Algumas cenas exageradas e um roteiro clichê e bobo são compensados com um belo espetáculo visual e sonoro, além da grande direção do talentoso James Wan.
Se você acompanha filmes, não tem como escapar deles, os reis do cinema moderno: os filmes de heróis. Nos últimos anos, os universos nerds, geeks e especialmente de super-heróis alcançaram níveis épicos, são líderes em bilheterias, geram discussões entre diferentes círculos e estão alcançando até mesmo níveis artísticos e premiações. Mas uma das maiores polêmicas recentes gira em torno da rivalidade entre os fãs da Marvel e seus 'Vingadores' (com um universo bem estruturado), contra a DC e sua 'Liga da Justiça' (com seu universo de altos e baixos). Na DC, 'Batman vs Superman', 'Esquadrão Suicida' e 'Liga da Justiça' foram alvos de críticas massivas (se são ruins ou apenas abaixo do esperado, cabe a outra discussão). 'O Homem de Aço' fica no mediano, enquanto que 'Mulher-Maravilha' parece ser o grande acerto da casa até então. Com expectativas baixas da grande maioria e depois de já amargarem muito, a DC entrega em 'Aquaman' uma competente aventura, com contornos épicos e colossais.
Primeiramente é preciso apontar uns probleminhas: ainda há muitos excessos, não existe sutileza, tudo é sempre muito grandioso e épico, sempre com muito, mas muito CGI e efeitos visuais, o tempo de duração sempre é longo, tudo ainda é muito apocalíptico. Outro ponto é que nem todo elenco atua bem. A Mera é uma importante personagem, visualmente bela, uma grande guerreira, gostaria de ver filmes da DC colocando ela lado a lado com a Mulher-Maravilha, já que no quesito girl power a DC sai na frente da Marvel (mas a 'Capitã Marvel' vem aí rsrs). Mas a atriz Amber Heard é bastante limitada, inclusive não tem tanta química com o herói nas cenas mais lentas, sendo convincente somente quando rola a ação. O roteiro do filme é um tanto ruim, clichê do clichê, amontoando elementos de diversos outros filmes já vistos. Os vilões interpretados por Patrick Wilson e Yahya Abdul-Mateen tem motivações válidas, mas poderiam ser melhor explorados em atuações.
Mas é interessante que todos estes defeitinhos acabam sendo contornados de algum modo. As 2 horas e 30 minutos são eletrizantes, não te deixando no tédio nenhum minuto. O diretor James Wan vem de um cinema de horror, para quem não sabe ele dirigiu o primeiro 'Jogos Mortais', os dois 'Invocação do Mal', os dois primeiros 'Sobrenatural', dentre outros. Nesses filmes, ele sempre soube utilizar a tensão, a atmosfera obscura, ângulos de câmera interessantes que mostram mas não mostram, dentre outros artifícios, afim de incomodar o público. Mas recentemente ele se aventurou nos blockbusters, dirigindo 'Velozes e Furiosos 7' (aquele que se despede de Paul Walker), que acabou sendo o melhor da franquia, justamente pela direção de Wan, com uma câmera tensa que acompanha as cenas de ação. Aqui em 'Aquaman' ele repete o feito, fazendo uma imersão nas cenas de aventura e ação. Existem ângulos de câmera inspirados, sequências frenéticas e um ritmo alucinante. A cena de perseguição em telhados na Sicília é uma das melhores cenas de ação do ano inteiro. As perseguições e combates aquáticos submarinos lembram 'Star Wars', mas com luzes neon e efeitos sonoros de sintetizadores eletrônicos que lembram 'Tron'.
Aliás, tanto na trilha sonora como no visual, é um filme a cara dos anos 80, um tanto retrô. Falando no visual, apesar de excessivo, o CGI tem sim uma alta qualidade. Na verdade, dentre os filmes de heróis de 2018, é o que tem o visual mais bonito de todos (desculpa 'Vingadores'), construindo todo um belíssimo mundo novo. Com 'Aquaman', a DC não tem medo de parecer uma HQ, beirando o cartunesco, mas em um bom sentido. De maneira autoconsciente, tem elementos visuais "bregas" e trash, propositalmente bizarros, afim de manter a fidelidade com o lúdico das HQ's. Assim, parece um filme classe B, mas com orçamento classe A. E isto é bacana, pois a DC abraça a causa de um de seus heróis mais "zuados" sem medo de ser feliz. Pode não agradar a todos, mas dá certo dentro deste universo mitológico. Falando em mitologia, Wan utiliza várias lendas e simbologias dos sete mares, inclusive para fazer referência ao terror que ele tanto ama. Há toda uma sequência envolvendo criaturas do fosso que é digna de um filme de terror, com cenas em preto e vermelho que mais lembram uma pintura artística, fazendo até mesmo referência ao mestre do gótico H. P. Lovecraft.
Com sequências que lembram aventuras arqueológicas (estilo 'A Múmia' e 'Indiana Jones'), batalhas submarinas insanas e épicas, muita diversão descontraída e excelente trilha sonora (algo que a DC comumente faz melhor que a Marvel), 'Aquaman' é um ótimo blockbuster para passar o tempo. Embora Jason Momoa não seja um excelente ator dramático, seu jeito "brucutu de bom coração" encaixa bem neste tipo de papel, ele abraça a causa e entrega um herói de respeito. Depois deste filme, quero ver chamarem ele de "carinha que fala com os golfinhos". Mesmo que prejudicado por excessos e roteiro, o filme é salvo pelo incrível visual, ação desenfreada, momentos épicos e mais uma boa direção de James Wan. Ao menos o filme tem vida e identidade própria, entregando um longa muito divertido e uma esperança para a DC. Que ela continue fazendo seu próprio caminho, entregando sua própria pegada.
Neste bonito filme, o garoto Christopher Robin cresce, é pai de família, tem seu chato emprego e esqueceu-se da magia da vida, deixando Ursinho Pooh e sua turma no imaginário do passado. E quando tudo se complica, há o tal reencontro entre Christopher Robin e os seus amigos de infância, bagunçando ainda mais a vida. Lúdico e bonito visualmente, o filme é mais direcionado a adultos do que crianças, pois tem um tom mais sério e uma mensagem que cutuca diretamente os mais velhos. Quando você se tornou adulto, o que o fez perder a alegria, o colorido e a imaginação? Vale a pena deixar a família de lado pelo emprego, pelo dinheiro e os problemas da rotina? Nada tem relação com maturidade, mas como enxergamos a vida. Pooh e os demais bichos são incrivelmente criados em um CGI realista, mas note o detalhe: não parecem animais de verdade, mas bichinhos de pelúcia de verdade, inclusive na textura do pelo, brilho opaco dos olhos, etc. Com momentos divertidos e outros emocionantes, é um filme que merecia mais reconhecimento no ano que passou. Tanto o ator Ewan McGregor quanto o diretor Marc Forster mandam bem e comprovam sua versatilidade para diferentes tipos de papéis e filmes. Recomendo a todos, especialmente as "crianças grandinhas", muitos precisam redescobrir as coisas simples e imaginativas que trazem alegria.
Um retrato íntimo e sensível, Alfonso Cuarón faz uma viagem de volta as origens no México, em um retrato do passado, lindamente fotografado em preto e branco, plano-sequências de tirar o fôlego, em um dos melhores filmes do ano.
Alfonso Cuarón, que ganhou o mundo com as ficções científicas cult 'Filhos da Esperança' e 'Gravidade' (que lhe rendeu Oscar de Melhor Diretor), retorna de maneira mais sutil e simplista, retratando o cotidiano de uma empregada e a família na qual trabalha, no bairro Roma, na capital Cidade do México. Espécie de túnel do tempo, pontuando lembranças marcantes na vida da protagonista, o filme te leva em uma viagem sensorial, te proporcionando experimentar emoções humanas, mundanas e comuns, mas poderosas na pele da protagonista. Considerado por muitos o melhor filme de 2018, só não o coloco neste patamar devido a uns pequenos probleminhas: falta uma melhor construção das personagens coadjuvantes por parte do roteiro, há uma cena expositiva no início do filme que não acrescenta nada a trama, e o longa de 2 horas e 15 minutos poderia ser um pouquinho mais curto, com 2 horas redondas poderia-se ser mais enxuto, especialmente no início do filme. Mas isto são detalhes que nada impedem de apreciar a beleza do filme, especialmente na metade final, na qual somos pegos por algumas das mais belas cenas do ano.
Nos 40 minutos finais, temos 3 sequências de tirar o fôlego. A sequência da repressão policial e do governo contra a passeata do povo refere-se a momentos reais da história do México, pois poucos sabem que existe lá um histórico de muitas mortes e desaparecimentos, principalmente jovens, quando estes manifestam-se contra o governo, um fato que todos tememos que se repita em outros países, como Brasil. A cena do parto é um plano-sequência cru e sem cortes, sufocante, de dar um nó no estômago e de desmontar os mais fracos. A cena final da praia, além de igualmente tensa, também é belíssima, poética e funciona como um forte e caloroso abraço: nos sentimos abraçados e sentimos como se nós estivéssemos abraçando a nossa forte protagonista. O roteiro ainda aborda o choque de classes sociais, o amor que empregadas e babás tem pelos filhos dos chefes, consegue-se dar beleza a coisas do cotidiano, como limpar o pátio. O filme é repleto de cenas extremamentes simples e sutis, mas que dizem muito, como na cena da chuva de granizo, onde o cãozinho se esconde do temporal, enquanto as crianças brincam com o gelo. São coisas "bobas", simples, mas lindamente filmadas, repletas de simbolismos, explorando a amargura e principalmente, a beleza da vida.
A fotografia é estonteante, mesmo sem cores, é tão linda que conseguimos sentir o realismo e o calor das ocasiões. O filme é uma obra de arte visual, daquelas que poucas vezes vemos. Alfonso Cuarón usa e abusa de sequências longas e sem cortes, ângulos de câmera inspirados e um brilhantismo único ao contar esta jornada. Em uma Era Trump, onde busca-se distanciar estrangeiros mexicanos, mesmo que os mesmos estejam fazendo muita coisa acontecer dentro e fora dos EUA, 'Roma' é uma carta de amor ao México, um presente para seu povo humilde e sofrido, uma obra tocante que através da Netflix, está a disposição de todos que aventuram-se nas lembranças das coisas simples e belas da vida.
'Casablanca' é um dos maiores clássicos americanos já filmados. Em plena 2° Guerra Mundial, a cidade de Casablanca, no Marrocos, é palco de encontros e desencontros entre Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman), que estão fugindo dos nazistas pelo Oriente. É uma obra atemporal, com diálogos longos e romatizados, uma química irrestível entre Bogart e Bergman, uma fotografia em preto e branco linda, cenografia elegante, figurino caprichado e trilha sonora marcante. Um dos expoentes do cinema noir, cheio de cenas climáticas, traz bom desempenho do elenco, especialmente Ingrid Bergman, maravilhosa atriz do cinema clássico. Vencedor de 3 Oscar (Filme, Diretor e Roteiro Adaptado), contém algumas das cenas mais icônicas e copiadas da história, como as famosas cenas de beijo entre o casal protagonista, consideradas as mais longas e apaixonadas até aquela época, fato que marcou uma geração inteira de apaixonados pela sétima arte. Até hoje, o filme segue como referência e inspiração a vários outros, uma fonte inesgotável para romances dramáticos.
-"We'll always have Paris." ("Nós sempre teremos Paris")
Poderoso em conceito e em execução, um dos melhores filmes do ano, disseca as tramas do preconceito, com cenas e diálogos que são um soco na mente.
Ao lado de 'Infiltrado na Klan', 'O Ódio que Você Semeia' torna-se um filme obrigatório. Os dois formam uma espécie de dobradinha, que deveria ser passada em escolas, instituições e empresas. Aqui nesta trama, Starr é uma jovem que mora no gueto, mas que graças aos esforços dos pais, estuda em uma escola de privilegiados brancos. Ela namora um rapaz branco e ambos sofrem preconceitos. Alguns a tratam exageradamente bem ou como coitada, outros acham que ele está com ela por pena ou para ser descolado e não parecer racista. Mas isso é só a ponta do iceberg. Quando o melhor amigo e primeiro amor de Starr, um menino negro, é morto por um policial branco, ela enfrentará uma jornada de autodescoberta, tornando-se uma voz contra as barreiras e injustiças sociais. Mas tudo é muito emaranhado de tal forma que todos contribuem para a proliferação do ódio. A "amiga" que defende o policial pois ele estava a serviço, os traficantes do gueto, a mãe superprotetora que não quer a filha protestando. É aí que o roteiro se aprofunda naquilo que prolonga os preconceitos no cotidiano. Que deixar de clamar por justiça é deixar sua voz ser calada. E como o pai diz, não deixe ninguém lhe calar. São 2 horas e 10 minutos onde cada cena é pensada afim de provocar, não há uma cena sequer que seja banal. Da primeira tomada, com o pai ensinando os filhos a como se portar se forem parados por um policial branco, até os instantes finais, são golpes na mente, que provocam diversas reações, que buscam concientizar que não é vitimismo e polemização, mas é a realidade e que quanto mais for abafada, mais opressora será para pessoas que sofrem determinada rotulação. O ódio que você semeia marca as crianças, e crianças com sementes de ódio "ferram" com todos nós. Direção segura, belas atuações e competente na dissertação do assunto, filmaço que todos deveriam assistir. Mas infelizmente, por tratar de assuntos que tiram da zona de conforto, a maioria vai apenas ignorar, como já andam fazendo no dia-a-dia.
Este tocante filme de 1990 baseado em fatos reais, traz Robin Williams como um neurologista que decide experimentar uma medicação em pacientes catatônicos que sofrem de encefalite letárgica. Além disso, ao contrário de seus colegas de trabalho, ele trata os pacientes com dignidade, indiferente da situação do mesmo, pois acredita que eles tem noção de tudo o que acontece. O primeiro paciente a receber o tratamento é o personagem de Robert De Niro, que começa a responder a medicação e a "despertar". O filme é brilhante de várias maneiras. Primeiro, a atuação de De Niro é fantástica, ele encara um papel difícil, de alguém doente cheio de "tics" e limitações, mas faz isso sem exagerar ou ficar caricato. Não atoa, concorreu ao Oscar de Melhor Ator. Robin Williams não fica atrás, e como ele faz falta no cinema! Seus personagens sempre humildes, humanos e sensíveis. É difícil não se emocionar com os dois em cena. Mas a maior força do filme é a mensagem ambígua que o roteiro traz. Embora a medicação faça efeito em pacientes que ficaram décadas em um estado de sono, quem aprende a lição é quem nunca teve este tipo de problema. Pois enquanto descobre-se que os pacientes sempre estiveram cientes de tudo ao seu redor, agora com o tratamento, eles conseguem fazer aquilo que querem e viver de verdade. Isto é o oposto das pessoas que tem saúde, mas não vivem como querem ou deveriam, pois estão dormentes nos seus empregos, dinheiro, compras, problemas, burocracias e divisões sociais. Vemos isso no contraste dos protagonistas: enquanto que De Niro desperta da doença vivendo tudo o que pode de maneira verdadeiramente feliz, Robin Williams desperta do seu comodismo mental, percebendo o quanto é solitário e desperdiça a vida, independente da boa saúde. Com um final melancólico que dói saber que isso aconteceu na vida real, 'Tempo de Despertar' traz uma mensagem poderosa sobre acordar para a vida. A vida de verdade, dando valor as coisas mais simples e deixando de lado todas as bobagens da sociedade moderna. Termino aqui com uma frase do filme:
- Leia o jornal. O que diz? Só coisa ruim. Está tudo ruim. As pessoas esqueceram o sentido da vida. Esqueceram o que é estar vivo. Elas precisam ser lembradas. Elas precisam ser lembradas o que elas tem e o que podem perder. O que eu sinto é alegria em viver, o presente da vida, a liberdade da vida, o encantamento da vida.
Filme argentino interessante, com umas ideias diferentes. Bacana este título fazer uma brincadeira com Lúcifer e a tuba uterina da mulher (que aparece simbolizado diversas vezes), uma vez que no seu metafórico e psicológico contexto, o roteiro aborda a represssão e liberdade sexual, a gravidez e seus afins. Pena que pelo que vejo nos comentários, a maioria aqui não entendeu ou aderiu a ideia. Filme está sendo bem recebido pela crítica ai pelo mundo.
Estas cam girls realmente são uma tendência crescente aí pela rede. Filme intrigante, bem dirigido e atuado pela Madeline Brewer. O roteiro é inteligente e deixa estas pontas soltas para que cada um interprete como quiser.
Pode ser um hacker excelente, pois esta tecnologia já existe, mas não é peixe pequeno, pois requer processamento, tecnologia, máquinas e estruturas caras. Então, pode ser uma alegórica metáfora a como nos expomos na internet de maneira diferente do que somos no dia-a-dia. Daí se o seu "eu" verdadeiro é o do cotidiano ou o do mundo virtual, cabe a você refletir. E claro, ainda há uma pequena brecha para uma interpretação sobrenatural, uma vez que tudo desmorona depois dela brincar de se "suicidar".
Muitas sagas se perdem no excesso de continuações. Mas é incrível como 'Missão Impossível' consegue manter uma alta qualidade. Tom Cruise continua um grande astro da ação. Apesar de muitos criticarem o fato dele sempre fazer o mesmo papel, o que não deixa de ser verdade, ao mesmo tempo, ele sempre tem carisma e segura as pontas. 'Efeito Fallout' tem um roteiro ok, é clichê mas eficiente. Mas o ponto alto fica mesmo por parte da direção de Christopher McQuarrie, que entrega cenas absurdas e de tirar o fôlego: o pulo de um avião quase fora da atmosfera, intensas perseguições, acrobacias com helicópteros, tudo muito bem dirigido. A fotografia privilegia belos cenários e paisagens naturais de diversas partes do mundo. O elenco é entrosado, inclusive Henry Cavil em um enigmático personagem. Trilha sonora que intensifica as cenas eletrizantes, belo jogo de iluminação e direção de arte. O gato e rato da trama, repleto de reviravoltas, pode deixar confuso de início, mas as peças se acertam no fim. O novo exemplar de 'Missão Impossível' é um dos melhores filmes de ação do ano.
Excelente suspense, com temática atual e realista.
Na trama, desesperado com o desaparecimento da sua filha, um pai decide invadir o computador da jovem para procurar pistas virtuais que possam levar ao seu paradeiro. O filme inteiro se passa sob a perspectiva de telas de computadores e celulares, técnica similar utilizada naquele terror 'Amizade Desfeita'. Porém, o recurso é melhor utilizado aqui. Além de tecnicamente realista, com linguagem técnica, ferramentas e softwares reais, o filme mantém um ótimo ritmo e mistério. A atuação de John Cho é boa, consegue passar aflição mesmo que em muitas das cenas, ele está apenas navegando no computador. A parte dramática é boa, mostrando conflitos de pai e filha, e como a própria tecnologia pode servir de barreira na comunicação. Mas ironicamente, se bem utilizada, também pode ajudar em casos investigativos. O roteiro ainda trata de assuntos como exposição virtual, falta de privacidade, má utilização das redes sociais, a força de correntes eletrônicas como fake news, influenciadores que se aproveitam de uma desgraça para ganharem likes, comentários com opiniões polarizadas de pessoas que desconhecem todos os fatos, etc. As reviravoltas podem não agradar a todos, mas são coerentes. Imagine um suspense digno de Alfred Hitchcock, mas no cenário virtual atual. Considero este um filme interessante até para se assistir em família e depois ter uma conversa sobre o assunto. A internet está aí para todos, mas cada vez mais vemos que talvez a maioria não a saiba utilizar de maneira segura ou construtiva.
Neste comovente drama de 1979, Dustin Hoffman e Meryl Streep interpretam um casal que se separa, pois dentre várias coisas, ela quer um espaço para se encontrar. Sendo assim, ele fica com o filho e precisa aprender a ser um bom pai solteiro. Depois de muitas adaptações a nova fase, ele já está dando conta do recado e tendo uma boa relação com a criança, mas ela retorna lutando na justiça para ter a guarda do filho. Além de naturalmente a justiça já dar preferência a mãe, ele sofre a perda do emprego, o que se tornará um desafio massacrante. Com esta trama extremamente simples, mas extremamente humana, é um filmaço, onde os astros em cena brilham com atuações marcantes. Foi o filme que deu o primeiro Oscar a ambos: Melhor Ator para Hoffman e Melhor Atriz Coadjuvante para Streep. Grande vencedor do Oscar 1980, também ganhou como Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor e Melhor Filme! Com ótima direção de Robert Benton e um roteiro coeso e realista, o longa é composto por pequenos momentos, mas grandes em emoçoes. A cena em que Hoffman corre diversas quadras até o hospital com o filho nos braços é extremamente realista. Os diálogos no tribunal, cheios de emoções e sentimentos, são de uma ambiguidade incrível: não há mocinhos e vilões, apenas duas boas pessoas que não conseguiram ficar juntas, mas ambas amam o seu filho. Nestas cenas em questão, ela brilha. Mas nas cenas fora do tribunal, ele carrega o filme. Dustin Hoffman é um ator incrível, com personagens meticulosamente contidos, humanos e realistas. Aqui não é diferente. A cena final (esta da imagem) é extremamente emotiva, simples e bela. Pai e filho fazendo rabanadas e conversando, enquanto aguardam a mãe vir buscá-lo. O pai explica o que está acontecendo. A criança, nitidamente triste, começa a entender a situação. Os dois cozinham juntos e se abraçam. Existe aqui nesta cena um realismo cru, humano, de partir o coração, uma cena inesquecível, tão simples e bela numa mesma intensidade. Até a época, 'Kramer vs. Kramer' foi o filme que melhor discutiu e mostrou as consequências do divórcio, a insegurança da criança nesta situação e como daquela época para cá, o que conta mesmo é o que é mais importante para a criança, com qual pai ou mãe ela se sentirá mais segura e terá afinidade. Belíssimo filme, altamente recomendado.
Baseado no best-seller 'Crazy Rich Asians', 'Podres de Ricos' é um filme que em uma rápida observada, é a típica comédia romântica de Hollywood, cheia de clichês e momentos direcionados para o seu público alvo. Isto pode afastar a quem procura produções mais maduras, originais e profundas. Na trama, a americana Rachel viaja a Singapura com seu namorado Nick, afim de conhecer a família do rapaz e participarem do casamento de uns amigos dele. Mas chegando lá, ela descobre que a família dele é uma das mais poderosas da região, são figuras cheios da grana e ostentação, mas vazios e complicados. Apesar do clichê, é digno de nota apontar algumas qualidades na produção. Começando pela representatividade asiática. São tempos de representatividade no cinema e na TV e não há como fugir disso. Assim como 'Pantera Negra' trouxe uma produção americana que exala a força afro e da mãe África, 'Podres de Ricos' faz o mesmo com o Oriente. Do elenco inteiro, passando pelo diretor e produtores, é um filme todo oriental feito em solo americano. E a representaividade está não apenas nas pessoas, mas nos costumes milenares, nos figurinos e na cultura. De nada adianta representatividade se não tiver boas atuações. Mas isso o filme tem de sobra e é sua maior força. Especialmente a protagonista Constance Wu, bastante doce e carismática. Além da Awkwafina, Youtuber, cantora e atriz humorista n° 1 do momento entre os artistas de descêndencia oriental. O elenco todo tem carisma, o casal tem química e a fórmula funciona. O visual do filme é lindo, com destaque para os figurinos, a direção de arte atenta aos detalhes e fotografia, mostrando modernos prédios da estonteante Singapura. A cena do casamento é uma das mais belas e originais do cinema recente. A moral da obra é bacana. Lotado de situações constrangedoras para as personagens, há uma crítica aos excessos, a colocar dinheiro fora, a escravidão que o dinheiro pode trazer para os membros da família. São figuras ricas, loucas e vazias. Este contraste com a simplicidade, o amor, a amizade e a liberdade de escolha é um discurso moral batido, mas sempre válido, ainda mais em tempos de fácil polarização de vários assuntos, incluindo o uso e a busca excessiva do dinheiro. Simples e direto, é um filme que pode não ser revolucionário, mas é competente na sua proposta. Fenômeno lá pelos Estados Unidos, liderou bilheterias e tem 90% de aprovação da crítica (mas parece que por aqui passou batido). É uma produção bacana, daquelas que viajamos para o outro lado do mundo com o filme, mas vemos que alguns problemas são iguais para todos. Saber dar valor ao que realmente importa é universal.
Provocativo, um soco na mente, com um roteiro inteligente, um final chocante, o filme vai fundo na ferida do racismo, tema cada vez mais debatido, mas cada vez mais tratado com descaso ou "mimimi". Um convite a sair da zona de conforto.
Baseado em fatos reais, é o novo filme do proeminente Spike Lee, cineasta focado em debater e incendiar questões sociais, cujos filmes alavancaram as carreiras de atores como Denzel Washington. Na trama, uma dupla de policiais decide fingir ser a mesma pessoa e se infiltrar na terrível Ku Klux Klan, grupo extremista que prega a superioridade branca e ataca violentamente os "diferentes" de suas ideias hipócritas. Ron, por ser negro, obviamente trabalha nos bastidores, sendo a mente da operação e atuando no telefone, enquanto que Flip, por ser branco, se infiltra no grupo, afim de conseguir informações para destruí-los. Mas enquanto que Ron se envolve e precisa proteger Patrice (uma ativista pelos direitos dos negros), Flip precisa esconder sua origem judia e "matar no peito" algumas atrocidades, em nome da investigação.
O roteiro, extremamente inteligente e atual, utiliza esta temática pesada de um modo um tanto descontraído, lotado de piadas sarcásticas e ácidas. Não são piadas pastelão e que fazem rir, mas inteligentes de tal modo que provocam e fazem refletir. Spike Lee não nos poupa de diversas palavras abusivas e preconceituosas, nos fazendo ficar indignados. Mas as mesmas são colocadas de tal modo que sempre nos lembra de que quem as estão falando, são pessoas ignorantes que não sabem o quão destrutivas podem ser. O roteiro ainda aborda diferentes situações de preconceito, por exemplo: quando o policial negro prende uma mulher branca culpada, policiais brancos acham que ele a está atacando sem motivos. Esta mesma mulher, esposa e apoiadora de um membro da Klan, é rebaixada pelo próprio marido, pois ele também acha que mulheres não tem direito de falar tanto quanto os homens. Algo típico do "macho alfa branco" que se acha superior. Cenografia, direção de arte e trilha sonora condizentes com a época, atuações fortes e direção segura, vinda de alguém que tem algo a dizer, o filme deve ser um forte candidato ao Oscar 2019.
Em determinado momento, o diretor opta por tirar a encenação dos atores e colocar cenas jornalísticas reais, que mostram manifestações da Klan em 2017, provando que tais barbáries estão mais vivas do que nunca. E mostra-se alguns membros falando que são encorajados pelas frases polêmicas do atual presidente dos Estados Unidos, mostrando-se que uma figura pública e poderosa com ideias preconceituosas, são sim um espelho negativo da nação, refletindo o ódio e encorajando pessoas pré-dispostas a atos de ódio (alô Brasil). O político em si pode não ordenar ataques ou proibições, pode até desconversar (até porque alguém deste porte tem vários assessores nos bastidores, os controlando para não extrapolarem), mas discursos e bordões que diminuem algum círculo social, pode (e vai) inflar pessoas que se julgam superiores. Em tempos divisórios, muitos ainda demonstram estas características, mesmo que em pequena escala. Alguns dizem não ser preconceituosos, mas riem do cabelo afro do colega de trabalho, dentre outras coisas. Sem falar que em tempos de frieza, onde cada um só se importa com o próprio umbigo, pessoas que estão na zona de conforto adotam o termo "mimimi" ou "vitimismo" para ignorar e abrandar a dor alheia. Julga-se aquele que sofreu uma injustiça e pede por igualdade, mas esquece que você nunca passará por isso, pois se enquadra dentro de um padrão aceito como superior (a própria palavra "padrão" já é ruim, já que se tratando de seres humanos, não deveria-se existir padrões). Não estamos aqui dizendo que o pior ocorrerá, mas precisamos tratar nossa mente para que de fato não ocorra. Às vezes não damos de conta que influenciamos um proceder negativo. Eu sou um que continuarei a fazer alguns ajustes e me policiar para não proliferar nenhum tipo de palavra irrefletida. É muito fácil deixarmos de sentir a dor do próximo.
Surreal de se imaginar que isso ainda acontece, 'Infiltrado na Klan' é espetacular, um dos melhores do ano e o que possui um comentário social mais urgente. Filme obrigatório, que deveria ser passado em escolas, empresas e demais instituições. Depois do emocionante 'Nasce Uma Estrela' que aborda a depressão, os vícios e a manipulada vida artística, e este 'Infiltrado na Klan' trazer um comentário inflamado e realista, a corrida das premiações começa a empolgar. Mas muito além de troféus fúteis, é bom saber que ao menos boa parte de alguns círculos sociais como artistas, jornais, professores e historiadores, estão sim de olhos abertos ao que acontece ao seu redor.
Este novo original da Netflix não chega a ser um filme perfeito, mas é extremamente atual. Dirigido com intensidade por Paul Greengrass, o mesmo de alguns filmes do 'Bourne' e de obras inflamadas como 'Capitão Phillips'. Baseado nos atentados reais ocorridos na Noruega em 2011, acompanhamos com apreensão a meia hora inicial da obra, onde o jovem Breivik explode um prédio governamental e logo após, mata diversos jovens (cerca de 69) a tiros em um acampamento, pobres vítimas de um extremista de direita, cheio de ideias racistas e neonazistas, com um olhar intimidador e arrogante (na imagem abaixo, a comparação do atirador verdadeiro na esquerda, com o ótimo ator da direita). A obra possui um primeiro ato perturbador, mostrando em detalhes a execução fria do monstro, é um soco na mente e um incômodo que dói no bom senso de qualquer um que seja uma boa pessoa. Após o atentado em si e a prisão do terrorista, acompanhamos o julgamento do mesmo, em contraste com os efeitos psicológicos nas famílias das vítimas. A partir daí, o filme perde um pouco o ritmo, ficando um pouco longo e lento demais. Mas, graças as atuações e ao forte impacto do início do filme, ainda temos interesse de ver onde isto vai levar, mesmo que com toda revolta enojante que sintamos. Uma obra assim, que nos conta algo tão real e tão plausível de acontecer, vem em boa hora, em dias de extremos e mentes com ideias de superioridade. Paul Greengrass, sempre pontual, consegue explorar o psicológico de alguém como Breivik e como sua mente cega, aparentemente "preocupada" com o país, é na verdade mais uma marionete de um mundo dividido, sem amor e ignorante. Um cenário cada vez mais próximo de nós. Filmes como estes são cada vez mais necessários, para que possamos refletir e aprender a ter compaixão, pois mesmo que uma tragédia não nos atinja diretamente, devemos ter a decência e a humanidade de sentir a dor do próximo.
A parceria Disney e Pixar não decepciona. Mestres em fazer animações infantis que divertem a criançada, mas que trazem reflexões mais maduras até mesmo aos adultos, este é outro acerto das produtoras. Claro, 'Os Incríveis 2' talvez não seja tão perfeito quanto o primeiro, talvez pela repetição da temática, além do plot do vilão não ser tão genial e possuir um final anticlimático. Mas as qualidades técnicas são de primeira linha. O CGI é impecável, com texturas, camadas e profundidade surreal (ao assistir, note como os fios de cabelo das personagens se movimentam ao vento). Não parece uma animação, mas um filme de ação. A cena da Sra. Incrível de moto perseguindo um trem é digna de um filme do 'Missão Impossível'. Com uma temática que referencia os super-heróis, mas direção de arte e trilha sonora que ecoam a filmes de espionagem, é um filme divertido, elegante e eletrizante.
Este é um dos fracassos de 2018, com uma bilheteria fraca e pouca repercussão (é sério, poucos ouviram falar do filme). Mas isso é até certo ponto uma injustiça, pois o filme é uma agradável surpresa, até mesmo sendo bem elogiado lá fora. A trama simples traz uma fábula imaginativa, que conta como seria o primeiro contato de um jovem e um lobo, nos primórdios da civilização. Em uma época selvagem e perigosa, conta-se como surgiu esta imortal amizade. A obra apresenta algumas falhas como personagens coadjuvantes que pouco importam, um ritmo acelerado demais (é apenas 1 hora e 35 minutos de filme) e alguns clichês. Mas é digno de nota alguns pontos positivos. A atuação do menino protagonista (Kodi Smit-McPhee) é esforçada, às vezes lembrando o desempenho físico e sofrido de filmes sobre sobrevivência, como DiCaprio em 'O Regresso'. A interação do rapaz com o cão é bacana, realista e às vezes agridoce. O filme não é exatamente infantil, uma vez que há várias cenas intensas, com ferimentos e perigos com certo grau de gravidade. A trilha sonora épica é bacana e os pontos principais são a direção e fotografia. Enquanto que Albert Hughes dirige o filme com competência, tensão e emoção, a belíssima fotografia entrega cenas de paisagens de tirar o fôlego (imagens abaixo). Beirando o contemplativo, são várias as cenas que lembram até mesmo um documentário do Discovery. Com uma metáfora bonita, o filme aquece o coração daqueles que tem seu cão ou algum PET como parte da família.
Um dos piores filmes do ano. Imagina misturar 2 temáticas bem batidas: futuro distópico onde adolescentes lutam contra algum tipo de autoridade (como em 'Jogos Vorazes'), adicionando super poderes típicos dos 'X-Men'. Esta ideia até poderia render um filme divertido, mas não ocorre isso. Ação em graça, roteiro lotado de clichês, CGI defeituoso, um 2° ato (meio do filme) lento e excessivamente dramático, atuações fraquinhas. O final quase empolga, mas não chega a isso e daí depois da ação, vem mais uns 10 minutos de trama anticlimática que deixa gancho para uma continuação, que possivelmente não deve acontecer.
Com atuações poderosas, um drama visceral, trilha sonora de arrepiar e um final devastador, é um filme obrigatório e arrebatador.
Seria muito fácil 'Nasce Uma Estrela' ser um filme ruim, pois além de trazer diversos clichês e uma fórmula que traz romance, música e tragédia, o que poderia ser brega, também trata-se da quarta vez que a mesma trama é contada (já falei dos filmes anteriores recentemente). Além disso, trata-se da primeira vez que Lady Gaga, uma cantora polêmica, assume o protagonismo de um filme de calibre. E é a primeira vez que o ator Bradley Cooper ataca de cantor e diretor. A inexperiência de ambos poderia ser fatal. Mas é justamente este paralelo da carreira de ambos com o título do filme que faz dar certo. Lady Gaga é encantadora e apaixonante, deixando para trás seus dias de diva escandalosa e encarando um papel simples, que a desmitifica da figura POP. Embora em dados momentos ainda custemos a tirar a imagem de cantora dela, ela surpreende com uma atuação forte e carregada de sentimentos. Ela está maravilhosa e deve facilmente concorrer a Melhor Atriz no próximo Oscar. Ganhar já não sei, ela tem o que crescer ainda, mas entrou no caminho certo e a indicação será justa. Mas tenho que admitir que o brilho do filme é mesmo de Bradley Cooper. Não enxergamos o ator encenando. Enxergamos de verdade um cantor cansado, uma alma falha, alguém apaixonado pela arte de compor, mas exausto da corrosão do sistema da indústria. Seus ombros caídos, barba por fazer, voz rouca, zunido nos ouvidos e excessos no álcool e drogas; tudo cria um personagem complexo, conturbado, humano e real, sentimos durante as 2 horas e 15 minutos de filme, o peso e a agonia do personagem. Cooper já havia mostrado talento e sido indicado a Melhor Ator em 'O Lado Bom da Vida' e 'Sniper Americano', mas aqui ele tem seu melhor personagem, que também deve ser indicado ao prêmio da Academia. A química entre os dois é espetacular, daquelas que se vê poucas vezes, pois sim, dificilmente casais de filmes tem de fato química em cena. O veterano mas pouco reconhecido Sam Elliott interpreta o irmão de Cooper e também é um espetáculo à parte, a dinâmica deles realmente parece de irmãos reais e o ator está sensacional no papel, também deveria concorrer a Melhor Ator Coadjuvante. O roteiro consegue aprofundar o drama pessoal de Jack (Cooper) em contrapartida a ascensão de Ally (Gaga). A direção de Cooper é ótima para um estreante, uma das maiores revelações do cinema de 2018. Ele sabe extrair cenas cruas dos atores, mas sabe onde parar para não exagerar. Ele utiliza ângulos de câmera interessantes, que fixa e dá close no rosto das personagens, extraindo todos os sentimentos em cena. Também foca a câmera em rugas do rosto e mãos e vários outros detalhes muito sutis que só os mais atentos percebem, tudo para trazer um humanismo a trama, tudo de modo muito respeitoso. Ele literalmente despe Gaga da imagem de louca com perucas e extravagância, para trazer sua beleza natural, com pouca maquiagem e muita naturalidade. Na hora das canções, sua câmera perambula pelo palco, mostra a gigante plateia, explora o nervosismo de Ally, os excessos de Jack. É um efeito imersivo belíssimo, nos transporta para dentro do filme, como se estivéssemos assistindo ao show de verdade deles. Hoje em dia, poucos filmes se dão ao luxo de serem imersivos, de transcender e levar o público para dentro da trama, mas aqui consegue-se isso. Outro ponto da direção dele, é que ele evita excesso de brilhantismo: apesar de assumir quase todas funções do filme, ele deixa Gaga brilhar. Em várias cenas ele se retira, retrai as emoções e deixa o palco para ela. A trilha sonora é emocionante, todas canções foram gravadas ao vivo, para intensificar a sensação de estarmos em um show. Faz-se um suspense até Gaga soltar a voz, mas quando faz isso na primeira vez, é de arrepiar, é realmente poderoso. A fotografia é linda e dá um tom de cinema indie, meio road movie. Abordando temáticas pesadas, o filme vai afundo nos vícios, na depressão, no ciúme, no círculo autodestrutivo que os excessos traz, tudo fruto de um mundo que não valoriza a arte, mas manipula o entretenimento barato em prol do dinheiro. De maneira pesada, o filme mostra as consequências disso, do preço da fama, dos produtores inescrupulosos e de como a mídia manipula uma figura pública, ordenando na sua vida, aparência e escolhas pessoais. Ironicamente isto se enquadra justamente na carreira de Gaga. Com um final esmagador, uma lição realista, personagens tempestuosos e atuações fortes, 'Nasce Uma Estrela' é o filme que você DEVE e PRECISA assistir no cinema.
NOTA: 10
Curiosidades: em vez de alugar um animal treinado de empresas especializadas em Hollywood, Cooper utiliza seu próprio cachorro no filme, o que já arrancou elogios e o primeiro prêmio para o filme, da organização PETA, que monitora utilização de animais em filmes e programas. As canções foram em parte compostas por Cooper e Gaga. Para ela, algumas letras melancólicas tem peso devido a morte de sua grande amiga, durante o processo de criação do filme. Com 'Nasce Uma Estrela', nasce um grande diretor e uma grande atriz. Com orçamento de 30 milhões de dólares, já arrecadou mais de 200 milhões, desbancando filmes como 'Venom' e é forte candidato na próxima temporada de premiação.
Quando o primeiro filme estourou lá em 2008, se tornou um cult instantâneo, pois além de retornar a um estilo quase extinto, os musicais, trazia um grande elenco se divertindo, cantando as imortais músicas do ABBA. Passada uma década, uma improvável continuação surge. E não é que conseguiram chegar em um resultado bem próximo do original? Bem, primeiramente digo "quase", pois a obra apresenta pequeninos defeitos: há algumas inconsistências na linha temporal, é estranho ver a Cher como a mãe de Meryl Streep já que ambas são da mesma faixa etária, as danças não são tão bem coreografadas como no primeiro, há cenas em que os atores e figurantes apenas se balançam e rodam no lugar, faltando assim um certo movimento nos números musicais. Mas isto que estou pontuando é "procurar cabelo em ovo", apenas a quesito de comparação com o impecável filme original. Mas disto isso, é uma obra repleta de qualidades. Primeiramente, em tempos de sagas e superproduções lotadas de ação e fantasia, com os super-heróis como os reis das bilheterias na atualidade, é louvável ver uma continuação de um musical, com uma trama mais humana, fugindo da tendência atual. A dualidade da linha temporal é bacana, traçando um paralelo entre a jornada das vidas de mãe e filha. O elenco é afiado e é delicioso assistir eles cantando e se divertindo de maneira tão sincera, passando uma boa sensação para quem assiste. Lily James é uma das mais carismáticas e interessantes jovens atrizes da nova safra, de jeito doce, a menina que estrelou a última versão de 'Cinderela' (2015) e foi a garçonete no excelente 'Em Ritmo de Fuga' (2017), tem grandes chances de crescer dentro da indústria. Acho Amanda Seyfried limitada e um tanto fraca, mas nestes papeis mais doces ela sempre se sai bem. Sem falar que Meryl Streep, Cher, Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgård são artistas que dispensam apresentações e todos estão bem. O roteiro humano e leve faz com que nos importemos com as personagens e que queiramos ver mais deles. As canções são ótimas, inclusive algumas inéditas escritas para o filme pelo próprio grupo ABBA, que se reuniu especialmente para isso, depois de décadas. O roteiro consegue encaixar bem as letras das músicas com as situações em cena. Pode ser levemente inferior ao primeiro, mas ainda assim é uma das mais agradáveis surpresas do ano, muito good vibe, cheio de sentimentos e good feeling. Ao abordar não apenas romance, mas temas como a importância da amizade, aceitar quem você é, aceitar os outros, recomeçar após uma perda, unir a família, 'Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo' merece mais do que ser assistido: merece ser sentido e vivido. Realmente estes dois filmes se completam e são uma celebração a vida.
É um filme desconhecido que originou outro filme: 'Nasce Uma Estrela'. Curiosamente, quem vem recebendo diversos remakes é o 'Nasce Uma Estrela', e não a obra que veio primeiro. 'What Price Hollywood ?' traz a história de ascensão de uma atriz na Era de Ouro de Hollywood, enquanto se relaciona com um produtor bêbado, que apresenta a ela o mundo da fama, enquanto que a dele vai por água abaixo. O longa tem alguns poucos problemas, como falta de atuações de fato fortes, além do roteiro ser simplista, ele apresenta uma crítica, mas não vai a fundo nisso. Mas é louvável que lá nos anos 30, já se tinha uma noção do preço da fama, do glamour passageiro e de como a mídia gosta de explorar a vida dos artistas. A atuação de Constance Bennett é boa e a direção do lendário George Cukor salva o filme de ser monótono. Mais tarde ele dirigiria colossos lendários como '... E O Vento Levou', 'O Mágico de Oz', 'Minha Bela Dama' e a 2° versão de 'Nasce Uma Estrela'! A obra concorreu ao Oscar de Melhor História Original (seria o prêmio de roteiro hoje), justamente por inovar ao mostrar o lado obscuro da fama. Se a própria Hollywood já era assim naquele tempo, imagina hoje!
Aquaman
3.7 1,7K Assista AgoraAlgumas cenas exageradas e um roteiro clichê e bobo são compensados com um belo espetáculo visual e sonoro, além da grande direção do talentoso James Wan.
Se você acompanha filmes, não tem como escapar deles, os reis do cinema moderno: os filmes de heróis. Nos últimos anos, os universos nerds, geeks e especialmente de super-heróis alcançaram níveis épicos, são líderes em bilheterias, geram discussões entre diferentes círculos e estão alcançando até mesmo níveis artísticos e premiações. Mas uma das maiores polêmicas recentes gira em torno da rivalidade entre os fãs da Marvel e seus 'Vingadores' (com um universo bem estruturado), contra a DC e sua 'Liga da Justiça' (com seu universo de altos e baixos). Na DC, 'Batman vs Superman', 'Esquadrão Suicida' e 'Liga da Justiça' foram alvos de críticas massivas (se são ruins ou apenas abaixo do esperado, cabe a outra discussão). 'O Homem de Aço' fica no mediano, enquanto que 'Mulher-Maravilha' parece ser o grande acerto da casa até então. Com expectativas baixas da grande maioria e depois de já amargarem muito, a DC entrega em 'Aquaman' uma competente aventura, com contornos épicos e colossais.
Primeiramente é preciso apontar uns probleminhas: ainda há muitos excessos, não existe sutileza, tudo é sempre muito grandioso e épico, sempre com muito, mas muito CGI e efeitos visuais, o tempo de duração sempre é longo, tudo ainda é muito apocalíptico. Outro ponto é que nem todo elenco atua bem. A Mera é uma importante personagem, visualmente bela, uma grande guerreira, gostaria de ver filmes da DC colocando ela lado a lado com a Mulher-Maravilha, já que no quesito girl power a DC sai na frente da Marvel (mas a 'Capitã Marvel' vem aí rsrs). Mas a atriz Amber Heard é bastante limitada, inclusive não tem tanta química com o herói nas cenas mais lentas, sendo convincente somente quando rola a ação. O roteiro do filme é um tanto ruim, clichê do clichê, amontoando elementos de diversos outros filmes já vistos. Os vilões interpretados por Patrick Wilson e Yahya Abdul-Mateen tem motivações válidas, mas poderiam ser melhor explorados em atuações.
Mas é interessante que todos estes defeitinhos acabam sendo contornados de algum modo. As 2 horas e 30 minutos são eletrizantes, não te deixando no tédio nenhum minuto. O diretor James Wan vem de um cinema de horror, para quem não sabe ele dirigiu o primeiro 'Jogos Mortais', os dois 'Invocação do Mal', os dois primeiros 'Sobrenatural', dentre outros. Nesses filmes, ele sempre soube utilizar a tensão, a atmosfera obscura, ângulos de câmera interessantes que mostram mas não mostram, dentre outros artifícios, afim de incomodar o público. Mas recentemente ele se aventurou nos blockbusters, dirigindo 'Velozes e Furiosos 7' (aquele que se despede de Paul Walker), que acabou sendo o melhor da franquia, justamente pela direção de Wan, com uma câmera tensa que acompanha as cenas de ação. Aqui em 'Aquaman' ele repete o feito, fazendo uma imersão nas cenas de aventura e ação. Existem ângulos de câmera inspirados, sequências frenéticas e um ritmo alucinante. A cena de perseguição em telhados na Sicília é uma das melhores cenas de ação do ano inteiro. As perseguições e combates aquáticos submarinos lembram 'Star Wars', mas com luzes neon e efeitos sonoros de sintetizadores eletrônicos que lembram 'Tron'.
Aliás, tanto na trilha sonora como no visual, é um filme a cara dos anos 80, um tanto retrô. Falando no visual, apesar de excessivo, o CGI tem sim uma alta qualidade. Na verdade, dentre os filmes de heróis de 2018, é o que tem o visual mais bonito de todos (desculpa 'Vingadores'), construindo todo um belíssimo mundo novo. Com 'Aquaman', a DC não tem medo de parecer uma HQ, beirando o cartunesco, mas em um bom sentido. De maneira autoconsciente, tem elementos visuais "bregas" e trash, propositalmente bizarros, afim de manter a fidelidade com o lúdico das HQ's. Assim, parece um filme classe B, mas com orçamento classe A. E isto é bacana, pois a DC abraça a causa de um de seus heróis mais "zuados" sem medo de ser feliz. Pode não agradar a todos, mas dá certo dentro deste universo mitológico. Falando em mitologia, Wan utiliza várias lendas e simbologias dos sete mares, inclusive para fazer referência ao terror que ele tanto ama. Há toda uma sequência envolvendo criaturas do fosso que é digna de um filme de terror, com cenas em preto e vermelho que mais lembram uma pintura artística, fazendo até mesmo referência ao mestre do gótico H. P. Lovecraft.
Com sequências que lembram aventuras arqueológicas (estilo 'A Múmia' e 'Indiana Jones'), batalhas submarinas insanas e épicas, muita diversão descontraída e excelente trilha sonora (algo que a DC comumente faz melhor que a Marvel), 'Aquaman' é um ótimo blockbuster para passar o tempo. Embora Jason Momoa não seja um excelente ator dramático, seu jeito "brucutu de bom coração" encaixa bem neste tipo de papel, ele abraça a causa e entrega um herói de respeito. Depois deste filme, quero ver chamarem ele de "carinha que fala com os golfinhos". Mesmo que prejudicado por excessos e roteiro, o filme é salvo pelo incrível visual, ação desenfreada, momentos épicos e mais uma boa direção de James Wan. Ao menos o filme tem vida e identidade própria, entregando um longa muito divertido e uma esperança para a DC. Que ela continue fazendo seu próprio caminho, entregando sua própria pegada.
Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível
3.9 457 Assista AgoraNeste bonito filme, o garoto Christopher Robin cresce, é pai de família, tem seu chato emprego e esqueceu-se da magia da vida, deixando Ursinho Pooh e sua turma no imaginário do passado. E quando tudo se complica, há o tal reencontro entre Christopher Robin e os seus amigos de infância, bagunçando ainda mais a vida. Lúdico e bonito visualmente, o filme é mais direcionado a adultos do que crianças, pois tem um tom mais sério e uma mensagem que cutuca diretamente os mais velhos. Quando você se tornou adulto, o que o fez perder a alegria, o colorido e a imaginação? Vale a pena deixar a família de lado pelo emprego, pelo dinheiro e os problemas da rotina? Nada tem relação com maturidade, mas como enxergamos a vida. Pooh e os demais bichos são incrivelmente criados em um CGI realista, mas note o detalhe: não parecem animais de verdade, mas bichinhos de pelúcia de verdade, inclusive na textura do pelo, brilho opaco dos olhos, etc. Com momentos divertidos e outros emocionantes, é um filme que merecia mais reconhecimento no ano que passou. Tanto o ator Ewan McGregor quanto o diretor Marc Forster mandam bem e comprovam sua versatilidade para diferentes tipos de papéis e filmes. Recomendo a todos, especialmente as "crianças grandinhas", muitos precisam redescobrir as coisas simples e imaginativas que trazem alegria.
Roma
4.1 1,4K Assista AgoraUm retrato íntimo e sensível, Alfonso Cuarón faz uma viagem de volta as origens no México, em um retrato do passado, lindamente fotografado em preto e branco, plano-sequências de tirar o fôlego, em um dos melhores filmes do ano.
Alfonso Cuarón, que ganhou o mundo com as ficções científicas cult 'Filhos da Esperança' e 'Gravidade' (que lhe rendeu Oscar de Melhor Diretor), retorna de maneira mais sutil e simplista, retratando o cotidiano de uma empregada e a família na qual trabalha, no bairro Roma, na capital Cidade do México. Espécie de túnel do tempo, pontuando lembranças marcantes na vida da protagonista, o filme te leva em uma viagem sensorial, te proporcionando experimentar emoções humanas, mundanas e comuns, mas poderosas na pele da protagonista. Considerado por muitos o melhor filme de 2018, só não o coloco neste patamar devido a uns pequenos probleminhas: falta uma melhor construção das personagens coadjuvantes por parte do roteiro, há uma cena expositiva no início do filme que não acrescenta nada a trama, e o longa de 2 horas e 15 minutos poderia ser um pouquinho mais curto, com 2 horas redondas poderia-se ser mais enxuto, especialmente no início do filme. Mas isto são detalhes que nada impedem de apreciar a beleza do filme, especialmente na metade final, na qual somos pegos por algumas das mais belas cenas do ano.
Nos 40 minutos finais, temos 3 sequências de tirar o fôlego. A sequência da repressão policial e do governo contra a passeata do povo refere-se a momentos reais da história do México, pois poucos sabem que existe lá um histórico de muitas mortes e desaparecimentos, principalmente jovens, quando estes manifestam-se contra o governo, um fato que todos tememos que se repita em outros países, como Brasil. A cena do parto é um plano-sequência cru e sem cortes, sufocante, de dar um nó no estômago e de desmontar os mais fracos. A cena final da praia, além de igualmente tensa, também é belíssima, poética e funciona como um forte e caloroso abraço: nos sentimos abraçados e sentimos como se nós estivéssemos abraçando a nossa forte protagonista. O roteiro ainda aborda o choque de classes sociais, o amor que empregadas e babás tem pelos filhos dos chefes, consegue-se dar beleza a coisas do cotidiano, como limpar o pátio. O filme é repleto de cenas extremamentes simples e sutis, mas que dizem muito, como na cena da chuva de granizo, onde o cãozinho se esconde do temporal, enquanto as crianças brincam com o gelo. São coisas "bobas", simples, mas lindamente filmadas, repletas de simbolismos, explorando a amargura e principalmente, a beleza da vida.
A fotografia é estonteante, mesmo sem cores, é tão linda que conseguimos sentir o realismo e o calor das ocasiões. O filme é uma obra de arte visual, daquelas que poucas vezes vemos. Alfonso Cuarón usa e abusa de sequências longas e sem cortes, ângulos de câmera inspirados e um brilhantismo único ao contar esta jornada. Em uma Era Trump, onde busca-se distanciar estrangeiros mexicanos, mesmo que os mesmos estejam fazendo muita coisa acontecer dentro e fora dos EUA, 'Roma' é uma carta de amor ao México, um presente para seu povo humilde e sofrido, uma obra tocante que através da Netflix, está a disposição de todos que aventuram-se nas lembranças das coisas simples e belas da vida.
Casablanca
4.3 1,0K Assista Agora'Casablanca' é um dos maiores clássicos americanos já filmados. Em plena 2° Guerra Mundial, a cidade de Casablanca, no Marrocos, é palco de encontros e desencontros entre Rick (Humphrey Bogart) e Ilsa (Ingrid Bergman), que estão fugindo dos nazistas pelo Oriente. É uma obra atemporal, com diálogos longos e romatizados, uma química irrestível entre Bogart e Bergman, uma fotografia em preto e branco linda, cenografia elegante, figurino caprichado e trilha sonora marcante. Um dos expoentes do cinema noir, cheio de cenas climáticas, traz bom desempenho do elenco, especialmente Ingrid Bergman, maravilhosa atriz do cinema clássico. Vencedor de 3 Oscar (Filme, Diretor e Roteiro Adaptado), contém algumas das cenas mais icônicas e copiadas da história, como as famosas cenas de beijo entre o casal protagonista, consideradas as mais longas e apaixonadas até aquela época, fato que marcou uma geração inteira de apaixonados pela sétima arte. Até hoje, o filme segue como referência e inspiração a vários outros, uma fonte inesgotável para romances dramáticos.
-"We'll always have Paris." ("Nós sempre teremos Paris")
O Ódio que Você Semeia
4.3 457Poderoso em conceito e em execução, um dos melhores filmes do ano, disseca as tramas do preconceito, com cenas e diálogos que são um soco na mente.
Ao lado de 'Infiltrado na Klan', 'O Ódio que Você Semeia' torna-se um filme obrigatório. Os dois formam uma espécie de dobradinha, que deveria ser passada em escolas, instituições e empresas. Aqui nesta trama, Starr é uma jovem que mora no gueto, mas que graças aos esforços dos pais, estuda em uma escola de privilegiados brancos. Ela namora um rapaz branco e ambos sofrem preconceitos. Alguns a tratam exageradamente bem ou como coitada, outros acham que ele está com ela por pena ou para ser descolado e não parecer racista. Mas isso é só a ponta do iceberg. Quando o melhor amigo e primeiro amor de Starr, um menino negro, é morto por um policial branco, ela enfrentará uma jornada de autodescoberta, tornando-se uma voz contra as barreiras e injustiças sociais. Mas tudo é muito emaranhado de tal forma que todos contribuem para a proliferação do ódio. A "amiga" que defende o policial pois ele estava a serviço, os traficantes do gueto, a mãe superprotetora que não quer a filha protestando. É aí que o roteiro se aprofunda naquilo que prolonga os preconceitos no cotidiano. Que deixar de clamar por justiça é deixar sua voz ser calada. E como o pai diz, não deixe ninguém lhe calar. São 2 horas e 10 minutos onde cada cena é pensada afim de provocar, não há uma cena sequer que seja banal. Da primeira tomada, com o pai ensinando os filhos a como se portar se forem parados por um policial branco, até os instantes finais, são golpes na mente, que provocam diversas reações, que buscam concientizar que não é vitimismo e polemização, mas é a realidade e que quanto mais for abafada, mais opressora será para pessoas que sofrem determinada rotulação. O ódio que você semeia marca as crianças, e crianças com sementes de ódio "ferram" com todos nós. Direção segura, belas atuações e competente na dissertação do assunto, filmaço que todos deveriam assistir. Mas infelizmente, por tratar de assuntos que tiram da zona de conforto, a maioria vai apenas ignorar, como já andam fazendo no dia-a-dia.
Tempo de Despertar
4.3 648 Assista AgoraEste tocante filme de 1990 baseado em fatos reais, traz Robin Williams como um neurologista que decide experimentar uma medicação em pacientes catatônicos que sofrem de encefalite letárgica. Além disso, ao contrário de seus colegas de trabalho, ele trata os pacientes com dignidade, indiferente da situação do mesmo, pois acredita que eles tem noção de tudo o que acontece. O primeiro paciente a receber o tratamento é o personagem de Robert De Niro, que começa a responder a medicação e a "despertar". O filme é brilhante de várias maneiras. Primeiro, a atuação de De Niro é fantástica, ele encara um papel difícil, de alguém doente cheio de "tics" e limitações, mas faz isso sem exagerar ou ficar caricato. Não atoa, concorreu ao Oscar de Melhor Ator. Robin Williams não fica atrás, e como ele faz falta no cinema! Seus personagens sempre humildes, humanos e sensíveis. É difícil não se emocionar com os dois em cena. Mas a maior força do filme é a mensagem ambígua que o roteiro traz. Embora a medicação faça efeito em pacientes que ficaram décadas em um estado de sono, quem aprende a lição é quem nunca teve este tipo de problema. Pois enquanto descobre-se que os pacientes sempre estiveram cientes de tudo ao seu redor, agora com o tratamento, eles conseguem fazer aquilo que querem e viver de verdade. Isto é o oposto das pessoas que tem saúde, mas não vivem como querem ou deveriam, pois estão dormentes nos seus empregos, dinheiro, compras, problemas, burocracias e divisões sociais. Vemos isso no contraste dos protagonistas: enquanto que De Niro desperta da doença vivendo tudo o que pode de maneira verdadeiramente feliz, Robin Williams desperta do seu comodismo mental, percebendo o quanto é solitário e desperdiça a vida, independente da boa saúde. Com um final melancólico que dói saber que isso aconteceu na vida real, 'Tempo de Despertar' traz uma mensagem poderosa sobre acordar para a vida. A vida de verdade, dando valor as coisas mais simples e deixando de lado todas as bobagens da sociedade moderna. Termino aqui com uma frase do filme:
- Leia o jornal. O que diz? Só coisa ruim. Está tudo ruim. As pessoas esqueceram o sentido da vida. Esqueceram o que é estar vivo. Elas precisam ser lembradas. Elas precisam ser lembradas o que elas tem e o que podem perder. O que eu sinto é alegria em viver, o presente da vida, a liberdade da vida, o encantamento da vida.
Luciferina
2.1 54Filme argentino interessante, com umas ideias diferentes. Bacana este título fazer uma brincadeira com Lúcifer e a tuba uterina da mulher (que aparece simbolizado diversas vezes), uma vez que no seu metafórico e psicológico contexto, o roteiro aborda a represssão e liberdade sexual, a gravidez e seus afins. Pena que pelo que vejo nos comentários, a maioria aqui não entendeu ou aderiu a ideia. Filme está sendo bem recebido pela crítica ai pelo mundo.
Cam
3.1 548 Assista AgoraFilme atual e muito bem elaborado.
Estas cam girls realmente são uma tendência crescente aí pela rede. Filme intrigante, bem dirigido e atuado pela Madeline Brewer. O roteiro é inteligente e deixa estas pontas soltas para que cada um interprete como quiser.
Pode ser um hacker excelente, pois esta tecnologia já existe, mas não é peixe pequeno, pois requer processamento, tecnologia, máquinas e estruturas caras. Então, pode ser uma alegórica metáfora a como nos expomos na internet de maneira diferente do que somos no dia-a-dia. Daí se o seu "eu" verdadeiro é o do cotidiano ou o do mundo virtual, cabe a você refletir. E claro, ainda há uma pequena brecha para uma interpretação sobrenatural, uma vez que tudo desmorona depois dela brincar de se "suicidar".
Missão: Impossível - Efeito Fallout
3.9 788Muitas sagas se perdem no excesso de continuações. Mas é incrível como 'Missão Impossível' consegue manter uma alta qualidade. Tom Cruise continua um grande astro da ação. Apesar de muitos criticarem o fato dele sempre fazer o mesmo papel, o que não deixa de ser verdade, ao mesmo tempo, ele sempre tem carisma e segura as pontas. 'Efeito Fallout' tem um roteiro ok, é clichê mas eficiente. Mas o ponto alto fica mesmo por parte da direção de Christopher McQuarrie, que entrega cenas absurdas e de tirar o fôlego: o pulo de um avião quase fora da atmosfera, intensas perseguições, acrobacias com helicópteros, tudo muito bem dirigido. A fotografia privilegia belos cenários e paisagens naturais de diversas partes do mundo. O elenco é entrosado, inclusive Henry Cavil em um enigmático personagem. Trilha sonora que intensifica as cenas eletrizantes, belo jogo de iluminação e direção de arte. O gato e rato da trama, repleto de reviravoltas, pode deixar confuso de início, mas as peças se acertam no fim. O novo exemplar de 'Missão Impossível' é um dos melhores filmes de ação do ano.
Buscando...
4.0 1,3K Assista AgoraExcelente suspense, com temática atual e realista.
Na trama, desesperado com o desaparecimento da sua filha, um pai decide invadir o computador da jovem para procurar pistas virtuais que possam levar ao seu paradeiro. O filme inteiro se passa sob a perspectiva de telas de computadores e celulares, técnica similar utilizada naquele terror 'Amizade Desfeita'. Porém, o recurso é melhor utilizado aqui. Além de tecnicamente realista, com linguagem técnica, ferramentas e softwares reais, o filme mantém um ótimo ritmo e mistério. A atuação de John Cho é boa, consegue passar aflição mesmo que em muitas das cenas, ele está apenas navegando no computador. A parte dramática é boa, mostrando conflitos de pai e filha, e como a própria tecnologia pode servir de barreira na comunicação. Mas ironicamente, se bem utilizada, também pode ajudar em casos investigativos. O roteiro ainda trata de assuntos como exposição virtual, falta de privacidade, má utilização das redes sociais, a força de correntes eletrônicas como fake news, influenciadores que se aproveitam de uma desgraça para ganharem likes, comentários com opiniões polarizadas de pessoas que desconhecem todos os fatos, etc. As reviravoltas podem não agradar a todos, mas são coerentes. Imagine um suspense digno de Alfred Hitchcock, mas no cenário virtual atual. Considero este um filme interessante até para se assistir em família e depois ter uma conversa sobre o assunto. A internet está aí para todos, mas cada vez mais vemos que talvez a maioria não a saiba utilizar de maneira segura ou construtiva.
Kramer vs. Kramer
4.1 546 Assista AgoraNeste comovente drama de 1979, Dustin Hoffman e Meryl Streep interpretam um casal que se separa, pois dentre várias coisas, ela quer um espaço para se encontrar. Sendo assim, ele fica com o filho e precisa aprender a ser um bom pai solteiro. Depois de muitas adaptações a nova fase, ele já está dando conta do recado e tendo uma boa relação com a criança, mas ela retorna lutando na justiça para ter a guarda do filho. Além de naturalmente a justiça já dar preferência a mãe, ele sofre a perda do emprego, o que se tornará um desafio massacrante. Com esta trama extremamente simples, mas extremamente humana, é um filmaço, onde os astros em cena brilham com atuações marcantes. Foi o filme que deu o primeiro Oscar a ambos: Melhor Ator para Hoffman e Melhor Atriz Coadjuvante para Streep. Grande vencedor do Oscar 1980, também ganhou como Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Diretor e Melhor Filme! Com ótima direção de Robert Benton e um roteiro coeso e realista, o longa é composto por pequenos momentos, mas grandes em emoçoes. A cena em que Hoffman corre diversas quadras até o hospital com o filho nos braços é extremamente realista. Os diálogos no tribunal, cheios de emoções e sentimentos, são de uma ambiguidade incrível: não há mocinhos e vilões, apenas duas boas pessoas que não conseguiram ficar juntas, mas ambas amam o seu filho. Nestas cenas em questão, ela brilha. Mas nas cenas fora do tribunal, ele carrega o filme. Dustin Hoffman é um ator incrível, com personagens meticulosamente contidos, humanos e realistas. Aqui não é diferente. A cena final (esta da imagem) é extremamente emotiva, simples e bela. Pai e filho fazendo rabanadas e conversando, enquanto aguardam a mãe vir buscá-lo. O pai explica o que está acontecendo. A criança, nitidamente triste, começa a entender a situação. Os dois cozinham juntos e se abraçam. Existe aqui nesta cena um realismo cru, humano, de partir o coração, uma cena inesquecível, tão simples e bela numa mesma intensidade. Até a época, 'Kramer vs. Kramer' foi o filme que melhor discutiu e mostrou as consequências do divórcio, a insegurança da criança nesta situação e como daquela época para cá, o que conta mesmo é o que é mais importante para a criança, com qual pai ou mãe ela se sentirá mais segura e terá afinidade. Belíssimo filme, altamente recomendado.
Podres de Ricos
3.5 507 Assista AgoraBaseado no best-seller 'Crazy Rich Asians', 'Podres de Ricos' é um filme que em uma rápida observada, é a típica comédia romântica de Hollywood, cheia de clichês e momentos direcionados para o seu público alvo. Isto pode afastar a quem procura produções mais maduras, originais e profundas. Na trama, a americana Rachel viaja a Singapura com seu namorado Nick, afim de conhecer a família do rapaz e participarem do casamento de uns amigos dele. Mas chegando lá, ela descobre que a família dele é uma das mais poderosas da região, são figuras cheios da grana e ostentação, mas vazios e complicados. Apesar do clichê, é digno de nota apontar algumas qualidades na produção. Começando pela representatividade asiática. São tempos de representatividade no cinema e na TV e não há como fugir disso. Assim como 'Pantera Negra' trouxe uma produção americana que exala a força afro e da mãe África, 'Podres de Ricos' faz o mesmo com o Oriente. Do elenco inteiro, passando pelo diretor e produtores, é um filme todo oriental feito em solo americano. E a representaividade está não apenas nas pessoas, mas nos costumes milenares, nos figurinos e na cultura. De nada adianta representatividade se não tiver boas atuações. Mas isso o filme tem de sobra e é sua maior força. Especialmente a protagonista Constance Wu, bastante doce e carismática. Além da Awkwafina, Youtuber, cantora e atriz humorista n° 1 do momento entre os artistas de descêndencia oriental. O elenco todo tem carisma, o casal tem química e a fórmula funciona. O visual do filme é lindo, com destaque para os figurinos, a direção de arte atenta aos detalhes e fotografia, mostrando modernos prédios da estonteante Singapura. A cena do casamento é uma das mais belas e originais do cinema recente. A moral da obra é bacana. Lotado de situações constrangedoras para as personagens, há uma crítica aos excessos, a colocar dinheiro fora, a escravidão que o dinheiro pode trazer para os membros da família. São figuras ricas, loucas e vazias. Este contraste com a simplicidade, o amor, a amizade e a liberdade de escolha é um discurso moral batido, mas sempre válido, ainda mais em tempos de fácil polarização de vários assuntos, incluindo o uso e a busca excessiva do dinheiro. Simples e direto, é um filme que pode não ser revolucionário, mas é competente na sua proposta. Fenômeno lá pelos Estados Unidos, liderou bilheterias e tem 90% de aprovação da crítica (mas parece que por aqui passou batido). É uma produção bacana, daquelas que viajamos para o outro lado do mundo com o filme, mas vemos que alguns problemas são iguais para todos. Saber dar valor ao que realmente importa é universal.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraCrítica: 'Infiltrado na Klan'
Provocativo, um soco na mente, com um roteiro inteligente, um final chocante, o filme vai fundo na ferida do racismo, tema cada vez mais debatido, mas cada vez mais tratado com descaso ou "mimimi". Um convite a sair da zona de conforto.
Baseado em fatos reais, é o novo filme do proeminente Spike Lee, cineasta focado em debater e incendiar questões sociais, cujos filmes alavancaram as carreiras de atores como Denzel Washington. Na trama, uma dupla de policiais decide fingir ser a mesma pessoa e se infiltrar na terrível Ku Klux Klan, grupo extremista que prega a superioridade branca e ataca violentamente os "diferentes" de suas ideias hipócritas. Ron, por ser negro, obviamente trabalha nos bastidores, sendo a mente da operação e atuando no telefone, enquanto que Flip, por ser branco, se infiltra no grupo, afim de conseguir informações para destruí-los. Mas enquanto que Ron se envolve e precisa proteger Patrice (uma ativista pelos direitos dos negros), Flip precisa esconder sua origem judia e "matar no peito" algumas atrocidades, em nome da investigação.
O roteiro, extremamente inteligente e atual, utiliza esta temática pesada de um modo um tanto descontraído, lotado de piadas sarcásticas e ácidas. Não são piadas pastelão e que fazem rir, mas inteligentes de tal modo que provocam e fazem refletir. Spike Lee não nos poupa de diversas palavras abusivas e preconceituosas, nos fazendo ficar indignados. Mas as mesmas são colocadas de tal modo que sempre nos lembra de que quem as estão falando, são pessoas ignorantes que não sabem o quão destrutivas podem ser. O roteiro ainda aborda diferentes situações de preconceito, por exemplo: quando o policial negro prende uma mulher branca culpada, policiais brancos acham que ele a está atacando sem motivos. Esta mesma mulher, esposa e apoiadora de um membro da Klan, é rebaixada pelo próprio marido, pois ele também acha que mulheres não tem direito de falar tanto quanto os homens. Algo típico do "macho alfa branco" que se acha superior. Cenografia, direção de arte e trilha sonora condizentes com a época, atuações fortes e direção segura, vinda de alguém que tem algo a dizer, o filme deve ser um forte candidato ao Oscar 2019.
Em determinado momento, o diretor opta por tirar a encenação dos atores e colocar cenas jornalísticas reais, que mostram manifestações da Klan em 2017, provando que tais barbáries estão mais vivas do que nunca. E mostra-se alguns membros falando que são encorajados pelas frases polêmicas do atual presidente dos Estados Unidos, mostrando-se que uma figura pública e poderosa com ideias preconceituosas, são sim um espelho negativo da nação, refletindo o ódio e encorajando pessoas pré-dispostas a atos de ódio (alô Brasil). O político em si pode não ordenar ataques ou proibições, pode até desconversar (até porque alguém deste porte tem vários assessores nos bastidores, os controlando para não extrapolarem), mas discursos e bordões que diminuem algum círculo social, pode (e vai) inflar pessoas que se julgam superiores. Em tempos divisórios, muitos ainda demonstram estas características, mesmo que em pequena escala. Alguns dizem não ser preconceituosos, mas riem do cabelo afro do colega de trabalho, dentre outras coisas. Sem falar que em tempos de frieza, onde cada um só se importa com o próprio umbigo, pessoas que estão na zona de conforto adotam o termo "mimimi" ou "vitimismo" para ignorar e abrandar a dor alheia. Julga-se aquele que sofreu uma injustiça e pede por igualdade, mas esquece que você nunca passará por isso, pois se enquadra dentro de um padrão aceito como superior (a própria palavra "padrão" já é ruim, já que se tratando de seres humanos, não deveria-se existir padrões). Não estamos aqui dizendo que o pior ocorrerá, mas precisamos tratar nossa mente para que de fato não ocorra. Às vezes não damos de conta que influenciamos um proceder negativo. Eu sou um que continuarei a fazer alguns ajustes e me policiar para não proliferar nenhum tipo de palavra irrefletida. É muito fácil deixarmos de sentir a dor do próximo.
Surreal de se imaginar que isso ainda acontece, 'Infiltrado na Klan' é espetacular, um dos melhores do ano e o que possui um comentário social mais urgente. Filme obrigatório, que deveria ser passado em escolas, empresas e demais instituições. Depois do emocionante 'Nasce Uma Estrela' que aborda a depressão, os vícios e a manipulada vida artística, e este 'Infiltrado na Klan' trazer um comentário inflamado e realista, a corrida das premiações começa a empolgar. Mas muito além de troféus fúteis, é bom saber que ao menos boa parte de alguns círculos sociais como artistas, jornais, professores e historiadores, estão sim de olhos abertos ao que acontece ao seu redor.
22 de Julho
3.7 219 Assista AgoraO perigo do extremismo.
Este novo original da Netflix não chega a ser um filme perfeito, mas é extremamente atual. Dirigido com intensidade por Paul Greengrass, o mesmo de alguns filmes do 'Bourne' e de obras inflamadas como 'Capitão Phillips'. Baseado nos atentados reais ocorridos na Noruega em 2011, acompanhamos com apreensão a meia hora inicial da obra, onde o jovem Breivik explode um prédio governamental e logo após, mata diversos jovens (cerca de 69) a tiros em um acampamento, pobres vítimas de um extremista de direita, cheio de ideias racistas e neonazistas, com um olhar intimidador e arrogante (na imagem abaixo, a comparação do atirador verdadeiro na esquerda, com o ótimo ator da direita). A obra possui um primeiro ato perturbador, mostrando em detalhes a execução fria do monstro, é um soco na mente e um incômodo que dói no bom senso de qualquer um que seja uma boa pessoa. Após o atentado em si e a prisão do terrorista, acompanhamos o julgamento do mesmo, em contraste com os efeitos psicológicos nas famílias das vítimas. A partir daí, o filme perde um pouco o ritmo, ficando um pouco longo e lento demais. Mas, graças as atuações e ao forte impacto do início do filme, ainda temos interesse de ver onde isto vai levar, mesmo que com toda revolta enojante que sintamos. Uma obra assim, que nos conta algo tão real e tão plausível de acontecer, vem em boa hora, em dias de extremos e mentes com ideias de superioridade. Paul Greengrass, sempre pontual, consegue explorar o psicológico de alguém como Breivik e como sua mente cega, aparentemente "preocupada" com o país, é na verdade mais uma marionete de um mundo dividido, sem amor e ignorante. Um cenário cada vez mais próximo de nós. Filmes como estes são cada vez mais necessários, para que possamos refletir e aprender a ter compaixão, pois mesmo que uma tragédia não nos atinja diretamente, devemos ter a decência e a humanidade de sentir a dor do próximo.
Os Incríveis 2
4.1 1,4K Assista AgoraA parceria Disney e Pixar não decepciona. Mestres em fazer animações infantis que divertem a criançada, mas que trazem reflexões mais maduras até mesmo aos adultos, este é outro acerto das produtoras. Claro, 'Os Incríveis 2' talvez não seja tão perfeito quanto o primeiro, talvez pela repetição da temática, além do plot do vilão não ser tão genial e possuir um final anticlimático. Mas as qualidades técnicas são de primeira linha. O CGI é impecável, com texturas, camadas e profundidade surreal (ao assistir, note como os fios de cabelo das personagens se movimentam ao vento). Não parece uma animação, mas um filme de ação. A cena da Sra. Incrível de moto perseguindo um trem é digna de um filme do 'Missão Impossível'. Com uma temática que referencia os super-heróis, mas direção de arte e trilha sonora que ecoam a filmes de espionagem, é um filme divertido, elegante e eletrizante.
Alfa
3.4 296 Assista AgoraEste é um dos fracassos de 2018, com uma bilheteria fraca e pouca repercussão (é sério, poucos ouviram falar do filme). Mas isso é até certo ponto uma injustiça, pois o filme é uma agradável surpresa, até mesmo sendo bem elogiado lá fora. A trama simples traz uma fábula imaginativa, que conta como seria o primeiro contato de um jovem e um lobo, nos primórdios da civilização. Em uma época selvagem e perigosa, conta-se como surgiu esta imortal amizade. A obra apresenta algumas falhas como personagens coadjuvantes que pouco importam, um ritmo acelerado demais (é apenas 1 hora e 35 minutos de filme) e alguns clichês. Mas é digno de nota alguns pontos positivos. A atuação do menino protagonista (Kodi Smit-McPhee) é esforçada, às vezes lembrando o desempenho físico e sofrido de filmes sobre sobrevivência, como DiCaprio em 'O Regresso'. A interação do rapaz com o cão é bacana, realista e às vezes agridoce. O filme não é exatamente infantil, uma vez que há várias cenas intensas, com ferimentos e perigos com certo grau de gravidade. A trilha sonora épica é bacana e os pontos principais são a direção e fotografia. Enquanto que Albert Hughes dirige o filme com competência, tensão e emoção, a belíssima fotografia entrega cenas de paisagens de tirar o fôlego (imagens abaixo). Beirando o contemplativo, são várias as cenas que lembram até mesmo um documentário do Discovery. Com uma metáfora bonita, o filme aquece o coração daqueles que tem seu cão ou algum PET como parte da família.
Mentes Sombrias
2.8 207 Assista AgoraUm dos piores filmes do ano. Imagina misturar 2 temáticas bem batidas: futuro distópico onde adolescentes lutam contra algum tipo de autoridade (como em 'Jogos Vorazes'), adicionando super poderes típicos dos 'X-Men'. Esta ideia até poderia render um filme divertido, mas não ocorre isso. Ação em graça, roteiro lotado de clichês, CGI defeituoso, um 2° ato (meio do filme) lento e excessivamente dramático, atuações fraquinhas. O final quase empolga, mas não chega a isso e daí depois da ação, vem mais uns 10 minutos de trama anticlimática que deixa gancho para uma continuação, que possivelmente não deve acontecer.
Nasce Uma Estrela
4.0 2,4K Assista Agora'Nasce Uma Estrela'
Com atuações poderosas, um drama visceral, trilha sonora de arrepiar e um final devastador, é um filme obrigatório e arrebatador.
Seria muito fácil 'Nasce Uma Estrela' ser um filme ruim, pois além de trazer diversos clichês e uma fórmula que traz romance, música e tragédia, o que poderia ser brega, também trata-se da quarta vez que a mesma trama é contada (já falei dos filmes anteriores recentemente). Além disso, trata-se da primeira vez que Lady Gaga, uma cantora polêmica, assume o protagonismo de um filme de calibre. E é a primeira vez que o ator Bradley Cooper ataca de cantor e diretor. A inexperiência de ambos poderia ser fatal. Mas é justamente este paralelo da carreira de ambos com o título do filme que faz dar certo. Lady Gaga é encantadora e apaixonante, deixando para trás seus dias de diva escandalosa e encarando um papel simples, que a desmitifica da figura POP. Embora em dados momentos ainda custemos a tirar a imagem de cantora dela, ela surpreende com uma atuação forte e carregada de sentimentos. Ela está maravilhosa e deve facilmente concorrer a Melhor Atriz no próximo Oscar. Ganhar já não sei, ela tem o que crescer ainda, mas entrou no caminho certo e a indicação será justa. Mas tenho que admitir que o brilho do filme é mesmo de Bradley Cooper. Não enxergamos o ator encenando. Enxergamos de verdade um cantor cansado, uma alma falha, alguém apaixonado pela arte de compor, mas exausto da corrosão do sistema da indústria. Seus ombros caídos, barba por fazer, voz rouca, zunido nos ouvidos e excessos no álcool e drogas; tudo cria um personagem complexo, conturbado, humano e real, sentimos durante as 2 horas e 15 minutos de filme, o peso e a agonia do personagem. Cooper já havia mostrado talento e sido indicado a Melhor Ator em 'O Lado Bom da Vida' e 'Sniper Americano', mas aqui ele tem seu melhor personagem, que também deve ser indicado ao prêmio da Academia. A química entre os dois é espetacular, daquelas que se vê poucas vezes, pois sim, dificilmente casais de filmes tem de fato química em cena. O veterano mas pouco reconhecido Sam Elliott interpreta o irmão de Cooper e também é um espetáculo à parte, a dinâmica deles realmente parece de irmãos reais e o ator está sensacional no papel, também deveria concorrer a Melhor Ator Coadjuvante. O roteiro consegue aprofundar o drama pessoal de Jack (Cooper) em contrapartida a ascensão de Ally (Gaga). A direção de Cooper é ótima para um estreante, uma das maiores revelações do cinema de 2018. Ele sabe extrair cenas cruas dos atores, mas sabe onde parar para não exagerar. Ele utiliza ângulos de câmera interessantes, que fixa e dá close no rosto das personagens, extraindo todos os sentimentos em cena. Também foca a câmera em rugas do rosto e mãos e vários outros detalhes muito sutis que só os mais atentos percebem, tudo para trazer um humanismo a trama, tudo de modo muito respeitoso. Ele literalmente despe Gaga da imagem de louca com perucas e extravagância, para trazer sua beleza natural, com pouca maquiagem e muita naturalidade. Na hora das canções, sua câmera perambula pelo palco, mostra a gigante plateia, explora o nervosismo de Ally, os excessos de Jack. É um efeito imersivo belíssimo, nos transporta para dentro do filme, como se estivéssemos assistindo ao show de verdade deles. Hoje em dia, poucos filmes se dão ao luxo de serem imersivos, de transcender e levar o público para dentro da trama, mas aqui consegue-se isso. Outro ponto da direção dele, é que ele evita excesso de brilhantismo: apesar de assumir quase todas funções do filme, ele deixa Gaga brilhar. Em várias cenas ele se retira, retrai as emoções e deixa o palco para ela. A trilha sonora é emocionante, todas canções foram gravadas ao vivo, para intensificar a sensação de estarmos em um show. Faz-se um suspense até Gaga soltar a voz, mas quando faz isso na primeira vez, é de arrepiar, é realmente poderoso. A fotografia é linda e dá um tom de cinema indie, meio road movie. Abordando temáticas pesadas, o filme vai afundo nos vícios, na depressão, no ciúme, no círculo autodestrutivo que os excessos traz, tudo fruto de um mundo que não valoriza a arte, mas manipula o entretenimento barato em prol do dinheiro. De maneira pesada, o filme mostra as consequências disso, do preço da fama, dos produtores inescrupulosos e de como a mídia manipula uma figura pública, ordenando na sua vida, aparência e escolhas pessoais. Ironicamente isto se enquadra justamente na carreira de Gaga. Com um final esmagador, uma lição realista, personagens tempestuosos e atuações fortes, 'Nasce Uma Estrela' é o filme que você DEVE e PRECISA assistir no cinema.
NOTA: 10
Curiosidades: em vez de alugar um animal treinado de empresas especializadas em Hollywood, Cooper utiliza seu próprio cachorro no filme, o que já arrancou elogios e o primeiro prêmio para o filme, da organização PETA, que monitora utilização de animais em filmes e programas. As canções foram em parte compostas por Cooper e Gaga. Para ela, algumas letras melancólicas tem peso devido a morte de sua grande amiga, durante o processo de criação do filme. Com 'Nasce Uma Estrela', nasce um grande diretor e uma grande atriz. Com orçamento de 30 milhões de dólares, já arrecadou mais de 200 milhões, desbancando filmes como 'Venom' e é forte candidato na próxima temporada de premiação.
Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo
3.7 613 Assista AgoraQuando o primeiro filme estourou lá em 2008, se tornou um cult instantâneo, pois além de retornar a um estilo quase extinto, os musicais, trazia um grande elenco se divertindo, cantando as imortais músicas do ABBA. Passada uma década, uma improvável continuação surge. E não é que conseguiram chegar em um resultado bem próximo do original? Bem, primeiramente digo "quase", pois a obra apresenta pequeninos defeitos: há algumas inconsistências na linha temporal, é estranho ver a Cher como a mãe de Meryl Streep já que ambas são da mesma faixa etária, as danças não são tão bem coreografadas como no primeiro, há cenas em que os atores e figurantes apenas se balançam e rodam no lugar, faltando assim um certo movimento nos números musicais. Mas isto que estou pontuando é "procurar cabelo em ovo", apenas a quesito de comparação com o impecável filme original. Mas disto isso, é uma obra repleta de qualidades. Primeiramente, em tempos de sagas e superproduções lotadas de ação e fantasia, com os super-heróis como os reis das bilheterias na atualidade, é louvável ver uma continuação de um musical, com uma trama mais humana, fugindo da tendência atual. A dualidade da linha temporal é bacana, traçando um paralelo entre a jornada das vidas de mãe e filha. O elenco é afiado e é delicioso assistir eles cantando e se divertindo de maneira tão sincera, passando uma boa sensação para quem assiste. Lily James é uma das mais carismáticas e interessantes jovens atrizes da nova safra, de jeito doce, a menina que estrelou a última versão de 'Cinderela' (2015) e foi a garçonete no excelente 'Em Ritmo de Fuga' (2017), tem grandes chances de crescer dentro da indústria. Acho Amanda Seyfried limitada e um tanto fraca, mas nestes papeis mais doces ela sempre se sai bem. Sem falar que Meryl Streep, Cher, Pierce Brosnan, Colin Firth e Stellan Skarsgård são artistas que dispensam apresentações e todos estão bem. O roteiro humano e leve faz com que nos importemos com as personagens e que queiramos ver mais deles. As canções são ótimas, inclusive algumas inéditas escritas para o filme pelo próprio grupo ABBA, que se reuniu especialmente para isso, depois de décadas. O roteiro consegue encaixar bem as letras das músicas com as situações em cena. Pode ser levemente inferior ao primeiro, mas ainda assim é uma das mais agradáveis surpresas do ano, muito good vibe, cheio de sentimentos e good feeling. Ao abordar não apenas romance, mas temas como a importância da amizade, aceitar quem você é, aceitar os outros, recomeçar após uma perda, unir a família, 'Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo' merece mais do que ser assistido: merece ser sentido e vivido. Realmente estes dois filmes se completam e são uma celebração a vida.
Hollywood
3.7 2É um filme desconhecido que originou outro filme: 'Nasce Uma Estrela'. Curiosamente, quem vem recebendo diversos remakes é o 'Nasce Uma Estrela', e não a obra que veio primeiro. 'What Price Hollywood ?' traz a história de ascensão de uma atriz na Era de Ouro de Hollywood, enquanto se relaciona com um produtor bêbado, que apresenta a ela o mundo da fama, enquanto que a dele vai por água abaixo. O longa tem alguns poucos problemas, como falta de atuações de fato fortes, além do roteiro ser simplista, ele apresenta uma crítica, mas não vai a fundo nisso. Mas é louvável que lá nos anos 30, já se tinha uma noção do preço da fama, do glamour passageiro e de como a mídia gosta de explorar a vida dos artistas. A atuação de Constance Bennett é boa e a direção do lendário George Cukor salva o filme de ser monótono. Mais tarde ele dirigiria colossos lendários como '... E O Vento Levou', 'O Mágico de Oz', 'Minha Bela Dama' e a 2° versão de 'Nasce Uma Estrela'! A obra concorreu ao Oscar de Melhor História Original (seria o prêmio de roteiro hoje), justamente por inovar ao mostrar o lado obscuro da fama. Se a própria Hollywood já era assim naquele tempo, imagina hoje!
Perigo na Escuridão
2.3 139Um remake até certo ponto decente, mas que não tem o mesmo impacto e brilho do original.
Perdidos na Noite
4.2 321 Assista AgoraA subversão da Nova Hollywood no seu auge. Mas ainda assim, poético e contemplativo. Filmaço!
Fé Corrompida
3.7 375 Assista AgoraFilmaço, questionador e poético!
A Fera
3.4 67 Assista AgoraBom suspense dramático, bela atuação de Jessie Buckley.