É um grande jogo de esconde esconde. E com risadas. Muito gostoso de assistir, faz cócegas essa espécie de rolê aleatório das personagens secundárias na trama. Quebra sem dúvidas as expectativas de um modo inventivo, não é pois nada clichê. Poderia ser visto com uma deliciosa brincadeira entre Schneider ( o assassino de aluguel pais de duas lindas meninas) e Bax ( o escritor isolado na sua casa no meio do pântano). Só me ressinto de a história de Edward o gnomo não haver sido contada.
Atualizando Glauber: Uma ideia maluca na cabeça, uma câmera na mão e uma jaqueta de camurça no corpo. Hahahaahahah. As pás do ventilador podem equivaler as pás do moinho, Sancho! Claro q podem, isso é cinema! E dos bons, e hilário! Metalinguagem e outras metas. "Eu juro nunca mais usar uma jaqueta pelo resto da vida".
É um daqueles filmes que com certeza te fazem chorar. É dilacerante ao mesmo tempo que nos comove também nos revolta. A gente sente toda a dor que transborda da situação como se isso estivesse acontecendo conosco graças a atuações que nos prendem na angústia do drama vivenciado. É singelo, é direto, é cru na aspereza mesma da violência sofrida. E é também um filme cheio de ternura, de amor em sua profunda humanidade.
"... Essa sensação de eternidade, que não faz pensar no fim." É um filme de sensibilidade, dessa funda tristeza, dessa profunda melancolia de que as coisas passam, de que algo se quebrou, se partiu, esvaiu-se irremediavelmente e para sempre. Fica sempre aquele gosto de solidão no peito, aquela certeza de que não vivemos o suficiente e de que mesmo assim envelhecemos longe daquilo que fizemos de nós mesmos, de nossas vidas, de nossos amigos, de nossos amores.
Ver as máscaras literal e metaforicamente falando é muito bom! Temos aí uma espécie de mercado de tudo: atira-se aqui e acolá pra todos os lados, vide o mundo contemporâneo, nós mesmos, é a Romênia, mas podia ser o Brasil ou qualquer outro país. É hilário, vai-se pra lá e pra cá onde cabem os impropérios da versão web 2.0, as contradições, as hipocrisias nossa de cada dia. É quando as linhas se cruzam, se misturam, quando não há mais espaço privado pq tudo se tornou ridiculamente público ( erros, tormentos, gozos, perversões, aflições...). É farsesco, grotesco ao tentar caricaturar uma realidade que já é ela mesma caricatura de si mesma. É pois um filme essencial, que na sua divisão tripartite faz-nos rir/pensar obscenamente sobre essa nossa sociedade, esse nosso mundinho tão fora de rota, tão indo pro mais perfeito buraco na sua perda de valores (?) hahahaahahahha e eu diria que é sem sombra de dúvida um filme ( mais do que documento de nossa época) é uma filme altamente recomendável.
Não sou acostumado com animação, vejo pouco ou quase nada mesmo. No entanto, tive uma ótima experiência com essa aqui. Essa coisa sci-fi que leva a gente a pensar sobre a humanidade do futuro, sobre o desenvolvimento da tecnologia, essa interface/ interrelação humanos/máquinas, esses algoritmos absurdos e coisas assim. Ademais, de esse ser um filme sérvio o que nos proporciona uma mirada diferenciada em relação ao padrão americano que domina as obras de ficção científica. Gosto ainda da sensação alucinatória/ onírica, de estar sonhando acordado manifestada pela obra.
"Você disse absurdos/ me belisque, me beije/ Estou tremendo/ Fui atingido por uma montanha, mas nem tudo tremeu". Que filmão! Gosto desses em p&b por opção técnica mesmo. Desses que deixam o filme com um ar despojado, sujo e lírico ao mesmo tempo como esse. Desses filmes singelos. As coisas fluem naturalmente nesses escombros humanos de infelicidade e vida que se gasta de tanto se perder de si mesma.
Quando o trauma parece ser um esquecimento que paradoxalmente não se esquece posto que este está cravado na pele e na alma. Um filme complexo, cheio de nuances e emaranhamentos/ estranhamentos da densa psicologia daquilo que se quer soterrar, mas não se deve e nem se pode. Um filme feminino domado pela força da mais do que excelente atriz Isabelle Huppert. Dotado da brutalidade pela violência sofrida, de toda essa explosão contida/ incontida do drama da personagem que se desenha numa anima erótica e num humor cínico e corrosivo onde nada se revela mais do que a dificuldade entranhada/ encarniçada do modo de se continuar vivendo apesar da experiência traumatizante.
"Diga-me, quer ser minha companheira de jogo? Quer sempre, sempre brincar? Que caminhemos juntos pelo precipício, que pareçamos importantes, como nosso coração infantil, que nos sentemos sérios à mesa, e com sabedoria bebamos vinho e água, que desfrutemos do belo e do insignificante, e com nostalgia vistamos velhas roupas? Diga-me, você quer jogar o jogo da vida, no inverno de neve ou no outono interminável, podendo beber o chá, calados, o chá de rubi com seu vapor amarelo? Quer viver de verdade com um coração puro, ficar em silêncio por um longo tempo, ás vezes ter medo... porque na praça se revolve o novembro, porque o varredor de rua é um homem pobre e doente; quem assovia sob nossa janela? Você quer brincar de cobra, de águia, de longas viagens de trem, de navio, no Natal, no sonho de todas as coisas belas? Você quer jogar o jogo do amante feliz? Fingir o pranto, o funeral colorido? Você quer viver, viver para sempre um jogo, que se converta em algo verdadeiro? Você quer que, caída por terra, junto às flores, joguemos o jogo da morte?" Dezső Kosztolányi ( poeta e escritor húngaro)
A gente sabe que esse filme não é apenas ficção ( antes fosse somente isso). É uma obra dura, pesada exasperante e difícil por retratar uma realidade que é abjeta, terrível, inominável. Como isso pode existir? A que nível de brutalidade, de animalidade chegam os seres humanos? Como é possível chegar a tal degradação? "Apenas uma bela mercadoria" . É pois um filme necessário para que não deixe nossa consciência descansar em paz.
É um filme esquisito do melhor jeito possível. Talvez, por misturar de modo bastardo temas tão díspares como: humor com viés absurdo, certa solidão das personagens e a questão mesma da busca de identidade. A obra transita numa espiral delirante e nonsense que nos prende deliciosamente numa proposta meio que sem pé nem cabeça ou joelhos a rir das artimanhas dessa doideira tão bem orquestrada.
A dissolução das coisas sobre a superfície do dia. O olhar como representação de uma imagem criada para si e para os outros: a superficialidade e a frieza que regem as relações humanas num Japão da incomunicabilidade do sujeito perante si e o outro. Desses desencontros, dessas desarmonias surge a possibilidade de reinventar-se epifanicamente ao olhar do novo, olhar mais profundamente num encontro que pulsa na junção poética de uma sonata.
É um filme difícil de assistir pela experiência corporal/sensória que propõe. É uma busca do outro, do contato, da intimidade total. É sobre o corpo e suas possibilidades, suas dificuldades, suas barreiras, seu gozo, sua falta na presença/ ausência de si mesmo: suas impossibilidades, seus desvãos. Na singularidade da obra vamos nos descobrindo/ confrontando com essa espécie de outro de nós mesmos: o corpo. Vamos nos despindo e nos olhando nos olhos e olhando aos outros também naquilo que escondemos, que não pensamos, não podemos pensar ( quase como um interdito) da carne, da moral e etc e vamos desvelando no oculto da alma um corpo exposto, descoberto de quaisquer véus ou máculas. Na frieza do minimalismo, da rigidez do olhar petrificado pela normalização cotidiana podemos ver a luz ensurdecedora da descoberta do outro de si mesmo.
Esta filme produz aquela desejada sensação de estranhamento: Um forma de estranhamento digamos poético, simbólico e contemplativo. Diz muito no silêncio de seus planos fixos, na paisagem inebriada pela neblina, naquilo que indaga, sugere e antes propõe do que responde. É como se olhássemos para a escuridão e em seu lugar víssemos um clarão que racionalmente não podemos explicar mas que sabemos fazer alguns múltiplos sentidos mesmo que ocultos/sugeridos na imersão estética que a obra necessita. É no silêncio estranho que existimos. Só posso dizer então: Minhas mãos puras mataram um homem e o sangue desse homem purifica o meu corpo inteiro.
A garota da fábrica de fósforos é uma espécie de Macabéa nível hard. Uma vida monótona, cinza, desprovida de toda beleza. Com um minimalismo contundente, seco e ao mesmo tempo poético em sua estranheza silenciosa a história diz muito naquilo que não diz: gestos, olhares, silêncios são forças poderosas quando nutridos com precisão quase que maniqueísta . O destino de toda uma classe de trabalhadores se expressa nesse vazio, nessa perda de tudo, nesse alheamento da própria vida como coisa sem sal, neutra, fria, cruel e com muita dor.
É óbvio. Na verdade, nada óbvio pelo menos num primeiro olhar. A metáfora aqui não se perde mesmo que a informação seja direta e um direito e uma forma de poder. "A panacota é um símbolo". Há os de baixo e os de cima. Os que comem e os que não comem e com certeza a fome. Dom Quixote luta sempre, delira, adoece, mas sabe que no mais profundo breu da miséria humana ( e sua fome) a esperança pode ser uma forma de revolução.
Ah, que delícia de filme! Como é gostoso de se assistir! É leve, é divertido, é cativante e comovente. O mais impressionante para mim é maneira singela e inteligentíssima com a qual se conduz uma obra sobre um tema tão duro e espinhoso como a intolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos. Faz-nos e rir e refletir sobre o tema em si (aqui tratado com leveza) mostrando-nos além disso a força e a voz das mulheres do vilarejo que se unem para barrarem a estupidez bélica dos homens.
É sobre um modo de compreensão da vida que carrega consigo toda a tradição milenar da cultura oriental através dos costumes de uma família japonesa. A beleza do filme reside no silêncio dos gestos, no modo de ser daquela família, em seus defeitos, em seus acertos e sobretudo em sua profunda humanidade. Há uma centelha de poesia que nos fala dos pequenos fatos do dia a dia, da inexorável percepção da vida que passa, que põe cabelos brancos em homens e mulheres, que é barulhenta como brincadeiras de crianças, que é compreensiva como o afeto de um mãe ou um pai razinza .... É, em suma, a própria vida que nos enternece e estremece liricamente como o bater de asas de uma pequena borboleta amarela.
O calor. O mormaço. A poeira. A especulação imobiliária. "O sol e o medo". O sexo. A violência. Um corpo que adoece. O corpo da cidade adoecida no meu corpo que adoece. De uma perspectiva mais apegada ao real, a suja realidade brutalizada nas raízes do poder no Brasil, o filme transita ao poder da metáfora como forma de resistência. É o que vemos nas pessoas que são desalojadas de suas casas passando pelo corpo da personagem e sua doença. Uma coisa está indissociavelmente ligada a outra. Avança um poder de estado em sua crueza desumana. Avança um poder de natureza misteriosa pq metafórico sobre o corpo que resiste e fica como emblematizado como signo da vida: Resistência de algum modo sobrepondo o mistério ao chão duro de nossa realidade selvagem.
Obra Prima! O ponto central deste filme pra mim é o perfeito equilíbrio entre os seus elementos. A fotografia muito bem ajustada ao clima da história narrada, os diálogos, a beleza deslumbrante das atuações em caixa alta de Al Pacino e Marlon Brando. As muitas cenas memoráveis como a do casamento, a festa, o sentido de "famiglia", a dos assassinatos sempre presentes neste mundo dominado pela disputa pelo poder. Uma obra atemporal que não cansa em nenhum momento e tem uma vivacidade própria da arte.
Uma bruta delicadeza. É sobre a sensibilidade da dor. Cheiro de maçã. Uma ponte que busca completar-se. O vermelho vívido intenso. É um mergulho em águas frias e distantes, um salto profundo para dentro daquilo que lateja como um coração que em segundos morre. É quando as palavras emperram arrancando as vísceras da alma que apenas sangra e sangra. O vicejar mudo que esmaece sem uma razão que se explique de todo pq apenas dói. E dói profundamente.
Uma mercadoria tem livre circulação no mundo e os refugiados ( seres humanos?) podem circular livremente? Há limites éticos para a arte? Quando um homem é entendido como objeto artístico ele ainda é um homem? Um homem/ mercadoria/ objeto/ ser humano/ refugiado é vendável? Qual o seu valor? Valor dignidade/ valor mercadoria? Há seres humanos que valham mais que outros? Qual o grau de mercadoria da humanidade? Pode-se estar em liberdade quando aprisionado? Pode-se aprisionar a liberdade? Acho q este é um filme/ pergunta e que perguntas interessantes ele nos faz! Recomendo!
É belo e simples como um redemoinho de areia nas estepes do Cazaquistão. Pastorear ovelhas e ter uma mulher sob as estrelas da imensa paisagem cazaque é o sonho de Asa. Seu próprio rancho, sua vida simples. O filme conquista pela simplicidade da vida das personagens neste cenário inóspito tornado lírico pelo desejo de Asa um ex- marinheiro que em plena paisagem desértica faz transbordar poeticidade como no desenho na gola de seu uniforme de homem do mar. O lirismo aqui não naufraga nas areias pois que fica impresso nos sonhos que são sempre um modo de porvir, uma possibilidade de vida a mais como uma ovelha que nasce e vive nesse turbilhão entre a força da natureza e a cultura humana como capacidade de renovação de suas raízes no que estas tem de esperança.
Se tudo der certo é o q acontecerá a todos nós: Envelheceremos. O filme trata disso de forma pungente, dura sob áspera delicadeza. O labiríntico movimento da memória perdida em si mesma, o alzheimer, a velhice, a perda da solidez de uma realidade que não mais se pode captar onde tudo parece rodopiar em miríades de imagens que não mais correspondem aquelas que se tem do mundo pq representam um mundo que finda: a experiência da própria vida. A sólida percepção da realidade dá lugar agora a um mundo onde os sentido consolidado de uma vida se transtorna em fantasmagorias de uma realidade fraturada pela perda de si mesma. Atuação primorosa de Anthony Hopkins e belo trabalho de montagem q só valorizam em nós o sentimento expresso pela obra.
Schneider vs. Bax
3.4 5É um grande jogo de esconde esconde. E com risadas. Muito gostoso de assistir, faz cócegas essa espécie de rolê aleatório das personagens secundárias na trama. Quebra sem dúvidas as expectativas de um modo inventivo, não é pois nada clichê. Poderia ser visto com uma deliciosa brincadeira entre Schneider ( o assassino de aluguel pais de duas lindas meninas) e Bax ( o escritor isolado na sua casa no meio do pântano). Só me ressinto de a história de Edward o gnomo não haver sido contada.
Deerskin: Estilo Matador
3.5 23 Assista AgoraAtualizando Glauber: Uma ideia maluca na cabeça, uma câmera na mão e uma jaqueta de camurça no corpo. Hahahaahahah. As pás do ventilador podem equivaler as pás do moinho, Sancho! Claro q podem, isso é cinema! E dos bons, e hilário! Metalinguagem e outras metas. "Eu juro nunca mais usar uma jaqueta pelo resto da vida".
Hope
4.5 375 Assista AgoraÉ um daqueles filmes que com certeza te fazem chorar. É dilacerante ao mesmo tempo que nos comove também nos revolta. A gente sente toda a dor que transborda da situação como se isso estivesse acontecendo conosco graças a atuações que nos prendem na angústia do drama vivenciado. É singelo, é direto, é cru na aspereza mesma da violência sofrida. E é também um filme cheio de ternura, de amor em sua profunda humanidade.
A Vida dos Peixes
3.6 69"... Essa sensação de eternidade, que não faz pensar no fim." É um filme de sensibilidade, dessa funda tristeza, dessa profunda melancolia de que as coisas passam, de que algo se quebrou, se partiu, esvaiu-se irremediavelmente e para sempre. Fica sempre aquele gosto de solidão no peito, aquela certeza de que não vivemos o suficiente e de que mesmo assim envelhecemos longe daquilo que fizemos de nós mesmos, de nossas vidas, de nossos amigos, de nossos amores.
Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental
3.6 60Ver as máscaras literal e metaforicamente falando é muito bom! Temos aí uma espécie de mercado de tudo: atira-se aqui e acolá pra todos os lados, vide o mundo contemporâneo, nós mesmos, é a Romênia, mas podia ser o Brasil ou qualquer outro país. É hilário, vai-se pra lá e pra cá onde cabem os impropérios da versão web 2.0, as contradições, as hipocrisias nossa de cada dia. É quando as linhas se cruzam, se misturam, quando não há mais espaço privado pq tudo se tornou ridiculamente público ( erros, tormentos, gozos, perversões, aflições...). É farsesco, grotesco ao tentar caricaturar uma realidade que já é ela mesma caricatura de si mesma. É pois um filme essencial, que na sua divisão tripartite faz-nos rir/pensar obscenamente sobre essa nossa sociedade, esse nosso mundinho tão fora de rota, tão indo pro mais perfeito buraco na sua perda de valores (?) hahahaahahahha e eu diria que é sem sombra de dúvida um filme ( mais do que documento de nossa época) é uma filme altamente recomendável.
Technotise - Edit i ja
3.6 2 Assista AgoraNão sou acostumado com animação, vejo pouco ou quase nada mesmo. No entanto, tive uma ótima experiência com essa aqui. Essa coisa sci-fi que leva a gente a pensar sobre a humanidade do futuro, sobre o desenvolvimento da tecnologia, essa interface/ interrelação humanos/máquinas, esses algoritmos absurdos e coisas assim. Ademais, de esse ser um filme sérvio o que nos proporciona uma mirada diferenciada em relação ao padrão americano que domina as obras de ficção científica. Gosto ainda da sensação alucinatória/ onírica, de estar sonhando acordado manifestada pela obra.
Pão e Leite
3.8 7"Você disse absurdos/ me belisque, me beije/ Estou tremendo/ Fui atingido por uma montanha, mas nem tudo tremeu". Que filmão! Gosto desses em p&b por opção técnica mesmo. Desses que deixam o filme com um ar despojado, sujo e lírico ao mesmo tempo como esse. Desses filmes singelos. As coisas fluem naturalmente nesses escombros humanos de infelicidade e vida que se gasta de tanto se perder de si mesma.
Elle
3.8 886Quando o trauma parece ser um esquecimento que paradoxalmente não se esquece posto que este está cravado na pele e na alma. Um filme complexo, cheio de nuances e emaranhamentos/ estranhamentos da densa psicologia daquilo que se quer soterrar, mas não se deve e nem se pode. Um filme feminino domado pela força da mais do que excelente atriz Isabelle Huppert. Dotado da brutalidade pela violência sofrida, de toda essa explosão contida/ incontida do drama da personagem que se desenha numa anima erótica e num humor cínico e corrosivo onde nada se revela mais do que a dificuldade entranhada/ encarniçada do modo de se continuar vivendo apesar da experiência traumatizante.
Maladolescenza
2.6 68"Diga-me, quer ser minha companheira de jogo? Quer sempre, sempre brincar? Que caminhemos juntos pelo precipício, que pareçamos importantes, como nosso coração infantil, que nos sentemos sérios à mesa, e com sabedoria bebamos vinho e água, que desfrutemos do belo e do insignificante, e com nostalgia vistamos velhas roupas? Diga-me, você quer jogar o jogo da vida, no inverno de neve ou no outono interminável, podendo beber o chá, calados, o chá de rubi com seu vapor amarelo? Quer viver de verdade com um coração puro, ficar em silêncio por um longo tempo, ás vezes ter medo... porque na praça se revolve o novembro, porque o varredor de rua é um homem pobre e doente; quem assovia sob nossa janela? Você quer brincar de cobra, de águia, de longas viagens de trem, de navio, no Natal, no sonho de todas as coisas belas? Você quer jogar o jogo do amante feliz? Fingir o pranto, o funeral colorido? Você quer viver, viver para sempre um jogo, que se converta em algo verdadeiro? Você quer que, caída por terra, junto às flores, joguemos o jogo da morte?"
Dezső Kosztolányi ( poeta e escritor húngaro)
As Escolhidas
3.8 15A gente sabe que esse filme não é apenas ficção ( antes fosse somente isso). É uma obra dura, pesada exasperante e difícil por retratar uma realidade que é abjeta, terrível, inominável. Como isso pode existir? A que nível de brutalidade, de animalidade chegam os seres humanos? Como é possível chegar a tal degradação? "Apenas uma bela mercadoria" . É pois um filme necessário para que não deixe nossa consciência descansar em paz.
Negro Queimado
3.5 29É um filme esquisito do melhor jeito possível. Talvez, por misturar de modo bastardo temas tão díspares como: humor com viés absurdo, certa solidão das personagens e a questão mesma da busca de identidade. A obra transita numa espiral delirante e nonsense que nos prende deliciosamente numa proposta meio que sem pé nem cabeça ou joelhos a rir das artimanhas dessa doideira tão bem orquestrada.
Sonata de Tóquio
4.1 61 Assista AgoraA dissolução das coisas sobre a superfície do dia. O olhar como representação de uma imagem criada para si e para os outros: a superficialidade e a frieza que regem as relações humanas num Japão da incomunicabilidade do sujeito perante si e o outro. Desses desencontros, dessas desarmonias surge a possibilidade de reinventar-se epifanicamente ao olhar do novo, olhar mais profundamente num encontro que pulsa na junção poética de uma sonata.
Não Me Toque
3.4 19É um filme difícil de assistir pela experiência corporal/sensória que propõe. É uma busca do outro, do contato, da intimidade total. É sobre o corpo e suas possibilidades, suas dificuldades, suas barreiras, seu gozo, sua falta na presença/ ausência de si mesmo: suas impossibilidades, seus desvãos. Na singularidade da obra vamos nos descobrindo/ confrontando com essa espécie de outro de nós mesmos: o corpo. Vamos nos despindo e nos olhando nos olhos e olhando aos outros também naquilo que escondemos, que não pensamos, não podemos pensar ( quase como um interdito) da carne, da moral e etc e vamos desvelando no oculto da alma um corpo exposto, descoberto de quaisquer véus ou máculas. Na frieza do minimalismo, da rigidez do olhar petrificado pela normalização cotidiana podemos ver a luz ensurdecedora da descoberta do outro de si mesmo.
Entre Mortes
3.7 4Esta filme produz aquela desejada sensação de estranhamento: Um forma de estranhamento digamos poético, simbólico e contemplativo. Diz muito no silêncio de seus planos fixos, na paisagem inebriada pela neblina, naquilo que indaga, sugere e antes propõe do que responde. É como se olhássemos para a escuridão e em seu lugar víssemos um clarão que racionalmente não podemos explicar mas que sabemos fazer alguns múltiplos sentidos mesmo que ocultos/sugeridos na imersão estética que a obra necessita. É no silêncio estranho que existimos. Só posso dizer então: Minhas mãos puras mataram um homem e o sangue desse homem purifica o meu corpo inteiro.
A Garota da Fábrica de Fósforos
3.9 161 Assista AgoraA garota da fábrica de fósforos é uma espécie de Macabéa nível hard. Uma vida monótona, cinza, desprovida de toda beleza. Com um minimalismo contundente, seco e ao mesmo tempo poético em sua estranheza silenciosa a história diz muito naquilo que não diz: gestos, olhares, silêncios são forças poderosas quando nutridos com precisão quase que maniqueísta . O destino de toda uma classe de trabalhadores se expressa nesse vazio, nessa perda de tudo, nesse alheamento da própria vida como coisa sem sal, neutra, fria, cruel e com muita dor.
O Poço
3.7 2,1K Assista AgoraÉ óbvio. Na verdade, nada óbvio pelo menos num primeiro olhar. A metáfora aqui não se perde mesmo que a informação seja direta e um direito e uma forma de poder. "A panacota é um símbolo". Há os de baixo e os de cima. Os que comem e os que não comem e com certeza a fome. Dom Quixote luta sempre, delira, adoece, mas sabe que no mais profundo breu da miséria humana ( e sua fome) a esperança pode ser uma forma de revolução.
E Agora, Aonde Vamos?
4.2 144Ah, que delícia de filme! Como é gostoso de se assistir! É leve, é divertido, é cativante e comovente. O mais impressionante para mim é maneira singela e inteligentíssima com a qual se conduz uma obra sobre um tema tão duro e espinhoso como a intolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos. Faz-nos e rir e refletir sobre o tema em si (aqui tratado com leveza) mostrando-nos além disso a força e a voz das mulheres do vilarejo que se unem para barrarem a estupidez bélica dos homens.
Andando
4.2 58É sobre um modo de compreensão da vida que carrega consigo toda a tradição milenar da cultura oriental através dos costumes de uma família japonesa. A beleza do filme reside no silêncio dos gestos, no modo de ser daquela família, em seus defeitos, em seus acertos e sobretudo em sua profunda humanidade. Há uma centelha de poesia que nos fala dos pequenos fatos do dia a dia, da inexorável percepção da vida que passa, que põe cabelos brancos em homens e mulheres, que é barulhenta como brincadeiras de crianças, que é compreensiva como o afeto de um mãe ou um pai razinza .... É, em suma, a própria vida que nos enternece e estremece liricamente como o bater de asas de uma pequena borboleta amarela.
Mormaço
3.4 33O calor. O mormaço. A poeira. A especulação imobiliária. "O sol e o medo". O sexo. A violência. Um corpo que adoece. O corpo da cidade adoecida no meu corpo que adoece. De uma perspectiva mais apegada ao real, a suja realidade brutalizada nas raízes do poder no Brasil, o filme transita ao poder da metáfora como forma de resistência. É o que vemos nas pessoas que são desalojadas de suas casas passando pelo corpo da personagem e sua doença. Uma coisa está indissociavelmente ligada a outra. Avança um poder de estado em sua crueza desumana. Avança um poder de natureza misteriosa pq metafórico sobre o corpo que resiste e fica como emblematizado como signo da vida: Resistência de algum modo sobrepondo o mistério ao chão duro de nossa realidade selvagem.
O Poderoso Chefão
4.7 2,9K Assista AgoraObra Prima! O ponto central deste filme pra mim é o perfeito equilíbrio entre os seus elementos. A fotografia muito bem ajustada ao clima da história narrada, os diálogos, a beleza deslumbrante das atuações em caixa alta de Al Pacino e Marlon Brando. As muitas cenas memoráveis como a do casamento, a festa, o sentido de "famiglia", a dos assassinatos sempre presentes neste mundo dominado pela disputa pelo poder. Uma obra atemporal que não cansa em nenhum momento e tem uma vivacidade própria da arte.
Pedaços De Uma Mulher
3.8 544 Assista AgoraUma bruta delicadeza. É sobre a sensibilidade da dor. Cheiro de maçã. Uma ponte que busca completar-se. O vermelho vívido intenso. É um mergulho em águas frias e distantes, um salto profundo para dentro daquilo que lateja como um coração que em segundos morre. É quando as palavras emperram arrancando as vísceras da alma que apenas sangra e sangra. O vicejar mudo que esmaece sem uma razão que se explique de todo pq apenas dói. E dói profundamente.
O Homem Que Vendeu Sua Pele
3.5 99 Assista AgoraUma mercadoria tem livre circulação no mundo e os refugiados ( seres humanos?) podem circular livremente? Há limites éticos para a arte? Quando um homem é entendido como objeto artístico ele ainda é um homem? Um homem/ mercadoria/ objeto/ ser humano/ refugiado é vendável? Qual o seu valor? Valor dignidade/ valor mercadoria? Há seres humanos que valham mais que outros? Qual o grau de mercadoria da humanidade? Pode-se estar em liberdade quando aprisionado? Pode-se aprisionar a liberdade? Acho q este é um filme/ pergunta e que perguntas interessantes ele nos faz! Recomendo!
Tulpan
3.8 28É belo e simples como um redemoinho de areia nas estepes do Cazaquistão. Pastorear ovelhas e ter uma mulher sob as estrelas da imensa paisagem cazaque é o sonho de Asa. Seu próprio rancho, sua vida simples. O filme conquista pela simplicidade da vida das personagens neste cenário inóspito tornado lírico pelo desejo de Asa um ex- marinheiro que em plena paisagem desértica faz transbordar poeticidade como no desenho na gola de seu uniforme de homem do mar. O lirismo aqui não naufraga nas areias pois que fica impresso nos sonhos que são sempre um modo de porvir, uma possibilidade de vida a mais como uma ovelha que nasce e vive nesse turbilhão entre a força da natureza e a cultura humana como capacidade de renovação de suas raízes no que estas tem de esperança.
Meu Pai
4.4 1,2K Assista AgoraSe tudo der certo é o q acontecerá a todos nós: Envelheceremos. O filme trata disso de forma pungente, dura sob áspera delicadeza. O labiríntico movimento da memória perdida em si mesma, o alzheimer, a velhice, a perda da solidez de uma realidade que não mais se pode captar onde tudo parece rodopiar em miríades de imagens que não mais correspondem aquelas que se tem do mundo pq representam um mundo que finda: a experiência da própria vida. A sólida percepção da realidade dá lugar agora a um mundo onde os sentido consolidado de uma vida se transtorna em fantasmagorias de uma realidade fraturada pela perda de si mesma. Atuação primorosa de Anthony Hopkins e belo trabalho de montagem q só valorizam em nós o sentimento expresso pela obra.