Vermelho Monet, filme de 2022, mas que chega agora aos cinemas brasileiros, conta a história de Johannes Van Almeida, um pintor inspirado e genial que acabou de sair da prisão. Ele é conhecido por ser também um mestre da falsificação e um artista explorado pela negociante de arte Antoinette, interpretada pela estonteante Maria Fernanda Cândido. Ao lado dessa trama, temos também a paixão avassaladora de Antoinette pela jovem atriz internacional Florence Lizz, que vive uma crise de identidade diante de uma peça de teatro sobre a poeta Florbela Espanca.
Assim temos a obsessão pelas cores, principalmente pelo vermelho. O desejo do pintor, porém, não é o vermelho de Mondrian, aquele vermelho primitivo, nem tampouco um vermelho de renascentista que busca simular cientificamente o real, mas um vermelho tal qual pintava Monet. E o que seria o vermelho Monet? Um vermelho impressionista, das cores que são capturadas no instante em que o olho olha e o cérebro acessa. Um vermelho da intensidade e da partilha do impossível, do pôr-do-sol que nos escapa. É neste ponto que os cabelos ruivos de Florence Lizz completam a trama.
Veja mais aqui: https://jornalnota.com.br/2024/05/18/vermelho-monet-2022-a-poesia-do-cinema-em-estado-bruto-de-cores-e-amores/
Homem Irracional (2015): Woody Allen, Dostoiévski e Hannah Arendt
O mesmo dilema que vive Rashkolnikov em Crime e Castigo, vive Abe, o professor de filosofia em Homem Irracional: matar é ou pode ser moral?
A conclusão de todos é que, sim, em algum momento, matar pode ser moral. O problema é que a morte envolve outras coisas que não apenas o ato em si: das ações do acaso às consequências na consciência, das ações em si aos respingos nos outros.
Se alguém descobre que você matou, sua morte é menos moral? E se você planejou com antecedência? E se precisar de mais uma morte pra encobrir a primeira?
Woody Allen joga tudo isso na gente, mas desdobra em Hannah Arendt: seria a banalidade do mal a imoralidade máxima? Será que o mal desengajado é pior que o mal decidido?
Pra finalizar, fica a pergunta: seria a moralidade unicamente a soma do quanto de desejo colocamos nas ações? Matar é, no fim das contas, a abertura de uma grande fraqueza no mundo?
Um filme gostoso de ver porque Joaquin Phoenix e Emma Stone juntos é demais. Um baita filme porque reflete demais em uma história simples.
A primeira coisa que se pode dizer sobre “A estrela cadente” é que é um filme que se distrai. E isso que seria uma crítica em quase 100% dos casos, nesse é um baita elogio. Sem as constantes distrações, talvez o filme caísse no erro de ser sério ou, ainda pior, se tornar uma comédia pastelão.
A estrela cadente é uma surpresa pelas caricaturas, pela narrativa curiosa e, principalmente, por mostrar corpos para além do realismo tradicional. Um filme que podia ser chato e comum e, embora não seja genial, diverte e é belo. É belo e diverte. E já está bom, né?
Assisti ao remake Matador de Aluguel (2024), de Doug Liman, e que tem Jake Gyllenhaal como protaginista.
Acredito que Gyllenhaal vive o que chamo de "síndrome de Pescador Parrudo" porque desde que descobriu que é muito gostoso, sua carreira começou a escorregar bastante nas escolhas.
Dito isso, o filme é um excelente filme ruim. Roteiro cheios de furo (como o crocodilo que aparece e some), história confusa e sem propósito, mas com cenas de luta iradas e uma trilha sonora sensacional.
O filme conta a história de um homem que trabalha na vaquejada, mas tem como paixão a costura. Nas horas de folga, ele faz roupas para apresentações eróticas em sua pequena máquina.
O mais bonito é como a obra vai construindo as personagens através de pequenas imagnes e pequenos detalhes. Com sensibilidade, ele não corre em dizer como é cada um, pelo contrário, as figuras vão se formando.
Sensível e com cenas belíssimas o filme tem interpretações magníficas de @JinkingsMaeve e Alyne Santana, com um bom trabalho também de Juliano Cazarré.
Quis assistir “A Batalha do Biscoito Pop-Tart” (2024) porque sou genuinamente fã do Jerry Seinfeld e sempre vi na sua série a maior caricatura crítica da sociedade norte-americana, debochando, inclusive, dos próprios sitcoms.
Porém, enquanto assistia ao filme que acabou de ser lançado na @NetflixBrasil ficava me perguntando: por que depois de tanto tempo sem fazer nada ele havia escolhido fazer logo esse filme? Por que?
Tirando o fato de que o filme é uma grande propaganda para a Kellogg’s, incluindo a principal forma de propaganda contemporânea que é a autocrítica, não se pode dizer que haja absolutamente nada de bem feito ali.
Seinfeld, sem Larry David, se torna inofensivo e a piada que tem destino certo leva consigo um torpedo tosco. Na tentativa de trazer um pouco mais de riso, conseguiram um grande casting que deram um pouco de charme, mas nunca qualidade à obra.
Basicamente, o filme é sobre duas empresas que disputam a criação de um produto. E é isso aí. E chega a ser um pouco constrangedor como tudo foi absolutamente planejado para ser daquele jeito, mas passou totalmente longe do que era esperado.
O filme só não é esquecível porque tem Hugh Grant que trouxe um mínimo de dignidade para o humor pastelão de seu personagem. Fora isso, sei lá.
Em alguns momentos senti um pouco a onda da série Vingança Sabor Cereja (2021), tanto pela estética violenta nas cores e nos enquadramentos, quanto na tentativa de dar à perspectiva feminina – mas não de uma visão “de mulher” – o que seria pensar, planejar e executar, ou não, uma vingança.
E o mais interessante é justamente isso: uma tentativa de reelaboração de uma narrativa de vingança que tem se tornado cada vez mais comum no cinema, como no mal-sucedido Bela Vingança. No caso de Love Lies Bleeding, temos o investimento nas figuras de três personagens femininas: temos Lou Lou, a lésbica repleta de traumas do passado; Jackie, aquela que abandonou sua casa para procurar um sonho impossível onde vivia; e a irmã de Lou Lou, personagem que vive um relacionamento abusivo.
Leia mais aqui: https://jornalnota.com.br/2024/04/28/love-lies-bleeding-o-amor-sangra-2024-um-quase-sensivel-thriller-de-vinganca/
Acabei de ver Godzilla Minus One e digo que é o melhor filme do gênero dos últimos tempos. Esqueça todos os preconceitos e veja 5 motivos pra você assistir também!
1- ora, é um filme de Godzilla!!!! 2- pano de fundo é um Japão destruído pela Segunda Guerra Mundial 3- os traumas de guerra e estresse pós-traumático de um quase kamikazi marcam o protagonista 4- sem o ufanismo barato do cinema norte-americano 5- cenas de ação e efeitos especiais primorosos. Sem câmera tremida, a ação realmente é encenada
Um filme que tem uma grande lição: te inspirar a pensar em um outro tempo, um outro ritmo, um outro fluxo para a vida. É possível viver no caos em que vivemos e manter uma certa doçura.
O filme conta a história de Madeleine, uma senhora de 92 anos que chama um táxi para levá-la para a instituição de repouso que ela vai morar. O taxista é Charles, um homem rabugento que começa a se incomodar com as histórias e os pedidos inusitados de Madeleine.
Aos poucos, no entanto, Madeleine começa a amolecer o coração de Charles, ao mesmo tempo em que revela o seu passado de ter nascido antes da guerra, ter vivido um amor, ter sofrido violência doméstica e se tornado a mulher que hoje é.
Leia mais aqui: https://twitter.com/jornalnota/status/1783991678665204113
Esse fim de semana assisti também "O Rolo Compressor e o Violinista" (1961), obra do grande Andrei Tarkovsky.
O filme é uma dessas preciosidades que só o cinema pode produzir: um menino violinista e bastante solitário, um dia é salvo de bullying por um operador de um rolo compressor que está asfaltando a região.
Aos poucos, eles começam a trocar suas experiências de vida entre a poesia e a força, o som e peso, a arte e a máquina. A singeleza do olhar da infância encontrado a brutalidade de um coração adulto. Violino e Rolo compressor viram alegorias da própria existência de um cada um deles.
Em pouco menos de 50 minutos, Tarkovsky fez uma das obras mais lindas que o cinema já produziu. Conheçam!
Assisti hoje ao clássico Solaris (1972), de Andrei Tarkovsky e tenho coisas a dizer.
O filme conta a história de um sujeito que é mandado para uma estação espacial num planeta estranho chamado Solaris, que tem uma lógica, uma linguagem e um funcionamento que ninguém consegue entender.
O mais legal do filme é que, na tentativa de descobrir sobre Solaris, os personagens acabam tendo que encarar a si próprios e suas escolhas de vida. Uns acham a vontade de destruir Solaris, outros querem rever um amor.
Ciência ou sentimento, filosofia ou afeto? O que é e como entender o amor? Por que continuar investindo numa ciência que só leva a destruição?
Um filme de ficção especulativa que é essencialmente existencialista. Afinal, existirmos a que será que se destina?
Assisti o documentário "Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor", que conta a vida do mestre da dor de cotovelo e o inventor da sofrência na música brasileira.
O mais rico do filme é reunir tantas imagens de arquivos, registros e entrevistas daquele que foi um dos primeiros compositores negros do Brasil a fazer um sucesso estrondoso em toda as classes sociais. Da boemia e do amores mal vividos aos casos de racismo Lupicínio aparece como um dos caras mais revolucionários da nossa, criando inclusive um grupo para fiscalização de direitos autorais.
Além disso, era um sujeito que rejeitava o conservadorismo: mesmo caindo em um "ostracismo" com a chegada da bossa nova, da tropicália e do Iê iê iê, ele celebrava os novos ritmos como renovadores da música em nosso país. Visionário!
Como será o amanhã? Foi isso o que o Marcos Pimentel se perguntou ao filmar a vida de três crianças, Zé Thomaz, Christian e Julia, em 2002 e aguardar 20 anos para voltar a encontrá-las e filmar como tinha sido suas vidas até ali. Zé Thomaz é um menino branco da zona mais rica de Belo Horizonte, Christian e Julia são dois meninos pretos e pobres da favela próxima a uma represa da cidade. Conhecendo nosso país, algumas respostas a gente já poderia adivinhar, mas esta garrafa vazia lançada no futuro também poderia trazer surpresas. E foi nisso que o diretor apostou.
Leia a crítica completa aqui: https://jornalnota.com.br/2024/02/29/amanha-2024-as-intermitencias-da-desigualdade-em-um-pais-dividido/
Não posso dizer que gostei do filme e entendi que a sinopse incluiu a palavra "relato íntimo" para tentar minimizar a falta de uma narrativa clara ou um momento clímax. É íntimo como a vida, diriam. Mas não colou.
Para não ser antipático, levanto alguns pontos que podem ter ajudado o filme a não chegar onde queria:
Talvez ele tenham contado com o fato de que só a história do Jon Batiste bastaria. E misturando isso com as 11 indicações ao Grammy mais a doença da esposa daria um filme forte e emotivo.
Porém, o resultado final é um anticlímax. A história estava ali, mas não aconteceu. Talvez tenha sido proposital para a obra não cair no sentimentalismo ou exploração do sofrimento com a doença. Não sei.
Isso teria sido bom se a composição da sinfonia bastasse para segurar o filme. Não basta. Fiquei triste por não gostar, mas a arte também é feita disso.
No filme, acompanhamos a história de um menino que perde a mãe na guerra e ao ir morar com a nova esposa do pai, entra em contato com um mundo lúdico e mágico, mas também assustador.
Mais uma vez temos a sutileza e a delicadeza de Miyazaki ao construir suas histórias nas minúcias. Fica latente o toque artesanal da construção que se alia a uma narrativa que busca justamente uma espécie de pureza do encantamento da infância.
No filme, a garça, os wara wara e os periquitos não são seres mágicos porque são mágicos, mas porque há quem veja em cada um deles uma magia.
O filme está indicado ao Oscar de Melhor Animação e bateu o recorde de 3ª maior bilheteria de Anime dos EUA.
Acabamos de assistir o filme "Vidas Passadas" (2023), indicado ao Oscar de Melhor Filme, dirigido pela Celine Song. E hoje eu quero fazer uma análise dele a partir de algumas imagens. O filme conta a história de um homem e uma mulher que se encontram ao longo da vida: eles viviam até os 12 em Seul; se encontram 12 anos depois por Skype, com ela em NY e ele na Coreia; 20 anos depois quando eles finalmente se encontram após uma visita dele ao EUA. A diretora Celine Song constrói a história dos dois com muita sensibilidade. Primeiro, num único “date” que tiveram na infância, mostra como os dois eram "pequenos" diante dos sentimentos. E isso retratado através das brincadeiras ao redor de uma imagem gigante que "devora" ar. A seguir, os dois brincam em duas estátuas cubistas em que duas pessoas estão frente a frente, mas com suas partes desencaixadas, com espaços. É bonito perceber as crianças ali a partir disso: a infância encaixando sentimentos em seus espaços desconexos, mas profundos. Tempos depois, eles se encontram em Nova Iorque e o primeiro lugar de encontro é em frente uma escultura muito diferente da anterior: agora temos duas figuras quase liquefeitas de costas uma pra outra, mas trocando fluídos entre elas, como se a água de uma passasse pra outra.
Leia mais com as imagens aqui: https://twitter.com/jornalnota/status/1754265919293940149
É preciso dizer que Moneyboys, antes de tudo, é um filme mais delicado que bruto. Muito embora todas as forças que se movimentam na trama estejam profundamente carregadas de seus traumas e violências, é na delicadeza que a película escapa de ser só mais um filme sobre garotos à margem da sociedade.
A trama de Moneyboys (2021), filme de estreia de Yilin Bo Chen, é simples: um garoto chamado Fei sai de uma aldeia rumo à cidade grande para se prostituir e conseguir sustentar sua família. Em meio a outros garotos que também fazem o trabalho de michê, Fei vai descobrindo não só a árdua tarefa, até para homens, de vender seu corpo por sexo, assim como precisa lidar com os sentimentos que eclodem a partir daí: a paixão, o tesão, o medo.
Em termos técnicos, Alberto Corredor faz um filme de terror até bastante corajoso que nos mostra realmente a face do mal que assombra, sem medo de monstros, mulheres pálidas, seres que se arrastam pelas paredes ou sustos repentinos. Ele também não tem medo de uma trama íntima, com poucos personagens e que gira entorno de fantasmas externos e internos. A Bruxa dos Mortos também não tem medo ir até o fim nas próprias propostas, o que é um grandessíssimo mérito.
Por fim, podemos dizer que “Baghead: A Bruxa dos Mortos” é um gostosinho entretenimento assustador que não deixa de refletir, espelhar ou desdobrar questões muito contemporâneas. E embora o papel não seja realmente discorrer sobre nenhuma delas, só de tudo isso aparecer dentro de um filme já é excelente e torna tudo mais real e mais palpável para se ver.
Veja a crítica completa aqui: https://jornalnota.com.br/2024/02/01/baghead-a-bruxa-dos-mortos-2023-o-terror-e-uma-propriedade-privada-e-intima/
O filme, baseado numa HQ, conta a história de uma menina não muito normal que ajuda um jovem a reparar um crime que foi acusado, mas que não cometeu.
Absolutamente contemporâneo nas questões e na estética, o filme diverte num humor afiadíssimo enquanto vai nos dando lições de respeito, tolerância e, principalmente, nos ensina a desconfiar com as narrativas dos poderes.
Assista, coloque pra uma criança. Toda criança merece ver Nimona na infância!
Acabamos de assistir o mais recente filme de Martin Scorsese: Assassinos da Lua das Flores (2023), disponível na @Apple+. O filme conta a história da disputa da posse do petróleo entre os membros da comunidade Osage e os brancos colonizadores que ocupam as terras.
Melhor dizendo, não é exatamente uma disputa, na verdade, é uma tentativa deliberada dos brancos da destruição dos indígenas através de diversos métodos: a assimilação através do casamento e consequente passada das posses para os brancos; o constante assassinato deliberado daqueles que ousam se revoltar e, por fim, a tentativa de usurpação das terras por modos arbitrariamente legais, mas absolutamente imorais.
O mais interessante é como Scorcese está cada vez mais à vontade fazendo um cinema tradicional em termos de estrutura, montagem e fotografia, mantendo sua temática mais comum do filme de gangster, violência, histórias de crimes.
Porém, agora, atravessando suas narrativas com temáticas políticas e até decoloniais que estão em disputa interior da cultura norte-americana. Cada dia mais norte-americano, Scorsese vai se tornando cada vez mais atento às minorias.
Uma das chaves para entender a obra, a meu ver – e isto se revela no final do filme – é manipular e jogar nosso desejo ocidental capitalista de consumir histórias de crimes que tratam de algozes e vítimas.
O efeito catártico que essas histórias trazem, diria Brecht, nos impede de realmente transformar o mundo.
Scorsese dá um tapa na nossa cara e nos dizer que cinema é entretenimento, mas não só. Não podemos transformar a nossa vida num circo, no pior sentido do termo.
Temos obrigação de nos engajarmos em todas as histórias de injustiças, caso contrário, sentamos na mesma mesa que os vencedores, os algozes do nosso planeta.
Acabamos de assistir um clássico do cinema musical: Funny Girl - A Garota Genial (1968) com direção William Wyler. O filme conta a história da lendária estrela e comediante Fanny Brice, atriz da Broadway. Sem dúvida nenhuma, é um dos melhores musicais que você pode assistir, principalmente pela magnífica atuação de Barbra Streisand que interpreta, canta, faz comédia e drama, chora, anda de patins, dança ballet e fica pendurada por cabos. Eu comentei ao final que ela fez 15 coisas e se pedissem ela poderia ter feito mais umas 20 porque seu talento é infinito.
O bonito da história é que ela contém muitas camadas de metalinguagem. O musical já é um gênero metalinguístico por si só, afinal ele retira o realismo para inserir uma camada musical nas cenas. No filme, quase tudo está mediado pelas apresentações de Funny no teatro. E como Barbra também é uma atriz de teatro/cinema tudo que passa Funny, a comediante real e a personagem do filme, também poderia fazer parte da vida de Barbra. Através dessas sobreposições de camadas, de vidas e interpretações, o filme pode incorporar o melhor da Broadway – as danças e as canções – o melhor do cinema realista – os dramas reais e as histórias de amor – e o melhor do teatro – as cenas cômicas, as gags, os diálogos ágeis.
Para quem ama cinema, musical, teatro, música, dança e arte em geral, Funny Girl é um dos melhores filmes que você pode assistir. Ah, e com ele Barbra levou o Oscar de melhor atriz. Foi pouco, deveria ter ganhado dois de uma vez só.
Você conhece a história clássica de que Mary Shelley escreveu Frankenstein após uma aposta numa noite de terror na casa de Lord Byron? Pois então você vai amar o filme Gótico (1986), dirigido por Ken Russel. A premissa do filme é sensacional: Em 1816, o poeta Percy Sheller, Mary Godwin (que viria a ser Mary Shelley) e a cunhada Claire, visitam seu amigo Lord Byron, também poeta, que vive auto-exilado na Suíça. Byron convida os visitantes cultos a experimentarem a imaginação através de um jogo de invocar espíritos. A noite de tempestade ajuda a criar um clima assustador que, estimulado por histórias de horror, a prática do amor livre e cultos que colocam em teste as nossas crenças religiosas, desperta os maiores temores de cada um. O filme é cheio de referências aos clássicos de terror, de Poe a Shelley, passando por Byron e até alguns clássicos da pintura. É fascinante também porque Gótico tem uma pegada de desbunde e contracultura que faz tudo ainda mais delicioso de ver. No fim, experimentamos medo e liberdade nesse baita filme que brinca com a criação de dois grandes mitos da cultura popular: o vampiro e o Frankenstein.
Com muita sutileza e atenção nas minúcias, Sofia expõe uma Priscilla que não teve chance de vencer a montanha Elvis desde o começo: foi aliciada por terceiros aos 14 anos, foi morar com ele antes dos 18 e aprendeu a ler o mundo pela lente de namorada de um dos caras mais famosos do mundo.
Apesar disso, Coppola não quis fazer de Priscilla uma vítima direta. Ela é vítima, sim, de um Elvis auto-centrado, com ímpetos violentos e que toma excesso de remédios para tudo. Sofia é vítima, antes, de uma estrutura que não lhe ensina a se rebelar contra nada disso.
Uma das cenas mais marcantes é quando ela está grávida e estoura a bolsa e, antes de ir ao hospital, resolve colocar cílios postícios. A frivolidade da cena, o detalhe faz a gente se perguntar: "por que ela faz isso?" Porque, ainda, é nessas coisas seu domínio sobre mundo.
Sua história, então, passa a ser o centro de sua vida quando acaba sua história com Elvis. Assim, ela passa a ser protagonista da própria história e Elvis, o famoso, apenas um coadjuvante no seu presente.
Vermelho Monet
3.4 7Vermelho Monet, filme de 2022, mas que chega agora aos cinemas brasileiros, conta a história de Johannes Van Almeida, um pintor inspirado e genial que acabou de sair da prisão. Ele é conhecido por ser também um mestre da falsificação e um artista explorado pela negociante de arte Antoinette, interpretada pela estonteante Maria Fernanda Cândido. Ao lado dessa trama, temos também a paixão avassaladora de Antoinette pela jovem atriz internacional Florence Lizz, que vive uma crise de identidade diante de uma peça de teatro sobre a poeta Florbela Espanca.
Assim temos a obsessão pelas cores, principalmente pelo vermelho. O desejo do pintor, porém, não é o vermelho de Mondrian, aquele vermelho primitivo, nem tampouco um vermelho de renascentista que busca simular cientificamente o real, mas um vermelho tal qual pintava Monet. E o que seria o vermelho Monet? Um vermelho impressionista, das cores que são capturadas no instante em que o olho olha e o cérebro acessa. Um vermelho da intensidade e da partilha do impossível, do pôr-do-sol que nos escapa. É neste ponto que os cabelos ruivos de Florence Lizz completam a trama.
Veja mais aqui:
https://jornalnota.com.br/2024/05/18/vermelho-monet-2022-a-poesia-do-cinema-em-estado-bruto-de-cores-e-amores/
O Homem Irracional
3.5 553 Assista AgoraHomem Irracional (2015): Woody Allen, Dostoiévski e Hannah Arendt
O mesmo dilema que vive Rashkolnikov em Crime e Castigo, vive Abe, o professor de filosofia em Homem Irracional: matar é ou pode ser moral?
A conclusão de todos é que, sim, em algum momento, matar pode ser moral. O problema é que a morte envolve outras coisas que não apenas o ato em si: das ações do acaso às consequências na consciência, das ações em si aos respingos nos outros.
Se alguém descobre que você matou, sua morte é menos moral? E se você planejou com antecedência? E se precisar de mais uma morte pra encobrir a primeira?
Woody Allen joga tudo isso na gente, mas desdobra em Hannah Arendt: seria a banalidade do mal a imoralidade máxima? Será que o mal desengajado é pior que o mal decidido?
Pra finalizar, fica a pergunta: seria a moralidade unicamente a soma do quanto de desejo colocamos nas ações? Matar é, no fim das contas, a abertura de uma grande fraqueza no mundo?
Um filme gostoso de ver porque Joaquin Phoenix e Emma Stone juntos é demais. Um baita filme porque reflete demais em uma história simples.
A Estrela Cadente
2.9 4A primeira coisa que se pode dizer sobre “A estrela cadente” é que é um filme que se distrai. E isso que seria uma crítica em quase 100% dos casos, nesse é um baita elogio. Sem as constantes distrações, talvez o filme caísse no erro de ser sério ou, ainda pior, se tornar uma comédia pastelão.
A estrela cadente é uma surpresa pelas caricaturas, pela narrativa curiosa e, principalmente, por mostrar corpos para além do realismo tradicional. Um filme que podia ser chato e comum e, embora não seja genial, diverte e é belo. É belo e diverte. E já está bom, né?
Leia mais: https://jornalnota.com.br/2024/05/09/critica-a-estrela-cadente-2023-filme-bom-tambem-e-aquele-que-se-distrai/
Matador de Aluguel
3.1 268 Assista AgoraAssisti ao remake Matador de Aluguel (2024), de Doug Liman, e que tem Jake Gyllenhaal como protaginista.
Acredito que Gyllenhaal vive o que chamo de "síndrome de Pescador Parrudo" porque desde que descobriu que é muito gostoso, sua carreira começou a escorregar bastante nas escolhas.
Dito isso, o filme é um excelente filme ruim. Roteiro cheios de furo (como o crocodilo que aparece e some), história confusa e sem propósito, mas com cenas de luta iradas e uma trilha sonora sensacional.
Boi Neon
3.6 461O filme conta a história de um homem que trabalha na vaquejada, mas tem como paixão a costura. Nas horas de folga, ele faz roupas para apresentações eróticas em sua pequena máquina.
O mais bonito é como a obra vai construindo as personagens através de pequenas imagnes e pequenos detalhes. Com sensibilidade, ele não corre em dizer como é cada um, pelo contrário, as figuras vão se formando.
Sensível e com cenas belíssimas o filme tem interpretações magníficas de
@JinkingsMaeve e Alyne Santana, com um bom trabalho também de Juliano Cazarré.
A Batalha do Biscoito Pop-Tart
2.4 26Quis assistir “A Batalha do Biscoito Pop-Tart” (2024) porque sou genuinamente fã do Jerry Seinfeld e sempre vi na sua série a maior caricatura crítica da sociedade norte-americana, debochando, inclusive, dos próprios sitcoms.
Porém, enquanto assistia ao filme que acabou de ser lançado na @NetflixBrasil ficava me perguntando: por que depois de tanto tempo sem fazer nada ele havia escolhido fazer logo esse filme? Por que?
Tirando o fato de que o filme é uma grande propaganda para a Kellogg’s, incluindo a principal forma de propaganda contemporânea que é a autocrítica, não se pode dizer que haja absolutamente nada de bem feito ali.
Seinfeld, sem Larry David, se torna inofensivo e a piada que tem destino certo leva consigo um torpedo tosco. Na tentativa de trazer um pouco mais de riso, conseguiram um grande casting que deram um pouco de charme, mas nunca qualidade à obra.
Basicamente, o filme é sobre duas empresas que disputam a criação de um produto. E é isso aí. E chega a ser um pouco constrangedor como tudo foi absolutamente planejado para ser daquele jeito, mas passou totalmente longe do que era esperado.
O filme só não é esquecível porque tem Hugh Grant que trouxe um mínimo de dignidade para o humor pastelão de seu personagem. Fora isso, sei lá.
Love Lies Bleeding: O Amor Sangra
3.6 126Em alguns momentos senti um pouco a onda da série Vingança Sabor Cereja (2021), tanto pela estética violenta nas cores e nos enquadramentos, quanto na tentativa de dar à perspectiva feminina – mas não de uma visão “de mulher” – o que seria pensar, planejar e executar, ou não, uma vingança.
E o mais interessante é justamente isso: uma tentativa de reelaboração de uma narrativa de vingança que tem se tornado cada vez mais comum no cinema, como no mal-sucedido Bela Vingança. No caso de Love Lies Bleeding, temos o investimento nas figuras de três personagens femininas: temos Lou Lou, a lésbica repleta de traumas do passado; Jackie, aquela que abandonou sua casa para procurar um sonho impossível onde vivia; e a irmã de Lou Lou, personagem que vive um relacionamento abusivo.
Leia mais aqui:
https://jornalnota.com.br/2024/04/28/love-lies-bleeding-o-amor-sangra-2024-um-quase-sensivel-thriller-de-vinganca/
Godzilla: Minus One
4.1 302Acabei de ver Godzilla Minus One e digo que é o melhor filme do gênero dos últimos tempos. Esqueça todos os preconceitos e veja 5 motivos pra você assistir também!
1- ora, é um filme de Godzilla!!!!
2- pano de fundo é um Japão destruído pela Segunda Guerra Mundial
3- os traumas de guerra e estresse pós-traumático de um quase kamikazi marcam o protagonista
4- sem o ufanismo barato do cinema norte-americano
5- cenas de ação e efeitos especiais primorosos. Sem câmera tremida, a ação realmente é encenada
Dias Perfeitos
4.2 280 Assista AgoraUm filme que tem uma grande lição: te inspirar a pensar em um outro tempo, um outro ritmo, um outro fluxo para a vida. É possível viver no caos em que vivemos e manter uma certa doçura.
Coisa linda de ver!
Conduzindo Madeleine
4.2 12O filme conta a história de Madeleine, uma senhora de 92 anos que chama um táxi para levá-la para a instituição de repouso que ela vai morar. O taxista é Charles, um homem rabugento que começa a se incomodar com as histórias e os pedidos inusitados de Madeleine.
Aos poucos, no entanto, Madeleine começa a amolecer o coração de Charles, ao mesmo tempo em que revela o seu passado de ter nascido antes da guerra, ter vivido um amor, ter sofrido violência doméstica e se tornado a mulher que hoje é.
Leia mais aqui:
https://twitter.com/jornalnota/status/1783991678665204113
O Rolo Compressor e o Violinista
4.0 47Esse fim de semana assisti também "O Rolo Compressor e o Violinista" (1961), obra do grande Andrei Tarkovsky.
O filme é uma dessas preciosidades que só o cinema pode produzir: um menino violinista e bastante solitário, um dia é salvo de bullying por um operador de um rolo compressor que está asfaltando a região.
Aos poucos, eles começam a trocar suas experiências de vida entre a poesia e a força, o som e peso, a arte e a máquina. A singeleza do olhar da infância encontrado a brutalidade de um coração adulto. Violino e Rolo compressor viram alegorias da própria existência de um cada um deles.
Em pouco menos de 50 minutos, Tarkovsky fez uma das obras mais lindas que o cinema já produziu. Conheçam!
Solaris
4.2 369 Assista AgoraAssisti hoje ao clássico Solaris (1972), de Andrei Tarkovsky e tenho coisas a dizer.
O filme conta a história de um sujeito que é mandado para uma estação espacial num planeta estranho chamado Solaris, que tem uma lógica, uma linguagem e um funcionamento que ninguém consegue entender.
O mais legal do filme é que, na tentativa de descobrir sobre Solaris, os personagens acabam tendo que encarar a si próprios e suas escolhas de vida. Uns acham a vontade de destruir Solaris, outros querem rever um amor.
Ciência ou sentimento, filosofia ou afeto? O que é e como entender o amor? Por que continuar investindo numa ciência que só leva a destruição?
Um filme de ficção especulativa que é essencialmente existencialista. Afinal, existirmos a que será que se destina?
Vale demais!
Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor
3.9 2Assisti o documentário "Lupicínio Rodrigues: Confissões de um Sofredor", que conta a vida do mestre da dor de cotovelo e o inventor da sofrência na música brasileira.
O mais rico do filme é reunir tantas imagens de arquivos, registros e entrevistas daquele que foi um dos primeiros compositores negros do Brasil a fazer um sucesso estrondoso em toda as classes sociais. Da boemia e do amores mal vividos aos casos de racismo Lupicínio aparece como um dos caras mais revolucionários da nossa, criando inclusive um grupo para fiscalização de direitos autorais.
Além disso, era um sujeito que rejeitava o conservadorismo: mesmo caindo em um "ostracismo" com a chegada da bossa nova, da tropicália e do Iê iê iê, ele celebrava os novos ritmos como renovadores da música em nosso país. Visionário!
Amanhã
2.8 2Como será o amanhã? Foi isso o que o Marcos Pimentel se perguntou ao filmar a vida de três crianças, Zé Thomaz, Christian e Julia, em 2002 e aguardar 20 anos para voltar a encontrá-las e filmar como tinha sido suas vidas até ali. Zé Thomaz é um menino branco da zona mais rica de Belo Horizonte, Christian e Julia são dois meninos pretos e pobres da favela próxima a uma represa da cidade. Conhecendo nosso país, algumas respostas a gente já poderia adivinhar, mas esta garrafa vazia lançada no futuro também poderia trazer surpresas. E foi nisso que o diretor apostou.
Leia a crítica completa aqui:
https://jornalnota.com.br/2024/02/29/amanha-2024-as-intermitencias-da-desigualdade-em-um-pais-dividido/
Jon Batiste: American Symphony
3.3 25Não posso dizer que gostei do filme e entendi que a sinopse incluiu a palavra "relato íntimo" para tentar minimizar a falta de uma narrativa clara ou um momento clímax. É íntimo como a vida, diriam. Mas não colou.
Para não ser antipático, levanto alguns pontos que podem ter ajudado o filme a não chegar onde queria:
Talvez ele tenham contado com o fato de que só a história do Jon Batiste bastaria. E misturando isso com as 11 indicações ao Grammy mais a doença da esposa daria um filme forte e emotivo.
Porém, o resultado final é um anticlímax. A história estava ali, mas não aconteceu. Talvez tenha sido proposital para a obra não cair no sentimentalismo ou exploração do sofrimento com a doença. Não sei.
Isso teria sido bom se a composição da sinfonia bastasse para segurar o filme. Não basta. Fiquei triste por não gostar, mas a arte também é feita disso.
O Menino e a Garça
4.0 216No filme, acompanhamos a história de um menino que perde a mãe na guerra e ao ir morar com a nova esposa do pai, entra em contato com um mundo lúdico e mágico, mas também assustador.
Mais uma vez temos a sutileza e a delicadeza de Miyazaki ao construir suas histórias nas minúcias. Fica latente o toque artesanal da construção que se alia a uma narrativa que busca justamente uma espécie de pureza do encantamento da infância.
No filme, a garça, os wara wara e os periquitos não são seres mágicos porque são mágicos, mas porque há quem veja em cada um deles uma magia.
O filme está indicado ao Oscar de Melhor Animação e bateu o recorde de 3ª maior bilheteria de Anime dos EUA.
Vale demais!
Vidas Passadas
4.2 748 Assista AgoraAcabamos de assistir o filme "Vidas Passadas" (2023), indicado ao Oscar de Melhor Filme, dirigido pela Celine Song. E hoje eu quero fazer uma análise dele a partir de algumas imagens.
O filme conta a história de um homem e uma mulher que se encontram ao longo da vida: eles viviam até os 12 em Seul; se encontram 12 anos depois por Skype, com ela em NY e ele na Coreia; 20 anos depois quando eles finalmente se encontram após uma visita dele ao EUA.
A diretora Celine Song constrói a história dos dois com muita sensibilidade. Primeiro, num único “date” que tiveram na infância, mostra como os dois eram "pequenos" diante dos sentimentos. E isso retratado através das brincadeiras ao redor de uma imagem gigante que "devora" ar.
A seguir, os dois brincam em duas estátuas cubistas em que duas pessoas estão frente a frente, mas com suas partes desencaixadas, com espaços. É bonito perceber as crianças ali a partir disso: a infância encaixando sentimentos em seus espaços desconexos, mas profundos.
Tempos depois, eles se encontram em Nova Iorque e o primeiro lugar de encontro é em frente uma escultura muito diferente da anterior: agora temos duas figuras quase liquefeitas de costas uma pra outra, mas trocando fluídos entre elas, como se a água de uma passasse pra outra.
Leia mais com as imagens aqui: https://twitter.com/jornalnota/status/1754265919293940149
Moneyboys
3.5 12É preciso dizer que Moneyboys, antes de tudo, é um filme mais delicado que bruto. Muito embora todas as forças que se movimentam na trama estejam profundamente carregadas de seus traumas e violências, é na delicadeza que a película escapa de ser só mais um filme sobre garotos à margem da sociedade.
A trama de Moneyboys (2021), filme de estreia de Yilin Bo Chen, é simples: um garoto chamado Fei sai de uma aldeia rumo à cidade grande para se prostituir e conseguir sustentar sua família. Em meio a outros garotos que também fazem o trabalho de michê, Fei vai descobrindo não só a árdua tarefa, até para homens, de vender seu corpo por sexo, assim como precisa lidar com os sentimentos que eclodem a partir daí: a paixão, o tesão, o medo.
Crítica completa aqui:
https://jornalnota.com.br/2024/02/03/moneyboys-2021-prostituicao-masculina-e-homossexualidade-em-filme-quase-silencioso/
A Bruxa dos Mortos: Baghead
2.5 80 Assista AgoraEm termos técnicos, Alberto Corredor faz um filme de terror até bastante corajoso que nos mostra realmente a face do mal que assombra, sem medo de monstros, mulheres pálidas, seres que se arrastam pelas paredes ou sustos repentinos. Ele também não tem medo de uma trama íntima, com poucos personagens e que gira entorno de fantasmas externos e internos. A Bruxa dos Mortos também não tem medo ir até o fim nas próprias propostas, o que é um grandessíssimo mérito.
Por fim, podemos dizer que “Baghead: A Bruxa dos Mortos” é um gostosinho entretenimento assustador que não deixa de refletir, espelhar ou desdobrar questões muito contemporâneas. E embora o papel não seja realmente discorrer sobre nenhuma delas, só de tudo isso aparecer dentro de um filme já é excelente e torna tudo mais real e mais palpável para se ver.
Veja a crítica completa aqui:
https://jornalnota.com.br/2024/02/01/baghead-a-bruxa-dos-mortos-2023-o-terror-e-uma-propriedade-privada-e-intima/
Nimona
4.1 234 Assista AgoraO filme, baseado numa HQ, conta a história de uma menina não muito normal que ajuda um jovem a reparar um crime que foi acusado, mas que não cometeu.
Absolutamente contemporâneo nas questões e na estética, o filme diverte num humor afiadíssimo enquanto vai nos dando lições de respeito, tolerância e, principalmente, nos ensina a desconfiar com as narrativas dos poderes.
Assista, coloque pra uma criança. Toda criança merece ver Nimona na infância!
Assassinos da Lua das Flores
4.1 609 Assista AgoraAcabamos de assistir o mais recente filme de Martin Scorsese: Assassinos da Lua das Flores (2023), disponível na @Apple+. O filme conta a história da disputa da posse do petróleo entre os membros da comunidade Osage e os brancos colonizadores que ocupam as terras.
Melhor dizendo, não é exatamente uma disputa, na verdade, é uma tentativa deliberada dos brancos da destruição dos indígenas através de diversos métodos: a assimilação através do casamento e consequente passada das posses para os brancos; o constante assassinato deliberado daqueles que ousam se revoltar e, por fim, a tentativa de usurpação das terras por modos arbitrariamente legais, mas absolutamente imorais.
O mais interessante é como Scorcese está cada vez mais à vontade fazendo um cinema tradicional em termos de estrutura, montagem e fotografia, mantendo sua temática mais comum do filme de gangster, violência, histórias de crimes.
Porém, agora, atravessando suas narrativas com temáticas políticas e até decoloniais que estão em disputa interior da cultura norte-americana. Cada dia mais norte-americano, Scorsese vai se tornando cada vez mais atento às minorias.
Uma das chaves para entender a obra, a meu ver – e isto se revela no final do filme – é manipular e jogar nosso desejo ocidental capitalista de consumir histórias de crimes que tratam de algozes e vítimas.
O efeito catártico que essas histórias trazem, diria Brecht, nos impede de realmente transformar o mundo.
Scorsese dá um tapa na nossa cara e nos dizer que cinema é entretenimento, mas não só. Não podemos transformar a nossa vida num circo, no pior sentido do termo.
Temos obrigação de nos engajarmos em todas as histórias de injustiças, caso contrário, sentamos na mesma mesa que os vencedores, os algozes do nosso planeta.
Funny Girl - A Garota Genial
4.3 214 Assista AgoraAcabamos de assistir um clássico do cinema musical: Funny Girl - A Garota Genial (1968) com direção William Wyler. O filme conta a história da lendária estrela e comediante Fanny Brice, atriz da Broadway. Sem dúvida nenhuma, é um dos melhores musicais que você pode assistir, principalmente pela magnífica atuação de Barbra Streisand que interpreta, canta, faz comédia e drama, chora, anda de patins, dança ballet e fica pendurada por cabos. Eu comentei ao final que ela fez 15 coisas e se pedissem ela poderia ter feito mais umas 20 porque seu talento é infinito.
O bonito da história é que ela contém muitas camadas de metalinguagem. O musical já é um gênero metalinguístico por si só, afinal ele retira o realismo para inserir uma camada musical nas cenas. No filme, quase tudo está mediado pelas apresentações de Funny no teatro. E como Barbra também é uma atriz de teatro/cinema tudo que passa Funny, a comediante real e a personagem do filme, também poderia fazer parte da vida de Barbra.
Através dessas sobreposições de camadas, de vidas e interpretações, o filme pode incorporar o melhor da Broadway – as danças e as canções – o melhor do cinema realista – os dramas reais e as histórias de amor – e o melhor do teatro – as cenas cômicas, as gags, os diálogos ágeis.
Para quem ama cinema, musical, teatro, música, dança e arte em geral, Funny Girl é um dos melhores filmes que você pode assistir. Ah, e com ele Barbra levou o Oscar de melhor atriz. Foi pouco, deveria ter ganhado dois de uma vez só.
Assistam!
Gótico
3.4 56Você conhece a história clássica de que Mary Shelley escreveu Frankenstein após uma aposta numa noite de terror na casa de Lord Byron? Pois então você vai amar o filme Gótico (1986), dirigido por Ken Russel.
A premissa do filme é sensacional: Em 1816, o poeta Percy Sheller, Mary Godwin (que viria a ser Mary Shelley) e a cunhada Claire, visitam seu amigo Lord Byron, também poeta, que vive auto-exilado na Suíça. Byron convida os visitantes cultos a experimentarem a imaginação através de um jogo de invocar espíritos.
A noite de tempestade ajuda a criar um clima assustador que, estimulado por histórias de horror, a prática do amor livre e cultos que colocam em teste as nossas crenças religiosas, desperta os maiores temores de cada um.
O filme é cheio de referências aos clássicos de terror, de Poe a Shelley, passando por Byron e até alguns clássicos da pintura. É fascinante também porque Gótico tem uma pegada de desbunde e contracultura que faz tudo ainda mais delicioso de ver.
No fim, experimentamos medo e liberdade nesse baita filme que brinca com a criação de dois grandes mitos da cultura popular: o vampiro e o Frankenstein.
Priscilla
3.4 164 Assista AgoraCom muita sutileza e atenção nas minúcias, Sofia expõe uma Priscilla que não teve chance de vencer a montanha Elvis desde o começo: foi aliciada por terceiros aos 14 anos, foi morar com ele antes dos 18 e aprendeu a ler o mundo pela lente de namorada de um dos caras mais famosos do mundo.
Apesar disso, Coppola não quis fazer de Priscilla uma vítima direta. Ela é vítima, sim, de um Elvis auto-centrado, com ímpetos violentos e que toma excesso de remédios para tudo. Sofia é vítima, antes, de uma estrutura que não lhe ensina a se rebelar contra nada disso.
Uma das cenas mais marcantes é quando ela está grávida e estoura a bolsa e, antes de ir ao hospital, resolve colocar cílios postícios. A frivolidade da cena, o detalhe faz a gente se perguntar: "por que ela faz isso?" Porque, ainda, é nessas coisas seu domínio sobre mundo.
Sua história, então, passa a ser o centro de sua vida quando acaba sua história com Elvis. Assim, ela passa a ser protagonista da própria história e Elvis, o famoso, apenas um coadjuvante no seu presente.
Grande filme!