Os filmes dele nem parecem filmes, mas a exploração que acontece depois dele. Em várias cenas, depois do "acontecimento" (uma discussão, uma briga) a câmera permanece. E ela começa a explorar o que fica. Quantos filmes fazem isso? Usualmente, depois de uma cena tensa, corta-se para outra, dá-se continuidade. Béla Tarr, e talvez resida aí uma das qualidades de suas obras, deixa a câmera "ver" o que acontece depois disso. É um rosto em fúria, contraído que vai de fôlego em fôlego recuperando-se à luz do que sucedeu. A vida parece ser isso que fica depois do filme. Assim, Béla Tarr filme a vida depois do filme. Lindo.
Cada "capítulo" desse filme parece um verdadeiro ensaio sobre a composição de uma fotografia. Sempre deslumbrante. Daria para isolar algumas cenas como "sínteses" de cada trajeto visual.
Hoje é difícil encontrar quem tenha coragem de tomar uma obra clássica, daquelas de peso pesado, e fazer um filme. Ele obviamente não se prende ao texto, adapta-o. Apresenta as histórias de metamorfoses, num forma bem livresca, todas em situações e condições contemporâneas (a exemplo da história de Narciso, que ao invés de se afogar num lago ao ver seu reflexo, salta de um prédio... isso ainda após um "conhecimento de si" muito mais próprio de alguém da contemporaneidade que compreende esse "si" como "sujeito"...).
Quanta sensibilidade tem essa mulher! Há algo de impessoal nessa singularidade. Buscar nos outros a si mesmo, é um verdadeiro ensaio de alteridade. A pergunta com que abre a obra é, talvez, uma das mais importantes que cada um possa fazer a si mesmo: quando eu me abro para o mundo, o que surge?
Primeiro, é de uma ignorância gritante tomar o filme como "confuso". O que isso significa? que quem assistiu não entendeu? Qual a parâmetro? Uma narrativa com início, meio e fim, bem estruturado aos moldes de Hollywood? Ah, vá!. O que parece ser um filme sobre a revolução, engendra outra, e mais profunda, perspectiva: a da resistência de um desejo de comunidade. São vários os momentos em que os "inimigos" chama-se "camarada", na justaposição de discursos, com os mesmos gestos, as mesmas expressões, os mesmos desejos. Não é isso que aprofunda ainda mais a obra? Não é um simples embate entre inimigos, mas a divisão que opera no seio do próprio povo. Eisenstein parece intimamente preocupado com isso: os gestos (sorrisos e aplausos), as danças, a própria arte, os abraços, a música trata de um desejo maior do que a guerra. Mas, lá está ela, degradando tudo e todos. As imagens, todavia, resistem: pelo sua montagem, pela sua fotografia, pelos gestos que empreende.
bons diálogos, com especial destaque para dois personagens secundários que, falando de suas vidas, tratam de uma questão delicada (a guerra na Síria) e de problema interno (precarização do trabalho). O final, no estilo Orfeu dá um bom tom ao filme, que está cheia de referências literárias (Balzac é só a mais explícita).
Paterson é uma bela ode à poesia no cotidiano, à prosa imiscuída de poesia, àqueles que são capazes de, verdadeiramente, "tirar leite de pedra", isto é, fazer poesia. Lembra o sonho de Marx de que o proletário trabalharia, cuidaria de seu jardim e escreveria poesia. Isso, num mundo mais livre. Se alguém faz isso hoje, como já mostrou Rancière, em "a noite dos proletários", é como forma de resistência, e não um ato de liberdade. Resistência essa que se encontra igualmente em sua esposa, mais patente ainda. Ela pinta tudo, espalha sua "cor" (porque branco e preto não são cores, é preciso lembrar). Seus sonhos também são a prova de que a poesia pode "invadir" a vida, ou melhor, tornar-se o "ritmo" da vida (já que a todo momento, numa espécie de cadência visual que acompanha o poema, Paterson se vê diante de fragmentos de sonho da esposa). Apesar da "banalidade" de cada dia, a poesia é o lugar em que tudo adquire profundidade, mesmo que seja no espelho raso da vida ordinária de cada um. É impressionante como todos, qualquer um, de alguma forma estão enlaçado nessa trama poética. Talvez, nossa vida esteja aí.
O filme é um grande ensaio sobre a luz, digno dos maiores pintores impressionistas. Agora, o enredo soa como um "white [and rich] people problems", chato pra k7.
Depois da trilogia Batman de Nolan, esse é realmente o melhor filme da DC. Mas, como todo filme de super herói, sempre raso. Isso é uma assinatura indelével desses tipos de obras. Acho que uma direção feminina faz muito bem a esses tipos de filme. A atriz apareceu sem qualquer vulgarização. Pelo contrário, via-se mesmo que o "vulgar" estava nos olhos dos homens (e da sociedade patriarcal). Robin Wright sempre diva, roubou as poucas cenas nas quais apareceu.
Okja mostrou que tem uma inteligência que em nada foi aproveitado. No final, temos uma menina que lutava apenas por seu animal (e ela nem vegetariana é: gosta de frango), um grupo que perde a noção de justiça, quando a atividade se faz pela emoção (o que não tira o mérito da atuação do grupo em defesa dos animais), e uma indústria que cria geneticamente seus animais (talvez o tema mais importante), perdido em meio ao melodrama de uma criança e seu bichinho.
O sacro pode significar tanto "sagrado" como algo da esfera do "sacrilégio". É o tempo da indistinção desses espaços, no qual tudo é possível, logo cada um é soberano e vida nua na mão do outro. Nada do que acontece aí, acontece por alguma função produtiva, diga-se de passagem. E isso torna o filme mais denso do que se imagina e mais interessante do que se espera. A festividade encontra-se em sua máxima tensão com a falta e vigência da norma. Onde o direito se indetermina começa a vida...
o tempo do filme é diferente do tempo "normal" de Hollywood. É uma obra graciosa e delicada, ao ponto de uma transparência que já não se deixa ver, talvez entrever nas linhas dos diálogos, dos silêncios (que são muitos), dos balbucios...
Impecável artisticamente. Lembra uns ambientes de Tarkovski, principalmente em "Nostalgia". Quem acha o filme parcial, não conseguiu enxergar a obviedade da fraqueza dos argumentos dos padres quando confrontados. (vai ver é gente que considera post de feicebruique argumento...). Rola até umas ironias que parecem beber em Saramago... A pegada do filme todo, para quem diz "cansativo" ou "extenso", é justamente o contraponto (!) do tempo oriental, de uma forma de trabalho do tempo, que não a nossa, e certamente, não é a de Hollywood (vide "O cavalo de Turim" de Bela Tarr): tal como vão "talhando" a personagem, vão talhando o tempo: noutro ritmo, de uma paciência estranha a nossa.
O Homem de Londres
3.8 15Os filmes dele nem parecem filmes, mas a exploração que acontece depois dele. Em várias cenas, depois do "acontecimento" (uma discussão, uma briga) a câmera permanece. E ela começa a explorar o que fica. Quantos filmes fazem isso? Usualmente, depois de uma cena tensa, corta-se para outra, dá-se continuidade. Béla Tarr, e talvez resida aí uma das qualidades de suas obras, deixa a câmera "ver" o que acontece depois disso. É um rosto em fúria, contraído que vai de fôlego em fôlego recuperando-se à luz do que sucedeu. A vida parece ser isso que fica depois do filme. Assim, Béla Tarr filme a vida depois do filme. Lindo.
A Doce Vida
4.2 316 Assista AgoraCada "capítulo" desse filme parece um verdadeiro ensaio sobre a composição de uma fotografia. Sempre deslumbrante. Daria para isolar algumas cenas como "sínteses" de cada trajeto visual.
O Filme da Minha Vida
3.6 500 Assista AgoraFotografia muito bonita. Lembrei um pouco de Cinema Paradiso. Talvez uma nostalgia da emoção no olhar de Tony.
Especial de Ano Todo com Clarice Falcão
3.0 76Ela tem um estilo próximo do humor francês (do que eu vi até hoje). A pessoa não se acaba de rir, é mais contido, porque é mais irônico e trivial.
Métamorphoses
3.5 21Hoje é difícil encontrar quem tenha coragem de tomar uma obra clássica, daquelas de peso pesado, e fazer um filme. Ele obviamente não se prende ao texto, adapta-o. Apresenta as histórias de metamorfoses, num forma bem livresca, todas em situações e condições contemporâneas (a exemplo da história de Narciso, que ao invés de se afogar num lago ao ver seu reflexo, salta de um prédio... isso ainda após um "conhecimento de si" muito mais próprio de alguém da contemporaneidade que compreende esse "si" como "sujeito"...).
As Praias de Agnès
4.4 64 Assista AgoraQuanta sensibilidade tem essa mulher!
Há algo de impessoal nessa singularidade.
Buscar nos outros a si mesmo, é um verdadeiro ensaio de alteridade.
A pergunta com que abre a obra é, talvez, uma das mais importantes que cada um possa fazer a si mesmo: quando eu me abro para o mundo, o que surge?
Outubro
4.0 51 Assista AgoraPrimeiro, é de uma ignorância gritante tomar o filme como "confuso". O que isso significa? que quem assistiu não entendeu? Qual a parâmetro? Uma narrativa com início, meio e fim, bem estruturado aos moldes de Hollywood? Ah, vá!.
O que parece ser um filme sobre a revolução, engendra outra, e mais profunda, perspectiva: a da resistência de um desejo de comunidade. São vários os momentos em que os "inimigos" chama-se "camarada", na justaposição de discursos, com os mesmos gestos, as mesmas expressões, os mesmos desejos. Não é isso que aprofunda ainda mais a obra? Não é um simples embate entre inimigos, mas a divisão que opera no seio do próprio povo. Eisenstein parece intimamente preocupado com isso: os gestos (sorrisos e aplausos), as danças, a própria arte, os abraços, a música trata de um desejo maior do que a guerra. Mas, lá está ela, degradando tudo e todos. As imagens, todavia, resistem: pelo sua montagem, pela sua fotografia, pelos gestos que empreende.
Théo e Hugo
3.4 32 Assista Agorabons diálogos, com especial destaque para dois personagens secundários que, falando de suas vidas, tratam de uma questão delicada (a guerra na Síria) e de problema interno (precarização do trabalho). O final, no estilo Orfeu dá um bom tom ao filme, que está cheia de referências literárias (Balzac é só a mais explícita).
Paterson
3.9 353 Assista AgoraPaterson é uma bela ode à poesia no cotidiano, à prosa imiscuída de poesia, àqueles que são capazes de, verdadeiramente, "tirar leite de pedra", isto é, fazer poesia. Lembra o sonho de Marx de que o proletário trabalharia, cuidaria de seu jardim e escreveria poesia. Isso, num mundo mais livre. Se alguém faz isso hoje, como já mostrou Rancière, em "a noite dos proletários", é como forma de resistência, e não um ato de liberdade. Resistência essa que se encontra igualmente em sua esposa, mais patente ainda. Ela pinta tudo, espalha sua "cor" (porque branco e preto não são cores, é preciso lembrar). Seus sonhos também são a prova de que a poesia pode "invadir" a vida, ou melhor, tornar-se o "ritmo" da vida (já que a todo momento, numa espécie de cadência visual que acompanha o poema, Paterson se vê diante de fragmentos de sonho da esposa). Apesar da "banalidade" de cada dia, a poesia é o lugar em que tudo adquire profundidade, mesmo que seja no espelho raso da vida ordinária de cada um. É impressionante como todos, qualquer um, de alguma forma estão enlaçado nessa trama poética. Talvez, nossa vida esteja aí.
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista AgoraO filme é um grande ensaio sobre a luz, digno dos maiores pintores impressionistas.
Agora, o enredo soa como um "white [and rich] people problems", chato pra k7.
Alien: Covenant
3.0 1,2K Assista Agorafórmula mais que batida. já virou um goró.
Mulher-Maravilha
4.1 2,9K Assista AgoraDepois da trilogia Batman de Nolan, esse é realmente o melhor filme da DC. Mas, como todo filme de super herói, sempre raso. Isso é uma assinatura indelével desses tipos de obras.
Acho que uma direção feminina faz muito bem a esses tipos de filme. A atriz apareceu sem qualquer vulgarização. Pelo contrário, via-se mesmo que o "vulgar" estava nos olhos dos homens (e da sociedade patriarcal).
Robin Wright sempre diva, roubou as poucas cenas nas quais apareceu.
Okja
4.0 1,3K Assista AgoraOkja mostrou que tem uma inteligência que em nada foi aproveitado. No final, temos uma menina que lutava apenas por seu animal (e ela nem vegetariana é: gosta de frango), um grupo que perde a noção de justiça, quando a atividade se faz pela emoção (o que não tira o mérito da atuação do grupo em defesa dos animais), e uma indústria que cria geneticamente seus animais (talvez o tema mais importante), perdido em meio ao melodrama de uma criança e seu bichinho.
A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
3.2 1,0K Assista AgoraLembrou demais da conta Blade Runner, especialmente nas tomadas aéreas, no clima chuvoso, sujo e escuro da cidade...
Eu Não Sou Seu Negro
4.5 136 Assista Agoratexto primoroso, de um gênio que não se deixou cansar por tanta pobreza de espírito.
Madeinusa
3.9 23O sacro pode significar tanto "sagrado" como algo da esfera do "sacrilégio". É o tempo da indistinção desses espaços, no qual tudo é possível, logo cada um é soberano e vida nua na mão do outro. Nada do que acontece aí, acontece por alguma função produtiva, diga-se de passagem. E isso torna o filme mais denso do que se imagina e mais interessante do que se espera. A festividade encontra-se em sua máxima tensão com a falta e vigência da norma. Onde o direito se indetermina começa a vida...
Shin Godzilla
3.6 153 Assista AgoraUm fetiche da burocracia.
The Terrorists
3.6 14Poderoso na sua crueza, lancinante na crueldade apresentada, universal na dor infligida.
Mulheres do Século XX
4.0 415 Assista Agorao tempo do filme é diferente do tempo "normal" de Hollywood. É uma obra graciosa e delicada, ao ponto de uma transparência que já não se deixa ver, talvez entrever nas linhas dos diálogos, dos silêncios (que são muitos), dos balbucios...
Sharknado
2.0 832 Assista AgoraPara um filme trash é ruim nível 3 (de 10) na escala épica-Ed Wood.
Daemonium
1.6 7filme ruim que você não respeita.
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraFilme constrangedor de uma relação constrangedora. Ambos no bom e mau sentido.
A 13ª Emenda
4.6 354 Assista AgoraAssustadoramente semelhante à nossa situação... No ódio, na estrutura discriminatória, nas políticas econômicas e judiciosas...
Silêncio
3.8 576Impecável artisticamente. Lembra uns ambientes de Tarkovski, principalmente em "Nostalgia". Quem acha o filme parcial, não conseguiu enxergar a obviedade da fraqueza dos argumentos dos padres quando confrontados. (vai ver é gente que considera post de feicebruique argumento...). Rola até umas ironias que parecem beber em Saramago... A pegada do filme todo, para quem diz "cansativo" ou "extenso", é justamente o contraponto (!) do tempo oriental, de uma forma de trabalho do tempo, que não a nossa, e certamente, não é a de Hollywood (vide "O cavalo de Turim" de Bela Tarr): tal como vão "talhando" a personagem, vão talhando o tempo: noutro ritmo, de uma paciência estranha a nossa.