Infelizmente, por conta de um roteiro infectado pela "obrigatoriedade de tratar certos temas" que é um câncer espalhador de mesmice e desinspiração na Hollywood atual, o segundo filme da família Parr acaba tendo uma trama um tanto menos encantadora que a do primeiro.
No aspecto técnico, trilha sonora, animação, nada a dizer, a qualidade e perfeição de sempre. Só ficou (infelizmente) mais artificial e menos espontâneo que o primeiro, nos reflexos que a tal obrigatoriedade acaba por deixar na trama. De resto, ainda tem qualidade de sobra para impedir que chegue sequer perto de ser um filme ruim. Só não tem a mesma naturalidade e despreocupação do primeiro, o que faz com que aquele seja uma verdadeira obra-prima, e esse aqui apenas uma sequência bem razoável.
O filme é bom, a história é interessante (não à toa a indicação ao oscar de roteiro adaptado), mas em vários momentos você tem aquela sensação de que ele deveria ser melhor do que realmente aquilo que você está vendo ali. Talvez seja alguma escolha narrativa, talvez seja o ritmo frenético demais de certas cenas e certos dialogos, que não ajudam na apreciação do filme, talvez seja a escolha de esclarecer todo um subterrâneo emocional da protagonista concentrado demais em uma cena em vez de ir espalhando mais pistas pelo roteiro afora...
De qualquer modo, é aquele tipo de flme que você não consegue evitar de pensar em como ficaria mais foda com esses mesmos atores e com esse mesmo roteiro nas mãos de um diretor mais cascudo. Mas ainda assim, não chega a desabonar a obra como um todo. É um bom filme, e traz uma pequena lição poderosíssima no meio de uma história mirabolante de poder, sucesso, milhões de dólares:
não importa o quanto bem-sucedido você seja, o quanto dinheiro ganhe, sempre vai ter coisas relacionadas a teu relacionamento (ou a falta dele) com papai e mamãe lá na tua infância, que vão contribuir MUITO pra te levantar como ser humano ou pra fuder com tua vida, por mais rico ou poderoso você venha a se tornar no futuro.
Um documentário com uma premissa forte e alguns momentos poderosos, mas infelizmente, irregular em seu ritmo narrativo. Embora essa irregularidade baixe um pouco sua nota no aspecto de roteirização e de técnica cinematográfica, no quesito documento de uma realidade, segue sendo um filme relevante.
Mostra de forma crua a triste reflexão a respeito do quanto são parecidas as realidades compartilhadas entre vários países latino-americanos, o nosso Brasil incluído. Séculos de populismo barato, de uma submissão ferrenha a um coletivismo emburrecedor e uma paralisante tara por salvadores da pátria, caudilhos "libertadores" e homens com "aquilo roxo" fizeram com que vários países (no caso deste filme, o México) se tornassem um campo fértil para o desenvolvimento de quadrilhas criminosas (em várias instâncias do tecido social) que controlam com mãos sujas de sangue quem vive e quem morre, com assustadora displicência.
a do massacre de um grupo de trabalhadores pobres (vários deles parentes, incluindo crianças pequenas que foram não apenas mortas, mas barbarizadas, ao lhes pegarem pelas pernas e tendo suas cabeças batidas em pedras), apenas porque o fazendeiro para quem as famílias trabalhavam não aceitou a extorsão dos traficantes.
E o impressionante, assustador olhar das sobreviventes que contaram essas histórias.
A maior curiosidade a respeito do filme é o fato de ser uma produção polonesa, com um elenco quase todo nacional, e com um tratamento internacional que funciona muito bem. Uma história passada durante a Crise dos Mísseis de Cuba, com uma atmosfera tensa misturando características dos filmes de desafios mentais (no caso uma competição de xadrez) e espionagem nos tempos da Guerra Fria.
Bill Pullman no papel principal dá conta do recado, enquanto o elenco de apoio não fica muito atrás. A direção de arte, fotografia e todo o tratamento visual do filme também são bastante competentes, retratando tanto uma Polônia sob o jugo soviético quanto os resquícios da destruição sofrida na II Guerra e a ânsia daquele povo por alcançar a independência num futuro que ainda viria.
Certamente será um filme que agradará mais os admiradores do gênero de espionagem ou sobre o período da Guerra Fria, mas ainda assim há qualidade para outros gostos. A canção da trilha sonora original, "My Secret Game" interpretada pela polonesa Ania Karwan, é um pequeno achado.
Se no quesito direção o toque de Jim Jarmusch não demonstrou perder tanto assim em qualidade desde um (hoje já tão distante) Ghost Dog(1999), no que se refere ao roteiro, parece que a mão do diretor/roteirista não só morreu, mas se encontra em estado de decomposição avançada.
Os Mortos Não Morrem é um filme sonolento, disperso, autorreferente, displicente e carregado de um maniqueísmo primário. Não bastasse isso, ainda traz uma das quebras de quarta barreira mais vergonha alheia que já tive a oportunidade de assistir.
É sério, o roteiro parece saído das anotações num canto de caderno de um adolescente rebelde entediado durante a aula. Metáforas imbecis e simplórias, estereótipos idiotas e forçados ao extremo, situações absurdas sem um bom suporte no roteiro que as justifique e um elenco cheio de gente boa -que parecem ter ficado entusiasmados em ser chamados pra um filme do cara, mas perceberam tarde demais a bosta horrorosa em que estavam se metendo.
Na maioria do tempo fraco, e no geral decepcionante. Desperdiça atores de primeira linha e passa uma desagradável sensação de ser a mera alegoria de alguma outra obra que se pretendia alcançar. Um Terry Gilliam em clima de ocaso melancólico.
Um ótimo filme, com três aspectos que se destacam com louvor. O primeiro é a excelente química em tela da dupla Mortensen e Ali, ambos em atuações de luxo, irretocáveis.
O segundo é a forma habilíssima com a qual a direção e o roteiro conseguem enquadrar um assunto tão sério quanto o da segregação racial no sul dos EUA da virada dos anos 50 para os 60. O filme é tocado sem pesar na mão, com extrema elegância, leveza, sem descambar para o arroubo panfletário-revolucionário -preferindo sempre um caminho mais sensível e poético- e ainda assim conseguir passar perfeitamente a sua mensagem mais profunda: a do encontro entre duas almas que vão se livrando de estereótipos e deixando que no esapaço aberto cresça a empatia, o respeito, a justiça e principalmente, a amizade.
E o terceiro, reside na fotografia e no tratamento visual geral do filme, que conseguem emoldurar de maneira perfeita a qualidade da trama, criando uma "embalagem" perfeita para um produto de alta qualidade.
É muito fácil perder a mão em uma cinebiografia que retrate uma figura complexa, multifacetada ou artisticamente influente. Quando se trata de uma figura que é presença certa nos primeiros lugares de qualquer lista dos maiores artistas populares de todos os tempos, como é o caso de James Brown, o desafio é ainda maior.
Neste filme, o diretor Tate Taylor de Histórias Cruzadas consegue não só acertar a mão no sentido técnico e produzir um filme com o qual é possível se conectar com facilidade, como também conseguiu comandar uma competente equipe de atores. Destaque óbvio para um então praticamente desconhecido Chadwick Boseman, que convence muito bem no papel do biografado James Brown.
A união entre os bons desempenhos e a direção segura de Taylor consegue criar uma ótima cinebiografia. Cria um bom estudo emocional do retratado, indo até um pouco mais fundo que o padrão hollywoodiano normalmente vai. Um bom quadro geral da carreira, com uma bem-vinda quebra da linearidade com vai-e-vens que atendem bem ao roteiro, uma decisão criativa que se tivesse sido feita de forma mais tradicional resultaria em uma obra bem mais cansativa.
Pra quem gosta de cinebiografias e filmes relacionados à música, é um filme e tanto pra se ver.
A atuação cativante de Tom Hanks carrega 80% do filme nas costas. Embora a trama seja edificante e positiva, talvez a aceitação desse filme tenha sofrido num choque com a realidade. O conceito de "pessoas tão fudidas e quebradas quanto Lloyd Vogel" ser a regra hoje em dia é algo tão presente que chega perto de fazer pessoas como o Mr. Rogers serem ignoradas como se "não pudesse existir alguém assim".
No mais, a direção de arte ao escolher reproduzir demais uma estética de TV sessentista/setentista, e tornar isso certas vezes confuso (mesmo que intencionalmente) no trânsito entre o "mundo mágico" do Mr. Rogers e a "realidade dura" de Lloyd, acaba emprestando ao filme uma estranheza que não ajuda a elevar o filme.
No fim, tudo de que vai se lembrar é de Tom Hanks fazendo um papel encantador, por mais que o filme tivesse uma mensagem mais ampla para transmitir, talvez a mais importante de todas seja: "Estamos tentando dar ao mundo maneiras positivas de LIDAR COM SEUS SENTIMENTOS!"
Por incrível que pareça, o fato de ser um filme C britânico, de baixíssimo orçamento não é o que faz com que esse filme mereça uma nota baixa. Até que o roteiro é razoavelmente estruturado, a ponto de fazer com que você ao menos queira saber o que vai acontecer mais pra frente, o que convenhamos já é uma façanha que muitos filmes C não alcançam. O grande problema aqui está na direção de atores, que coitados, ficaram longe de conseguir transmitir a situação (teoricamente) tensa que se desenrola na trama. Quase deu, mas não foi dessa vez.
Uma triste decepção. Você assiste não esperando muita coisa, mas se supreende com uma premissa fantástica, com o fato do filme ser bem feitinho, bem fotografado, com atuações e produção OK, enfim... podia ser um verdadeiro achado como o I Origins - O Universo no Olhar (2014), que também mostra as possíveis consequências emocionais e humanas de uma descoberta científica altamente disruptiva.
O grande porém, a grande mancada de William foi no roteiro. Enquanto o roteiro de I Origins conseguia misturar com perfeição e equilíbrio a parte "científica" com a parte emocional da história, William foi desequilíbrio puro. O filme começa de maneira interessante, curiosa e científica, mas à medida que avança vai virando uma espécie de Dawson's Creek com Malhação e toques de High School Musical. E pra horror de quem assiste, isso vai tomando tempo da trama até virar 80% do tempo.
Os poucos momentos depois do nascimento de William onde algum fato "científico" é apresentado dentro do roteiro, são justamente os momentos em que o filme se torna interessante o suficiente pra fazer você querer continuar assistindo. Aí tome de mais 20 minutos, meia hora de drama adolescente de péssima categoria até acontecer de novo.
horroroso, talvez um dos mais covardemente escritos e filmados que eu vi nos últimos tempos. Aquele tipo de final que no momento seguinte você consegue pensar em pelo menos uma duas, três, até cinco maneiras de terminar com um pouco mais de dignidade.
Este é um daqueles filmes onde é difícil ter um meio termo: ou você adora ou simplesmente ele não te pega.
Pra qualquer interessado na história e política do século XX, (e principalmente nos controversos acontecimentos envolvendo a União Soviética) não tem jeito, esse é um daqueles filmes que são se deve deixar escapar. A sua premissa por si só, beira o apavorante. O filme fala de eventos históricos terríveis, trágicos, que aconteceram de fato, e anda no fio da navalha ao utilizar esse pano de fundo como cenário para uma comédia das mais escrachadas.
A despeito disso, direção e roteiro conseguem a façanha quase impossível de transformar esse pedaço negro da história em um teatro do absurdo, uma ópera bufa da qual é difícil não rir -embora às vezes possa ser uma risada mais de nervoso do que de humor. Roteirizado de maneira esplêndida por uma equipe capitaneada pelo também diretor Armando Iannucci, o timing competentíssimo para a sátira política, mais um desempenho absurdo de um elenco de feras (com destaque para o trio Steve Buscemi, Simon Russel Beale e Jeffrey Tambor) fazem com que o espetáculo funcione como um relógio. A média dos desempenhos do elenco é alta, com performances impagáveis na maioria, com um tempo de comédia perfeitamente adaptados. Eles parecem realmente estarem se divertindo num palco de uma peça de teatro, em companhia de atores amigos com quem tem muito entrosamento, e não necessariamente em um filme. Esse fator se soma ao roteiro como um dos grandes acertos do filme.
Na essência, os célebres “expurgos de Stálin” configuram um assunto tão sombrio, que para jogar um pouco de luz sobre os crimes contra a humanidade cometidos naquele período, o único modo de fazê-lo era abraçando o absurdo, pois de outra forma a única alternativa seria fazer um documentário -o que certamente não era o caso. Ianucci consegue desviar com genialidade da revolta que poderia causar em algumas pessoas ao relembrar o público de que a natureza dos personagens colocados em clima de constante tensão na comédia (“sofrendo” pela perda de seu líder, ao mesmo tempo em que desenrolam uma delicada tapeçaria de intrigas) só encontra lugar em uma trágica pantomima de absurdidades. Tudo isso embalado por diálogos afiadíssimos, atuações de primeiríssima e um roteiro habilidoso.
Embora nesse filme Tarantino deixe seu pendor para o formulaico e a autorreferência no talo, paradoxalmente talvez esse seja disparado o melhor "filme do Tarantino para quem não é fã irracional do Tarantino que acha até o que ele faz na privada genial".
Apesar de seguir a receita do "se a História tivesse sido diferente" da qual o diretor já lançou mão anteriormente, e possuir todo pacote de tarantinismos que fazem a torcida organizada tarantinomaníaca delirar, mas que deixam quem não é torcedor meio naquela de "meh", o grande valor desse filme pra quem não é fã alucinado do homem está em outro lugar. A reconstituição de uma era específica de Hollywood, diferente das presentes no velho oeste de Django e Hateful Eight e da Europa na II Guerra de Bastardos Inglórios, é tão mais cuidadosa (e até artística), demonstra um sentimento de admiração e de nostalgia tão mais sinceros (e com uma carga mais atenuada do costumeiro cinismo), que fica difícil não perceber que este é um Tarantino especial.
Talvez a maior virtude do filme, seja sua unidade consistir em (diferente de outras produções suas) fazer com que tanto as atuações do elenco, o apuro visual e a direção de arte, e o carinho explícito no roteiro, tudo isso junto servir como uma declaração de fã a um certo período da história de Hollywood em formato de audiovisual. Nesse sentido, mesmo tendo presentes elementos comuns a outros filmes seus, a coesão desses elementos aqui parece muito maior, e o resultado, agradavelmente mais homogêneo e de mais fácil digestão que o normal da casa.
Embora a premissa da trama seja algo resumível em uma linha, e por ser um filme de guerra, não apresente nada em termos de roteiro que já não tenha sido visto em dezenas de outros filmes a retratarem a mais terrível das experiências humanas, o grande mérito desse filme -o que realmente o transforma em uma obra digna de figurar nos anais do cinema- não reside no quê, nem no porquê, mas no COMO.
Sam Mendes ao capitanear essa produção, demonstra com uma técnica refinada comparável à de um artesão experiente e a minuciosidade de um maestro virtuoso, ter sido capaz de montar uma sinfonia visual que pode ser vista, sem exagero, como uma obra de arte. 1917 é algo estupefaciente, chocante e ao mesmo tempo horripilantemente belo, como se estivéssemos em uma realidade paralela onde a Guernica de Pablo Picasso fosse um filme, e não uma pintura.
Há muitas questões técnicas, visuais e cinematográficas que poderiam fazer com que um comentário a respeito desse filme se estendesse por parágrafos e mais parágrafos. Só que para um comentário curto em uma rede social de aficionados por filmes como essa, basta dizer que pouquíssimas vezes na história do audiovisual os conceitos de "beleza", "humanidade" e "guerra" conseguiram se aproximar com tanta honestidade quanto neste filme. Uma verdadeira tour de force, uma verdadeira EXPERIÊNCIA cinematográfica que merece mais que ser vista... merece ser absorvida, em toda a sua absoluta grandiloquência técnica, em toda sua exposição crua e honesta dos espectros sombrios e trágicos da guerra.
Um filme pra entrar para a história.
Apenas uma pequeno detalhe separa esse filme da mais absoluta perfeição...
depois de cortar no arame farpado, enfiar na lama, enfiar em um cadáver podre que estava sendo comido por ratos, enfaixar com um pano, e nadar em rios, deixando com a umidade perfeita e escuro e quentinho pras bactérias fazerem a festa, aquela mão ferida do Cabo Scofield devia ter chegado do tamanho de uma melancia no final do filme! Haja antibiótico pra segurar essa onda, malandro!
Mas ainda assim, brincadeiras à parte, uma obra e tanto!
Um insulto à inteligência de quem assiste a cada 10 minutos. Péssimas premissas pra construir uma história, e um roteiro que passa o resto do filme tentando consertar isso,sem conseguir.
Se, e apenas se, esse filme for visto como um filme baseado em um livro do Stephen King, que por acaso é uma sequência da história iniciada em outro livro do mesmo autor, e não como uma heresia contra o sacrossanto filme de um sacrossanto diretor com todas as comparações e rants que decorrem da condição de fã irracional cujo estado emocional eclipsa completamente o cérebro, é possível perceber que fizeram um filme bem legal aqui.
Independente de quem esteja por trás do projeto, e independente de ser série de TV ou filme, já foi provado e comprovado que adaptar os escritos de King para o audiovisual é uma tarefa melindrosa. Grandes nomes falham, pequenos nomes também. Na maioria das vezes fica ruim, uma vez ou outra sai um negócio bom.
E Doutor Sono é um desses casos onde se você entra com o coração aberto e a cabeça livre de purismos, acaba sendo premiado com uma experiência positiva, um trabalho bem cuidado e uma adaptação que ao mesmo tempo respeita a obra original e a inteligência de quem assiste.
Quando você assiste o filme já adulto, algumas falhas acabam aparecendo um pouco mais irritantes, perceptíveis e evitáveis do que quando assistido na adolescência/juventude. Só que ainda assim, é um filme querido. Ele funciona como um tributo para o Kiss (e através de sua excelente trilha sonora, com sucessos de outras bandas também) para a cena do rock pesado do fim dos 70/início dos 80s exatamente como "Febre de Juventude" de Reobert Zemeckis funcionou para a beatlemania nos 60s.
O tom de puro amor de fã que transborda em todos os cantos do filme consegue fazer com que mesmo nos momentos mais bobos e mais clichê de comédia adolescente, o filme funcione melhor até do que deveria. O elenco em perfeita sintonia, com participações de veteranos talentosíssimos como Lin Shaye e novatos que ainda iriam dar muito o que falar (Melanie Lynskey, adorável) e pontas bem escolhidas acabam por fazer o filme render ao máximo. É como muitas das letras do KISS: uma bobagem se você for ver bem, mas olha, como funciona na hora que começa a tocar. Puro rock'n roll.
Este filme não só por seu tema, mas também pelo zeitgeist impresso em praticamente todos os seus aspectos, poderia muito bem ser um segmento adicional do consagrado Réquiem For a Dream de Darren Aronofsky.
O clima, o sentimento e o senso de urgência cada vez mais gritantes gritam vício o tempo todo. O tom extrapola o simples cautionary tale ou a mera lição de moral... já começa de um ponto em que mostra o caldo entornado, o ponto limite ultrapassado. Não é uma história sobre um cara que vai fazer uma merda grande na vida se não tomar jeito. É sobre um cara para o qual não existe jeito algum, que já fez a merda grande e tudo que você assiste é o curto trajeto entre a merda feita e a consequência inexorável do fato.
Um filme muito bem atuado, dirigido com uma elegância e arte ímpares, mas que não agradará a todos os paladares. Pode deixar facilmente algumas almas mais suscetíveis bem mal de cabeça. Mas ainda assim é um filme relevante, que mostra um Adam Sandler esbanjando talento, algo que muitos gostariam de ver com mais frequência.
Trata-se de um dos filmes com o melhor tratamento visual que vi nos últimos tempos. Um primor em fotografia, direção de arte, e cinematografia. Só que tem um porém. Um porém enorme. Um porém do tamanho de um balão a gás, com cestinha e tudo.
Ao fazer um filme que retratasse as aventuras de James Glashier (um cientista real, transformado no filme em um mero nerd, covardão, desajeitado, inseguro e ridicularizado) e Amelia Wren, uma aeronauta circense/socialite/cientista/milionária, quase uma Tony Stark do século XIX, que perdeu o marido também aeronauta em um acidente de balão,uma injustiça histórica é feita.
O filme omite não só a existência do parceiro de pesquisas de Glashier, o também cientista Henry Tracy Coxwell, como também omite a importância de Glashier, um pioneiro dos primórdios do estudo da meterologia, que ao realizar 28 vôos experimentais entre os anos de 1862 e 1866, conseguiu através dos seus estudos (e sem nenhuma versão vitoriana da Lara Croft dando cambalhotas por cima do balão), transformar uma ideia inicialmente ridicularizada em um ramo real, relevante e respeitado da ciência.
Ao tentar fazer um revisionismo histórico canhestro,o filme causa um estranhamento não por fazer algo que o cinema já fez várias vezes (com qualidade, intenções e resultados variáveis), mas pela maneira covarde com que o faz. Ao invés de ter a coragem de ao menos fazer o revisionismo de maneira crítica, militante ou ideologicamente motivada, porém admitindo claramente que o faz, criando uma história do tipo realidade paralela ou deixando claro que se trata de uma alegoria pretendendo o resultado desejado, o que acontece é um escamoteamento totalmente fake da história real, onde um dos personagens reais é diminuído e outro é sumariamente eliminado, para a inclusão de uma personagem fictícia que passa a ser o "deus ex machina" supremo da trama. E o tempo todo tenta-se vender malandramente a trama como algo bem próximo da realidade, quando não é o caso.
Sem contar com o fato de que a forma como escreveram a personagem principal tem muito mais a ver com um wishful thinking-fetiche da juventude de hoje e nada, absolutamente nada a ver com a realidade da época, nem mesmo com a realidade das personagens pioneiras que a produção alega ter se utilizado para inspirá-la. Tivessem realmente tentado se inspirar nas heroínas do passado, e não fazer média e proselitismo com as fantasias revolucionárias-fake de uma parcela iludida e adestrada do público atual, mesmo a presença dessa personagem fictícia poderia ter se tornado um ponto a honrar o filme, e não algo que fizesse com que ele parecesse o engodo que é.
Uma pena. Um filme tão belo tecnicamente merecia um roteiro e intenções menos proselitistas por trás de sua produção.
Um drama extremamente bem dirigido, mais uma pequena joia da produção espanhola. Como tem dado gosto de ver essa gente fazendo cinema: filmes de nível internacional, temáticas universais, simples e poderosos.
Uma baita atuação de Luis Tosar, uma história forte, com uma trama bem contada, bem desenvolvida e altamente verdadeira sobre as escolhas (de merda) que fazemos na vida e o quanto elas afetam não apenas a nós (como gostam de pensar os de mente curta) mas também aqueles a quem amamos e que dependem de nós.
Em uma espiral de fechamento e consequências, o filme por mais desconfortável que seja em alguns momentos, prende justamente por jogar na cara do espectador a verdade sobre a vida: ela é dura, feia e vai te bater forte. Você tem, obrigatoriamente que aprender a desviar das porradas que ela vai te dar. Se recusar-se a isso, só vai sofrer mais do que os que aprendem. E ponto final.
Que pena que dá do Mario. Que raiva que dá do irmão drogado que iniciou todo o turbilhão de merda na vida de toda a família. E que cena final mais triste!
É um filme duro, mas também é um cautionary tale como poucos que já vi, e só por isso já vale e muito, pra quem tiver olhos pra ver e coração pra absorver a lição.
Darren Aronofsky é um dos meus diretores prediletos. E não digo isso como fã irracional, daquele tipo que submete sua admiração de maneira tão incondicional que é capaz de se apaixonar até pelo produto que seu ídolo deixar no vaso sanitário. No caso de Aronofsky sou um admirador profundo de sua capacidade de traduzir sentimentos na tela de uma maneira que outros diretores não conseguem. E essa capacidade, por mais que advenha da sua habilidade profissional, é algo que vai conquistar mais a minha atenção em algumas de suas obras, e menos em outras. Enquanto O Lutador, Cisne Negro e o (até o momento, para mim) insuperável Réquiem para um sonho ficam no lado das obras que tornaram Aronofsky um dos diretores a quem mais admiro,
Este Mãe se junta a Fonte da Vida e Noé no campo dos filmes que me cativaram menos no conjunto da obra Aronofskiana. Longe de ser um filme ruim (assim como os outros dois citados). Mas ao mesmo tempo me passou o tempo todo uma sensação incômoda de que era um filme que se esforçava demais pra ser melhor do que realmente era. Acabou não sendo um filme tão bom pra mim.
Talvez a maior virtude deste filme seja sua vocação para funcionar como uma retratação honesta de um momento histórico. Ao deixar a trama e falar mais alto do que o drama pessoal dos personagens-chave (embora o drama esteja lá), Midway acerta onde Pearl Harbor errou. Por mais que os personagens que conduzem a trama sejam fundamentais para o entendimento do panorama da batalha, é a batalha em si o personagem principal e em momento algum o roteiro permite que esse fato seja colocado em dúvida.
Não é um filme perfeito, principalmente no quesito do desempenho do elenco, que ao mesmo tempo tem uma dupla Woody Harrelson e Dennis Quaid matando a pau, um Patrick Wilson competente como sempre, tem também o Luke Evans pouco entregue ao papel, Ed Skrein se limitando a fazer caretas na maior parte do tempo, e um monte de garotos genéricos fazendo o papel de artilheiros nos aviões como se estivessem entediados jogando videogame na sala de casa, e não em uma porra de batalha aérea tomando chumbo dos zeros japoneses. Teve um lá que nem a cara que ele faz na hora em que tem que berrar ficou convincente. O grito pareceu terrivelmente dublado, pois a expressão do rosto não coincidia em nada com o som. Vergonhoso.
No fim, salva o filme o senso de continuidade da história, a evolução da batalha com o vai-e-vem das informações, o jogo de gato e rato entre as frotas navais e a forma com que o filme vai levando o espectador através das etapas até os confrontos. Nisso, a boa tecnologia dos efeitos especiais tem um papel fundamental, pois o filme e visualmente fantástico, fazendo quem assiste se transportar para dentro do angustiante ambiente da batalha com uma acuidade e atmosfera comparável a de algumas cenas de Resgate do Soldado Ryan e Corações de Ferro.
Não é um filme perfeito, mas tem valores. Digamos que sai vivo da batalha, com uma sequela aqui ou ali mas sai. E ganha uma condecoração por bravura.
Os Incríveis 2
4.1 1,4K Assista AgoraInfelizmente, por conta de um roteiro infectado pela "obrigatoriedade de tratar certos temas" que é um câncer espalhador de mesmice e desinspiração na Hollywood atual, o segundo filme da família Parr acaba tendo uma trama um tanto menos encantadora que a do primeiro.
No aspecto técnico, trilha sonora, animação, nada a dizer, a qualidade e perfeição de sempre. Só ficou (infelizmente) mais artificial e menos espontâneo que o primeiro, nos reflexos que a tal obrigatoriedade acaba por deixar na trama. De resto, ainda tem qualidade de sobra para impedir que chegue sequer perto de ser um filme ruim. Só não tem a mesma naturalidade e despreocupação do primeiro, o que faz com que aquele seja uma verdadeira obra-prima, e esse aqui apenas uma sequência bem razoável.
A Grande Jogada
3.7 342 Assista AgoraO filme é bom, a história é interessante (não à toa a indicação ao oscar de roteiro adaptado), mas em vários momentos você tem aquela sensação de que ele deveria ser melhor do que realmente aquilo que você está vendo ali. Talvez seja alguma escolha narrativa, talvez seja o ritmo frenético demais de certas cenas e certos dialogos, que não ajudam na apreciação do filme, talvez seja a escolha de esclarecer todo um subterrâneo emocional da protagonista concentrado demais em uma cena em vez de ir espalhando mais pistas pelo roteiro afora...
De qualquer modo, é aquele tipo de flme que você não consegue evitar de pensar em como ficaria mais foda com esses mesmos atores e com esse mesmo roteiro nas mãos de um diretor mais cascudo. Mas ainda assim, não chega a desabonar a obra como um todo. É um bom filme, e traz uma pequena lição poderosíssima no meio de uma história mirabolante de poder, sucesso, milhões de dólares:
não importa o quanto bem-sucedido você seja, o quanto dinheiro ganhe, sempre vai ter coisas relacionadas a teu relacionamento (ou a falta dele) com papai e mamãe lá na tua infância, que vão contribuir MUITO pra te levantar como ser humano ou pra fuder com tua vida, por mais rico ou poderoso você venha a se tornar no futuro.
Terra de Cartéis
4.0 62 Assista AgoraUm documentário com uma premissa forte e alguns momentos poderosos, mas infelizmente, irregular em seu ritmo narrativo. Embora essa irregularidade baixe um pouco sua nota no aspecto de roteirização e de técnica cinematográfica, no quesito documento de uma realidade, segue sendo um filme relevante.
Mostra de forma crua a triste reflexão a respeito do quanto são parecidas as realidades compartilhadas entre vários países latino-americanos, o nosso Brasil incluído. Séculos de populismo barato, de uma submissão ferrenha a um coletivismo emburrecedor e uma paralisante tara por salvadores da pátria, caudilhos "libertadores" e homens com "aquilo roxo" fizeram com que vários países (no caso deste filme, o México) se tornassem um campo fértil para o desenvolvimento de quadrilhas criminosas (em várias instâncias do tecido social) que controlam com mãos sujas de sangue quem vive e quem morre, com assustadora displicência.
No fim das contas, o que fica são histórias como
a do massacre de um grupo de trabalhadores pobres (vários deles parentes, incluindo crianças pequenas que foram não apenas mortas, mas barbarizadas, ao lhes pegarem pelas pernas e tendo suas cabeças batidas em pedras), apenas porque o fazendeiro para quem as famílias trabalhavam não aceitou a extorsão dos traficantes.
Partida Fria
3.2 34A maior curiosidade a respeito do filme é o fato de ser uma produção polonesa, com um elenco quase todo nacional, e com um tratamento internacional que funciona muito bem. Uma história passada durante a Crise dos Mísseis de Cuba, com uma atmosfera tensa misturando características dos filmes de desafios mentais (no caso uma competição de xadrez) e espionagem nos tempos da Guerra Fria.
Bill Pullman no papel principal dá conta do recado, enquanto o elenco de apoio não fica muito atrás. A direção de arte, fotografia e todo o tratamento visual do filme também são bastante competentes, retratando tanto uma Polônia sob o jugo soviético quanto os resquícios da destruição sofrida na II Guerra e a ânsia daquele povo por alcançar a independência num futuro que ainda viria.
Certamente será um filme que agradará mais os admiradores do gênero de espionagem ou sobre o período da Guerra Fria, mas ainda assim há qualidade para outros gostos. A canção da trilha sonora original, "My Secret Game" interpretada pela polonesa Ania Karwan, é um pequeno achado.
Os Mortos Não Morrem
2.5 465 Assista AgoraSe no quesito direção o toque de Jim Jarmusch não demonstrou perder tanto assim em qualidade desde um (hoje já tão distante) Ghost Dog(1999), no que se refere ao roteiro, parece que a mão do diretor/roteirista não só morreu, mas se encontra em estado de decomposição avançada.
Os Mortos Não Morrem é um filme sonolento, disperso, autorreferente, displicente e carregado de um maniqueísmo primário. Não bastasse isso, ainda traz uma das quebras de quarta barreira mais vergonha alheia que já tive a oportunidade de assistir.
É sério, o roteiro parece saído das anotações num canto de caderno de um adolescente rebelde entediado durante a aula. Metáforas imbecis e simplórias, estereótipos idiotas e forçados ao extremo, situações absurdas sem um bom suporte no roteiro que as justifique e um elenco cheio de gente boa -que parecem ter ficado entusiasmados em ser chamados pra um filme do cara, mas perceberam tarde demais a bosta horrorosa em que estavam se metendo.
Até o tropo do disco voador é usado.. outro ponto alto da vergonha alheia.
O Homem Que Matou Dom Quixote
3.2 86 Assista AgoraNa maioria do tempo fraco, e no geral decepcionante. Desperdiça atores de primeira linha e passa uma desagradável sensação de ser a mera alegoria de alguma outra obra que se pretendia alcançar. Um Terry Gilliam em clima de ocaso melancólico.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraUm ótimo filme, com três aspectos que se destacam com louvor. O primeiro é a excelente química em tela da dupla Mortensen e Ali, ambos em atuações de luxo, irretocáveis.
O segundo é a forma habilíssima com a qual a direção e o roteiro conseguem enquadrar um assunto tão sério quanto o da segregação racial no sul dos EUA da virada dos anos 50 para os 60. O filme é tocado sem pesar na mão, com extrema elegância, leveza, sem descambar para o arroubo panfletário-revolucionário -preferindo sempre um caminho mais sensível e poético- e ainda assim conseguir passar perfeitamente a sua mensagem mais profunda: a do encontro entre duas almas que vão se livrando de estereótipos e deixando que no esapaço aberto cresça a empatia, o respeito, a justiça e principalmente, a amizade.
E o terceiro, reside na fotografia e no tratamento visual geral do filme, que conseguem emoldurar de maneira perfeita a qualidade da trama, criando uma "embalagem" perfeita para um produto de alta qualidade.
Constantine
3.8 1,7K Assista AgoraConseguiu ser melhor do que se esperava, mas não conseguiu ser tão bom quanto deveria.
Get on Up - A História de James Brown
3.6 157 Assista AgoraÉ muito fácil perder a mão em uma cinebiografia que retrate uma figura complexa, multifacetada ou artisticamente influente. Quando se trata de uma figura que é presença certa nos primeiros lugares de qualquer lista dos maiores artistas populares de todos os tempos, como é o caso de James Brown, o desafio é ainda maior.
Neste filme, o diretor Tate Taylor de Histórias Cruzadas consegue não só acertar a mão no sentido técnico e produzir um filme com o qual é possível se conectar com facilidade, como também conseguiu comandar uma competente equipe de atores. Destaque óbvio para um então praticamente desconhecido Chadwick Boseman, que convence muito bem no papel do biografado James Brown.
A união entre os bons desempenhos e a direção segura de Taylor consegue criar uma ótima cinebiografia. Cria um bom estudo emocional do retratado, indo até um pouco mais fundo que o padrão hollywoodiano normalmente vai. Um bom quadro geral da carreira, com uma bem-vinda quebra da linearidade com vai-e-vens que atendem bem ao roteiro, uma decisão criativa que se tivesse sido feita de forma mais tradicional resultaria em uma obra bem mais cansativa.
Pra quem gosta de cinebiografias e filmes relacionados à música, é um filme e tanto pra se ver.
Um Lindo Dia Na Vizinhança
3.5 273 Assista AgoraA atuação cativante de Tom Hanks carrega 80% do filme nas costas. Embora a trama seja edificante e positiva, talvez a aceitação desse filme tenha sofrido num choque com a realidade. O conceito de "pessoas tão fudidas e quebradas quanto Lloyd Vogel" ser a regra hoje em dia é algo tão presente que chega perto de fazer pessoas como o Mr. Rogers serem ignoradas como se "não pudesse existir alguém assim".
No mais, a direção de arte ao escolher reproduzir demais uma estética de TV sessentista/setentista, e tornar isso certas vezes confuso (mesmo que intencionalmente) no trânsito entre o "mundo mágico" do Mr. Rogers e a "realidade dura" de Lloyd, acaba emprestando ao filme uma estranheza que não ajuda a elevar o filme.
No fim, tudo de que vai se lembrar é de Tom Hanks fazendo um papel encantador, por mais que o filme tivesse uma mensagem mais ampla para transmitir, talvez a mais importante de todas seja: "Estamos tentando dar ao mundo maneiras positivas de LIDAR COM SEUS SENTIMENTOS!"
Alien Outbreak
1.2 4 Assista AgoraPor incrível que pareça, o fato de ser um filme C britânico, de baixíssimo orçamento não é o que faz com que esse filme mereça uma nota baixa. Até que o roteiro é razoavelmente estruturado, a ponto de fazer com que você ao menos queira saber o que vai acontecer mais pra frente, o que convenhamos já é uma façanha que muitos filmes C não alcançam. O grande problema aqui está na direção de atores, que coitados, ficaram longe de conseguir transmitir a situação (teoricamente) tensa que se desenrola na trama. Quase deu, mas não foi dessa vez.
William
1.5 2Uma triste decepção. Você assiste não esperando muita coisa, mas se supreende com uma premissa fantástica, com o fato do filme ser bem feitinho, bem fotografado, com atuações e produção OK, enfim... podia ser um verdadeiro achado como o I Origins - O Universo no Olhar (2014), que também mostra as possíveis consequências emocionais e humanas de uma descoberta científica altamente disruptiva.
O grande porém, a grande mancada de William foi no roteiro. Enquanto o roteiro de I Origins conseguia misturar com perfeição e equilíbrio a parte "científica" com a parte emocional da história, William foi desequilíbrio puro. O filme começa de maneira interessante, curiosa e científica, mas à medida que avança vai virando uma espécie de Dawson's Creek com Malhação e toques de High School Musical. E pra horror de quem assiste, isso vai tomando tempo da trama até virar 80% do tempo.
Os poucos momentos depois do nascimento de William onde algum fato "científico" é apresentado dentro do roteiro, são justamente os momentos em que o filme se torna interessante o suficiente pra fazer você querer continuar assistindo. Aí tome de mais 20 minutos, meia hora de drama adolescente de péssima categoria até acontecer de novo.
E a cereja no bolo de merda é o final,
horroroso, talvez um dos mais covardemente escritos e filmados que eu vi nos últimos tempos. Aquele tipo de final que no momento seguinte você consegue pensar em pelo menos uma duas, três, até cinco maneiras de terminar com um pouco mais de dignidade.
A Morte de Stalin
3.6 134 Assista AgoraEste é um daqueles filmes onde é difícil ter um meio termo: ou você adora ou simplesmente ele não te pega.
Pra qualquer interessado na história e política do século XX, (e principalmente nos controversos acontecimentos envolvendo a União Soviética) não tem jeito, esse é um daqueles filmes que são se deve deixar escapar. A sua premissa por si só, beira o apavorante. O filme fala de eventos históricos terríveis, trágicos, que aconteceram de fato, e anda no fio da navalha ao utilizar esse pano de fundo como cenário para uma comédia das mais escrachadas.
A despeito disso, direção e roteiro conseguem a façanha quase impossível de transformar esse pedaço negro da história em um teatro do absurdo, uma ópera bufa da qual é difícil não rir -embora às vezes possa ser uma risada mais de nervoso do que de humor. Roteirizado de maneira esplêndida por uma equipe capitaneada pelo também diretor Armando Iannucci, o timing competentíssimo para a sátira política, mais um desempenho absurdo de um elenco de feras (com destaque para o trio Steve Buscemi, Simon Russel Beale e Jeffrey Tambor) fazem com que o espetáculo funcione como um relógio. A média dos desempenhos do elenco é alta, com performances impagáveis na maioria, com um tempo de comédia perfeitamente adaptados. Eles parecem realmente estarem se divertindo num palco de uma peça de teatro, em companhia de atores amigos com quem tem muito entrosamento, e não necessariamente em um filme. Esse fator se soma ao roteiro como um dos grandes acertos do filme.
Na essência, os célebres “expurgos de Stálin” configuram um assunto tão sombrio, que para jogar um pouco de luz sobre os crimes contra a humanidade cometidos naquele período, o único modo de fazê-lo era abraçando o absurdo, pois de outra forma a única alternativa seria fazer um documentário -o que certamente não era o caso. Ianucci consegue desviar com genialidade da revolta que poderia causar em algumas pessoas ao relembrar o público de que a natureza dos personagens colocados em clima de constante tensão na comédia (“sofrendo” pela perda de seu líder, ao mesmo tempo em que desenrolam uma delicada tapeçaria de intrigas) só encontra lugar em uma trágica pantomima de absurdidades. Tudo isso embalado por diálogos afiadíssimos, atuações de primeiríssima e um roteiro habilidoso.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraEmbora nesse filme Tarantino deixe seu pendor para o formulaico e a autorreferência no talo, paradoxalmente talvez esse seja disparado o melhor "filme do Tarantino para quem não é fã irracional do Tarantino que acha até o que ele faz na privada genial".
Apesar de seguir a receita do "se a História tivesse sido diferente" da qual o diretor já lançou mão anteriormente, e possuir todo pacote de tarantinismos que fazem a torcida organizada tarantinomaníaca delirar, mas que deixam quem não é torcedor meio naquela de "meh", o grande valor desse filme pra quem não é fã alucinado do homem está em outro lugar. A reconstituição de uma era específica de Hollywood, diferente das presentes no velho oeste de Django e Hateful Eight e da Europa na II Guerra de Bastardos Inglórios, é tão mais cuidadosa (e até artística), demonstra um sentimento de admiração e de nostalgia tão mais sinceros (e com uma carga mais atenuada do costumeiro cinismo), que fica difícil não perceber que este é um Tarantino especial.
Talvez a maior virtude do filme, seja sua unidade consistir em (diferente de outras produções suas) fazer com que tanto as atuações do elenco, o apuro visual e a direção de arte, e o carinho explícito no roteiro, tudo isso junto servir como uma declaração de fã a um certo período da história de Hollywood em formato de audiovisual. Nesse sentido, mesmo tendo presentes elementos comuns a outros filmes seus, a coesão desses elementos aqui parece muito maior, e o resultado, agradavelmente mais homogêneo e de mais fácil digestão que o normal da casa.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraEmbora a premissa da trama seja algo resumível em uma linha, e por ser um filme de guerra, não apresente nada em termos de roteiro que já não tenha sido visto em dezenas de outros filmes a retratarem a mais terrível das experiências humanas, o grande mérito desse filme -o que realmente o transforma em uma obra digna de figurar nos anais do cinema- não reside no quê, nem no porquê, mas no COMO.
Sam Mendes ao capitanear essa produção, demonstra com uma técnica refinada comparável à de um artesão experiente e a minuciosidade de um maestro virtuoso, ter sido capaz de montar uma sinfonia visual que pode ser vista, sem exagero, como uma obra de arte. 1917 é algo estupefaciente, chocante e ao mesmo tempo horripilantemente belo, como se estivéssemos em uma realidade paralela onde a Guernica de Pablo Picasso fosse um filme, e não uma pintura.
Há muitas questões técnicas, visuais e cinematográficas que poderiam fazer com que um comentário a respeito desse filme se estendesse por parágrafos e mais parágrafos. Só que para um comentário curto em uma rede social de aficionados por filmes como essa, basta dizer que pouquíssimas vezes na história do audiovisual os conceitos de "beleza", "humanidade" e "guerra" conseguiram se aproximar com tanta honestidade quanto neste filme. Uma verdadeira tour de force, uma verdadeira EXPERIÊNCIA cinematográfica que merece mais que ser vista... merece ser absorvida, em toda a sua absoluta grandiloquência técnica, em toda sua exposição crua e honesta dos espectros sombrios e trágicos da guerra.
Um filme pra entrar para a história.
Apenas uma pequeno detalhe separa esse filme da mais absoluta perfeição...
depois de cortar no arame farpado, enfiar na lama, enfiar em um cadáver podre que estava sendo comido por ratos, enfaixar com um pano, e nadar em rios, deixando com a umidade perfeita e escuro e quentinho pras bactérias fazerem a festa, aquela mão ferida do Cabo Scofield devia ter chegado do tamanho de uma melancia no final do filme! Haja antibiótico pra segurar essa onda, malandro!
Mas ainda assim, brincadeiras à parte, uma obra e tanto!
Entre Realidades
2.9 307 Assista AgoraNão entendi por que fazer um filme sobre uma "mulher socialmente estranha", se basta entrar no Twitter pra ter uma overdose do tema.
O Limite da Traição
3.2 596Um insulto à inteligência de quem assiste a cada 10 minutos. Péssimas premissas pra construir uma história, e um roteiro que passa o resto do filme tentando consertar isso,sem conseguir.
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraSe, e apenas se, esse filme for visto como um filme baseado em um livro do Stephen King, que por acaso é uma sequência da história iniciada em outro livro do mesmo autor, e não como uma heresia contra o sacrossanto filme de um sacrossanto diretor com todas as comparações e rants que decorrem da condição de fã irracional cujo estado emocional eclipsa completamente o cérebro, é possível perceber que fizeram um filme bem legal aqui.
Independente de quem esteja por trás do projeto, e independente de ser série de TV ou filme, já foi provado e comprovado que adaptar os escritos de King para o audiovisual é uma tarefa melindrosa. Grandes nomes falham, pequenos nomes também. Na maioria das vezes fica ruim, uma vez ou outra sai um negócio bom.
E Doutor Sono é um desses casos onde se você entra com o coração aberto e a cabeça livre de purismos, acaba sendo premiado com uma experiência positiva, um trabalho bem cuidado e uma adaptação que ao mesmo tempo respeita a obra original e a inteligência de quem assiste.
Detroit, a Cidade do Rock
4.0 550 Assista AgoraQuando você assiste o filme já adulto, algumas falhas acabam aparecendo um pouco mais irritantes, perceptíveis e evitáveis do que quando assistido na adolescência/juventude. Só que ainda assim, é um filme querido. Ele funciona como um tributo para o Kiss (e através de sua excelente trilha sonora, com sucessos de outras bandas também) para a cena do rock pesado do fim dos 70/início dos 80s exatamente como "Febre de Juventude" de Reobert Zemeckis funcionou para a beatlemania nos 60s.
O tom de puro amor de fã que transborda em todos os cantos do filme consegue fazer com que mesmo nos momentos mais bobos e mais clichê de comédia adolescente, o filme funcione melhor até do que deveria. O elenco em perfeita sintonia, com participações de veteranos talentosíssimos como Lin Shaye e novatos que ainda iriam dar muito o que falar (Melanie Lynskey, adorável) e pontas bem escolhidas acabam por fazer o filme render ao máximo. É como muitas das letras do KISS: uma bobagem se você for ver bem, mas olha, como funciona na hora que começa a tocar. Puro rock'n roll.
Joias Brutas
3.7 1,1K Assista AgoraEste filme não só por seu tema, mas também pelo zeitgeist impresso em praticamente todos os seus aspectos, poderia muito bem ser um segmento adicional do consagrado Réquiem For a Dream de Darren Aronofsky.
O clima, o sentimento e o senso de urgência cada vez mais gritantes gritam vício o tempo todo. O tom extrapola o simples cautionary tale ou a mera lição de moral... já começa de um ponto em que mostra o caldo entornado, o ponto limite ultrapassado. Não é uma história sobre um cara que vai fazer uma merda grande na vida se não tomar jeito. É sobre um cara para o qual não existe jeito algum, que já fez a merda grande e tudo que você assiste é o curto trajeto entre a merda feita e a consequência inexorável do fato.
Um filme muito bem atuado, dirigido com uma elegância e arte ímpares, mas que não agradará a todos os paladares. Pode deixar facilmente algumas almas mais suscetíveis bem mal de cabeça. Mas ainda assim é um filme relevante, que mostra um Adam Sandler esbanjando talento, algo que muitos gostariam de ver com mais frequência.
Os Aeronautas
3.6 117 Assista AgoraTrata-se de um dos filmes com o melhor tratamento visual que vi nos últimos tempos. Um primor em fotografia, direção de arte, e cinematografia. Só que tem um porém. Um porém enorme. Um porém do tamanho de um balão a gás, com cestinha e tudo.
Ao fazer um filme que retratasse as aventuras de James Glashier (um cientista real, transformado no filme em um mero nerd, covardão, desajeitado, inseguro e ridicularizado) e Amelia Wren, uma aeronauta circense/socialite/cientista/milionária, quase uma Tony Stark do século XIX, que perdeu o marido também aeronauta em um acidente de balão,uma injustiça histórica é feita.
O filme omite não só a existência do parceiro de pesquisas de Glashier, o também cientista Henry Tracy Coxwell, como também omite a importância de Glashier, um pioneiro dos primórdios do estudo da meterologia, que ao realizar 28 vôos experimentais entre os anos de 1862 e 1866, conseguiu através dos seus estudos (e sem nenhuma versão vitoriana da Lara Croft dando cambalhotas por cima do balão), transformar uma ideia inicialmente ridicularizada em um ramo real, relevante e respeitado da ciência.
Ao tentar fazer um revisionismo histórico canhestro,o filme causa um estranhamento não por fazer algo que o cinema já fez várias vezes (com qualidade, intenções e resultados variáveis), mas pela maneira covarde com que o faz. Ao invés de ter a coragem de ao menos fazer o revisionismo de maneira crítica, militante ou ideologicamente motivada, porém admitindo claramente que o faz, criando uma história do tipo realidade paralela ou deixando claro que se trata de uma alegoria pretendendo o resultado desejado, o que acontece é um escamoteamento totalmente fake da história real, onde um dos personagens reais é diminuído e outro é sumariamente eliminado, para a inclusão de uma personagem fictícia que passa a ser o "deus ex machina" supremo da trama. E o tempo todo tenta-se vender malandramente a trama como algo bem próximo da realidade, quando não é o caso.
Sem contar com o fato de que a forma como escreveram a personagem principal tem muito mais a ver com um wishful thinking-fetiche da juventude de hoje e nada, absolutamente nada a ver com a realidade da época, nem mesmo com a realidade das personagens pioneiras que a produção alega ter se utilizado para inspirá-la. Tivessem realmente tentado se inspirar nas heroínas do passado, e não fazer média e proselitismo com as fantasias revolucionárias-fake de uma parcela iludida e adestrada do público atual, mesmo a presença dessa personagem fictícia poderia ter se tornado um ponto a honrar o filme, e não algo que fizesse com que ele parecesse o engodo que é.
Uma pena. Um filme tão belo tecnicamente merecia um roteiro e intenções menos proselitistas por trás de sua produção.
Quem com Ferro Fere
3.5 130 Assista AgoraUm drama extremamente bem dirigido, mais uma pequena joia da produção espanhola. Como tem dado gosto de ver essa gente fazendo cinema: filmes de nível internacional, temáticas universais, simples e poderosos.
Uma baita atuação de Luis Tosar, uma história forte, com uma trama bem contada, bem desenvolvida e altamente verdadeira sobre as escolhas (de merda) que fazemos na vida e o quanto elas afetam não apenas a nós (como gostam de pensar os de mente curta) mas também aqueles a quem amamos e que dependem de nós.
Em uma espiral de fechamento e consequências, o filme por mais desconfortável que seja em alguns momentos, prende justamente por jogar na cara do espectador a verdade sobre a vida: ela é dura, feia e vai te bater forte. Você tem, obrigatoriamente que aprender a desviar das porradas que ela vai te dar. Se recusar-se a isso, só vai sofrer mais do que os que aprendem. E ponto final.
Que pena que dá do Mario. Que raiva que dá do irmão drogado que iniciou todo o turbilhão de merda na vida de toda a família. E que cena final mais triste!
É um filme duro, mas também é um cautionary tale como poucos que já vi, e só por isso já vale e muito, pra quem tiver olhos pra ver e coração pra absorver a lição.
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraDarren Aronofsky é um dos meus diretores prediletos. E não digo isso como fã irracional, daquele tipo que submete sua admiração de maneira tão incondicional que é capaz de se apaixonar até pelo produto que seu ídolo deixar no vaso sanitário. No caso de Aronofsky sou um admirador profundo de sua capacidade de traduzir sentimentos na tela de uma maneira que outros diretores não conseguem. E essa capacidade, por mais que advenha da sua habilidade profissional, é algo que vai conquistar mais a minha atenção em algumas de suas obras, e menos em outras. Enquanto O Lutador, Cisne Negro e o (até o momento, para mim) insuperável Réquiem para um sonho ficam no lado das obras que tornaram Aronofsky um dos diretores a quem mais admiro,
Este Mãe se junta a Fonte da Vida e Noé no campo dos filmes que me cativaram menos no conjunto da obra Aronofskiana. Longe de ser um filme ruim (assim como os outros dois citados). Mas ao mesmo tempo me passou o tempo todo uma sensação incômoda de que era um filme que se esforçava demais pra ser melhor do que realmente era. Acabou não sendo um filme tão bom pra mim.
Midway: Batalha em Alto Mar
3.3 187 Assista AgoraTalvez a maior virtude deste filme seja sua vocação para funcionar como uma retratação honesta de um momento histórico. Ao deixar a trama e falar mais alto do que o drama pessoal dos personagens-chave (embora o drama esteja lá), Midway acerta onde Pearl Harbor errou. Por mais que os personagens que conduzem a trama sejam fundamentais para o entendimento do panorama da batalha, é a batalha em si o personagem principal e em momento algum o roteiro permite que esse fato seja colocado em dúvida.
Não é um filme perfeito, principalmente no quesito do desempenho do elenco, que ao mesmo tempo tem uma dupla Woody Harrelson e Dennis Quaid matando a pau, um Patrick Wilson competente como sempre, tem também o Luke Evans pouco entregue ao papel, Ed Skrein se limitando a fazer caretas na maior parte do tempo, e um monte de garotos genéricos fazendo o papel de artilheiros nos aviões como se estivessem entediados jogando videogame na sala de casa, e não em uma porra de batalha aérea tomando chumbo dos zeros japoneses. Teve um lá que nem a cara que ele faz na hora em que tem que berrar ficou convincente. O grito pareceu terrivelmente dublado, pois a expressão do rosto não coincidia em nada com o som. Vergonhoso.
No fim, salva o filme o senso de continuidade da história, a evolução da batalha com o vai-e-vem das informações, o jogo de gato e rato entre as frotas navais e a forma com que o filme vai levando o espectador através das etapas até os confrontos. Nisso, a boa tecnologia dos efeitos especiais tem um papel fundamental, pois o filme e visualmente fantástico, fazendo quem assiste se transportar para dentro do angustiante ambiente da batalha com uma acuidade e atmosfera comparável a de algumas cenas de Resgate do Soldado Ryan e Corações de Ferro.
Não é um filme perfeito, mas tem valores. Digamos que sai vivo da batalha, com uma sequela aqui ou ali mas sai. E ganha uma condecoração por bravura.