Quando resolvi assistir essa série, no começo da semana passada, já fui com um pé e meio atrás e a expectativa bem lá embaixo. A sinopse, a estética, o elenco e sobretudo os admiradores da série exalavam aquele fortíssimo e inconfundível odor de "Barrados no Baile" versão deprê. E uma coisa com a qual tenho pouca (pra não dizer nenhuma) paciência é draminha teenager estadunidense por causa de 'popularidade', aprovação social e outros assuntos de 'suma importância', que seriam facilmente classificados no topo da pirâmide de necessidades humanas de Abraham Maslow. Se eu já acho um porre ver drama um pouco menos patético de adolescente brasileiro, imagina então ter que aturar novelão 'teen' de gente achando o fim do mundo não ser aceito num daqueles clubinhos atléticos universitários típicos dos EUA...
Finalizados os treze episódios da série aqui em casa, essa antecipação de fato se concretizou, mas apenas parcialmente. "Os 13 Porquês", na verdade, passa também por pautas muito mais sérias e pertinente do que eu supunha, tornando o drama da adolescente em crise terminal de depressão que grava as fitas confessionais mais substancial e maduro do que eu deduzira inicialmente. Lá pelos últimos quatro ou cinco episódios, temas como estupro (em duas cenas) e degradação econômica de pequenos negócios locais 'engolidos' por megacorporações são abordados de forma mais constante, o que ajuda a entender e de fato dar algum significado para o ato derradeiro da personagem - o qual é mostrado em uma cena gráfica bastante direta e sem muitos cortes, tampouco eufemismos, que poderá chocar os mais sensíveis, especialmente aqueles em condição análoga à dela.
Pena que até lá, a série faz uma travessia por todo um conceito de 'bullying na escola' que, sinceramente, me pareceu sim frequentemente fútil e infantilizado. Haja saco pra gente melindrosinha demais, convenhamos. O pior momento nesse sentido é o episódio envolvendo o estudante asiático e os gravíssimos... furtos de desenhos de ursinhos do 'saco de elogios'! You gotta be fucking kidding me, Netflix! Cêis tão querendo mesmo que eu me 'sensibilize' e ache o cúmulo da 'sofrência' uma panaquice dessas? Há outros episódios também de muito exagero e 'endeusamento' de melindres pouco relevantes. Por sinal, diferente de quem achou a cena gráfica do suicídio perigosa, me incomodei bem mais foi justamente com esse 'nivelamento' de pautas fúteis com outras bem sérias entre os 'porquês' da personagem, praticamente como se tudo tivesse o mesmo peso. Não, não tem - e é importante saber diferenciar o que realmente caberia 'deixar pra lá' e ignorar, do que é realmente sério e caberia mais atenção. Do jeito que a série coloca, tem muita 'opressão micro' ali que foi maximizada até não poder mais.
Há também uma vasta gama de inverossimilhanças no roteiro. Por exemplo: como é que uma personagem que, apesar de muito rejeitada na escola, é constantemente amparada em casa pelos pais (muito carinhosos e atenciosos com ela) não encontro o óbvio sustentáculo emocional necessitado na figura deles? Por que o tal latino gay, Tony (personagem mais tonto e inútil da série), ficou tão incomodado e melindrado com as fitas, já que mal é citado nelas? E o próprio Clay, que não fez coisa nenhuma contra ela (a ponto dela chegar a elogiá-lo nas fitas) - mas se hiper culpabiliza a todo momento, surta e tem momentos de choro copioso? Ainda sobre Clay, como é que ele ficou tão obcecado com as fitas... mas demorou tanto para ouvir o conteúdo das treze, enquanto teve gente menos interessada que devorou todos os áudios numa noite só? E a mais intragável: por que 'carajos' aquele outro sujeito não defendeu a namorada contra o agressor, SABENDO PERFEITAMENTE o que estava acontecendo naquele quarto?!
Narrativamente, a série é muito melhor do que eu esperava. Achei que ia ser um porre total, mas é bem dirigidinha e tem recursos de edição e montagem muito bons, embora abusem um pouco dos 'delírios' do Clay e do excesso de cenas com interrupção de sexo. O elenco é homogêneo e arrisco dizer que o melhor ponto da série, o que ajuda a fazer com que aquele monte de dramas fúteis (no meio de outros mais substanciais) não nos soe completamente distantes e desprezíveis. Destaco a própria Katherine Langford, que torna sua Hannah Baker bastante aprazível, simpática e até carismática, a ponto de realmente lamentarmos desde o começo - e mais ainda no final - o que acontece com ela. Conseguiu fazer uma personagem meio mongolona no roteiro ser cativante na execução prática de sua performance, tornando-a humanizada e tocante. E, surpresa das surpresas, não achei a série chata no 'miolo' (apesar dos defeitos já citados), como muita gente que gostou mais que eu achou. Pelo contrário, usa bons 'cliffhangers' (exceto os do último episódio, envolvendo outra morte, feito pra tentar forçar motivo pra segunda temporada) e manteve bem meu interesse.
Entre mortos e feridos - trocadilhos à parte - "Os 13 Porquês" acaba sendo uma obra mediana. Sem dúvidas melhor do que eu esperava, dramatica e narrativamente um pouco (não muito!) mais madura do que eu supunha e com um elenco competente. Como eu não sou depressivo, assisti sem os insights melodramáticos e expansivos que muita gente mais emotiva disse que deve, mas não chegou a ser um distanciamento total, principalmente porque simpatizo e gosto de Hannah. Ademais, não deixa de ser um pouco incômodo - pra não dizer até perigoso - essa romantização mal-dissimulada de suicídio (muitos vão achar que 'valeu a pena' ela ter se matado, porque conseguiu a tão sonhada atenção dos 'responsáveis'), ainda mais colocando 'porquês' da metade de cima e de baixo da pirâmide de Maslow em pé de igualdade, o que talvez possa mesmo confundir a cabeça de Werthers do século XXI, mais propensos a essas pulsões de morte.
Mini-série em seis capítulos, de 47 minutos cada, produzida para a TV francesa. É feita toda com a estética de imagens de arquivo artificialmente coloridas e narração em off, sem nenhuma entrevista, embora ocasionalmente cite 'ipsis litteris' algum comunicado de chefes de estado alemães, estadunidenses, franceses ou ingleses (raramente os soviéticos).
Como 'vídeo-aula' em seis partes, o documentário cumpre bem seu papel, embora não traga absolutamente nada de novo ao assunto, que é sempre muito interessante. Mas estão ali, cronologicamente bem organizadas e com farto uso de mapas, os avanços dos diferentes batalhões alemães ou japoneses, respectivamente, na Europa e nos países do Oceano Pacífico.
Há um anticomunismo caricato, por vezes mentiroso, ou no mínimo seletivo. Quase sempre que se mostra Stálin é tentando condená-lo ou abusando de uma das falácias mais comuns do anticomunismo: nivelá-lo com Hitler (sendo que foi justamente o velho Koba e o Exército Vermelho que nos livraram no nazismo!). A guerra foi decidida basicamente no fracasso da Operação Barbarossa, que é narrada no documentário em seus momentos mais emocionantes, principalmente o cerco em Moscou, Leningrado (atual São Petersburgo) e, claro, Stalingrado - a batalha mais importante do século XX, cujo resultado definiu o futuro da humanidade até hoje, realizada em meio a um inverno excruciante.
Não há nenhum lembrete sobre episódios fundamentais e controversos dos países aliados ocidentais, como o 'holocausto bengalês', promovido pelo colonialismo de Winston Churchill e o governo britânico (mas do engodo de 'holodomor', que nem tem relação direta com a guerra, aí sim, o documentário faz questão de lembrar). Também passam de modo muito batido pelas consequências da bomba atômica em duas cidades grandes do Japão, de cara pintando via narração em off como ' ações plenamente justificáveis' (sendo que esse veredicto devia caber ao espectador do filme). Senti ainda falta de que falassem do que o Japão fez ao ocupar a China na Segunda Guerra, tema sempre muito negligenciado nos documentários sobre a Segunda Guerra.
Feitas todas essas ressalvas, é filme ainda é muito bom pela abundância de imagens de arquivo em boa resolução, principalmente de Hitler e dos exércitos em ação, bem como as descrições geoestratégicas tanto do eixo quanto dos aliados. O resultado da colorização artificial ficou bom e a narrativa do filme é fácil de seguir e bastante didática.
Encarei nesses últimos dias as quase 8 horas de duração desse documentário, dividido em cinco partes de duração idêntica (pouco mais de 1h30 cada). Na primeira parte, sem dúvidas a menos interessante, tive uma certa dificuldade de entrar no 'clima' do filme, no momento em que passa a narrar a ascensão de Orenthal James Simpson como atleta de futebol americano - esporte com o qual não nutro identificação e sequer entendo como funcionam as regras, fator que sem dúvidas me causou menor interesse nesse primeiro quinto do filme. Também achei, no começo, mal casada e até invasiva a montagem querendo fazer paralelos entre a carreira de O.J., que era um sujeito politicamente alienado, com o movimento negro e a violência policial nos anos sessenta. Ficou parecendo que eram dois documentários paralelos, sem realmente muito a ver um com o outro.
Ledo engano. A partir do final dessa primeira parte e sobretudo da segunda em diante, de modo crescente, a montagem com esses dois assuntos melhora muito e tudo vai fazendo mais sentido. O. J. era um 'negro de alma branca', que queria apagar a própria negritude e ser visto como um semelhante pela playboyzada rica do bairro 'chique' no qual morava na Califórnia. O modo como eram filmados seus comerciais, por exemplo, eram reveladores nesse sentido. E a fuga dele em falar no assunto também era reveladora. Ajudou muito o fato de que eu não sabia nada sobre o jogador e deliberadamente procurei pouca informação antes de assistir o documentário, de modo que eu pudesse me surpreender bastante (o que, de fato, aconteceu).
A partir daí, o filme, sob a tutela do diretor Ezra Edelman, avança com muita competência, a ponto de que cada parte é melhor que a anterior. Vão sendo tecidos os fatores externos, principalmente o racial, mas também o de classe e, em menor grau, o de gênero e sexualidade (em especial na figura do pai de Simpson, que era gay), os quais vão culminar no julgamento por dois crimes hediondos supostamente cometidos pelo atleta e influir de modo decisivo nele. O julgamento, por sinal, é sem dúvidas o melhor momento do documentário, toma sozinho umas duas horas (e, acreditem, é pouco!) e vem recheado de depoimentos a posteriori de quem participou tanto na acusação, quanto na defesa.
Já nessa altura, o filme conseguiu costurar e ao mesmo tempo isolar de modo satisfatório a figura carismática e obscura do 'cidadão Kane negro' representado pro Simpson e os fatores externos que, de modo inesperado para o alienado e ostentador atleta, influíram e muito na sua carreira e na sua vida pessoal. Como é um documentário bem longo, "O. J.: Made in America" deu conta de cumprir tudo o que prometeu e explorar a fundo todas essas facetas que estão envolvidas no episódio, desde a negação da negritude (e afirmação dela por terceiros) de seu personagem principal até a espetacularização midiática de julgamentos, o que hoje é um fenômeno crescente e ainda mais comum que nos anos noventa, não apenas nos EUA. Filmaço!
Um dos primeiros documentários dirigidos pelo hoje famoso Walter Salles, feito sob encomenda para a extinta TV Manchete. Seu irmão, João Moreira Salles, fez um documentário de propósito e estética semelhante sobre a China, na mesma época e também para a Manchete, que considero um pouco melhor que este. Ambos tem narração de José Wilker.
Achei a versão condensada no Youtube, infelizmente sem a parte sobre o Kurosawa, que nem é citado nessa edição cortada. Tem algumas coisas legais, pra época em que foi ao ar (1986) com certeza estava de ótimo tamanho. Mas vendo hoje, ainda mais se comparado com o doc do irmão que foi filmado na China, fica parecendo uma manifestação inacreditável de vira-latismo, com elogios demais e críticas (ou melhor, esboços de críticas) minúsculas apenas sobre a 'tendência a solidão dos japoneses'.
O resto é puxa-saquismo total, só faltou lamberem o chão que a japonesada 'super moderna e antenada na tecnologia desde o maternal' pisa. O momento mais constrangedor da edição foi quando Wilker narra algo como "no Japão, até os bêbados são educados". Menos, cambada, menos! Desse jeito vamos ter que tomar cuidado, quando for chutar o saco de gringo nipônico, pra não acabar acertando também os dentes do Walter Salles. Há sim defeitos graves na cultura japonesa - pra citar só dois, o machismo inflexível e a xenofobia (inclusive contra brasileiros) escancarada. Aqui, no entanto, 'montalam uma edição bem camalada, né?'.
As únicas temporadas boas são a primeira e a terceira. A segunda só é mediana porque adoro a fase 'hardcore' do Shane e o ator que o interpreta é excelente. Da quarta em diante, é pura decadência.
E dá uma puta saudade do Governador. Acho, sim, mil vezes mais interessante que o Negan - pelo menos até agora.
Conseguiram fazer aquela que provavelmente é a pior temporada da série até agora, alcançando a façanha de superar a anterior nos quesitos monotonia e infantilidade.
As únicas duas surpresas envolvendo morte de personagens mais velhos de casa acontecem no primeiro e no último episódio - tudo o que se passa entre um e outro é pura 'embromation'. Mas ambas essas reviravoltas são prejudicadas pela edição, que força completamente a barra pra encher linguiça e segurar a audiência, de fazer corar um João Kleber.
No caso do primeiro episódio, perdeu-se uma oportunidade de ouro de encerrar a sexta temporada com uma cena que poderia ser chocante, com a apresentação bombástica do novo vilão Negan (vivido pelo empenhado Jeffrey Dean Morgan, sem dúvidas convocado para este papel porque os produtores de TWD viram o Comediante de "Watchmen"). Mas preferiram interromper a cena, o episódio e a TEMPORADA INTEIRA bem no meio dos fatos, num cliffhanger oportunista e caça-níquéis.
Já no caso do episódio final, há uma morte previsível, incoerente e muito mal elaborada pelos roteiristas, com uma série de furos (por que Negan ia se dar ao trabalho de fazer aquele showzinho com caixão e tudo?), além da edição se repetir demais e ter looongas divagações que estragam o que poderia, mais uma vez, ser uma cena de impacto.
Sem falar em salvações mágicas e escapes milagrosos dos tipinhos de sempre, principalmente nesse último episódio. Uma, em particular, envolvendo um pulo de tigre, me pareceu mais ridícula. E a maioria dos personagens novos, principalmente o mongoloide 'Rei Ezekiel', é um pé no saco e não causa nem interesse, nem raiva, nem empatia, nem p*rr@ nenhuma. Os zumbis, por sua vez, são cada vez mais figurantes na própria série e nunca foram tão pouco ameaçadores.
Uma tristeza ver como TWD se acovardou e entrou num clima de 'topa tudo por dinheiro' já faz tempo, sem culhão pra matar personagens centrais - como acontecia até a terceira temporada (e ainda acontece na muito superior "Game of Thrones") - para surpreender ou chocar os espectadores.
Recentemente, tenho me interessado em descobrir e entender a Guerra do Paraguai (1864-1870). Pra essa finalidade, o documentário em alguns episódios produzido pela TV Escola ajuda a compreender o que foi aquele conflito, suas motivações, os erros e acertos táticos de cada lado e, melhor ainda, tem uma parte final bastante pertinente que busca enfatizar especificamente qual foi o legado do imediato pós-guerra para todos os países envolvidos.
No tocante a esse último ponto, foi interessante observar como o Uruguai e sobretudo a Argentina (que unificou o país sob a tutela do governo portenho e faturou de modo irreversível o território de Corrientes) saíram da guerra mais fortes do que entraram, ao passo que não só no caso óbvio de 'terra arrasada' do Paraguai, mas também no caso do Brasil existiu um saldo francamente negativo, com o império tendo dificuldade em honrar os compromissos prévios com os soldados, atolado numa dívida gigantesca e nenhuma melhoria de infra-estrutura acarretada pelo desenvolvimento do conflito.
Também é interessante notar como o Paraguai, isolado, sem saída para o mar, conseguiu resistir muito mais que o esperado e levou o que deveria ser uma guerra-relâmpago a uma série de batalhas extenuantes para as forças brasileiras. Um punhado de baixas era por fome ou doenças nos acampamentos - até mais do que nas batalhas. A figura em si de Francisco Solano Lopez, apesar de tudo o que tem de megalomaníaco e até de estrategicamente tacanho (não era óbvio que se meter a invadir o Rio Grande do Sul, por causa de uma contenda até então somente entre Brasil e Uruguai, ao mesmo tempo que invadia a região de Corrientes, era uma aposta quase suicida?) desperta curiosidade e intriga por ter conseguido escapar tantas vezes da morte certa, inclusive um pouco depois da tomada de Assunción e da saída do Duque de Caxias, sob fogo contínuo de todos os lados.
O maior acerto da série documental é sem dúvidas o fato de terem não só entrevistado vários historiadores de todos os quatro países (e mais um estadunidense), como ainda terem visitado os locais da guerra e os museus/arquivos pessoalmente, mostrando onde acontecia as batalhas e quais eram as dificuldades geográficas para o exército do império brasileiro avançar.
Pena que o entrevistador seja um sujeito que a todo momento quer posar de deslumbradinho (proferindo frases do tipo "nossa, esse navio marcou época!", "nossa, essa garrafa foi usada por um cavaleiro!", etc), ao invés de se limitar a narrar os fatos. Também senti falta de uma contextualização e aprofundamento maior especificamente no tocante à reação do Partido Colorado no Uruguai, no momento que foi o ponto de partida para a guerra ser declarada. Mas pra um documentário feito pra TV, do tipo que é passado em aulas de história, tá de ótima tamanho e vale perfeitamente o quanto pesa, até superando minhas expectativas.
Fiquei bastante satisfeito quando descobri o lançamento dessa série, afinal, o longa-metragem dos anos 70 escrito e dirigido por Michael Crichton era curto demais para o universo ali sugerido, deixando a impressão de uma premissa excelente que acabou subestimada até pelo próprio autor e desenvolvida de modo truncado. Em seus dez episódios, a série encabeçada por Jonathan Nolan (irmão de Christopher) teve o que faltou no filme de 73: tempo e espaço pra desenrolar como funciona o parque temático com androides perfeitos até na simulação de emoções.
De fato, a série tem muito mais acertos do que erros e avança significativamente nas possibilidades deixadas por Crichton. Tecnicamente é bem acabada, sobretudo na cenografia, fazendo às vezes parecer uma superprodução cinematográfica classe A, especialmente no tocante à estética western interna ao parque. Também se permitiu ao luxo de colocar aqui grandes nomes com tradição no cinema em papéis importantes, tais como Anthony Hopkins, Ed Harris e Jeffrey Wright - todos excelentes nos seus papéis, especialmente o último que cresce bastante nos quatro episódios finais. O elenco menos conhecido, que inclui até o brasileiro Rodrigo Santoro, também é competente e segura bem as pontas.
No geral, o roteiro é bom e traz ótimas reviravoltas, especialmente da metade para o final. Todavia, demora para engrenar e, pior de tudo, deixa muitas lacunas e até buracos indefensáveis. Pra não dar spoilers, vou citar apenas alguns mais generalistas: como os 'visitantes' poderiam distinguir os 'hóspedes' de outros visitantes, de modo que soubessem que não poderiam ferir os segundos? E ainda no tocante a isso, como é exatamente que funcionava o controle de violência física, especialmente quando envolve armas brancas ou até golpes com o próprio corpo, já que os androides não poderiam matar os visitantes e, pior, há o risco de um visitante ferir outro (involuntariamente) à base facadas ou sopapos? Finalmente, como é que uma empresa de tecnologia de ponta, num universo de ficção-científica, tinha um nível de segurança tão fuleiro, a ponto até de funcionários de baixo escalão burlarem regras que colocam em risco a vida de si e de outros?
Agora resta torcer pra que reparem esses furos e lacunas na segunda temporada. Também carece um desenvolvimento maior dos visitantes (especialmente aquele interpretado por Jimmi Simpson, cuja reviravolta soou meio forçada pra um sujeito moralista e carrancudo em todos os episódios), já que os hóspedes e os diretores são bem mais interessantes. Faltou ainda mais doses de sexo envolvendo os visitantes - afinal, eles com certeza estariam ali pra isso, ao invés de ficarem só vendo orgias nababescas acontecendo ao fundo sem aproveitar (quase) nada.
De qualquer modo, o saldo é bastante positivo, especialmente se você gosta de ficção-científica e temas próximos daqueles abordados em "Blade Runner" e "2001". Para fãs de western, tenderá a ser um pouco menos interessante. Como eu, pessoalmente, gosto mais de sci-fi, então foi um prato cheio em diversos momentos. Mas sem ser cego para os erros e limitações do roteiro, a ponto de entoar tantas loas como muita gente vem fazendo por aí. Menos, galera, menos!
Pintaram com tanta ênfase esse episódio como um dos melhores da série, mas na verdade é o pior entre os que vi até o momento (não vi ainda os lançados neste ano).
As subtramas costuradas na narrativa tem um desfecho mambembe (justamente em "Black Mirror", que tem via de regra como virtude a qualidade dos encerramentos). Já o 'plot twist' da trama principal, envolvendo o diálogo dos dois personagens na cozinha, consegui deduzir lá pelos 30 ou 40 minutos de projeção, o que tirou bastante o impacto da revelação. Sem falar que o personagem do Potter é patético e chorão até não poder mais.
O que tem de melhor e, infelizmente, subexplorado, é aquela subtrama com a cópia consciência presa no 'cookie' pra fazer obrigatoriamente os trabalhos da 'consciência-matriz'. Me lembrou aquele episódio de "Family Guy" onde o Stewie cria uma cópia de si mesmo pra 'terceirizar' as tarefas mais chatas do cotidiano. Pena que é um momento que passa de relance nesse "especial de natal" de Black Mirror, sendo que renderia um ótimo episódio só pra isso.
Também é bem bolado a inclusão no roteiro do recurso de bloquear completamente as outras pessoas mesmo offline. Mas, no geral, é um episódio apenas ligeiramente acima da média geral das séries e, dentro especificamente do nível de Black Mirror, aquém do esperado.
Segundo episódio lembra demais o "Admirável Mundo Novo" do Huxley, com o 'plus' de ser uma distopia carregada de um inferno publicitário onipresente. Bem bolado e, infelizmente, verossímil.
Série bacana, com direção competente e fotografia bonita. Tem alguns momentos de suspense muito bem construídos e o resultado final é acima da média. Conseguiu de modo bem sucedido ser um amálgama de referências estéticas (visuais e musicais) aos anos oitenta.
Isso posto, não é nem de longe a última coca-cola do deserto que tanta gente andou pintando por aí. Tem inverossimilhanças imperdoáveis no roteiro (como é que um laboratório de ponta e de segurança máxima leva tanto olé, inclusive de crianças?), um elenco competente porém pouco carismático - com uma despirocada e envelhecida Winona Ryder à frente - e a ausência total de um antagonista de verdade, uma vez que o personagem de Matthew Modine entra e sai sem dizer a que veio ou causar maior impressão.
Sou obrigado a admitir que, felizmente e contrariando minhas expectativas, Game of Thrones está conseguindo manter o nível mesmo sem ter o material literário para acompanhar.
Isso posto, faço uma ressalva sobre a 'season finale'. Parece muito 67 minutos pra um episódio de GoT, mas para o tanto de reviravoltas que esse roteiro apressado quis contar foi pouco. A primeira cena, em particular, me incomodou, com aquele acompanhamento musical em piano totalmente descolado da narrativa convencional da série - tentaram causar suspense, mas só causaram estranhamento.
Por conta da pressa em concluir alguns arcos e passar o bastão para a temporada seguinte, acabaram deixando um sabor apenas satisfatório para reviravoltas que tinham potencial de ser tão acachapantes quanto foi o penúltimo episódio, "Battle of the Bastards". Mas, enfim, é pouco pra comprometer o todo que é muito acima da média. E nesse último episódio, a cenografia nunca foi tão bonita. A biblioteca, sobretudo, me chamou a atenção.
A série está perdendo o fôlego e a tendência é que as temporadas continuem progressivamente inferiores, a despeito da performance sempre competente do elenco.
O conflito entre o casal da presidência é sub-explorado dramaticamente, bem como o personagem que faz o presidente russo (que roubou a cena na terceira temporada). Isso sem falar em várias personagens totalmente sem graça, como a mãe da Claire. A própria eleição, que devia ser o grande foco da temporada deste ano, é pouco desenvolvida.
Enfim, "House of Cards" ainda continua boa, mas tende e ficar sem gás e com pouco a dizer nos próximos anos se os roteiristas não se reinventarem.
Parecia que essa mid-season de 2016 ia engatar, com a decisão de estabelecer oficialmente o relacionamento Michonne-Rick e a matança da família chatíssima daquela loira logo no primeiro episódio de fevereiro.
Mas depois de uns três episódios se dedicam a transformar a Carol - que tinha virado uma das melhores personagens a partir da terceira temporada - numa chata de galocha, uma patética desequilibrada que nega o desenvolvimento da personagem nas temporadas anteriores.
Sem falar que interromperam a cena do homicídio do Negan num ponto-chave, sem revelar quem era o morto, perdendo assim a chance de conferir todo o impacto devido à cena só pra manter um cliffhanger forçadíssimo.
Está conseguindo ser ainda mais arrastada que a quarta temporada. Os zumbis nunca foram tão pouco ameaçadores. Só o primeiro episódio foi bom, até agora.
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraTWO MASLOWS WHY
Quando resolvi assistir essa série, no começo da semana passada, já fui com um pé e meio atrás e a expectativa bem lá embaixo. A sinopse, a estética, o elenco e sobretudo os admiradores da série exalavam aquele fortíssimo e inconfundível odor de "Barrados no Baile" versão deprê. E uma coisa com a qual tenho pouca (pra não dizer nenhuma) paciência é draminha teenager estadunidense por causa de 'popularidade', aprovação social e outros assuntos de 'suma importância', que seriam facilmente classificados no topo da pirâmide de necessidades humanas de Abraham Maslow. Se eu já acho um porre ver drama um pouco menos patético de adolescente brasileiro, imagina então ter que aturar novelão 'teen' de gente achando o fim do mundo não ser aceito num daqueles clubinhos atléticos universitários típicos dos EUA...
Finalizados os treze episódios da série aqui em casa, essa antecipação de fato se concretizou, mas apenas parcialmente. "Os 13 Porquês", na verdade, passa também por pautas muito mais sérias e pertinente do que eu supunha, tornando o drama da adolescente em crise terminal de depressão que grava as fitas confessionais mais substancial e maduro do que eu deduzira inicialmente. Lá pelos últimos quatro ou cinco episódios, temas como estupro (em duas cenas) e degradação econômica de pequenos negócios locais 'engolidos' por megacorporações são abordados de forma mais constante, o que ajuda a entender e de fato dar algum significado para o ato derradeiro da personagem - o qual é mostrado em uma cena gráfica bastante direta e sem muitos cortes, tampouco eufemismos, que poderá chocar os mais sensíveis, especialmente aqueles em condição análoga à dela.
Pena que até lá, a série faz uma travessia por todo um conceito de 'bullying na escola' que, sinceramente, me pareceu sim frequentemente fútil e infantilizado. Haja saco pra gente melindrosinha demais, convenhamos. O pior momento nesse sentido é o episódio envolvendo o estudante asiático e os gravíssimos... furtos de desenhos de ursinhos do 'saco de elogios'! You gotta be fucking kidding me, Netflix! Cêis tão querendo mesmo que eu me 'sensibilize' e ache o cúmulo da 'sofrência' uma panaquice dessas? Há outros episódios também de muito exagero e 'endeusamento' de melindres pouco relevantes. Por sinal, diferente de quem achou a cena gráfica do suicídio perigosa, me incomodei bem mais foi justamente com esse 'nivelamento' de pautas fúteis com outras bem sérias entre os 'porquês' da personagem, praticamente como se tudo tivesse o mesmo peso. Não, não tem - e é importante saber diferenciar o que realmente caberia 'deixar pra lá' e ignorar, do que é realmente sério e caberia mais atenção. Do jeito que a série coloca, tem muita 'opressão micro' ali que foi maximizada até não poder mais.
Há também uma vasta gama de inverossimilhanças no roteiro. Por exemplo: como é que uma personagem que, apesar de muito rejeitada na escola, é constantemente amparada em casa pelos pais (muito carinhosos e atenciosos com ela) não encontro o óbvio sustentáculo emocional necessitado na figura deles? Por que o tal latino gay, Tony (personagem mais tonto e inútil da série), ficou tão incomodado e melindrado com as fitas, já que mal é citado nelas? E o próprio Clay, que não fez coisa nenhuma contra ela (a ponto dela chegar a elogiá-lo nas fitas) - mas se hiper culpabiliza a todo momento, surta e tem momentos de choro copioso? Ainda sobre Clay, como é que ele ficou tão obcecado com as fitas... mas demorou tanto para ouvir o conteúdo das treze, enquanto teve gente menos interessada que devorou todos os áudios numa noite só? E a mais intragável: por que 'carajos' aquele outro sujeito não defendeu a namorada contra o agressor, SABENDO PERFEITAMENTE o que estava acontecendo naquele quarto?!
Narrativamente, a série é muito melhor do que eu esperava. Achei que ia ser um porre total, mas é bem dirigidinha e tem recursos de edição e montagem muito bons, embora abusem um pouco dos 'delírios' do Clay e do excesso de cenas com interrupção de sexo. O elenco é homogêneo e arrisco dizer que o melhor ponto da série, o que ajuda a fazer com que aquele monte de dramas fúteis (no meio de outros mais substanciais) não nos soe completamente distantes e desprezíveis. Destaco a própria Katherine Langford, que torna sua Hannah Baker bastante aprazível, simpática e até carismática, a ponto de realmente lamentarmos desde o começo - e mais ainda no final - o que acontece com ela. Conseguiu fazer uma personagem meio mongolona no roteiro ser cativante na execução prática de sua performance, tornando-a humanizada e tocante. E, surpresa das surpresas, não achei a série chata no 'miolo' (apesar dos defeitos já citados), como muita gente que gostou mais que eu achou. Pelo contrário, usa bons 'cliffhangers' (exceto os do último episódio, envolvendo outra morte, feito pra tentar forçar motivo pra segunda temporada) e manteve bem meu interesse.
Entre mortos e feridos - trocadilhos à parte - "Os 13 Porquês" acaba sendo uma obra mediana. Sem dúvidas melhor do que eu esperava, dramatica e narrativamente um pouco (não muito!) mais madura do que eu supunha e com um elenco competente. Como eu não sou depressivo, assisti sem os insights melodramáticos e expansivos que muita gente mais emotiva disse que deve, mas não chegou a ser um distanciamento total, principalmente porque simpatizo e gosto de Hannah. Ademais, não deixa de ser um pouco incômodo - pra não dizer até perigoso - essa romantização mal-dissimulada de suicídio (muitos vão achar que 'valeu a pena' ela ter se matado, porque conseguiu a tão sonhada atenção dos 'responsáveis'), ainda mais colocando 'porquês' da metade de cima e de baixo da pirâmide de Maslow em pé de igualdade, o que talvez possa mesmo confundir a cabeça de Werthers do século XXI, mais propensos a essas pulsões de morte.
Redescobrindo a Segunda Guerra
4.7 34Mini-série em seis capítulos, de 47 minutos cada, produzida para a TV francesa. É feita toda com a estética de imagens de arquivo artificialmente coloridas e narração em off, sem nenhuma entrevista, embora ocasionalmente cite 'ipsis litteris' algum comunicado de chefes de estado alemães, estadunidenses, franceses ou ingleses (raramente os soviéticos).
Como 'vídeo-aula' em seis partes, o documentário cumpre bem seu papel, embora não traga absolutamente nada de novo ao assunto, que é sempre muito interessante. Mas estão ali, cronologicamente bem organizadas e com farto uso de mapas, os avanços dos diferentes batalhões alemães ou japoneses, respectivamente, na Europa e nos países do Oceano Pacífico.
Há um anticomunismo caricato, por vezes mentiroso, ou no mínimo seletivo. Quase sempre que se mostra Stálin é tentando condená-lo ou abusando de uma das falácias mais comuns do anticomunismo: nivelá-lo com Hitler (sendo que foi justamente o velho Koba e o Exército Vermelho que nos livraram no nazismo!). A guerra foi decidida basicamente no fracasso da Operação Barbarossa, que é narrada no documentário em seus momentos mais emocionantes, principalmente o cerco em Moscou, Leningrado (atual São Petersburgo) e, claro, Stalingrado - a batalha mais importante do século XX, cujo resultado definiu o futuro da humanidade até hoje, realizada em meio a um inverno excruciante.
Não há nenhum lembrete sobre episódios fundamentais e controversos dos países aliados ocidentais, como o 'holocausto bengalês', promovido pelo colonialismo de Winston Churchill e o governo britânico (mas do engodo de 'holodomor', que nem tem relação direta com a guerra, aí sim, o documentário faz questão de lembrar). Também passam de modo muito batido pelas consequências da bomba atômica em duas cidades grandes do Japão, de cara pintando via narração em off como ' ações plenamente justificáveis' (sendo que esse veredicto devia caber ao espectador do filme). Senti ainda falta de que falassem do que o Japão fez ao ocupar a China na Segunda Guerra, tema sempre muito negligenciado nos documentários sobre a Segunda Guerra.
Feitas todas essas ressalvas, é filme ainda é muito bom pela abundância de imagens de arquivo em boa resolução, principalmente de Hitler e dos exércitos em ação, bem como as descrições geoestratégicas tanto do eixo quanto dos aliados. O resultado da colorização artificial ficou bom e a narrativa do filme é fácil de seguir e bastante didática.
Redescobrindo a Segunda Guerra
4.7 34Redescobrindo a Segunda Guerra 01 A Agressão Nazista (Dublado): https://www.youtube.com/watch?v=YSdZGKh8Dgs
Redescobrindo a Segunda Guerra 02 A Guerra Relâmpago (Dublado): https://www.youtube.com/watch?v=Chh79TeaueA
Redescobrindo a Segunda Guerra 03 O pesadelo Alemão (Dublado): https://www.youtube.com/watch?v=B97HyNR07_Q
Redescobrindo a Segunda Guerra 04 Momentos Decisivos (Dublado): https://www.youtube.com/watch?v=mpDt0sQQpSQ
Redescobrindo a Segunda Guerra 05 O dia D (Dublado): https://www.youtube.com/watch?v=bMLO31kODlM
Redescobrindo a Segunda Guerra 06 Inferno (Dublado): https://www.youtube.com/watch?v=BShWTabvnGs:
O.J.: Made in America
4.7 122A INEVITABILIDADE DOS FATORES EXTERNOS
Encarei nesses últimos dias as quase 8 horas de duração desse documentário, dividido em cinco partes de duração idêntica (pouco mais de 1h30 cada). Na primeira parte, sem dúvidas a menos interessante, tive uma certa dificuldade de entrar no 'clima' do filme, no momento em que passa a narrar a ascensão de Orenthal James Simpson como atleta de futebol americano - esporte com o qual não nutro identificação e sequer entendo como funcionam as regras, fator que sem dúvidas me causou menor interesse nesse primeiro quinto do filme. Também achei, no começo, mal casada e até invasiva a montagem querendo fazer paralelos entre a carreira de O.J., que era um sujeito politicamente alienado, com o movimento negro e a violência policial nos anos sessenta. Ficou parecendo que eram dois documentários paralelos, sem realmente muito a ver um com o outro.
Ledo engano. A partir do final dessa primeira parte e sobretudo da segunda em diante, de modo crescente, a montagem com esses dois assuntos melhora muito e tudo vai fazendo mais sentido. O. J. era um 'negro de alma branca', que queria apagar a própria negritude e ser visto como um semelhante pela playboyzada rica do bairro 'chique' no qual morava na Califórnia. O modo como eram filmados seus comerciais, por exemplo, eram reveladores nesse sentido. E a fuga dele em falar no assunto também era reveladora. Ajudou muito o fato de que eu não sabia nada sobre o jogador e deliberadamente procurei pouca informação antes de assistir o documentário, de modo que eu pudesse me surpreender bastante (o que, de fato, aconteceu).
A partir daí, o filme, sob a tutela do diretor Ezra Edelman, avança com muita competência, a ponto de que cada parte é melhor que a anterior. Vão sendo tecidos os fatores externos, principalmente o racial, mas também o de classe e, em menor grau, o de gênero e sexualidade (em especial na figura do pai de Simpson, que era gay), os quais vão culminar no julgamento por dois crimes hediondos supostamente cometidos pelo atleta e influir de modo decisivo nele. O julgamento, por sinal, é sem dúvidas o melhor momento do documentário, toma sozinho umas duas horas (e, acreditem, é pouco!) e vem recheado de depoimentos a posteriori de quem participou tanto na acusação, quanto na defesa.
Já nessa altura, o filme conseguiu costurar e ao mesmo tempo isolar de modo satisfatório a figura carismática e obscura do 'cidadão Kane negro' representado pro Simpson e os fatores externos que, de modo inesperado para o alienado e ostentador atleta, influíram e muito na sua carreira e na sua vida pessoal. Como é um documentário bem longo, "O. J.: Made in America" deu conta de cumprir tudo o que prometeu e explorar a fundo todas essas facetas que estão envolvidas no episódio, desde a negação da negritude (e afirmação dela por terceiros) de seu personagem principal até a espetacularização midiática de julgamentos, o que hoje é um fenômeno crescente e ainda mais comum que nos anos noventa, não apenas nos EUA. Filmaço!
Japão - Uma Viagem no Tempo
3.1 4VIRA-LATISMO NA TERRA DO SOL NASCENTE
Um dos primeiros documentários dirigidos pelo hoje famoso Walter Salles, feito sob encomenda para a extinta TV Manchete. Seu irmão, João Moreira Salles, fez um documentário de propósito e estética semelhante sobre a China, na mesma época e também para a Manchete, que considero um pouco melhor que este. Ambos tem narração de José Wilker.
Achei a versão condensada no Youtube, infelizmente sem a parte sobre o Kurosawa, que nem é citado nessa edição cortada. Tem algumas coisas legais, pra época em que foi ao ar (1986) com certeza estava de ótimo tamanho. Mas vendo hoje, ainda mais se comparado com o doc do irmão que foi filmado na China, fica parecendo uma manifestação inacreditável de vira-latismo, com elogios demais e críticas (ou melhor, esboços de críticas) minúsculas apenas sobre a 'tendência a solidão dos japoneses'.
O resto é puxa-saquismo total, só faltou lamberem o chão que a japonesada 'super moderna e antenada na tecnologia desde o maternal' pisa. O momento mais constrangedor da edição foi quando Wilker narra algo como "no Japão, até os bêbados são educados". Menos, cambada, menos! Desse jeito vamos ter que tomar cuidado, quando for chutar o saco de gringo nipônico, pra não acabar acertando também os dentes do Walter Salles. Há sim defeitos graves na cultura japonesa - pra citar só dois, o machismo inflexível e a xenofobia (inclusive contra brasileiros) escancarada. Aqui, no entanto, 'montalam uma edição bem camalada, né?'.
Japão - Uma Viagem no Tempo
3.1 4Japão - uma viagem no tempo - 1986 - 1ª parte: https://www.youtube.com/watch?v=SC0z7ZhEwik
Japão - uma viagem no tempo - 1986 - 2ª parte: https://www.youtube.com/watch?v=49u6LPmWjKQ
Japão - uma viagem no tempo - 1986 - 3ª parte: https://www.youtube.com/watch?v=qw0sMBexKw4
Japão - uma viagem no tempo - 1986 - 4ª parte: https://www.youtube.com/watch?v=57FQE0jAAIw
The Walking Dead (7ª Temporada)
3.6 918 Assista AgoraAs únicas temporadas boas são a primeira e a terceira. A segunda só é mediana porque adoro a fase 'hardcore' do Shane e o ator que o interpreta é excelente. Da quarta em diante, é pura decadência.
E dá uma puta saudade do Governador. Acho, sim, mil vezes mais interessante que o Negan - pelo menos até agora.
The Walking Dead (7ª Temporada)
3.6 918 Assista AgoraNARRATIVA MORTA-VIVA
Conseguiram fazer aquela que provavelmente é a pior temporada da série até agora, alcançando a façanha de superar a anterior nos quesitos monotonia e infantilidade.
As únicas duas surpresas envolvendo morte de personagens mais velhos de casa acontecem no primeiro e no último episódio - tudo o que se passa entre um e outro é pura 'embromation'. Mas ambas essas reviravoltas são prejudicadas pela edição, que força completamente a barra pra encher linguiça e segurar a audiência, de fazer corar um João Kleber.
No caso do primeiro episódio, perdeu-se uma oportunidade de ouro de encerrar a sexta temporada com uma cena que poderia ser chocante, com a apresentação bombástica do novo vilão Negan (vivido pelo empenhado Jeffrey Dean Morgan, sem dúvidas convocado para este papel porque os produtores de TWD viram o Comediante de "Watchmen"). Mas preferiram interromper a cena, o episódio e a TEMPORADA INTEIRA bem no meio dos fatos, num cliffhanger oportunista e caça-níquéis.
Já no caso do episódio final, há uma morte previsível, incoerente e muito mal elaborada pelos roteiristas, com uma série de furos (por que Negan ia se dar ao trabalho de fazer aquele showzinho com caixão e tudo?), além da edição se repetir demais e ter looongas divagações que estragam o que poderia, mais uma vez, ser uma cena de impacto.
Sem falar em salvações mágicas e escapes milagrosos dos tipinhos de sempre, principalmente nesse último episódio. Uma, em particular, envolvendo um pulo de tigre, me pareceu mais ridícula. E a maioria dos personagens novos, principalmente o mongoloide 'Rei Ezekiel', é um pé no saco e não causa nem interesse, nem raiva, nem empatia, nem p*rr@ nenhuma. Os zumbis, por sua vez, são cada vez mais figurantes na própria série e nunca foram tão pouco ameaçadores.
Uma tristeza ver como TWD se acovardou e entrou num clima de 'topa tudo por dinheiro' já faz tempo, sem culhão pra matar personagens centrais - como acontecia até a terceira temporada (e ainda acontece na muito superior "Game of Thrones") - para surpreender ou chocar os espectadores.
A Última Guerra do Prata
4.4 3Recentemente, tenho me interessado em descobrir e entender a Guerra do Paraguai (1864-1870). Pra essa finalidade, o documentário em alguns episódios produzido pela TV Escola ajuda a compreender o que foi aquele conflito, suas motivações, os erros e acertos táticos de cada lado e, melhor ainda, tem uma parte final bastante pertinente que busca enfatizar especificamente qual foi o legado do imediato pós-guerra para todos os países envolvidos.
No tocante a esse último ponto, foi interessante observar como o Uruguai e sobretudo a Argentina (que unificou o país sob a tutela do governo portenho e faturou de modo irreversível o território de Corrientes) saíram da guerra mais fortes do que entraram, ao passo que não só no caso óbvio de 'terra arrasada' do Paraguai, mas também no caso do Brasil existiu um saldo francamente negativo, com o império tendo dificuldade em honrar os compromissos prévios com os soldados, atolado numa dívida gigantesca e nenhuma melhoria de infra-estrutura acarretada pelo desenvolvimento do conflito.
Também é interessante notar como o Paraguai, isolado, sem saída para o mar, conseguiu resistir muito mais que o esperado e levou o que deveria ser uma guerra-relâmpago a uma série de batalhas extenuantes para as forças brasileiras. Um punhado de baixas era por fome ou doenças nos acampamentos - até mais do que nas batalhas. A figura em si de Francisco Solano Lopez, apesar de tudo o que tem de megalomaníaco e até de estrategicamente tacanho (não era óbvio que se meter a invadir o Rio Grande do Sul, por causa de uma contenda até então somente entre Brasil e Uruguai, ao mesmo tempo que invadia a região de Corrientes, era uma aposta quase suicida?) desperta curiosidade e intriga por ter conseguido escapar tantas vezes da morte certa, inclusive um pouco depois da tomada de Assunción e da saída do Duque de Caxias, sob fogo contínuo de todos os lados.
O maior acerto da série documental é sem dúvidas o fato de terem não só entrevistado vários historiadores de todos os quatro países (e mais um estadunidense), como ainda terem visitado os locais da guerra e os museus/arquivos pessoalmente, mostrando onde acontecia as batalhas e quais eram as dificuldades geográficas para o exército do império brasileiro avançar.
Pena que o entrevistador seja um sujeito que a todo momento quer posar de deslumbradinho (proferindo frases do tipo "nossa, esse navio marcou época!", "nossa, essa garrafa foi usada por um cavaleiro!", etc), ao invés de se limitar a narrar os fatos. Também senti falta de uma contextualização e aprofundamento maior especificamente no tocante à reação do Partido Colorado no Uruguai, no momento que foi o ponto de partida para a guerra ser declarada. Mas pra um documentário feito pra TV, do tipo que é passado em aulas de história, tá de ótima tamanho e vale perfeitamente o quanto pesa, até superando minhas expectativas.
A Última Guerra do Prata
4.4 3www.youtube.
com/watch?v=p63oMrdltas
Westworld (1ª Temporada)
4.5 1,3KBLADE RUNNER NO VELHO OESTE
Fiquei bastante satisfeito quando descobri o lançamento dessa série, afinal, o longa-metragem dos anos 70 escrito e dirigido por Michael Crichton era curto demais para o universo ali sugerido, deixando a impressão de uma premissa excelente que acabou subestimada até pelo próprio autor e desenvolvida de modo truncado. Em seus dez episódios, a série encabeçada por Jonathan Nolan (irmão de Christopher) teve o que faltou no filme de 73: tempo e espaço pra desenrolar como funciona o parque temático com androides perfeitos até na simulação de emoções.
De fato, a série tem muito mais acertos do que erros e avança significativamente nas possibilidades deixadas por Crichton. Tecnicamente é bem acabada, sobretudo na cenografia, fazendo às vezes parecer uma superprodução cinematográfica classe A, especialmente no tocante à estética western interna ao parque. Também se permitiu ao luxo de colocar aqui grandes nomes com tradição no cinema em papéis importantes, tais como Anthony Hopkins, Ed Harris e Jeffrey Wright - todos excelentes nos seus papéis, especialmente o último que cresce bastante nos quatro episódios finais. O elenco menos conhecido, que inclui até o brasileiro Rodrigo Santoro, também é competente e segura bem as pontas.
No geral, o roteiro é bom e traz ótimas reviravoltas, especialmente da metade para o final. Todavia, demora para engrenar e, pior de tudo, deixa muitas lacunas e até buracos indefensáveis. Pra não dar spoilers, vou citar apenas alguns mais generalistas: como os 'visitantes' poderiam distinguir os 'hóspedes' de outros visitantes, de modo que soubessem que não poderiam ferir os segundos? E ainda no tocante a isso, como é exatamente que funcionava o controle de violência física, especialmente quando envolve armas brancas ou até golpes com o próprio corpo, já que os androides não poderiam matar os visitantes e, pior, há o risco de um visitante ferir outro (involuntariamente) à base facadas ou sopapos? Finalmente, como é que uma empresa de tecnologia de ponta, num universo de ficção-científica, tinha um nível de segurança tão fuleiro, a ponto até de funcionários de baixo escalão burlarem regras que colocam em risco a vida de si e de outros?
Agora resta torcer pra que reparem esses furos e lacunas na segunda temporada. Também carece um desenvolvimento maior dos visitantes (especialmente aquele interpretado por Jimmi Simpson, cuja reviravolta soou meio forçada pra um sujeito moralista e carrancudo em todos os episódios), já que os hóspedes e os diretores são bem mais interessantes. Faltou ainda mais doses de sexo envolvendo os visitantes - afinal, eles com certeza estariam ali pra isso, ao invés de ficarem só vendo orgias nababescas acontecendo ao fundo sem aproveitar (quase) nada.
De qualquer modo, o saldo é bastante positivo, especialmente se você gosta de ficção-científica e temas próximos daqueles abordados em "Blade Runner" e "2001". Para fãs de western, tenderá a ser um pouco menos interessante. Como eu, pessoalmente, gosto mais de sci-fi, então foi um prato cheio em diversos momentos. Mas sem ser cego para os erros e limitações do roteiro, a ponto de entoar tantas loas como muita gente vem fazendo por aí. Menos, galera, menos!
Black Mirror: White Christmas
4.5 452Pintaram com tanta ênfase esse episódio como um dos melhores da série, mas na verdade é o pior entre os que vi até o momento (não vi ainda os lançados neste ano).
As subtramas costuradas na narrativa tem um desfecho mambembe (justamente em "Black Mirror", que tem via de regra como virtude a qualidade dos encerramentos). Já o 'plot twist' da trama principal, envolvendo o diálogo dos dois personagens na cozinha, consegui deduzir lá pelos 30 ou 40 minutos de projeção, o que tirou bastante o impacto da revelação. Sem falar que o personagem do Potter é patético e chorão até não poder mais.
O que tem de melhor e, infelizmente, subexplorado, é aquela subtrama com a cópia consciência presa no 'cookie' pra fazer obrigatoriamente os trabalhos da 'consciência-matriz'. Me lembrou aquele episódio de "Family Guy" onde o Stewie cria uma cópia de si mesmo pra 'terceirizar' as tarefas mais chatas do cotidiano. Pena que é um momento que passa de relance nesse "especial de natal" de Black Mirror, sendo que renderia um ótimo episódio só pra isso.
Também é bem bolado a inclusão no roteiro do recurso de bloquear completamente as outras pessoas mesmo offline. Mas, no geral, é um episódio apenas ligeiramente acima da média geral das séries e, dentro especificamente do nível de Black Mirror, aquém do esperado.
Black Mirror (2ª Temporada)
4.4 753 Assista AgoraWaldo é o CQC da era Marcelo Tas.
Black Mirror (1ª Temporada)
4.4 1,3K Assista AgoraSegundo episódio lembra demais o "Admirável Mundo Novo" do Huxley, com o 'plus' de ser uma distopia carregada de um inferno publicitário onipresente. Bem bolado e, infelizmente, verossímil.
The Tommy Wi-Show (1ª Temporada)
3.1 4"Stop looking at your feet".
Stranger Things (1ª Temporada)
4.5 2,7K Assista AgoraSérie bacana, com direção competente e fotografia bonita. Tem alguns momentos de suspense muito bem construídos e o resultado final é acima da média. Conseguiu de modo bem sucedido ser um amálgama de referências estéticas (visuais e musicais) aos anos oitenta.
Isso posto, não é nem de longe a última coca-cola do deserto que tanta gente andou pintando por aí. Tem inverossimilhanças imperdoáveis no roteiro (como é que um laboratório de ponta e de segurança máxima leva tanto olé, inclusive de crianças?), um elenco competente porém pouco carismático - com uma despirocada e envelhecida Winona Ryder à frente - e a ausência total de um antagonista de verdade, uma vez que o personagem de Matthew Modine entra e sai sem dizer a que veio ou causar maior impressão.
Game of Thrones (6ª Temporada)
4.6 1,6KSou obrigado a admitir que, felizmente e contrariando minhas expectativas, Game of Thrones está conseguindo manter o nível mesmo sem ter o material literário para acompanhar.
Isso posto, faço uma ressalva sobre a 'season finale'. Parece muito 67 minutos pra um episódio de GoT, mas para o tanto de reviravoltas que esse roteiro apressado quis contar foi pouco. A primeira cena, em particular, me incomodou, com aquele acompanhamento musical em piano totalmente descolado da narrativa convencional da série - tentaram causar suspense, mas só causaram estranhamento.
Por conta da pressa em concluir alguns arcos e passar o bastão para a temporada seguinte, acabaram deixando um sabor apenas satisfatório para reviravoltas que tinham potencial de ser tão acachapantes quanto foi o penúltimo episódio, "Battle of the Bastards". Mas, enfim, é pouco pra comprometer o todo que é muito acima da média. E nesse último episódio, a cenografia nunca foi tão bonita. A biblioteca, sobretudo, me chamou a atenção.
House of Cards (4ª Temporada)
4.5 407 Assista AgoraA série está perdendo o fôlego e a tendência é que as temporadas continuem progressivamente inferiores, a despeito da performance sempre competente do elenco.
O conflito entre o casal da presidência é sub-explorado dramaticamente, bem como o personagem que faz o presidente russo (que roubou a cena na terceira temporada). Isso sem falar em várias personagens totalmente sem graça, como a mãe da Claire. A própria eleição, que devia ser o grande foco da temporada deste ano, é pouco desenvolvida.
Enfim, "House of Cards" ainda continua boa, mas tende e ficar sem gás e com pouco a dizer nos próximos anos se os roteiristas não se reinventarem.
The Walking Dead (6ª Temporada)
4.1 1,3K Assista AgoraA série continua perdendo o fôlego.
Parecia que essa mid-season de 2016 ia engatar, com a decisão de estabelecer oficialmente o relacionamento Michonne-Rick e a matança da família chatíssima daquela loira logo no primeiro episódio de fevereiro.
Mas depois de uns três episódios se dedicam a transformar a Carol - que tinha virado uma das melhores personagens a partir da terceira temporada - numa chata de galocha, uma patética desequilibrada que nega o desenvolvimento da personagem nas temporadas anteriores.
Sem falar que interromperam a cena do homicídio do Negan num ponto-chave, sem revelar quem era o morto, perdendo assim a chance de conferir todo o impacto devido à cena só pra manter um cliffhanger forçadíssimo.
The Walking Dead (5ª Temporada)
4.2 1,4K Assista AgoraOs roteiristas estão zombando abertamente da nossa inteligência.
Como é que o Glenn, seriamente ferido, escapou daquele monte de zumbis na season finale?
The Walking Dead (5ª Temporada)
4.2 1,4K Assista AgoraEverybody hates Noah.
The Walking Dead (5ª Temporada)
4.2 1,4K Assista AgoraEstá conseguindo ser ainda mais arrastada que a quarta temporada. Os zumbis nunca foram tão pouco ameaçadores. Só o primeiro episódio foi bom, até agora.
True Blood (7ª Temporada)
3.4 486 Assista AgoraPatético desfecho de uma série que já foi sensual e arrojada nas duas primeiras temporadas.
Preacher (1ª Temporada)
4.0 325Quem vai interpretar o Cassidy?