguagem se faz a vida, mas a capacidade da linguagem humana é limitada, como dito no filme, Fausto desmancha sua criação. A linguagem tem papel central no mito, pois o pacto é pela palavra, assinado com sangue que é o que representa a vida, a invocação é pela palavra, e quando ela não mais pode ser utilizada há o questionamento sobre aquilo que não se pode dizer.
Moolaadé
4.4 43Este filme é aquele tipo de filme que não poupa críticas a quem quer que seja. Ousmane Sembene por ser africano e por ter tido um passado proletariado e participado do sindicalismo, assim como como vivido na Europa, tem uma visão mais ampla da própria cultura do continente Africano, seja dos costumes tribais, seja dos costumes religiosos, seja dos costumes que os colonizadores trouxeram, e há aqui o choque entre a manutenção de uma cultura baseada num rito pra lá de questionável, que impacta diretamente na vida de mulheres e pode em muitos casos acarretar morte e dor a vida toda, e a não aceitação desta submissão.
O filme não poupa em tentar amenizar a situação nem mesmo para algumas mulheres que seguem a risca uma tradição cruel e são cúmplices nisso, há um embate diretor entre a cultura arcaica e a ideia de progresso, e é em muitas cenas visível isto, há um contraponto, há uma simbologia minuciosa para detalhar isso, e as ameaças ao status quo é reprimida da forma mais cruel possível.
Visualmente deslumbrante, passado num lugar bucólico com uma arquitetura peculiar, ( dessas que atrai muitos turistas, que hoje em dia chamam de orgânica), as vestes das personagens são exuberantes, assim como seus laços comunitários são, e soam bem diferentes dos nossos hábitos ocidentais. O filme traz questões da luta de classes, que o machismo é uma parte disso ao passo que consideram a mulher uma classe inferior, e que cumpre o dever de ser a geradora de filhos para o patriarca e uma certa divisão do trabalho. Cabe à elas a submissão, principalmente quanto ao que é tabu, como se contrapor à religião ou a própria cultura. É um trabalho monumental este filme, que geraria debates imensos. A experiência de vê-lo é única e, certamente, um marco não só no cinema africano, mas mundial.
Caninos Brancos
3.8 38 Assista AgoraA nota que dei é mais pelos gráficos da animação que do pelo filme em si, que é extremamente chato, piegas, e não tem nenhum clímax, sem contar a falta de uma trilha sonora que faça a imersão na trama.
O livro é sem dúvida muito bom, e é impossível colocá-lo numa obra cinematográfica, até porque isso seria algo que nunca iria ter um ótimo resultado, afinal, é um cachorro o protagonista. Mas aqui falta emoção às personagens, nem mesmo os vilões se saem bem, tiveram que apelar ao aspecto físico grotesco para causar este impacto.
Ontem mesmo vi a versão da Disney, que é um bom filme, não excelente, mas ainda assim consegue ser uma adaptação melhor, tem uma fotografia excelente, tem todo um trabalho de reconstrução de cenários, e as personagens têm quando carisma, os vilões tem o ar desprezível sem apelar à aparência física.
O livro é emocionante, e transmite uma liberdade selvagem, diferentemente dos filmes da Netflix e da Disney, que não puderam transmitir isso. Afinal seria pouco provável que as críticas quanto à civilização aparecesse de forma perceptível nos dois, mas não há nem isso.
Caninos Brancos
3.4 87 Assista AgoraQuando mais novo era um dos meus filmes favoritos, pude ver e não é mais, mas marcou minha infância, sempre assistia ao filme, o problema é que o conteúdo virou algo padrão "Disney" e aí perdeu o que poderia dar, mesmo que fosse uma adaptação. O destaque fica pela ótima fotografia e a trilha sonora, de resto é filme comum, mediano. Longe do que é o livro, que é por demais emocionante, e é focado no Caninos Brancos e não neste protagonista. O bom é que por gostar bastante do filme soube quem era Jack London e pude assim ir atrás de seus livros.
Anjos do Arrabalde
3.8 34Alguém tem o link para download desse filme sem ser da cópia exibida pelo canal Brasil?
O Homem Irracional
3.5 555 Assista AgoraPra não dizer que detesto o Woody Allen, que pra mim é além de uma pessoa desprezível, alguém que nem tem tanto talento para fazer um filme, porque tudo que ele faz é superestimado e a legião de fãs gourmet dele o consideram excepcional, mas os filmes são, quando muito, medianos.
Em Homem Irracional há grandes questões filosóficas e morais no enredo, e a levada amena e cômica ainda prende um pouco a atenção, e isso é até um ponto alto para o filme, mas é bem superficial às vezes isso. E se não fosse um aqui e outro lá de citação de alguma coisa do campo acadêmico poderia dizer que o Joaquin Phoenisx, que até tem um papel aceitável, poderia ser o Adan Sandler, e daria quase no mesmo se os atores fossem trocados, é claro, que para o último haveria uma linguagem mais chula e também o mesmo romancinho com alguém. E essa comparação não é absurda, até porque é um filme mediano de comédia boba, mas como disse, tem algumas questões interessantes a serem consideradas.
No mais é aquele coisa pseudo cult, que pretende dar um conteúdo soberbo e repleto de elementos reflexivos mas não sai do lugar comum de um filme de comédia, o toque aqui é a justificativa para a ação, o desfecho nos levanta estes questionamentos, mas que foram mal executados, ao menos o nome irracional no nome do filme é bem acertada, porque o existencialismo e todas essas questões são quase que estritas do campo irracionalista da filosofia.
O Peso do Silêncio
4.2 57O anterior, o Ato de Matar, é mais perturbador, esse tem um tom meio vago em tentar apenas saber e ficar cara a cara com os assassinos ou colaborados daquele tempo que nunca parece ter acabado.
E muitos dos assassinos disseram "Deixo o passado no passado" e "Se ficarmos falando do passado vai acontecer novamente."... Creio que é fundamental falar do passar, fazer uma arqueologia que não a dos vencidos para dar luz ao que ocorreu, principalmente quando milhões de pessoas inocentes morrem nas mãos de gangues legitimadas e lideradas por um exército.
Errementari: O Ferreiro e o Diabo
3.2 175 Assista AgoraA proposta é bem ousada, pois nunca havia visto um filme no idioma basco e foi uma sensação única, até porque o idioma e o povo basco tem um ar de mistério quanto ao seus ancestrais, derivam de um outro ramo de povos. E é sobre uma lenda folclórica que fora reproduzida em um conto, então, aqui eu vejo que a Netflix tem um potencial bem amplo para estas regionalidades atingirem um público mais amplo, e também, de serem patrocinadas.
O filme não é um filme de terror que assusta, é mais como um conto fantástico, pois é folclórico, assim como aquelas história de literatura de Cordel que contém a figura do Diabo, ele sempre é sacaneado, trapaceado, etc. E o intuito é retratar a figura com uma abordagem para gerar risos, aqui é evidente que é isso. E o filme se saiu muito bem, a fotografia, a direção e a maquiagem foram excelentes. Contém aquele humor negro igual a do Alex de la Iglesia faz em seus filmes, e seu nome em meio a esse filme foi o que me chamou a atenção para poder vê-lo.
Baixei o filme sem nem saber que era uma produção da Netflix, e a busca e as sugestões da Netflix nunca me indicaram este filme, nem mesmo quando procurei por filmes estrangeiros, terror... etc, e quase sempre os indicados são sempre os que estão em alta e quando os vejo são "mais do mesmo".
Caixa de Pássaros
3.4 2,3K Assista AgoraNão entendi qual a vibe desse filme que conseguiu conquistar uma fama além do que deveria. Ainda bem que eu não vi a série, porque, pelo filme, é bem chato, nada acontece, nem tem uma explicação sobre nada, e o que gera tensão é só o clima de suspense.
A previsibilidade é tanta que eu já bolei onde eles iriam desembocar e quais os tipos de pessoas se dariam melhor numa situação dessas.
Era bem evidente que seriam cegos, até porque quem viu Ensaio Sobre a Cegueira já manjou disso, só que aqui eles assumem um lado mais humano...
SuperOutro
4.0 41Não assimilei o conteúdo, até porquê não tem muito a ser assimilado, portanto para mim o filme tem uma pretensão imensa em tentar ser transgressor e subversivo, mas não causa nada além de ser bobo. É um tanto quanto vago, e fora feito quase nos anos 90, e nessa época o cinema já havia vandalizado o que havia de mais sacro. Nem espanto causa, apesar de algumas cenas tentarem isso, e para alguns ainda possa fazer algum desconforto.
Pareceu uma tentativa de recriar o cinema marginal da Boca do Lixo de São Paulo com alguma outro mistura de um anti-herói pervertido, louco, e ao mesmo tempo refém de um mundo que a única fuga capaz de dar alguma liberdade é a não existência.
A atuação do protagonista é excelente, por diversas vezes pareceu-me mesmo um louco, o filme não é confuso, então o roteiro não é lá uma grande coisa, mas o mais interessante é que há momentos que se torna documental o que se mostra, como nas cenas onde se vê a crítica ao governo Sarney feito pelo PC do B, na parte onde se mostra militantes do PT com a bandeira do partido junto ao povo negro, etc. Eram tempos onde a esperança na política era maior. O filme ao menos nesse quesito documental de uma época é interessante.
Guava Island
4.0 248Mais uma vez eu tenho que ser o dissenso por aqui.
Mas... Vamos lá!
Primeiro que, não sei nem porquê insistir em ver todo o filme, pensei ser uma animação, e era, mas somente nas primeiras partes.
O resto foi apenas um vídeo clipe com ideias difusas, atuações exageradas, e músicas ruins que foram mal interpretadas, dava pra ver bem que era uma dublagem, principalmente nas cenas finais. E, até vi por causa do Childish Gambino, que foi ousado e lançou aquele "This is America"... nada de uma música excepcional que fugia aos padrões já pré-estabelecidos pela indústria musical estadunidense, o clipe não propositalmente, foi divulgado aos 4 cantos do mundo por todos veículos jornalísticos, atingindo uma quantidade de views muito grande no youtube em algumas poucas horas, era bom, a coreografia e as encenações impactantes, a violência e a forma crua como foi confeccionado causavam uma sensação profunda ao espectador.
Era uma crítica ousada, direcionada aos EUA, tendo como pano de fundo várias ideias abordadas em forma de símbolos que tentavam evidenciar e escancarar a hipocrisia do país; racista, violento, segregacionista, com policiais que matavam negros só por serem negros, etc.
Aqui neste "vídeo-clip" algumas pitadas de uma dose de politicagem em forma de paródia, para dar aquela cutucada no regime cubano ou nos países que não são alinhados com os EUA ideologicamente, ou seja, aqueles que mídia taxa como ditaduras. E, não pode passar batido que a ideia é que existam dois grupos opostos, que por ora um se sobrepôs ao outro no controle da exploração das riquezas e da mão de obra, que "America" (como dito) era apenas um conceito que se aplicava a quem queria ser seu próprio patrão, e que era também igual ao regime da ilha fictícia que muito se assemelha com a própria Cuba, ou seja, em ambos não há a liberdade. (e o filme fora gravado na ilha -uau!), mostra um ditador que pensa que tem o controle do que é bom para o povo e proíbe assim o exercício da livre manifestação tanto política como artística (acaso forem duas coisas opostas e não são), e é evidente que a intenção fora mesmo parodiar o regime cubano, ou até mesmo outro país vizinho ao nosso. Mas, é uma crítica vazia e proposital, porque apenas repete os mesmos jargões de sempre, nunca mostra a realidade tal como ela deve ser, e mesmo que digam que a intenção aqui não fora essa... não sou assim tão ingênuo ao ponto de negar o óbvio.
Pra começar, é impactante a direção de fotografia e arte, as cenas são bem fotografadas, enquadradas, têm tonalidades que lembram filmes gravados na década de 60 ou 70, a coreografia é bonita, as cenas são bem compostas, a cena com o cortejo é impecável e lembrou até Jodorowsky, mas... mesmo com as cores saltando aos olhos, assim como a clara inspiração em Cidade de Deus, como já exposto pelos jornais acerca da obra, é óbvio que a fotografia detalhada tem um recorte; um recorte da pobreza e da precariedade dessa ilha, do povo que, alegre, quer apenas festejar, porque dançar é ser livre e é viver, a arte é um exercício ousado de rebeldia que garante a liberdade... Aqueles clichês de sempre, misturados com um tom ameno acerca do capitalismo e o socialismo/comunismo não serem opostos, mas ambos iguais na exploração, e no cerceamento das liberdades individuais, ou de que ambos tem em si o germe de serem ruins porque não consideram outros pormenores dos indivíduos e cerceiam as liberdades. Embora não queria entrar em conceitos difíceis, temos que ter em mente que um sistema visa a exploração e o outro (em sua síntese) a abolição da exploração. Porém, aí é conceitual o que consideram liberdade ou não, pois uns pensam que ela seja ser livre para consumir, outros que seja livre para usar drogas, etc. São muitas as tentativas disto, mas a liberdade de uns não é a de outros, e daí a confusão conceitual, pois para um a liberdade é individual, para outro ela é da extensão de que só se pode ser livre quando outro ao seu redor é livre, ou quando todos tem os mesmos direitos, igualdades e oportunidades, etc.
Nada desloca do seu tempo, e a obra vem a calhar nesse momento atípico que passa o mundo (talvez nem tão atípico assim, porque fora já previsto), e o tom nesta crítica recai mais para um lado da balança. O mundo pendendo ao nacionalismo, ao sentimento de que devemos superar ideologias, e cada um ter sua vida, e que o que importa é cantar/dançar, e para outros (no caso dos ricos) é ficar cada vez mais ricos, ou, seja, deixar os pobres mais pobres. E é nesse contexto que situo este filme, numa tentativa de ataque aos sistemas ideológicos opostos ao capitalismo. E é até forçado demais, porque cortina-se através de uma ficção, de uma tal história, mas sabemos o que de fato é, e assim, tomando esta direção, fica meio nebuloso para alguns o que é a mensagem, e dá um tom apolítico para a arte como forma máxima de expressão da liberdade. Assim, como passa o mundo, é tipo um "nem esquerda, nem direita, pra frente"... quer dizer, crítica vazia e que se mascara como despolitizada mas é politizada e tem uma intenção clara e bem direta a quem compreende um pouco o mundo em que vive e sabe se situar nele.
Os Renegados
4.1 86 Assista AgoraA história de muitos ninguéns que preferem beber champagne na estrada, pois, talvez seja melhor. Aqui temos um tom dramático sobre uma desconhecida, e a história já se inicia trágica, pois parte do encontro de seu corpo congelado numa vala, e segue nos pormenores antes do incidente/acidente da bela jovem.
É impossível ter certeza, mas ao menos podemos pensar no porquê dessa fuga da sociedade, desse querer ir a lugar nenhum, e, ao meu ver, pelo semblante triste não era uma busca para algum aprendizado e muito menos por liberdade, mas era apenas uma fuga por não se ter para onde ir.
E segue assim com os marginalizados, que pouco conseguem, talvez devido aos traumas, se enraizarem ou se encaixarem nalgum lugar de maior conforto. Pareceu não um querer encontrar a si mesmo na solidão, mas querer se afastar dos outros pois nada se encontra neles. É uma fuga de tudo e de todos, e numa hora ou outra até se encontra alguém com quem se compartilhe algo a mais, um sorriso, uma história, um cigarro, mas, no fim estamos sempre de partida, das estradas ou da vida, infelizmente ou felizmente para alguns, pois a vida, que deveria ser celebrada é apenas uma dor constante. É um estado de fuga, e fugir da realidade é o que faz com que sabemos da existência de drogas nesse mundo (não é só isso, claro, mas um dos fatores é).
Me lembrou (definitivamente não teve como fugir desta comparação) o Into the Wild, porém de uma forma mais dramática, sem aqueles sorrisos de Supertramp, menos romântico; aqui os sorrisos logo são seguidos por apatia e decepções, sem contar, é claro, o fato de ser mulher o que eleva em muitas vezes a periculosidade de estar sozinha pedindo carona e sem qualquer companhia. Um homem quando exposto ao mundo das estradas sem fim não sofre o que uma mulher pode sofrer. Aqui Mona parece não ser alguém vinda de um padrão de vida elevado e de uma família estável economicamente, ela não tinha um futuro pelas frentes como no filme americano.
Comparo ambos, mas são tramas talvez que se originaram num ponto em comum, mas são diferentes, e complementares, é sobre o drama de existir, mas não que a existência seja ruim por si só, mas que pelos outros ela se torna uma fardo terrível.
Anjos Caídos
4.0 266 Assista AgoraÉ deslumbrante esteticamente, as cores dos néons dão um charme, e isto me lembrou Paris, Texas, que também não curti muito, mas que tem em si uma legião, igual a este aqui, deveras mais ao apelo visual e o efeito colorido de ambos, e as histórias melancólicas, etc...
Mas nem a potência da frenética câmera que cria imagens distorcidas aliada a uma trilha sonora envolvente não me despertaram muitos sentimentos, é bonito, e isso é fato, assim como algumas cenas são interessante e bem montadas, outras são bem idiotas, outras apelam a efeitos que me lembraram outro filme do mesmo diretor, Cinzas do Passado, que como esse, nas cenas de ação e lutas tem um efeito que geram um borrão nos movimentos, uma distorção, uma menor quantidade de frames e uma câmera lenta, e efeito este que me entediou, empobreceu o filme, este o ar de vídeo-clip (ainda mais dos anos 90) poderia vir a ser algo aceitável à época. E ambos os filmes entendiantes, que deveriam ter sido bem reduzidos, com roteiros estranhos, situações que não dizem nada.
As história paralelas não fazem muito sentido e não tem muito o que falar, é o submundo, mas não se adentra nele como em outros filmes orientais do mesmo estilo, ficando apenas um pano de fundo para que se desenvolvesse um visual incrível, cenas de tiroteios, brigas, movimentos rápidos, e demais elementos de filmes de ação, mas no caso aqui é um drama que se direciona a ter um tom mais artístico, mas a fundo mesmo não tem muito a dizer a não ser duas histórias paralelas que não exploram muito suas personagens, nem seus mundos, é tudo muito vago, muito entendiante.
E será um esforço imenso assistir outro obra do mesmo diretor.
Monsieur Rene Magritte
3.6 2Onde eu acho esse doc?
Preciso ver, ainda mais depois de saber que a trilha ficou a cargo do Roger Waters !
Vingadores: Guerra Infinita
4.3 2,6K Assista AgoraÉ claro que quero ser dissidência por aqui. Pois o filme fora nomeado ao que chamam de máxima celebração do cinema... como se isso fosse algo que comprovasse a qualidade das obras por si só.
E aqui neste os efeitos especiais são tão exagerados que nem devo deles falar. Mas isto foi o principal para sua badalação. E, claro, filmes que abusam de CGI e de universos que não o nosso, explorando a ficção científica rasa, de pano de fundo, podem de fato ganhar, pois não foi pouco a grana para a confecção do filme. Mas houve cenas que foram péssimas, como daquela dos aliens adentrando Wakanda.
Mas o filme em si não é nada além do que se espera (pelo menos eu) de um filme de super-heróis feitos para crianças de mais de 20 anos. Sempre dentro daqueles padrões, sempre com aqueles mesmas sequências, sempre dentro do esperado, e não sai disso. Nada de novo, nada de novidade, nada de criativo, só a evolução dos efeitos... Mesmas piadas bobas, em contextos nada a ver, com tentativas de alívio cômico... aí, chega a dar vergonha, como na parte em que em Wakanda uma personagem diz que pensou que abrir Wakanda seria para as olimpíadas ou para ter uma loja da STARBUCKS !!! (WTF?!)
Salmo Vermelho
3.9 28Conteúdo poético imenso, que demonstra que o otimismo sempre deve ser uma constante mesmo naqueles que se veem espoliados de qualquer pose material ou até mesmo da vida. A obra mostra que aqueles que lutam ao lado dos oprimidos nunca morrem, eles ressurgem, ou seja, ressuscitam, se tornam mártires. Já os traidores morrem, e são apagados pelo tempo, quando lembrados o são sem qualquer honra.
Me interessei bastante que apesar do conteúdo ser claramente sobre uma tese de base materialista, ainda assim, não invalidam a religiosidade e a espirituosidade. Em certos momentos se mostra que, como o filme diz "Salmos Vermelhos", que àquelas canções e história são mais que algo político, mas algo libertador, algo ligado com uma religiosidade que busca a felicidade dos oprimidos, algo que o cristianismo prometeu mas que não cumpriu, e se conluiou com os poderosos para manter sempre o status quo. Os que monopolizaram tanto Deus, a religião, a fé, as propriedades, não podem ser pessoas de boa índole. Em certo ponto demonstra que todas as formas de diálogo com um opressor são falhas, ou mais à frente desmanteladas, e no encerramento do filme se mostra clara a mensagem, de que lutar não é um crime, mas sim uma virtude.
O otimismo que é mostrado, com danças, músicas, festejos e muita coragem é o que mais impressiona no filme, assim como as letras e os diálogos à causa emancipatória da humanidade.
Nos Reinos do Irreal: O Mistério de Henry Darger
4.0 6Interessante o resgate que o documentário dá a algo que se perderia da maioria das pessoas, e sobre abordar não só a obra mas também a infância e as possíveis causas e traumas que o fizeram ser assim tão recluso, e talvez, mentalmente instável mesmo.
Mas o interessante não é apenas mostrar o mundo de refúgio que essa criança crescida queria criar e viver, mas em mostrar claramente como as instituições (tanto a família, a igreja, o colégio, os reformatórios, casas de saúde pública, etc) tiveram papel determinante para o tipo de personalidade a ser moldada.
O abuso, o abandono, a violência e a situação de escravidão explícita na infância são absurdos que aconteceram, acontecem, e que se não ficarmos mais atentos podem de novo voltar a serem normais e aumentarem numa proporção incomensurável. A infância deve ser protegida. E o Darger mandou esta mensagem claramente para aqueles que puderem ler, tamanho o trauma que viveu.
Tito e os Pássaros
3.6 31Em termos artísticos e estéticos não há como pontuar algo negativo, a textura usada, as técnicas, onde se observava claramente pinceladas, dando um tom maior de arte manual e artesanal ao longa foram pontos que me impactaram e fizeram a avaliação subir alguns pontos, sendo um longa de animação brasileiro me surpreendi ainda mais.
Porém a história é bem básica, simplista e o roteiro deixa um pouco a desejar, o andamento fora um pouco previsível, embora todo o conteúdo tenha um apelo poético e simbólico enorme (principalmente para a crítica a nossa sociedade onde o medo é lucro para alguns) isso contribui bastante para que a ideia do filme seja melhor expandida para um horizonte que seja familiar ao nosso entendimento. Para muitos o filme fora claro em sua mensagem otimista e de união para quem lucra com o medo.
Embora o conteúdo possa também não ser de todo assimilado pela maioria, deveras à lupa ideológica que imprime o mundo às suas voltas, é oportuno para o momento, tem uma mensagem direcionada a todos para que acordem desse pesadelo criado por alguns.
O roteiro meio que se perde no meio, mas ainda assim consegue ter momentos altos e baixos, mas o dono do pedaço, o explorador que aprisionou o pai do Tito e quis causar tudo aquilo sai impune ainda vendendo a cura! Isso acho que foi demais, esperava que acontecesse uma lição de moral, ou que as pessoas fossem esclarecidas acerca da situação.