É sempre estranho pensar em como avaliar um documentário. Não é um filme semibiográfico, concedido à liberdade artística dos realizadores para reinventar uma história, ainda que tenhamos acesso apenas à uma curta exposição dos acontecimentos -- nesse caso, de uma vida --, com limitada consciência do que nos foi privado e com a dúvida de se realmente podemos nos atrever a pensar que entendemos algo sobre aquelas pessoas. Resta a habilidade dos realizadores e como abordaram o apresentado.
Desde que conheci seu trabalho, li apenas o bastante para saber o que esperar: como a questão racial afetou seus estudos, seu envolvimento com a luta pelos direitos civis, sua saúde mental e as agressões que sofreu pelo marido -- esse sim o maior defeito desse filme.
Se é possível dizer que foi pela dinâmica da narrativa e que isso não torna Andy Stroud digno de perdão, que não afeta o poder do documentário, é relativo, mas e quanto a responsabilidade da obra? É claro que uma versão santificada e inventada de Nina Simone não é desejada em uma obra biográfica. Do pouco que vimos, sabemos como suas ações também afetaram outros, principalmente sua filha. Mas é bastante desconcertante ter que ouvir o homem que ela publicamente revelou como seu agressor, que chegou a ameaçá-la com uma arma e estuprá-la, falar sobre como ELA podia ser violenta. A obra tem um papel, e dar esse tipo de voz a um violentador não é parte dele. Também queria mais material das suas apresentações e entrevistas, mas esse foi o único verdadeiro desapontamento.
Não sei se foi uma das intenções do diretor ao criar essa obra, mas eu realmente gosto de filmes que zombam da audiência -- esse não tão focado nesse objetivo, mas ainda me lembra de Funny Games. Somos todos voyeurs da ficção, da realidade imaginada, satisfazendo a lacuna da existência com devaneios do que nos move. Até mesmo no poster, somos a terceira personagem, observando o banco no parque em frente à casa. Detalhe para essas insinuações no filme, como quando a porta da sala de aula é fechada, e, através da janela, vemos Rapha, objeto do nosso eu pervertido; ou os objetos em exposição na galeria, a antiarte contemporânea, a observação do cotidiano.
Até 1967 as chamadas leis anti-miscigenação ainda existiam em 16 dos estados norteamericanos, algumas específicas somente a relações entre negros e brancos. Mas isso não muda opiniões, e se até hoje, ainda se faz presente a porção que se posiciona contra a união interracial, não é difícil imaginar o impacto causado pela obra em um país que finalmente assegurava o fim da segregação racial naquela década. E não apenas por ser específico a uma situação, mas por expandir-se a partir dela, visto que Tillie, uma empregada doméstica negra, aparenta apresentar racismo internalizado contra negros. Ainda, por terem se conhecido apenas dez dias antes de decidirem se casar, a preocupação dos pais de Joanna e John não é somente com os desafios que eles teriam que enfrentar como um casal -- apesar de ser o foco --, tornando a discussão mais crível. Por outro lado, ao tentar desacreditar estereótipos raciais, tornam John uma personagem demasiadamente perfeita, fazendo com o que sua cor seja o único questionamento do filme, como fora provavelmente planejado. Mesmo hoje, quando a sociedade debate a sexualidade e a identificação de gênero, vemos personalidades fictícias que são abordadas de forma tão redentora, que seu desenvolvimento é prejudicado. Se buscando fugir disso, o filme ainda apresenta personagens secundárias que podem ser rudes, independentemente de sua cor, o casal principal ainda não soa tão diferente dos vistos em contos de fadas da Walt Disney. Mas não há preocupação quanto aos pais de Joanna, que passam longe de serem os racistas caricatos que a sinopse pode fazer parecer -- ou mesmo racistas, de certa forma. É um bom filme, e definitivamente merece ser assistido, mas é prejudicado em alguns pontos pelo melodrama por vezes presente.
Enquanto Drácula, obra mais famosa e superestimada de Tod Browning, esconde seu ótimo trabalho em outros filmes, como The Unknown e o próprio Freaks, esse último foi o responsável pelo declínio de sua carreira. Mas se a crítica ainda é válida, não é de se espantar que tenha sido censurado por tantos anos, dado o cenário explorado, ainda que seja essa a prova da sua necessidade. É uma pena que parte tenha sido perdida, prejudicando o desenvolvimento do enredo, em especial das cenas finais.
Sua primeira parte funciona como crítica, mas ao abandonar todo o desenvolvimento para um final rápido, perde muito da reflexão que queria passar; não como filme motivador, mas como uma lição que despreza a profundidade do suicídio.
"Talvez a média metragem seja a duração ideal dos filmes que pretendem falar de nossa época. Os curtas são pequenos demais para abarcar o turbilhão da vida atual, mas é um desperdício de tempo narrar em longas nossas existências miúdas, indecisas e sem grandeza. " http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac0311201002.htm
Alguém conseguiu uma legenda com a tradução correta? A dublagem da Disney para os filmes da Ghibli possui diferenças e acréscimos ao roteiro. Essa dublagem foi usada como base para o lançamento brasileiro, bem como por fansubs, inclusive americanos. A tradução correta é esta: http://www.nausicaa.net/miyazaki/kiki/script_kiki_en.txt
Não fui observador com o título e não percebi que não utilizaram uma tradução literal (essa que seria Os suicídios virgens, e não As virgens suicidas), que para mim leva mais a uma visão pura do suicídio ou do seu vazio que a história das garotas em si; a morte é tão vazia quanto a vida. O roteiro, a partir do momento que conta com um grupo exterior para falar sobre as cinco irmãs, mantém o espectador mais afastado do emocional dos Lisbon, ao mesmo tempo que obtém um tom mais poético e melancólico à história. Nunca se sabe as razões. O suicídio é exterior ao indivíduo, mas simplesmente acontece sem maiores explicações para quem está de fora.
Não esperava que deixassem as demais irmãs em segundo plano para se focar em Lux, e isso foi decepcionante.Talvez assim fosse melhor, já que um filme não há espaço suficiente para abordar cada personagem separadamente, mas elas ficaram completamente apagadas.
A trilha sonora é ótima, mas foi realmente frustrante ver todos aqueles discos sendo queimados sem poder fazer nada...
Não é um filme inovador, mas não se propõe a ser. O caso é que roteiro é preso a clichês que qualquer um que tenha visto uma mínima quantidade de filmes reconhecerá. A mãe que procura pelo filho ou tenta salvá-lo, o conflito entre o lado espiritual e racional, o pai que, com o tempo, desiste de apoiar a esposa (fazendo, é claro, parte do lado cético do elenco), e outros também facilmente perceptíveis. Diferentemente desses tantos filmes que seguem a mesma linha, O Orfanato funciona. O roteiro pode, e provavelmente vai, incomodar a quem não suporta mais ver uma fórmula tão batida, mas vejo esse como uma versão alternativa para tantos fracassos. Belén não desaponta em sua atuação e foi parte importante na formação do suspense. Não assista esperando algo cheio de sangue e sustos baratos (um dos males dos atuais) por ser um terror. É claro que poderia ter sido melhor se fugisse desses clichês, mas ainda consegue entregar um bom resultado.
A conveniência da descoberta do papel com o cálculo que Marion fez me incomodou bastante, já que a mesma cena é muito mais crível no livro do Bloch, mas a execução do filme me prendeu completamente. Achei que seria um pouco superestimado, mas passa longe disso.
"Aulas de como não parecer suspeito, com Marion Crane".
What Happened, Miss Simone?
4.4 401 Assista AgoraÉ sempre estranho pensar em como avaliar um documentário. Não é um filme semibiográfico, concedido à liberdade artística dos realizadores para reinventar uma história, ainda que tenhamos acesso apenas à uma curta exposição dos acontecimentos -- nesse caso, de uma vida --, com limitada consciência do que nos foi privado e com a dúvida de se realmente podemos nos atrever a pensar que entendemos algo sobre aquelas pessoas. Resta a habilidade dos realizadores e como abordaram o apresentado.
Desde que conheci seu trabalho, li apenas o bastante para saber o que esperar: como a questão racial afetou seus estudos, seu envolvimento com a luta pelos direitos civis, sua saúde mental e as agressões que sofreu pelo marido -- esse sim o maior defeito desse filme.
Se é possível dizer que foi pela dinâmica da narrativa e que isso não torna Andy Stroud digno de perdão, que não afeta o poder do documentário, é relativo, mas e quanto a responsabilidade da obra? É claro que uma versão santificada e inventada de Nina Simone não é desejada em uma obra biográfica. Do pouco que vimos, sabemos como suas ações também afetaram outros, principalmente sua filha. Mas é bastante desconcertante ter que ouvir o homem que ela publicamente revelou como seu agressor, que chegou a ameaçá-la com uma arma e estuprá-la, falar sobre como ELA podia ser violenta. A obra tem um papel, e dar esse tipo de voz a um violentador não é parte dele. Também queria mais material das suas apresentações e entrevistas, mas esse foi o único verdadeiro desapontamento.
Dentro da Casa
4.1 553 Assista AgoraNão sei se foi uma das intenções do diretor ao criar essa obra, mas eu realmente gosto de filmes que zombam da audiência -- esse não tão focado nesse objetivo, mas ainda me lembra de Funny Games. Somos todos voyeurs da ficção, da realidade imaginada, satisfazendo a lacuna da existência com devaneios do que nos move. Até mesmo no poster, somos a terceira personagem, observando o banco no parque em frente à casa.
Detalhe para essas insinuações no filme, como quando a porta da sala de aula é fechada, e, através da janela, vemos Rapha, objeto do nosso eu pervertido; ou os objetos em exposição na galeria, a antiarte contemporânea, a observação do cotidiano.
Nunca Fui Santa
3.7 296I'm a lesbian because my mother got married in pants =/
A Estranha Passageira
4.2 86Eu diria que seu maior mérito é seguir por um caminho incomum aos romances hollywoodianos, mas como colocar Bette Davis em segundo lugar?
Adivinhe Quem Vem Para Jantar
4.1 222 Assista AgoraAté 1967 as chamadas leis anti-miscigenação ainda existiam em 16 dos estados norteamericanos, algumas específicas somente a relações entre negros e brancos. Mas isso não muda opiniões, e se até hoje, ainda se faz presente a porção que se posiciona contra a união interracial, não é difícil imaginar o impacto causado pela obra em um país que finalmente assegurava o fim da segregação racial naquela década. E não apenas por ser específico a uma situação, mas por expandir-se a partir dela, visto que Tillie, uma empregada doméstica negra, aparenta apresentar racismo internalizado contra negros. Ainda, por terem se conhecido apenas dez dias antes de decidirem se casar, a preocupação dos pais de Joanna e John não é somente com os desafios que eles teriam que enfrentar como um casal -- apesar de ser o foco --, tornando a discussão mais crível.
Por outro lado, ao tentar desacreditar estereótipos raciais, tornam John uma personagem demasiadamente perfeita, fazendo com o que sua cor seja o único questionamento do filme, como fora provavelmente planejado. Mesmo hoje, quando a sociedade debate a sexualidade e a identificação de gênero, vemos personalidades fictícias que são abordadas de forma tão redentora, que seu desenvolvimento é prejudicado. Se buscando fugir disso, o filme ainda apresenta personagens secundárias que podem ser rudes, independentemente de sua cor, o casal principal ainda não soa tão diferente dos vistos em contos de fadas da Walt Disney. Mas não há preocupação quanto aos pais de Joanna, que passam longe de serem os racistas caricatos que a sinopse pode fazer parecer -- ou mesmo racistas, de certa forma. É um bom filme, e definitivamente merece ser assistido, mas é prejudicado em alguns pontos pelo melodrama por vezes presente.
Monstros
4.3 509 Assista AgoraEnquanto Drácula, obra mais famosa e superestimada de Tod Browning, esconde seu ótimo trabalho em outros filmes, como The Unknown e o próprio Freaks, esse último foi o responsável pelo declínio de sua carreira. Mas se a crítica ainda é válida, não é de se espantar que tenha sido censurado por tantos anos, dado o cenário explorado, ainda que seja essa a prova da sua necessidade. É uma pena que parte tenha sido perdida, prejudicando o desenvolvimento do enredo, em especial das cenas finais.
A Pequena Loja de Suicídios
3.7 774Sua primeira parte funciona como crítica, mas ao abandonar todo o desenvolvimento para um final rápido, perde muito da reflexão que queria passar; não como filme motivador, mas como uma lição que despreza a profundidade do suicídio.
Aprendiz de Alfaiate
4.1 63"Talvez a média metragem seja a duração ideal dos filmes que pretendem falar de nossa época. Os curtas são pequenos demais para abarcar o turbilhão da vida atual, mas é um desperdício de tempo narrar em longas nossas existências miúdas, indecisas e sem grandeza. "
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/acontece/ac0311201002.htm
O Quinto Elemento
3.7 816Com quem eu falo para ter essas duas horas da minha vida de volta?
O Serviço de Entregas da Kiki
4.3 774 Assista AgoraAlguém conseguiu uma legenda com a tradução correta? A dublagem da Disney para os filmes da Ghibli possui diferenças e acréscimos ao roteiro. Essa dublagem foi usada como base para o lançamento brasileiro, bem como por fansubs, inclusive americanos. A tradução correta é esta: http://www.nausicaa.net/miyazaki/kiki/script_kiki_en.txt
A Rosa Púrpura do Cairo
4.1 591 Assista AgoraPor mais frustrante que seja admitir, o final é o que mais me fará lembrar deste filme.
Como o próprio Allen disse, você é, finalmente, forçado a escolher a realidade. E a realidade sempre desaponta, sempre te machuca.
O que é a vida humana, se não a insatisfação com o real?
As Virgens Suicidas
3.8 1,4K Assista AgoraNão fui observador com o título e não percebi que não utilizaram uma tradução literal (essa que seria Os suicídios virgens, e não As virgens suicidas), que para mim leva mais a uma visão pura do suicídio ou do seu vazio que a história das garotas em si; a morte é tão vazia quanto a vida. O roteiro, a partir do momento que conta com um grupo exterior para falar sobre as cinco irmãs, mantém o espectador mais afastado do emocional dos Lisbon, ao mesmo tempo que obtém um tom mais poético e melancólico à história. Nunca se sabe as razões. O suicídio é exterior ao indivíduo, mas simplesmente acontece sem maiores explicações para quem está de fora.
Não esperava que deixassem as demais irmãs em segundo plano para se focar em Lux, e isso foi decepcionante.Talvez assim fosse melhor, já que um filme não há espaço suficiente para abordar cada personagem separadamente, mas elas ficaram completamente apagadas.
A trilha sonora é ótima, mas foi realmente frustrante ver todos aqueles discos sendo queimados sem poder fazer nada...
O Orfanato
3.7 1,3KNão é um filme inovador, mas não se propõe a ser. O caso é que roteiro é preso a clichês que qualquer um que tenha visto uma mínima quantidade de filmes reconhecerá. A mãe que procura pelo filho ou tenta salvá-lo, o conflito entre o lado espiritual e racional, o pai que, com o tempo, desiste de apoiar a esposa (fazendo, é claro, parte do lado cético do elenco), e outros também facilmente perceptíveis. Diferentemente desses tantos filmes que seguem a mesma linha, O Orfanato funciona. O roteiro pode, e provavelmente vai, incomodar a quem não suporta mais ver uma fórmula tão batida, mas vejo esse como uma versão alternativa para tantos fracassos. Belén não desaponta em sua atuação e foi parte importante na formação do suspense. Não assista esperando algo cheio de sangue e sustos baratos (um dos males dos atuais) por ser um terror. É claro que poderia ter sido melhor se fugisse desses clichês, mas ainda consegue entregar um bom resultado.
Psicose
4.4 2,5K Assista AgoraA conveniência da descoberta do papel com o cálculo que Marion fez me incomodou bastante, já que a mesma cena é muito mais crível no livro do Bloch, mas a execução do filme me prendeu completamente. Achei que seria um pouco superestimado, mas passa longe disso.
"Aulas de como não parecer suspeito, com Marion Crane".
Mortos que Matam
3.8 96 Assista AgoraMortos que Matam: Porque de todos os títulos possíveis, 'O último homem na Terra' era certamente inviável.