Um filme delicioso de assistir tanto quanto fácil de esquecer, pela ausência de uma ideia, um conceito, uma filosofia. De que adianta atirar para todos os lados, jogar no ventilador, espirrar para todos os lados – se a ideia em si não existe? Obviamente, Goldthwait é apaixonado por seus protagonistas – os anti-heróis inspirados em Bonnie e Clyde, que como um rodiemovie, saem tocando o terror pelo país, culpando a sociedade pela estupidez da humanidade, a forma com que emburrecemos pelas correntes que, invisivelmente são postas, nos impedindo de pensar. Beira o anárquico, mas na verdade, até os anárquicos são, literalmente, fuzilados no filme. Como o filme se isenta de ter uma ideia, de existir uma cabeça autoral, que defende um ponto de vista – o jeito é assistir o filme e se divertir com as coisas que estão inexplicavelmente corrompidas no mundo. O filme não faz julgamento dessas pessoas. Ele apenas as mata, para se divertir – de forma quase terapêutica.
Impressiona a forma que o filme consegue dissociar completamente os paradigmas que um filme de luta desperta nos espectadores, fazendo com o que inicialmente parece um filme bruto, daqueles ditos “machão”, na verdade ser uma sensível obra de reintegração de uma família desmoronada por diversos problemas que afligem não lutares, mas seres humanos em todas as áreas de atividades. Além de ter esse cuidado trabalhoso em ser humanamente enriquecedor, a estruturação e a montagem de sua narrativa são bastante complexas – pois precisa apresentar duas histórias paralelas (os dois irmãos), introduzir o elemento que irá conectá-los com o mesma intensidade das duas histórias (aqui no caso é o pai), e após tudo isso, precisa fazer com que esses três pilares se unifiquem criando dessa forma uma obra uniforme, com a profundidade e a vibração distribuída integralmente e linearmente para cada uma dessa camadas. Não diria que o filme é perfeito (não gosto quando ele cai em valas comuns e armadilhas básicas do gênero, como as narrações entusiásticas das lutas para descrever algumas sensações que são facilmente percebidas), mas entregou muito mais do que o prometido.
Não é necessário pensar muito para perceber que de cinema “E aí... comeu?” não tem quase nada. Estruturado como um episódio de seriado pior editado (e assim, mais longo e desnecessário), o que temos aqui é novamente a Globo Filmes levando televisão e passando nas telas do cinema. É possível rir de algumas piadas? Sem dúvida. A forma escrachada que assuntos corriqueiros são expostos na tela através dos diálogos dos amigos no bar, funcionam como sketch, que é muito mais adequado para televisão. De resto, personagens rasos, chatos, que podem ser descritos com meia-palavra e será feita justiça a eles. Os coadjuvantes são inexplicáveis (as garotas do bar não fazem sentido enquanto narrativa), e todas as subtramas (é a única coisa que ele tem, o que ainda mais o caracteriza como televisão) são previsíveis e manjadas.
Nítido como foi desnecessário dividir o último livro em dois filmes. E quem mais saiu prejudicado foi esse quarto filme, que sofre para criar/inventar uma “subnarrativa” (afinal ele precisa ser elementar e fundamental dentro da história que vem sendo contada) que tenha um clímax convincente, sem parecer meramente introdutório. A própria autora do livro tem o hábito de enrolar e encher de subterfúgios suas histórias (cheguei a ler o primeiro livro e parei nele mesmo, já que a autora demora 200 páginas em introdução, e com um terço do livro usa para criar a trama e encerrá-la), e Bill Condon entrou na roubada de precisar ser fiel na adaptação (nem precisa ter lido o livro para saber, uma vez que é uma série com fãs xiitas), e seu filme é um vácuo, sua linha de tempo corre sem emoções, sem uma trama, sem nada. Parece que tudo que vai acontecer ficou para o segundo filme, onde finalmente será apresentada realmente a história de “Amanhecer”. Fazer um filme de duas horas para encerrar um triângulo amoroso que nunca existiu, e mais, colocar o lobo quase como protagonista – é um vazio existencial enorme, e um caminho que coloca esse como o pior da série.
Apesar de ser muito bem bancado e contar com astros do primeiro time de Hollywood, o filme é tipicamente um (aspirante a) cinema independente. O eixo narrativo é uma família em ruínas (temática padronizada que parece inerente a esquisitices como alívio cômico) – sendo o pai e o filho, protagonistas de duas linhas paralelas de narrativas. Esse, certamente, é um dos problemas do filme – a falta de entrosamento entre as duas coisas, quebra o ritmo, o que acaba deixando duas narrativas capengas, que soam quase como episódicas, beirando o folhetim. No final, fica discutível se toda a parte do garoto era necessária – talvez, focar o filme em Gibson e seu castor e (apesar de usual) usar os coadjuvantes dando-lhe suporte, fosse uma solução mais plausível, do que abrir duas narrativas que caminham para direções opostas, e depois tenta criar a conexão. Pela falta de interesse nesse vai e vem entre as histórias (sendo a do rapaz muito pior), as chances de o filme funcionar como sonífero são grandes.
Tem-se dito muito ser um Woody Allen preguiçoso, feito mais pela obrigação, do que pela inspiração. E existe um pouco de verdade nisso. Na contramão de “Meia Noite em Paris”, a narrativa fantasiosa soa gratuita (sou um adorador de seus filmes mais fantasiosos, vide que meu filme favorito dele é “A Rosa Púrpura do Cairo”), e seu discurso é muito enfraquecido – só ganhando um elo ao final, com a necessidade de uma narração em off que, tenta forçadamente, justificar a existência e uma uniformidade conceitual das narrativas, e logo, a do próprio filme. Adorar o filme com essa amarra frouxa parece injustificável, ainda mais por este ser um dos filmes mais longos do diretor – e onde ele tem a maior dificuldade em exportar para as telas o que realmente está em sua cabeça. Por outro lado, a capacidade textual do diretor na construção de diálogos, continua impagável e sendo a sua maior virtude. Também vale ver o filme por depois de tanto tempo, voltarmos a ter Allen atuando, em mais um de seus personagens neuróticos, cheio de fobias e convicções críticas. A sensação é que se o filme fosse um alongamento do núcleo de seu personagem, que iria se cruzando com as demais histórias – “Para Roma com Amor” teria grandes chances de se alocar junto a suas obras-primas. Do jeito que ficou, entra no grupo de seus filmes bons, mas esquecíveis.
As filmagens parecem ter sido muito divertidas pela descontração e afinação do elenco, aliados as inusitadas cenas que tiveram que gravar. Paul Rudd rende momentos engraçados, sendo o filme é muito mais dele do que da Aniston. Mas é difícil salvá-lo do vazio de ideias, com um discurso confuso, e pior, vende-se tão anarquicamente, e no fundo, não passa de um enlatado pra lá de ultraconservador. O filme coloca um casal ambicioso (e fracassado) que acaba encontrando em uma comunidade alternativa, a forma de finalmente ter a paz espiritual, além do sossego das pressões sociais que o mundo urbano promove. Sua intenção não é criar um debate sobre o tema, não é fazer um ensaio construtivo, ou sequer, desenvolver uma crítica social comportamental – mas sim, contar uma história, enxugando ideias, pensamentos, discussões, e deixando somente a narrativa órfã de profundidade. Nessas condições, caberia muito melhor como um seriado de televisão – do que uma arte como cinema.
Em uma série que já teve filmes comandados por mestres como Brian De Palma e John Woo, é bastante significativo para Brad Bird ter conseguido fazer um filme tão digno como este, que diferente do terceiro filme da franquia, revive o clima de ação desenfreada (que nos remete muito mais ao filme do John Woo, que foi o melhor), e deixa em segundo plano o papo furado evasivo e inócuo que só enche a paciência do espectador – ficando à altura dos dois primeiros da franquia. Com emblemáticas cenas de abertura (a introdução à trama do filme com um misterioso assassinato até a introdução do personagem Ethan Hunt), o filme mantém o fôlego de maneira consistente, sendo muito auxiliado por personagens secundários que dão o suporte necessário, desde o complemento estilístico que Jeremy Renner dá para as cenas de ação ao lado de Cruise, até o alívio cômico (sem ser imbecil) oferecido por Simon Pegg. Um time que funcionou – e muito bem.
Segue uma linha narrativa bastante semelhante a dos esquilinhos do Alvin, agregando somente o aspecto nostálgico que desperta na geração setentista/oitentista. O fato de este funcionar muito melhor, é que além de ter personagens muito mais interessantes e melhor explorados (através inclusive das características que lhe fornecem o nome), aqui não existem interrupções inexplicáveis na trama para um “showzinho” particular das criaturinhas fofinhas. Enxuga completamente as inutilidades que travam os filmes dos esquilos, e nesse tempo/brecha, aproveita para dar alguma essência a suas ideias e sua previsível e calculada lição de moral no final. É agradável ver um filme que assume, sem ter vergonha do que é, ser um filme infantil – sem ofender a inteligência de um público mais maduro.
Após uma leva de blockbusters que com unhas e dentes defendiam a ideia de “o importante é divertir” ou “o cinema é passatempo” (pode colocar no pacote desde “Os Vingadores” até “Jogos Vorazes”), e burocraticamente se sustentavam nessa fácil zona de conforto e conformismo, precisamos de Ridley Scott para finalmente nos brindar com um filme pop comercial, que sim, é pura diversão, um passatempo claro e evidente, um cinema “business” (tanto quanto os outros), mas que acerta ao encontrar no estímulo a reflexão (dar corda em pensamentos, trabalhar conceitos e ideias), a forma de diversão. Uma clara demonstração de como é possível, e até mesmo fácil, criar um blockbuster puramente comercial, sem pagar pose de sisudo, rabugento, ortodoxamente capenga, para maquiar a fragilidade de sua concepção autoral. Sem vergonha de ser um instrumento comercial para fabricar mais dinheiro, “Prometheus” é uma diversão superficial, um fast-food plastificado, artificial, forjado, que funciona por exercitar, ainda que levemente, nossa mente e raciocínio em suas duas horas de projeção.
Por mais confuso que pode parecer o filme em suas ideias e até onde ele quer nos levar, só pelos sentimentos conflituosos que ele desperta no espectador, já o torna uma obra interessante. Difícil ter partido, quando tudo o que nos faz sentir, se contradiz emocionalmente. Roubar é crime, é errado. Não dá para discutir, contra argumentar, ou tentar colocar barreiras para justificar. Mas por outro lado, não deixar irmãos abandonados morrerem de fome, e mais, dar educação para eles, também é, certamente, correto – e mais, é altruísta, é nobre. Estamos em dois lados, e o debate é constante – sem julgar os personagens e suas atitudes, colocando todos os elementos em discussão (talvez até de uma forma primária, mas é difícil ver uma forma diferente de inserir o debate dentro da narrativa).
Um dos piores diretores em atividade, nascido do cinema de horror (com o constrangedor “No cair da noite” e execrável “O Massacra da Serra Elétrica – O Início”), comete uma atrocidade para continuar um filme que sequer merecia existir. Não vejo problema algum em não seguir fielmente a história, rever pontos de vistas, reavaliar personagens – mas é duro aguentar uma lenga-lenga que desesperadamente tenta empurrar cenas de ação, que sequer conseguem divertir. Amplia a angulação para dar sinal de grandeza, o que evidencia ainda mais sua precariedade visual, sua pobreza em conceber imagens impactantes, ou criar paixão por aquele Universo retratado. A grandeza fica somente na mente de quem criou essa franquia, que no fundo, não passa de um protótipo de filme de ação – aonde colocaram saia nos personagens, para tentar disfarçar sua dificuldade em conseguir contar uma história e desenvolver seus personagens.
Se cinema vivesse de boas intenções, essa “dramédia” protagonizada por um decadente Murphy mereceria todas as estrelas do mundo. A forma com que tenta pegar todo seu passado de comédias ridiculamente sujas e esdrúxulas recentes para se dedicar a um filme pontualmente edificante, redentor, que quer gerar “bons sentimentos”, já torna o filme no mínimo, merecedor de ser visto. Só pela tentativa. Dar uma nova chance para alguém que afundou a carreira por perder o tom da comédia, errar na medida do humor, não por ser humor burro, fácil, infantil, mas por tentar ser um negócio de rir de si mesmo, sem criar um riso sequer. “As Mil Palavras” é tão redondinho, bonitinho, e todos os “inhos”, que de tantos diminutivos, essa característica acaba se tornando pejorativa. É, definitivamente, um filme acomodado, preguiçoso, desarticulado, e nada engraçado. Mas é bem intencionado, pena que isso, não é, nem de longe, o suficiente para que se faça um bom filme.
O inusitado do título somado à irreverência, graça e esperteza que sugere, expõe nitidamente um filme que nunca chega ao lugar almejado. O humor cinicamente britânico não é suficiente para sustentar uma obra que tenta criar uma trama conceitual e atmosfericamente suja, que falha pelo mais básico que propõe: ser “gore”, ser engraçado, ser provocante, ser ousado. Um filme que viveu de suas promessas, e morreu sem cumpri-las - além de ser entediante.
A Hasbro adotou um estilo padronizado, no mínimo, desinteressante. Os roteiros são superlotados de papos cientificamente evasivos, inócuos – e perde-se muito tempo tentando dar substancialidade aonde não existe. E dessa forma, ao invés de investir seu tempo dentro do que realmente é, joga fora sendo naquilo que não é e nunca será. E no meio do caminho, surge à barulheira, a sujeira, a narrativa insustentável e inconstante. Os conflitos são risíveis, para não dizer vergonhosos – tamanha a precariedade que são desenvolvidos. O “ninja branco” e o “ninja negro” exemplificam bem a forma rasteira e constrangedora que o filme finge estar tentando desenvolvê-los – de que adianta, se nunca iremos nos importar realmente com eles? Pode pegar os flashbacks e jogar no lixo.
Bastante curioso Schwimmer abandonar completamente sua veia cômica e abraçar seguidamente um tema tão espinhoso como o deste filme, que coloca pais em situação de descontrole emocional e mental, após a filha sofrer um “estupro consciente” de um cara 20 anos mais velho que ela (ela tem 14 e ele aproximadamente 35 anos). Para um filme que exige tanta atenção para ser feito (afinal, falhar com temas importantes e polêmicos é corriqueiro, já que autores inseguros costumam se esconder por trás deles), surpreende a condução do diretor, apesar de constantemente perambular por uma tênue linha que o separa da banalidade, do descuido, principalmente quando precisa aprofundar na mente do pai – que quase descamba para um suspense semi-infantil. Existe um sutil problema na personagem da mãe, que é praticamente ignorada como um personagem real, cru e verdadeiro, para ser meramente um instrumento narrativo para “despertar” consciência nos personagens com seus discursos concisos, inflamados e racionais demais; isso a afasta da trama crível, e nos lembra, que estamos simplesmente diante de uma invenção, uma narrativa esquemática, um projeto estrategicamente quadrado. Isso não necessariamente é um problema, mas considerando que é um filme pautado por realismo, atualidade, com um tema importante e contemporâneo, isso atrapalha a encarar aquilo como algo “verdadeiro”. E nem mesmo a gravação amadora documental do final ajuda a aliviar esse percalço.
Chega a ser curiosa à forma que divaga pelas ideias, como um devaneio incessante. É difícil olhar para o filme e ver onde ele não se encaixa, seja como alegoria política (de países ditatoriais e fechados), como uma crítica social (em que pais se acham melhores condicionados a educar seus filhos perante um mundo moralmente descrente e capenga), e até mesmo, a alienação causada pelo desconhecido. Os pais – ou diria “o pai” – repreendem seus filhos a acreditarem que “lá fora” existe um mundo muito perigoso, privando-os de contato com qualquer elemento do “mundo exterior”. O único que pode sair de lá é o pai, pois conceitualmente, ele teve a queda de seu dente canino e o crescimento do mesmo – o que lhe dá o direito de conduzir um carro. Dessa forma, os filhos – que giram em torno dos 20 e poucos anos – tem até mesmo distorções nas convenções de comunicação, já que algumas palavras consideradas “torpes” pelos pais, ganham novos significados (zumbi, por exemplo, vira planta amarela pequena). A televisão serve apenas para passar vídeos gravados pela própria família, representando o êxtase do entretenimento deles. Apesar dessa educação restritiva, os pais não conseguem conter instintos – e trazem do mundo exterior uma pessoa para se relacionar sexualmente com o garoto. E aqui começam os problemas, uma vez que explorando a ingenuidade das “crianças”, a moça começa a, sutilmente, alimentar novas ideias e atitudes maliciosas nos mesmos – dotando-lhes de chantagem, perspicácia para barganha, além de promover contato com coisas do mundo exterior, como filmes do Bruce Lee e o filme Rocky, que mexe com a mente da filha mais velha. Ora o filme pode parecer frio demais, beirando a atuações robóticas, e isso faz parte de todo o cenário montado – afinal, estamos diante de pessoas problematicamente perturbadas com a violência do mundo, e dessa forma, agem inconsequentemente. Creio que o grande acerto de Lanthimos é fazer um filme que não acaba quando os créditos finais aparecem nas telas, já que de as minúcias de seus detalhes, viram um desafio constante, deixando-o como forma de enigma em nossa mente. Uma virtude rara.
Sabe-se lá o que as pessoas viram nas histórias desses esquilos de vozes estridentes, que ardem aos nossos ouvidos, e são muitos, para pouca coisa. São seis esquilos que se você enxugar para dois, melhoraria. E os números musicais, descontextualizados, celebram a futilidade e promove a incultura, quase tachando aqueles que o assiste, de estúpidos. Usa a fórmula de pegar um hit de sucesso de qualquer celebridade instantânea, e sem se preocupar e ser condizente, vomita um cover interpretado pelos esquilos. Poderia falar qualquer coisa sobre a trama aqui, se ela existisse. Tão inútil quanto insignificante.
Difícil não tomar gosto pela ambiguidade que o enredo propõe, ao nos fazer conflitar com uma dura realidade: ao não acreditar no papai Noel, as pessoas invariavelmente, deixaram de acreditar no natal. O presente, neste caso, representa um estado de espírito, ou o que chamamos de clima natalino. Deixar uma pessoa que seja sem essa sensação, esse gostinho tão apreciável, tão delicioso, é um erro imperante mesmo que outras bilhões de pessoas tenham tido esse benefício. É a constante luta pelo indivíduo, sem alocá-lo, confortavelmente, dentro da massa. É um pensamento socialmente cabível para quaisquer aspectos. Imagine se dentro de um naufrágio, várias pessoas são salvas, e uma que seja, perdida – hoje estamos anestesiados em imaginar que muitas vidas foram salvas, mas não pensamos no ser individual perdido. E aqui existe esse resgate, a luta e a persistência por não deixar ninguém para trás. E o que tem a oferecer, é um sentimento nobre, um misto de alegria e cumplicidade – o dia em que somos aquilo que deveríamos ser todos os dias.
Uma lacuna. Um interlúdio entre dos momentos tão distintos, a dor e a aceitação. Lazhar aparece no momento do vácuo, da dúvida – alguns abandonam, outros preferem deixar o tema como tabu, outros condenam, outros julgam, e alguns precisam desesperadamente falar, serem escutados – sentem-se violentados pela dor e pela culpa. E nesse misto de insegurança com a certeza teórica pedagógica, uma turma, e particularmente, dois amigos (uma garota e um garoto), que dentro de seu Universo infantil, parecem saber a motivação do ato cometido pela professora. Com esses três personagens, cria-se a rede de relacionamento, onde os diálogos são peças fundamentais para a compreensão das ideias que o autor transporta para a tela. Com uma direção muito segura, que prima pela coesão, sutileza e toques singelos, a obra nos leva a reflexões políticas, humanas e comportamentais.
A saída de Oplev e a escalação de Daniel Alfredson melhorou muito a franquia sueca de Millennium, mesmo tendo em mãos um material inferior ao do primeiro livro do genial Stieg Larsson. Ainda que conte com um apático e insosso Mikael Blomqvist e tenha uma trama que se dissolve na tela com tamanha facilidade que é comumente confundível com qualquer filme meia-boca de ação feito para televisão, a tranquilidade em não fazer um filme tão acelerado, faz o filme de Alfredson chegar com mais profundidade no ponto central da discussão, e na engajada discussão da rede de tráfico humano que assola a Europa. Lisbeth continua a sobrar nas telas perante os demais, mas o filme nunca tem a coragem de assumi-la realmente como protagonista, numa clara demonstração de falta de coragem na adaptação, feita de forma engessada (o ponto que a versão americana do primeiro livro é uma aula). Ainda assim, por ser um complexo material que trabalha com um elemento chave - que é um misterioso segredo, Daniel Alfredson conseguiu dar um pouco mais de dignidade a adaptação, limpando melhor as imagens, lapidando melhor a trama, e ainda tendo um esmero visual mais apurado.
As influencias carpentianas estão constantemente em evidencia no mostro criado pelo estreante, e jovem, Srdjan Spasojevic. Desde sua trilha oriunda dos anos oitenta, seu protagonista que figura como um anti-herói e sua forma de utilizar o terror, visual e psicológico, para criar uma alegoria política e social. O problema é que toda sua contextualização sociológica é subexposta em prol de sua elevação gráfica e tenebrosa. A lógica racional é tortuosamente destorcida nesse polêmico trabalho, pois parece que suas cenas nasceram antes de suas ideias, ou seja, antes de saber o que falar o filme constituiu elementos, e depois, encaixou-os em seu discurso – numa clara inversão de objetividade, pois a forma tática de falar nasceu antes de o que falar. Algo gravemente falho e ordinariamente recorrente no cinema moderno;- algo menor ganha mais notoriedade com relevos, deixando em segundo plano sua verdadeira essência.
O filme não tem uma má ideia. Retratar com o recurso de gravação semidocumental, uma festança de jovens predatórios e autodestrutivos, em busca de reconhecimento, status social e sexo, revelando o poder que a pressão de aceitação impõe nas pessoas, que passam a tomar atitudes que não convém a vigor com suas identidades genuínas, e passam a exercer personagens, deixando de ser eles mesmos, para serem aceitos e obter benefícios por meio disso. O conceito está ali, e muitos diálogos servem para nos revelar, minuciosamente, essa relação, seja quando o pai está saindo de casa e diz para a mulher à impressão que tem sobre o filho e a conclusão, legitima, honesta e compreensiva, mas não a conivência e cumplicidade com a situação, numa clara relação entre responsabilidades, causas e consequências. O grande problema é que todo o restante, com exceção desses momentos que do total devem durar 3 minutos, é um grande oco – um vazio que confortavelmente não busca uma imersão essencial. Típico filme que teve uma boa ideia desenvolveu-a com as primeiras ideias que vieram à mente, sem nunca questioná-las profundamente.
Reunir um grande elenco para aplicar um golpe triunfal em algo/alguém é uma fórmula desgastada faz alguns anos, desde os tempos de “Onze Homens e um Segredo”, “Plano Perfeito” e “O assalto”. Cada filme carrega uma característica de acordo com seus autores, seja focando o glamour e a estilização da situação, o tom ácido e crítico, e também o jeitinho bem articulado e inteligentemente estratégico. O caso problemático desde filme acontece por ele não ter nenhuma característica predominante, ele é tudo, ao mesmo tempo em que não é nada. Tem uma ou outra cena desafiadora e que torna o filme envolvente em alguns momentos (a descida do carro por fora do prédio), mas insuficiente para ter um filme encorpado. Por mais que encha o filme de atores que são figurinhas carimbadas, é difícil dar-lhes relevância e importância para algo tão pré-fabricado, e nessa salada toda, é um filme nem sobre pessoas e nem com uma trama, minimamente, convincente.
Deus Abençoe a América
4.0 798Um filme delicioso de assistir tanto quanto fácil de esquecer, pela ausência de uma ideia, um conceito, uma filosofia. De que adianta atirar para todos os lados, jogar no ventilador, espirrar para todos os lados – se a ideia em si não existe? Obviamente, Goldthwait é apaixonado por seus protagonistas – os anti-heróis inspirados em Bonnie e Clyde, que como um rodiemovie, saem tocando o terror pelo país, culpando a sociedade pela estupidez da humanidade, a forma com que emburrecemos pelas correntes que, invisivelmente são postas, nos impedindo de pensar. Beira o anárquico, mas na verdade, até os anárquicos são, literalmente, fuzilados no filme. Como o filme se isenta de ter uma ideia, de existir uma cabeça autoral, que defende um ponto de vista – o jeito é assistir o filme e se divertir com as coisas que estão inexplicavelmente corrompidas no mundo. O filme não faz julgamento dessas pessoas. Ele apenas as mata, para se divertir – de forma quase terapêutica.
Guerreiro
4.0 919 Assista AgoraImpressiona a forma que o filme consegue dissociar completamente os paradigmas que um filme de luta desperta nos espectadores, fazendo com o que inicialmente parece um filme bruto, daqueles ditos “machão”, na verdade ser uma sensível obra de reintegração de uma família desmoronada por diversos problemas que afligem não lutares, mas seres humanos em todas as áreas de atividades. Além de ter esse cuidado trabalhoso em ser humanamente enriquecedor, a estruturação e a montagem de sua narrativa são bastante complexas – pois precisa apresentar duas histórias paralelas (os dois irmãos), introduzir o elemento que irá conectá-los com o mesma intensidade das duas histórias (aqui no caso é o pai), e após tudo isso, precisa fazer com que esses três pilares se unifiquem criando dessa forma uma obra uniforme, com a profundidade e a vibração distribuída integralmente e linearmente para cada uma dessa camadas. Não diria que o filme é perfeito (não gosto quando ele cai em valas comuns e armadilhas básicas do gênero, como as narrações entusiásticas das lutas para descrever algumas sensações que são facilmente percebidas), mas entregou muito mais do que o prometido.
E Aí... Comeu?
2.6 1,6KNão é necessário pensar muito para perceber que de cinema “E aí... comeu?” não tem quase nada. Estruturado como um episódio de seriado pior editado (e assim, mais longo e desnecessário), o que temos aqui é novamente a Globo Filmes levando televisão e passando nas telas do cinema. É possível rir de algumas piadas? Sem dúvida. A forma escrachada que assuntos corriqueiros são expostos na tela através dos diálogos dos amigos no bar, funcionam como sketch, que é muito mais adequado para televisão. De resto, personagens rasos, chatos, que podem ser descritos com meia-palavra e será feita justiça a eles. Os coadjuvantes são inexplicáveis (as garotas do bar não fazem sentido enquanto narrativa), e todas as subtramas (é a única coisa que ele tem, o que ainda mais o caracteriza como televisão) são previsíveis e manjadas.
A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 1
2.8 2,8K Assista AgoraNítido como foi desnecessário dividir o último livro em dois filmes. E quem mais saiu prejudicado foi esse quarto filme, que sofre para criar/inventar uma “subnarrativa” (afinal ele precisa ser elementar e fundamental dentro da história que vem sendo contada) que tenha um clímax convincente, sem parecer meramente introdutório. A própria autora do livro tem o hábito de enrolar e encher de subterfúgios suas histórias (cheguei a ler o primeiro livro e parei nele mesmo, já que a autora demora 200 páginas em introdução, e com um terço do livro usa para criar a trama e encerrá-la), e Bill Condon entrou na roubada de precisar ser fiel na adaptação (nem precisa ter lido o livro para saber, uma vez que é uma série com fãs xiitas), e seu filme é um vácuo, sua linha de tempo corre sem emoções, sem uma trama, sem nada. Parece que tudo que vai acontecer ficou para o segundo filme, onde finalmente será apresentada realmente a história de “Amanhecer”. Fazer um filme de duas horas para encerrar um triângulo amoroso que nunca existiu, e mais, colocar o lobo quase como protagonista – é um vazio existencial enorme, e um caminho que coloca esse como o pior da série.
Um Novo Despertar
3.5 517 Assista AgoraApesar de ser muito bem bancado e contar com astros do primeiro time de Hollywood, o filme é tipicamente um (aspirante a) cinema independente. O eixo narrativo é uma família em ruínas (temática padronizada que parece inerente a esquisitices como alívio cômico) – sendo o pai e o filho, protagonistas de duas linhas paralelas de narrativas. Esse, certamente, é um dos problemas do filme – a falta de entrosamento entre as duas coisas, quebra o ritmo, o que acaba deixando duas narrativas capengas, que soam quase como episódicas, beirando o folhetim. No final, fica discutível se toda a parte do garoto era necessária – talvez, focar o filme em Gibson e seu castor e (apesar de usual) usar os coadjuvantes dando-lhe suporte, fosse uma solução mais plausível, do que abrir duas narrativas que caminham para direções opostas, e depois tenta criar a conexão. Pela falta de interesse nesse vai e vem entre as histórias (sendo a do rapaz muito pior), as chances de o filme funcionar como sonífero são grandes.
Para Roma Com Amor
3.4 1,3K Assista AgoraTem-se dito muito ser um Woody Allen preguiçoso, feito mais pela obrigação, do que pela inspiração. E existe um pouco de verdade nisso. Na contramão de “Meia Noite em Paris”, a narrativa fantasiosa soa gratuita (sou um adorador de seus filmes mais fantasiosos, vide que meu filme favorito dele é “A Rosa Púrpura do Cairo”), e seu discurso é muito enfraquecido – só ganhando um elo ao final, com a necessidade de uma narração em off que, tenta forçadamente, justificar a existência e uma uniformidade conceitual das narrativas, e logo, a do próprio filme. Adorar o filme com essa amarra frouxa parece injustificável, ainda mais por este ser um dos filmes mais longos do diretor – e onde ele tem a maior dificuldade em exportar para as telas o que realmente está em sua cabeça. Por outro lado, a capacidade textual do diretor na construção de diálogos, continua impagável e sendo a sua maior virtude. Também vale ver o filme por depois de tanto tempo, voltarmos a ter Allen atuando, em mais um de seus personagens neuróticos, cheio de fobias e convicções críticas. A sensação é que se o filme fosse um alongamento do núcleo de seu personagem, que iria se cruzando com as demais histórias – “Para Roma com Amor” teria grandes chances de se alocar junto a suas obras-primas. Do jeito que ficou, entra no grupo de seus filmes bons, mas esquecíveis.
Viajar é Preciso
2.8 586 Assista AgoraAs filmagens parecem ter sido muito divertidas pela descontração e afinação do elenco, aliados as inusitadas cenas que tiveram que gravar. Paul Rudd rende momentos engraçados, sendo o filme é muito mais dele do que da Aniston. Mas é difícil salvá-lo do vazio de ideias, com um discurso confuso, e pior, vende-se tão anarquicamente, e no fundo, não passa de um enlatado pra lá de ultraconservador. O filme coloca um casal ambicioso (e fracassado) que acaba encontrando em uma comunidade alternativa, a forma de finalmente ter a paz espiritual, além do sossego das pressões sociais que o mundo urbano promove. Sua intenção não é criar um debate sobre o tema, não é fazer um ensaio construtivo, ou sequer, desenvolver uma crítica social comportamental – mas sim, contar uma história, enxugando ideias, pensamentos, discussões, e deixando somente a narrativa órfã de profundidade. Nessas condições, caberia muito melhor como um seriado de televisão – do que uma arte como cinema.
Missão: Impossível - Protocolo Fantasma
3.7 1,7K Assista AgoraEm uma série que já teve filmes comandados por mestres como Brian De Palma e John Woo, é bastante significativo para Brad Bird ter conseguido fazer um filme tão digno como este, que diferente do terceiro filme da franquia, revive o clima de ação desenfreada (que nos remete muito mais ao filme do John Woo, que foi o melhor), e deixa em segundo plano o papo furado evasivo e inócuo que só enche a paciência do espectador – ficando à altura dos dois primeiros da franquia. Com emblemáticas cenas de abertura (a introdução à trama do filme com um misterioso assassinato até a introdução do personagem Ethan Hunt), o filme mantém o fôlego de maneira consistente, sendo muito auxiliado por personagens secundários que dão o suporte necessário, desde o complemento estilístico que Jeremy Renner dá para as cenas de ação ao lado de Cruise, até o alívio cômico (sem ser imbecil) oferecido por Simon Pegg. Um time que funcionou – e muito bem.
Os Smurfs
3.1 1,4K Assista AgoraSegue uma linha narrativa bastante semelhante a dos esquilinhos do Alvin, agregando somente o aspecto nostálgico que desperta na geração setentista/oitentista. O fato de este funcionar muito melhor, é que além de ter personagens muito mais interessantes e melhor explorados (através inclusive das características que lhe fornecem o nome), aqui não existem interrupções inexplicáveis na trama para um “showzinho” particular das criaturinhas fofinhas. Enxuga completamente as inutilidades que travam os filmes dos esquilos, e nesse tempo/brecha, aproveita para dar alguma essência a suas ideias e sua previsível e calculada lição de moral no final. É agradável ver um filme que assume, sem ter vergonha do que é, ser um filme infantil – sem ofender a inteligência de um público mais maduro.
Prometheus
3.1 3,4K Assista AgoraApós uma leva de blockbusters que com unhas e dentes defendiam a ideia de “o importante é divertir” ou “o cinema é passatempo” (pode colocar no pacote desde “Os Vingadores” até “Jogos Vorazes”), e burocraticamente se sustentavam nessa fácil zona de conforto e conformismo, precisamos de Ridley Scott para finalmente nos brindar com um filme pop comercial, que sim, é pura diversão, um passatempo claro e evidente, um cinema “business” (tanto quanto os outros), mas que acerta ao encontrar no estímulo a reflexão (dar corda em pensamentos, trabalhar conceitos e ideias), a forma de diversão. Uma clara demonstração de como é possível, e até mesmo fácil, criar um blockbuster puramente comercial, sem pagar pose de sisudo, rabugento, ortodoxamente capenga, para maquiar a fragilidade de sua concepção autoral. Sem vergonha de ser um instrumento comercial para fabricar mais dinheiro, “Prometheus” é uma diversão superficial, um fast-food plastificado, artificial, forjado, que funciona por exercitar, ainda que levemente, nossa mente e raciocínio em suas duas horas de projeção.
As Neves do Kilimanjaro
3.9 65Por mais confuso que pode parecer o filme em suas ideias e até onde ele quer nos levar, só pelos sentimentos conflituosos que ele desperta no espectador, já o torna uma obra interessante. Difícil ter partido, quando tudo o que nos faz sentir, se contradiz emocionalmente. Roubar é crime, é errado. Não dá para discutir, contra argumentar, ou tentar colocar barreiras para justificar. Mas por outro lado, não deixar irmãos abandonados morrerem de fome, e mais, dar educação para eles, também é, certamente, correto – e mais, é altruísta, é nobre. Estamos em dois lados, e o debate é constante – sem julgar os personagens e suas atitudes, colocando todos os elementos em discussão (talvez até de uma forma primária, mas é difícil ver uma forma diferente de inserir o debate dentro da narrativa).
Fúria de Titãs 2
3.0 1,7K Assista AgoraUm dos piores diretores em atividade, nascido do cinema de horror (com o constrangedor “No cair da noite” e execrável “O Massacra da Serra Elétrica – O Início”), comete uma atrocidade para continuar um filme que sequer merecia existir. Não vejo problema algum em não seguir fielmente a história, rever pontos de vistas, reavaliar personagens – mas é duro aguentar uma lenga-lenga que desesperadamente tenta empurrar cenas de ação, que sequer conseguem divertir. Amplia a angulação para dar sinal de grandeza, o que evidencia ainda mais sua precariedade visual, sua pobreza em conceber imagens impactantes, ou criar paixão por aquele Universo retratado. A grandeza fica somente na mente de quem criou essa franquia, que no fundo, não passa de um protótipo de filme de ação – aonde colocaram saia nos personagens, para tentar disfarçar sua dificuldade em conseguir contar uma história e desenvolver seus personagens.
As Mil Palavras
3.1 703 Assista AgoraSe cinema vivesse de boas intenções, essa “dramédia” protagonizada por um decadente Murphy mereceria todas as estrelas do mundo. A forma com que tenta pegar todo seu passado de comédias ridiculamente sujas e esdrúxulas recentes para se dedicar a um filme pontualmente edificante, redentor, que quer gerar “bons sentimentos”, já torna o filme no mínimo, merecedor de ser visto. Só pela tentativa. Dar uma nova chance para alguém que afundou a carreira por perder o tom da comédia, errar na medida do humor, não por ser humor burro, fácil, infantil, mas por tentar ser um negócio de rir de si mesmo, sem criar um riso sequer. “As Mil Palavras” é tão redondinho, bonitinho, e todos os “inhos”, que de tantos diminutivos, essa característica acaba se tornando pejorativa. É, definitivamente, um filme acomodado, preguiçoso, desarticulado, e nada engraçado. Mas é bem intencionado, pena que isso, não é, nem de longe, o suficiente para que se faça um bom filme.
Matadores de Vampiras Lésbicas
2.0 899O inusitado do título somado à irreverência, graça e esperteza que sugere, expõe nitidamente um filme que nunca chega ao lugar almejado. O humor cinicamente britânico não é suficiente para sustentar uma obra que tenta criar uma trama conceitual e atmosfericamente suja, que falha pelo mais básico que propõe: ser “gore”, ser engraçado, ser provocante, ser ousado. Um filme que viveu de suas promessas, e morreu sem cumpri-las - além de ser entediante.
G.I. Joe: A Origem de Cobra
3.0 996 Assista AgoraA Hasbro adotou um estilo padronizado, no mínimo, desinteressante. Os roteiros são superlotados de papos cientificamente evasivos, inócuos – e perde-se muito tempo tentando dar substancialidade aonde não existe. E dessa forma, ao invés de investir seu tempo dentro do que realmente é, joga fora sendo naquilo que não é e nunca será. E no meio do caminho, surge à barulheira, a sujeira, a narrativa insustentável e inconstante. Os conflitos são risíveis, para não dizer vergonhosos – tamanha a precariedade que são desenvolvidos. O “ninja branco” e o “ninja negro” exemplificam bem a forma rasteira e constrangedora que o filme finge estar tentando desenvolvê-los – de que adianta, se nunca iremos nos importar realmente com eles? Pode pegar os flashbacks e jogar no lixo.
Confiar
3.4 1,8K Assista grátisBastante curioso Schwimmer abandonar completamente sua veia cômica e abraçar seguidamente um tema tão espinhoso como o deste filme, que coloca pais em situação de descontrole emocional e mental, após a filha sofrer um “estupro consciente” de um cara 20 anos mais velho que ela (ela tem 14 e ele aproximadamente 35 anos). Para um filme que exige tanta atenção para ser feito (afinal, falhar com temas importantes e polêmicos é corriqueiro, já que autores inseguros costumam se esconder por trás deles), surpreende a condução do diretor, apesar de constantemente perambular por uma tênue linha que o separa da banalidade, do descuido, principalmente quando precisa aprofundar na mente do pai – que quase descamba para um suspense semi-infantil. Existe um sutil problema na personagem da mãe, que é praticamente ignorada como um personagem real, cru e verdadeiro, para ser meramente um instrumento narrativo para “despertar” consciência nos personagens com seus discursos concisos, inflamados e racionais demais; isso a afasta da trama crível, e nos lembra, que estamos simplesmente diante de uma invenção, uma narrativa esquemática, um projeto estrategicamente quadrado. Isso não necessariamente é um problema, mas considerando que é um filme pautado por realismo, atualidade, com um tema importante e contemporâneo, isso atrapalha a encarar aquilo como algo “verdadeiro”. E nem mesmo a gravação amadora documental do final ajuda a aliviar esse percalço.
Dente Canino
3.8 1,2K Assista AgoraChega a ser curiosa à forma que divaga pelas ideias, como um devaneio incessante. É difícil olhar para o filme e ver onde ele não se encaixa, seja como alegoria política (de países ditatoriais e fechados), como uma crítica social (em que pais se acham melhores condicionados a educar seus filhos perante um mundo moralmente descrente e capenga), e até mesmo, a alienação causada pelo desconhecido. Os pais – ou diria “o pai” – repreendem seus filhos a acreditarem que “lá fora” existe um mundo muito perigoso, privando-os de contato com qualquer elemento do “mundo exterior”. O único que pode sair de lá é o pai, pois conceitualmente, ele teve a queda de seu dente canino e o crescimento do mesmo – o que lhe dá o direito de conduzir um carro. Dessa forma, os filhos – que giram em torno dos 20 e poucos anos – tem até mesmo distorções nas convenções de comunicação, já que algumas palavras consideradas “torpes” pelos pais, ganham novos significados (zumbi, por exemplo, vira planta amarela pequena). A televisão serve apenas para passar vídeos gravados pela própria família, representando o êxtase do entretenimento deles. Apesar dessa educação restritiva, os pais não conseguem conter instintos – e trazem do mundo exterior uma pessoa para se relacionar sexualmente com o garoto. E aqui começam os problemas, uma vez que explorando a ingenuidade das “crianças”, a moça começa a, sutilmente, alimentar novas ideias e atitudes maliciosas nos mesmos – dotando-lhes de chantagem, perspicácia para barganha, além de promover contato com coisas do mundo exterior, como filmes do Bruce Lee e o filme Rocky, que mexe com a mente da filha mais velha. Ora o filme pode parecer frio demais, beirando a atuações robóticas, e isso faz parte de todo o cenário montado – afinal, estamos diante de pessoas problematicamente perturbadas com a violência do mundo, e dessa forma, agem inconsequentemente. Creio que o grande acerto de Lanthimos é fazer um filme que não acaba quando os créditos finais aparecem nas telas, já que de as minúcias de seus detalhes, viram um desafio constante, deixando-o como forma de enigma em nossa mente. Uma virtude rara.
Alvin e os Esquilos 3
2.8 582 Assista AgoraSabe-se lá o que as pessoas viram nas histórias desses esquilos de vozes estridentes, que ardem aos nossos ouvidos, e são muitos, para pouca coisa. São seis esquilos que se você enxugar para dois, melhoraria. E os números musicais, descontextualizados, celebram a futilidade e promove a incultura, quase tachando aqueles que o assiste, de estúpidos. Usa a fórmula de pegar um hit de sucesso de qualquer celebridade instantânea, e sem se preocupar e ser condizente, vomita um cover interpretado pelos esquilos. Poderia falar qualquer coisa sobre a trama aqui, se ela existisse. Tão inútil quanto insignificante.
Operação Presente
3.7 280 Assista AgoraDifícil não tomar gosto pela ambiguidade que o enredo propõe, ao nos fazer conflitar com uma dura realidade: ao não acreditar no papai Noel, as pessoas invariavelmente, deixaram de acreditar no natal. O presente, neste caso, representa um estado de espírito, ou o que chamamos de clima natalino. Deixar uma pessoa que seja sem essa sensação, esse gostinho tão apreciável, tão delicioso, é um erro imperante mesmo que outras bilhões de pessoas tenham tido esse benefício. É a constante luta pelo indivíduo, sem alocá-lo, confortavelmente, dentro da massa. É um pensamento socialmente cabível para quaisquer aspectos. Imagine se dentro de um naufrágio, várias pessoas são salvas, e uma que seja, perdida – hoje estamos anestesiados em imaginar que muitas vidas foram salvas, mas não pensamos no ser individual perdido. E aqui existe esse resgate, a luta e a persistência por não deixar ninguém para trás. E o que tem a oferecer, é um sentimento nobre, um misto de alegria e cumplicidade – o dia em que somos aquilo que deveríamos ser todos os dias.
O que Traz Boas Novas
4.0 101 Assista AgoraUma lacuna. Um interlúdio entre dos momentos tão distintos, a dor e a aceitação. Lazhar aparece no momento do vácuo, da dúvida – alguns abandonam, outros preferem deixar o tema como tabu, outros condenam, outros julgam, e alguns precisam desesperadamente falar, serem escutados – sentem-se violentados pela dor e pela culpa. E nesse misto de insegurança com a certeza teórica pedagógica, uma turma, e particularmente, dois amigos (uma garota e um garoto), que dentro de seu Universo infantil, parecem saber a motivação do ato cometido pela professora. Com esses três personagens, cria-se a rede de relacionamento, onde os diálogos são peças fundamentais para a compreensão das ideias que o autor transporta para a tela. Com uma direção muito segura, que prima pela coesão, sutileza e toques singelos, a obra nos leva a reflexões políticas, humanas e comportamentais.
Millennium II - A Menina que Brincava com Fogo
3.9 572A saída de Oplev e a escalação de Daniel Alfredson melhorou muito a franquia sueca de Millennium, mesmo tendo em mãos um material inferior ao do primeiro livro do genial Stieg Larsson. Ainda que conte com um apático e insosso Mikael Blomqvist e tenha uma trama que se dissolve na tela com tamanha facilidade que é comumente confundível com qualquer filme meia-boca de ação feito para televisão, a tranquilidade em não fazer um filme tão acelerado, faz o filme de Alfredson chegar com mais profundidade no ponto central da discussão, e na engajada discussão da rede de tráfico humano que assola a Europa. Lisbeth continua a sobrar nas telas perante os demais, mas o filme nunca tem a coragem de assumi-la realmente como protagonista, numa clara demonstração de falta de coragem na adaptação, feita de forma engessada (o ponto que a versão americana do primeiro livro é uma aula). Ainda assim, por ser um complexo material que trabalha com um elemento chave - que é um misterioso segredo, Daniel Alfredson conseguiu dar um pouco mais de dignidade a adaptação, limpando melhor as imagens, lapidando melhor a trama, e ainda tendo um esmero visual mais apurado.
A Serbian Film: Terror Sem Limites
2.5 2,0KAs influencias carpentianas estão constantemente em evidencia no mostro criado pelo estreante, e jovem, Srdjan Spasojevic. Desde sua trilha oriunda dos anos oitenta, seu protagonista que figura como um anti-herói e sua forma de utilizar o terror, visual e psicológico, para criar uma alegoria política e social. O problema é que toda sua contextualização sociológica é subexposta em prol de sua elevação gráfica e tenebrosa. A lógica racional é tortuosamente destorcida nesse polêmico trabalho, pois parece que suas cenas nasceram antes de suas ideias, ou seja, antes de saber o que falar o filme constituiu elementos, e depois, encaixou-os em seu discurso – numa clara inversão de objetividade, pois a forma tática de falar nasceu antes de o que falar. Algo gravemente falho e ordinariamente recorrente no cinema moderno;- algo menor ganha mais notoriedade com relevos, deixando em segundo plano sua verdadeira essência.
Projeto X: Uma Festa Fora de Controle
3.5 2,2K Assista AgoraO filme não tem uma má ideia. Retratar com o recurso de gravação semidocumental, uma festança de jovens predatórios e autodestrutivos, em busca de reconhecimento, status social e sexo, revelando o poder que a pressão de aceitação impõe nas pessoas, que passam a tomar atitudes que não convém a vigor com suas identidades genuínas, e passam a exercer personagens, deixando de ser eles mesmos, para serem aceitos e obter benefícios por meio disso. O conceito está ali, e muitos diálogos servem para nos revelar, minuciosamente, essa relação, seja quando o pai está saindo de casa e diz para a mulher à impressão que tem sobre o filho e a conclusão, legitima, honesta e compreensiva, mas não a conivência e cumplicidade com a situação, numa clara relação entre responsabilidades, causas e consequências. O grande problema é que todo o restante, com exceção desses momentos que do total devem durar 3 minutos, é um grande oco – um vazio que confortavelmente não busca uma imersão essencial. Típico filme que teve uma boa ideia desenvolveu-a com as primeiras ideias que vieram à mente, sem nunca questioná-las profundamente.
Roubo nas Alturas
3.1 703 Assista AgoraReunir um grande elenco para aplicar um golpe triunfal em algo/alguém é uma fórmula desgastada faz alguns anos, desde os tempos de “Onze Homens e um Segredo”, “Plano Perfeito” e “O assalto”. Cada filme carrega uma característica de acordo com seus autores, seja focando o glamour e a estilização da situação, o tom ácido e crítico, e também o jeitinho bem articulado e inteligentemente estratégico. O caso problemático desde filme acontece por ele não ter nenhuma característica predominante, ele é tudo, ao mesmo tempo em que não é nada. Tem uma ou outra cena desafiadora e que torna o filme envolvente em alguns momentos (a descida do carro por fora do prédio), mas insuficiente para ter um filme encorpado. Por mais que encha o filme de atores que são figurinhas carimbadas, é difícil dar-lhes relevância e importância para algo tão pré-fabricado, e nessa salada toda, é um filme nem sobre pessoas e nem com uma trama, minimamente, convincente.