Foram incontáveis as recomendações para que eu assistisse CANGAÇO NOVO, série disponível no streaming da Amazon (inimiga de morte da biblioteconomia, nunca é demais lembrar). E vieram de pessoas com abordagens muito diferentes. Após terminar o oitavo e último episódio da primeira temporada - não tenho dúvida nenhuma que outras virão - posso vaticinar: o clamor é justificado.
A indústria de massa audiovisual mundial vem tendo que lidar, inclusive pra fins lucrativos (mas politicamente tendo que dar a mão pra não perder o braço), com a revolta latente dos pobres contra os ricos, por conta da concentração de renda nas mãos de herdeiros com nada de "meritocracia".
Os exemplos nesse sentido são inúmeros. O CORINGA do Joaquim Phoenix, nos EUA e no nicho de adaptações de quadrinhos; PARASITA, na Coreia do Sul (que conseguiu a proeza de ganhar o Oscar mesmo sendo num idioma alheio ao inglês); TIGRE BRANCO, passado na Índia e dirigido por um iraniano, etc, etc. Todos eles com a revolta contra a concentração de propriedade e renda à beira do estouro. O público sente isso na pele e quer ver essa revolta retratada na arte, inclusive na comercial.
CANGAÇO NOVO é uma entrada dessa manifestação de ódio de classe, absolutamente compreensível, no contexto brasileiro. Em particular, na região nordeste, resgatando o histórico dos cangaceiros de Lampião e Maria Bonita, os quais chegam a ser mencionados de modo bem direto num dos episódios.
Não é por acaso que o protagonista, Ubaldo Vaqueiro, é um "filho pródigo" que volta à terra cearense depois de décadas passando perrengue em São Paulo. Reflete um sentimento de retorno à revolta básica de classe, no todo dos brasileiros e, em particular para os nordestinos, a retomada da sua cultura de base muito politizada após décadas de discriminação na metade sul do Brasil, recentemente agravada pelo bolsonarismo.
Essa identificação vai acontecer pela transição política, emocional e comportamental de Ubaldo, cuja politização leva os revoltosos a mirar onde de fato interessa: nos bancos, ao invés de ser batedor de carteira de trabalhador. Nesse sentido, apesar de ser comparado com CIDADE DE DEUS e outros exemplares do neorrealismo brasileiro, CANGAÇO NOVO lembra principalmente o estadunidense HELL OR HIGH WATER, tanto temática quanto esteticamente.
O elenco é show de bola e muito homogêneo, com a atriz da Dinorá roubando a cena desde o primeiro episódio. A direção é excelente, inclusive nas ótimas cenas de ação muito bem editadas.
Já roteiro acerta na composição dos personagens, com um rico painel sobre disputa por propriedade dos meios de produção e recursos naturais (terra, frigorífico). Há, no entanto, algumas indulgências imperdoáveis que impedem CANGAÇO NOVO de ser perfeito, como o abuso do clichê de "frase de efeito" antes do tiro que dá tempo para o outro lado de recuperar.
No todo, uma ótima série sobre o motor da história da revolta contra os bancos e o fim do verniz de cordialidade política.
Minissérie da Globo que já tem mais de dez anos. Vista integralmente no YouTube.
Tenho problemas com esse negócio de falta de identidade de linguagem: quer ser ao mesmo tempo série, teatro e livro (com passagens inteiras lidas).
Oras, seja uma série e adapte o formato ao que cabe! Senão fica excessivamente teatralizado, inclusive em várias performances do elenco que soam caricatas (principalmente a do Dom Casmurro velho), muito embora a escolha do elenco seja irregular e alguns se saíram bem. Há decisões ousadas que deram certo, como o uso de música internacional (tem até Black Sabbath!).
E há defeitos que são herdados do material-base, como a primeira metade (até a ida ao seminário), na qual não acontece praticamente nada. Saldo razoável.
Muito barulho (bancado pelo setor de marketing da Netflix) por quase nada. Boa maquiagem do Vecna. E um monte de personagens fazendo nada pra mover o enredo de verdade, principalmente o núcleo da van.
Essa série e o longa taiwanês THE SADNESS provam que a civilização sínica segue injetando sangue novo no audiovisual em gêneros outrora clichês e muito manjados, como os filmes de zumbis.
Série com abordagem inusitada e criativa para o velho tema dos vampiros, com roteiro pingando revelações a conta-gotas. Tá bem longe de ser qualquer coisa de mais memorável, mas dá pro gasto.
Bacana nos primeiros três episódios e no final, mas tem um miolo cheio de "fillers" e situações esticadas ao invés de fazer a trama andar. Bons atores à frente dos personagens do dentista e da dona da pensão furreca.
Excelente produto sobre o imponderável da morte e sua cooptação pelo "ópio do povo" (como diria um sábio barbudo): a religião, com um quê de horror cósmico e intriga política. Golaço do diretor de INVASÃO ZUMBI.
Boa mini série de horror de teor sobrenatural crescente, com bons diálogos e elenco ponta firme. Destaco o padre "bonzinho e solícito" feito de Hamish Linklater e, principalmente, a beata suspeita vivida por Samantha Sloyan.
Muito melhor que a série que adaptou o primeiro livro em TODOS os aspectos, mesmo naqueles que continuam medíocres (caso dos efeitos visuais). Roteiro redondinho, cenografia e figurino bastante superiores (apesar das inevitáveis limitações de uma série televisiva), trilha musical agradável.
Todavia, nenhum ponto melhorou tanto quanto o elenco (que inclui o ótimo James McCavoy em começo de carreira). Basta comparar os atores que fazem o Barão Harkonnen e Paul Atreides aqui e na série anterior para notar como uma boa direção de elenco faz mesmo toda a diferença.
Pra finalizar, só reiterar que provavelmente DUNA não é o único livro interessante do Herbert mesmo. Pelo que vi da história narrada aqui, deve ser a saga toda. Haja dinheiro e muitas encarnações pra que eu consiga ler tudo o que tenho vontade!
Roteiro bem ok, dá pra perceber uma adaptação fiel e detalhada mesmo sem ter lido.
Mas se alguém tinha dúvida de que só no papel não tem como uma produção funcionar, essa série veio pra saná-la: direção capenga, efeitos CGI bisonhos de tão mal feitos (até para os padrões da época - o que dirá hoje!), figurino que não ficaria deslocado na Sapucaí, cenografia com telas (mal)pintadas em formato papel de parede.
E pra coroar esse samba do mélange doido, um elenco cuja canastrice é de matar de vergonha alheia - com destaque negativo, pra variar, para os Harkonnen.
Quem recentemente foi surpreendido com o sucesso (artístico, crítico e comercial) do premiadíssimo PARASITA deve ter descoberto um potencia represado que alguns mais "velhos de casa" no cinema sul-coreano, como este que vos digita, já sabia desde que tinha assistido a obra-prima OLDBOY há pelo menos uns quinze anos.
A Coreia do Sul, junto com a Argentina em escala menor, é o que tem feito o cinema mundial respirar criativamente no século XXI. Com ROUND 6, a Coreia ruim vem provar que seu cinema bom também se estende para o formato audiovisual dos seriados, novamente com um sucesso avassalador que já transformou a série na maior audiência da história da maior rede de streaming do mundo. Chupa, Hollywood.
Pouco a pouco vemos uma transferência de monopólio cultural dos países da Europa ocidental e sobretudo Estados Unidos para um adversário à altura (inclusive, faço questão de frisar, comercialmente) lá no distante leste asiático, onde também está aquele outro país que faz frente aos EUA: a China.
Me estendo nessas linhas todas pra enfatizar de onde veio esse "megahit" da Netflix porque, afinal, tem algo de muito revelador nisso. A Coreia, dividida em duas desde os anos quarenta, é o país que emblematiza o quanto a Guerra Fria ainda não, de fato, acabou. O mundo segue às voltas com a luta de classes e um inconformismo, ainda que represado, sobre o imperialismo e a brutal concentração de renda que só piora a cada ano. Cercada pelo Japão, de um lado, e a China, do outro, a Coreia do Sul só faz fronteira terrestre com os irmãos "socialistas" do norte e isso determina radicalmente o quanto ela virou uma caricatura dos valores culturais do capitalismo, daí ter tanta propriedade para falar, em seu cinema (e agora, suas séries) sobre individualismo, falência da polícia como mantenedora da ordem, obsessão pelo dinheiro em meio a um endividamento generalizado.
Num mundo desses, sua vida não vale nada se você não tiver uma conta recheada. As alternativas reais são dinheiro ou (aqui literalmente) morte. Ainda que pra ter essa grana, você tenha que pisar na cabeça do teu próximo, exatamente como os espectadores VIPs da "shownificina" fizeram pra "chegar lá". Se fosse brasileiro, o jogo da série deveria ser, sem dúvidas, apresentado por algum Luciano Huck. A humilhação dos pobres para o entretenimento dos ricos é tão presente lá quanto cá.
Ademais, ROUND 6 vem merecendo todo o sucesso e burburinho que ganhou, com elenco homogêneo e roteiro quase perfeito, só pecando por um ou outro furo nas indulgências sobre o "infiltrado" para revelar a nós o funcionamento dos bastidores daquele sadismo da 'high society'. Também não me agrada o último episódio, que se estende demais no epílogo (apesar de um bom plot twist no meio dessa esticada) e perde a chance de terminar de modo absolutamente coerente com o que vinha sendo apresentado até então mostrando como vencedor um canalha individualista, mercenário e trapaceiro que, aqui, cederam ao clichê e tornaram só o vice-campeão.
Mas os eventuais defeitos são muito, mas muito pouco para comprometer o resultado final e até eles são amenizados pela boa performance dos atores e a direção entusiasmada. Tem ainda brilhantismo técnico, especialmente na cenografia que contrasta a sanguinolência toda com detalhes esteticamente pueris - o que fará mais sentido quando descobrimos quem estava por trás dessa patifaria sádica e sua motivação a la "rosebud" de CIDADÃO KANE de retorno à infância.
Um último comentário: quem vem comparando com as insossas franquias hollywoodianas JOGOS VORAZES e JOGOS MORTAIS errou feio. ROUND 6 tem muito mais do japonês BATTLE ROYALE e até, arrisco dizer, do espanhol O QUE VOCÊ FARIA?. Nos death games da hegemonia cultural - e essa é a maior mensagem que ROUND 6 acaba passando - quem pode acabar abocanhando a vitória é o audiovisual dos asiáticos.
Apesar de não ser tão boa quanto a temporada anterior, mantém o nível bem alto.
Tem personagens bobos, como aquele inútil interpretado de modo careteiro por Brian Cox e a passagem inexpressiva de Wyatt Earp, numa espécie de "fan service" com a mitologia do western estadunidense bem pior do que foi o Wild Bill na primeira temporada.
O que realmente mantém o nível alto, todavia, é o crescimento do antagonista George Heasrt, brilhantemente vivido por Gerald McRaney, uma personificação do então ascendente capital imperialista que veio pra buscar engolir os chefões locais (incluindo aí o sempre impagável personagem de Ian McShane, ainda a alma da série).
Personagens cativantes vividos por um elenco homogêneo (destaque para a performance vigorosa e cínica de Ian McShane, a alma de Deadwood), roteiro com abordagens corajosas incluindo morte de criança e até serial killer, tratamento estético de figurino e cenografia estonteantes. Diferente da maioria, achei um tiquinho superior à primeira temporada.
Que pena que uma série que teve uma temporada inicial tão primorosa virou um ajuntadão de episódios "fillers", com roteiro inacreditavelmente preguiçoso e um amontoado de incoerências em relação ao que vimos na primeira temporada.
Quanto mais conheço June Osbourne - em performance excelente de Elizabeth Moss, muito embora depois ela padeça com a direção de elenco que piora e se arrasta no geral - mais acabo por acompanhar sua trajetória aos bocejos e até com certa antipatia, sobretudo por uma decisão individualista e estúpida no começo da quarta temporada que coloca esforço de várias aias a perder (numa das muitas contradições de construção de personagens).
O elenco de apoio no geral vai na mesma toada, com tendência a piora depois que a ambientação muito mais interessante do casal Waterford vai dando lugar ao insosso casal de velhos toscos Lawrence. A aparição (e gradual crescimento) de Joseph no final da segunda temporada, por sinal, eu considero o marco zero da decadência criativa, artística e narrativa do roteiro.
Já a atriz que faz a Tia Lydia rouba a cena várias vezes e segura o tranco como personagem complexa e perturbadora até mesmo nos momentos mais fracos da série, vide o bom flashback no meio da terceira temporada.
Lamentável que O CONTO DA AIA tenha uma primeira temporada (e mais da metade da segunda) magistrais e aos poucos vai substituindo a distopia raiz inicial por uma pra lá de nutella, com direito a polícia e serviço de inteligência de Gilead como as mais estúpidas do universos (desdizendo o que era apresentado no começo) e "comandantes" em tese super malandros que caem em armadilhas pra lá de infantis de declarados inimigos diplomáticos.
Fora o chororô quase onipresente na terceira e quarta temporadas, que fazem os personagens (especialmente quando cruzam a fronteira canadense) se transformarem numa agrupamento de melindrosos que a gente até torce pra que saiam logo de cena de tão bundões!
No fim das contas, acabou virando só mais um sub produto rasteiro e manjado da "cultura do empoderamento identitário", traço ideológico que é diretamente fomentado pela CIA e pela ala direita do Partido Democrata estadunidense já faz tempo.
Passado mais de um século desde que foi lançado nos cinemas franceses, o thriller mudo de aproximadamente sete horas de duração dirigido em episódios por Louis Feuillade continua tenso, divertido e cativante. É não por acaso um dos pilares do gênero e estabeleceu muitas de suas convenções.
Ter essa perenidade toda pra um longa tão antigo e extenso, com as limitações características de uma era pré decupagem griffithiana (como a câmera quase sempre estática e as atuações over teatrais, exceto da antagonista) não é pra qualquer um e a obra merece de fato nosso reconhecimento. O melhor modo de assisti-lo sem se assustar com a duração é encarar como se fosse uma dessas mini séries de hoje, dividida em capítulos (alguns com bons cliffhangers) que são a deixa pra você talvez interromper e retomar pouco depois.
Tem lá seus defeitos como os já citados maneirismos pré-griffithianos de uma arrte que ainda se estabelecia como linguagem própria e um herói insosso que não ganha densidade nem depois de mais de seis horas na tela, fazendo com que a gente praticamente torça pela antagonista Irma Vep, vivida com plena entrega por uma certa Musidora (uma atriz de corpinho atlético totoso e grande talento dramático), compondo uma personagem tridimensional com um arco dramático repleto de interessantíssimas reviravoltas. O "Watson" daqui, interpretado por Marcel Lévesque, também é carismático e funciona bem como alívio cômico sem ser intrusivo no enredo mais tenso ligado às investidas da sociedade secreta criminosa que dá título ao filme.
Claro, não será um filme para todos os gostos. Se você, porém, quiser encarar a experiência de um longa-metragem (e bota longa nisso!) mudo de sete horas com boa vontade, realmente curioso pra saber o que ele tem a entregar mais de cem anos depois, vai ser envolvido por uma história divertida de um suspense que ainda hoje - mais de cem anos depois - permanece muito bom.
Pior temporada da série, que ainda dá pra relevar em parte por conta do primeiro episódio. O segundo é meia boca, com premissa ok e desenrolar decepcionante. O último começa bem na primeira metade e na segunda se revela um reles veículo publicitário da tal Miley Cyrus, com um monte de diálogos bobos e indulgências de roteiro.
LEIAM A ANÁLISE DO ZIZEK! Dá pra achar no google, procuram por "Feminilidade tóxica em “Game of Thrones” | Žižek escreve sobre o desfecho da série".
Muito interessante essa análise ideológica do Zizek do final meia-boca de Game of Thrones. Até que enfim estão falando mais da parte política e não só "psicológica" envolvendo a reviravolta de Daenerys. Vale a pena também ler também os textos dele sobre "Cavaleiro das Trevas Ressurge" e "Pantera Negra" (que estão linkados no meio do texto).
A análise foca demais na questão da feminilidade (mas ainda assim de modo interessante) e perde um pouco a oportunidade de bater mais na tecla do claro paralelo entre Daenerys e a "ameaça vermelha que vem do Oriente com dragões" (tem algo de China aí?), um dos temores mais clássicos da cultura de massa produzida pelos países da OTAN. Acaba fazendo isso mais pro final do texto.
Visto duas vezes o episódio cinco da temporada final, pra ter certeza da opinião formada.
E, sinceramente? Depois da imensa decepção que foi o festival de deus ex machina do 3º episódio e todo o 'estelionato narrativo' que foi um inverno que se mostrou só uma brevíssima frente fria, venho sendo positivamente surpreendido com uma melhora substancial nos dois episódios seguintes. E sei que estou indo na contramão da maioria, que gosta MENOS da segunda metade da temporada que da primeira.
Abaixo comento prós e contras detalhadamente, com spoilers.
- O pior do episódio de muito longe foi a desnecessária briga entre Euron e Jaime, que só serviu pra um 'fanservice' desnecessário de encontro dos dois amantes da rainha. Se o Jaime tivesse ido direto pra encontrar a Cersei e o Euron tivesse morrido junto com a frota, seria muito mais interessante e até lógico, porque o 'kraken' aparecer justamente quando o Jaime ia verificar o bote foi uma pesada de mão exageradíssima do roteiro. Depois da briga vai o Jaime mais furado que peneira conseguir caminhar de modo inverossímil sem maior esforço até o castelo. E a fala final do Euron é ridícula;
- Há algumas forçadas no roteiro pra conseguir chegar mais apressadamente onde queria, que acabaram me incomodando pelo menos em parte, mas não de todo justamente porque a recompensa dramática do que eles 'forçaram' foi boa. É o caso de enfiarem Cão e Arya passando pelo exército inimigo só com um diálogo bobo com um soldado comum e Jaime conseguindo manobrar aqui e ali pra encontrar a Cersei só quando ela já estava sozinha.
PRÓS
- Fora o que descrevi nos dois parágrafos acima, sinceramente, só tenho elogios. Começando pela excelente parte técnica e visual do episódio, que apesar de ter o mesmo diretor do péssimo "The Long Night" (mas também era o da antológica "Batalha dos Bastardos"), aqui escolheu mostrar tudo à luz do dia, o excesso de névoa e fuligem é bem justificado mas em momento nenhum atrapalha o que assistimos na tela, diferente do que aconteceu na confusíssima batalha de Winterfell, que além de tudo tinha excesso de deus ex machina - o que não há aqui;
- A reviravolta da Daenerys foi ÓTIMA! Digna dos melhores momentos da série, que tem como proposta romper clichês sobre personagens centrais. Na verdade, sempre me incomodava um pouco como ela era um personagem meio 'intocável' até aqui, com poucos defeitos de verdade. Agora, ficou mais densa e com um arco dramático mais intenso. A fanbase dela que chore à vontade, porque a personagem idolatrada pelos mais fanáticos NÃO é nem pode ser "intocável" e desprovida de defeitos;
- Discordo de muita gente que o arco dramático da virada dela foi "apressado". Já vinham sendo construídas várias pistas sobre isso desde a temporada passada, com o crescente isolamento dela após a travessia do mar. Melhor ainda, costuraram isso no roteiro de um jeito que dá pra entender (mesmo porventura não aceitando) tanto as motivações dela e do Verme Cinzento, quanto a dos que a traíram. Como diz o Tyrion, todos no fundo estavam tentando ajudar, inclusive o 'senescal perfumado' Varys;
- Rompem brilhantemente com a expectativa quando a gente esperava uma batalha e conseguiram entregar de modo verossímil (inclusive pelas técnicas de batalha usadas) como o dragão deu conta de praticamente sozinho f*der com o exército inteiro da agora finada rainha Lannister. Quando a gente esperava algo mais 'parelho', vimos praticamente um massacre da Daenerys quase sozinha, que só pisou mais ainda no acelerador mesmo depois da rendição dos inimigos;
- A subversão de perspectiva do exército de Daenerys e seus aliados mais 'palacianos', após o tilintar dos sinos, para o povão de King's Landing é de cair o queixo. Saiu de uma batalha pra um genocídio partindo do ponto de vista de pessoas comuns nas quais deixamos de ver o rosto de Daenerys a partir de então (teve gente reclamando disso, achei ótimo e a gente fica só imaginando o que se passou na cabeça dela), com assassinato de crianças, feridos se acumulando em becos, tentativas de estupro e etc. Fomos esperando uma batalha estilo Minas Tirith, todavia encontramos uma narrativa que lembra mais uma narração de efeitos de bomba atômica devastadora à la Barefoot Gen, com o agressor visto só como ameaça inalcançável que covardemente vem de cima. Ruptura bem feita de expectativa, fazendo sim todo sentido (diferente do estelionato que foi a construção narrativa do exército do Rei da Noite e o prometido 'inverno' que ele nem vagamente chegou perto de trazer);
- A apatia diante do massacre e o final shakespeariano da Cersei, outra coisa que muita gente chiou, gostei um bocado, achei ótimo e poético como o poder literalmente soterrou ela. "Ain mas ela merecia sofrer mais", alguns disseram. Até concordo, vibrei demais na inesquecível cena da 'walk of shame' da quinta temporada e adoro ver esses personagens estilo 'rico mimadinho' se ferrando, começando pela desgraça do Joffrey, ainda hoje o vilão da série que mais amei odiar. Mas a vida nem sempre é justa (longe disso, aliás) e nem toda a morte é 'sofrida' quando a gente gostaria que fosse (o próprio Joffrey não sofreu 10% do que passou a família Stark no casamento vermelho), da mesma forma que muita gente bacana e melhor de caráter tem mortes dolorosas. E ó, achei um ACERTO o roteiro tirar a aura de fodona da Cersei e dar a ela carga de chorar e desabar emocionalmente no fim, com direito a direção não fugir do sofrimento dela ou fingir que ela 'não merecia' esse direito no finzinho da vida;
- Também não concordo com quem alega que o arco do Jaime tinha que acabar 'bonitinho', com final serelepe dele com a Bryenne. Come the f*ck on! O fato dele ter se revelado denso e capaz de boas ações no transcorrer da série não quer dizer que vá se 'redimir' necessariamente, como aconteceu com o Theon. Alguns personagens de fato se redimem e passam pra uma maturidade irreversível, mas outros não e acabam sucumbindo de volta à sua origem de se associar com os "vilões". A vida é assim e Game of Thrones tem essa pegada mais realista de não usar seu universo fantasioso pra um escape catártico e confortável. Fora que ele tinha um filho no ventre da Cersei e era a mulher com a qual ele dividiu quase a vida toda, pelo amor de Odin! Faz TODO o sentido que ele se importe e tente ficar ao lado dela, mesmo com a 'tentação' de tomar outro rumo com a Bryenne e deixar a irmã se estrepando sozinha;
- ÓTIMO que o roteiro tenha culhão para dividir os fãs que agem mais como 'torcedores' de algum personagem ou clã que entre os que se aliaram na sétima temporada e agora jogue os 'heróis' uns contra os outros, mas todos com motivações boas, de modo que a gente fique até meio sem graça de torcer contra um dos lados. É a proposta da série não ser maniqueísta, e afinal está cumprindo;
- A briga dos Clegane foi excelente e eletrizante, essa nem preciso elogiar muito porque quase todo mundo gostou, até os detratores do episódio;
- Arya sendo mergulhada nos becos de King's Landing em planos-sequência (pqp, como eu adoro plano-sequência, coisa de CINEMA RAIZ, feito na raça!) no melhor estilo "Filhos da Esperança" aumenta a carga dramática colocando uma personagem querida do público pra passar apuros com o povão enquanto a OUTRA personagem não menos querida é quem tá causando o genocídio lá de cima, aumentando a nossa incerteza emocional. A montagem ficou joia e não há a confusão de geografia da ação como acontecia no episódio 8x03;
- Elenco em grande momento com ótimas despedidas de personagens que acompanhamos há anos e (pre)sentimos que podem não chegar vivos até o fim do episódio. Aliás, novamente comparando com o fraco terceiro capítulo da temporada, aqui sim nós REALMENTE tivemos a morte de personagens centrais, sem a covardia que rolou pra salvar na mão grande do roteiro um monte de gente (principalmente Sam) em situação de morte quase certa na batalha de Winterfell.
Péssima geografia de ação na qual a gente mal sabe onde cada personagem está, montagem que corta em momentos-chave da tensão e quebra o clima, estratégias completamente imbecis (bora mandar a cavalaria pro suicídio logo de cara e deixar as mulheres e crianças perto dos cadáveres!), cenas absurdamente escuras para economizar no CGI, dragões inúteis até nas questões mais óbvias (não era pra ter acendido a trincheira com eles ao invés de sobrar pra feiticeira fazer "macumba"?), rompantes inverossímeis de personagens velhos (tipo o 'pânico' do Clegane), covardia para salvar personagens centrais (um retrocesso imperdoável numa série que começou tendo culhão de fazer o oposto disso) e, claro, deus ex machina à exaustão - de fazer vergonha até ao precedente deixado no penúltimo episódio da sétima temporada.
Isso pra citar só ALGUNS defeitos, porque dava pra ficar até amanhã mencionando mais. Já tô receando ver um clímax estilo novela da Globo no final de tudo. A comparação com a batalha de Helm, que muita gente fez (acho que até os produtores) é pra lá de descabida, já que a cena de "As Duas Torres" dá de 7x1 nesse amontoado confuso de névoa e fuligem.
Tendo em vista a última temporada que sai neste mês e toda a polêmica envolvendo Kevin Spacey, assisti a quinta temporada.
Honestamente, a série já vem perdendo o gás desde a temporada anterior e caindo em força do roteiro, embora mantenha um nível de interesse acima da média. Um monte de situações envolvendo traições políticas e até assassinatos são exploradas de forma insatisfatória, perdendo chance de criar mais tensão e cenas chocantes.
O choque nunca foi muito a praia de "House of Cards", é verdade, mas a tensão era marca registrada no começo. Aqui, já é bem menos contundente do que nas primeiras duas temporadas. Subtramas como a da eleição (arrastada ad nauseam por várias temporadas) são tão demoradas que a gente até comemora quando acabam, ao invés de ficarmos na ponta da cadeira esperando os próximos acontecimentos. O elenco, mesmo com baixas como a ausência do agora oscarizado Mahershala Ali, continua uniforme e competente.
Saldo mais ou menos. Agora é ver matar a curiosidade do que será a derradeira temporada sem Spacey e como ela refletirá o atual momento não só da crise política da Casa Branca, mas também a crise envolvendo denúncias sexuais de estrelas roliudianas.
A série é só mais uma tentativa de fazer propaganda de claro enviesamento partidário (nem que seja negando mais um dos partidos ao invés de afirmar positivamente um deles - o que acaba sendo favorecimento do que é menos negado, de todo modo), exatamente como foi o patético longa-metragem "Polícia Federal - A Lei é para Todos", outro que tinha uma necessidade enorme de se afirmar como 'neutro e suprapartidário' no marketing justamente pra dissimular o enviesamento político bastante óbvio.
Dilma Rousseff foi a pessoa mais honesta que ocupou o gabinete presidencial. Todo mundo - até seus detratores mais ferrenhos - sabe perfeitamente desse fato.
Por isso passam a inventar justificativas bisonhas do tipo "ain ela naum usa mesóclise como o Temer e FHC" e outras imbecilidades que supostamente 'justificariam' tirar o mandato da mulher que foi efetivamente (re)eleita para governar até 31 de dezembro deste ano.
No lugar dela, entrou ilegitimamente um traidor que disse com todas as letras no final de 2015 que era relegado ao papel de VICE DECORATIVO (ou seja, corretamente não apitava em nada), pra fazer o inverso do projeto eleito em 2014 (incluindo dar poderes ao PSDB) e acabar com tudo quanto é direito trabalhista e previdenciário, além do entreguismo privateiro que fere a nossa soberania.
E podem tirar quantos direitos quiserem que ainda vai ter 'manifestoche' otário caindo na cortina de fumaça da "campanha contra a currupissaum'", como se a máfia togada que ganha auxílio-moradia de 4 mil reais fosse 'santa' e o que estivesse em jogo fosse só moralismo judiciário/midiático e não dilapidar a nossa (pouca) independência diante de Washington - que, aliás, COMPROVADAMENTE (obrigado, Snowden!) espionava e se intrometia nos assuntos da nossa política.
O parceiro mais novo do Sereno só faz cagada porque é 'emotivinho' demais. Achei pertinente essa crítica do roteiro, essencialmente a mesma que fazem com o arco do Poe Dameron em "Os Últimos Jedi".
Boa parte do que você já deve ter lido ou ouvido acerca dos defeitos da sétima temporada daquela que, por enquanto, ainda detém o título de melhor e mais influênte série televisiva do momento, sinto informar, é verdade. É a pior temporada até o momento, caiu sensivelmente de nível no tocante aos roteiros e deixou um sabor amargo de dúvida e apreensão acerca da conclusão com a oitava e derradeira temporada, que deverá ser ainda mais curta do que esta.
Eu já tinha ficado com um pé atrás na transição da quinta para a sexta temporada, afinal, seria o momento de perder a base sólida dos livros de George Martin e criar seus roteiros de modo original. Mas pra surpresa não só minha, como da grande maioria de quem tinha esse receio, "Game of Thrones" teve uma temporada primorosa no ano passado, com pelo menos uns três episódios pra lá de memoráveis, sendo o melhor deles (e um dos melhores de toda a série) o antológico "Batalha dos Bastardos", dirigido e montado com brilhantismo.
Por conta disso, fui para a sétima temporada mais tranquilo e partindo do pressuposto que a qualidade da série estava garantida até o desfecho. Infelizmente, no entanto, muitos dos erros que eu esperava ver em 2016 apareceram justamente neste ano. O principal deles é a ameaça crescente da 'novelização' do enredo, tornado personagens importantes - especialmente os agora inseparáveis Jon Snow e Daenerys Targaryen - em caricaturas rasas do que já foram outrora, carregando na tentativa de levar os espectadores mais fanáticos a 'shippar' o casal em momentos dignos de "Maria do Bairro", com direito ao rei do norte chamando a mãe dos dragões de "Danny"! Essa fofura toda é alienígena numa série que fez fama e fortuna justamente com sangue, sexo e pouca (pra não dizer nenhuma) margem pra pieguices melodramáticas.
Também pesou contra a temporada o fato de terem decidido condensar tudo em menos episódios que as anteriores. Por conta disso, os roteiros agora são truncados, passagens importantes do enredo são contadas em ritmo de correria (especialmente nos últimos três episódios), há um abuso de momentos forçados para criar 'fan service' e, mais importante, faltaram as mortes e surpresas contundentes que nós nos acostumamos a esperar da série. O único personagem com importância pelo menos razoável que partiu dessa pra melhor em Westeros foi revelado na metade da 'season finale'.
É particularmente imperdoável o abuso da 'suspensão da descrença' que há no penúltimo episódio, com um monte de personagens importantes escapando de hordas intermináveis de mortos-vivos através de pura sorte. Desse jeito a série fica parecendo "The Walking Dead", a qual começou bem e desde a quarta temporada é conhecida justamente pela incompetência completa dos zumbis e a covardia dos roteiristas de matar personagens mais velhos de casa, abusando de recursos que sugerem escapadas miraculosas.
Apesar da chuva de críticas que fiz até aqui, a verdade é que - pelo menos até agora - Game of Thrones até ruim é boa. O nível técnico continua sensacional e os quatro primeiros episódios são muito bons, com destaque para o excelente "Spoils of War", brilhantemente editado e de tirar o fôlego. O elenco ainda segue ponta firme, bastante homogêneo (não consigo apontar um ator sequer ali que tenha se saído mal) e acompanhamos o destino dos personagens com grande interesse. Apesar das queixas de alguns que acharam a temporada mais chata, julguei o ritmo bom e a narrativa competente - sendo o maior problema nesse aspecto justamente as vezes em que tenta acelerar os eventos até demais.
Sobra agora esperar o que vem com a invasão dos white walkers no ano que vem e torcer para que o nível da série volte ao que era na sexta temporada. A melhor série da atualidade merece um final não menos que genial. Mas que agora dá um friozinho na barriga com receio de isso não vá se concretizar, isso dá..
Cangaço Novo (1ª Temporada)
4.4 207 Assista AgoraMOTOR DA HISTÓRIA NO SERTÃO
Foram incontáveis as recomendações para que eu assistisse CANGAÇO NOVO, série disponível no streaming da Amazon (inimiga de morte da biblioteconomia, nunca é demais lembrar). E vieram de pessoas com abordagens muito diferentes. Após terminar o oitavo e último episódio da primeira temporada - não tenho dúvida nenhuma que outras virão - posso vaticinar: o clamor é justificado.
A indústria de massa audiovisual mundial vem tendo que lidar, inclusive pra fins lucrativos (mas politicamente tendo que dar a mão pra não perder o braço), com a revolta latente dos pobres contra os ricos, por conta da concentração de renda nas mãos de herdeiros com nada de "meritocracia".
Os exemplos nesse sentido são inúmeros. O CORINGA do Joaquim Phoenix, nos EUA e no nicho de adaptações de quadrinhos; PARASITA, na Coreia do Sul (que conseguiu a proeza de ganhar o Oscar mesmo sendo num idioma alheio ao inglês); TIGRE BRANCO, passado na Índia e dirigido por um iraniano, etc, etc. Todos eles com a revolta contra a concentração de propriedade e renda à beira do estouro. O público sente isso na pele e quer ver essa revolta retratada na arte, inclusive na comercial.
CANGAÇO NOVO é uma entrada dessa manifestação de ódio de classe, absolutamente compreensível, no contexto brasileiro. Em particular, na região nordeste, resgatando o histórico dos cangaceiros de Lampião e Maria Bonita, os quais chegam a ser mencionados de modo bem direto num dos episódios.
Não é por acaso que o protagonista, Ubaldo Vaqueiro, é um "filho pródigo" que volta à terra cearense depois de décadas passando perrengue em São Paulo. Reflete um sentimento de retorno à revolta básica de classe, no todo dos brasileiros e, em particular para os nordestinos, a retomada da sua cultura de base muito politizada após décadas de discriminação na metade sul do Brasil, recentemente agravada pelo bolsonarismo.
Essa identificação vai acontecer pela transição política, emocional e comportamental de Ubaldo, cuja politização leva os revoltosos a mirar onde de fato interessa: nos bancos, ao invés de ser batedor de carteira de trabalhador. Nesse sentido, apesar de ser comparado com CIDADE DE DEUS e outros exemplares do neorrealismo brasileiro, CANGAÇO NOVO lembra principalmente o estadunidense HELL OR HIGH WATER, tanto temática quanto esteticamente.
O elenco é show de bola e muito homogêneo, com a atriz da Dinorá roubando a cena desde o primeiro episódio. A direção é excelente, inclusive nas ótimas cenas de ação muito bem editadas.
Já roteiro acerta na composição dos personagens, com um rico painel sobre disputa por propriedade dos meios de produção e recursos naturais (terra, frigorífico). Há, no entanto, algumas indulgências imperdoáveis que impedem CANGAÇO NOVO de ser perfeito, como o abuso do clichê de "frase de efeito" antes do tiro que dá tempo para o outro lado de recuperar.
No todo, uma ótima série sobre o motor da história da revolta contra os bancos e o fim do verniz de cordialidade política.
Capitu
4.5 629Minissérie da Globo que já tem mais de dez anos. Vista integralmente no YouTube.
Tenho problemas com esse negócio de falta de identidade de linguagem: quer ser ao mesmo tempo série, teatro e livro (com passagens inteiras lidas).
Oras, seja uma série e adapte o formato ao que cabe! Senão fica excessivamente teatralizado, inclusive em várias performances do elenco que soam caricatas (principalmente a do Dom Casmurro velho), muito embora a escolha do elenco seja irregular e alguns se saíram bem. Há decisões ousadas que deram certo, como o uso de música internacional (tem até Black Sabbath!).
E há defeitos que são herdados do material-base, como a primeira metade (até a ida ao seminário), na qual não acontece praticamente nada. Saldo razoável.
Stranger Things (4ª Temporada)
4.2 1,0K Assista AgoraMuito barulho (bancado pelo setor de marketing da Netflix) por quase nada. Boa maquiagem do Vecna. E um monte de personagens fazendo nada pra mover o enredo de verdade, principalmente o núcleo da van.
Kingdom (2ª Temporada)
4.3 146Essa série e o longa taiwanês THE SADNESS provam que a civilização sínica segue injetando sangue novo no audiovisual em gêneros outrora clichês e muito manjados, como os filmes de zumbis.
A Maldição da Residência Hill
4.4 1,4K Assista AgoraMeu Mike Flanagan é GIGANTE!
Post Mortem: Ninguém Morre em Skarnes
3.5 33 Assista AgoraSérie com abordagem inusitada e criativa para o velho tema dos vampiros, com roteiro pingando revelações a conta-gotas. Tá bem longe de ser qualquer coisa de mais memorável, mas dá pro gasto.
Strangers from Hell
4.1 67Bacana nos primeiros três episódios e no final, mas tem um miolo cheio de "fillers" e situações esticadas ao invés de fazer a trama andar. Bons atores à frente dos personagens do dentista e da dona da pensão furreca.
Profecia do Inferno (1ª Temporada)
3.6 172 Assista AgoraExcelente produto sobre o imponderável da morte e sua cooptação pelo "ópio do povo" (como diria um sábio barbudo): a religião, com um quê de horror cósmico e intriga política. Golaço do diretor de INVASÃO ZUMBI.
Missa da Meia-Noite
3.9 730Boa mini série de horror de teor sobrenatural crescente, com bons diálogos e elenco ponta firme. Destaco o padre "bonzinho e solícito" feito de Hamish Linklater e, principalmente, a beata suspeita vivida por Samantha Sloyan.
Filhos de Duna
3.2 14Muito melhor que a série que adaptou o primeiro livro em TODOS os aspectos, mesmo naqueles que continuam medíocres (caso dos efeitos visuais). Roteiro redondinho, cenografia e figurino bastante superiores (apesar das inevitáveis limitações de uma série televisiva), trilha musical agradável.
Todavia, nenhum ponto melhorou tanto quanto o elenco (que inclui o ótimo James McCavoy em começo de carreira). Basta comparar os atores que fazem o Barão Harkonnen e Paul Atreides aqui e na série anterior para notar como uma boa direção de elenco faz mesmo toda a diferença.
Pra finalizar, só reiterar que provavelmente DUNA não é o único livro interessante do Herbert mesmo. Pelo que vi da história narrada aqui, deve ser a saga toda. Haja dinheiro e muitas encarnações pra que eu consiga ler tudo o que tenho vontade!
Duna
3.4 11Roteiro bem ok, dá pra perceber uma adaptação fiel e detalhada mesmo sem ter lido.
Mas se alguém tinha dúvida de que só no papel não tem como uma produção funcionar, essa série veio pra saná-la: direção capenga, efeitos CGI bisonhos de tão mal feitos (até para os padrões da época - o que dirá hoje!), figurino que não ficaria deslocado na Sapucaí, cenografia com telas (mal)pintadas em formato papel de parede.
E pra coroar esse samba do mélange doido, um elenco cuja canastrice é de matar de vergonha alheia - com destaque negativo, pra variar, para os Harkonnen.
Round 6 (1ª Temporada)
4.0 1,2K Assista AgoraDINHEIRO OU MORTE
Quem recentemente foi surpreendido com o sucesso (artístico, crítico e comercial) do premiadíssimo PARASITA deve ter descoberto um potencia represado que alguns mais "velhos de casa" no cinema sul-coreano, como este que vos digita, já sabia desde que tinha assistido a obra-prima OLDBOY há pelo menos uns quinze anos.
A Coreia do Sul, junto com a Argentina em escala menor, é o que tem feito o cinema mundial respirar criativamente no século XXI. Com ROUND 6, a Coreia ruim vem provar que seu cinema bom também se estende para o formato audiovisual dos seriados, novamente com um sucesso avassalador que já transformou a série na maior audiência da história da maior rede de streaming do mundo. Chupa, Hollywood.
Pouco a pouco vemos uma transferência de monopólio cultural dos países da Europa ocidental e sobretudo Estados Unidos para um adversário à altura (inclusive, faço questão de frisar, comercialmente) lá no distante leste asiático, onde também está aquele outro país que faz frente aos EUA: a China.
Me estendo nessas linhas todas pra enfatizar de onde veio esse "megahit" da Netflix porque, afinal, tem algo de muito revelador nisso. A Coreia, dividida em duas desde os anos quarenta, é o país que emblematiza o quanto a Guerra Fria ainda não, de fato, acabou. O mundo segue às voltas com a luta de classes e um inconformismo, ainda que represado, sobre o imperialismo e a brutal concentração de renda que só piora a cada ano. Cercada pelo Japão, de um lado, e a China, do outro, a Coreia do Sul só faz fronteira terrestre com os irmãos "socialistas" do norte e isso determina radicalmente o quanto ela virou uma caricatura dos valores culturais do capitalismo, daí ter tanta propriedade para falar, em seu cinema (e agora, suas séries) sobre individualismo, falência da polícia como mantenedora da ordem, obsessão pelo dinheiro em meio a um endividamento generalizado.
Num mundo desses, sua vida não vale nada se você não tiver uma conta recheada. As alternativas reais são dinheiro ou (aqui literalmente) morte. Ainda que pra ter essa grana, você tenha que pisar na cabeça do teu próximo, exatamente como os espectadores VIPs da "shownificina" fizeram pra "chegar lá". Se fosse brasileiro, o jogo da série deveria ser, sem dúvidas, apresentado por algum Luciano Huck. A humilhação dos pobres para o entretenimento dos ricos é tão presente lá quanto cá.
Ademais, ROUND 6 vem merecendo todo o sucesso e burburinho que ganhou, com elenco homogêneo e roteiro quase perfeito, só pecando por um ou outro furo nas indulgências sobre o "infiltrado" para revelar a nós o funcionamento dos bastidores daquele sadismo da 'high society'. Também não me agrada o último episódio, que se estende demais no epílogo (apesar de um bom plot twist no meio dessa esticada) e perde a chance de terminar de modo absolutamente coerente com o que vinha sendo apresentado até então mostrando como vencedor um canalha individualista, mercenário e trapaceiro que, aqui, cederam ao clichê e tornaram só o vice-campeão.
Mas os eventuais defeitos são muito, mas muito pouco para comprometer o resultado final e até eles são amenizados pela boa performance dos atores e a direção entusiasmada. Tem ainda brilhantismo técnico, especialmente na cenografia que contrasta a sanguinolência toda com detalhes esteticamente pueris - o que fará mais sentido quando descobrimos quem estava por trás dessa patifaria sádica e sua motivação a la "rosebud" de CIDADÃO KANE de retorno à infância.
Um último comentário: quem vem comparando com as insossas franquias hollywoodianas JOGOS VORAZES e JOGOS MORTAIS errou feio. ROUND 6 tem muito mais do japonês BATTLE ROYALE e até, arrisco dizer, do espanhol O QUE VOCÊ FARIA?. Nos death games da hegemonia cultural - e essa é a maior mensagem que ROUND 6 acaba passando - quem pode acabar abocanhando a vitória é o audiovisual dos asiáticos.
Deadwood - Cidade Sem Lei (3ª Temporada)
4.3 16Apesar de não ser tão boa quanto a temporada anterior, mantém o nível bem alto.
Tem personagens bobos, como aquele inútil interpretado de modo careteiro por Brian Cox e a passagem inexpressiva de Wyatt Earp, numa espécie de "fan service" com a mitologia do western estadunidense bem pior do que foi o Wild Bill na primeira temporada.
O que realmente mantém o nível alto, todavia, é o crescimento do antagonista George Heasrt, brilhantemente vivido por Gerald McRaney, uma personificação do então ascendente capital imperialista que veio pra buscar engolir os chefões locais (incluindo aí o sempre impagável personagem de Ian McShane, ainda a alma da série).
Deadwood - Cidade Sem Lei (2ª Temporada)
4.2 13Personagens cativantes vividos por um elenco homogêneo (destaque para a performance vigorosa e cínica de Ian McShane, a alma de Deadwood), roteiro com abordagens corajosas incluindo morte de criança e até serial killer, tratamento estético de figurino e cenografia estonteantes. Diferente da maioria, achei um tiquinho superior à primeira temporada.
O Conto da Aia (4ª Temporada)
4.3 428 Assista AgoraDISTOPIA NUTELLA
Que pena que uma série que teve uma temporada inicial tão primorosa virou um ajuntadão de episódios "fillers", com roteiro inacreditavelmente preguiçoso e um amontoado de incoerências em relação ao que vimos na primeira temporada.
Quanto mais conheço June Osbourne - em performance excelente de Elizabeth Moss, muito embora depois ela padeça com a direção de elenco que piora e se arrasta no geral - mais acabo por acompanhar sua trajetória aos bocejos e até com certa antipatia, sobretudo por uma decisão individualista e estúpida no começo da quarta temporada que coloca esforço de várias aias a perder (numa das muitas contradições de construção de personagens).
O elenco de apoio no geral vai na mesma toada, com tendência a piora depois que a ambientação muito mais interessante do casal Waterford vai dando lugar ao insosso casal de velhos toscos Lawrence. A aparição (e gradual crescimento) de Joseph no final da segunda temporada, por sinal, eu considero o marco zero da decadência criativa, artística e narrativa do roteiro.
Já a atriz que faz a Tia Lydia rouba a cena várias vezes e segura o tranco como personagem complexa e perturbadora até mesmo nos momentos mais fracos da série, vide o bom flashback no meio da terceira temporada.
Lamentável que O CONTO DA AIA tenha uma primeira temporada (e mais da metade da segunda) magistrais e aos poucos vai substituindo a distopia raiz inicial por uma pra lá de nutella, com direito a polícia e serviço de inteligência de Gilead como as mais estúpidas do universos (desdizendo o que era apresentado no começo) e "comandantes" em tese super malandros que caem em armadilhas pra lá de infantis de declarados inimigos diplomáticos.
Fora o chororô quase onipresente na terceira e quarta temporadas, que fazem os personagens (especialmente quando cruzam a fronteira canadense) se transformarem numa agrupamento de melindrosos que a gente até torce pra que saiam logo de cena de tão bundões!
No fim das contas, acabou virando só mais um sub produto rasteiro e manjado da "cultura do empoderamento identitário", traço ideológico que é diretamente fomentado pela CIA e pela ala direita do Partido Democrata estadunidense já faz tempo.
Os Vampiros
4.0 75THRILLER PERENE
Passado mais de um século desde que foi lançado nos cinemas franceses, o thriller mudo de aproximadamente sete horas de duração dirigido em episódios por Louis Feuillade continua tenso, divertido e cativante. É não por acaso um dos pilares do gênero e estabeleceu muitas de suas convenções.
Ter essa perenidade toda pra um longa tão antigo e extenso, com as limitações características de uma era pré decupagem griffithiana (como a câmera quase sempre estática e as atuações over teatrais, exceto da antagonista) não é pra qualquer um e a obra merece de fato nosso reconhecimento. O melhor modo de assisti-lo sem se assustar com a duração é encarar como se fosse uma dessas mini séries de hoje, dividida em capítulos (alguns com bons cliffhangers) que são a deixa pra você talvez interromper e retomar pouco depois.
Tem lá seus defeitos como os já citados maneirismos pré-griffithianos de uma arrte que ainda se estabelecia como linguagem própria e um herói insosso que não ganha densidade nem depois de mais de seis horas na tela, fazendo com que a gente praticamente torça pela antagonista Irma Vep, vivida com plena entrega por uma certa Musidora (uma atriz de corpinho atlético totoso e grande talento dramático), compondo uma personagem tridimensional com um arco dramático repleto de interessantíssimas reviravoltas. O "Watson" daqui, interpretado por Marcel Lévesque, também é carismático e funciona bem como alívio cômico sem ser intrusivo no enredo mais tenso ligado às investidas da sociedade secreta criminosa que dá título ao filme.
Claro, não será um filme para todos os gostos. Se você, porém, quiser encarar a experiência de um longa-metragem (e bota longa nisso!) mudo de sete horas com boa vontade, realmente curioso pra saber o que ele tem a entregar mais de cem anos depois, vai ser envolvido por uma história divertida de um suspense que ainda hoje - mais de cem anos depois - permanece muito bom.
Black Mirror (5ª Temporada)
3.2 962Pior temporada da série, que ainda dá pra relevar em parte por conta do primeiro episódio. O segundo é meia boca, com premissa ok e desenrolar decepcionante. O último começa bem na primeira metade e na segunda se revela um reles veículo publicitário da tal Miley Cyrus, com um monte de diálogos bobos e indulgências de roteiro.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraLEIAM A ANÁLISE DO ZIZEK! Dá pra achar no google, procuram por "Feminilidade tóxica em “Game of Thrones” | Žižek escreve sobre o desfecho da série".
Muito interessante essa análise ideológica do Zizek do final meia-boca de Game of Thrones. Até que enfim estão falando mais da parte política e não só "psicológica" envolvendo a reviravolta de Daenerys. Vale a pena também ler também os textos dele sobre "Cavaleiro das Trevas Ressurge" e "Pantera Negra" (que estão linkados no meio do texto).
A análise foca demais na questão da feminilidade (mas ainda assim de modo interessante) e perde um pouco a oportunidade de bater mais na tecla do claro paralelo entre Daenerys e a "ameaça vermelha que vem do Oriente com dragões" (tem algo de China aí?), um dos temores mais clássicos da cultura de massa produzida pelos países da OTAN. Acaba fazendo isso mais pro final do texto.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraVisto duas vezes o episódio cinco da temporada final, pra ter certeza da opinião formada.
E, sinceramente? Depois da imensa decepção que foi o festival de deus ex machina do 3º episódio e todo o 'estelionato narrativo' que foi um inverno que se mostrou só uma brevíssima frente fria, venho sendo positivamente surpreendido com uma melhora substancial nos dois episódios seguintes. E sei que estou indo na contramão da maioria, que gosta MENOS da segunda metade da temporada que da primeira.
Abaixo comento prós e contras detalhadamente, com spoilers.
CONTRAS
- O pior do episódio de muito longe foi a desnecessária briga entre Euron e Jaime, que só serviu pra um 'fanservice' desnecessário de encontro dos dois amantes da rainha. Se o Jaime tivesse ido direto pra encontrar a Cersei e o Euron tivesse morrido junto com a frota, seria muito mais interessante e até lógico, porque o 'kraken' aparecer justamente quando o Jaime ia verificar o bote foi uma pesada de mão exageradíssima do roteiro. Depois da briga vai o Jaime mais furado que peneira conseguir caminhar de modo inverossímil sem maior esforço até o castelo. E a fala final do Euron é ridícula;
- Há algumas forçadas no roteiro pra conseguir chegar mais apressadamente onde queria, que acabaram me incomodando pelo menos em parte, mas não de todo justamente porque a recompensa dramática do que eles 'forçaram' foi boa. É o caso de enfiarem Cão e Arya passando pelo exército inimigo só com um diálogo bobo com um soldado comum e Jaime conseguindo manobrar aqui e ali pra encontrar a Cersei só quando ela já estava sozinha.
PRÓS
- Fora o que descrevi nos dois parágrafos acima, sinceramente, só tenho elogios. Começando pela excelente parte técnica e visual do episódio, que apesar de ter o mesmo diretor do péssimo "The Long Night" (mas também era o da antológica "Batalha dos Bastardos"), aqui escolheu mostrar tudo à luz do dia, o excesso de névoa e fuligem é bem justificado mas em momento nenhum atrapalha o que assistimos na tela, diferente do que aconteceu na confusíssima batalha de Winterfell, que além de tudo tinha excesso de deus ex machina - o que não há aqui;
- A reviravolta da Daenerys foi ÓTIMA! Digna dos melhores momentos da série, que tem como proposta romper clichês sobre personagens centrais. Na verdade, sempre me incomodava um pouco como ela era um personagem meio 'intocável' até aqui, com poucos defeitos de verdade. Agora, ficou mais densa e com um arco dramático mais intenso. A fanbase dela que chore à vontade, porque a personagem idolatrada pelos mais fanáticos NÃO é nem pode ser "intocável" e desprovida de defeitos;
- Discordo de muita gente que o arco dramático da virada dela foi "apressado". Já vinham sendo construídas várias pistas sobre isso desde a temporada passada, com o crescente isolamento dela após a travessia do mar. Melhor ainda, costuraram isso no roteiro de um jeito que dá pra entender (mesmo porventura não aceitando) tanto as motivações dela e do Verme Cinzento, quanto a dos que a traíram. Como diz o Tyrion, todos no fundo estavam tentando ajudar, inclusive o 'senescal perfumado' Varys;
- Rompem brilhantemente com a expectativa quando a gente esperava uma batalha e conseguiram entregar de modo verossímil (inclusive pelas técnicas de batalha usadas) como o dragão deu conta de praticamente sozinho f*der com o exército inteiro da agora finada rainha Lannister. Quando a gente esperava algo mais 'parelho', vimos praticamente um massacre da Daenerys quase sozinha, que só pisou mais ainda no acelerador mesmo depois da rendição dos inimigos;
- A subversão de perspectiva do exército de Daenerys e seus aliados mais 'palacianos', após o tilintar dos sinos, para o povão de King's Landing é de cair o queixo. Saiu de uma batalha pra um genocídio partindo do ponto de vista de pessoas comuns nas quais deixamos de ver o rosto de Daenerys a partir de então (teve gente reclamando disso, achei ótimo e a gente fica só imaginando o que se passou na cabeça dela), com assassinato de crianças, feridos se acumulando em becos, tentativas de estupro e etc. Fomos esperando uma batalha estilo Minas Tirith, todavia encontramos uma narrativa que lembra mais uma narração de efeitos de bomba atômica devastadora à la Barefoot Gen, com o agressor visto só como ameaça inalcançável que covardemente vem de cima. Ruptura bem feita de expectativa, fazendo sim todo sentido (diferente do estelionato que foi a construção narrativa do exército do Rei da Noite e o prometido 'inverno' que ele nem vagamente chegou perto de trazer);
- A apatia diante do massacre e o final shakespeariano da Cersei, outra coisa que muita gente chiou, gostei um bocado, achei ótimo e poético como o poder literalmente soterrou ela. "Ain mas ela merecia sofrer mais", alguns disseram. Até concordo, vibrei demais na inesquecível cena da 'walk of shame' da quinta temporada e adoro ver esses personagens estilo 'rico mimadinho' se ferrando, começando pela desgraça do Joffrey, ainda hoje o vilão da série que mais amei odiar. Mas a vida nem sempre é justa (longe disso, aliás) e nem toda a morte é 'sofrida' quando a gente gostaria que fosse (o próprio Joffrey não sofreu 10% do que passou a família Stark no casamento vermelho), da mesma forma que muita gente bacana e melhor de caráter tem mortes dolorosas. E ó, achei um ACERTO o roteiro tirar a aura de fodona da Cersei e dar a ela carga de chorar e desabar emocionalmente no fim, com direito a direção não fugir do sofrimento dela ou fingir que ela 'não merecia' esse direito no finzinho da vida;
- Também não concordo com quem alega que o arco do Jaime tinha que acabar 'bonitinho', com final serelepe dele com a Bryenne. Come the f*ck on! O fato dele ter se revelado denso e capaz de boas ações no transcorrer da série não quer dizer que vá se 'redimir' necessariamente, como aconteceu com o Theon. Alguns personagens de fato se redimem e passam pra uma maturidade irreversível, mas outros não e acabam sucumbindo de volta à sua origem de se associar com os "vilões". A vida é assim e Game of Thrones tem essa pegada mais realista de não usar seu universo fantasioso pra um escape catártico e confortável. Fora que ele tinha um filho no ventre da Cersei e era a mulher com a qual ele dividiu quase a vida toda, pelo amor de Odin! Faz TODO o sentido que ele se importe e tente ficar ao lado dela, mesmo com a 'tentação' de tomar outro rumo com a Bryenne e deixar a irmã se estrepando sozinha;
- ÓTIMO que o roteiro tenha culhão para dividir os fãs que agem mais como 'torcedores' de algum personagem ou clã que entre os que se aliaram na sétima temporada e agora jogue os 'heróis' uns contra os outros, mas todos com motivações boas, de modo que a gente fique até meio sem graça de torcer contra um dos lados. É a proposta da série não ser maniqueísta, e afinal está cumprindo;
- A briga dos Clegane foi excelente e eletrizante, essa nem preciso elogiar muito porque quase todo mundo gostou, até os detratores do episódio;
- Arya sendo mergulhada nos becos de King's Landing em planos-sequência (pqp, como eu adoro plano-sequência, coisa de CINEMA RAIZ, feito na raça!) no melhor estilo "Filhos da Esperança" aumenta a carga dramática colocando uma personagem querida do público pra passar apuros com o povão enquanto a OUTRA personagem não menos querida é quem tá causando o genocídio lá de cima, aumentando a nossa incerteza emocional. A montagem ficou joia e não há a confusão de geografia da ação como acontecia no episódio 8x03;
- Elenco em grande momento com ótimas despedidas de personagens que acompanhamos há anos e (pre)sentimos que podem não chegar vivos até o fim do episódio. Aliás, novamente comparando com o fraco terceiro capítulo da temporada, aqui sim nós REALMENTE tivemos a morte de personagens centrais, sem a covardia que rolou pra salvar na mão grande do roteiro um monte de gente (principalmente Sam) em situação de morte quase certa na batalha de Winterfell.
Game of Thrones (8ª Temporada)
3.0 2,2K Assista AgoraVi agora pouco o terceiro episódio e achei MUITO ruim.
Péssima geografia de ação na qual a gente mal sabe onde cada personagem está, montagem que corta em momentos-chave da tensão e quebra o clima, estratégias completamente imbecis (bora mandar a cavalaria pro suicídio logo de cara e deixar as mulheres e crianças perto dos cadáveres!), cenas absurdamente escuras para economizar no CGI, dragões inúteis até nas questões mais óbvias (não era pra ter acendido a trincheira com eles ao invés de sobrar pra feiticeira fazer "macumba"?), rompantes inverossímeis de personagens velhos (tipo o 'pânico' do Clegane), covardia para salvar personagens centrais (um retrocesso imperdoável numa série que começou tendo culhão de fazer o oposto disso) e, claro, deus ex machina à exaustão - de fazer vergonha até ao precedente deixado no penúltimo episódio da sétima temporada.
Isso pra citar só ALGUNS defeitos, porque dava pra ficar até amanhã mencionando mais. Já tô receando ver um clímax estilo novela da Globo no final de tudo. A comparação com a batalha de Helm, que muita gente fez (acho que até os produtores) é pra lá de descabida, já que a cena de "As Duas Torres" dá de 7x1 nesse amontoado confuso de névoa e fuligem.
House of Cards (5ª Temporada)
4.0 249 Assista AgoraTendo em vista a última temporada que sai neste mês e toda a polêmica envolvendo Kevin Spacey, assisti a quinta temporada.
Honestamente, a série já vem perdendo o gás desde a temporada anterior e caindo em força do roteiro, embora mantenha um nível de interesse acima da média. Um monte de situações envolvendo traições políticas e até assassinatos são exploradas de forma insatisfatória, perdendo chance de criar mais tensão e cenas chocantes.
O choque nunca foi muito a praia de "House of Cards", é verdade, mas a tensão era marca registrada no começo. Aqui, já é bem menos contundente do que nas primeiras duas temporadas. Subtramas como a da eleição (arrastada ad nauseam por várias temporadas) são tão demoradas que a gente até comemora quando acabam, ao invés de ficarmos na ponta da cadeira esperando os próximos acontecimentos. O elenco, mesmo com baixas como a ausência do agora oscarizado Mahershala Ali, continua uniforme e competente.
Saldo mais ou menos. Agora é ver matar a curiosidade do que será a derradeira temporada sem Spacey e como ela refletirá o atual momento não só da crise política da Casa Branca, mas também a crise envolvendo denúncias sexuais de estrelas roliudianas.
O Mecanismo (1ª Temporada)
3.5 526A série é só mais uma tentativa de fazer propaganda de claro enviesamento partidário (nem que seja negando mais um dos partidos ao invés de afirmar positivamente um deles - o que acaba sendo favorecimento do que é menos negado, de todo modo), exatamente como foi o patético longa-metragem "Polícia Federal - A Lei é para Todos", outro que tinha uma necessidade enorme de se afirmar como 'neutro e suprapartidário' no marketing justamente pra dissimular o enviesamento político bastante óbvio.
Dilma Rousseff foi a pessoa mais honesta que ocupou o gabinete presidencial. Todo mundo - até seus detratores mais ferrenhos - sabe perfeitamente desse fato.
Por isso passam a inventar justificativas bisonhas do tipo "ain ela naum usa mesóclise como o Temer e FHC" e outras imbecilidades que supostamente 'justificariam' tirar o mandato da mulher que foi efetivamente (re)eleita para governar até 31 de dezembro deste ano.
No lugar dela, entrou ilegitimamente um traidor que disse com todas as letras no final de 2015 que era relegado ao papel de VICE DECORATIVO (ou seja, corretamente não apitava em nada), pra fazer o inverso do projeto eleito em 2014 (incluindo dar poderes ao PSDB) e acabar com tudo quanto é direito trabalhista e previdenciário, além do entreguismo privateiro que fere a nossa soberania.
E podem tirar quantos direitos quiserem que ainda vai ter 'manifestoche' otário caindo na cortina de fumaça da "campanha contra a currupissaum'", como se a máfia togada que ganha auxílio-moradia de 4 mil reais fosse 'santa' e o que estivesse em jogo fosse só moralismo judiciário/midiático e não dilapidar a nossa (pouca) independência diante de Washington - que, aliás, COMPROVADAMENTE (obrigado, Snowden!) espionava e se intrometia nos assuntos da nossa política.
Conselho Tutelar (3° temporada)
3.7 3O parceiro mais novo do Sereno só faz cagada porque é 'emotivinho' demais. Achei pertinente essa crítica do roteiro, essencialmente a mesma que fazem com o arco do Poe Dameron em "Os Últimos Jedi".
Game of Thrones (7ª Temporada)
4.1 1,2K Assista AgoraA AMEAÇA DA NOVELIZAÇÃO
Boa parte do que você já deve ter lido ou ouvido acerca dos defeitos da sétima temporada daquela que, por enquanto, ainda detém o título de melhor e mais influênte série televisiva do momento, sinto informar, é verdade. É a pior temporada até o momento, caiu sensivelmente de nível no tocante aos roteiros e deixou um sabor amargo de dúvida e apreensão acerca da conclusão com a oitava e derradeira temporada, que deverá ser ainda mais curta do que esta.
Eu já tinha ficado com um pé atrás na transição da quinta para a sexta temporada, afinal, seria o momento de perder a base sólida dos livros de George Martin e criar seus roteiros de modo original. Mas pra surpresa não só minha, como da grande maioria de quem tinha esse receio, "Game of Thrones" teve uma temporada primorosa no ano passado, com pelo menos uns três episódios pra lá de memoráveis, sendo o melhor deles (e um dos melhores de toda a série) o antológico "Batalha dos Bastardos", dirigido e montado com brilhantismo.
Por conta disso, fui para a sétima temporada mais tranquilo e partindo do pressuposto que a qualidade da série estava garantida até o desfecho. Infelizmente, no entanto, muitos dos erros que eu esperava ver em 2016 apareceram justamente neste ano. O principal deles é a ameaça crescente da 'novelização' do enredo, tornado personagens importantes - especialmente os agora inseparáveis Jon Snow e Daenerys Targaryen - em caricaturas rasas do que já foram outrora, carregando na tentativa de levar os espectadores mais fanáticos a 'shippar' o casal em momentos dignos de "Maria do Bairro", com direito ao rei do norte chamando a mãe dos dragões de "Danny"! Essa fofura toda é alienígena numa série que fez fama e fortuna justamente com sangue, sexo e pouca (pra não dizer nenhuma) margem pra pieguices melodramáticas.
Também pesou contra a temporada o fato de terem decidido condensar tudo em menos episódios que as anteriores. Por conta disso, os roteiros agora são truncados, passagens importantes do enredo são contadas em ritmo de correria (especialmente nos últimos três episódios), há um abuso de momentos forçados para criar 'fan service' e, mais importante, faltaram as mortes e surpresas contundentes que nós nos acostumamos a esperar da série. O único personagem com importância pelo menos razoável que partiu dessa pra melhor em Westeros foi revelado na metade da 'season finale'.
É particularmente imperdoável o abuso da 'suspensão da descrença' que há no penúltimo episódio, com um monte de personagens importantes escapando de hordas intermináveis de mortos-vivos através de pura sorte. Desse jeito a série fica parecendo "The Walking Dead", a qual começou bem e desde a quarta temporada é conhecida justamente pela incompetência completa dos zumbis e a covardia dos roteiristas de matar personagens mais velhos de casa, abusando de recursos que sugerem escapadas miraculosas.
Apesar da chuva de críticas que fiz até aqui, a verdade é que - pelo menos até agora - Game of Thrones até ruim é boa. O nível técnico continua sensacional e os quatro primeiros episódios são muito bons, com destaque para o excelente "Spoils of War", brilhantemente editado e de tirar o fôlego. O elenco ainda segue ponta firme, bastante homogêneo (não consigo apontar um ator sequer ali que tenha se saído mal) e acompanhamos o destino dos personagens com grande interesse. Apesar das queixas de alguns que acharam a temporada mais chata, julguei o ritmo bom e a narrativa competente - sendo o maior problema nesse aspecto justamente as vezes em que tenta acelerar os eventos até demais.
Sobra agora esperar o que vem com a invasão dos white walkers no ano que vem e torcer para que o nível da série volte ao que era na sexta temporada. A melhor série da atualidade merece um final não menos que genial. Mas que agora dá um friozinho na barriga com receio de isso não vá se concretizar, isso dá..