Estruturalmente perfeito, mas um filme muito 'comportado' e de bem com a (pós) vida do Trier, onde estão os instintos e os impulsos genuínos de 'Antichrist' e outras obras dele?
Fujam desse filme fraquíssimo enquanto podem ! Michelle Williams pode até ser boa atriz, mas se esse filme foi uma tentativa de homenagem, resultou como um quase-insulto à memória de Marilyn Monroe, pelos comentários dessa página elogiando a atuação da atriz, dá pra perceber uma forte tendência incentivada pelas premiações de congratular não quem atua melhor, mas quem atua mais, existe uma enorme diferença. Se é que posso chamar isso de atuação né, parece mais um arremedo cômico, uma imitação afetada, forçada, os diálogos são entregues com a mesma naturalidade de uma peça do Ensino Médio, isso pra sentir o nível.
Diálogos bem escritos, boa cinematografia, boa trilha sonora, atuações decentes, mas com que finalidade ? The Social Network gostaria de pensar que é uma investigação humanista, em busca da alma de Mark Zuckerberg, mas acaba se revelando uma exploração niilista sobre o nada, um filme vazio.
Em Cidade dos Sonhos Lynch destrói as aspirações e idealizações da inocente Betty (ou não tão inocente assim?) usando de lógica dos sonhos, ou melhor, de pesadelos, para alegorizar a opressão da indústria de Hollywood, e mais profundamente, a própria natureza do trabalho de um ator : personagem vs. performance, expondo o terror que resulta desse intercâmbio. Naomi Watts bota pra quebrar, mas está ainda melhor na cena em que atua na audição de um filme.
A obra-prima de David Lynch. Introduz a temática do noir desenvolvido através da lógica do sonho que o diretor exploraria nas obras seguintes, mas nunca de maneira tão fascinante e satisfatória como em Blue Velvet. Uma crítica afiada às ilusões que projetamos e tomamos por realidade. A sociedade vive uma mentira.
Argumentavelmente o mais sombrio filme infantil, porém acaba sendo relevado como ' material pra sessão da tarde' por muitos. Consegue se safar sendo ao mesmo tempo adorável e distópico. Surpreende pela temática aparentemente inofensiva, mas que se revela uma metáfora do mundo real. Não hesita em usar cenas desconfortáveis e ainda sim não falha como entretenimento.
Eu diria que Monte Hellman é o maior fora-da-lei dos cineastas americanos, quem já assistiu outros filmes dele, sabe que o diretor sempre começa com uma certa premissa e na metade do filme, puxa o tapete debaixo do público: em seu clássico cult Two-Lane Blacktop, por exemplo, depois de apostarem uma corrida onde o vencedor ganharia o carro do outro, eles parecem esquecer que estão competindo e o diretor pouco se importa em mostrar qualquer tipo de resolução.
Hellman sempre esteve interessado em transferir certa fisicalidade à película, veja a ultima cena de Two-Lane Blacktop ou as longas cenas de Road to Nowhere onde a câmera repousa sobre os atores, sugerindo tempo real, ou ainda a cena onde o personagem principal Mitchell Haven , diz o que importa em um filme : “ - Casting, casting, casting. “ Uma preocupação compartilhada por Monte Hellman, que busca em seus atores mais a presença e vulnerabilidade do que a atuação em si, aqui atuações grandiloquentes tão premiadas pelo Oscar ou Globo de Ouro não têm espaço, mas uma atuação mínima ou inexistente, onde o ator busca o personagem dentro dele, e não o contrário, que seria o ator tentando se tornar o personagem . Essa sensação de concretude é um ponto crucial em Road to Nowhere , que trabalha com um 'mise en abyme', um jogo de espelhos e ilusões, de forma visualmente inteligente, sempre criando tensão.
“- Let's play a game, which is called : fuck the facts,"
O que guia o desenvolvimento de seus filmes não é narrativa convencional, mas sim as motivações de seus personagens, e Road to Nowhere é um filme permeado de personagens com motivações obscuras, todos se debatendo em busca do controle do processo criativo, um invadindo a cena do outro ou fazendo sugestões ao diretor do filme dentro do filme, cada um puxando os holofotes para seu mundo pessoal , tentando impor a sua visão dos fatos (que fatos ? ) até chegar o ponto de roubarem o filme do próprio Monte Hellman, que aqui redefine o papel do diretor de cinema, não mais um meticuloso criador responsável pelo que acontece em cada cena, em cada frame, mas um artista que liberta a própria obra em um processo de colaboração aberta e subconsciente, à mercê da equipe e do público ( até mesmo os mal-intencionados ) , um processo perigoso, com certeza, mas que injeta um tipo de energia criativa totalmente diferente.
“ - It's not just some Hollywood piece-of-shit movie. It's MY Hollywood piece-of-shit movie.”
Road to Nowhere é um filme sinistramente evocativo, mas sem cair nas armadilhas da nostalgia. É completamente vivo, você sente ele respirar através da fotografia molhada resultado das câmeras DSLR Canon 5D, e através do mistério que envolve a sensual Velma Duran. Mistério que, aliás, provavelmente não tem uma resolução possível, assim como a vida ( " - If it all made sense, I wouldn't be interested." ), uma ilusão de outra ilusão e assim por diante, o que interessa não é a verdade – convenhamos, o que é real nos filmes? - mas a imersão em uma realidade mostrada ou sonhada através de uma modificação na forma em que absorvemos a imagem, um rendimento completo à câmera : uma arma de ilusões que engole o mundo e ‘realidades’ diferentes, capaz de engolir o próprio processo do filme, cinema como uma prisão sem saída, não é por acaso que
Uma mordaz representação da experiência de fazer um filme, com todas as influências externas, egos, tensões, obsessões criativas, modificações de ultima hora e paixões que cercam a arte e ao mesmo tempo uma ode ao cinema, cheio de referências, de Sam Fuller a Victor Erice, de ‘Vertigo’ a ‘Tirez su Le pianiste’, que quando não comentam diretamente no filme ( “ - Positively the same dame ! “ – The Lady Eve ), compartilham uma profunda ressonância com o roteiro.
De muitas maneiras Road to Nowhere amadurece ideias já presentes nas melhores obras de Hellman, que aqui entrega um filme sólido, pode ser dito que é seu projeto mais pessoal : os filmes referenciados estão entre os favoritos pessoais do diretor, a personagem de Sossamom foi baseada em Laurie Bird, com quem ele se envolveu amorosamente durante as filmagens de Two-Lane Blacktop e Cockfighter , e que se suicidou anos depois - inclusive o filme é dedicado a ela, Mitchell Haven e Steve Gales, o diretor e o roteirista mostrados no filme, compartilham as mesmas iniciais de Monte Hellmam e Steve Gaydos, o diretor e o roteirista de Road to Nowhere, e o projeto foi filmado sem permissão na Europa, se mantendo fiel às raízes do cinema independente de Monte.
Não acho que gostar ou não desse filme seja uma questão de intelecto, mas de sim de gosto (pulp, arthouse, noir, estudos de personagens obsessivos, filmes densos etc ) e conexão emocional com o material. O filme pode ser um caminho para nada, mas como diz aquela velha frase, o que importa é a jornada e não o destino.
“ - It gives you a set of emotions that stay with you, those satisfactions are permanent.” - GTO
Existe melhor maneira pra descrever Two-Lane Blacktop? Nenhum outro filme me pega pelo colarinho e me puxa pra dentro do cinema da maneira que esse faz, cada experiência é mais hipnótica que a outra. A força e o fascínio de Two-Lane Blacktop residem no impenetrável minimalismo que rejeita qualquer forma de intelectualização, negando qualquer tipo de resposta. Seria um road movie existencialista? Um filme sobre incomunicabilidade? Um conto sobre obsessão? Todas as alternativas e nenhuma ao mesmo tempo. Você pode projetar o que quiser, no final do dia, tudo o que existe na tela são três jovens, o silêncio, a estrada, e o road movie mais cru de todos, onde nunca se pode ir rápido o suficiente.
Apesar de simples, não diria que é um filme fácil, exige paciência e comprometimento do público, e clama por revisitas, cada momento, cada detalhe que se passa em silêncio, cada olhar vulnerável de Warren Oats é crucial para o filme, certamente os mais atenciosos serão recompensados. Quando penso em Two-Lane Blacktop e no final mais cinemático de todos os filmes, penso em uma memória pessoal, algo que sonhei acordado, e o que é o cinema, se não um sonho sonhado junto ? Obrigado, Monte Hellman, esse tipo de satisfação é permanente.
Assim como Kikunosuke, todos nós buscamos reconhecimento na vida, de uma forma ou de outra. Os sacrifícios de Otuko são os sacrifícios solenes que às vezes são necessários na vida e na arte, em favor daqueles que amamos. Lindamente filmado e profundamente sentido, considero a obra-prima do Mizoguchi.
" La Hora de Los Hornos: Notas y Testimonios Sobre el Neocolonialismo, la Violencia y la Liberación " é um filme clandestino latino-americano que criou novos parâmetros pro cinema ativista, revolucionário e anti-imperialista também conhecido como Terceiro Cinema, o fato de comparecer a uma das exibições do filme apesar da ditadura vigente, por si só pode ser considerado um ato de protesto do público da época. Um afiado ensaio que traduz pensamentos políticos em imagens e compreende uma profunda análise geográfica, histórica, econômica, sociológica, religiosa e cultural através de uma linguagem visual extremamente inventiva, total equilíbrio entre didatismo e poesia. Um filme claro em seus objetivos revolucionários, que não só aponta todos os tipos de opressão como também oferece novas possibilidades para a América Latina. Até hoje continua chocante e uma fonte de inspiração tanto ideológica como visual, porque através dos anos a opressão só muda o nome.
Quatro jovens reais em uma tarde de domingo, nadando, deitados na grama, conversando, tudo registrado de forma documental e sensual ao mesmo tempo, antecipando o neorealismo e a new wave francesa. Está entre os meus favoritos pessoais, porque são filmes como esse que me lembram o porque eu amo o cinema mudo, ou na verdade qualquer tipo de cinema. Um filme cheio de pequenos prazeres, assim como a vida :)
A Idade do Ouro... eu amo cada segundo desse filme, cada olhar cheio de luxúria desses amantes condenados, posso assistir diversas vezes e sempre tirar algo novo, ao invés do filme envelhecer ele se renova, é assim, uma coisa surreal.
Quem diz que o filme é chato ou perdeu a força, de duas, uma : 1. anda fumando crack. 2. tem frieira no pé.
Um filme que mais de 70 anos depois continua provocativo, ousado, mordaz, malicioso, insano, onírico, niilista, libertador, divertido e infelizmente relevante em sua crítica à sociedade baseada em ideologias religiosas, e aos psicopatas encorajados por valores culturais, como só Buñuel consegue fazer. Um filme no mínimo memorável.
Em ' O Vento Nos Levará ', Abbas Kiarostami expande ainda mais a técnica ' enquadramento que oculta + planos abertos que contextualizam ' que até então tinha sido usada mais expressivamente em sua obra-prima de 1994 ' Através das Oliveiras ', mas com propósitos diferentes. O que o diretor aborda aqui é a natureza de nossa humanidade. Os enquadramentos limitados servem como a metáfora perfeita pras coisas que existem mas não podemos ver, apenas imaginar, como a alma, as ondas de comunicação e até mesmo certas personagens que nunca aparecem ou mostram o rosto no filme ( os pais, os mortos, o homem que cava, a garota do leite, a inválida, etc.. )
A equipe se estabelece na cidade à espera do registro de um ritual que toma lugar após a morte de algum morador, uma espera mórbida por si só. O conflito é que a
velha -à beira da morte quando eles chegaram na cidade- não só continua viva, mas até chega a melhorar (!)
porém o inesperado acontece, e o protagonista é forçado a encarar a própria mortalidade em uma jornada que mais parece uma experiência física pro público, devido ao ritmo utilizado pelo diretor, o que cria uma identificação primária com o filme, e nos faz considerar nossa própria mortalidade e o que existe após a morte - se é que existe. Mais um casamento perfeito do Kiarostami entre forma e discurso num filme onde o diretor se mostra um grande humanista.
" - Quando você fecha os olhos pra esse mundo, essa beleza, as maravilhas da natureza, e a generosidade de Deus, significa que você nunca mais vai voltar.
(...)
- Quem já voltou de lá pra nos dizer se é bonito ou não ? Prefiro o presente ao invés dessas belas promessas "
É Abbas, o vento nos levará ... mas por enquanto estamos bem servidos :)
" Eu não gosto de me envolver contando histórias, eu não gosto de afetar o espectador emocionalmente ou dar conselhos. Eu não gosto de menosprezar o público ou sobrecarregá-lo com um sentimento de culpa. Estas são as coisas que eu não gosto nos filmes. " - Abbas Kiarostami -
Através das Oliveiras é o terceiro filme da trilogia Koker, e assim como o segundo filme, ele se liberta do anterior ao mesmo tempo em que o reafirma através de sua própria existência, como se todos os três fossem um só filme, descascado pelo diretor através dos anos em três obras. Nesse, uma equipe refilma uma cena de “Vida e Nada Mais ou E a Vida Continua” com os mesmos atores, no mesmo local, revelando que o trabalho anterior foi uma obra de ficção. Se no segundo filme o foco era o diretor e seu filho em busca do garotinho de "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", aqui quem ganha destaque são os atores, moradores da cidade que possuem uma história de fundo que cria um conflito com os papéis que interpretam no ‘filme dentro do filme’.
Abbas Kiarostami é um cineasta generoso, se recusa a manipular suas criações. Embora se mostre inclinado a um certo tipo de resolução, é sempre o público que tem a palavra final, cabe ao público interpretar , e mais do que isso, completar seus filmes. O cinema de Kiarostami é um jogo em que o sucesso depende do envolvimento ativo do espectador, e Através das Oliveiras é a prova cabal. Ele entende, tão ou mais profundamente que diretores como Renoir e Bresson que o enquadramento da câmera é um fragmento que não reproduz o real em sua totalidade, e usa essa ‘limitação’ da mídia a seu favor. Várias cenas em Através das Oliveiras são enquadramentos fechados que só revelam parte da ação, assim temos : 1. O que está acontecendo na tela, 2. O que acontece além da tela, que percebemos através do som. Ao fazer isso, o diretor adiciona uma nova camada de realidade que dribla a limitação do enquadramento, de repente, a realidade do filme não é só aquela que é mostrada na tela, mas também uma que através de nossa imaginação, quebra todos os limites do cinema, uma realidade mais parecida com o mundo.
É Abbas nos convidando a completar o filme em uma experiência nova e completamente imersiva, isso fica bem claro na ultima cena, através das oliveiras. É o meu favorito do diretor, e na minha opinião, o melhor e o mais completo porque traz todas as preocupações anteriores do Kiarostami e além disso traz algo de novo ao cinema, talvez maior que a própria mídia.
Segundo filme da trilogia Koker, "Vida e Nada Mais ou E a Vida Continua" se passa após o terrível terremoto que devastou o norte do Irã no verão de 1990, e embora tenha elementos da realidade, como pessoas reais e cenas documentais dos moradores limpando a cidade, o filme nunca abandona sua estrutura narrativa ficcional.
O que é especial aqui é a forma como o diretor se desvencilha e ao mesmo tempo afirma o filme anterior : o personagem do diretor busca o ator que protagonizou "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" entre os escombros da cidade em que o filme foi realizado, desnudando o primeiro filme como obra de ficção, mas ao mesmo tempo, "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" é a razão de ser e o principal ponto de entrada de "Vida e Nada Mais...". Além disso, Abbas Kiarostami mantém a consistência de sua temática humanista, demonstrando simpatia pelas crianças assim como no filme anterior, mas nesse ele dá um passo maior, na minha opinião.
Um filme maravilhoso onde a perseverança é o tema principal, eu amo a fotografia aqui, muita luz branca estourada, travelling shots e personagens filmados através dos vidros do carro com uma sensibilidade que só Kiarostami possui.
"Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" se identifica com seu protagonista puro não só na narrativa ao adotar a vívida lógica da criança ou comunicar a psicologia da infância, mas também na forma como foi filmado, a câmera sempre no nível do protagonista, total união entre forma e discurso, no que talvez seja o primeiro filme imbuído da profundidade emocional presente nas obras do tão querido diretor. Um filme terno e humano que me aqueceu o coração.
O que é arte e o que é vida ? Se não existe um limite claro, os filmes de Abbas Kiarostami residem na ponte que une as duas coisas, e se não existe limite nenhum, o cinema de Kiarostami é um cinema total, que tudo embarca.
Eu não poderia dizer melhor que Godard : " O cinema começa com D. W. Griffith e termina com Kiarostami."
Uma sátira irreverente e afiada, se por um lado somos repelidos pelo aspecto grotesco, por outro somos inevitavelmente atraídos pela beleza e precisão típicas do Buñuel, um filme essencial.
Melancolia
3.8 3,1K Assista AgoraEstruturalmente perfeito, mas um filme muito 'comportado' e de bem com a (pós) vida do Trier, onde estão os instintos e os impulsos genuínos de 'Antichrist' e outras obras dele?
Sete Dias com Marilyn
3.7 1,7K Assista AgoraFujam desse filme fraquíssimo enquanto podem !
Michelle Williams pode até ser boa atriz, mas se esse filme foi uma tentativa de homenagem, resultou como um quase-insulto à memória de Marilyn Monroe, pelos comentários dessa página elogiando a atuação da atriz, dá pra perceber uma forte tendência incentivada pelas premiações de congratular não quem atua melhor, mas quem atua mais, existe uma enorme diferença. Se é que posso chamar isso de atuação né, parece mais um arremedo cômico, uma imitação afetada, forçada, os diálogos são entregues com a mesma naturalidade de uma peça do Ensino Médio, isso pra sentir o nível.
A Rede Social
3.6 3,1K Assista AgoraDiálogos bem escritos, boa cinematografia, boa trilha sonora, atuações decentes, mas com que finalidade ? The Social Network gostaria de pensar que é uma investigação humanista, em busca da alma de Mark Zuckerberg, mas acaba se revelando uma exploração niilista sobre o nada, um filme vazio.
Galo de Briga
3.6 9 Assista AgoraEm um texto chamado ' Ten (sixteen, actually) Reasons I Love
Two-Lane Blacktop' , o diretor Richard Linklater cita :
"06 - Because there was once a god who walked the earth named Warren Oates."
Cockfighter apenas confirma isso, Warren Oates numa das minhas performances favoritas no cinema, me comoveu extremamente !
Disparo para Matar
3.7 15Um 'acid-western' existencialista com Jack Nicholson, Warren Oates e dirigido por Monte Hellman, quer mais o quê?! Incrível!
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraEm Cidade dos Sonhos Lynch destrói as aspirações e idealizações da inocente Betty (ou não tão inocente assim?) usando de lógica dos sonhos, ou melhor, de pesadelos, para alegorizar a opressão da indústria de Hollywood, e mais profundamente, a própria natureza do trabalho de um ator : personagem vs. performance, expondo o terror que resulta desse intercâmbio. Naomi Watts bota pra quebrar, mas está ainda melhor na cena em que atua na audição de um filme.
Veludo Azul
3.9 776 Assista AgoraA obra-prima de David Lynch. Introduz a temática do noir desenvolvido através da lógica do sonho que o diretor exploraria nas obras seguintes, mas nunca de maneira tão fascinante e satisfatória como em Blue Velvet. Uma crítica afiada às ilusões que projetamos e tomamos por realidade. A sociedade vive uma mentira.
P.S. Heineken? Fuck that shit.
Babe, O Porquinho Atrapalhado na Cidade
2.7 347 Assista AgoraTenho que comentar mais uma vez :
Argumentavelmente o mais sombrio filme infantil, porém acaba sendo relevado como ' material pra sessão da tarde' por muitos. Consegue se safar sendo ao mesmo tempo adorável e distópico. Surpreende pela temática aparentemente inofensiva, mas que se revela uma metáfora do mundo real. Não hesita em usar cenas desconfortáveis e ainda sim não falha como entretenimento.
Tabu
4.0 32Beleza se verte em dor, o digno em bruto, o que era amor se torna violência. E quem de nós está livre ?
Caminho para o Nada
3.1 24Eu diria que Monte Hellman é o maior fora-da-lei dos cineastas americanos, quem já assistiu outros filmes dele, sabe que o diretor sempre começa com uma certa premissa e na metade do filme, puxa o tapete debaixo do público: em seu clássico cult Two-Lane Blacktop, por exemplo, depois de apostarem uma corrida onde o vencedor ganharia o carro do outro, eles parecem esquecer que estão competindo e o diretor pouco se importa em mostrar qualquer tipo de resolução.
Hellman sempre esteve interessado em transferir certa fisicalidade à película, veja a ultima cena de Two-Lane Blacktop ou as longas cenas de Road to Nowhere onde a câmera repousa sobre os atores, sugerindo tempo real, ou ainda a cena onde o personagem principal Mitchell Haven , diz o que importa em um filme : “ - Casting, casting, casting. “ Uma preocupação compartilhada por Monte Hellman, que busca em seus atores mais a presença e vulnerabilidade do que a atuação em si, aqui atuações grandiloquentes tão premiadas pelo Oscar ou Globo de Ouro não têm espaço, mas uma atuação mínima ou inexistente, onde o ator busca o personagem dentro dele, e não o contrário, que seria o ator tentando se tornar o personagem . Essa sensação de concretude é um ponto crucial em Road to Nowhere , que trabalha com um 'mise en abyme', um jogo de espelhos e ilusões, de forma visualmente inteligente, sempre criando tensão.
“- Let's play a game, which is called : fuck the facts,"
O que guia o desenvolvimento de seus filmes não é narrativa convencional, mas sim as motivações de seus personagens, e Road to Nowhere é um filme permeado de personagens com motivações obscuras, todos se debatendo em busca do controle do processo criativo, um invadindo a cena do outro ou fazendo sugestões ao diretor do filme dentro do filme, cada um puxando os holofotes para seu mundo pessoal , tentando impor a sua visão dos fatos (que fatos ? ) até chegar o ponto de roubarem o filme do próprio Monte Hellman, que aqui redefine o papel do diretor de cinema, não mais um meticuloso criador responsável pelo que acontece em cada cena, em cada frame, mas um artista que liberta a própria obra em um processo de colaboração aberta e subconsciente, à mercê da equipe e do público ( até mesmo os mal-intencionados ) , um processo perigoso, com certeza, mas que injeta um tipo de energia criativa totalmente diferente.
“ - It's not just some Hollywood piece-of-shit movie. It's MY Hollywood piece-of-shit movie.”
Road to Nowhere é um filme sinistramente evocativo, mas sem cair nas armadilhas da nostalgia. É completamente vivo, você sente ele respirar através da fotografia molhada resultado das câmeras DSLR Canon 5D, e através do mistério que envolve a sensual Velma Duran. Mistério que, aliás, provavelmente não tem uma resolução possível, assim como a vida ( " - If it all made sense, I wouldn't be interested." ), uma ilusão de outra ilusão e assim por diante, o que interessa não é a verdade – convenhamos, o que é real nos filmes? - mas a imersão em uma realidade mostrada ou sonhada através de uma modificação na forma em que absorvemos a imagem, um rendimento completo à câmera : uma arma de ilusões que engole o mundo e ‘realidades’ diferentes, capaz de engolir o próprio processo do filme, cinema como uma prisão sem saída, não é por acaso que
o filme começa e termina em uma.
“ This is a true story. “
Uma mordaz representação da experiência de fazer um filme, com todas as influências externas, egos, tensões, obsessões criativas, modificações de ultima hora e paixões que cercam a arte e ao mesmo tempo uma ode ao cinema, cheio de referências, de Sam Fuller a Victor Erice, de ‘Vertigo’ a ‘Tirez su Le pianiste’, que quando não comentam diretamente no filme ( “ - Positively the same dame ! “ – The Lady Eve ), compartilham uma profunda ressonância com o roteiro.
De muitas maneiras Road to Nowhere amadurece ideias já presentes nas melhores obras de Hellman, que aqui entrega um filme sólido, pode ser dito que é seu projeto mais pessoal : os filmes referenciados estão entre os favoritos pessoais do diretor, a personagem de Sossamom foi baseada em Laurie Bird, com quem ele se envolveu amorosamente durante as filmagens de Two-Lane Blacktop e Cockfighter , e que se suicidou anos depois - inclusive o filme é dedicado a ela, Mitchell Haven e Steve Gales, o diretor e o roteirista mostrados no filme, compartilham as mesmas iniciais de Monte Hellmam e Steve Gaydos, o diretor e o roteirista de Road to Nowhere, e o projeto foi filmado sem permissão na Europa, se mantendo fiel às raízes do cinema independente de Monte.
Não acho que gostar ou não desse filme seja uma questão de intelecto, mas de sim de gosto (pulp, arthouse, noir, estudos de personagens obsessivos, filmes densos etc ) e conexão emocional com o material. O filme pode ser um caminho para nada, mas como diz aquela velha frase, o que importa é a jornada e não o destino.
Corrida Sem Fim
3.9 59“ - It gives you a set of emotions that stay with you,
those satisfactions are permanent.” - GTO
Existe melhor maneira pra descrever Two-Lane Blacktop? Nenhum outro filme me pega pelo colarinho e me puxa pra dentro do cinema da maneira que esse faz, cada experiência é mais hipnótica que a outra. A força e o fascínio de Two-Lane Blacktop residem no impenetrável minimalismo que rejeita qualquer forma de intelectualização, negando qualquer tipo de resposta. Seria um road movie existencialista? Um filme sobre incomunicabilidade? Um conto sobre obsessão? Todas as alternativas e nenhuma ao mesmo tempo. Você pode projetar o que quiser, no final do dia, tudo o que existe na tela são três jovens, o silêncio, a estrada, e o road movie mais cru de todos, onde nunca se pode ir rápido o suficiente.
Apesar de simples, não diria que é um filme fácil, exige paciência e comprometimento do público, e clama por revisitas, cada momento, cada detalhe que se passa em silêncio, cada olhar vulnerável de Warren Oats é crucial para o filme, certamente os mais atenciosos serão recompensados.
Quando penso em Two-Lane Blacktop e no final mais cinemático de todos os filmes, penso em uma memória pessoal, algo que sonhei acordado, e o que é o cinema, se não um sonho sonhado junto ? Obrigado, Monte Hellman, esse tipo de satisfação é permanente.
Crisântemos Tardios
4.1 25 Assista AgoraAssim como Kikunosuke, todos nós buscamos reconhecimento na vida, de uma forma ou de outra. Os sacrifícios de Otuko são os sacrifícios solenes que às vezes são necessários na vida e na arte, em favor daqueles que amamos. Lindamente filmado e profundamente sentido, considero a obra-prima do Mizoguchi.
Sombra
3.2 12O melhor pesadelo que eu nunca tive. A impressão que fica é que nasci no meio do filme e descobri um mundo novo através dos sentidos. Loucura.
A Hora dos Fornos: Notas e Testemunhos do Neocolonialismo, Violência …
4.5 11" La Hora de Los Hornos: Notas y Testimonios Sobre el Neocolonialismo, la Violencia y la Liberación " é um filme clandestino latino-americano que criou novos parâmetros pro cinema ativista, revolucionário e anti-imperialista também conhecido como Terceiro Cinema, o fato de comparecer a uma das exibições do filme apesar da ditadura vigente, por si só pode ser considerado um ato de protesto do público da época. Um afiado ensaio que traduz pensamentos políticos em imagens e compreende uma profunda análise geográfica, histórica, econômica, sociológica, religiosa e cultural através de uma linguagem visual extremamente inventiva, total equilíbrio entre didatismo e poesia. Um filme claro em seus objetivos revolucionários, que não só aponta todos os tipos de opressão como também oferece novas possibilidades para a América Latina. Até hoje continua chocante e uma fonte de inspiração tanto ideológica como visual, porque através dos anos a opressão só muda o nome.
Gente no Domingo
3.8 8Quatro jovens reais em uma tarde de domingo, nadando, deitados na grama, conversando, tudo registrado de forma documental e sensual ao mesmo tempo, antecipando o neorealismo e a new wave francesa. Está entre os meus favoritos pessoais, porque são filmes como esse que me lembram o porque eu amo o cinema mudo, ou na verdade qualquer tipo de cinema. Um filme cheio de pequenos prazeres, assim como a vida :)
A Idade do Ouro
3.8 85A Idade do Ouro... eu amo cada segundo desse filme, cada olhar cheio de luxúria desses amantes condenados, posso assistir diversas vezes e sempre tirar algo novo, ao invés do filme envelhecer ele se renova, é assim, uma coisa surreal.
Quem diz que o filme é chato ou perdeu a força, de duas, uma :
1. anda fumando crack.
2. tem frieira no pé.
Um filme que mais de 70 anos depois continua provocativo, ousado, mordaz, malicioso, insano, onírico, niilista, libertador, divertido e infelizmente relevante em sua crítica à sociedade baseada em ideologias religiosas, e aos psicopatas encorajados por valores culturais, como só Buñuel consegue fazer. Um filme no mínimo memorável.
O Vento Nos Levará
3.9 40 Assista AgoraEm ' O Vento Nos Levará ', Abbas Kiarostami expande ainda mais a técnica ' enquadramento que oculta + planos abertos que contextualizam ' que até então tinha sido usada mais expressivamente em sua obra-prima de 1994 ' Através das Oliveiras ', mas com propósitos diferentes. O que o diretor aborda aqui é a natureza de nossa humanidade. Os enquadramentos limitados servem como a metáfora perfeita pras coisas que existem mas não podemos ver, apenas imaginar, como a alma, as ondas de comunicação e até mesmo certas personagens que nunca aparecem ou mostram o rosto no filme ( os pais, os mortos, o homem que cava, a garota do leite, a inválida, etc.. )
A equipe se estabelece na cidade à espera do registro de um ritual que toma lugar após a morte de algum morador, uma espera mórbida por si só. O conflito é que a
velha -à beira da morte quando eles chegaram na cidade- não só continua viva, mas até chega a melhorar (!)
" - Quando você fecha os olhos pra esse mundo, essa beleza, as maravilhas da natureza, e a generosidade de Deus, significa que você nunca mais vai voltar.
(...)
- Quem já voltou de lá pra nos dizer se é bonito ou não ? Prefiro o presente ao invés dessas belas promessas "
É Abbas, o vento nos levará ... mas por enquanto estamos bem servidos :)
Gosto de Cereja
4.0 225 Assista Agora" Eu não gosto de me envolver contando histórias, eu não gosto de afetar o espectador emocionalmente ou dar conselhos. Eu não gosto de menosprezar o público ou sobrecarregá-lo com um sentimento de culpa. Estas são as coisas que eu não gosto nos filmes. " - Abbas Kiarostami
-
Através das Oliveiras
4.0 56 Assista AgoraAtravés das Oliveiras é o terceiro filme da trilogia Koker, e assim como o segundo filme, ele se liberta do anterior ao mesmo tempo em que o reafirma através de sua própria existência, como se todos os três fossem um só filme, descascado pelo diretor através dos anos em três obras. Nesse, uma equipe refilma uma cena de “Vida e Nada Mais ou E a Vida Continua” com os mesmos atores, no mesmo local, revelando que o trabalho anterior foi uma obra de ficção. Se no segundo filme o foco era o diretor e seu filho em busca do garotinho de "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", aqui quem ganha destaque são os atores, moradores da cidade que possuem uma história de fundo que cria um conflito com os papéis que interpretam no ‘filme dentro do filme’.
Abbas Kiarostami é um cineasta generoso, se recusa a manipular suas criações. Embora se mostre inclinado a um certo tipo de resolução, é sempre o público que tem a palavra final, cabe ao público interpretar , e mais do que isso, completar seus filmes. O cinema de Kiarostami é um jogo em que o sucesso depende do envolvimento ativo do espectador, e Através das Oliveiras é a prova cabal. Ele entende, tão ou mais profundamente que diretores como Renoir e Bresson que o enquadramento da câmera é um fragmento que não reproduz o real em sua totalidade, e usa essa ‘limitação’ da mídia a seu favor. Várias cenas em Através das Oliveiras são enquadramentos fechados que só revelam parte da ação, assim temos : 1. O que está acontecendo na tela, 2. O que acontece além da tela, que percebemos através do som. Ao fazer isso, o diretor adiciona uma nova camada de realidade que dribla a limitação do enquadramento, de repente, a realidade do filme não é só aquela que é mostrada na tela, mas também uma que através de nossa imaginação, quebra todos os limites do cinema, uma realidade mais parecida com o mundo.
É Abbas nos convidando a completar o filme em uma experiência nova e completamente imersiva, isso fica bem claro na ultima cena, através das oliveiras. É o meu favorito do diretor, e na minha opinião, o melhor e o mais completo porque traz todas as preocupações anteriores do Kiarostami e além disso traz algo de novo ao cinema, talvez maior que a própria mídia.
Vida e Nada Mais ou E a Vida Continua
4.2 23Segundo filme da trilogia Koker, "Vida e Nada Mais ou E a Vida Continua" se passa após o terrível terremoto que devastou o norte do Irã no verão de 1990, e embora tenha elementos da realidade, como pessoas reais e cenas documentais dos moradores limpando a cidade, o filme nunca abandona sua estrutura narrativa ficcional.
O que é especial aqui é a forma como o diretor se desvencilha e ao mesmo tempo afirma o filme anterior : o personagem do diretor busca o ator que protagonizou "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" entre os escombros da cidade em que o filme foi realizado, desnudando o primeiro filme como obra de ficção, mas ao mesmo tempo, "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" é a razão de ser e o principal ponto de entrada de "Vida e Nada Mais...". Além disso, Abbas Kiarostami mantém a consistência de sua temática humanista, demonstrando simpatia pelas crianças assim como no filme anterior, mas nesse ele dá um passo maior, na minha opinião.
Um filme maravilhoso onde a perseverança é o tema principal, eu amo a fotografia aqui, muita luz branca estourada, travelling shots e personagens filmados através dos vidros do carro com uma sensibilidade que só Kiarostami possui.
Onde Fica a Casa do Meu Amigo?
4.2 145 Assista Agora"Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" se identifica com seu protagonista puro não só na narrativa ao adotar a vívida lógica da criança ou comunicar a psicologia da infância, mas também na forma como foi filmado, a câmera sempre no nível do protagonista, total união entre forma e discurso, no que talvez seja o primeiro filme imbuído da profundidade emocional presente nas obras do tão querido diretor. Um filme terno e humano que me aqueceu o coração.
Close Up
4.3 117O que é arte e o que é vida ?
Se não existe um limite claro, os filmes de Abbas Kiarostami residem na ponte que une as duas coisas, e se não existe limite nenhum, o cinema de Kiarostami é um cinema total, que tudo embarca.
Eu não poderia dizer melhor que Godard :
" O cinema começa com D. W. Griffith e termina com Kiarostami."
Viridiana
4.2 141Uma sátira irreverente e afiada, se por um lado somos repelidos pelo aspecto grotesco, por outro somos inevitavelmente atraídos pela beleza e precisão típicas do Buñuel, um filme essencial.
Rififi
4.3 61Um filme de roubo imbatível na sua combinação de tensão e sofisticação.