Sutil e bastante intrigante, esta produção faz parte dos chamados "filmes surpresas", por quebrar com as expectativas de quem confere. A trama irá agradar aquele que se render ao chamado da protagonista em seguir um caminho místico (digamos assim) na tentativa de descobrir verdades sobre o paradeiro do marido. Ao mesmo tempo que promove uma jornada por locais específicos da cidade onde mora, nossa personagem se lança também a uma significativa viagem subjetiva. É exigido do espectador um exercício dialético aproximando mundo interior x exterior, acima de tudo, entre "aquilo que é conhecido" e "aquilo que foi rechaçado" pela chegada amarga da morte. Ficará satisfeito quem não lançar um olhar racional sobre a história, já que o diretor gosta de flertar com cortes repentinos, diálogos aparentemente desconexos e resoluções abstratas. Em um todo, vale entrar nessa ciranda metafórica sem ter garantias do que estará à espera no final.
O filme lança um chamado diferente ao espectador, exigindo um olhar atento e uma entrega mais sensorial à experiência. As falas são substituídas por uma atenção quase que total ao estado de espírito dos personagens, onde os gestos e hesitações contam bastante. Toda a produção tem uma beleza fora do comum, com suas cores e sons selvagens, mas o terço final é que ficará marcado na memória. Vale a pena conhecer e se deixar afetar, sem esquivas.
Bem curioso este drama que bebe na fonte de Kafta (ou seria David Lynch?) para contar a história surreal de um brasileiro que perde o contato com as próprias raízes. O filme demora um pouco para engrenar, a edição é fragmentada e modernosa, muito embora o personagem não tenha carisma e nem profundidade, o que acaba diminuindo o impacto da experiência. O ponto forte fica por conta das locações no bairro da Liberdade: há idas e vindas pelo metrô e em pontos especiais como a Rua Galvão Bueno e da Glória, além de alguns "inferninhos" animados por karaokês. Vale a pena arriscar, por ser uma produção alternativa.
Acabei de assistir e levantei da cadeira com dúvida, não porque o filme tenha sido ruim ou pejorativo, mas talvez pelo fato de minha expectativa ter sido maior do que a realidade tenha revelado. Todos os elementos da diretora estavam lá: a poesia, as hesitações, o nó na garganta, os intervalos de tempo, o feminino diante do vazio e os questionamentos da vida que, muitas vezes, reverberam em ecos. É um filme existencial, acima de tudo, trazendo um tema que pode agradar a muitos e também arranhar o desejo de tantos outros que esperam por um comportamento mais impetuoso da personagem, mas que não ocorre. Não há labirintos tortuosos na trama e o filme transcorre bem ajustado e sem maiores provocações. Aqui, nossa musa não se rebela ou desaparece como no filme anterior de Petra, mas de modo prudente equaliza suas aflições às necessidades cotidianas, sendo resiliente ao ambiente. É bonito, sem ser excepcional. É diferente, sem necessariamente ser inovador. É bom, mas também é superestimado.
Filme conferido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Itaú Frei Caneca). Houve um debate curioso após a sessão com a presença de Christof Wehmeier, diretor do Icelandic Film Centre, uma produtora islandesa que distribui títulos nórdicos para o restante do mundo. O filme começa tranquilo, sem grandes pretensões e insere o deslocado Fúsi de maneira contagiante à trama, extraindo o riso fácil do público. Não houve quem não se rendesse às peripécias do "grandalhão", principalmente na primeira metade da história. Em contrapartida, a forte (e insistente) ingenuidade do personagem soou excessiva, interferindo, em diferentes momentos, no resultado da experiência. Para compensar tais oscilações, nada como uma ótima trilha sonora, um romance açucarado cheio de altos e baixos e uma fotografia melancólica de primeira, ingredientes estes que não fizeram a massa desandar.
Uma bela metáfora sobre o desejo, a dúvida e um armário que insistia em não ser aberto... Tão singelo e carregado de sentimento, eu não havia visto nada parecido antes com esse roteiro. A "cena final" é de bater palmas, tamanha originalidade, mística e impacto emocional!
Filme conferido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Caixa Belas Artes). Entrei à sala de exibição sem maior pretensão e saí com um sentimento morno no peito. A trama começa bem e captura o olhar do espectador inserindo o estilo de vida introvertido e o estado de pobreza em que vive o personagem central. É impossível ficar indiferente. Após 20 minutos, a trama apenas flutua e entra num ritmo de dispersão. A estética e a atmosfera lembram o estilo de Tsai Ming-liang, mas fica longe de arrebatar como o diretor veterano. Ao término da experiência, alguns riram, outros saíram calados, como eu.
Filme conferido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (CineSesc). A fila ficou grande meia hora antes da sessão (que surpresa!), misturando e trazendo o burburinho de muita gente que aguardava pelo longa metragem de Laurie Anderson. O que foi revelado na tela saltou aos olhos, tamanho o lirismo e o tom intimista da narrativa. Anderson reuniu, numa espécie de diário das imagens, momentos íntimos de família e fragmentos lúdicos envolvendo sua cadela Lolabelle. Há uma mistura de dor, desassossego e desejo de entender, ou talvez tocar o abstrato, que torna a experiência de ver o filme quase hipnótica. A voz de Laurie é forte e seu olhar para o mundo é sinestésico, ora tateante, ora suplicante. Seguir em frente, sozinha, remendando as próprias memórias após a perda do marido (Lou Reed), talvez seja esse o chamado por trás do conjunto de imagens, convidando o espectador a também olhar para a efemeridade da vida e dos laços afetivos, tão caros e tão breves.
Estrondoso já na primeira cena e recheado de surpresas ao longo da trama! O diretor criou um filme nervoso e provocativo, inserindo o espectador e sua "atriz cobaia" (Emily Blunt surpreendente, fora do lugar comum) à uma jornada imprevisível pelo submundo do narcotráfico. O mais interessante é que não sabemos realmente para onde estamos indo e a sensação de falta de ar é constante. À certa altura, você sente que está sendo vigiado ou perseguido (sabe-se lá por quem!) e apenas deseja uma explicação coerente sobre como "sair bem" dessa emboscada eletrizante. Renda-se!
Homem (s.m.): bípede solitário à procura de si mesmo. Ser desejante que tateia a terra, sendo atravessado pelo vazio e a imensidão. Diz-se humano, mas também enquadra-se na categoria dos selvagens. Atualmente embasbacado, segue em silêncio em busca de traduções e sentidos.
Eu sinto que assisti ao filme na época errada, talvez fizesse maior sentido e criasse um impacto considerável se tivesse destilado essa "zumba anárquica" nos anos 80 ou 90. Tudo é muito estridente, fragmentado, histérico, exaustivo e porra-louca. A narrativa sensacionalista chega a irritar em muitos momentos, revelando que o filme envelheceu mal e ganhou um certo status apenas pela edição frenética e pela ousadia em incitar o público, algo realmente novo no Cinema Nacional dos anos 60, e só. Passemos adiante.
Cinema de entretenimento honesto e com uma proposta bem diferente dos temas recorrentes nas telas atualmente, trazendo um "suposto herói" mais humanizado, sem uniformes coloridos (ou superpoderes) e tendo que elaborar seus conflitos abertamente diante do espectador. Não chega a ser arrebatador, mas ganha vários pontos pelo cuidado estético (alternando fotografia em P&B e colorido), pela narrativa em tom de fábula e, acima de tudo, pela cena final da travessia, engenhosa e de encher os olhos! Assista em 3D + IMAX, as sensações serão ampliadas!
Como era de se esperar de um "filme coletivo", os episódios são desiguais e o ritmo escapa do tom, fazendo o espectador procurar pelo relógio algumas vezes. Os dois melhores episódios ficam por conta da direção segura de Gaspar Noé (em "Ritual") e do ótimo trabalho envolvendo um apurado sincretismo religioso vindo de Laurent Cantet (em "A Fonte"), que fecha o filme com chave de ouro.
Que generoso registro Walter Salles conseguiu criar para um jovem diretor que vem marcando a nova geração. Sem pressa e com uma devoção que emociona, o cineasta brasileiro traz um DOC que, ao mesmo tempo, é uma homenagem e uma introdução à obra do amigo chinês. A montagem do filme é tão primorosa que te deixa ligado à tela o tempo inteiro, fora o prazer de rever algumas cenas preferidas que Salles escolheu para tornar o exercício de entrega do espectador ainda mais especial. Sem dúvida, estamos diante de um trabalho poético e bastante pessoal!
É incrível como muitas cenas marcantes que carregamos também ocupam espaço nos sonhos, histórias e memórias de outras pessoas, criando uma espécie de imaginário coletivo. Masagão fez um trabalho bonito, inspirador e declaradamente apaixonado pelo Cinema, resultando no que podemos chamar de uma "homenagem brasileira à Sétima Arte". Assista sem receios!
Pungente, selvagem e extremamente cativante: há um feminino preso em um labirinto de experiências desgastadas que clama por novos rumos o filme inteiro, até o dia em que a liberdade bate sensivelmente à porta... De tão honesto e cru na narrativa, ouso dizer que este deverá ser o meu filme do semestre. Veremos. Por enquanto, levarei as imagens comigo!
A trama começa contida e vai ganhando força à medida que Nina Hoss mostra ao espectador qual a sua real intenção. E nós, curiosos por natureza, nos sentimos cúmplices da boa empreitada quando a personagem promove um mergulho no passado em busca de referências pessoais e fragmentos de identidade. E fica difícil deixar para trás grandes traumas quando o que resta é um vínculo amoroso mal resolvido que pode ser o único fio que trará sentido a um emocional despedaçado.
Dolorido não é ter que chorar pelos nossos mortos, mas sim tentar manter-se vivo num mundo onde nada mais faz sentido. Que belo filme, contundente tanto na simplicidade das personagens quanto na amarga realidade dos fatos!
Boa surpresa alternativa que não gerou muito alarde, mas que vale a pena ser conferida por trazer um recorte original sobre o "adolescer" na atualidade. Quase em slow motion, a trama é reflexiva, provocativa, irritante e sedutora, tudo ao mesmo tempo, revelando uma espécie de jorro aflitivo sobre a falta de sentido de muitos jovens em encontrar o seu lugar social. Há uma beleza nisso tudo, mas também há de se ter coragem para aceitar que um vácuo está crescendo entre nós, sem um limite de contenção para uma assustadora alienação.
Acabei de conferir e posso dizer que é uma produção bem interessante, porém alertando que se trata mais de um suspense psicológico do que um filme de horror tradicional. A boa química entre as irmãs favorece o jogo perverso da trama, a reconstituição de época traz mais veracidade aos fatos e a questão da religiosidade é algo que atravessa o filme inteiro, conduzindo as ideias de Montse para uma espécie de mergulho caótico no tempo, onde a "suposta vilã" é revisitada constantemente por seus traumas e complexos emocionais, tornando-a digna de uma desejada misericórdia. E aqui entre nós, nada como um toque de insanidade para gerar uma personagem tão curiosa!
Wim Wenders, com o seu atual faro de documentarista, está acertando bem os temas que têm filmado, tudo para o nosso deleite!! O diretor, junto com Juliano Salgado, conseguiu produzir um registro vibrante sobre o fotógrafo brasileiro que atravessa diferentes partes do mundo em silêncio, criando uma impressionante coleção de imagens agrupadas a partir do movimento humano em sua interação com a Natureza. Experiência única e com "gostinho de Brasil"!
"As relações humanas estão se tornando líquidas", já apontava o sociólogo Zygmunt Bauman. E nada mais estimulante e ilustrativo do que acompanhar essa verdade pela lente de Jason Reitman! Trata-se de um registro sobre como as pessoas na modernidade estão sendo tragadas pela tecnologia e a busca do prazer imediato, sem se dar conta dos fios afetivos que as ligam às pessoas mais próximas, sejam seus parceiros amorosos ou mesmo familiares. No filme, os ingredientes mais nobres recaem sobre temas bastante urgentes, tais como o enfrentamento da solidão, a criação de novos códigos relacionais e a constante busca de si mesmo.
Para o Outro Lado
3.4 22 Assista AgoraSutil e bastante intrigante, esta produção faz parte dos chamados "filmes surpresas", por quebrar com as expectativas de quem confere. A trama irá agradar aquele que se render ao chamado da protagonista em seguir um caminho místico (digamos assim) na tentativa de descobrir verdades sobre o paradeiro do marido. Ao mesmo tempo que promove uma jornada por locais específicos da cidade onde mora, nossa personagem se lança também a uma significativa viagem subjetiva. É exigido do espectador um exercício dialético aproximando mundo interior x exterior, acima de tudo, entre "aquilo que é conhecido" e "aquilo que foi rechaçado" pela chegada amarga da morte. Ficará satisfeito quem não lançar um olhar racional sobre a história, já que o diretor gosta de flertar com cortes repentinos, diálogos aparentemente desconexos e resoluções abstratas. Em um todo, vale entrar nessa ciranda metafórica sem ter garantias do que estará à espera no final.
A Ilha do Milharal
4.0 40O filme lança um chamado diferente ao espectador, exigindo um olhar atento e uma entrega mais sensorial à experiência. As falas são substituídas por uma atenção quase que total ao estado de espírito dos personagens, onde os gestos e hesitações contam bastante. Toda a produção tem uma beleza fora do comum, com suas cores e sons selvagens, mas o terço final é que ficará marcado na memória. Vale a pena conhecer e se deixar afetar, sem esquivas.
Estação Liberdade
2.7 15Bem curioso este drama que bebe na fonte de Kafta (ou seria David Lynch?) para contar a história surreal de um brasileiro que perde o contato com as próprias raízes. O filme demora um pouco para engrenar, a edição é fragmentada e modernosa, muito embora o personagem não tenha carisma e nem profundidade, o que acaba diminuindo o impacto da experiência. O ponto forte fica por conta das locações no bairro da Liberdade: há idas e vindas pelo metrô e em pontos especiais como a Rua Galvão Bueno e da Glória, além de alguns "inferninhos" animados por karaokês. Vale a pena arriscar, por ser uma produção alternativa.
Olmo e a Gaivota
3.9 149Acabei de assistir e levantei da cadeira com dúvida, não porque o filme tenha sido ruim ou pejorativo, mas talvez pelo fato de minha expectativa ter sido maior do que a realidade tenha revelado. Todos os elementos da diretora estavam lá: a poesia, as hesitações, o nó na garganta, os intervalos de tempo, o feminino diante do vazio e os questionamentos da vida que, muitas vezes, reverberam em ecos. É um filme existencial, acima de tudo, trazendo um tema que pode agradar a muitos e também arranhar o desejo de tantos outros que esperam por um comportamento mais impetuoso da personagem, mas que não ocorre. Não há labirintos tortuosos na trama e o filme transcorre bem ajustado e sem maiores provocações. Aqui, nossa musa não se rebela ou desaparece como no filme anterior de Petra, mas de modo prudente equaliza suas aflições às necessidades cotidianas, sendo resiliente ao ambiente. É bonito, sem ser excepcional. É diferente, sem necessariamente ser inovador. É bom, mas também é superestimado.
Desajustados
3.9 119 Assista AgoraFilme conferido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Itaú Frei Caneca). Houve um debate curioso após a sessão com a presença de Christof Wehmeier, diretor do Icelandic Film Centre, uma produtora islandesa que distribui títulos nórdicos para o restante do mundo. O filme começa tranquilo, sem grandes pretensões e insere o deslocado Fúsi de maneira contagiante à trama, extraindo o riso fácil do público. Não houve quem não se rendesse às peripécias do "grandalhão", principalmente na primeira metade da história. Em contrapartida, a forte (e insistente) ingenuidade do personagem soou excessiva, interferindo, em diferentes momentos, no resultado da experiência. Para compensar tais oscilações, nada como uma ótima trilha sonora, um romance açucarado cheio de altos e baixos e uma fotografia melancólica de primeira, ingredientes estes que não fizeram a massa desandar.
Contra Corrente
4.0 408Uma bela metáfora sobre o desejo, a dúvida e um armário que insistia em não ser aberto... Tão singelo e carregado de sentimento, eu não havia visto nada parecido antes com esse roteiro. A "cena final" é de bater palmas, tamanha originalidade, mística e impacto emocional!
Underground Fragrance
3.4 2Filme conferido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Caixa Belas Artes). Entrei à sala de exibição sem maior pretensão e saí com um sentimento morno no peito. A trama começa bem e captura o olhar do espectador inserindo o estilo de vida introvertido e o estado de pobreza em que vive o personagem central. É impossível ficar indiferente. Após 20 minutos, a trama apenas flutua e entra num ritmo de dispersão. A estética e a atmosfera lembram o estilo de Tsai Ming-liang, mas fica longe de arrebatar como o diretor veterano. Ao término da experiência, alguns riram, outros saíram calados, como eu.
Coração de Cachorro
4.0 26Filme conferido na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (CineSesc). A fila ficou grande meia hora antes da sessão (que surpresa!), misturando e trazendo o burburinho de muita gente que aguardava pelo longa metragem de Laurie Anderson. O que foi revelado na tela saltou aos olhos, tamanho o lirismo e o tom intimista da narrativa. Anderson reuniu, numa espécie de diário das imagens, momentos íntimos de família e fragmentos lúdicos envolvendo sua cadela Lolabelle. Há uma mistura de dor, desassossego e desejo de entender, ou talvez tocar o abstrato, que torna a experiência de ver o filme quase hipnótica. A voz de Laurie é forte e seu olhar para o mundo é sinestésico, ora tateante, ora suplicante. Seguir em frente, sozinha, remendando as próprias memórias após a perda do marido (Lou Reed), talvez seja esse o chamado por trás do conjunto de imagens, convidando o espectador a também olhar para a efemeridade da vida e dos laços afetivos, tão caros e tão breves.
Sicario: Terra de Ninguém
3.7 942 Assista AgoraEstrondoso já na primeira cena e recheado de surpresas ao longo da trama! O diretor criou um filme nervoso e provocativo, inserindo o espectador e sua "atriz cobaia" (Emily Blunt surpreendente, fora do lugar comum) à uma jornada imprevisível pelo submundo do narcotráfico. O mais interessante é que não sabemos realmente para onde estamos indo e a sensação de falta de ar é constante. À certa altura, você sente que está sendo vigiado ou perseguido (sabe-se lá por quem!) e apenas deseja uma explicação coerente sobre como "sair bem" dessa emboscada eletrizante. Renda-se!
O
3.7 2Homem (s.m.): bípede solitário à procura de si mesmo. Ser desejante que tateia a terra, sendo atravessado pelo vazio e a imensidão. Diz-se humano, mas também enquadra-se na categoria dos selvagens. Atualmente embasbacado, segue em silêncio em busca de traduções e sentidos.
O Bandido da Luz Vermelha
3.9 267 Assista AgoraEu sinto que assisti ao filme na época errada, talvez fizesse maior sentido e criasse um impacto considerável se tivesse destilado essa "zumba anárquica" nos anos 80 ou 90. Tudo é muito estridente, fragmentado, histérico, exaustivo e porra-louca. A narrativa sensacionalista chega a irritar em muitos momentos, revelando que o filme envelheceu mal e ganhou um certo status apenas pela edição frenética e pela ousadia em incitar o público, algo realmente novo no Cinema Nacional dos anos 60, e só. Passemos adiante.
A Travessia
3.6 613 Assista AgoraCinema de entretenimento honesto e com uma proposta bem diferente dos temas recorrentes nas telas atualmente, trazendo um "suposto herói" mais humanizado, sem uniformes coloridos (ou superpoderes) e tendo que elaborar seus conflitos abertamente diante do espectador. Não chega a ser arrebatador, mas ganha vários pontos pelo cuidado estético (alternando fotografia em P&B e colorido), pela narrativa em tom de fábula e, acima de tudo, pela cena final da travessia, engenhosa e de encher os olhos! Assista em 3D + IMAX, as sensações serão ampliadas!
7 Dias em Havana
3.5 79Como era de se esperar de um "filme coletivo", os episódios são desiguais e o ritmo escapa do tom, fazendo o espectador procurar pelo relógio algumas vezes. Os dois melhores episódios ficam por conta da direção segura de Gaspar Noé (em "Ritual") e do ótimo trabalho envolvendo um apurado sincretismo religioso vindo de Laurent Cantet (em "A Fonte"), que fecha o filme com chave de ouro.
Jia Zhangke, um Homem de Fenyang
3.8 10Que generoso registro Walter Salles conseguiu criar para um jovem diretor que vem marcando a nova geração. Sem pressa e com uma devoção que emociona, o cineasta brasileiro traz um DOC que, ao mesmo tempo, é uma homenagem e uma introdução à obra do amigo chinês. A montagem do filme é tão primorosa que te deixa ligado à tela o tempo inteiro, fora o prazer de rever algumas cenas preferidas que Salles escolheu para tornar o exercício de entrega do espectador ainda mais especial. Sem dúvida, estamos diante de um trabalho poético e bastante pessoal!
Ato, Atalho e Vento
3.4 10É incrível como muitas cenas marcantes que carregamos também ocupam espaço nos sonhos, histórias e memórias de outras pessoas, criando uma espécie de imaginário coletivo. Masagão fez um trabalho bonito, inspirador e declaradamente apaixonado pelo Cinema, resultando no que podemos chamar de uma "homenagem brasileira à Sétima Arte". Assista sem receios!
Party Girl
3.6 17Pungente, selvagem e extremamente cativante: há um feminino preso em um labirinto de experiências desgastadas que clama por novos rumos o filme inteiro, até o dia em que a liberdade bate sensivelmente à porta... De tão honesto e cru na narrativa, ouso dizer que este deverá ser o meu filme do semestre. Veremos. Por enquanto, levarei as imagens comigo!
A Noiva Estava de Preto
3.9 99"Mas senhorita, eu não vejo arrependimento em seus olhos!! Não se pode falar de amor quando se age com ódio e vingança...
E quem disse que estou falando de amor? Estou agindo apenas na busca de um sentido!"
Phoenix
3.8 104 Assista AgoraA trama começa contida e vai ganhando força à medida que Nina Hoss mostra ao espectador qual a sua real intenção. E nós, curiosos por natureza, nos sentimos cúmplices da boa empreitada quando a personagem promove um mergulho no passado em busca de referências pessoais e fragmentos de identidade. E fica difícil deixar para trás grandes traumas quando o que resta é um vínculo amoroso mal resolvido que pode ser o único fio que trará sentido a um emocional despedaçado.
Lola
3.7 35 Assista AgoraDolorido não é ter que chorar pelos nossos mortos, mas sim tentar manter-se vivo num mundo onde nada mais faz sentido. Que belo filme, contundente tanto na simplicidade das personagens quanto na amarga realidade dos fatos!
Palo Alto
3.2 429Boa surpresa alternativa que não gerou muito alarde, mas que vale a pena ser conferida por trazer um recorte original sobre o "adolescer" na atualidade. Quase em slow motion, a trama é reflexiva, provocativa, irritante e sedutora, tudo ao mesmo tempo, revelando uma espécie de jorro aflitivo sobre a falta de sentido de muitos jovens em encontrar o seu lugar social. Há uma beleza nisso tudo, mas também há de se ter coragem para aceitar que um vácuo está crescendo entre nós, sem um limite de contenção para uma assustadora alienação.
Kauwboy
4.0 64Não interessa a sua condição, não importa o que sua mãe faz, não conta em nada onde você mora: a solidão é amarga em qualquer lugar do mundo!
Ninho de Musaranho
3.7 333Acabei de conferir e posso dizer que é uma produção bem interessante, porém alertando que se trata mais de um suspense psicológico do que um filme de horror tradicional. A boa química entre as irmãs favorece o jogo perverso da trama, a reconstituição de época traz mais veracidade aos fatos e a questão da religiosidade é algo que atravessa o filme inteiro, conduzindo as ideias de Montse para uma espécie de mergulho caótico no tempo, onde a "suposta vilã" é revisitada constantemente por seus traumas e complexos emocionais, tornando-a digna de uma desejada misericórdia. E aqui entre nós, nada como um toque de insanidade para gerar uma personagem tão curiosa!
O Sal da Terra
4.6 450 Assista AgoraWim Wenders, com o seu atual faro de documentarista, está acertando bem os temas que têm filmado, tudo para o nosso deleite!! O diretor, junto com Juliano Salgado, conseguiu produzir um registro vibrante sobre o fotógrafo brasileiro que atravessa diferentes partes do mundo em silêncio, criando uma impressionante coleção de imagens agrupadas a partir do movimento humano em sua interação com a Natureza. Experiência única e com "gostinho de Brasil"!
Homens, Mulheres & Filhos
3.6 670 Assista Agora"As relações humanas estão se tornando líquidas", já apontava o sociólogo Zygmunt Bauman. E nada mais estimulante e ilustrativo do que acompanhar essa verdade pela lente de Jason Reitman! Trata-se de um registro sobre como as pessoas na modernidade estão sendo tragadas pela tecnologia e a busca do prazer imediato, sem se dar conta dos fios afetivos que as ligam às pessoas mais próximas, sejam seus parceiros amorosos ou mesmo familiares. No filme, os ingredientes mais nobres recaem sobre temas bastante urgentes, tais como o enfrentamento da solidão, a criação de novos códigos relacionais e a constante busca de si mesmo.