Estrelado por Bette Davis, o que lhe garantiu o segundo Oscar de Melhor Atriz de sua carreira, "Jezebel" é um melodrama de costumes, que, além do ótimo trabalho de construção da personagem principal, também faz uma crítica aos comportamentos e tradições encerradas em um código de ética e moral hermético. Uma alfinetada, ainda que tímida, ao modo de pensar conservador, orgulhoso e, sim, machista. Traz uma das melhores atuações da atriz e também uma ótima dobradinha com um jovem Henry Fonda. Tematicamente, o filme acabou por ser eclipsado por "E o Vento Levou", lançado um ano depois, e que acabou se tornando o filme definitivo sobre o sul norte-americano no período próximo à Guerra Civil (e que também contava com uma protagonista feminina forte e manipuladora na pele de Vivien Leigh). Todavia, o filme envelheceu um pouco mal e tropeça moralmente na sua visão política. Não há como esconder o fato de que quase todos os personagens são sulistas típicos do Século XIX, que não apenas são a favor da escravidão, mas como também se referem com ódio a mera menção dos abolicionistas. Mesmo os escravos são sempre retratados sob o estereótipo do 'good slave'. Uma visão que o próprio roteiro parece não querer ter intenção nenhuma de se desculpar (compreensível, já que o filme foi rodado numa época muito mais próxima da Guerra Civil do que de nós, e aquele modo de pensar ainda estava entalado na cabeça de muita gente). Uma contextualização moral da época, portanto, deve ser feita, para que o filme possa ser minimamente apreciado nos dias de hoje.
Não entendo porque os produtores da Marvel se convenceram de que o Thor precisava de um quarto filme solo (de fato, da 'santíssima trindade' dos Vingadores originais, Thor era o que tinha os filmes mais fracos). "Thor: Amor e Trovão" ratifica essa desnecessidade. O filme é uma galhofa sem graça do início ao fim, um retorno a forma tola com que os filmes de heróis eram vistos na década de 90 e início dos anos 2000. O roteiro é um amontoado de tolices, as sequências de ação genéricas, as piadas bobocas sem qualquer timing cômico. Christian Bale e Russell Crowe desperdiçados. Se há qualquer ponto positivo aqui é dar um desfecho relativamente digno à personagem de Natalie Portman (algo que nem era assim tão necessário). Uma completa bobagem.
"Adeus, Minha Concubina" é um melodrama clássico: um triângulo amoroso em um universo de mágoa, sofrimento e dor. Sentimentos estes decorrentes não só da dinâmica amorosa entre os personagens, mas também por conta de ser retratado durante a história da Revolução Cultural na China. Em teoria, muitas das decisões dramáticas do roteiro funcionam. Na prática, no entanto... O filme possui um começo promissor e uma guinada interessante no final, mas o seu segundo ato é morno e não tão envolvente, o que é prejudicado ainda pela duração excessiva do longa. O cineasta Kaige Chen parece indeciso entre duas coisas, desenvolver os conflitos principais dos protagonistas ou focar nas consequências do período histórico sobre aqueles indivíduos, e no fim deixa a desejar tanto em uma frente quanto na outra. As atuações, por sua vez, é o que compensam a falta de ritmo, em especial o ciúmes frio como uma lâmina do olhar de Leslie Cheung, e a determinação imperativa de Gong Li. Em termos de produção técnica, é irrepreensível. No todo, "Adeus, Minha Concubina" está bem longe de ser uma experiência negativa, mas poderia ser um filme menos inchado.
"Homo homini lupus". O homem é o lobo do homem. O brocardo latino popularizado pelo pensador Thomas Hobbes ao tentar intuir o inicio da convivência em sociedade, busca ilustrar como seria o homem em seu Estado de Natureza: cruel, egoísta, e capaz de tudo pela sua própria sobrevivência. Sem uma comunidade com regras que lhes dêem direitos, mas também os limitem, os seres humanos sozinhos acabam sendo o vetor de sua própria destruição. As intenções de Haneke de explorar os conceitos hobbesianos em "O Tempo do Lobo" são evidentes, afinal, este é literalmente o filme apocalíptico de um cineasta pessimista e niilista por natureza. É uma pena, no entanto, que a excessiva fluidez da trama e os personagens meio rasos não permitam uma maior empatia que nos leve a nos importar com eles. Diferente de "Funny Games", onde os personagens também são meros arquétipos, mas isso não impede a nossa identificação, em "O Tempo do Lobo" tudo soa meio superficial, com um escopo relativamente amplo porém sem profundidade. É um filme ambicioso, mas que fica muita aquém de suas pretensões. Curiosamente, pelo menos até aqui, Haneke tinha sido mais eficiente ao registrar a selvageria do homem dentro de uma sala de estar, do que no meio de uma floresta sem lei.
Estrelado por Juliette Binoche, "Código Desconhecido" segue uma estrutura semelhante à "71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso": várias histórias paralelas com seus dramas cotidianos sendo alternados com os cortes bruscos de Michael Haneke. Tematicamente, por sua vez, o filme viria a dialogar melhor com outro longa que o cineasta viria a fazer futuramente, "Caché" (curiosamente, também com Juliette Binoche), já que aqui o cineasta também dá espaço para a observação política da sociedade, a divisão de classes, a questão da imigração dentro da Europa, o preconceito étnico institucional e o horror subjacente na sociedade advinda dessas questões. Contudo, diferente de outros filmes do cineasta que intrigam pela sua assinatura peculiar, porém sólida, aqui falta coesão no todo, o filme perde consistência a medida que as histórias vão evoluindo e se afastando uma das outras, e o interesse narrativo acaba perdendo força. Cinematograficamente por outro lado, Michael Haneke atesta ser um exímio diretor na forma sempre fria com que cria seus enquadramentos e brinca sem pudores com a metalinguagem do audiovisual, fazendo do filme a ser filmado o próprio filme. Ainda assim, um Haneke menor e menos estimulante.
Apesar do título que mais parece uma chamada do narrador da Sessão da Tarde, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" até funciona dentro do padrão Marvel de fazer obras de entretenimento vazias apelando apenas para o puro escapismo. Não se destaca exatamente para muito além dos fan services e, sim, é mais do mesmo. Mas funciona como passatempo inofensivo e distrai suficientemente por duas horas dentro do gênero desgastado de super-herói. Talvez a maior surpresa seja o fato da antagonista convencer e funcionar melhor como ameaça do que muitos outros vilões dos filmes do MCU (ou, talvez até não seja tão surpreendente assim, considerando que a franquia teve vários filmes e uma série para desenvolvê-la, ao contrário de outros vilões que vieram do nada e foram para o lugar nenhum). Uma pena, entretanto, o desfecho de toda a sua fúria ser sub-aproveitado em uma cena piegas constrangedora. Por outro lado, é bom ver que a Marvel deu um pouco de espaço para Sam Raimi poder explorar seu gosto por sequências trash mórbidas, ainda que predomine o tom 'Marvel' durante toda a narrativa. Claro, também tem seu humor questionável e vários furos de roteiro, mas, no geral, os pontos negativos não me incomodaram tanto dessa vez para eu considerar dar uma nota negativa.
Se você esperava algo próximo de um realismo histórico, lamento informar mas a intenção de Sofia Coppola não passa nem perto disso. A sua versão da vida de "Maria Antonieta" busca olhar para a trajetória da estadista sob outro ponto de vista, quase o da justificativa. Basicamente o que a cineasta deseja é mostrar como a protagonista era apenas uma adolescente mimada, rica e entediada, completamente despreparada para a posição e o cargo em que foi colocada. Mantendo o espectador durante o filme inteiro dentro da 'bolha da realeza', Sofia esvazia o filme de qualquer carga política. O que vemos, em uma narrativa meio fragmentada, é apenas a rainha da França indo de festa em festa para fugir da rotina massacrante das obrigações da Corte. Se há alguma crítica aqui, é apenas sobre a frugalidade, seja da protagonista, seja do próprio sistema no qual ela estava inserida. Uma pintura do 'descontentamento através dos excessos'. Mas tudo soa meio blasé, meio hipócrita. Milhares de pessoas passando fome na França daquele período, mas o roteiro de Sofia prefere focar nas depressões de uma pobre menina rica. Enfim, prioridades. Por outro lado, a fotografia e o figurino realmente chamam atenção, enquanto que o all star... bem, é apenas uma curiosidade boba que usaram para ajudar a vender o filme.
A vida e obra da cantora francesa Edith Piaf sintetizada nesse longa-metragem dirigido por Olivier Dahan. Em estrutura, "Piaf - Um Hino ao Amor" talvez não fuja tanto aos clichês das demais biografias cinematográficas de artistas, com o famoso arco ascensão-queda-superação. Com o diferencial de que, no que tange à Edith Piaf, a "queda" não parece se resumir a um único evento-chave que gerará a catarse ao final do longa, mas sim a uma série de conflitos que a protagonista teve de passar durante toda a sua vida, desde a infância até a sua morte relativamente prematura. Parece que nada nunca foi fácil para Edith Piaf, e o filme faz questão de mostrar isso, o que traz um ar um pouco mais naturalista à obra e menos engessado. A sofisticada direção de Dahan também impede que o filme soe episódico, conseguindo amarrar bem as diversas etapas da vida da personagem de uma forma orgânica e cuidando para não pender para o melodrama exagerado. E a entrega da atuação de Marion Cotillard - diva - é sim digna de prêmios. Tenho minhas reservas quanto a algumas escolhas envolvendo a maquiagem, mas no geral "Piaf - Um Hino ao Amor" é uma ótima cinebiografia de uma das artistas mais referentes do meio musical mundial.
O Mal em gestação prestes a se tornar carne. "A Fita Branca" é um microcosmo que representa a Europa poucos meses antes de começar a Primeira Guerra Mundial. Por trás da paisagem pitoresca de uma aldeia protestante predominantemente agrícola, temos o ódio e a frieza representada na fotografia preto-e-branca, que parece manter os seus personagens na sombra, mesmo quando todo o ambiente parece saturar de iluminação. Nessa fábula histórica triste, temos o pastor - a Igreja - que ensina e disciplina seus filhos com violência e terror. A insatisfação perante a diferença de classes e a semente de sua revolta germinando, representada pelos filhos rancorosos de um camponês sem expectativas. O abuso do poder patriarcal sobre a prole do sexo feminino, feita de forma quase escancarada e revoltante. E, no meio de todos eles, está escondido um possível psicopata em formação, apenas estendendo em termos práticos todo o horror que gira ao seu redor. Mas o mais assustador mesmo de "A Fita Branca" não são os ataques de violência, mas sim o poder da negação. A arrogância em não reconhecer o mal enraizado dentro da sua própria sala de estar, vindo de seu próprio sangue. A insistência na crença equivocada de que existe uma diferença entre 'nós' e 'eles', dividido pelo o que seria o mito das 'pessoas de bem'. Reações aberrantes e insensatas que só ajudam a perpetuar o horror instalado, e que, não a toa, serviriam como base de justificativa para atos de genocídio quase vinte e poucos anos depois. A bola de neve do mal.
'Road movies' são filmes em que, via de regra, o importante não é o ponto de chegada, mas sim todas as experiências e o aprendizado que a jornada proporciona. Por definição, acaba sendo um dos melhores gêneros para se construir analogias com o próprio conceito da 'Vida', já que nós, todos nós, estamos numa longa trilha que já sabemos onde vai parar, mas o que realmente importa é o que faremos no caminho. "Livre", com Reese Whiterspoon (possivelmente o melhor filme da carreira da atriz), é uma jornada de auto-descoberta e auto-aceitação, de enfrentar e superar os medos, não só os representados pela natureza, mas também aqueles que ela possui dela mesma. É uma luta selvagem contra um monstro interno chamado 'Eu'. É um longa sobre enfrentar a depressão e encontrar, enfim, um caminho em meio ao deserto que lhe permita continuar seguindo, trazendo na bagagem todos os aspectos pesados de culpa e remorso, na esperança que algo no meio do caminho ajude a torná-los mais leves de carregar. "Wild", no título original, é um filme sensível e profundo. Subestimado talvez pela sua narrativa contemplativa e abstrata. Mas um filme que evidencia de forma tão poética que viver é o mesmo que ter coragem para uma árdua caminhada que nos destrói fisicamente, mas que nos recompensa espiritualmente, não poderia ter sido feito de outra forma.
Elegante, "007 contra Spectre" é o ponto culminante que reúne os três filmes anteriores da franquia, resgatando a mesma ideia - e, obviamente, o principal vilão - da fase Connery (e antes que me acusem de spoiler, convenhamos, o título do filme é 'Spectre'). Em termos de ação, nada a deixa desejar aos demais filmes da fase Craig, com sequências bem filmadas e intensas. Já o roteiro funciona relativamente bem para os padrões, até começar a dar umas escorregadas ao tentar sugerir um passado completamente descartável para o antagonista. Este, por sua vez, é interpretado por Christoph Waltz com o requinte e a elegância costumeira, mas nem de perto lembra a força imagética da caracterização de Donald Pleasance em "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes". Por sua vez, enquanto a participação de Monica Bellucci soa apática e frustrante, Léa Seydoux é a 'bondgirl' da vez, e desempenha bem o seu papel. A dinâmica entre ela e Craig é boa a ponto de eu pensar que o roteiro tentaria repetir o equivocado desfecho de "007 A Serviço Secreto de Sua Majestade". Felizmente, não foi o caso. Já Craig continua bem, embora algumas rugas evidenciem o aproximar da hora de ele aposentar a Walther PPK/E
Dos 4 filmes envolvendo a tripulação da Next Generation, "Jornada nas Estrelas - Primeiro Contato" talvez seja o mais respeitado. De fato, a trama é boa, o roteiro funciona, mesmo que para isso o filme precise quebrar alguns paradigmas estabelecidos pela série de TV - como a personalidade do capitão Picard, que se torna muito mais 'intolerante' nesse longa (ainda que justificado pelas circunstâncias) ou até mesmo o próprio conceito da raça alienígena Borg como uma coletividade totalmente desfeita de individualismos. A ideia de viagem no tempo não é original - já foi usada no quarto filme - mas aqui serve como muleta do roteiro para poder tapar alguns buracos. E, por fim, os efeitos especiais são muito bons para a época, sendo a cena da batalha do lado de fora da Enterprise bem diferente e criativa. Como agrado aos fãs não só das séries principais mas também das derivadas, o filme encontra tempo ainda de fazer referências à Deep Space Nine (a nave Defiant, comandada pelo personagem Worf no início da trama) e à Voyager (o holograma médico que aparece em uma rápida, mas simpática pontinha).
É uma Argentina estranha, com uma Buenos Aires criada em estúdio e argentinos que falam cantando em inglês. A direção de Alan Parker tenta recriar o musical da Broadway, mas com uma sensação de artificialidade que afasta o espectador. Ainda, a trama inevitavelmente política pode se tornar árida para o público que está fora do nicho alvo do filme, enquanto que seus momentos pontuais de melodrama soam bem forjados. E se "Evita" não desaba de vez, é apenas pela dedicação do seu elenco em tentar entregar algo com um mínimo de qualidade. Surpreendentemente, ainda que não seja uma grande atriz, Madonna consegue demonstrar a força, a presença e o carisma necessário para viver a protagonista. E mesmo Antonio Banderas não compromete, em um personagem que é uma espécie de 'narrador opinativo atemporal' da vida de Evita. Já algumas músicas são realmente boas e cumprem bem a sua função. Logo, o filme não é um desastre completo, mas, no geral, a sensação que fica é que o longa está bastante aquém do épico que ele poderia ter sido sobre a personagem.
Segundo longa-metragem dirigido pelo Wes Anderson, é interessante notar que já aqui o cineasta exibia interesse por personagens esquisitinhos e melancólicos, e um estilo de filmar bastante característico - ainda que esteja bem longe do radicalismo estético que os seus filmes se tornariam com o passar dos anos (e, cá entre nós, é um alívio ver um filme dele um pouco mais 'normal'). Como trama, entretanto, "Rushmore" não convence muito. O triângulo amoroso que se forma - entregado sem cerimônia alguma pelo péssimo título em português - não possui química em nenhum de seus vértices e seu protagonista é um adolescente arrogante, chorão e antipático com o qual não nos importamos. Como um todo, "Rushmore" é uma obra de Wes Anderson bastante crua, mas já com todos os ingredientes que o tornariam facilmente reconhecível no futuro.
Chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2015 e, provavelmente, foi o mais perto que Wes Anderson chegou de ganhar o prêmio máximo da Academia. De fato, "O Grande Hotel Budapeste" pode ser considerado, narrativamente, como o filme mais diferente do cineasta. Fugindo da estrutura típica de seus outros trabalhos - a família disfuncional que precisa se unir, elemento facilmente verificável em "Os Excêntricos Tenembauns", "O Fantástico Sr. Raposo", "A Vida Marinha de Steve Zissou" e "Viagem a Darjeeling" - aqui o cineasta arrisca uma traminha quase 'policialesca' com algumas considerações políticas e momentos 'a la 007'. Funciona, e quase convence com seu humor ácido e particularmente cruel, se não fosse pelo fato da trama se tornar facilmente esquecível depois de alguns dias. No mais, participações especiais de grandes nomes do cinema em ceninhas de microssegundos, e uma predominância exagerada da forma sob a essência, características comuns na assinatura do diretor.
O diferencial de "O Predador - A Caçada", de 2022, é a ideia - bem desenvolvida, por sinal - de ambientar a trama em um período histórico diferente, a partir de um ponto de vista de uma cultura tecnologicamente limitada. Isso aumenta consideravelmente não só a ameaça representada pelo antagonista, mas também a astúcia necessária, a coragem e o heroísmo da personagem principal, muito bem interpretada por Amber Midthunder. Esteticamente falando é o filme mais caprichado da série, ou, ao menos, o único em que o diretor por trás das câmeras parece interessado em fazer algo que também seja visualmente atraente. Consegue prender a atenção pela personalidade empática de sua protagonista e pelo contexto criativo, o que é mais do que eu posso dizer sobre vários outros filmes dessa franquia genérica.
Bem, não é tão ruim quanto a recepção pública indicou na época do seu lançamento. Mas tampouco é bom. É apenas... descartável e esquecível. Uma trama genérica, personagens desinteressantes, um final que vai de mal a pior. A ideia do predador gigante é legal pra caramba, mas seu potencial simplesmente não é explorado. O senso de humor de Shane Black soa destoante e ação burocrática dá sono. Confesso que sempre achei o personagem 'predador' um pouco superestimado, mas nesse filme eles sequer se dão ao trabalho de tentar justificar o porquê do seu sucesso.
Vale apenas pela oportunidade de ver os mesmos personagens da animação clássica em um outro contexto. O roteiro, por sua vez, é ordinariamente bobo, típico para um especial de natal televisivo. A motivação do vilão é medíocre e difícil de engolir. E, de novo, os problemas morais que ajudaram a datar o original se repetem aqui também, reforçando "A Bela e a Fera" como um dos sucessos comerciais mais questionáveis e superestimado da Disney. As músicas? Esquecíveis.
É estranho pensar que a Disney tem a sua própria versão de "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça". E mais surpreendente ainda notar que ela não poupou as crianças do aspecto sombrio e o aterrorizante do conto. Por sua vez, a releitura de "O Vento nos Salgueiros" é bonitinha, mas parece fazer parte de outro filme. É esquisita a escolha de dois clássicos da literatura tão díspares em temática e essência para compartilharem a mesma obra cinematográfica. Para o bem, ou para o mal, "As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo" merece a conferida, nem que seja pela singularidade de sua natureza dentro do conjunto ao qual está inserido.
"Tempo de Melodia" tenta ser uma espécie de "Fantasia" só que bem menos ambicioso. São sete segmentos, todos eles acompanhados de sua partitura musical, mas todos eles bem fraquinhos. Os menos piores são aquele do casal no lago congelado e o do pequeno barquinho rebocador - que, de certa forma, me remeteu aquele outro curta do "Alô, Amigos" sobre o aviãozinho nos Andes. Mas, de qualquer forma, nenhuma das historinhas consegue envolver suficientemente, e nem mesmo o flerte do Pato Donald e do Zé Carioca com o samba - outra ideia já reciclada dos filmes anteriores da Disney - consegue mais ser atrativa aos olhos locais.
O ano era 1947, o mundo havia acabado de sair da Segunda Guerra Mundial, e Walt Disney, pretendendo deliberadamente fazer uma obra escapista para fazer crianças e adultos se esquecerem dos tormentos dos anos anteriores, lança "Como é Bom se Divertir". Pena que o filme não é tão divertido como sugere o título. Na verdade, a animação envelheceu bem mal, seja na historinha do ursinho que ensina às crianças a dar 'tabefes' na pessoa amada, seja nas esquetes das marionetes bizarras que são tudo, menos encantadoras. O ponto alto do filme é o segmento de 'João e o Pé de Feijão' estrelado por Mickey, Pateta e Pato Donald, e é apenas por ele que o filme não se torna um desastre completo.
Mistura de filme de ação com filme de alpinismo, e estrelado por Silvester Stallone, "Risco Total" tem, na figura de seu astro, o seu único ponto de carisma. A trama envolvendo um assalto mirabolante e a queda do avião nas montanhas é meio mal contada, meio qualquer coisa. Mero 'McGuphin' para que o nosso herói possa exibir seus talentos de 'action figure' em um ambiente um pouco mais original e diferente como o do montanhismo. A propósito, apesar de se passar em boa parte ao ar livre e se presumir uma iluminação natural, a fotografia desse filme dirigido por Renny Harlin soa estranhamente apagada e sem brilho quase todo o tempo. Cru, genérico, e sem qualquer interesse no refinamento estético ou narrativo, o longa é um típico 'filme de porradaria de tiozão'. A alguns anos houve um papo de uma possível refilmagem com Jason Momoa, no papel que era de Stallone, mas não deu em nada.
"Inimigo Meu" talvez seja um dos poucos filmes hollywoodianos em que um personagem americano aprende a respeitar e a demonstrar sincero interesse por outra cultura. Mesmo que essa cultura seja, na verdade, alienígena, e que tal interesse tenha decorrido, na verdade, por força das situações. Ainda assim, as intenções do filme são boas, em que pese o roteiro abordar a amizade entre os protagonistas com uma nota de otimismo ingênuo que soa meio infantil. Wolfgang Peterson mostra segurança em dirigir um filme que foge ao gênero que está habitualmente acostumado, enquanto que a direção de arte e a maquiagem remetem aquelas matinês sci-fi da década de 60. Competente, mas não instiga muitas revisitadas.
Estrelado por Rosanne Mulholland - sim, a 'professora Helena de Carrossel' - e dirigido por Carlos Reichenbach, "Falsa Loura" tenta ser um 'conto de fadas' às avessas, em que o reino feliz e o príncipe encantado são trocados pelo chão de fábrica e a objetificação sexual. O filme tem um ponto e poderia ter funcionado, se não fosse o fato do roteiro não saber para onde ir, suas situações serem pouco envolventes, a maioria das atuações serem ruins e sua protagonista ser extremamente antipática. O longa-metragem não consegue ter carisma suficiente para prender o interesse, e seus 100 minutos soam muito mais longos do que de fato são. Para completar, a direção de Reichenbach - um cineasta brasileiro cheio de 'altos' e 'baixos' - se encontra pessimamente inspirada, lembrando em alguns momentos a direção de um comercial de TV. Mulholland bem que poderia ter seguido o exemplo de Xuxa e ter pedido para o filme ser cancelado do mercado. Talvez fosse um bem para a sociedade em geral.
Jezebel
3.9 111Estrelado por Bette Davis, o que lhe garantiu o segundo Oscar de Melhor Atriz de sua carreira, "Jezebel" é um melodrama de costumes, que, além do ótimo trabalho de construção da personagem principal, também faz uma crítica aos comportamentos e tradições encerradas em um código de ética e moral hermético. Uma alfinetada, ainda que tímida, ao modo de pensar conservador, orgulhoso e, sim, machista. Traz uma das melhores atuações da atriz e também uma ótima dobradinha com um jovem Henry Fonda. Tematicamente, o filme acabou por ser eclipsado por "E o Vento Levou", lançado um ano depois, e que acabou se tornando o filme definitivo sobre o sul norte-americano no período próximo à Guerra Civil (e que também contava com uma protagonista feminina forte e manipuladora na pele de Vivien Leigh). Todavia, o filme envelheceu um pouco mal e tropeça moralmente na sua visão política. Não há como esconder o fato de que quase todos os personagens são sulistas típicos do Século XIX, que não apenas são a favor da escravidão, mas como também se referem com ódio a mera menção dos abolicionistas. Mesmo os escravos são sempre retratados sob o estereótipo do 'good slave'. Uma visão que o próprio roteiro parece não querer ter intenção nenhuma de se desculpar (compreensível, já que o filme foi rodado numa época muito mais próxima da Guerra Civil do que de nós, e aquele modo de pensar ainda estava entalado na cabeça de muita gente). Uma contextualização moral da época, portanto, deve ser feita, para que o filme possa ser minimamente apreciado nos dias de hoje.
Thor: Amor e Trovão
2.9 973 Assista AgoraNão entendo porque os produtores da Marvel se convenceram de que o Thor precisava de um quarto filme solo (de fato, da 'santíssima trindade' dos Vingadores originais, Thor era o que tinha os filmes mais fracos). "Thor: Amor e Trovão" ratifica essa desnecessidade. O filme é uma galhofa sem graça do início ao fim, um retorno a forma tola com que os filmes de heróis eram vistos na década de 90 e início dos anos 2000. O roteiro é um amontoado de tolices, as sequências de ação genéricas, as piadas bobocas sem qualquer timing cômico. Christian Bale e Russell Crowe desperdiçados. Se há qualquer ponto positivo aqui é dar um desfecho relativamente digno à personagem de Natalie Portman (algo que nem era assim tão necessário). Uma completa bobagem.
Adeus, Minha Concubina
4.2 98"Adeus, Minha Concubina" é um melodrama clássico: um triângulo amoroso em um universo de mágoa, sofrimento e dor. Sentimentos estes decorrentes não só da dinâmica amorosa entre os personagens, mas também por conta de ser retratado durante a história da Revolução Cultural na China. Em teoria, muitas das decisões dramáticas do roteiro funcionam. Na prática, no entanto... O filme possui um começo promissor e uma guinada interessante no final, mas o seu segundo ato é morno e não tão envolvente, o que é prejudicado ainda pela duração excessiva do longa. O cineasta Kaige Chen parece indeciso entre duas coisas, desenvolver os conflitos principais dos protagonistas ou focar nas consequências do período histórico sobre aqueles indivíduos, e no fim deixa a desejar tanto em uma frente quanto na outra. As atuações, por sua vez, é o que compensam a falta de ritmo, em especial o ciúmes frio como uma lâmina do olhar de Leslie Cheung, e a determinação imperativa de Gong Li. Em termos de produção técnica, é irrepreensível. No todo, "Adeus, Minha Concubina" está bem longe de ser uma experiência negativa, mas poderia ser um filme menos inchado.
O Tempo do Lobo
3.6 71"Homo homini lupus". O homem é o lobo do homem. O brocardo latino popularizado pelo pensador Thomas Hobbes ao tentar intuir o inicio da convivência em sociedade, busca ilustrar como seria o homem em seu Estado de Natureza: cruel, egoísta, e capaz de tudo pela sua própria sobrevivência. Sem uma comunidade com regras que lhes dêem direitos, mas também os limitem, os seres humanos sozinhos acabam sendo o vetor de sua própria destruição. As intenções de Haneke de explorar os conceitos hobbesianos em "O Tempo do Lobo" são evidentes, afinal, este é literalmente o filme apocalíptico de um cineasta pessimista e niilista por natureza. É uma pena, no entanto, que a excessiva fluidez da trama e os personagens meio rasos não permitam uma maior empatia que nos leve a nos importar com eles. Diferente de "Funny Games", onde os personagens também são meros arquétipos, mas isso não impede a nossa identificação, em "O Tempo do Lobo" tudo soa meio superficial, com um escopo relativamente amplo porém sem profundidade. É um filme ambicioso, mas que fica muita aquém de suas pretensões. Curiosamente, pelo menos até aqui, Haneke tinha sido mais eficiente ao registrar a selvageria do homem dentro de uma sala de estar, do que no meio de uma floresta sem lei.
Código Desconhecido
3.7 79 Assista AgoraEstrelado por Juliette Binoche, "Código Desconhecido" segue uma estrutura semelhante à "71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso": várias histórias paralelas com seus dramas cotidianos sendo alternados com os cortes bruscos de Michael Haneke. Tematicamente, por sua vez, o filme viria a dialogar melhor com outro longa que o cineasta viria a fazer futuramente, "Caché" (curiosamente, também com Juliette Binoche), já que aqui o cineasta também dá espaço para a observação política da sociedade, a divisão de classes, a questão da imigração dentro da Europa, o preconceito étnico institucional e o horror subjacente na sociedade advinda dessas questões. Contudo, diferente de outros filmes do cineasta que intrigam pela sua assinatura peculiar, porém sólida, aqui falta coesão no todo, o filme perde consistência a medida que as histórias vão evoluindo e se afastando uma das outras, e o interesse narrativo acaba perdendo força. Cinematograficamente por outro lado, Michael Haneke atesta ser um exímio diretor na forma sempre fria com que cria seus enquadramentos e brinca sem pudores com a metalinguagem do audiovisual, fazendo do filme a ser filmado o próprio filme. Ainda assim, um Haneke menor e menos estimulante.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura
3.5 1,2K Assista AgoraApesar do título que mais parece uma chamada do narrador da Sessão da Tarde, "Doutor Estranho no Multiverso da Loucura" até funciona dentro do padrão Marvel de fazer obras de entretenimento vazias apelando apenas para o puro escapismo. Não se destaca exatamente para muito além dos fan services e, sim, é mais do mesmo. Mas funciona como passatempo inofensivo e distrai suficientemente por duas horas dentro do gênero desgastado de super-herói. Talvez a maior surpresa seja o fato da antagonista convencer e funcionar melhor como ameaça do que muitos outros vilões dos filmes do MCU (ou, talvez até não seja tão surpreendente assim, considerando que a franquia teve vários filmes e uma série para desenvolvê-la, ao contrário de outros vilões que vieram do nada e foram para o lugar nenhum). Uma pena, entretanto, o desfecho de toda a sua fúria ser sub-aproveitado em uma cena piegas constrangedora. Por outro lado, é bom ver que a Marvel deu um pouco de espaço para Sam Raimi poder explorar seu gosto por sequências trash mórbidas, ainda que predomine o tom 'Marvel' durante toda a narrativa. Claro, também tem seu humor questionável e vários furos de roteiro, mas, no geral, os pontos negativos não me incomodaram tanto dessa vez para eu considerar dar uma nota negativa.
Maria Antonieta
3.7 1,3K Assista AgoraSe você esperava algo próximo de um realismo histórico, lamento informar mas a intenção de Sofia Coppola não passa nem perto disso. A sua versão da vida de "Maria Antonieta" busca olhar para a trajetória da estadista sob outro ponto de vista, quase o da justificativa. Basicamente o que a cineasta deseja é mostrar como a protagonista era apenas uma adolescente mimada, rica e entediada, completamente despreparada para a posição e o cargo em que foi colocada. Mantendo o espectador durante o filme inteiro dentro da 'bolha da realeza', Sofia esvazia o filme de qualquer carga política. O que vemos, em uma narrativa meio fragmentada, é apenas a rainha da França indo de festa em festa para fugir da rotina massacrante das obrigações da Corte. Se há alguma crítica aqui, é apenas sobre a frugalidade, seja da protagonista, seja do próprio sistema no qual ela estava inserida. Uma pintura do 'descontentamento através dos excessos'. Mas tudo soa meio blasé, meio hipócrita. Milhares de pessoas passando fome na França daquele período, mas o roteiro de Sofia prefere focar nas depressões de uma pobre menina rica. Enfim, prioridades. Por outro lado, a fotografia e o figurino realmente chamam atenção, enquanto que o all star... bem, é apenas uma curiosidade boba que usaram para ajudar a vender o filme.
Piaf - Um Hino ao Amor
4.3 1,1K Assista AgoraA vida e obra da cantora francesa Edith Piaf sintetizada nesse longa-metragem dirigido por Olivier Dahan. Em estrutura, "Piaf - Um Hino ao Amor" talvez não fuja tanto aos clichês das demais biografias cinematográficas de artistas, com o famoso arco ascensão-queda-superação. Com o diferencial de que, no que tange à Edith Piaf, a "queda" não parece se resumir a um único evento-chave que gerará a catarse ao final do longa, mas sim a uma série de conflitos que a protagonista teve de passar durante toda a sua vida, desde a infância até a sua morte relativamente prematura. Parece que nada nunca foi fácil para
Edith Piaf, e o filme faz questão de mostrar isso, o que traz um ar um pouco mais naturalista à obra e menos engessado. A sofisticada direção de Dahan também impede que o filme soe episódico, conseguindo amarrar bem as diversas etapas da vida da personagem de uma forma orgânica e cuidando para não pender para o melodrama exagerado. E a entrega da atuação de Marion Cotillard - diva - é sim digna de prêmios. Tenho minhas reservas quanto a algumas escolhas envolvendo a maquiagem, mas no geral "Piaf - Um Hino ao Amor" é uma ótima cinebiografia de uma das artistas mais referentes do meio musical mundial.
A Fita Branca
4.0 756 Assista AgoraO Mal em gestação prestes a se tornar carne. "A Fita Branca" é um microcosmo que representa a Europa poucos meses antes de começar a Primeira Guerra Mundial. Por trás da paisagem pitoresca de uma aldeia protestante predominantemente agrícola, temos o ódio e a frieza representada na fotografia preto-e-branca, que parece manter os seus personagens na sombra, mesmo quando todo o ambiente parece saturar de iluminação. Nessa fábula histórica triste, temos o pastor - a Igreja - que ensina e disciplina seus filhos com violência e terror. A insatisfação perante a diferença de classes e a semente de sua revolta germinando, representada pelos filhos rancorosos de um camponês sem expectativas. O abuso do poder patriarcal sobre a prole do sexo feminino, feita de forma quase escancarada e revoltante. E, no meio de todos eles, está escondido um possível psicopata em formação, apenas estendendo em termos práticos todo o horror que gira ao seu redor. Mas o mais assustador mesmo de "A Fita Branca" não são os ataques de violência, mas sim o poder da negação. A arrogância em não reconhecer o mal enraizado dentro da sua própria sala de estar, vindo de seu próprio sangue. A insistência na crença equivocada de que existe uma diferença entre 'nós' e 'eles', dividido pelo o que seria o mito das 'pessoas de bem'. Reações aberrantes e insensatas que só ajudam a perpetuar o horror instalado, e que, não a toa, serviriam como base de justificativa para atos de genocídio quase vinte e poucos anos depois. A bola de neve do mal.
Livre
3.8 1,2K Assista Agora'Road movies' são filmes em que, via de regra, o importante não é o ponto de chegada, mas sim todas as experiências e o aprendizado que a jornada proporciona. Por definição, acaba sendo um dos melhores gêneros para se construir analogias com o próprio conceito da 'Vida', já que nós, todos nós, estamos numa longa trilha que já sabemos onde vai parar, mas o que realmente importa é o que faremos no caminho. "Livre", com Reese Whiterspoon (possivelmente o melhor filme da carreira da atriz), é uma jornada de auto-descoberta e auto-aceitação, de enfrentar e superar os medos, não só os representados pela natureza, mas também aqueles que ela possui dela mesma. É uma luta selvagem contra um monstro interno chamado 'Eu'. É um longa sobre enfrentar a depressão e encontrar, enfim, um caminho em meio ao deserto que lhe permita continuar seguindo, trazendo na bagagem todos os aspectos pesados de culpa e remorso, na esperança que algo no meio do caminho ajude a torná-los mais leves de carregar. "Wild", no título original, é um filme sensível e profundo. Subestimado talvez pela sua narrativa contemplativa e abstrata. Mas um filme que evidencia de forma tão poética que viver é o mesmo que ter coragem para uma árdua caminhada que nos destrói fisicamente, mas que nos recompensa espiritualmente, não poderia ter sido feito de outra forma.
007 Contra Spectre
3.3 1,0K Assista AgoraElegante, "007 contra Spectre" é o ponto culminante que reúne os três filmes anteriores da franquia, resgatando a mesma ideia - e, obviamente, o principal vilão - da fase Connery (e antes que me acusem de spoiler, convenhamos, o título do filme é 'Spectre'). Em termos de ação, nada a deixa desejar aos demais filmes da fase Craig, com sequências bem filmadas e intensas. Já o roteiro funciona relativamente bem para os padrões, até começar a dar umas escorregadas ao tentar sugerir um passado completamente descartável para o antagonista. Este, por sua vez, é interpretado por Christoph Waltz com o requinte e a elegância costumeira, mas nem de perto lembra a força imagética da caracterização de Donald Pleasance em "Com 007 Só Se Vive Duas Vezes". Por sua vez, enquanto a participação de Monica Bellucci soa apática e frustrante, Léa Seydoux é a 'bondgirl' da vez, e desempenha bem o seu papel. A dinâmica entre ela e Craig é boa a ponto de eu pensar que o roteiro tentaria repetir o equivocado desfecho de "007 A Serviço Secreto de Sua Majestade". Felizmente, não foi o caso. Já Craig continua bem, embora algumas rugas evidenciem o aproximar da hora de ele aposentar a Walther PPK/E
Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato
3.6 59 Assista AgoraDos 4 filmes envolvendo a tripulação da Next Generation, "Jornada nas Estrelas - Primeiro Contato" talvez seja o mais respeitado. De fato, a trama é boa, o roteiro funciona, mesmo que para isso o filme precise quebrar alguns paradigmas estabelecidos pela série de TV - como a personalidade do capitão Picard, que se torna muito mais 'intolerante' nesse longa (ainda que justificado pelas circunstâncias) ou até mesmo o próprio conceito da raça alienígena Borg como uma coletividade totalmente desfeita de individualismos. A ideia de viagem no tempo não é original - já foi usada no quarto filme - mas aqui serve como muleta do roteiro para poder tapar alguns buracos. E, por fim, os efeitos especiais são muito bons para a época, sendo a cena da batalha do lado de fora da Enterprise bem diferente e criativa. Como agrado aos fãs não só das séries principais mas também das derivadas, o filme encontra tempo ainda de fazer referências à Deep Space Nine (a nave Defiant, comandada pelo personagem Worf no início da trama) e à Voyager (o holograma médico que aparece em uma rápida, mas simpática pontinha).
Evita
3.2 250 Assista AgoraÉ uma Argentina estranha, com uma Buenos Aires criada em estúdio e argentinos que falam cantando em inglês. A direção de Alan Parker tenta recriar o musical da Broadway, mas com uma sensação de artificialidade que afasta o espectador. Ainda, a trama inevitavelmente política pode se tornar árida para o público que está fora do nicho alvo do filme, enquanto que seus momentos pontuais de melodrama soam bem forjados. E se "Evita" não desaba de vez, é apenas pela dedicação do seu elenco em tentar entregar algo com um mínimo de qualidade. Surpreendentemente, ainda que não seja uma grande atriz, Madonna consegue demonstrar a força, a presença e o carisma necessário para viver a protagonista. E mesmo Antonio Banderas não compromete, em um personagem que é uma espécie de 'narrador opinativo atemporal' da vida de Evita. Já algumas músicas são realmente boas e cumprem bem a sua função. Logo, o filme não é um desastre completo, mas, no geral, a sensação que fica é que o longa está bastante aquém do épico que ele poderia ter sido sobre a personagem.
Três é Demais
3.8 274 Assista AgoraSegundo longa-metragem dirigido pelo Wes Anderson, é interessante notar que já aqui o cineasta exibia interesse por personagens esquisitinhos e melancólicos, e um estilo de filmar bastante característico - ainda que esteja bem longe do radicalismo estético que os seus filmes se tornariam com o passar dos anos (e, cá entre nós, é um alívio ver um filme dele um pouco mais 'normal'). Como trama, entretanto, "Rushmore" não convence muito. O triângulo amoroso que se forma - entregado sem cerimônia alguma pelo péssimo título em português - não possui química em nenhum de seus vértices e seu protagonista é um adolescente arrogante, chorão e antipático com o qual não nos importamos. Como um todo, "Rushmore" é uma obra de Wes Anderson bastante crua, mas já com todos os ingredientes que o tornariam facilmente reconhecível no futuro.
O Grande Hotel Budapeste
4.2 3,0KChegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme em 2015 e, provavelmente, foi o mais perto que Wes Anderson chegou de ganhar o prêmio máximo da Academia. De fato, "O Grande Hotel Budapeste" pode ser considerado, narrativamente, como o filme mais diferente do cineasta. Fugindo da estrutura típica de seus outros trabalhos - a família disfuncional que precisa se unir, elemento facilmente verificável em "Os Excêntricos Tenembauns", "O Fantástico Sr. Raposo", "A Vida Marinha de Steve Zissou" e "Viagem a Darjeeling" - aqui o cineasta arrisca uma traminha quase 'policialesca' com algumas considerações políticas e momentos 'a la 007'. Funciona, e quase convence com seu humor ácido e particularmente cruel, se não fosse pelo fato da trama se tornar facilmente esquecível depois de alguns dias. No mais, participações especiais de grandes nomes do cinema em ceninhas de microssegundos, e uma predominância exagerada da forma sob a essência, características comuns na assinatura do diretor.
O Predador: A Caçada
3.6 663O diferencial de "O Predador - A Caçada", de 2022, é a ideia - bem desenvolvida, por sinal - de ambientar a trama em um período histórico diferente, a partir de um ponto de vista de uma cultura tecnologicamente limitada. Isso aumenta consideravelmente não só a ameaça representada pelo antagonista, mas também a astúcia necessária, a coragem e o heroísmo da personagem principal, muito bem interpretada por Amber Midthunder. Esteticamente falando é o filme mais caprichado da série, ou, ao menos, o único em que o diretor por trás das câmeras parece interessado em fazer algo que também seja visualmente atraente. Consegue prender a atenção pela personalidade empática de sua protagonista e pelo contexto criativo, o que é mais do que eu posso dizer sobre vários outros filmes dessa franquia genérica.
O Predador
2.5 649Bem, não é tão ruim quanto a recepção pública indicou na época do seu lançamento. Mas tampouco é bom. É apenas... descartável e esquecível. Uma trama genérica, personagens desinteressantes, um final que vai de mal a pior. A ideia do predador gigante é legal pra caramba, mas seu potencial simplesmente não é explorado. O senso de humor de Shane Black soa destoante e ação burocrática dá sono. Confesso que sempre achei o personagem 'predador' um pouco superestimado, mas nesse filme eles sequer se dão ao trabalho de tentar justificar o porquê do seu sucesso.
O Natal Encantado da Bela e a Fera
3.4 71 Assista AgoraVale apenas pela oportunidade de ver os mesmos personagens da animação clássica em um outro contexto. O roteiro, por sua vez, é ordinariamente bobo, típico para um especial de natal televisivo. A motivação do vilão é medíocre e difícil de engolir. E, de novo, os problemas morais que ajudaram a datar o original se repetem aqui também, reforçando "A Bela e a Fera" como um dos sucessos comerciais mais questionáveis e superestimado da Disney. As músicas? Esquecíveis.
As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo
3.5 51 Assista AgoraÉ estranho pensar que a Disney tem a sua própria versão de "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça". E mais surpreendente ainda notar que ela não poupou as crianças do aspecto sombrio e o aterrorizante do conto. Por sua vez, a releitura de "O Vento nos Salgueiros" é bonitinha, mas parece fazer parte de outro filme. É esquisita a escolha de dois clássicos da literatura tão díspares em temática e essência para compartilharem a mesma obra cinematográfica. Para o bem, ou para o mal, "As Aventuras de Ichabod e Sr. Sapo" merece a conferida, nem que seja pela singularidade de sua natureza dentro do conjunto ao qual está inserido.
Tempo de Melodia
3.4 24 Assista Agora"Tempo de Melodia" tenta ser uma espécie de "Fantasia" só que bem menos ambicioso. São sete segmentos, todos eles acompanhados de sua partitura musical, mas todos eles bem fraquinhos. Os menos piores são aquele do casal no lago congelado e o do pequeno barquinho rebocador - que, de certa forma, me remeteu aquele outro curta do "Alô, Amigos" sobre o aviãozinho nos Andes. Mas, de qualquer forma, nenhuma das historinhas consegue envolver suficientemente, e nem mesmo o flerte do Pato Donald e do Zé Carioca com o samba - outra ideia já reciclada dos filmes anteriores da Disney - consegue mais ser atrativa aos olhos locais.
Como é Bom se Divertir
3.4 41 Assista AgoraO ano era 1947, o mundo havia acabado de sair da Segunda Guerra Mundial, e Walt Disney, pretendendo deliberadamente fazer uma obra escapista para fazer crianças e adultos se esquecerem dos tormentos dos anos anteriores, lança "Como é Bom se Divertir". Pena que o filme não é tão divertido como sugere o título. Na verdade, a animação envelheceu bem mal, seja na historinha do ursinho que ensina às crianças a dar 'tabefes' na pessoa amada, seja nas esquetes das marionetes bizarras que são tudo, menos encantadoras. O ponto alto do filme é o segmento de 'João e o Pé de Feijão' estrelado por Mickey, Pateta e Pato Donald, e é apenas por ele que o filme não se torna um desastre completo.
Risco Total
3.1 140 Assista AgoraMistura de filme de ação com filme de alpinismo, e estrelado por Silvester Stallone, "Risco Total" tem, na figura de seu astro, o seu único ponto de carisma. A trama envolvendo um assalto mirabolante e a queda do avião nas montanhas é meio mal contada, meio qualquer coisa. Mero 'McGuphin' para que o nosso herói possa exibir seus talentos de 'action figure' em um ambiente um pouco mais original e diferente como o do montanhismo. A propósito, apesar de se passar em boa parte ao ar livre e se presumir uma iluminação natural, a fotografia desse filme dirigido por Renny Harlin soa estranhamente apagada e sem brilho quase todo o tempo. Cru, genérico, e sem qualquer interesse no refinamento estético ou narrativo, o longa é um típico 'filme de porradaria de tiozão'. A alguns anos houve um papo de uma possível refilmagem com Jason Momoa, no papel que era de Stallone, mas não deu em nada.
Inimigo Meu
3.8 269 Assista Agora"Inimigo Meu" talvez seja um dos poucos filmes hollywoodianos em que um personagem americano aprende a respeitar e a demonstrar sincero interesse por outra cultura. Mesmo que essa cultura seja, na verdade, alienígena, e que tal interesse tenha decorrido, na verdade, por força das situações. Ainda assim, as intenções do filme são boas, em que pese o roteiro abordar a amizade entre os protagonistas com uma nota de otimismo ingênuo que soa meio infantil. Wolfgang Peterson mostra segurança em dirigir um filme que foge ao gênero que está habitualmente acostumado, enquanto que a direção de arte e a maquiagem remetem aquelas matinês sci-fi da década de 60. Competente, mas não instiga muitas revisitadas.
Falsa Loura
2.9 139Estrelado por Rosanne Mulholland - sim, a 'professora Helena de Carrossel' - e dirigido por Carlos Reichenbach, "Falsa Loura" tenta ser um 'conto de fadas' às avessas, em que o reino feliz e o príncipe encantado são trocados pelo chão de fábrica e a objetificação sexual. O filme tem um ponto e poderia ter funcionado, se não fosse o fato do roteiro não saber para onde ir, suas situações serem pouco envolventes, a maioria das atuações serem ruins e sua protagonista ser extremamente antipática. O longa-metragem não consegue ter carisma suficiente para prender o interesse, e seus 100 minutos soam muito mais longos do que de fato são. Para completar, a direção de Reichenbach - um cineasta brasileiro cheio de 'altos' e 'baixos' - se encontra pessimamente inspirada, lembrando em alguns momentos a direção de um comercial de TV. Mulholland bem que poderia ter seguido o exemplo de Xuxa e ter pedido para o filme ser cancelado do mercado. Talvez fosse um bem para a sociedade em geral.