O melhor de MIB 3 é conseguir ser um filme que não quer ficar reciclando as ideias dos outros filmes, mudando detalhes para se fazer de novo. Ele cria uma nova ideia (viagem temporal), e brinca e se diverte dentro dela, sem vergonha de ser um subproduto de franquia. E essa honestidade e o capricho do roteiro, torna o filme um passatempo divertido. Bastante rasteiro, mas divertido. Até a chave de seu enigma é previsível, pelas pistas que deixa pelo caminho – fazendo um final edificante bem redondinho e bonitinho. Will Smith na preguiça, enquanto Brolin dá um show à parte. Só ele, já valeria o ingresso, mas com todo o cuidado que o filme tem, ainda que burocrático, vale a atenção.
A contradição impera, e também emperra, todos os elementos do filme. O roteiro é cheio de autoimportância, quase com tom anárquico, um manifesto antipolítico e antigovernamental. Por outro lado, existe um diretor inquieto, ansioso por movimentação, quer sair rápido do cenário, corre as cenas em tom de desespero, medo de ser lento, monótono – quer ser legal, jovem. E o roteiro pede concisão, apuro. É norteado por ideias e não pela ação, agilidade. É para pensar, mas a direção implora por movimentação, dando uma falsa sensação de suspense, perigo, quando no fundo, temos um filme de discurso. Desperdício de personagens, por erro na condução da trama.
Assim como o ESPELHO, ESPELHO MEU, é fácil bater no filme considerando sua superfície pop/comercial. Sua estrutura épica é minguada, limitada, fechada, parece épico de televisão. Econômico, barateado, parece que faltou recursos financeiros, e optaram por cortar o tom e ar de grandeza. A tela do cinema é muito grande para pouco filme, caberá melhor para a televisão, que se adapta melhor a miniépico, que é o caso aqui. Porém, não dá para dizer que o filme é ruim – uma característica que vem permeando, aliás, a maioria dos blockbusters deste ano: são filmes burocráticos, redondinhos, bem formulados e com a direção de artesões que tentam, sem ousar demais, serem “legais”. OS VINGADORES, JOGOS VORAZES, MIB 3, JOHN CARTER, estão aí parar provar isso – todos filmes que podem ser considerados “bacanas”, que ao acender das luzes, já esquecemos tudo aquilo. Filmes pretensiosamente despretensiosos, acomodados, que tentam disfarçar, mas sua alma inócua é mais que evidente.
No caso deste “Branca de Neve”, seguiram a mesma fórmula que o filme que tem Julia Roberts como a rainha perversa: utilizaram fielmente todos os elementos clássicos, dotando-lhes de pequenas particularidades. E no meio dessas mudanças, uma faca de dois gumes que trará mortos e feridos, algumas elementos ganham força e outros tornam-se, essencialmente, irrelevantes. Os anos são oito. Confesso que nem me dei ao trabalho de contar, e se fosse um, três, sete ou dez, não faria a menor diferença. Estavam lá só para cumprir tabela, dar um retoque de humor, mas totalmente descartáveis. Os oito.
O mais interessante do filme de Sanders foi à tentativa de fazer um filme que expõe constantemente o conflito entre a beleza estética, versus a pureza, a legitimidade, o bom coração. Fica muito claro que o filme não se apoia na beleza de rosto de Stewart, mas sim, na profundidade de sua alma, de seu olhar. Mesmo que seja o seu típico olhar de peixe morto, conceitualmente tudo torna-se crível dentro do Universo proposto. Mas é mais fácil chegar e bater na cara dessa menina que sofre uma superexposição, por conta da frágil franquia “Crepúsculo”. Ela não é boa como os fãs imaginam, e muito menos, ruim como os detratores relatam. É uma atriz em crescimento, e que ao menos, faz escolhas ousadas e tenta, a cada atuação, sair de um lugar comum – e isso já merece, ao menos, respeito.
O começo dele é o final de um filme pós-erros na vida. O personagem irá começar a se reestabelecer na vida, e com maiores responsabilidades, opta por levar uma vida honesta ao lado da mulher e dos filhos. Porém seu cunhado apronta e coloca a vida de toda a família em risco, fazendo com que o talentoso contrabandista volte à ativa. A princípio, ficamos em dúvida do que é um contrabandista talentoso, e a grande brincadeira do filme gira em torno disso – ao trabalhar com ações inesperadas do protagonista, que consegue, engenhosamente, planejar em diversas camadas, uma mega operação. Soa absurdo, mas não dá para desqualificá-lo, já que ele assume uma pele orgânica de filme banal de ação. Vive da conjunção da adrenalina com a tensão, que é o gostinho do perigo que o personagem revela, em determinado momento, admirar. É uma bobagem, daqueles para ver, esquecer, e que nem se sente o tempo passar.
Um eficiente e tecnicamente perfeito filme quando usa como cenário a residência e um banal, corriqueiro e preguiçoso filme de ação quando transforma o mistério da primeira etapa em um ritmo alucinantemente acelerado, e interessantemente ruim. O quanto ele consegue ser instigante e uma rede complexa de personagens na primeira parte, amassa e joga tudo no lixo na segunda etapa, para focar uma descerebrada trama de perseguição, com locações paralelas (o trem e o ônibus). Fazendo a soma e dividindo as partes, na média, temos um bom filme, e um grande desperdício.
Quando falamos em sonhos e desejos, pensamos logo naquilo que nos levará a um estado do ápice do arroubo. Quando perguntados, alguns podem dizer carros, casa, um título, uma sensação. No caso de O QUE EU MAIS DESEJO, a nobreza singela do sentimento do garoto nos comove, emociona e encanta por valorizar a reconstituição familiar – ou seja, enquanto garotos da idade pensam nas pequenas coisas materiais, o garoto só quer ter no mesmo recinto seu pai, sua mãe e seu irmão caçula. Nada mais. Aquilo representará sua felicidade plena, o êxtase de sua vida – sua realização, seu sucesso. Difícil não compartilhar daquele sentimento, ainda mais com o ar e a serenidade que Koreeda emprega no filme. Porém, por muitos momentos, O QUE EU MAIS DESEJO transita por muitos personagens, muitas situações paralelas, e o problema não são elas – mas sim, que por conta delas, falta espaço para aquecer o relacionamento interfamiliar, o que é a conectividade primordial para a funcionalidade do filme em termos de causar comoção e ser, essencialmente, edificante. Tudo é muito bonito, as crianças são ótimas, mas aquele aspecto caloroso de sentimentos no NINGUÉM PODE SABER, aqui parece ficar em segundo plano e apoiar-se demais no carisma deles.
Yimou é talentoso. Sensível, cuidadoso, e acima disso, busca o lado da beleza em todas as imagens. Suas aventuras épicas ancestrais enchem nossos olhos com as cores, com a movimentação da câmera, com os enquadramentos que parecem pertencer a museus de artistas clássicos. Em alguns momentos queremos parar o filme, colocar em uma moldura, e penduram em nossa sala. Mas o quanto isso funciona em um filme como FLORES DO ORIENTE, um filme ferida, que busca uma dor, parece engajado com algo maior, busca uma relevância e uma importância – que talvez exija um pouco de contundência. Como mesclar seu cinema, com um material que exige que seja tão robusto, forte, ora até agressivo, apesar de precisar de sua sensibilidade? Nisso que o filme peca. Tem algo tão forte, tão machucado, tão revoltante, mas parece adotar uma estética de comercial de perfume, apesar de toda a sujeira que aparece na tela. É como se forma e conteúdo não dialogassem entre si, fossem dissonantes em suas essências, compondo um antagonismo entre o que está dizendo e como está dizendo. É um filme bonito? Para ter essa resposta, precisamos decupar o filme esteticamente e ter uma avaliação e proceder da mesma forma com o conteúdo, e daí chegar a uma conclusão, onde cada parte nos levaria para percepções dispares. E, como cinema, precisamos ter uma uniformidade nesse aspecto. E nisso, concluímos ter um filme falho.
Avaliar negativamente um filme de Hitchcock é uma tarefa árdua, ingrata. Não por ele ser um mestre irretocável, consagrado, uma lenda. Mas sim, por seus filmes, digamos fracos, por mais que tenham falhas, possuem virtudes e inventividade, que lhe deixam protegidos, e de certa forma, nos cativam. Este CHAMPAGNE é um fiasco em termos narrativos. Prende-se muito tempo em situações insossas, chatas, cansativas – seu “timing” para as passagens de situações é arrastado, parece frisar demais, inseguro se está conseguindo transmitir o desejado. Mas as cenas são muito bem feitas, em especial no navio, com a movimentação constante dos personagens, inclusive, aqueles que meramente figuram as cenas – uma minúcia nos detalhes que somente alguém perfeccionista como Hitchcock teria. Toda a trama farsa é ordinária, não é instigante, talvez pela previsibilidade datada, demonstrando como o tempo foi cruel com esse tipo de trama redentora.
Com vagarosidade o filme percorre uma linha complicada de tempo e espaço que nunca fica clara para o espectador, justamente por ali morar o enigma – nem um pouco interessante, por sinal – de sua existência. Em um misto entre sonhos, realidades, passado, presente, traumas, distúrbios, o filme não encontra sua identidade – não sendo nem um filme intimista psicológico e muito menos um suspense superficialmente eficiente. O roteiro tem a preocupação de jogar na tela um monte de isca para o espectador, e sem pudor, joga tudo fora ao não justificá-las ao final. Um filme tão simplista ainda deixar a pergunta “Que diabos é isso afinal?”, revela o quanto ele é precário com o que realmente quer contar.
Sucsy fez um trabalho interessante por conseguir fazer um filme açucarado na mesma medida que melancólico. Seu ar é constantemente triste, mas suas camadas leves condicionam o filme a ser um daqueles filmes docinhos, ditos de meninas que choram, enquanto os homens tentam manterem-se durões. O filme funcionar ou não dependia muito da atuação de Channing Tatum, um homem de físico forte, estereótipo de brutamontes – figura que aparenta não ter carisma. Mas os esforços do ator são notáveis e ele não se esconde por trás de fisionomias, e por ser convincente em suas epopeias românticas, acaba fisgando o público, gerando enorme empatia pelo personagem. Como não se ver bobo diante das telas torcendo pelo personagem, e desejando dar um soco no meio da cara de seu antagonista? É maniqueísmo puro mesmo. Bonzinhos de um lado, malvadinhos de outro. É para vibrar na hora que as verdades vêm à tona e dizer “ah, viu só”. Por esses aspectos, Tatum fez um trabalho digno de aplausos - e que era antes, pouco crível devido a sua pouca experiência e sua aparência insensível. Porém, ele sozinho não é o suficiente para garantir que “Para Sempre” seja um grande filme – e está muito longe disso. O filme parece constantemente amarrado por ter se inspirado em fatos reais, cria uma essência onírica, tipicamente cinematográfica, mas não se entrega a ela. Clama para ser edificante, mas nunca chega lá. Uma pena.
Eis aqui um filme para poucos. Pouquíssimos. Vive em uma linha tênue. Sua irreverência parece pré-fabricada, calculada. Seu teor sexual, parece desconectado – serve para o que e nos leva para onde? Ganhou algo lá em Cannes, mas lá tanta gente ganha nas subpremiações, que fica difícil entender os critérios adotados. Parece uma fita que quer ser legal demais, surreal, diferente. Pendura a melancia no pescoço, sai correndo pelos corredores, em busca de atenção – por ser esquisito, ser diferente (quão diferente e diferente do quê?), e ser uma salada desconexa. Indecifrável e inclassificável como a sexualidade exposta do personagem. Não é uma coisa, não é outra, e no fim, não é nada.
Quando o cinema flerta com a linguagem de televisão, a chance de um filme parecer um episódio-piloto é enorme. E este filme não foge muito de parecer um capítulo dos seriados policiais da Fox, na linha rítmica de um “24 Horas” ou “Prision Break”. O roteiro consegue sobreviver interessante justamente por esconder todas as motivações e ações até quando pode, pois é a única forma que sua ideia absurdamente inverossímil consegue ser trabalhada. Na hora de dar o nó em todas as pontas presas, precisa correr, para tentar camuflar a bagunça que fez – ainda que seja um filme pra lá de simples de ser compreendido. Triste é perceber o quanto a personagem de Elizabeth Banks é descartável para tudo aquilo, e só serve como objeto de distração para o público – usando a tática de criar algo que parece relevante, somente para tirar o foco de sua verdadeira identidade. O problema do filme é justamente no que ele realmente é, pois enquanto ele não mostra sua verdadeira faceta, funciona como um eficiente enlatado de televisão, mas quando coloca suas garras para fora, vira um cinema frágil, inconsistente e descartável.
Nunca é demais termos percepções sobre relacionamentos amorosos que buscam debater de forma contundentemente emocional paixão, amor e adultério. Desses três elementos é possível caminhar por diversas trilhas tortuosas, desde dramas intimistas, passando por suspenses psicológicos, épicos de guerra, comédia romântica, e outras infinidades de subgêneros. A questão aqui é fazer um filme síntese sobre relacionamento e a dificuldade de lidar com as responsabilidades matrimoniais, a ardência do desejo, o paradoxo da relação amorosa. É um filme conversa. Sereno, singelo, cru. Desnudo de qualquer obstáculo, sem tabu, sem profundidade psicológica, mas com apuro e atenção aos personagens. A ideia jamais é julgar as atitudes convencionalmente imorais dos personagens, mas sim, estar ao lado deles tentando compreender os contraditórios e incontroláveis sentimentos que permeiam seus corações e suas mentes. A delicadeza também mostra sua face na sensibilidade feminina da diretora Tadjedin, que com sutileza, apesar de insegura (frisa demais seu objeto elementar), monta um desfecho para entendermos que amor não é somente um sentimento, mas sim atitudes de cumplicidade, compreensão – destacando a forma complementar que é um para o outro, independente do que acontece nesse, conturbado, interlúdio entre as fases de um relacionamento. Faltou mais ânsia, querer ir mais longe, mergulhar de cabeça, ainda que seja um filme agradabilíssimo de ver.
Oriundo dos tempos áureos dos vídeoclipes, o diretor sigla McG mantém suas raízes e seus conceitos intactos para fazer um daqueles filmes que a gente mantém o vício de dizer que é “diversão garantida”. Seguindo mais a linha de seus “As Panteras” e renegando seu desastroso experimento por um cinema mais soturno na franquia do Exterminador, ele volta a conseguir divertir com seu misto de comédia e ação – onde o humor é válvula de escape para sublinhar sua despretensão e sua ação estilizada segue o ritmo videocliptíco que o consagrou. E a trama de espionagem e vilão estrangeiro que busca vingança? Pouco importa. Para McG o foco é a ação e o triangulo amoroso bastante curioso: ao invés de os espiões viverem um jogo duplo, que faz isso é a garota, que ganha à simpatia de Witherspoon, em busca de um parceiro ideal. Do outro lado temos os dois melhores amigos que por orgulho, brigarão pela mesma mulher, e acabarão se apaixonando e colocando a amizade em questão. Quem ficará com ela? Pouco importa. A diversão de McG é na criação dos obstáculos que um personagem cria para o outro, somado com as técnicas pra lá de anticonvencionais que utilizam para conquistá-la. Aí reside toda a graça do filme: assumir-se como uma comédia romântica de ação, aonde a espionagem é mero pretexto para os recursos, o comportamento e as atitudes dos personagens.
Vindo de dramas intensos e fortemente sentimentais, Forster deu uma reviravolta em sua carreira quando fez “A Passagem”, abrindo mão de ser um diretor renomado do drama, para se tornar um genérico artesão. Essa decisão lhe abriu mais portas (convites para conduzir grandes produções), e também esvaziou seu cinema como autor – que tinha como uma das características, se importar e demonstrar um interesse e uma paixão pelos personagens que de tão quentes, pareciam soltar chamas na tela. Dessa premissa, surpreende que com este misto de suspense banal e surrealismo lynchiano, ele abra mão dos personagens para focar suas energias em uma perturbadora viagem esquizofrênica por algum lugar desconhecido. Sem se importar com os personagens, seu interesse é manter o espectador tentando decifrar as inúmeras ilusões, sonhos, delírios que se misturam com a realidade – e que o final revelará a solução de toda aquela confusão. Vindo de um autor que cuidava e tratava seus personagens com tanto carinho e dedicação, admira que aqui os personagens são ventrículos de plástico para uma trama que se revela boba, ingênua, cheia de maneirismos e truques manjados, ainda que esteticamente tenha suas virtudes.
Sofre muito com as atuações canhestras, que beiram muitas vezes o amadorismo. Difícil saber se pela falta de talento dos atores ou pela má direção/preparação. O amadorismo aparece também no roteiro, que sofre pela obviedade, um enorme pecado para um filme onde o mistério é a chave da narrativa – ou seja, ele possui um segredo/motivação, que é oculto, misterioso, mas não consegue trabalhar isso com eficiência, pois seu leque é pequeno e limitado. Tenta uma vez ou outra pegar peças no público, mas são pistas falsas, tão tolas que são facilmente identificáveis como fraudes dentro da trama. Não funcionando como um filme de suspense/terror nos resta tentar abstrair algum significado, aonde ele quer chegar esse fiapo de trama, e aí, percebe-se o resultado desastrosamente moralista, ao tentar emergir uma sádica punição para homens de negócios e investidores, com uma redação primária sobre capitalismo. Sofrível como suspense, infantil como discurso.
Roman Polanski, reconhecido por sua notória capacidade estética e seu apuro na linguagem cinematográfica, discursa sem pudores sobre civilidade, cidadania, moralismo, conservadorismo, penetrando ardilosamente na relação intersocial comunitária. Toda a problemática começa a partir de uma banal e corriqueira briga de garotos em busca de espaço e firmação social, que acaba no apartamento dos pais do garoto agredido conversando com os pais do garoto agressor. O que era uma simples e amistosa reparação entre as partes, torna-se uma disputa dialética quando cada personagem tira a pele de cordeiro. Sem se tornar verborrático e evasivo, o texto é um primor em termos argumentativos, tendo demonstrações irrepreensíveis e praticas de comportamentos com pensamentos, premissas e conclusões, além de quando os personagens deixam de estar munidos de argumentos, caem para as falácias, deixando de lado as ideias, e discutindo as pessoas. Dentro de toda aquela baixaria em que os personagens vão se alternando de lado e caminhando para assuntos estritamente pessoais, Polanski não abre mão de rir daquela situação, dos politicamente corretos, dos estupidamente moralistas. Sua “chave de ouro” é a cena final, que absorvemos o sentido de tudo aquilo: somos seres em constante evolução do retrocesso no convívio social.
São três personagens com conflitos diferentes, mas com uma paixão convergente. É um drama vivido por três personagens apaixonados por observar pássaros e que resolvem deixar tudo de lado em prol desse sentimento irremediável. Tudo pode soar absurdo, as situações e atitudes serem implausíveis, mas a ação impulsiva e a emoção são realmente inexplicáveis e injustificáveis racionalmente – e sem categoria e como alívio cômico, o filme dá um recado nada gentil aos espectadores que acharem aquilo tudo ridículo. Constantemente ele brinca com o espectador de forma bastante criativa – criando disparidade entre narração e imagem, induzindo o espectador a imaginar uma coisa, para culminar em sutis piadinhas de muito bom gosto, até por hora ingênua, mas funcional dentro daquele cenário. O problema do filme fica por conta de algumas coisas ininteligíveis, como a narração em “off” ser do personagem de Jack Black, com a história se passando pelo seu ponto de vista, mas aprofundar igualmente o conflito dos três personagens. Tenho problemas com filmes que não conseguem essa conjuntura narrativa, e não conseguem justificar recursos necessários (narração em off) dentro de sua narrativa (apresentar igualmente três personagens que estão vivendo em tempo e locais diferentes). Por conta disso, muitas coisas do filme funcionam muito mal e outras soam muito suavizadas – principalmente com o Owen Wilson e a relação com sua mulher. Por mais que tenha inúmeras virtudes, esses defeitos não deixam que o filme decole – e por muitos momentos, o torna tedioso.
Nunca gostei do cinema de Steven Soderbergh (com raras exceções como “Traffic”), e depois do desastroso “Contágio”, ele acentuou melhor a ação, mas ainda fica difícil comprar esse cinema preguiçoso, cheio de estilo, na mesma proporção da presunção. Sua ação é episódica, meio que um sub-“Kill Bill” feito às pressas, subtraindo todo o carisma que existe na obra de Tarantino. Continua repleto de atores famosos fazendo pontas por serem amigos do diretor, que tenta, de forma fracassada, justificar a presença de todos. É muito personagem pra pouca coisa e uma trama que antes da metade já cansou.
O filme sofre de sérios problemas de identidade na sua indefinição entre um drama psicológico clássico ou um suspense banal à lá Super Cine, o que prejudica no nosso envolvimento com as situações e até mesmo com o personagem. Sabemos que o personagem é perturbado e sofre de transtornos, mas fica difícil comprar aquela história da forma que ela está sendo contada, com o julgamento do protagonista por diversos crimes – onde a narração em off vai sendo desconstruída pelas imagens. A ideia é boa, mas não funciona para um filme tão cheio de autoimportância e relevância que sequer existem.
Vivemos em um tempo de falso conteúdo e excessos de pompas para coisas que são simples e rasas, mas que precisam se justificar em um processo de conteúdo que viram protótipos ao invés de algo com bom acabamento e finalizado. Diversos “Blockbusters” estão aí para confirmar essa conclusão categórica acima. E a grande virtude de “Anjos da Noite” é ser cru, direto, sem lenga-lenga e coisas frescas. É uma grande brincadeira, se assume como tal, e conquista pela sua honestidade e sua irreverência em fazer humor misturado com ação, parodiando tudo e todos. Entre os filmes de 2012, carrega o atualmente o peso de ser: o melhor filme de ação, a melhor comédia e também o melhor filme.
O filme é um retrocesso no gênero “filmes de heróis”, lembrando que uma das principais características desse gênero nos anos 2000 foi sua evolução nos aspectos que vão além da superfície – como bem abordou “Homem Aranha” e seu conceito de grandes poderes geram grandes responsabilidades, o preconceito no “X-Men”, a luta sombria e aterrorizante dos “Batman’s” de Nolan, ou o “Lanterna Verde” e seu conflito no medo e na responsabilidade. Quando digo retrocesso, outros podem ler como uma reciclagem ou uma retomada daqueles filmes de heróis que pregavam a profundidade de um pires, alegando que sua única função era divertir o espectador e o afastá-lo de qualquer tipo de pensamento (problemas do dia a dia, ou seja, funcionar como uma droga que aliena a pessoa e seus fardos), ou algo que exigisse mais que meio neurônio – e o cinema tem muitos defensores dessa espécie. E nesse meio, não dá para apontar certos ou errados, mas sim, o que cada um espera do cinema e até onde vai o interesse de cada um por essa arte – tendo, claro, o discernimento para separar as pretensões e o que cada filme quer proporcionar, mas não esquecendo princípios básicos: cinema não é televisão, cinema não é quadrinho, cinema não é publicidade. É possível fazer cinema de entretenimento, desde que este seja autentico e respeite sua essência – e em muitos momentos, “Os Vingadores” consegue essa façanha, mesmo que seja um filme pra lá de raso.
Os argentinos fizeram escola e também aprenderam a fazer aqueles “enlatadões” que mais parecem um novelão do que propriamente cinema. “Um Conto Chinês”, o mais sucesso comercial argentino dos últimos anos, aposta na fórmula da comédia dramática com pitadas de romance para viver no lugar-comum, na zona de conforto, e culminar naquelas histórias edificantes que são brevemente esquecidas – pela sua falta de personalidade, a ausência de uma visão em decorrência a uma “historinha” bonitinha contada burocraticamente. Não nos surpreenderá em nada os alívios cômicos que proporcionará a relação entre o argentino autônomo e o chinês perdido, principalmente nos conflitos da falta de comunicação entre eles e a forma com que o argentino tentará se livrar o chinês, sendo este composto unicamente por elementos que nos causem sentimento de piedade. Um filme tão agradável de ver quanto fácil de se esquecer.
O mais surpreendente de “Poder sem limites” é como ele consegue o tempo todo parecer uma aventura de jovens fazendo cinema, e de repente, vira um grande filme sobre a concepção de super-heróis e vilões. Mais surpreendente ainda, é funcionar perfeitamente nos dois casos – seja quando parece um piloto de seriado, como também quando ganha contornos dramáticos e consegue mesclar ação no desenvolvimento dos personagens. Por mais que tenhamos tido filmes “engomadinhos cheio de filtros” e super-elogiados (os “Batmans” do Nolan, por exemplo), nenhum filme de herói conseguiu chegar com tamanha habilidade na ideia de surgimento de heróis e vilões e o comportamento deles perante o poder a partir de suas experiências de vida, incluindo o envolvimento familiar ou o engajamento social. Tudo está em “Poder sem Limites”. O primeiro passo do filme foi nos apresentar os três personagens, cada um com uma característica e envolvimento social diferente: um que sofre no lar com um pai agressivo e uma mãe doente, além de ser anti social e sofrer bullyng na escola, o primo dele, um cara mais popular e que atrai o olhar das meninas, e um jovem com engajamento político. Os três acabam tendo contato com algo desconhecido, que por consequência, acaba dotando-os de poderes extraordinários. A segunda parte é o segmento do descobrimento. Eles aprendendo a utilizar os poderes e o início de questionamento de o que devem fazer e como regrar o uso dessas armas letais com precaução. E por fim, chegamos ao clímax que desenha a evolução psíquica de cada um dos personagens e como eles reagem e pretendem utilizar esses poderes e como tudo o que viveram influenciam em seus comportamentos e reações. Um raro filme em que o found footage é puramente utilizado como forma, e onde a forma, não é a justificativa para sua existência.
MIB: Homens de Preto 3
3.5 2,0K Assista AgoraO melhor de MIB 3 é conseguir ser um filme que não quer ficar reciclando as ideias dos outros filmes, mudando detalhes para se fazer de novo. Ele cria uma nova ideia (viagem temporal), e brinca e se diverte dentro dela, sem vergonha de ser um subproduto de franquia. E essa honestidade e o capricho do roteiro, torna o filme um passatempo divertido. Bastante rasteiro, mas divertido. Até a chave de seu enigma é previsível, pelas pistas que deixa pelo caminho – fazendo um final edificante bem redondinho e bonitinho. Will Smith na preguiça, enquanto Brolin dá um show à parte. Só ele, já valeria o ingresso, mas com todo o cuidado que o filme tem, ainda que burocrático, vale a atenção.
Jogo de Poder
3.4 221 Assista AgoraA contradição impera, e também emperra, todos os elementos do filme. O roteiro é cheio de autoimportância, quase com tom anárquico, um manifesto antipolítico e antigovernamental. Por outro lado, existe um diretor inquieto, ansioso por movimentação, quer sair rápido do cenário, corre as cenas em tom de desespero, medo de ser lento, monótono – quer ser legal, jovem. E o roteiro pede concisão, apuro. É norteado por ideias e não pela ação, agilidade. É para pensar, mas a direção implora por movimentação, dando uma falsa sensação de suspense, perigo, quando no fundo, temos um filme de discurso. Desperdício de personagens, por erro na condução da trama.
Branca de Neve e o Caçador
3.0 4,3K Assista AgoraAssim como o ESPELHO, ESPELHO MEU, é fácil bater no filme considerando sua superfície pop/comercial. Sua estrutura épica é minguada, limitada, fechada, parece épico de televisão. Econômico, barateado, parece que faltou recursos financeiros, e optaram por cortar o tom e ar de grandeza. A tela do cinema é muito grande para pouco filme, caberá melhor para a televisão, que se adapta melhor a miniépico, que é o caso aqui. Porém, não dá para dizer que o filme é ruim – uma característica que vem permeando, aliás, a maioria dos blockbusters deste ano: são filmes burocráticos, redondinhos, bem formulados e com a direção de artesões que tentam, sem ousar demais, serem “legais”. OS VINGADORES, JOGOS VORAZES, MIB 3, JOHN CARTER, estão aí parar provar isso – todos filmes que podem ser considerados “bacanas”, que ao acender das luzes, já esquecemos tudo aquilo. Filmes pretensiosamente despretensiosos, acomodados, que tentam disfarçar, mas sua alma inócua é mais que evidente.
No caso deste “Branca de Neve”, seguiram a mesma fórmula que o filme que tem Julia Roberts como a rainha perversa: utilizaram fielmente todos os elementos clássicos, dotando-lhes de pequenas particularidades. E no meio dessas mudanças, uma faca de dois gumes que trará mortos e feridos, algumas elementos ganham força e outros tornam-se, essencialmente, irrelevantes. Os anos são oito. Confesso que nem me dei ao trabalho de contar, e se fosse um, três, sete ou dez, não faria a menor diferença. Estavam lá só para cumprir tabela, dar um retoque de humor, mas totalmente descartáveis. Os oito.
O mais interessante do filme de Sanders foi à tentativa de fazer um filme que expõe constantemente o conflito entre a beleza estética, versus a pureza, a legitimidade, o bom coração. Fica muito claro que o filme não se apoia na beleza de rosto de Stewart, mas sim, na profundidade de sua alma, de seu olhar. Mesmo que seja o seu típico olhar de peixe morto, conceitualmente tudo torna-se crível dentro do Universo proposto. Mas é mais fácil chegar e bater na cara dessa menina que sofre uma superexposição, por conta da frágil franquia “Crepúsculo”. Ela não é boa como os fãs imaginam, e muito menos, ruim como os detratores relatam. É uma atriz em crescimento, e que ao menos, faz escolhas ousadas e tenta, a cada atuação, sair de um lugar comum – e isso já merece, ao menos, respeito.
Contrabando
3.3 381O começo dele é o final de um filme pós-erros na vida. O personagem irá começar a se reestabelecer na vida, e com maiores responsabilidades, opta por levar uma vida honesta ao lado da mulher e dos filhos. Porém seu cunhado apronta e coloca a vida de toda a família em risco, fazendo com que o talentoso contrabandista volte à ativa. A princípio, ficamos em dúvida do que é um contrabandista talentoso, e a grande brincadeira do filme gira em torno disso – ao trabalhar com ações inesperadas do protagonista, que consegue, engenhosamente, planejar em diversas camadas, uma mega operação. Soa absurdo, mas não dá para desqualificá-lo, já que ele assume uma pele orgânica de filme banal de ação. Vive da conjunção da adrenalina com a tensão, que é o gostinho do perigo que o personagem revela, em determinado momento, admirar. É uma bobagem, daqueles para ver, esquecer, e que nem se sente o tempo passar.
O Mistério Do Número 17
2.9 25Um eficiente e tecnicamente perfeito filme quando usa como cenário a residência e um banal, corriqueiro e preguiçoso filme de ação quando transforma o mistério da primeira etapa em um ritmo alucinantemente acelerado, e interessantemente ruim. O quanto ele consegue ser instigante e uma rede complexa de personagens na primeira parte, amassa e joga tudo no lixo na segunda etapa, para focar uma descerebrada trama de perseguição, com locações paralelas (o trem e o ônibus). Fazendo a soma e dividindo as partes, na média, temos um bom filme, e um grande desperdício.
O Que Eu Mais Desejo
4.0 126 Assista AgoraQuando falamos em sonhos e desejos, pensamos logo naquilo que nos levará a um estado do ápice do arroubo. Quando perguntados, alguns podem dizer carros, casa, um título, uma sensação. No caso de O QUE EU MAIS DESEJO, a nobreza singela do sentimento do garoto nos comove, emociona e encanta por valorizar a reconstituição familiar – ou seja, enquanto garotos da idade pensam nas pequenas coisas materiais, o garoto só quer ter no mesmo recinto seu pai, sua mãe e seu irmão caçula. Nada mais. Aquilo representará sua felicidade plena, o êxtase de sua vida – sua realização, seu sucesso. Difícil não compartilhar daquele sentimento, ainda mais com o ar e a serenidade que Koreeda emprega no filme. Porém, por muitos momentos, O QUE EU MAIS DESEJO transita por muitos personagens, muitas situações paralelas, e o problema não são elas – mas sim, que por conta delas, falta espaço para aquecer o relacionamento interfamiliar, o que é a conectividade primordial para a funcionalidade do filme em termos de causar comoção e ser, essencialmente, edificante. Tudo é muito bonito, as crianças são ótimas, mas aquele aspecto caloroso de sentimentos no NINGUÉM PODE SABER, aqui parece ficar em segundo plano e apoiar-se demais no carisma deles.
Flores do Oriente
4.2 774 Assista AgoraYimou é talentoso. Sensível, cuidadoso, e acima disso, busca o lado da beleza em todas as imagens. Suas aventuras épicas ancestrais enchem nossos olhos com as cores, com a movimentação da câmera, com os enquadramentos que parecem pertencer a museus de artistas clássicos. Em alguns momentos queremos parar o filme, colocar em uma moldura, e penduram em nossa sala. Mas o quanto isso funciona em um filme como FLORES DO ORIENTE, um filme ferida, que busca uma dor, parece engajado com algo maior, busca uma relevância e uma importância – que talvez exija um pouco de contundência. Como mesclar seu cinema, com um material que exige que seja tão robusto, forte, ora até agressivo, apesar de precisar de sua sensibilidade? Nisso que o filme peca. Tem algo tão forte, tão machucado, tão revoltante, mas parece adotar uma estética de comercial de perfume, apesar de toda a sujeira que aparece na tela. É como se forma e conteúdo não dialogassem entre si, fossem dissonantes em suas essências, compondo um antagonismo entre o que está dizendo e como está dizendo. É um filme bonito? Para ter essa resposta, precisamos decupar o filme esteticamente e ter uma avaliação e proceder da mesma forma com o conteúdo, e daí chegar a uma conclusão, onde cada parte nos levaria para percepções dispares. E, como cinema, precisamos ter uma uniformidade nesse aspecto. E nisso, concluímos ter um filme falho.
Champagne
2.9 20Avaliar negativamente um filme de Hitchcock é uma tarefa árdua, ingrata. Não por ele ser um mestre irretocável, consagrado, uma lenda. Mas sim, por seus filmes, digamos fracos, por mais que tenham falhas, possuem virtudes e inventividade, que lhe deixam protegidos, e de certa forma, nos cativam. Este CHAMPAGNE é um fiasco em termos narrativos. Prende-se muito tempo em situações insossas, chatas, cansativas – seu “timing” para as passagens de situações é arrastado, parece frisar demais, inseguro se está conseguindo transmitir o desejado. Mas as cenas são muito bem feitas, em especial no navio, com a movimentação constante dos personagens, inclusive, aqueles que meramente figuram as cenas – uma minúcia nos detalhes que somente alguém perfeccionista como Hitchcock teria. Toda a trama farsa é ordinária, não é instigante, talvez pela previsibilidade datada, demonstrando como o tempo foi cruel com esse tipo de trama redentora.
Intrusos
2.8 330 Assista AgoraCom vagarosidade o filme percorre uma linha complicada de tempo e espaço que nunca fica clara para o espectador, justamente por ali morar o enigma – nem um pouco interessante, por sinal – de sua existência. Em um misto entre sonhos, realidades, passado, presente, traumas, distúrbios, o filme não encontra sua identidade – não sendo nem um filme intimista psicológico e muito menos um suspense superficialmente eficiente. O roteiro tem a preocupação de jogar na tela um monte de isca para o espectador, e sem pudor, joga tudo fora ao não justificá-las ao final. Um filme tão simplista ainda deixar a pergunta “Que diabos é isso afinal?”, revela o quanto ele é precário com o que realmente quer contar.
Para Sempre
3.6 2,0K Assista AgoraSucsy fez um trabalho interessante por conseguir fazer um filme açucarado na mesma medida que melancólico. Seu ar é constantemente triste, mas suas camadas leves condicionam o filme a ser um daqueles filmes docinhos, ditos de meninas que choram, enquanto os homens tentam manterem-se durões. O filme funcionar ou não dependia muito da atuação de Channing Tatum, um homem de físico forte, estereótipo de brutamontes – figura que aparenta não ter carisma. Mas os esforços do ator são notáveis e ele não se esconde por trás de fisionomias, e por ser convincente em suas epopeias românticas, acaba fisgando o público, gerando enorme empatia pelo personagem. Como não se ver bobo diante das telas torcendo pelo personagem, e desejando dar um soco no meio da cara de seu antagonista? É maniqueísmo puro mesmo. Bonzinhos de um lado, malvadinhos de outro. É para vibrar na hora que as verdades vêm à tona e dizer “ah, viu só”. Por esses aspectos, Tatum fez um trabalho digno de aplausos - e que era antes, pouco crível devido a sua pouca experiência e sua aparência insensível. Porém, ele sozinho não é o suficiente para garantir que “Para Sempre” seja um grande filme – e está muito longe disso. O filme parece constantemente amarrado por ter se inspirado em fatos reais, cria uma essência onírica, tipicamente cinematográfica, mas não se entrega a ela. Clama para ser edificante, mas nunca chega lá. Uma pena.
Kaboom
2.8 386Eis aqui um filme para poucos. Pouquíssimos. Vive em uma linha tênue. Sua irreverência parece pré-fabricada, calculada. Seu teor sexual, parece desconectado – serve para o que e nos leva para onde? Ganhou algo lá em Cannes, mas lá tanta gente ganha nas subpremiações, que fica difícil entender os critérios adotados. Parece uma fita que quer ser legal demais, surreal, diferente. Pendura a melancia no pescoço, sai correndo pelos corredores, em busca de atenção – por ser esquisito, ser diferente (quão diferente e diferente do quê?), e ser uma salada desconexa. Indecifrável e inclassificável como a sexualidade exposta do personagem. Não é uma coisa, não é outra, e no fim, não é nada.
À Beira do Abismo
3.5 915 Assista AgoraQuando o cinema flerta com a linguagem de televisão, a chance de um filme parecer um episódio-piloto é enorme. E este filme não foge muito de parecer um capítulo dos seriados policiais da Fox, na linha rítmica de um “24 Horas” ou “Prision Break”. O roteiro consegue sobreviver interessante justamente por esconder todas as motivações e ações até quando pode, pois é a única forma que sua ideia absurdamente inverossímil consegue ser trabalhada. Na hora de dar o nó em todas as pontas presas, precisa correr, para tentar camuflar a bagunça que fez – ainda que seja um filme pra lá de simples de ser compreendido. Triste é perceber o quanto a personagem de Elizabeth Banks é descartável para tudo aquilo, e só serve como objeto de distração para o público – usando a tática de criar algo que parece relevante, somente para tirar o foco de sua verdadeira identidade. O problema do filme é justamente no que ele realmente é, pois enquanto ele não mostra sua verdadeira faceta, funciona como um eficiente enlatado de televisão, mas quando coloca suas garras para fora, vira um cinema frágil, inconsistente e descartável.
Apenas uma Noite
3.5 787Nunca é demais termos percepções sobre relacionamentos amorosos que buscam debater de forma contundentemente emocional paixão, amor e adultério. Desses três elementos é possível caminhar por diversas trilhas tortuosas, desde dramas intimistas, passando por suspenses psicológicos, épicos de guerra, comédia romântica, e outras infinidades de subgêneros. A questão aqui é fazer um filme síntese sobre relacionamento e a dificuldade de lidar com as responsabilidades matrimoniais, a ardência do desejo, o paradoxo da relação amorosa. É um filme conversa. Sereno, singelo, cru. Desnudo de qualquer obstáculo, sem tabu, sem profundidade psicológica, mas com apuro e atenção aos personagens. A ideia jamais é julgar as atitudes convencionalmente imorais dos personagens, mas sim, estar ao lado deles tentando compreender os contraditórios e incontroláveis sentimentos que permeiam seus corações e suas mentes. A delicadeza também mostra sua face na sensibilidade feminina da diretora Tadjedin, que com sutileza, apesar de insegura (frisa demais seu objeto elementar), monta um desfecho para entendermos que amor não é somente um sentimento, mas sim atitudes de cumplicidade, compreensão – destacando a forma complementar que é um para o outro, independente do que acontece nesse, conturbado, interlúdio entre as fases de um relacionamento. Faltou mais ânsia, querer ir mais longe, mergulhar de cabeça, ainda que seja um filme agradabilíssimo de ver.
Guerra é Guerra!
3.3 1,5K Assista AgoraOriundo dos tempos áureos dos vídeoclipes, o diretor sigla McG mantém suas raízes e seus conceitos intactos para fazer um daqueles filmes que a gente mantém o vício de dizer que é “diversão garantida”. Seguindo mais a linha de seus “As Panteras” e renegando seu desastroso experimento por um cinema mais soturno na franquia do Exterminador, ele volta a conseguir divertir com seu misto de comédia e ação – onde o humor é válvula de escape para sublinhar sua despretensão e sua ação estilizada segue o ritmo videocliptíco que o consagrou. E a trama de espionagem e vilão estrangeiro que busca vingança? Pouco importa. Para McG o foco é a ação e o triangulo amoroso bastante curioso: ao invés de os espiões viverem um jogo duplo, que faz isso é a garota, que ganha à simpatia de Witherspoon, em busca de um parceiro ideal. Do outro lado temos os dois melhores amigos que por orgulho, brigarão pela mesma mulher, e acabarão se apaixonando e colocando a amizade em questão. Quem ficará com ela? Pouco importa. A diversão de McG é na criação dos obstáculos que um personagem cria para o outro, somado com as técnicas pra lá de anticonvencionais que utilizam para conquistá-la. Aí reside toda a graça do filme: assumir-se como uma comédia romântica de ação, aonde a espionagem é mero pretexto para os recursos, o comportamento e as atitudes dos personagens.
A Passagem
3.5 422 Assista AgoraVindo de dramas intensos e fortemente sentimentais, Forster deu uma reviravolta em sua carreira quando fez “A Passagem”, abrindo mão de ser um diretor renomado do drama, para se tornar um genérico artesão. Essa decisão lhe abriu mais portas (convites para conduzir grandes produções), e também esvaziou seu cinema como autor – que tinha como uma das características, se importar e demonstrar um interesse e uma paixão pelos personagens que de tão quentes, pareciam soltar chamas na tela. Dessa premissa, surpreende que com este misto de suspense banal e surrealismo lynchiano, ele abra mão dos personagens para focar suas energias em uma perturbadora viagem esquizofrênica por algum lugar desconhecido. Sem se importar com os personagens, seu interesse é manter o espectador tentando decifrar as inúmeras ilusões, sonhos, delírios que se misturam com a realidade – e que o final revelará a solução de toda aquela confusão. Vindo de um autor que cuidava e tratava seus personagens com tanto carinho e dedicação, admira que aqui os personagens são ventrículos de plástico para uma trama que se revela boba, ingênua, cheia de maneirismos e truques manjados, ainda que esteticamente tenha suas virtudes.
Armadilha
2.2 589Sofre muito com as atuações canhestras, que beiram muitas vezes o amadorismo. Difícil saber se pela falta de talento dos atores ou pela má direção/preparação. O amadorismo aparece também no roteiro, que sofre pela obviedade, um enorme pecado para um filme onde o mistério é a chave da narrativa – ou seja, ele possui um segredo/motivação, que é oculto, misterioso, mas não consegue trabalhar isso com eficiência, pois seu leque é pequeno e limitado. Tenta uma vez ou outra pegar peças no público, mas são pistas falsas, tão tolas que são facilmente identificáveis como fraudes dentro da trama. Não funcionando como um filme de suspense/terror nos resta tentar abstrair algum significado, aonde ele quer chegar esse fiapo de trama, e aí, percebe-se o resultado desastrosamente moralista, ao tentar emergir uma sádica punição para homens de negócios e investidores, com uma redação primária sobre capitalismo. Sofrível como suspense, infantil como discurso.
Deus da Carnificina
3.8 1,4KRoman Polanski, reconhecido por sua notória capacidade estética e seu apuro na linguagem cinematográfica, discursa sem pudores sobre civilidade, cidadania, moralismo, conservadorismo, penetrando ardilosamente na relação intersocial comunitária. Toda a problemática começa a partir de uma banal e corriqueira briga de garotos em busca de espaço e firmação social, que acaba no apartamento dos pais do garoto agredido conversando com os pais do garoto agressor. O que era uma simples e amistosa reparação entre as partes, torna-se uma disputa dialética quando cada personagem tira a pele de cordeiro. Sem se tornar verborrático e evasivo, o texto é um primor em termos argumentativos, tendo demonstrações irrepreensíveis e praticas de comportamentos com pensamentos, premissas e conclusões, além de quando os personagens deixam de estar munidos de argumentos, caem para as falácias, deixando de lado as ideias, e discutindo as pessoas. Dentro de toda aquela baixaria em que os personagens vão se alternando de lado e caminhando para assuntos estritamente pessoais, Polanski não abre mão de rir daquela situação, dos politicamente corretos, dos estupidamente moralistas. Sua “chave de ouro” é a cena final, que absorvemos o sentido de tudo aquilo: somos seres em constante evolução do retrocesso no convívio social.
O Grande Ano
3.0 244São três personagens com conflitos diferentes, mas com uma paixão convergente. É um drama vivido por três personagens apaixonados por observar pássaros e que resolvem deixar tudo de lado em prol desse sentimento irremediável. Tudo pode soar absurdo, as situações e atitudes serem implausíveis, mas a ação impulsiva e a emoção são realmente inexplicáveis e injustificáveis racionalmente – e sem categoria e como alívio cômico, o filme dá um recado nada gentil aos espectadores que acharem aquilo tudo ridículo. Constantemente ele brinca com o espectador de forma bastante criativa – criando disparidade entre narração e imagem, induzindo o espectador a imaginar uma coisa, para culminar em sutis piadinhas de muito bom gosto, até por hora ingênua, mas funcional dentro daquele cenário. O problema do filme fica por conta de algumas coisas ininteligíveis, como a narração em “off” ser do personagem de Jack Black, com a história se passando pelo seu ponto de vista, mas aprofundar igualmente o conflito dos três personagens. Tenho problemas com filmes que não conseguem essa conjuntura narrativa, e não conseguem justificar recursos necessários (narração em off) dentro de sua narrativa (apresentar igualmente três personagens que estão vivendo em tempo e locais diferentes). Por conta disso, muitas coisas do filme funcionam muito mal e outras soam muito suavizadas – principalmente com o Owen Wilson e a relação com sua mulher. Por mais que tenha inúmeras virtudes, esses defeitos não deixam que o filme decole – e por muitos momentos, o torna tedioso.
A Toda Prova
2.7 486 Assista AgoraNunca gostei do cinema de Steven Soderbergh (com raras exceções como “Traffic”), e depois do desastroso “Contágio”, ele acentuou melhor a ação, mas ainda fica difícil comprar esse cinema preguiçoso, cheio de estilo, na mesma proporção da presunção. Sua ação é episódica, meio que um sub-“Kill Bill” feito às pressas, subtraindo todo o carisma que existe na obra de Tarantino. Continua repleto de atores famosos fazendo pontas por serem amigos do diretor, que tenta, de forma fracassada, justificar a presença de todos. É muito personagem pra pouca coisa e uma trama que antes da metade já cansou.
Entre Segredos e Mentiras
3.3 691O filme sofre de sérios problemas de identidade na sua indefinição entre um drama psicológico clássico ou um suspense banal à lá Super Cine, o que prejudica no nosso envolvimento com as situações e até mesmo com o personagem. Sabemos que o personagem é perturbado e sofre de transtornos, mas fica difícil comprar aquela história da forma que ela está sendo contada, com o julgamento do protagonista por diversos crimes – onde a narração em off vai sendo desconstruída pelas imagens. A ideia é boa, mas não funciona para um filme tão cheio de autoimportância e relevância que sequer existem.
Anjos da Lei
3.6 1,4K Assista AgoraVivemos em um tempo de falso conteúdo e excessos de pompas para coisas que são simples e rasas, mas que precisam se justificar em um processo de conteúdo que viram protótipos ao invés de algo com bom acabamento e finalizado. Diversos “Blockbusters” estão aí para confirmar essa conclusão categórica acima. E a grande virtude de “Anjos da Noite” é ser cru, direto, sem lenga-lenga e coisas frescas. É uma grande brincadeira, se assume como tal, e conquista pela sua honestidade e sua irreverência em fazer humor misturado com ação, parodiando tudo e todos. Entre os filmes de 2012, carrega o atualmente o peso de ser: o melhor filme de ação, a melhor comédia e também o melhor filme.
Os Vingadores
4.0 6,9K Assista AgoraO filme é um retrocesso no gênero “filmes de heróis”, lembrando que uma das principais características desse gênero nos anos 2000 foi sua evolução nos aspectos que vão além da superfície – como bem abordou “Homem Aranha” e seu conceito de grandes poderes geram grandes responsabilidades, o preconceito no “X-Men”, a luta sombria e aterrorizante dos “Batman’s” de Nolan, ou o “Lanterna Verde” e seu conflito no medo e na responsabilidade. Quando digo retrocesso, outros podem ler como uma reciclagem ou uma retomada daqueles filmes de heróis que pregavam a profundidade de um pires, alegando que sua única função era divertir o espectador e o afastá-lo de qualquer tipo de pensamento (problemas do dia a dia, ou seja, funcionar como uma droga que aliena a pessoa e seus fardos), ou algo que exigisse mais que meio neurônio – e o cinema tem muitos defensores dessa espécie. E nesse meio, não dá para apontar certos ou errados, mas sim, o que cada um espera do cinema e até onde vai o interesse de cada um por essa arte – tendo, claro, o discernimento para separar as pretensões e o que cada filme quer proporcionar, mas não esquecendo princípios básicos: cinema não é televisão, cinema não é quadrinho, cinema não é publicidade. É possível fazer cinema de entretenimento, desde que este seja autentico e respeite sua essência – e em muitos momentos, “Os Vingadores” consegue essa façanha, mesmo que seja um filme pra lá de raso.
Um Conto Chinês
4.0 852 Assista AgoraOs argentinos fizeram escola e também aprenderam a fazer aqueles “enlatadões” que mais parecem um novelão do que propriamente cinema. “Um Conto Chinês”, o mais sucesso comercial argentino dos últimos anos, aposta na fórmula da comédia dramática com pitadas de romance para viver no lugar-comum, na zona de conforto, e culminar naquelas histórias edificantes que são brevemente esquecidas – pela sua falta de personalidade, a ausência de uma visão em decorrência a uma “historinha” bonitinha contada burocraticamente. Não nos surpreenderá em nada os alívios cômicos que proporcionará a relação entre o argentino autônomo e o chinês perdido, principalmente nos conflitos da falta de comunicação entre eles e a forma com que o argentino tentará se livrar o chinês, sendo este composto unicamente por elementos que nos causem sentimento de piedade. Um filme tão agradável de ver quanto fácil de se esquecer.
Poder Sem Limites
3.4 1,7K Assista AgoraO mais surpreendente de “Poder sem limites” é como ele consegue o tempo todo parecer uma aventura de jovens fazendo cinema, e de repente, vira um grande filme sobre a concepção de super-heróis e vilões. Mais surpreendente ainda, é funcionar perfeitamente nos dois casos – seja quando parece um piloto de seriado, como também quando ganha contornos dramáticos e consegue mesclar ação no desenvolvimento dos personagens. Por mais que tenhamos tido filmes “engomadinhos cheio de filtros” e super-elogiados (os “Batmans” do Nolan, por exemplo), nenhum filme de herói conseguiu chegar com tamanha habilidade na ideia de surgimento de heróis e vilões e o comportamento deles perante o poder a partir de suas experiências de vida, incluindo o envolvimento familiar ou o engajamento social. Tudo está em “Poder sem Limites”. O primeiro passo do filme foi nos apresentar os três personagens, cada um com uma característica e envolvimento social diferente: um que sofre no lar com um pai agressivo e uma mãe doente, além de ser anti social e sofrer bullyng na escola, o primo dele, um cara mais popular e que atrai o olhar das meninas, e um jovem com engajamento político. Os três acabam tendo contato com algo desconhecido, que por consequência, acaba dotando-os de poderes extraordinários. A segunda parte é o segmento do descobrimento. Eles aprendendo a utilizar os poderes e o início de questionamento de o que devem fazer e como regrar o uso dessas armas letais com precaução. E por fim, chegamos ao clímax que desenha a evolução psíquica de cada um dos personagens e como eles reagem e pretendem utilizar esses poderes e como tudo o que viveram influenciam em seus comportamentos e reações. Um raro filme em que o found footage é puramente utilizado como forma, e onde a forma, não é a justificativa para sua existência.