É simplesmente fantástico esta animação sobre o fantástico! Baseado em contos populares da Hungria passada, tão rica em sua cultura, este exemplar que já conta com seus quase 40 anos ainda tem muito a ensinar. É embasbacante a criatividade de Jankovics e seus companheiros, em um país que muitos julgavam atrasado (atrás da Cortina de Ferro), a possibilidade de criar uma animação tão poderosa em seu uso de edição, de cores e de efeitos para até mesmo alguns países do século XXI, talvez até mesmo o Brasil.
A forma como vai repetindo as suas estórias e como se utiliza de diversos conceitos de diversas culturas diferentes (como os triângulos, os três irmãos, os três inimigos, as três esposas e os três acontecimentos consecutivos), além de seus traços marcantes, devem ter inspirado muitos desenhos globais que viemos surgir depois, talvez até mesmo Dragon Ball ou Hora de Aventura.
Aquarius é um tal de Brasil, Sônia Braga é um tal de povo. Ambos resistindo firme aos grandes empresários com diplomas no exterior, ao desconhecimento geral das pessoas por algo chamado de dignidade, ao pornográfico, ao violento.. A questão é que Aquarius está podre e Sônia cada vez mais velha.
Makk, assim como Bergman e Tarkovsky, trabalha com a nudez explícita, escancarada, exposta. Mas não se trata da nudez física, as roupas estão em cada parte do corpo dos atores - suas mentiras, seus segredos, seus temores e os seus diferentes passados, não.
Szerelem é fechado em si mesmo, trancado em um casulo em que lentamente tentamos adentrar - o pequeno trabalho que lida com os dois maiores e mais significantes sentimentos: o medo (de morrer, que mente e se engana) e o amor (da saudade, que também mente e também engana).
Quando li o que as pessoas que tiveram contato com esse documentário estavam comentando, pensei imediatamente que ao assisti-lo, iria simplesmente detestá-lo. O que não é verdade, ele traz questões muito importantes para se debater e desmitificar o período, mas não traz nada de novo para quem conhece um pouco da Segunda Guerra, tirando é claro, a sua comparação sempre presente entre Nazismo e Socialismo, e é exatamente nesse ponto que o filme "se ferra" completamente (além de alguns erros e exageros históricos). É certo que Engels tinha preconceitos contra certas minorias, de Marx é bem possível que não se possa dizer o mesmo. A questão é que muito dessa ignorância racial estava presente em toda a sociedade do período (como estava nos alemães que imigraram para o Brasil, misóginos e tantos mais) e não diferente na cabeça dos intelectuais. Mas nem Marx, nem Lênin e nem Engels estavam vivos quando essas idiotices aconteceram, e isso torna muito fácil de culpá-los. As grandes cabeças pensantes já não poderiam rever suas ideias e aí surge o grande problema do filme: o Nazismo e o Socialismo não são a mesma coisa, o Nazismo e o Stalinismo (nesse sentido) são, pois suas atitudes são grotescas no mesmo patamar. Mas Stalinismo não é marxismo, como não é comunismo. E é justamente nós, os estrangeiros (os não europeus) que temos que ter essa visão mais clara, pois nossos familiares não sofreram os horrores de Stálin diferente dos envolvidos no filme (não é um filme dos EUA), logo o lado emocional não está presente e podemos julgar racionalmente sem o uso do sentimento - a não ser o de humanidade.
Não apoio e nem coloco a mão no fogo por Lenin, Stálin, Mao Tsé Tung, Che, Pol Pot e Fidel Castro, mas é sempre bom deixar as coisas bem claras na hora de "colocarmos as coisas no mesmo saco." A Ditadura Militar brasileira também matou muitas pessoas, mas isso não a coloca no mesmo patamar do Nazismo, e não estou me referindo a crueldades, mas contextos, ideias, filosofias.. O ato de matar é igual para quem morre e horrendo para quem fica sabendo.. O genocídio é cruel e nunca deveria acontecer, mas infelizmente acontece e cabe a nós separar as coisas, e é justamente nesse sentido que critico The Soviet Story. Caso contrário ele pode se tornar tão perigoso quanto um revolucionário de esquerda, colocando na cabeça das pessoas ideias que deveriam estar mais claras: Stálin era um louco como Hitler, e não havia ideologia semelhante a não ser a loucura, aquilo que de pior o ser humano produz. Trótski, um também revolucionário marxista >>como apresentado no documentário<< saiu pelo mundo ditando os horrores acontecidos em sua nação, acabando com a cabeça aberta no meio da sala. Ninguém perseguiu e matou mais comunistas que Stálin, ninguém matou mais judeus do que Hitler, mas Karl Marx era judeu e comunista! Todos os autores do passado, até mesmo os grandes têm problemas de teorias, filosofias e preconceitos, de Platão a Adam Smith, e cabe a nós tirar o que de melhor eles deixaram. Porque do contrário, não debatendo isso, não interpretando a mesma coisa que revolucionários extremistas lá do passado não entenderam, iremos repetir os mesmos erros de formas diferentes.
Deixem de ser mesquinhos. "Heartbreaker" e "melhor que muita coisa de hoje" é tudo o que são capazes de dizer sobre um filme acima do esperado que os emociona? A alguns comentários atrás na minha página escrevi em um curta-metragem que "ninguém quer se apegar à vida, até ter que deixá-la".. O que levou o diretor a receber um Oscar por outro filme e dizer que era pelo filme errado? A contradição seria esse filme, que em uma subcamada critica o quanto as propagandas (o carro e a televisão) formam os indivíduos modernos, pós-modernos, contemporâneos.. "Vocês não serão um casal feliz sem ter filhos", e é justamente de onde a infelicidade dos dois nascem. Vivem uma vida em meio a negócios (agradar o chefe e o comprador) e anulam o verbo viver. O casal - nos seus já 50 anos de vida juntos - se perguntam aonde foram para viajar, para aproveitar o local e um ao outro. Não lembram pois estavam cuidando dos filhos, dos negócios, e ao morrer não possuem nem a proteção do Estado (perdem o lugar onde vivem) e nem a proteção daqueles em que investiram (tempo, dinheiro e a própria vida), cinco filhos mas nenhum vêem neles nada mais que respeito. Não é uma película sobre um casal que perde um ou ao outro em um acidente automobilístico ou semelhante, é um casal que perde um ao outro em um mundo embrutecido e indiferente. Eles tentam fazer parte desse mundo, mas esse mundo não se apega a sentimentos. As instituições de cinema (e principalmente o Oscar) sempre estiveram podres, com uma elite de conservadores que insistem em não premiar os filmes por sua importância artística, com raras exceções, mas não respeito exceções como base em propagandas que se vendem como tronos da arte. O diretor perdeu o contrato com o estúdio por não querer alterar o final.. Hollywood não é boa por aquilo que é (mulheres submissas, cigarros, Coca-Cola..) mas exatamente por aquilo que deixa de ser. Risível. A Cruz dos Anos é muito mais que estatuetas douradas, é uma mensagem; estatuetas douradas criam pó na estante e vão parar em algum lugar esquecido, uma mensagem pode mudar tudo em nós, se manter vivo em nossas mentes e corações até o nosso último suspiro. A Cruz dos Anos é sobre os prazeres da vida, e tenta berrar isso aos nossos olhos e ouvidos: não há tempo a perder: viva.
Serge Bourguignon e o grande ensinamento de que: o mundo social, construído por seres embrutecidos e que são capazes de destruir tudo aquilo que não entendem, são os que glorificam monstros e sentem ódio de tudo aquilo que demonstra inocência. Pedofilia não se aplica aqui, jamais.
Tudo o que precisava ser dito sobre este filme está aqui: "Sarah Jane quer ser tida como branca, não porque é bonito, mas porque pode-se viver melhor. Lora Meredith não faz teatro porque acha belo, mas porque gente de sucesso consegue uma posição melhor. Annie não deseja ter um enterro pomposo porque teria alguma vantagem nisso, mas porque assim, mesmo morta, teria um significado para a sociedade que nunca teve em vida. Nenhum desses protagonistas parece compreender que tudo isto – pensamentos, desejos, sonhos – são provocados e manipulados pela sociedade. Eu não conheço nenhum filme que exponha esta circunstância de maneira tão clara e deseperada." (Rainer Werner Fassbinder)
Passou muito na TV quando eu era criança e na época eu achava que seria uma experiência superficial e fatigante, anos depois o redescubro vendo uma lista de Stanley Kubrick. Com um paladar crítico muito mais apurado, eu vejo que White Men Can't Jump é surpreendentemente bom.
Todo mundo aqui comentando o quão o título do filme soa mais para os pais do que para o bebê. Sendo que aí está a mística do título. É assim que vocês "criticam" filmes? "O título se associa mais aos adultos" (que é o que de fato torna o título ambíguo, e seguidamente, interessante) ou "É muito tedioso". É a Palma de Ouro gente, o que vocês esperam? Se não faz o seu estilo "filmes assim", não insista e persista no lugar comum que você está. Ah, e falando de filmes tediosos - eles realmente existem - A Criança está mais para um filme de ação. São 90 minutos, e muitas coisas acontecem. Não confundam tédio com ritmo lento. Outra coisa a destacar é o "capitalismo selvagem" do mundo que nos leva a lugares sombrios e nos faz usar seres humanos como mercadoria (quem viu o filme vai entender).
Os detratores do filme acusam-no de ser uma ação típica e rasa que se vende como obra-prima; entretanto, eu o considero uma obra-prima que aparenta ser um filme de ação típico e raso. Há sentimentos profundos aqui, e isso é cinema.
Lasse Hallström é um dos diretores mais piegas que surgiu no fim do século passado, adora histórias redondas e romances tocantes para conquistar o espectador; em contrapartida, se há pelo menos um filme em que ele chega ao menos perto de alcançar seus objetivos de uma maneira série e delicada, é este aqui. Há um tom novelesco lá e aqui e lá de novo, mas não compromete muito. Em relação ao Tobey Maguire, que foi bastante criticado aqui nos comentários, achei sua atuação sincera e sem exageros, exageros que muitas vezes são o problema do próprio ator. Ele consegue transmitir ora um olhar inocente, ora um olhar sério, conflituoso. Lasse não chega ao ponto máximo de tantos temas que resolve abordar, mas consegue fazer com que todos funcionem - méritos de John Irving. Você sabe que uma história como essa é boa quando não se sente um babaca ao assistir. Aliás, nesse quesito, The Cider House Rules é delicioso. Nota: 7,5.
Em um dos cartazes diz assim: "Quando o amor estava se perdendo, a paixão voltou para atraí-los" e "uma verdadeira história de amor". ***gargalhadas eternas*** A publicidade que escolhe o nome nacional dos filmes é muito burra, e o pior, eles nos fazem passar por mais burros ainda! Fazendo com que um filme como este fosse lançado no dia dos namorados (no caso o ano de 2011), ou seja, os cabeças de vento que adoram assistir aquelas comédias insonsas e romances entendiantes compraram (e ainda estão comprando) a ideia de um filme que não é o que eles buscam. Essas jogadas de marketing, não só afastam o público que quer algo realmente tocante, como atrai o público do novelesco mais do mesmo, que desastre! Não consigo entender a massiva população que troca de namoradas(os) como camisas e ainda assim, não conseguem captar o realismo de um filme como esse pela sua sinceridade e crueza. E o pior, não são sequer capazes de entender o amor e suas fases desgastantes e frias.
Irreverente, perspicaz, um exemplo de como fazer perfeitamente uma cinebiografia. Uma fotografia preto e branca praticamente perfeita, a noção de profundidade, o uso das sombras e da luz é brilhante (a capa já denuncia isso). Ousado como deveria ser!
Não é um filme perfeito, muito menos uma obra-prima. Mas é bonito em sua sinceridade, a mensagem que passa: quando chegamos ao fim, nada se conclui. Ora, há coisa mais brutal do que nossa insignificância mediante ao tempo? Não é o melhor filme holandês, nem o melhor sobre diversos assuntos, como: mulheres, família e região interior. Só que de uma maneira estranha, é um dos que mais me instiga sobre tais assuntos. E o título brasileiro, excêntrico que só ele.
Uma versão holandesa de Love Story (1970), mas intensamente cru! Verhoeven merecia um abraço por transformar cenas como: pegar as fezes da namorada na mão e pedir para ela urinar nele, um cachorro na igreja lambendo sangue de parto ou vermes rastejando nos seios de uma linda atriz europeia, em algo extremamente poético e bonito! Só que tudo isso levantou muitas discussões.. Afinal, o filme pende para o lado carnal? Banaliza o amor? Diz que o amor não se sustenta sem tesão? Hummm.. Eu acho que ficou bem claro o que essa "poesia brutal e lírica" em forma de filme quis dizer. Amor é carnal, é o sexo, é a troca de fluidos corporais - seja urina, fezes, saliva, tudo. Mas não se sustenta só nisso, estou errado? Ok, aqui começam os spoleirs, então.. Percebam que Olga era uma menina extremamente boba, mimada e claro, aventureira. E quando ela encontra o seu par, não passa de um acontecimento incrivelmente coincidente, acidental. Mas é como se ela já soubesse que ali estivesse um grande amor: "Você sempre dá caronas?" "Não.." Ela quer viver uma grande aventura, um amor intenso, desfrutar a vida! Isso está em seus olhos a quase todo momento. Ela não se importa com as bizarrices de seu par ao longo da trama. Dando carona a um estranho aparentemente sem rumo, é a sua grande chance de viver de verdade. O amor dos dois é incrivelmente lindo, tratado de uma forma sincera e escatológica poucas vezes vista; e o pior, nos emocionamos, vibramos e sentimos, é tudo tão singelo! Ok, o modo louco e carnal de Eric que antes encantava sua princesa da sucata, não funciona mais. Ela opta por viver com ele, esquece a grande empresa do pai para viver de uma forma "punk", sente-se infeliz, sente falta de uma vida de entregas, sente falta de um romance hollywoodiano? Improvável, mas sente-se usada, quase um objeto, nunca o sexo em demasia atrapalhou tanto. Na cena do enterro do pai de Olga, Eric vê a foto da sua sogra com o seu sogro morto no caixão, sente a vulnerabilidade da vida, sai correndo com olga, a vida precisa ser vivida intensamente e não daquela forma careta! Certamente, estão lembrados da cena na fábrica - de leite? - onde ela trabalha e sente-se totalmente deslocada, e infeliz também com o ganha pão de vida do marido.. Ela opta por um "norte-americano", um boa pinta, podendo agora viver um grande amor, talvez até um pouco de luxo, ser tratada como mulher e não como "uma 'galinha' na gaiola", como Eric faz com a ave que encontra no lixão, pelo o que ela mesmo cita como: "Algo a mais para pôr numa gaiola". Eric livra-se da ave, a liberta, e liberta a si mesmo naquela cena na praia. Aprende que atrás de toda sua brutalidade existe sentimentos profundos. O tempo passa e Eric aprende com o amor que perdeu, lembram-se do início onde ele desiste de viver aquela vida carne-sexo.sem.compromisso quando vê uma estátua de Olga? Ele entende que amor é tesão, é vontade, mas que é preciso ter algo a mais. Algo a mais que ele sempre teve, mas que nunca aprendeu a valorizar, algo a mais que fez Olga perceber que seu relacionamento era intenso, mas sem "futuro". Agora ele tem a carne, o tesão.. Mas e o amor, a conexão com Olga? Lembram-se de como Eric "pilhava" em tudo que Olga fazia de loucura e vice-versa? Como quando chamamos um amigo para fazer bagunça, de infantilidade total, mas sem se importar com o que dizem os demais caretas. Ele se encontram novamente, Olga volta à Holanda a procura daquilo que a fez sair, a diversão descompromissada e carnal de Eric - como na cena em que ele vê os seios caídos de uma moça e faz com que ela nem tire a camisa, vai "usar" só a parte de baixo, guarda seus pelos pubianos, seu troféu, seu material - então, no reencontro com Olga, em uma lanchonete, ela pede um café, a garçonete traz, ela reclama, pediu chá! Chama Eric para a briga, ele contenta-se com o chá, não vai na onda infantil que eu citei agora pouco, ele está mais pensante, mais sério, calculista. Ela olha para baixo, levanta a cabeça, mostra seus anéis, apara o batom e até mostra seus seios: "Não acha que estão maiores?". Clama pelo lado material de Eric, sente-se sozinha, quer afeto, talvez saiba de seu câncer terminal? É provável, ela sabe das dores de cabeça, aparência muito magra, muito branca e maquiada demais. Quando vemos a finitude, damos valor ao que realmente amamos, ao que temos medo de perder, Olga vê Eric, aquele que sempre se importou - do seu jeito é claro. O final chega, Eric mostra seu grande coração ao passar mais uma madruga admirando e cuidando de sua amada, a cena do espelho em que Olga fica nua em sua cama e ele senta na cadeira e a admira até o amanhecer foi logo ao se conhecerem; entretanto, agora é no câncer - tumor, na parte em que uma relação precisa de sentimentos, ele mostra seu lado metafísico romântico, fica ao seu lado por mais uma madrugada, agora as condições são outras. Eric muda mas não transforma-se em um produto babaca da sociedade, visita sempre um lixão, buscando o que os outros não valorizam, o que foi esquecido, o que realmente importa. Se a sociedade joga fora, é por que deve ter um valor, tendo em vista que só guardamos e valorizamos o desnecessário! Lembram-se (mais uma vez) quando eles se conhecem na cena da carona e Eric pergunta se Olga é realmente ruiva e ela responde que todos acham que é uma peruca? Todos acham que é falso, Eric pergunta se seus pelos pubianos também são ruivos, ele descobre que não, mas não liga. Seus cabelos não são peruca, são verdadeiros, tudo entre eles é verdadeiro. Olga tem um tumor no cérebro, usa peruca por um tempo, mas Eric acaba desejando - mesmo que seja para morrer - que ela continue careca, se é para assim ser, que seja. Como é a última cena? A peruca no caminhão de lixo. Em uma relação tão sincera, Eric acaba livrando-se de tudo o que não é verdadeiro. Aliás, essa cena final é linda, o que vai restar daquela paixão? O pó de onde viemos e para onde voltaremos? Lembranças boas e más? Bom e mal, esquerda ou direita e branco ou preto nunca importaram muito para Olga e Eric, o casal menos maniqueísta que o cinema já viu, onde ambos amaram-se até o último fio de cabelo. Ainda que tenha faltado o "algo a mais" que eu tanto comentei, taxá-los de vulgares, loucos ou românticos é a típica babaquice que renderia deles umas boas gargalhadas descompromissadas. Viva la vida!
Keira Knightley canastrona até o osso, quase ao ponto de tornar-se irritante. E é incrível como o subestimado Steve Carell atua bem, seu personagem expressa melancolia por todas as ações, principalmente pelos olhos. O início e o final são bonitos e interessantes, já o desenvolvimento é forçado e apressado em excesso, um desastre total de profundidade em seus personagens. O melhor do filme é sem dúvidas sua bela intenção de expressar a mensagem de que precisamos valorizar mais nossas vidas.
Cafona? Às vezes. Apressado? Deveras. Roteiro cheio de buracos? Sim, o pedaço do cristal estar com Aughra foi muito esquisito e não se encaixou bem, tirando às vezes em que o filme força muito a barra. O Cristal é encantado e negro, mas no final das contas ele é rosa. Só que diferente da maioria das pessoas aqui, eu não tenho memórias infantis deste filme, acabei de assisti-lo. E posso afirmar com toda certeza, que seu visual é único e o desenrolar de sua estória é extremamente gostoso de acompanhar. Há cenas visualmente deslumbrantes, dá vontade de lamber a tela - e isso é uma das melhores coisas do cinema. Também é muito legal que o roteiro não force um romance entre os dois protagonistas gelfing's, certamente ficaria desconexo, ainda que haja um lance óbvio entre ambos. Lembra muito O Senhor dos Anéis, em outros momentos, parece que estamos assistindo Avatar (algumas cenas são muito parecidas, Cameron certamente viu este filme); entretanto, o filme cria sua própria personalidade e seus personagens são extremamente cativantes. O bem e o mal aqui são errantes, é tudo questão de escolha, não há nada certo na vida. Os profetas não sabem tudo. Uma terra divida pela arrogância e pelo delírio. Merece ser descoberto.
É um filme para quem não tem esperanças, é seco, depressivo. E talvez o que deixe o filme com um ar mais melancólico, é que um dos diretores (O Juan Pablo Rebella) cometeu um provável suicídio em 2006 - o filme é de 2004. Vendo os filmes dele, nem parece difícil de acreditar. É engraçado que em uma das cenas, Marta diz que as novelas brasileiras são boas, muito bem produzidas, bem trabalhadas. Não só forçando a rotina vazia dela, mas como é irônico, que um filme de baixo orçamento como Whisky, tenha um roteiro mais sólido e um contexto geral muito mais profundo que nossas novelinhas intermináveis e picaretas. Sul-americano também faz cinema!
Não tão profundo e completo como aparentou que poderia, mas é um blockbuster definitivamente bem adaptado e mostra ao que veio, e se o filme não é um desastre (ou pelo menos superior a inúmeros outros filmes de 2014, principalmente os arrasa-quarteirões), devemos isso a Bryan Singer e sua direção madura. Ele realmente sabe fazer filmes desse estilo e não procura decepcionar os espectadores mais atentos. Entre alguns erros e muitos acertos, X-Men no fundo, é nada mais do que um filme sobre tolerâncias e preconceitos. E eu sinceramente achei a jogada dos Homo Sapiens e dos Neandertais brilhante! Vejamos, antes se colonizavam índios (e eles ainda se sentem colonizados), depois se matavam judeus, depois o ódio contra o povo alemão, vieram os russos, o povo do Vietnã e depois qualquer um que se denominasse comunista (ufa!). Mas e se as coisas fossem diferentes? E se pudéssemos apagar o nosso passado? (em que alguns se encontram em caminhos diferentes, em caminhos mais escuros) Se pudéssemos mudá-lo, faríamos dele algo novo, algo diferente? Aqui os personagens precisam reviver seus momentos, vencer o ódio que sentem por aqueles que são "diferentes", precisam vencer em primeiro lugar, a si mesmo. Não podemos voltar ao passado - ainda bem - e é preciso que façamos do presente algo frutífero o suficiente para no futuro nos maravilharmos com nossas escolhas - ou morrermos por elas. Nota: 7,0
O filme não é nenhuma obra-prima, mas é muito sincero e poderoso. E seu ponto forte principal é ganhar força com o tempo - não é a toa que veio a ser lançado no Brasil 3 anos depois, além da incompetência e falta de cultura de nosso povo e dirigentes de distribuição de filmes -, de ficar na cabeça, de sobreviver na memória, de nos fazer pensar sobre o personagem, na sua vida, pensar em nós, na nossa vida e no nosso cotidiano. Um filme que retrata a depressão de uma forma muito competente, tentando sempre fugir ao máximo de clichês e uma redenção que nem o próprio protagonista gosta de cair, de pedir auto-perdão de si, de todos - mas que acaba sempre caindo nela. Vale lembrar também, que a Noruega é um país com uma taxa de suicídio bem elevada. Merece ser conferido!
O Filho da Égua Branca
4.2 18É simplesmente fantástico esta animação sobre o fantástico! Baseado em contos populares da Hungria passada, tão rica em sua cultura, este exemplar que já conta com seus quase 40 anos ainda tem muito a ensinar. É embasbacante a criatividade de Jankovics e seus companheiros, em um país que muitos julgavam atrasado (atrás da Cortina de Ferro), a possibilidade de criar uma animação tão poderosa em seu uso de edição, de cores e de efeitos para até mesmo alguns países do século XXI, talvez até mesmo o Brasil.
A forma como vai repetindo as suas estórias e como se utiliza de diversos conceitos de diversas culturas diferentes (como os triângulos, os três irmãos, os três inimigos, as três esposas e os três acontecimentos consecutivos), além de seus traços marcantes, devem ter inspirado muitos desenhos globais que viemos surgir depois, talvez até mesmo Dragon Ball ou Hora de Aventura.
Lula, o Filho do Brasil
2.7 1,1K Assista Agora"Ah, filme de politicagem", aí você vai lá e crítica ele por ser político.. É.
Aquarius
4.2 1,9K Assista AgoraAquarius é um tal de Brasil, Sônia Braga é um tal de povo. Ambos resistindo firme aos grandes empresários com diplomas no exterior, ao desconhecimento geral das pessoas por algo chamado de dignidade, ao pornográfico, ao violento.. A questão é que Aquarius está podre e Sônia cada vez mais velha.
O Amor
4.1 11 Assista AgoraMakk, assim como Bergman e Tarkovsky, trabalha com a nudez explícita, escancarada, exposta. Mas não se trata da nudez física, as roupas estão em cada parte do corpo dos atores - suas mentiras, seus segredos, seus temores e os seus diferentes passados, não.
Szerelem é fechado em si mesmo, trancado em um casulo em que lentamente tentamos adentrar - o pequeno trabalho que lida com os dois maiores e mais significantes sentimentos: o medo (de morrer, que mente e se engana) e o amor (da saudade, que também mente e também engana).
A História Soviética
4.2 46 Assista AgoraQuando li o que as pessoas que tiveram contato com esse documentário estavam comentando, pensei imediatamente que ao assisti-lo, iria simplesmente detestá-lo. O que não é verdade, ele traz questões muito importantes para se debater e desmitificar o período, mas não traz nada de novo para quem conhece um pouco da Segunda Guerra, tirando é claro, a sua comparação sempre presente entre Nazismo e Socialismo, e é exatamente nesse ponto que o filme "se ferra" completamente (além de alguns erros e exageros históricos). É certo que Engels tinha preconceitos contra certas minorias, de Marx é bem possível que não se possa dizer o mesmo. A questão é que muito dessa ignorância racial estava presente em toda a sociedade do período (como estava nos alemães que imigraram para o Brasil, misóginos e tantos mais) e não diferente na cabeça dos intelectuais. Mas nem Marx, nem Lênin e nem Engels estavam vivos quando essas idiotices aconteceram, e isso torna muito fácil de culpá-los. As grandes cabeças pensantes já não poderiam rever suas ideias e aí surge o grande problema do filme: o Nazismo e o Socialismo não são a mesma coisa, o Nazismo e o Stalinismo (nesse sentido) são, pois suas atitudes são grotescas no mesmo patamar. Mas Stalinismo não é marxismo, como não é comunismo. E é justamente nós, os estrangeiros (os não europeus) que temos que ter essa visão mais clara, pois nossos familiares não sofreram os horrores de Stálin diferente dos envolvidos no filme (não é um filme dos EUA), logo o lado emocional não está presente e podemos julgar racionalmente sem o uso do sentimento - a não ser o de humanidade.
Não apoio e nem coloco a mão no fogo por Lenin, Stálin, Mao Tsé Tung, Che, Pol Pot e Fidel Castro, mas é sempre bom deixar as coisas bem claras na hora de "colocarmos as coisas no mesmo saco." A Ditadura Militar brasileira também matou muitas pessoas, mas isso não a coloca no mesmo patamar do Nazismo, e não estou me referindo a crueldades, mas contextos, ideias, filosofias.. O ato de matar é igual para quem morre e horrendo para quem fica sabendo.. O genocídio é cruel e nunca deveria acontecer, mas infelizmente acontece e cabe a nós separar as coisas, e é justamente nesse sentido que critico The Soviet Story. Caso contrário ele pode se tornar tão perigoso quanto um revolucionário de esquerda, colocando na cabeça das pessoas ideias que deveriam estar mais claras: Stálin era um louco como Hitler, e não havia ideologia semelhante a não ser a loucura, aquilo que de pior o ser humano produz. Trótski, um também revolucionário marxista >>como apresentado no documentário<< saiu pelo mundo ditando os horrores acontecidos em sua nação, acabando com a cabeça aberta no meio da sala. Ninguém perseguiu e matou mais comunistas que Stálin, ninguém matou mais judeus do que Hitler, mas Karl Marx era judeu e comunista! Todos os autores do passado, até mesmo os grandes têm problemas de teorias, filosofias e preconceitos, de Platão a Adam Smith, e cabe a nós tirar o que de melhor eles deixaram. Porque do contrário, não debatendo isso, não interpretando a mesma coisa que revolucionários extremistas lá do passado não entenderam, iremos repetir os mesmos erros de formas diferentes.
>
Dá até medo de escrever coisas em um mundo de interpretações tão rasas
A Cruz dos Anos
4.3 55Deixem de ser mesquinhos. "Heartbreaker" e "melhor que muita coisa de hoje" é tudo o que são capazes de dizer sobre um filme acima do esperado que os emociona? A alguns comentários atrás na minha página escrevi em um curta-metragem que "ninguém quer se apegar à vida, até ter que deixá-la".. O que levou o diretor a receber um Oscar por outro filme e dizer que era pelo filme errado? A contradição seria esse filme, que em uma subcamada critica o quanto as propagandas (o carro e a televisão) formam os indivíduos modernos, pós-modernos, contemporâneos.. "Vocês não serão um casal feliz sem ter filhos", e é justamente de onde a infelicidade dos dois nascem. Vivem uma vida em meio a negócios (agradar o chefe e o comprador) e anulam o verbo viver. O casal - nos seus já 50 anos de vida juntos - se perguntam aonde foram para viajar, para aproveitar o local e um ao outro. Não lembram pois estavam cuidando dos filhos, dos negócios, e ao morrer não possuem nem a proteção do Estado (perdem o lugar onde vivem) e nem a proteção daqueles em que investiram (tempo, dinheiro e a própria vida), cinco filhos mas nenhum vêem neles nada mais que respeito. Não é uma película sobre um casal que perde um ou ao outro em um acidente automobilístico ou semelhante, é um casal que perde um ao outro em um mundo embrutecido e indiferente. Eles tentam fazer parte desse mundo, mas esse mundo não se apega a sentimentos.
As instituições de cinema (e principalmente o Oscar) sempre estiveram podres, com uma elite de conservadores que insistem em não premiar os filmes por sua importância artística, com raras exceções, mas não respeito exceções como base em propagandas que se vendem como tronos da arte. O diretor perdeu o contrato com o estúdio por não querer alterar o final.. Hollywood não é boa por aquilo que é (mulheres submissas, cigarros, Coca-Cola..) mas exatamente por aquilo que deixa de ser. Risível.
A Cruz dos Anos é muito mais que estatuetas douradas, é uma mensagem; estatuetas douradas criam pó na estante e vão parar em algum lugar esquecido, uma mensagem pode mudar tudo em nós, se manter vivo em nossas mentes e corações até o nosso último suspiro. A Cruz dos Anos é sobre os prazeres da vida, e tenta berrar isso aos nossos olhos e ouvidos: não há tempo a perder: viva.
Sempre aos Domingos
3.9 15Serge Bourguignon e o grande ensinamento de que: o mundo social, construído por seres embrutecidos e que são capazes de destruir tudo aquilo que não entendem, são os que glorificam monstros e sentem ódio de tudo aquilo que demonstra inocência.
Pedofilia não se aplica aqui, jamais.
Imitação da Vida
4.2 94 Assista AgoraTudo o que precisava ser dito sobre este filme está aqui:
"Sarah Jane quer ser tida como branca, não porque é bonito, mas porque pode-se
viver melhor. Lora Meredith não faz teatro porque acha belo, mas porque gente de sucesso consegue uma posição melhor. Annie não deseja ter um enterro pomposo porque teria alguma vantagem nisso, mas porque assim, mesmo morta, teria um significado para a sociedade que nunca teve em vida. Nenhum desses protagonistas parece compreender que tudo isto – pensamentos, desejos, sonhos – são provocados e manipulados pela sociedade. Eu não conheço nenhum filme que exponha esta circunstância de maneira tão clara e deseperada."
(Rainer Werner Fassbinder)
Homens Brancos não Sabem Enterrar
3.4 144Passou muito na TV quando eu era criança e na época eu achava que seria uma experiência superficial e fatigante, anos depois o redescubro vendo uma lista de Stanley Kubrick. Com um paladar crítico muito mais apurado, eu vejo que White Men Can't Jump é surpreendentemente bom.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraO cinema precisava disso..
O Cheiro do Ralo
3.7 1,1K Assista Agora- Faz o seguinte, vai embora e faz um favor: manda chamar o próximo.
- Gostei do olho, hein.
- Foda-se.
"Hoje, eu sou mais eu."
A Criança
3.8 91 Assista AgoraTodo mundo aqui comentando o quão o título do filme soa mais para os pais do que para o bebê. Sendo que aí está a mística do título. É assim que vocês "criticam" filmes? "O título se associa mais aos adultos" (que é o que de fato torna o título ambíguo, e seguidamente, interessante) ou "É muito tedioso". É a Palma de Ouro gente, o que vocês esperam? Se não faz o seu estilo "filmes assim", não insista e persista no lugar comum que você está. Ah, e falando de filmes tediosos - eles realmente existem - A Criança está mais para um filme de ação. São 90 minutos, e muitas coisas acontecem. Não confundam tédio com ritmo lento.
Outra coisa a destacar é o "capitalismo selvagem" do mundo que nos leva a lugares sombrios e nos faz usar seres humanos como mercadoria (quem viu o filme vai entender).
O Profissional
4.3 2,2K Assista AgoraOs detratores do filme acusam-no de ser uma ação típica e rasa que se vende como obra-prima; entretanto, eu o considero uma obra-prima que aparenta ser um filme de ação típico e raso. Há sentimentos profundos aqui, e isso é cinema.
"roinc, roinc. Ói, Ma-thil-da"
Eu nunca vou me esquecer dessa cena!
Regras da Vida
3.7 232 Assista AgoraLasse Hallström é um dos diretores mais piegas que surgiu no fim do século passado, adora histórias redondas e romances tocantes para conquistar o espectador; em contrapartida, se há pelo menos um filme em que ele chega ao menos perto de alcançar seus objetivos de uma maneira série e delicada, é este aqui. Há um tom novelesco lá e aqui e lá de novo, mas não compromete muito.
Em relação ao Tobey Maguire, que foi bastante criticado aqui nos comentários, achei sua atuação sincera e sem exageros, exageros que muitas vezes são o problema do próprio ator. Ele consegue transmitir ora um olhar inocente, ora um olhar sério, conflituoso. Lasse não chega ao ponto máximo de tantos temas que resolve abordar, mas consegue fazer com que todos funcionem - méritos de John Irving. Você sabe que uma história como essa é boa quando não se sente um babaca ao assistir. Aliás, nesse quesito, The Cider House Rules é delicioso.
Nota: 7,5.
Namorados para Sempre
3.6 2,5K Assista AgoraEm um dos cartazes diz assim: "Quando o amor estava se perdendo, a paixão voltou para atraí-los" e "uma verdadeira história de amor". ***gargalhadas eternas***
A publicidade que escolhe o nome nacional dos filmes é muito burra, e o pior, eles nos fazem passar por mais burros ainda! Fazendo com que um filme como este fosse lançado no dia dos namorados (no caso o ano de 2011), ou seja, os cabeças de vento que adoram assistir aquelas comédias insonsas e romances entendiantes compraram (e ainda estão comprando) a ideia de um filme que não é o que eles buscam. Essas jogadas de marketing, não só afastam o público que quer algo realmente tocante, como atrai o público do novelesco mais do mesmo, que desastre!
Não consigo entender a massiva população que troca de namoradas(os) como camisas e ainda assim, não conseguem captar o realismo de um filme como esse pela sua sinceridade e crueza. E o pior, não são sequer capazes de entender o amor e suas fases desgastantes e frias.
Lenny
4.0 45Irreverente, perspicaz, um exemplo de como fazer perfeitamente uma cinebiografia. Uma fotografia preto e branca praticamente perfeita, a noção de profundidade, o uso das sombras e da luz é brilhante (a capa já denuncia isso). Ousado como deveria ser!
A Excêntrica Família de Antonia
4.3 359Não é um filme perfeito, muito menos uma obra-prima. Mas é bonito em sua sinceridade, a mensagem que passa: quando chegamos ao fim, nada se conclui. Ora, há coisa mais brutal do que nossa insignificância mediante ao tempo?
Não é o melhor filme holandês, nem o melhor sobre diversos assuntos, como: mulheres, família e região interior. Só que de uma maneira estranha, é um dos que mais me instiga sobre tais assuntos. E o título brasileiro, excêntrico que só ele.
Louca Paixão
3.9 66Uma versão holandesa de Love Story (1970), mas intensamente cru!
Verhoeven merecia um abraço por transformar cenas como: pegar as fezes da namorada na mão e pedir para ela urinar nele, um cachorro na igreja lambendo sangue de parto ou vermes rastejando nos seios de uma linda atriz europeia, em algo extremamente poético e bonito!
Só que tudo isso levantou muitas discussões.. Afinal, o filme pende para o lado carnal? Banaliza o amor? Diz que o amor não se sustenta sem tesão? Hummm.. Eu acho que ficou bem claro o que essa "poesia brutal e lírica" em forma de filme quis dizer. Amor é carnal, é o sexo, é a troca de fluidos corporais - seja urina, fezes, saliva, tudo. Mas não se sustenta só nisso, estou errado? Ok, aqui começam os spoleirs, então..
Percebam que Olga era uma menina extremamente boba, mimada e claro, aventureira. E quando ela encontra o seu par, não passa de um acontecimento incrivelmente coincidente, acidental. Mas é como se ela já soubesse que ali estivesse um grande amor: "Você sempre dá caronas?" "Não.." Ela quer viver uma grande aventura, um amor intenso, desfrutar a vida! Isso está em seus olhos a quase todo momento. Ela não se importa com as bizarrices de seu par ao longo da trama. Dando carona a um estranho aparentemente sem rumo, é a sua grande chance de viver de verdade.
O amor dos dois é incrivelmente lindo, tratado de uma forma sincera e escatológica poucas vezes vista; e o pior, nos emocionamos, vibramos e sentimos, é tudo tão singelo! Ok, o modo louco e carnal de Eric que antes encantava sua princesa da sucata, não funciona mais. Ela opta por viver com ele, esquece a grande empresa do pai para viver de uma forma "punk", sente-se infeliz, sente falta de uma vida de entregas, sente falta de um romance hollywoodiano? Improvável, mas sente-se usada, quase um objeto, nunca o sexo em demasia atrapalhou tanto. Na cena do enterro do pai de Olga, Eric vê a foto da sua sogra com o seu sogro morto no caixão, sente a vulnerabilidade da vida, sai correndo com olga, a vida precisa ser vivida intensamente e não daquela forma careta! Certamente, estão lembrados da cena na fábrica - de leite? - onde ela trabalha e sente-se totalmente deslocada, e infeliz também com o ganha pão de vida do marido.. Ela opta por um "norte-americano", um boa pinta, podendo agora viver um grande amor, talvez até um pouco de luxo, ser tratada como mulher e não como "uma 'galinha' na gaiola", como Eric faz com a ave que encontra no lixão, pelo o que ela mesmo cita como: "Algo a mais para pôr numa gaiola". Eric livra-se da ave, a liberta, e liberta a si mesmo naquela cena na praia. Aprende que atrás de toda sua brutalidade existe sentimentos profundos.
O tempo passa e Eric aprende com o amor que perdeu, lembram-se do início onde ele desiste de viver aquela vida carne-sexo.sem.compromisso quando vê uma estátua de Olga? Ele entende que amor é tesão, é vontade, mas que é preciso ter algo a mais. Algo a mais que ele sempre teve, mas que nunca aprendeu a valorizar, algo a mais que fez Olga perceber que seu relacionamento era intenso, mas sem "futuro". Agora ele tem a carne, o tesão.. Mas e o amor, a conexão com Olga? Lembram-se de como Eric "pilhava" em tudo que Olga fazia de loucura e vice-versa? Como quando chamamos um amigo para fazer bagunça, de infantilidade total, mas sem se importar com o que dizem os demais caretas.
Ele se encontram novamente, Olga volta à Holanda a procura daquilo que a fez sair, a diversão descompromissada e carnal de Eric - como na cena em que ele vê os seios caídos de uma moça e faz com que ela nem tire a camisa, vai "usar" só a parte de baixo, guarda seus pelos pubianos, seu troféu, seu material - então, no reencontro com Olga, em uma lanchonete, ela pede um café, a garçonete traz, ela reclama, pediu chá! Chama Eric para a briga, ele contenta-se com o chá, não vai na onda infantil que eu citei agora pouco, ele está mais pensante, mais sério, calculista. Ela olha para baixo, levanta a cabeça, mostra seus anéis, apara o batom e até mostra seus seios: "Não acha que estão maiores?". Clama pelo lado material de Eric, sente-se sozinha, quer afeto, talvez saiba de seu câncer terminal? É provável, ela sabe das dores de cabeça, aparência muito magra, muito branca e maquiada demais. Quando vemos a finitude, damos valor ao que realmente amamos, ao que temos medo de perder, Olga vê Eric, aquele que sempre se importou - do seu jeito é claro.
O final chega, Eric mostra seu grande coração ao passar mais uma madruga admirando e cuidando de sua amada, a cena do espelho em que Olga fica nua em sua cama e ele senta na cadeira e a admira até o amanhecer foi logo ao se conhecerem; entretanto, agora é no câncer - tumor, na parte em que uma relação precisa de sentimentos, ele mostra seu lado metafísico romântico, fica ao seu lado por mais uma madrugada, agora as condições são outras. Eric muda mas não transforma-se em um produto babaca da sociedade, visita sempre um lixão, buscando o que os outros não valorizam, o que foi esquecido, o que realmente importa. Se a sociedade joga fora, é por que deve ter um valor, tendo em vista que só guardamos e valorizamos o desnecessário!
Lembram-se (mais uma vez) quando eles se conhecem na cena da carona e Eric pergunta se Olga é realmente ruiva e ela responde que todos acham que é uma peruca? Todos acham que é falso, Eric pergunta se seus pelos pubianos também são ruivos, ele descobre que não, mas não liga. Seus cabelos não são peruca, são verdadeiros, tudo entre eles é verdadeiro. Olga tem um tumor no cérebro, usa peruca por um tempo, mas Eric acaba desejando - mesmo que seja para morrer - que ela continue careca, se é para assim ser, que seja. Como é a última cena? A peruca no caminhão de lixo. Em uma relação tão sincera, Eric acaba livrando-se de tudo o que não é verdadeiro. Aliás, essa cena final é linda, o que vai restar daquela paixão? O pó de onde viemos e para onde voltaremos? Lembranças boas e más? Bom e mal, esquerda ou direita e branco ou preto nunca importaram muito para Olga e Eric, o casal menos maniqueísta que o cinema já viu, onde ambos amaram-se até o último fio de cabelo. Ainda que tenha faltado o "algo a mais" que eu tanto comentei, taxá-los de vulgares, loucos ou românticos é a típica babaquice que renderia deles umas boas gargalhadas descompromissadas. Viva la vida!
Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo
3.5 1,8K Assista AgoraKeira Knightley canastrona até o osso, quase ao ponto de tornar-se irritante. E é incrível como o subestimado Steve Carell atua bem, seu personagem expressa melancolia por todas as ações, principalmente pelos olhos. O início e o final são bonitos e interessantes, já o desenvolvimento é forçado e apressado em excesso, um desastre total de profundidade em seus personagens. O melhor do filme é sem dúvidas sua bela intenção de expressar a mensagem de que precisamos valorizar mais nossas vidas.
Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento
3.8 585 Assista Agora- Não sou como todos os outros. Como faço para provar isso?
- Fique.
wow
O Cristal Encantado
3.6 91 Assista AgoraCafona? Às vezes. Apressado? Deveras. Roteiro cheio de buracos? Sim, o pedaço do cristal estar com Aughra foi muito esquisito e não se encaixou bem, tirando às vezes em que o filme força muito a barra. O Cristal é encantado e negro, mas no final das contas ele é rosa.
Só que diferente da maioria das pessoas aqui, eu não tenho memórias infantis deste filme, acabei de assisti-lo. E posso afirmar com toda certeza, que seu visual é único e o desenrolar de sua estória é extremamente gostoso de acompanhar. Há cenas visualmente deslumbrantes, dá vontade de lamber a tela - e isso é uma das melhores coisas do cinema. Também é muito legal que o roteiro não force um romance entre os dois protagonistas gelfing's, certamente ficaria desconexo, ainda que haja um lance óbvio entre ambos.
Lembra muito O Senhor dos Anéis, em outros momentos, parece que estamos assistindo Avatar (algumas cenas são muito parecidas, Cameron certamente viu este filme); entretanto, o filme cria sua própria personalidade e seus personagens são extremamente cativantes. O bem e o mal aqui são errantes, é tudo questão de escolha, não há nada certo na vida. Os profetas não sabem tudo. Uma terra divida pela arrogância e pelo delírio.
Merece ser descoberto.
Whisky
3.8 111É um filme para quem não tem esperanças, é seco, depressivo. E talvez o que deixe o filme com um ar mais melancólico, é que um dos diretores (O Juan Pablo Rebella) cometeu um provável suicídio em 2006 - o filme é de 2004. Vendo os filmes dele, nem parece difícil de acreditar.
É engraçado que em uma das cenas, Marta diz que as novelas brasileiras são boas, muito bem produzidas, bem trabalhadas. Não só forçando a rotina vazia dela, mas como é irônico, que um filme de baixo orçamento como Whisky, tenha um roteiro mais sólido e um contexto geral muito mais profundo que nossas novelinhas intermináveis e picaretas.
Sul-americano também faz cinema!
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
4.0 3,7K Assista AgoraNão tão profundo e completo como aparentou que poderia, mas é um blockbuster definitivamente bem adaptado e mostra ao que veio, e se o filme não é um desastre (ou pelo menos superior a inúmeros outros filmes de 2014, principalmente os arrasa-quarteirões), devemos isso a Bryan Singer e sua direção madura. Ele realmente sabe fazer filmes desse estilo e não procura decepcionar os espectadores mais atentos.
Entre alguns erros e muitos acertos, X-Men no fundo, é nada mais do que um filme sobre tolerâncias e preconceitos. E eu sinceramente achei a jogada dos Homo Sapiens e dos Neandertais brilhante! Vejamos, antes se colonizavam índios (e eles ainda se sentem colonizados), depois se matavam judeus, depois o ódio contra o povo alemão, vieram os russos, o povo do Vietnã e depois qualquer um que se denominasse comunista (ufa!). Mas e se as coisas fossem diferentes? E se pudéssemos apagar o nosso passado? (em que alguns se encontram em caminhos diferentes, em caminhos mais escuros) Se pudéssemos mudá-lo, faríamos dele algo novo, algo diferente? Aqui os personagens precisam reviver seus momentos, vencer o ódio que sentem por aqueles que são "diferentes", precisam vencer em primeiro lugar, a si mesmo.
Não podemos voltar ao passado - ainda bem - e é preciso que façamos do presente algo frutífero o suficiente para no futuro nos maravilharmos com nossas escolhas - ou morrermos por elas.
Nota: 7,0
Oslo, 31 de Agosto
3.9 194O filme não é nenhuma obra-prima, mas é muito sincero e poderoso. E seu ponto forte principal é ganhar força com o tempo - não é a toa que veio a ser lançado no Brasil 3 anos depois, além da incompetência e falta de cultura de nosso povo e dirigentes de distribuição de filmes -, de ficar na cabeça, de sobreviver na memória, de nos fazer pensar sobre o personagem, na sua vida, pensar em nós, na nossa vida e no nosso cotidiano.
Um filme que retrata a depressão de uma forma muito competente, tentando sempre fugir ao máximo de clichês e uma redenção que nem o próprio protagonista gosta de cair, de pedir auto-perdão de si, de todos - mas que acaba sempre caindo nela. Vale lembrar também, que a Noruega é um país com uma taxa de suicídio bem elevada.
Merece ser conferido!