Um menino sai para explorar o mundo e descobre que ele é absolutamente aterrorizante.
Alê conduz seu filme com traços simples, mas extremamente criativos ao expressar, sem uma palavra sequer, alguns assuntos bem pesados envolvendo Militarismo (que tocam uma sinfonia negra, com instrumentos que parecem armas, expondo uma ideia de repressão), exploração da mão de obra humana (com enfoque na colheita de algodão para fábricas de tecido), padronização das desigualdades sociais, e os ciclos exaustivos do Capitalismo Industrial.
Aqui mostrados em personagens que trabalham o dia todo, voltam para casa em transportes lentos, sobem escadas intermináveis das comunidades/favelas/morros (e nem chegam ao topo, dominado pelos ricos), comem comidas enlatadas e dormem sendo bombardeados por publicidades que reforçam a continuação dos mesmos ciclos.
Tudo isso se diferindo num olhar inocente da criança que se perde de seus pais só para saber que estava perdido em si e num mundo selvagem, apodrecido e cheio de mazelas encobertas com tecnologias quase alienígenas e supostas inovações.
Ele só se lembra dos seus pais, de si e das coisas boas do passado quando ouve uma animada melodia de pessoas num desfile de um carnaval colorido e quase onírico, que se destacam numa paisagem tão unicolor e desgostosa.
Johnny Depp pareceu aqui, como Ichabod Crane, quase um Timothée Chalamet versão gótica kkkk Taí meu filme para comemorar o Halloween. 💀🗡🎃 Com tudo que o Burton tem a oferecer: uma boa fotografia escurecida (Emmanuel Lubezki ❤, que recebeu indicação ao Oscar por esse filme), um bom figurino (também indicado ao Oscar), uma direção de arte vencedora do Oscar em 2000, sangue falso, toques de fantasia, muitas cabeças rolando, e um clima sombrio e um pouco cômico perfeito para uma noite chuvosa. Pena que não está chovendo por aqui. Mas valeu mesmo assim.
O roteiro não é nada tão surpreendente, e tem várias facilitações, mas o carisma de Dylan O'Brien (enfrentando um amor inocente demais e problemas monstruosos) segura as pontas com ótimos efeitos visuais e práticos.
É definitivamente divertido, uma aventura legal de se acompanhar com uma trama até bem interessante:
Quando um asteroide (Agatha 616) vem em direção à Terra, centenas de mísseis são mandados pra destruí-lo, mas a radiação e os produtos químicos expelidos pelos mesmos acaba caindo na Terra, alterando o DNA dos anfíbios, insetos e demais animais de sangue frio. Estes acabam crescendo e virando os monstros do título, acabando com 95% da população mundial e forçando os restantes a se esconder em bunkers e colônias subterrâneas, como as antigas formigas e cupins que agora dominam a cadeia alimentar.
Garoto, o cachorro, é o melhor personagem disparado, mas Clyde (Michael Rooker, saudoso Yondu), Minnow (Ariana Greenblatt) e Aimee (Jessica Henwick), apesar de aparecerem pouco, também dão sua contribuição.
No fim, o filme até pincela a importância da consciência ecológica. E espero que a Sessão da Tarde exiba esse filme em alguns anos. Certamente irei assistir. Ainda mais com um final que até indica uma possível sequência.
"Bons instintos são obtidos cometendo erros. Se você tiver a sorte de sobreviver a alguns deles, se sairá bem aqui fora."
Um bom suspense de home-invasion, é curto, direto, e baseado numa ameaça (John Gallagher Jr.) que ronda sua casa, mata seus amigos e está constantemente à beira de te assassinar.
Kate Siegel está bem como Maddie, uma escritora surda e muda que vive sozinha, é fã de Stephen King (Mr. Mercedes ❤), e que está tentando escolher o final de seu segundo livro, ao passo que, quando o assassino inicia sua noite de perseguição, tem de achar um jeito de reescrever o seu próprio final que parecia, em diversas possibilidades, ser a morte certa.
Gosto que ela, sendo escritora, e relevando o máximo que dá as limitações e problemas que sofre ao longo dos 81 minutos do filme (como o corte de energia e um flechada na coxa), consegue ser mais racional, não ficando parada esperando pela morte. Ela pensa, repensa, reflete sobre as possíveis rotas de escape e de ação contra seu inimigo. Tenta fugir, falha, é machucada, espancada e, no fim, consegue seu êxito com alarmes de incêndio, inseticidas e abridores de vinho; um uso criativo das "Arma de Chekhov" mostradas anteriormente.
A personagem principal ser deficiente auditiva até que aumenta a tensão em certas cenas que envolvem barulho, mas acho que o artifício poderia ter sido melhor utilizado para construir suspense, mais do que apenas sons e batidas abafadas ao fundo.
Enfim, o filme não tem compromisso em mostrar o antes (o que a fez decidir morar num lugar isolado, ou seu relacionamento com sua família e ex-namorado, Craig), tampouco o que veio depois. Se encerra justamente quando a ameaça acaba. E, sendo isolado, é um filme que prende e tem um desfecho satisfatório, mesmo capengando em energia com cenas bem conduzidas e atuadas, mas repetidas e talvez um pouco escuras demais.
Não preciso dizer nada quanto à importância e influência que esse filme teve e continua tendo para mostrar ao mundo o cinema nacional, a partir do movimento chamado "Cinema Novo".
Todas as dualidades entre temática, técnicas e personagens são tratadas aqui de maneira bem interessante por Glauber. Seja do real ao teatral, da música clássica à cantada com um violão, da miséria à clemência, ou da violência do cangaço à salvação profetizada, o Inferno, o Purgatório e o Paraíso são os homens, com suas ganâncias, mazelas morais e escolhas que fazem.
"A Terra é do homem, não é de Deus nem do Diabo.", canta Sérgio Ricardo, enquanto os personagens são mortos, tropeçam ou fogem através das áridas paisagens do sertão. Até serem tomados por imagens do mar tão prometido, o "Paraíso" ao qual foi tão penoso, sofrido e sangrento de se chegar.
Enfim, se Bong Joon-ho disse que esse filme jamais saiu de sua cabeça, quem sou eu para discordar? Vou só deixar 3 frases fodas dessa obra tão percursora:
- "O homem nessa terra só tem validade quando pega nas armas para mudar o destino. Não é com rosário, não, Satanás, é no rifle e no punhal." - "Vamo deixar o fogo do inferno queimar de uma vez toda essa República da disgraça!" - "Mais fortes são os poderes do povo!"
Salles compõe seu filme a partir de repetições, de vícios, de ciclos de violência, num sertão em que as disputas entre famílias por terra e pela "honra" servem de subterfúgio para mortes, para a perpetuação do "olho por olho".
"Meu pai disse que é olho por olho. O olho de um pelo olho do outro... E, em terra de cego, quem tem um olho só todo mundo acha que é doido.", Pacu fala logo no começo do filme . É nisso que a rixa se baseia, em vinganças que já tiraram muitas vidas de ambos os lados, sendo a mais recente a do irmão de Pacu (Ravi Ramos Lacerda) e Tonho (Rodrigo Santoro).
"Tu só tem direito de cobrar o sangue que tu perdeu. Foi assim com meu pai e meu avó, e será assim até a minha morte.", reitera "Velho Cego" (Everaldo Pontes).
A direção firme e vasta de Salles usa de vários símbolos visuais para reforçar as ideias que permeiam o roteiro coescrito por Karim Aïnouz e Sérgio Machado. Como as diversas cenas da moagem de cana-de-açúcar, movida por bois que giram em círculos, gerando um melaço respingado nas engrenagens, que acaba virando rapadura. Representando os personagens que continuam, sem pensar, nos mesmos pensamentos e ações que mataram seus parentes ("Nessa casa, é os morto que comanda os vivos").
"A gente é que nem os bois: roda, roda e nunca sai do lugar.", Pacu pontua.
Noutro simbolismo, temos que o restante da inocência ou a fonte desta para os irmãos é um balanço, em que eles "voam" aos céus". Um céu azul que reflete o que o sertão antes era: um mar. Reforçado pelos sonhos do mais novo sobre as águas, os peixes e sobre a "sereia" (Flávia Marco Antônio), que encanta a ambos e que encarna a possibilidade de rompimento com essa vida para o mais velho.
Mas, quando a corda do balanço se parte, já era tarde demais...
Entre perseguições através dos galhos cortantes da Caatinga que termina em uma morte, entre tréguas de lua cheia, camisas com sangues amarelados e vinganças, há terras secas e homens duros demais. Não há tempo para paixões, circos, livros ou histórias, e nem a chuva pode amolecer seus corações. Mas, se a água da chuva não pôde, enfim, quebrar este ciclo,
o sangue inocente de um menino o fez. Levando Tonho por outro caminho, indo ao mar, numa linda cena final.
"Um dia, a sereia veio buscar o menino para viver mais ela no mar. No mar, ninguém morria e tinha lugar para todo mundo. No mar, eles viviam tão feliz, mais tão feliz, que não podiam parar de dar risada..."
Caramba, bicho. O que foi que assisti aqui??? Vamos lá tentar desenvolver um pouco. Seria esse filme uma representação da ilusão do sucesso e da fama (representada inicialmente por Naomi Watts, antes bem inocente e quase superficial) x a realidade por trás disso (representada por Laura Harring, perdida, sem saber mais quem é)? Deixemos marinar. Mas gosto como a trilha sonora de Angelo Badalamenti é bem variada: vai de misteriosa, a sexy, a tocante e a quase épica; por vezes é desconexa com as cenas, e sempre tem um subtom onírico, disperso, o que evolve toda a atmosfera que Lynch cria perfeitamente com seu roteiro e suas figuras. Uma figura encapuzada quase demoníaca num canto da cidade, iluminada numa luz vermelho-sangue; uma figura com chapéu e roupa de caubói numa espécie de rancho afastado, onde uma lâmpada vive piscando; uma figura de cadeira de rodas que fala pouco, aparentemente tem muito poder e só é visto de longe, atrás de vidros, em reflexos... A montagem é por vezes complexa, por vezes confusa, mas sempre intrigante. Há lindas e rápidas transições com sobreposições. O diretor usa muito de luzes e visões desfocadas, câmeras na mão e instáveis, "mergulhos no escuro" e shots que tremem para ditar uma narrativa e ritmo únicos para o seu longa. Há o aparecimento recorrente de uma chave azul, que abre uma caixa azul. Extrapolo que possa ser uma espécie da "Caixa de Pandora", em que a esperança já não mais habita, para onde os males retornaram ainda mais fortes e reais, e onde a(s) personagem(ns) de Watts habitam. Seus olhos azuis cheios de ódio, amor ou lágrimas, as paredes azuis desbotadas de sua casa, o desespero palpável e atormentado, os relâmpagos azuis que a atingem feito tiros, a fumaça, um "limbo" (citado anteriormente), o "outro lado", um palco vazio e, finalmente, o "Silêncio"... Falando nele, as cenas no "Teatro Silencio", especialmente quando "La Llorona de LA" canta são fantásticas. E a do "Camilla! You came back!"? Putz, cara, Watts perfeita demais. E nem indicada ao Oscar foi... De resto, vou precisar de uns dias para refletir mais, e volto quando Deus ou Lynch permitir. Fiz essa colagem para louvar o trabalho maravilhoso que Peter Deming fez com a cinematografia, e que pode representar as "etapas" que percebi do filme: "O Sonho", "O Pesadelo", "O Despertar.". Não sei, mas achei os "títulos" apropriados.
Ah, minha pequena dançarina... Tudo está realmente acontecendo na mente de Penny Lane na cena da imagem. Kate Hudson encarna uma personagem que engloba em si toda a atmosfera e sentimento dos anos 70: ela é livre, ela brilha, ela usa um casaco verde no verão, ela dá um ar caseiro a um quarto de hotel, ela sabe todas as letras das músicas, especialmente as ruins, ela é a maior fã, confidente de todos, mas nunca revela seu verdadeiro nome, ela guarda para si suas tristezas, ela dança sozinha, ela se decepciona, chora e recomeça ao colocar em prática os seus sonhos de viagens... "Ela traz à tona o melhor de todos, mas quem está lá para ela?", diz Polexia (Anna Paquin) No mais, temos aqui um filme essencialmente autobiográfico de Cameron Crowe, que pega o mito dos anos 70 e o desconstrói ao mesmo tempo que desenvolve uma jornada de amadurecimento e autoconhecimento de seus personagens, em especial seu jovem protagonista: William Miller (Patrick Fugit). Filho de Elaine Miller, uma professora universitária cheia de fibra, intensa, extremamente controladora e sufocante, mas amorosa e sempre sábia ("Seja ousado e forças poderosas virão em seu auxílio."). Ela é interpretada por Frances McDormand, que aparece pouco, mas que domina cada um dos seus segundos. William é um jovem promissor que é incumbido de escrever uma matéria sobre a banda de rock Stillwater, liderada por Russel Hammond (Billy Crudup), que tem um caso com Penny, e que acaba desenvolvendo uma amizade com Miller. A qual, nos momentos sóbrios e sinceros, rendem frases e diálogos que ditam bem que, na década do "Paz e Amor", nem tudo eram flores, raios de sol e música da "Indústria do Cool". "Alguns fatos são reservados somente a poucas pessoas, e não para um milhão. Cresci com esses caras, mas já os ultrapassei como músico. À medida em que nossa fama cresce, crescem as responsabilidades e pressões.", diz Russel, num tom um pouco egoísta e que serve muito para a construção de seu personagem. Há uma linha tênue entre o êxtase ("Sou um deus dourado!"), a euforia, o sucesso, e o desânimo, o cansaço, a frustração pessoal, uma mente e um corpo dopados não só em drogas químicas, mas em um sentimento de não-prazer ("Eu costumava ouvir todos os sons do mundo, e eles eram música..."), de estagnação do talento. "Quanto mais tempo se passa, mais você se esquece do que é ser fã, do que é ouvir as bandas.", e "Eles nem sequer sabem o que é ser um fã. Entende? O que é amar verdadeiramente algum idiota da música, ou alguma canção boba, o tanto que dói." são frases que dialogam diretamente com a vida de Penny. Enfim, mesmo dispersamente, daria para falar muito mais (pois, pelo visto, eu assisti à versão estendida). Mas só queria pontuar que a cena em que todos cantam Tiny Dancer do Elton John no ônibus, e a cena em que atravessam uma tempestade elétrica no avião e começam a confessar todas as verdades finais há tanto reprimidas são maravilhosas e serviram como sessões de terapia num filme tão divertido, enérgico e totalmente franco com sua história.
Richard cria aqui um filme com trama e personagens bem complexos para seus pouco mais de 90 minutos. Temos, essencialmente, um grande trabalho de olhares no desenvolvimento suas personagens centrais: Barbara Covett (Judi Dench) e Sheba Hart (Cate Blanchett). Ambas entregando diversas camadas majestosamente. Durante todo o filme, domina a narração e a visão da personagem de Dench, que escreve num diário tudo o que ela pensa sobre a geração atual, sobre seus alunos, sobre seus “amigos” professores na escola e sobre seu trabalho. O roteiro e o trabalho magnífico de Dench, em sequências de somente olhares, narração e observação, ditam algumas das características dessa professora de História: ela é observadora, irônica, julgadora, ácida, sempre dada aos pré-conceitos e suposições, com um ar cheio de si, de superioridade pela sua “moral” e experiência. Mas as coisas começam a se revelar um pouco mais assim que Sheba, a nova professora de Artes chega na escola. Nesse momento, o foco é só nela, em suas roupas (“Elegantes, até o momento.”), em seu aparente descontrole dos alunos e inabilidade de ensino. Ela adiciona adjetivos como “inocente”, “transparente”, “um pêssego”, “uma noviça”, em contrapartida ao seus “experiente”, “fechada”, “velha e confiável”, “uma rocha”, “uma Madre Superiora”... A partir daí, começam comparações e correlações entre as duas, como partes opostas, mas que acabam se aproximando cada vez mais. Sendo o ponto de conexão o “escândalo” do título do filme: o relacionamento de Sheba com seu aluno de 15 anos, Steven (Andrew Simpson), flagrado por Barbara. É então que as coisas se complexam, pois as duas se tornam cúmplices, numa espécie de amizade indecente, de dependência. Enquanto Covett tem apenas uma gata para cuidar e um passado conturbado com certa “Jennifer (fato que assombra a personagem e que desenlaça sua camada principal), Sheba tem uma família “disfuncional”. Dois filhos, uma jovem garota (Polly, de Juno Temple) e um garoto com Síndrome de Down (Ben, de Max Lewis), e seu marido Richard (Bill Nighy), que era seu professor. Tudo está em risco depois que ela comete o crime, mas se exploram alguns pontos que a explicam melhor, mas que não justificam. O casamento dela parece distante, sua mãe só a coloca para baixo (“Ela é linda, graças a Deus. Mas não é como se tivesse conteúdo”), ela tem que lidar com sua família e seu objetivo: ser uma boa professora. Seus alunos não colaboram, não prestam atenção nas aulas, e ela se pega num momento de fragilidade, em que determinado aluno (Steven), começa a demonstrar um insistente interesse em aprender mais, em melhorar suas habilidades no desenho. Ele finge estar num momento “vulnerável” em casa, com mãe sua mãe “à beira da morte” e um pai absorto. Algo revelado como mentira: “Você queria uma história triste. Eu arranjei uma." O garoto, nada inocente, montou a armadilha na qual ela, que não era inocente também, caiu e se apaixonou. “Vai soar doentio, mas senti como se tivesse direito. Fui correta a minha vida toda. Fui uma esposa decente, mãe devotada, cuidei do Ben... Uma voz dentro de mim continuava a dizer: ‘Por que você não pode ser má?’, ‘Por que não quebrar as regras? Você ganhou o direito.’”, ela confessa. Nessa situação, Barbara a toma em suas mãos, e uma nuance a mais é adicionada: um jogo de poder e controle desta para com sua “melhor amiga”, inclusive quando precisa passar um tempo em sua casa: “A pressão é intensa quando duas mulheres compartilham suas vidas. Mas que intensidade maravilhosa...” É interessantíssimo ver como o roteiro de Patrick Marber adiciona, fluidamente, detalhes e mais detalhes em suas personagens. Você sabe que ambas estão erradas, mas entende o amargor e suas tentativas de “fuga” (cada uma do seu jeito enviesado). “Adolescentes são terríveis. Assim que ele se cansar de você, a jogará fora como um trapo. Você não é jovem!”, declara Barbara, como se mais para si do que para Sheba, pelo que sabemos depois do “relacionamento intenso” com a dita Jennifer. Uma cometeu um crime, a outra acobertou somente para dominá-la numa espécie de “paixão ilusória” que é quebrada e reatada constantemente; mas só em sua cabeça. Há segredos, cumplicidades deturpadas e ciúmes por todos os lados, nas vozes, nos olhares, nas páginas do diário... “Começou a parecer como um segredo, e segredos são sedutores.”, como Sheba diz anteriormente. Há um senso de ultraje, de antecipação, de peso e de ímpeto que são envoltos pela ótima trilha sonora de Phillip Glass. A solidão de Covett é palpável nos últimos minutos: “Gente como Sheba acha que sabe o que é ser solitária. Mas, daquela solidão em gotas que dura para sempre, não fazem ideia.” No fim, a vida segue seu curso, mas ela continua buscando o seu objetivo maior: “Eu não quero morrer sozinha.”
Nicolas Cage entrega aqui uma de suas boas performances. Como ele é um anjo que não pode ser visto (só se ele quiser), apenas sentido, boa parte do filme é baseada nos olhares (calmos, compreensivos e amorosos), na voz baixa e controlada e em movimentos delicados. Especialmente em relação à sua co-protagonista: Maggie Rice (Meg Ryan), uma médica que perde um paciente, ficando abalada e começa a se questionar sobre quais são as forças contra quem eles batalham no hospital e se o “salvamento” está mesmo nas mãos delas ou de “outra força maior”. O parceiro de Seth, Cassiel (Andre Braugher), em certa cena diz: “Anjos não são humanos. Nós nunca fomos humanos”, em resposta a um pedido de uma criança que morreu e que queria ganhar asas. Mas será mesmo? Usamos tão constantemente a palavra anjo para designar bebês e crianças (que conservam ainda a inocência e o amor puro), ou pessoas que se doam para ajuda outros, ou que trabalham diretamente com isso, que é interessante como o filme segue justamente essas duas “profissões” responsáveis por “salvar as pessoas dos perigos”: uma médica e um anjo, Que podem facilmente ser confundidos, exaltados e questionados quando uma vida se perde ou se salva. A atmosfera é envolta pelos pensamentos e ideias dos humanos ouvidos pelos anjos, aqui vestidos de preto, sem asas, quase como guardas, sempre avistados em pontos altos da cidade de Hollywood, em bibliotecas ou em locais abertos. Brad usa de muitas tomadas aéreas ou de personagens em primeiro plano com túneis, espaços amplos e prédios atrás ou ao seu redor. Gostei como o filme soube utilizar da bela trilha sonora de Gabriel Yared para construir os contrastes. Há o tema de Maggie (e dos humanos), mais animado, agitado e percussivo, e o tema de Seth (e dos anjos), mais etéreo, contemplativo. Quando há uma junção forte das duas peças, com um coro, você sabe que representa a transição do personagem do divino (ditado por Deus), para o terreno (dominado pelo livre arbítrio). Conceito que é apresentado por Nathaniel, personagem divertido de Dennis Franz: “Se Ele deu essa dádiva às pessoas, por que não daria para a gente?” A cena em que há essa passagem tem uma boa montagem e ressignifica o termo “cair”, “mergulhar de cabeça” para o personagem de Cage, que se tornou curioso pelos sentimentos e relações humanas (“Imagina como deve ser sentir o vento no rosto, ler um jornal, alimentar o cachorro, mentir descaradamente... Tocar o cabelo dela.”). Aqui é mostrado como “cair de amores por alguém”, “mergulhar do céu do intangível diretamente num céu desconhecido de sensações carnais e novas experiências”, que são bem passadas por Nicolas. Do sexo, ao banho, aos cheiros, às cores e dores e à comida, a química entre os atores é boa, diria operante em certos momentos, mas não me tirou do filme. A outra parte da trilha sonora, escrita por alguns artistas exclusivamente para o longa, exala os anos 90 com ótimas canções de Alanis Morissette e Iris. A música-tema de Sarah McLachlan em especial. O final não é dos mais sutis, e nem foge dos clichês, mas é tocante em certa medida. “Eu preferiria sentir o cheiro dos cabelos dela uma vez, dar um beijo na boca dela, tocar uma vez as mãos dela, do que passar a eternidade sem fazê-los. Apenas uma vez.”
Enquanto o primeiro filme soube encontrar o equilíbrio perfeito entre construção de tensão, de drama, de personagens humanos, interessantes, com uma atmosfera de urgência ininterrupta (tornando-se um dos melhores filmes do gênero), sua sequência não consegue fazer nenhuma dessas coisas bem. Entre uma espécie de “Need For Speed” pós-apocalíptico para crianças, “cachoeiras” de zumbis (que aqui parecem acrobatas de circos e são “cegos à noite" (???), uma paleta de cores laranja-fosca, e uma visão e audição sobre-humanas na cena final da doca, há um exagerado senso de melodrama narrativo. O longa é cheio de cenas forçadamente emotivas, em que os personagens correm, atiram, fogem, matam, se matam, são mortos e choram com uma trilha sonora super emocional e desconexa. É tudo tão brega que nem os atores conseguem chorar. Quer dizer, as crianças até que conseguem kkkk. Não há desenvolvimento de personagem aqui, e se há, é tão fraco que não dá nem valorizar. Desse modo, o elenco parece não encarnar ou acreditar no que falam ou fazem. O roteiro é cheio de diálogos didáticos e preguiçosos. Além disso, há tantas facilitações e incoerências que dá pena. A montagem é toda picotada, e as cenas de ação parecem de algum videogame de baixo orçamento de 2010. Os carros e os zumbis são massinhas de modelar cinzas nas cenas mais frenéticas. É tudo tão lamentável que nem o CGI presta. Resumindo, o enredo (se podemos chamar disso) mostra bem o que acontece quando se coloca americanos dando ordens e ditando o que os outros têm de fazer num filme sul-coreano: uma completa merda.
Boa comédia romântica sobre divórcio, os recomeços da vida da protagonista (seja sozinha ou acompanhada), tentativas no amor (seja dando outra chance ao antigo, ou tentando uma nova paixão), e sobre todos os resquícios de conexão (bons ou ruins) que ligam pessoas que se amavam, que formaram uma família e que acabaram decidindo pelo fim.
Meryl Streep e Alec Baldwin compartilham entre si uma química que funciona à medida em que o humor do filme consegue fluir e a "canastrice" de Baldwin permite. O que não acontece sempre aqui.
Entre jantares, conversas animadas, sexo, amor maternal, risadas com as amigas, receitas na cozinha e tragos de maconha na festa de formatura do filho, Meryl carrega o filme nas costas. É mais uma personagem divertida, falha, gostosinha de se acompanhar e essencialmente humana. Não é uma performance forte, mas que se encaixa perfeitamente no propósito do filme. Steve Martin está bem quando pode, apesar de soar deslocado ou não tão à vontade com o personagem, o que pesa na hora de torcermos para a formação do novo casal.
Ademais, o filme tem uma vibe legal, apesar do humor ser um pouco forçado em certos momentos. É um filme leve e simples, bem ao estilo Sessão da Tarde. Algumas boas risadas são garantidas ao longo de suas 2 horas (que soam um pouco longas demais). Especialmente pela contribuição de John Krasinski.
Raindrops keep falling on my head But that doesn't mean my eyes will soon be turning red Crying's not for me 'Cause I'm never gonna stop the rain by complaining Because I'm free Nothing's worrying me 🎼🎼
Só a música-tema do filme (que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original) já o transformaria num clássico automático, mas há mais elementos aqui que também colaboram com isso. É interessante como o filme é dividido em 3 partes bem claras: a primeira, em que a dupla Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford), junto com sua Gangue do Buraco na Parede, planejam roubos e assaltam trens, em repetição que desenvolve o carisma, a química e o humor entre os personagens. Depois, temos um interlúdio que introduz Etta Place (a linda Katharine Ross), professora e namorada de Kid, mas que se marca no filme numa cena engraçada e descontraída em que anda de bicicleta com Butch; enquanto toca o clássico de de B. J. Thomas, vencedor do Oscar de Melhor Canção Original. Na segunda parte, o filme foca em um trecho longo, mas nada moroso de perseguição ininterrupta. Aqui, Roy valoriza as distâncias entre as pradarias, espaços entre os montes desérticos, olhares nervosos e silêncios quebrados pelo barulho dos cascos dos cavalos para construir tensão. Funciona bem mais do que se tivesse alguma trilha sonora sobre as cenas. Acompanhamos a dupla tendo que fazer escolhas, bolar planos falhos para despistar os perseguidores (que nunca são mostrados de perto), e demonstrar suas fraquezas e habilidades enquanto dialogam sobre quem são aqueles que os perseguem, encaixando peças do passado para um bom desenvolvimento de personagens.
Até escaparem e viajarem para a Bolívia com Etta, numa espécie de interlúdio, com uma ótima montagem de fotos. Começando a terceira parte numa outra sequência, em que aprendem frases em espanhol para roubar bancos, jantam, riem e entram em novas perseguições que ditam uma mudança de atmosfera interessante, quase festiva e animada.
A cena em que eles leem as frases num papel enquanto pegam o dinheiro é hilária. Comicidade que logo é quebrada com o perigo constante e próximo dos xerifes e policiais; o que faz Etta ir embora. Eles sempre estão envoltos num desejo de se tornarem "honestos", "legais", mas, aonde quer que eles vão, acabam cedendo à adrenalina e diversão efêmeras que vêm com balas, moedas e fugas. A cena final, em que há um cerco, um tiroteio e um diálogo em que escolhem a Austrália como próximo destino, é muito bem atuada e dirigida.
Nós nunca os vemos morrer, só ouvimos os tiros e um frame congelado, que se torna a foto final de dois bons amigos enfrentando juntos o destino inescapável de suas ações de foras da lei.
Pô, Natalie, dois filmes ruins seguidos na carreira não dá kkkk É triste ver um elenco formado por Natalie Portman, Ellen Burstyn, Jon Hamm, Zazie Beetz e Colman Domingo ser desperdiçado e mal usado justamente por alguém que tem a série Fargo no currículo como o Noah Hawley. É um filme que tenta falar muito e acaba ficando inconsistente. A trama varia de um filme de astronautas para um drama, depois para uma trama novelesca de traição, casos e obsessão, depois para um existencialismo e busca por propósito, e enfim para uma enlouquecida crise existencial encabeçada por Lucy Cola, uma Natalie Portman que não consegue se salvar aqui. Nem ela... Com uma peruca meio estranha e variações de sotaque, a personagem principal não é bem construída em quase nenhum momento. Parece tudo muito jogado. Nem a boa cinematografia, as boas composições visuais de certas cenas (especialmente a que toca um bonito cover da música dos Beatles, que dá título ao filme; apesar do claro baixo orçamento), e a boa trilha sonora de Jeff Russo (que me lembrou um pouquinho a que Justin Hurwitz compôs para "O Primeiro Homem") conseguem suprir as falhas do longa. Falando em "longa", é um filme que pesa na extensão. Pesa também no uso, sem finalidade narrativa clara (provavelmente só por ser "legal"), de mudanças constantes na proporção de tela. Há muitos cortes e alterações sem fluidez. E as "bordas borradas" são exageradamente usadas. Enfim, é moroso demais e não tem muita identidade, apesar de Hawley ter tentado forçar.
Sinceramente, queria que a Sia regravasse todas as músicas que ela compôs para esse filme. Tenho certeza que ficariam bem mais interessantes e autênticas em sua voz do que no amontoado de autotune e produção equivocada que elas tiveram na interpretação de uma Natalie Portman que parecia totalmente sem vontade de estar ali, cantando e balançando o corpo para cá e para lá nos palcos. Pra dizer a verdade, a Natalie até que está bem, mas o filme e o roteiro não colaboram em nada. A montagem é desinteressante, há omissões de fatos e cenas que certamente teriam impacto na construção da personagem que são colocados como uma narração em off preguiçosa e extremamente expositiva, sobre cenas em câmera lenta. Brady usa e abusa de one-shots, que são até legais, mas que não tapam os outros buracos do longa. O filme não consegue tratar nem desenvolver minimamente bem seus temas delicados, como tiroteios em escola, traumas, gravidez adolescente e os descompassos entre maternidade e fama. Os personagens coadjuvantes ou aparecem pouco ou não têm emoção ou subtrama alguma. Como Eleanor Montgomery (Stacy Martin), irmã, compositora e babá de Celeste (Natalie) e sua filha, Albertine (Raffey Cassidy); ambas com atuações que vão de "ok" a bem apáticas. Jude Law, interpretando o gerente da carreira de Celeste, também é muito desperdiçado. O final tenta empolgar com vários minutos do show de abertura da nova turnê de Celeste, mas as músicas e coreografias são chatas e sem energia. Os cortes entre danças e canções são repentinos e estranhos, e o filme acaba meio que do nada. Cheio de questões, perguntas e pontas soltas. É como se o filme não tivesse sequer começado, apesar das quase 2 horas. Você termina com um "Ué?"; e é isso. Uma pena, porque poderia ter sido um filme-crítica forte sobre tudo isso que ele aborda sem saber como discorrer.
Spike Lee conduz um filme de quase 3 horas e meia com versatilidade de gêneros e estilos narrativos que impressiona. Entre paixões, roubos, gângsteres, drogas, prisão, redenção e conflitos religiosos e raciais, Lee e Denzel Washington constroem e exploram todas as facetas desse que foi um dos mais importantes e polêmicos líderes sociais dos EUA e do mundo. É uma excelente construção de personagem, baseada em pressões, opressões e ditames que moldaram uma personalidade radical e forte.
O elenco ainda tem grandes atuações de Delroy Lindo, Angela Bassett, Al Freeman e do próprio Spike Lee.
É uma biografia completa, cheia de energia, essencial, autorreflexiva e recheada de questões que, infelizmente, ainda são mais atuais que nunca.
"Estou aqui para dizer que acuso o homem branco. O acuso de ser o maior assassino da Terra. O acuso de ser o maior sequestrador da Terra. Não há um lugar na Terra em que esse homem possa ir e dizer que criou paz e harmonia. Aonde quer que ele tenha ido, ele criou desordem, destruição... Então o acuso de ser o maior ladrão e escravizador da Terra. Ele não pode negar as acusações. Vocês não podem negar as acusações. Nós somos a prova viva delas! Vocês não são americanos: são vítimas da América!"
Em termos de história, Enola Holmes pode soar um pouco mais longo do que deveria. Porém, alguns pontos asseguram a energia do longa. São eles: o enorme carisma de Milly Bobby Brown e suas divertidas (embora não tão refinadas) quebras da quarta parede; a montagem do filme, que sabe entrecortar e conectar o presente (os desafios e empecilhos que a personagem enfrenta) às lições e dicas que sua mãe a ensinou durante os seus 16 anos (desde técnicas de luta, decifração de códigos ou de raciocínio lógico); e um arco de evolução de personagem claro (embora um pouco previsível). Conseguindo garantir um bom entretenimento ao longo de suas 2 horas.
Todos estão bem no elenco de apoio. O Mycroft de Sam Claflin tem mais caras e bocas e é pontualmente intenso, tentando forçar os moldes de "mulher respeitável" que a sociedade dita em Enola, através do Instituto de Etiqueta da Senhora Harrison (Fiona Shaw). Seu outro irmão, Sherlock (Henry Cavill) aqui é mostrado num espectro menos "completamente cerebral", tendo até nuances de carinho ou afeição, quase nunca vistos em outras interpretações do personagem. Helena Bonham Carter aparece pouco, mas dispensa comentários. Ela consegue demonstrar amor, obstinação e sagacidade como mãe, como mulher e como uma Holmes. A atmosfera do filme é vem convidativa, o desenvolvimento e resolução do mistério do desaparecimento do Marquês Tewkesbury (Louis Partridge, vivendo o personagem subtítulo do livro no qual o filme se baseia) é operante.
A reconstrução de época é boa, assim como a cinematografia, o figurino e a trilha sonora de Daniel Pemberton. E ainda há uma promessa e possibilidade de este ser o começo de uma franquia. Há 6 livros com a personagem principal, os quais não li, mas que certamente gostaria de ver em filmes.
O tom de aventura, de busca por significação, por propósito e liberdade excede a "busca pela mãe desaparecida", e a protagonista encerra o filme com ainda muito a galgar. Ainda mais quando o filme trata também sobre feminismo, busca por representação feminina na política, e sobre mudanças que acontecem e que devem acontecer para que o mundo, a sociedade e o homem evoluam em conjunto.
Eastwood constrói seu drama numa direção que contempla bem todos os seus personagens. Numa história sobre perdas, traumas, culpa e remorso, o roteiro sabe mostrar que todos no longa compartilham esses pontos em suas vidas.
Com fortes atuações, o texto desenvolve personagens como Jimmy Markum (Sean Penn, vencedor do Oscar de Melhor Ator), endurecido e abalado por traições e pela perda da primeira esposa e agora de sua filha Katie (Emmy Rossum); Sean Devine (Kevin Bacon), investigador controlado, mas ressentido pelo afastamento de sua esposa grávida; seu parceiro Whitey Powers (Laurence Fishburn); e Dave Boyle (Tim Robbins, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), um homem acuado, marcado e que carrega uma ferida de infância nunca fechada,
quando foi sequestrado e abusado sexualmente por 2 homens. Sequestro presenciado por Jimmy e Sean, e que os assombra até a vida adulta.
“Porque, às vezes, o homem não era um homem no final. Ele era o menino. O menino que escapou dos lobos. Um animal da noite. Invisível, silencioso... Vivendo em um mundo que os outros jamais viram. Um mundo de vaga-lumes...", diz Doyle numa cena.
Como o filme avança com a investigação do assassinato de Katie, acho interessante como o roteiro consegue espalhar, desde o início, através de diálogos e cenas com dualidade, olhares, versões e gotas de sangue, suspeitas em várias vertentes.
Jimmy acredita que Katie e Brendan Harris (Tom Guilry, interpretando um garoto de pai "ausente", mãe irresponsável e irmão mudo), tinham algum relacionamento, e que este a matou. Celeste (Marcia Gay Harden, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), mulher de Dave, começa a ficar assustada e desconfiar do marido...
Gosto também como o caráter e personalidade de todos ali são postos à prova. Todos questionam e são questionados, suspeitam e se tornam suspeitos de algo, confrontam e são confrontados. E, no fim, todos sofrem de alguma maneira. Mérito do roteiro de Brian Helgeland, que é bem articulado.
"O homem é o lobo do homem.", como diria Thomas Hobbes.
As coisas se revelam e se afunilam aos poucos, como é de se esperar de um bom filme do gênero, e, embora o desfecho do caso não seja o trecho mais inspirado do filme, e que haja certa indulgência exposta de e em alguns personagens, prezo o modo como o final não é nada catártico ou consolador para absolutamente ninguém. Como o resto do filme, é penoso e real.
Ainda temos Laura Linney, como Annabeth, mulher de Jimmy; que aparece pouco, mas que também está bem.
O longa versa bem como detalhes, acontecimentos, fatos e escolhas do passado podem manchar e abalar vidas para sempre, e reverberar devastadoramente no futuro.
"Às vezes penso que nós três entramos naquele carro. E que tudo isso foi só um sonho, sabe? Na realidade, ainda somos garotos de 11 anos, presos em um porão. Imaginando como seria nossas vidas se tivéssemos escapado..."
Não posso negar que o filme prendeu minha atenção, mais pelo "o que esse filme está querendo dizer?" do que por qualquer outra coisa. Porém, toda a construção de trama, que envolve muitas tentativas de abordar o luto, de viver esperando por "sinais", de se achar perdida em si e vivendo uma vida para os outros, como um fantasma esperando seu lugar no purgatório, soa monótona, desinteressante e até frustrante.
Os fade-outs entre muitas cenas são usados exageradamente e sempre aparecem como uma interrogação, sendo que quase nada é respondido sobre os personagens coadjuvantes e "subtramas", que praticamente não têm peso.
Assayas desenvolve seu filme (sem muita definição) junto à sua protagonista, que passeia entre uma curiosidade rasa por arte abstrata, o sofrimento após a morte do irmão gêmeo, viagens e compras infinitas pela Europa, mensagens de um "desconhecido", algo que consegue dar ritmo ao longa, apesar de perder a energia depois (especialmente por nunca sabermos se é uma entidade sobrenatural ou certo alguém que comete certo crime), e sobre a suposta mediunidade e busca por "contato" de Maureen Cartwright (Kristen Stewart).
Por falar nela, definitivamente é a atuação mais bem arranjada, completa e verdadeira da carreira de Kristen. E isso já vale pelo filme, que tem um final bem "põe qualquer coisa aí", e que se sustenta completamente nas costas da atriz.
Apesar de o filme possuir algumas pontas soltas, devido à sua história complexa, cheia de personagens e críticas sociais que poderiam muito bem render uma franquia ou uma série de TV das boas, para que pudessem se desenvolver completamente, as qualidades visuais da animação e do roteiro são incríveis; tanto para a época quanto ainda hoje.
É interessante que esse filme é de 88, tem um salto temporal de 31 anos, após um desastre com uma suposta "bomba" que destruiu a antiga cidade de Tóquio (aparentemente, durante a "3ª Guerra Mundial"), se passando em 2019 (ano passado), e, em determinada cena, um personagem diz que "As Olimpíadas serão ano que vem"; ou seja: em 2020, numa "Neo Tóquio" reconstruída.
E não é que teríamos mesmo os Jogos Olímpicos de Tóquio nesse ano? Pena que foram adiados devido à Pandemia...
Não há tantas explicações sobre os experimentos feitos pelo governo em crianças e seus poderes, só o suficiente para te deixar intrigado em especulações sobre as tramas que ainda envolvem terrorismo doméstico, controle estatal, violência nas ruas, e os colapsos sociais causados quando uma população é desassistida e ignorada por aqueles que estão no poder.
É um turbilhão de caos e energia, de sangue e anarquia, de vida e escolhas, de espaço e sentimentos extremados.
É um filme japonês que toca em feridas profundas da história do país, especialmente no que se refere aos bombardeamentos terroristas dos EUA sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Faltam alguns detalhes e amarrações de enredo, mas é um clássico pesado e inegável. Apesar de não ser perfeito.
"O poder de Akira existe dentro de todos nós. Mas, quando este é acordado, devemos escolher como usá-lo. Mesmo que não estejamos preparados."
Sinceramente, minha reação durante todos os 130 minutos se baseou em "WTF" atrás de "WTF".
É claro que precisarei de mais tempo para digerir melhor a miríade de diálogos complexos sobre a vida, tempo, fracassos, envelhecimento, esquecimento... Sobre física, metafísica, amor, morte, demônios internos, existência e sobre acabar com tudo.
Há muitas metáforas para se esmiuçar; há misturas, transições, estranhezas, dualidades, trialidades, "quadrialidades"...
Enfim, certamente o filme me deixou confuso, angustiado e curioso em entendê-lo melhor. Já que é bem abarcado em interpretações; muitas, inclusive. É, por vezes, bizarro, psicologicamente assustador, complicado, mas toca em temas até bem sensíveis de uma maneira diferente, que exige reflexão.
De cara, o que sei de fato é que o elenco está um primor aqui. E os diálogos de Kaufman, apesar de longos e talvez exaustivos em certos momentos, são bem inspirados, cheios de referências, e confluem bem com atmosfera do longa.
Toni Collette é sempre tão boa em assumir personagens multifacetadas, e não é diferente aqui; entre risos e movimentos afetados, e falas arrastadas, compassadas, pela velhice, mas cheias de emoção, ela domina.
Jesse Plemons mostra indiferença, autoisolamento, preocupação, um desejo interno por controle (de situações, até de pensamentos alheios), e explosões pontuais de raiva muito bem. E é sempre ótimo assistir algo com o David Thewlis.
A cinematografia é bem enevoada, ríspida (especialmente nas cenas azuladas no carro, em que a neve agressiva investe na lataria e no vidro tal qual os pensamentos na mente dos personagens), abafada (pelo formato de tela 4;3), com tons de um sonho bagunçado ou de alguma alucinação sem freios que se torna outro dos trunfos do filme.
O monólogo inicial, a declamação do poema "BoneDog" (especialmente pela voz e olhares desolados, mas firmes de Jessie Buckley), e a cena do "balé" na escola bateram na alma.
"Estou pensando em acabar com tudo. Quando esse pensamento chega, ele permanece, continua, domina. Não há nada que eu possa fazer. Acredite. Não vai embora. Está lá, goste ou não. Está lá quando como, quando eu vou para a cama. Está lá quando eu durmo, quando acordo. Está lá. Sempre..."
Nossa boa e velha Arya Stark, Maisie Williams, está bem, encarnando Mary, aquele tipo de personagem que percebe que há algo de errado na casa e com o casal de idosos que lá vive, e que tenta, sem conseguir, convencer seus amigos disso, chegando a certos extremos. Há algum momento tenso espalhado aqui e ali numa trama que vai girando e girando e não atinge todo o seu potencial. O elenco é completado pelos veteranos Sylvester McCoy (como Dr. Huggins), interpretando um personagem dissimulado e quase impassível, e Rita Tushingham (como Ellen Huggins, sua esposa), com olhares pungentes e por vezes perdido, que externam insultos, ódio e certa inocência confusa e distorcida. Como a personagem tem problemas de memória, isso proporciona cenas de intensidade interessantes entre ela e os personagens que compõe o resto do filme: Jake Curran (como Gaz), Andrew Ellis (como Terry) e Ian Kenny (como Nathan), que são bem competentes. O elenco se torna, de fato, a melhor parte do filme. A premissa da história conta com pontos positivos, especialmente nas ideias colocadas ali, envolvendo sequestros, filhas, irmãs e namoradas perdidas, castigo e algum tipo de jogo psicótico... Mas eles não se sustentam tanto a longo de pouco mais de 95 minutos. A grande burrice e fácil manipulação de parte dos personagens irritam, e os minutos finais são meio viajados demais e até bobos, mas o filme de Julius Berg possui algum valor de entretenimento. "O Homem nas Trevas", de Fede Alvarez, soube se aproveitar bem mais de uma trama parecida.
Esses dois filmes não fogem dos clichês ou tramas batidas da franquia da qual se ramifica (Alien), ou do subgênero, mas conseguem sustentar certo interesse com personagens minimamente mais trabalhados, boas cenas de ação, bons efeitos especiais e práticos (como todos os outros longas), e com decente construção de claustrofobia e suspense (no primeiro), e de urgência (no segundo). O cenário inexplorado da Terra (para os filmes Alien) dá algumas novas possibilidades para que os diretores criem subtramas interessantes com o horror e ansiedade dos humanos frente às criaturas vagando por vilas baleeiras supostamente abandonadas, geleiras que encobrem pirâmides desconhecidas na Antártida, por esgotos, usinas de energia, bosques ou por avenidas... Possibilidades que são usadas um pouco, embora tivessem mais potencial. A mitologia de Alien e do Predador, misturada a elementos histórico-culturais humanos (do primeiro filme), funciona bem. As perseguições e embates do tipo caça-e-caçador entre as criaturas proporcionam as sequências mais agitadas e brutais dos filmes. O modo como as duas raças exploram todas as suas habilidades, naturais ou tecnológicas (a cauda, o exoesqueleto e o sangue corrosivo do Xenomorfo; as garras, lanças e armaduras do Predador) é bem legal. O elenco dos dois filmes é bom, fazem o que dá pra fazer enquanto o destaque claro é dos alienígenas se pegando na porrada e se matando no escuro e na chuva. Destaque para Sanaa Lathan, no primeiro, e Steven Pasquale, no segundo. O final do segundo filme, inclusive, até soa como um tipo de retcon ou prequel para a história da franquia Alien; ao menos no que diz respeito à Megacorporação Weyland-Yutani.
Após ter visto todos os filmes da franquia Alien há alguns meses, e deixado esse para depois por motivos de esquecimento, resolvi encerrar de vez; mesmo sabendo que esse é o menos querido entre os 6 filmes.
Bem, Jeunet não soube criar ou desenvolver tensão e suspense, o que já é metade do caminho para o erro numa franquia baseada nisto (em tese). Mas a ação também não é tão inspirada, e os personagens (novos ou velhos), assim como a trama escrita por Joss Whedon, são bem descartáveis e não acrescentam nada de interessante à franquia.
Winona Ryder e Ron Perlman são desperdiçados com personagens desenvolvidos em cima de carisma ou babaquice em excesso e que não geram nenhum apelo ou interesse por suas histórias pouco exploradas. Já Sigourney Weaver tem sua personagem icônica completamente desconstruída sem a mínima precisão ou respeito. Depois de 200 anos da morte de Ellen Ripley, cientistas clonam a Tenente. Só que a nova personalidade fria e robótica destoa demais do que havíamos visto antes. Não funciona. Ela só tem uma cena boa, e nada mais.
Coitada da Ripley, e coitada da Sigourney, que foi "ressuscitada" depois de um terceiro filme já ruim para fazer um pior.
O Xenomorfo, sendo tratado como "lindo bebê" e assumindo retoques de hibridismo humano (com a xenomorfa Rainha desenvolvendo um "útero", e seu "filho" tendo um crânio semelhante ao humano), perde todo o seu senso de ameaça. E a relação e sentimentos estranhamente maternos entre ele e a cópia de Ripley soam bobos e sem sentido.
O filme certamente tem algum valor de produção, em maquiagem, próteses e efeitos práticos gerais, ao passo que os efeitos especiais são bem fracos.
O Menino e o Mundo
4.3 734 Assista AgoraUm menino sai para explorar o mundo e descobre que ele é absolutamente aterrorizante.
Alê conduz seu filme com traços simples, mas extremamente criativos ao expressar, sem uma palavra sequer, alguns assuntos bem pesados envolvendo Militarismo (que tocam uma sinfonia negra, com instrumentos que parecem armas, expondo uma ideia de repressão), exploração da mão de obra humana (com enfoque na colheita de algodão para fábricas de tecido), padronização das desigualdades sociais, e os ciclos exaustivos do Capitalismo Industrial.
Aqui mostrados em personagens que trabalham o dia todo, voltam para casa em transportes lentos, sobem escadas intermináveis das comunidades/favelas/morros (e nem chegam ao topo, dominado pelos ricos), comem comidas enlatadas e dormem sendo bombardeados por publicidades que reforçam a continuação dos mesmos ciclos.
Tudo isso se diferindo num olhar inocente da criança que se perde de seus pais só para saber que estava perdido em si e num mundo selvagem, apodrecido e cheio de mazelas encobertas com tecnologias quase alienígenas e supostas inovações.
Ele só se lembra dos seus pais, de si e das coisas boas do passado quando ouve uma animada melodia de pessoas num desfile de um carnaval colorido e quase onírico, que se destacam numa paisagem tão unicolor e desgostosa.
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça
3.8 1,3K Assista AgoraJohnny Depp pareceu aqui, como Ichabod Crane, quase um Timothée Chalamet versão gótica kkkk
Taí meu filme para comemorar o Halloween. 💀🗡🎃
Com tudo que o Burton tem a oferecer: uma boa fotografia escurecida (Emmanuel Lubezki ❤, que recebeu indicação ao Oscar por esse filme), um bom figurino (também indicado ao Oscar), uma direção de arte vencedora do Oscar em 2000, sangue falso, toques de fantasia, muitas cabeças rolando, e um clima sombrio e um pouco cômico perfeito para uma noite chuvosa.
Pena que não está chovendo por aqui. Mas valeu mesmo assim.
Amor e Monstros
3.5 664 Assista AgoraO roteiro não é nada tão surpreendente, e tem várias facilitações, mas o carisma de Dylan O'Brien (enfrentando um amor inocente demais e problemas monstruosos) segura as pontas com ótimos efeitos visuais e práticos.
É definitivamente divertido, uma aventura legal de se acompanhar com uma trama até bem interessante:
Quando um asteroide (Agatha 616) vem em direção à Terra, centenas de mísseis são mandados pra destruí-lo, mas a radiação e os produtos químicos expelidos pelos mesmos acaba caindo na Terra, alterando o DNA dos anfíbios, insetos e demais animais de sangue frio. Estes acabam crescendo e virando os monstros do título, acabando com 95% da população mundial e forçando os restantes a se esconder em bunkers e colônias subterrâneas, como as antigas formigas e cupins que agora dominam a cadeia alimentar.
Garoto, o cachorro, é o melhor personagem disparado, mas Clyde (Michael Rooker, saudoso Yondu), Minnow (Ariana Greenblatt) e Aimee (Jessica Henwick), apesar de aparecerem pouco, também dão sua contribuição.
No fim, o filme até pincela a importância da consciência ecológica.
E espero que a Sessão da Tarde exiba esse filme em alguns anos. Certamente irei assistir. Ainda mais com um final que até indica uma possível sequência.
"Bons instintos são obtidos cometendo erros. Se você tiver a sorte de sobreviver a alguns deles, se sairá bem aqui fora."
Hush: A Morte Ouve
3.5 1,5KUm bom suspense de home-invasion, é curto, direto, e baseado numa ameaça (John Gallagher Jr.) que ronda sua casa, mata seus amigos e está constantemente à beira de te assassinar.
Kate Siegel está bem como Maddie, uma escritora surda e muda que vive sozinha, é fã de Stephen King (Mr. Mercedes ❤), e que está tentando escolher o final de seu segundo livro, ao passo que, quando o assassino inicia sua noite de perseguição, tem de achar um jeito de reescrever o seu próprio final que parecia, em diversas possibilidades, ser a morte certa.
Gosto que ela, sendo escritora, e relevando o máximo que dá as limitações e problemas que sofre ao longo dos 81 minutos do filme (como o corte de energia e um flechada na coxa), consegue ser mais racional, não ficando parada esperando pela morte.
Ela pensa, repensa, reflete sobre as possíveis rotas de escape e de ação contra seu inimigo. Tenta fugir, falha, é machucada, espancada e, no fim, consegue seu êxito com alarmes de incêndio, inseticidas e abridores de vinho; um uso criativo das "Arma de Chekhov" mostradas anteriormente.
A personagem principal ser deficiente auditiva até que aumenta a tensão em certas cenas que envolvem barulho, mas acho que o artifício poderia ter sido melhor utilizado para construir suspense, mais do que apenas sons e batidas abafadas ao fundo.
Enfim, o filme não tem compromisso em mostrar o antes (o que a fez decidir morar num lugar isolado, ou seu relacionamento com sua família e ex-namorado, Craig), tampouco o que veio depois. Se encerra justamente quando a ameaça acaba. E, sendo isolado, é um filme que prende e tem um desfecho satisfatório, mesmo capengando em energia com cenas bem conduzidas e atuadas, mas repetidas e talvez um pouco escuras demais.
Deus e o Diabo na Terra do Sol
4.1 430 Assista AgoraNão preciso dizer nada quanto à importância e influência que esse filme teve e continua tendo para mostrar ao mundo o cinema nacional, a partir do movimento chamado "Cinema Novo".
Todas as dualidades entre temática, técnicas e personagens são tratadas aqui de maneira bem interessante por Glauber. Seja do real ao teatral, da música clássica à cantada com um violão, da miséria à clemência, ou da violência do cangaço à salvação profetizada, o Inferno, o Purgatório e o Paraíso são os homens, com suas ganâncias, mazelas morais e escolhas que fazem.
"A Terra é do homem, não é de Deus nem do Diabo.", canta Sérgio Ricardo, enquanto os personagens são mortos, tropeçam ou fogem através das áridas paisagens do sertão. Até serem tomados por imagens do mar tão prometido, o "Paraíso" ao qual foi tão penoso, sofrido e sangrento de se chegar.
Enfim, se Bong Joon-ho disse que esse filme jamais saiu de sua cabeça, quem sou eu para discordar?
Vou só deixar 3 frases fodas dessa obra tão percursora:
- "O homem nessa terra só tem validade quando pega nas armas para mudar o destino. Não é com rosário, não, Satanás, é no rifle e no punhal."
- "Vamo deixar o fogo do inferno queimar de uma vez toda essa República da disgraça!"
- "Mais fortes são os poderes do povo!"
Abril Despedaçado
4.2 673Salles compõe seu filme a partir de repetições, de vícios, de ciclos de violência, num sertão em que as disputas entre famílias por terra e pela "honra" servem de subterfúgio para mortes, para a perpetuação do "olho por olho".
"Meu pai disse que é olho por olho. O olho de um pelo olho do outro... E, em terra de cego, quem tem um olho só todo mundo acha que é doido.", Pacu fala logo no começo do filme
.
É nisso que a rixa se baseia, em vinganças que já tiraram muitas vidas de ambos os lados, sendo a mais recente a do irmão de Pacu (Ravi Ramos Lacerda) e Tonho (Rodrigo Santoro).
"Tu só tem direito de cobrar o sangue que tu perdeu. Foi assim com meu pai e meu avó, e será assim até a minha morte.", reitera "Velho Cego" (Everaldo Pontes).
A direção firme e vasta de Salles usa de vários símbolos visuais para reforçar as ideias que permeiam o roteiro coescrito por Karim Aïnouz e Sérgio Machado. Como as diversas cenas da moagem de cana-de-açúcar, movida por bois que giram em círculos, gerando um melaço respingado nas engrenagens, que acaba virando rapadura. Representando os personagens que continuam, sem pensar, nos mesmos pensamentos e ações que mataram seus parentes ("Nessa casa, é os morto que comanda os vivos").
"A gente é que nem os bois: roda, roda e nunca sai do lugar.", Pacu pontua.
Noutro simbolismo, temos que o restante da inocência ou a fonte desta para os irmãos é um balanço, em que eles "voam" aos céus". Um céu azul que reflete o que o sertão antes era: um mar. Reforçado pelos sonhos do mais novo sobre as águas, os peixes e sobre a "sereia" (Flávia Marco Antônio), que encanta a ambos e que encarna a possibilidade de rompimento com essa vida para o mais velho.
Mas, quando a corda do balanço se parte, já era tarde demais...
Entre perseguições através dos galhos cortantes da Caatinga que termina em uma morte, entre tréguas de lua cheia, camisas com sangues amarelados e vinganças, há terras secas e homens duros demais. Não há tempo para paixões, circos, livros ou histórias, e nem a chuva pode amolecer seus corações.
Mas, se a água da chuva não pôde, enfim, quebrar este ciclo,
o sangue inocente de um menino o fez. Levando Tonho por outro caminho, indo ao mar, numa linda cena final.
"Um dia, a sereia veio buscar o menino para viver mais ela no mar. No mar, ninguém morria e tinha lugar para todo mundo. No mar, eles viviam tão feliz, mais tão feliz, que não podiam parar de dar risada..."
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraCaramba, bicho. O que foi que assisti aqui???
Vamos lá tentar desenvolver um pouco. Seria esse filme uma representação da ilusão do sucesso e da fama (representada inicialmente por Naomi Watts, antes bem inocente e quase superficial) x a realidade por trás disso (representada por Laura Harring, perdida, sem saber mais quem é)?
Deixemos marinar. Mas gosto como a trilha sonora de Angelo Badalamenti é bem variada: vai de misteriosa, a sexy, a tocante e a quase épica; por vezes é desconexa com as cenas, e sempre tem um subtom onírico, disperso, o que evolve toda a atmosfera que Lynch cria perfeitamente com seu roteiro e suas figuras.
Uma figura encapuzada quase demoníaca num canto da cidade, iluminada numa luz vermelho-sangue; uma figura com chapéu e roupa de caubói numa espécie de rancho afastado, onde uma lâmpada vive piscando; uma figura de cadeira de rodas que fala pouco, aparentemente tem muito poder e só é visto de longe, atrás de vidros, em reflexos...
A montagem é por vezes complexa, por vezes confusa, mas sempre intrigante. Há lindas e rápidas transições com sobreposições. O diretor usa muito de luzes e visões desfocadas, câmeras na mão e instáveis, "mergulhos no escuro" e shots que tremem para ditar uma narrativa e ritmo únicos para o seu longa.
Há o aparecimento recorrente de uma chave azul, que abre uma caixa azul. Extrapolo que possa ser uma espécie da "Caixa de Pandora", em que a esperança já não mais habita, para onde os males retornaram ainda mais fortes e reais, e onde a(s) personagem(ns) de Watts habitam.
Seus olhos azuis cheios de ódio, amor ou lágrimas, as paredes azuis desbotadas de sua casa, o desespero palpável e atormentado, os relâmpagos azuis que a atingem feito tiros, a fumaça, um "limbo" (citado anteriormente), o "outro lado", um palco vazio e, finalmente, o "Silêncio"...
Falando nele, as cenas no "Teatro Silencio", especialmente quando "La Llorona de LA" canta são fantásticas. E a do "Camilla! You came back!"?
Putz, cara, Watts perfeita demais. E nem indicada ao Oscar foi...
De resto, vou precisar de uns dias para refletir mais, e volto quando Deus ou Lynch permitir.
Fiz essa colagem para louvar o trabalho maravilhoso que Peter Deming fez com a cinematografia, e que pode representar as "etapas" que percebi do filme: "O Sonho", "O Pesadelo", "O Despertar.". Não sei, mas achei os "títulos" apropriados.
Quase Famosos
4.1 1,4K Assista AgoraAh, minha pequena dançarina...
Tudo está realmente acontecendo na mente de Penny Lane na cena da imagem. Kate Hudson encarna uma personagem que engloba em si toda a atmosfera e sentimento dos anos 70: ela é livre, ela brilha, ela usa um casaco verde no verão, ela dá um ar caseiro a um quarto de hotel, ela sabe todas as letras das músicas, especialmente as ruins, ela é a maior fã, confidente de todos, mas nunca revela seu verdadeiro nome, ela guarda para si suas tristezas, ela dança sozinha, ela se decepciona, chora e recomeça ao colocar em prática os seus sonhos de viagens...
"Ela traz à tona o melhor de todos, mas quem está lá para ela?", diz Polexia (Anna Paquin)
No mais, temos aqui um filme essencialmente autobiográfico de Cameron Crowe, que pega o mito dos anos 70 e o desconstrói ao mesmo tempo que desenvolve uma jornada de amadurecimento e autoconhecimento de seus personagens, em especial seu jovem protagonista: William Miller (Patrick Fugit).
Filho de Elaine Miller, uma professora universitária cheia de fibra, intensa, extremamente controladora e sufocante, mas amorosa e sempre sábia ("Seja ousado e forças poderosas virão em seu auxílio."). Ela é interpretada por Frances McDormand, que aparece pouco, mas que domina cada um dos seus segundos.
William é um jovem promissor que é incumbido de escrever uma matéria sobre a banda de rock Stillwater, liderada por Russel Hammond (Billy Crudup), que tem um caso com Penny, e que acaba desenvolvendo uma amizade com Miller. A qual, nos momentos sóbrios e sinceros, rendem frases e diálogos que ditam bem que, na década do "Paz e Amor", nem tudo eram flores, raios de sol e música da "Indústria do Cool".
"Alguns fatos são reservados somente a poucas pessoas, e não para um milhão. Cresci com esses caras, mas já os ultrapassei como músico. À medida em que nossa fama cresce, crescem as responsabilidades e pressões.", diz Russel, num tom um pouco egoísta e que serve muito para a construção de seu personagem.
Há uma linha tênue entre o êxtase ("Sou um deus dourado!"), a euforia, o sucesso, e o desânimo, o cansaço, a frustração pessoal, uma mente e um corpo dopados não só em drogas químicas, mas em um sentimento de não-prazer ("Eu costumava ouvir todos os sons do mundo, e eles eram música..."), de estagnação do talento.
"Quanto mais tempo se passa, mais você se esquece do que é ser fã, do que é ouvir as bandas.", e "Eles nem sequer sabem o que é ser um fã. Entende? O que é amar verdadeiramente algum idiota da música, ou alguma canção boba, o tanto que dói." são frases que dialogam diretamente com a vida de Penny.
Enfim, mesmo dispersamente, daria para falar muito mais (pois, pelo visto, eu assisti à versão estendida). Mas só queria pontuar que a cena em que todos cantam Tiny Dancer do Elton John no ônibus, e a cena em que atravessam uma tempestade elétrica no avião e começam a confessar todas as verdades finais há tanto reprimidas são maravilhosas e serviram como sessões de terapia num filme tão divertido, enérgico e totalmente franco com sua história.
Notas Sobre um Escândalo
4.0 538 Assista AgoraRichard cria aqui um filme com trama e personagens bem complexos para seus pouco mais de 90 minutos. Temos, essencialmente, um grande trabalho de olhares no desenvolvimento suas personagens centrais: Barbara Covett (Judi Dench) e Sheba Hart (Cate Blanchett). Ambas entregando diversas camadas majestosamente.
Durante todo o filme, domina a narração e a visão da personagem de Dench, que escreve num diário tudo o que ela pensa sobre a geração atual, sobre seus alunos, sobre seus “amigos” professores na escola e sobre seu trabalho. O roteiro e o trabalho magnífico de Dench, em sequências de somente olhares, narração e observação, ditam algumas das características dessa professora de História: ela é observadora, irônica, julgadora, ácida, sempre dada aos pré-conceitos e suposições, com um ar cheio de si, de superioridade pela sua “moral” e experiência. Mas as coisas começam a se revelar um pouco mais assim que Sheba, a nova professora de Artes chega na escola.
Nesse momento, o foco é só nela, em suas roupas (“Elegantes, até o momento.”), em seu aparente descontrole dos alunos e inabilidade de ensino. Ela adiciona adjetivos como “inocente”, “transparente”, “um pêssego”, “uma noviça”, em contrapartida ao seus “experiente”, “fechada”, “velha e confiável”, “uma rocha”, “uma Madre Superiora”...
A partir daí, começam comparações e correlações entre as duas, como partes opostas, mas que acabam se aproximando cada vez mais. Sendo o ponto de conexão o “escândalo” do título do filme: o relacionamento de Sheba com seu aluno de 15 anos, Steven (Andrew Simpson), flagrado por Barbara.
É então que as coisas se complexam, pois as duas se tornam cúmplices, numa espécie de amizade indecente, de dependência.
Enquanto Covett tem apenas uma gata para cuidar e um passado conturbado com certa “Jennifer (fato que assombra a personagem e que desenlaça sua camada principal), Sheba tem uma família “disfuncional”. Dois filhos, uma jovem garota (Polly, de Juno Temple) e um garoto com Síndrome de Down (Ben, de Max Lewis), e seu marido Richard (Bill Nighy), que era seu professor. Tudo está em risco depois que ela comete o crime, mas se exploram alguns pontos que a explicam melhor, mas que não justificam.
O casamento dela parece distante, sua mãe só a coloca para baixo (“Ela é linda, graças a Deus. Mas não é como se tivesse conteúdo”), ela tem que lidar com sua família e seu objetivo: ser uma boa professora. Seus alunos não colaboram, não prestam atenção nas aulas, e ela se pega num momento de fragilidade, em que determinado aluno (Steven), começa a demonstrar um insistente interesse em aprender mais, em melhorar suas habilidades no desenho. Ele finge estar num momento “vulnerável” em casa, com mãe sua mãe “à beira da morte” e um pai absorto. Algo revelado como mentira: “Você queria uma história triste. Eu arranjei uma."
O garoto, nada inocente, montou a armadilha na qual ela, que não era inocente também, caiu e se apaixonou.
“Vai soar doentio, mas senti como se tivesse direito. Fui correta a minha vida toda. Fui uma esposa decente, mãe devotada, cuidei do Ben... Uma voz dentro de mim continuava a dizer: ‘Por que você não pode ser má?’, ‘Por que não quebrar as regras? Você ganhou o direito.’”, ela confessa.
Nessa situação, Barbara a toma em suas mãos, e uma nuance a mais é adicionada: um jogo de poder e controle desta para com sua “melhor amiga”, inclusive quando precisa passar um tempo em sua casa: “A pressão é intensa quando duas mulheres compartilham suas vidas. Mas que intensidade maravilhosa...”
É interessantíssimo ver como o roteiro de Patrick Marber adiciona, fluidamente, detalhes e mais detalhes em suas personagens. Você sabe que ambas estão erradas, mas entende o amargor e suas tentativas de “fuga” (cada uma do seu jeito enviesado).
“Adolescentes são terríveis. Assim que ele se cansar de você, a jogará fora como um trapo. Você não é jovem!”, declara Barbara, como se mais para si do que para Sheba, pelo que sabemos depois do “relacionamento intenso” com a dita Jennifer.
Uma cometeu um crime, a outra acobertou somente para dominá-la numa espécie de “paixão ilusória” que é quebrada e reatada constantemente; mas só em sua cabeça. Há segredos, cumplicidades deturpadas e ciúmes por todos os lados, nas vozes, nos olhares, nas páginas do diário...
“Começou a parecer como um segredo, e segredos são sedutores.”, como Sheba diz anteriormente.
Há um senso de ultraje, de antecipação, de peso e de ímpeto que são envoltos pela ótima trilha sonora de Phillip Glass.
A solidão de Covett é palpável nos últimos minutos: “Gente como Sheba acha que sabe o que é ser solitária. Mas, daquela solidão em gotas que dura para sempre, não fazem ideia.”
No fim, a vida segue seu curso, mas ela continua buscando o seu objetivo maior: “Eu não quero morrer sozinha.”
Cidade dos Anjos
3.7 1,5K Assista AgoraNicolas Cage entrega aqui uma de suas boas performances. Como ele é um anjo que não pode ser visto (só se ele quiser), apenas sentido, boa parte do filme é baseada nos olhares (calmos, compreensivos e amorosos), na voz baixa e controlada e em movimentos delicados. Especialmente em relação à sua co-protagonista: Maggie Rice (Meg Ryan), uma médica que perde um paciente, ficando abalada e começa a se questionar sobre quais são as forças contra quem eles batalham no hospital e se o “salvamento” está mesmo nas mãos delas ou de “outra força maior”.
O parceiro de Seth, Cassiel (Andre Braugher), em certa cena diz: “Anjos não são humanos. Nós nunca fomos humanos”, em resposta a um pedido de uma criança que morreu e que queria ganhar asas. Mas será mesmo? Usamos tão constantemente a palavra anjo para designar bebês e crianças (que conservam ainda a inocência e o amor puro), ou pessoas que se doam para ajuda outros, ou que trabalham diretamente com isso, que é interessante como o filme segue justamente essas duas “profissões” responsáveis por “salvar as pessoas dos perigos”: uma médica e um anjo, Que podem facilmente ser confundidos, exaltados e questionados quando uma vida se perde ou se salva.
A atmosfera é envolta pelos pensamentos e ideias dos humanos ouvidos pelos anjos, aqui vestidos de preto, sem asas, quase como guardas, sempre avistados em pontos altos da cidade de Hollywood, em bibliotecas ou em locais abertos. Brad usa de muitas tomadas aéreas ou de personagens em primeiro plano com túneis, espaços amplos e prédios atrás ou ao seu redor.
Gostei como o filme soube utilizar da bela trilha sonora de Gabriel Yared para construir os contrastes. Há o tema de Maggie (e dos humanos), mais animado, agitado e percussivo, e o tema de Seth (e dos anjos), mais etéreo, contemplativo.
Quando há uma junção forte das duas peças, com um coro, você sabe que representa a transição do personagem do divino (ditado por Deus), para o terreno (dominado pelo livre arbítrio). Conceito que é apresentado por Nathaniel, personagem divertido de Dennis Franz: “Se Ele deu essa dádiva às pessoas, por que não daria para a gente?”
A cena em que há essa passagem tem uma boa montagem e ressignifica o termo “cair”, “mergulhar de cabeça” para o personagem de Cage, que se tornou curioso pelos sentimentos e relações humanas (“Imagina como deve ser sentir o vento no rosto, ler um jornal, alimentar o cachorro, mentir descaradamente... Tocar o cabelo dela.”).
Aqui é mostrado como “cair de amores por alguém”, “mergulhar do céu do intangível diretamente num céu desconhecido de sensações carnais e novas experiências”, que são bem passadas por Nicolas.
Do sexo, ao banho, aos cheiros, às cores e dores e à comida, a química entre os atores é boa, diria operante em certos momentos, mas não me tirou do filme.
A outra parte da trilha sonora, escrita por alguns artistas exclusivamente para o longa, exala os anos 90 com ótimas canções de Alanis Morissette e Iris. A música-tema de Sarah McLachlan em especial.
O final não é dos mais sutis, e nem foge dos clichês, mas é tocante em certa medida.
“Eu preferiria sentir o cheiro dos cabelos dela uma vez, dar um beijo na boca dela, tocar uma vez as mãos dela, do que passar a eternidade sem fazê-los. Apenas uma vez.”
Invasão Zumbi 2: Península
2.4 392 Assista AgoraEnquanto o primeiro filme soube encontrar o equilíbrio perfeito entre construção de tensão, de drama, de personagens humanos, interessantes, com uma atmosfera de urgência ininterrupta (tornando-se um dos melhores filmes do gênero), sua sequência não consegue fazer nenhuma dessas coisas bem.
Entre uma espécie de “Need For Speed” pós-apocalíptico para crianças, “cachoeiras” de zumbis (que aqui parecem acrobatas de circos e são “cegos à noite" (???), uma paleta de cores laranja-fosca, e uma visão e audição sobre-humanas na cena final da doca, há um exagerado senso de melodrama narrativo.
O longa é cheio de cenas forçadamente emotivas, em que os personagens correm, atiram, fogem, matam, se matam, são mortos e choram com uma trilha sonora super emocional e desconexa. É tudo tão brega que nem os atores conseguem chorar. Quer dizer, as crianças até que conseguem kkkk.
Não há desenvolvimento de personagem aqui, e se há, é tão fraco que não dá nem valorizar. Desse modo, o elenco parece não encarnar ou acreditar no que falam ou fazem. O roteiro é cheio de diálogos didáticos e preguiçosos. Além disso, há tantas facilitações e incoerências que dá pena.
A montagem é toda picotada, e as cenas de ação parecem de algum videogame de baixo orçamento de 2010. Os carros e os zumbis são massinhas de modelar cinzas nas cenas mais frenéticas.
É tudo tão lamentável que nem o CGI presta.
Resumindo, o enredo (se podemos chamar disso) mostra bem o que acontece quando se coloca americanos dando ordens e ditando o que os outros têm de fazer num filme sul-coreano: uma completa merda.
Simplesmente Complicado
3.5 914 Assista AgoraBoa comédia romântica sobre divórcio, os recomeços da vida da protagonista (seja sozinha ou acompanhada), tentativas no amor (seja dando outra chance ao antigo, ou tentando uma nova paixão), e sobre todos os resquícios de conexão (bons ou ruins) que ligam pessoas que se amavam, que formaram uma família e que acabaram decidindo pelo fim.
Meryl Streep e Alec Baldwin compartilham entre si uma química que funciona à medida em que o humor do filme consegue fluir e a "canastrice" de Baldwin permite. O que não acontece sempre aqui.
Entre jantares, conversas animadas, sexo, amor maternal, risadas com as amigas, receitas na cozinha e tragos de maconha na festa de formatura do filho, Meryl carrega o filme nas costas. É mais uma personagem divertida, falha, gostosinha de se acompanhar e essencialmente humana. Não é uma performance forte, mas que se encaixa perfeitamente no propósito do filme.
Steve Martin está bem quando pode, apesar de soar deslocado ou não tão à vontade com o personagem, o que pesa na hora de torcermos para a formação do novo casal.
Ademais, o filme tem uma vibe legal, apesar do humor ser um pouco forçado em certos momentos. É um filme leve e simples, bem ao estilo Sessão da Tarde. Algumas boas risadas são garantidas ao longo de suas 2 horas (que soam um pouco longas demais). Especialmente pela contribuição de John Krasinski.
Butch Cassidy
4.2 284 Assista AgoraRaindrops keep falling on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turning red
Crying's not for me
'Cause I'm never gonna stop the rain by complaining
Because I'm free
Nothing's worrying me 🎼🎼
Só a música-tema do filme (que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original) já o transformaria num clássico automático, mas há mais elementos aqui que também colaboram com isso.
É interessante como o filme é dividido em 3 partes bem claras: a primeira, em que a dupla Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford), junto com sua Gangue do Buraco na Parede, planejam roubos e assaltam trens, em repetição que desenvolve o carisma, a química e o humor entre os personagens.
Depois, temos um interlúdio que introduz Etta Place (a linda Katharine Ross), professora e namorada de Kid, mas que se marca no filme numa cena engraçada e descontraída em que anda de bicicleta com Butch; enquanto toca o clássico de de B. J. Thomas, vencedor do Oscar de Melhor Canção Original.
Na segunda parte, o filme foca em um trecho longo, mas nada moroso de perseguição ininterrupta. Aqui, Roy valoriza as distâncias entre as pradarias, espaços entre os montes desérticos, olhares nervosos e silêncios quebrados pelo barulho dos cascos dos cavalos para construir tensão. Funciona bem mais do que se tivesse alguma trilha sonora sobre as cenas.
Acompanhamos a dupla tendo que fazer escolhas, bolar planos falhos para despistar os perseguidores (que nunca são mostrados de perto), e demonstrar suas fraquezas e habilidades enquanto dialogam sobre quem são aqueles que os perseguem, encaixando peças do passado para um bom desenvolvimento de personagens.
Até escaparem e viajarem para a Bolívia com Etta, numa espécie de interlúdio, com uma ótima montagem de fotos. Começando a terceira parte numa outra sequência, em que aprendem frases em espanhol para roubar bancos, jantam, riem e entram em novas perseguições que ditam uma mudança de atmosfera interessante, quase festiva e animada.
A cena em que eles leem as frases num papel enquanto pegam o dinheiro é hilária. Comicidade que logo é quebrada com o perigo constante e próximo dos xerifes e policiais; o que faz Etta ir embora.
Eles sempre estão envoltos num desejo de se tornarem "honestos", "legais", mas, aonde quer que eles vão, acabam cedendo à adrenalina e diversão efêmeras que vêm com balas, moedas e fugas.
A cena final, em que há um cerco, um tiroteio e um diálogo em que escolhem a Austrália como próximo destino, é muito bem atuada e dirigida.
Nós nunca os vemos morrer, só ouvimos os tiros e um frame congelado, que se torna a foto final de dois bons amigos enfrentando juntos o destino inescapável de suas ações de foras da lei.
Lucy In The Sky: Uma Lágrima na Imensidão
2.6 56 Assista AgoraPô, Natalie, dois filmes ruins seguidos na carreira não dá kkkk
É triste ver um elenco formado por Natalie Portman, Ellen Burstyn, Jon Hamm, Zazie Beetz e Colman Domingo ser desperdiçado e mal usado justamente por alguém que tem a série Fargo no currículo como o Noah Hawley.
É um filme que tenta falar muito e acaba ficando inconsistente.
A trama varia de um filme de astronautas para um drama, depois para uma trama novelesca de traição, casos e obsessão, depois para um existencialismo e busca por propósito, e enfim para uma enlouquecida crise existencial encabeçada por Lucy Cola, uma Natalie Portman que não consegue se salvar aqui. Nem ela...
Com uma peruca meio estranha e variações de sotaque, a personagem principal não é bem construída em quase nenhum momento. Parece tudo muito jogado.
Nem a boa cinematografia, as boas composições visuais de certas cenas (especialmente a que toca um bonito cover da música dos Beatles, que dá título ao filme; apesar do claro baixo orçamento), e a boa trilha sonora de Jeff Russo (que me lembrou um pouquinho a que Justin Hurwitz compôs para "O Primeiro Homem") conseguem suprir as falhas do longa.
Falando em "longa", é um filme que pesa na extensão. Pesa também no uso, sem finalidade narrativa clara (provavelmente só por ser "legal"), de mudanças constantes na proporção de tela. Há muitos cortes e alterações sem fluidez. E as "bordas borradas" são exageradamente usadas.
Enfim, é moroso demais e não tem muita identidade, apesar de Hawley ter tentado forçar.
Vox Lux - O Preço da Fama
2.9 223Sinceramente, queria que a Sia regravasse todas as músicas que ela compôs para esse filme. Tenho certeza que ficariam bem mais interessantes e autênticas em sua voz do que no amontoado de autotune e produção equivocada que elas tiveram na interpretação de uma Natalie Portman que parecia totalmente sem vontade de estar ali, cantando e balançando o corpo para cá e para lá nos palcos.
Pra dizer a verdade, a Natalie até que está bem, mas o filme e o roteiro não colaboram em nada.
A montagem é desinteressante, há omissões de fatos e cenas que certamente teriam impacto na construção da personagem que são colocados como uma narração em off preguiçosa e extremamente expositiva, sobre cenas em câmera lenta.
Brady usa e abusa de one-shots, que são até legais, mas que não tapam os outros buracos do longa.
O filme não consegue tratar nem desenvolver minimamente bem seus temas delicados, como tiroteios em escola, traumas, gravidez adolescente e os descompassos entre maternidade e fama.
Os personagens coadjuvantes ou aparecem pouco ou não têm emoção ou subtrama alguma. Como Eleanor Montgomery (Stacy Martin), irmã, compositora e babá de Celeste (Natalie) e sua filha, Albertine (Raffey Cassidy); ambas com atuações que vão de "ok" a bem apáticas. Jude Law, interpretando o gerente da carreira de Celeste, também é muito desperdiçado.
O final tenta empolgar com vários minutos do show de abertura da nova turnê de Celeste, mas as músicas e coreografias são chatas e sem energia. Os cortes entre danças e canções são repentinos e estranhos, e o filme acaba meio que do nada.
Cheio de questões, perguntas e pontas soltas.
É como se o filme não tivesse sequer começado, apesar das quase 2 horas. Você termina com um "Ué?"; e é isso.
Uma pena, porque poderia ter sido um filme-crítica forte sobre tudo isso que ele aborda sem saber como discorrer.
Malcolm X
4.1 267 Assista AgoraUma palavra basta: POWERFUL!
Spike Lee conduz um filme de quase 3 horas e meia com versatilidade de gêneros e estilos narrativos que impressiona. Entre paixões, roubos, gângsteres, drogas, prisão, redenção e conflitos religiosos e raciais, Lee e Denzel Washington constroem e exploram todas as facetas desse que foi um dos mais importantes e polêmicos líderes sociais dos EUA e do mundo.
É uma excelente construção de personagem, baseada em pressões, opressões e ditames que moldaram uma personalidade radical e forte.
O elenco ainda tem grandes atuações de Delroy Lindo, Angela Bassett, Al Freeman e do próprio Spike Lee.
É uma biografia completa, cheia de energia, essencial, autorreflexiva e recheada de questões que, infelizmente, ainda são mais atuais que nunca.
"Estou aqui para dizer que acuso o homem branco. O acuso de ser o maior assassino da Terra. O acuso de ser o maior sequestrador da Terra. Não há um lugar na Terra em que esse homem possa ir e dizer que criou paz e harmonia. Aonde quer que ele tenha ido, ele criou desordem, destruição... Então o acuso de ser o maior ladrão e escravizador da Terra. Ele não pode negar as acusações. Vocês não podem negar as acusações. Nós somos a prova viva delas! Vocês não são americanos: são vítimas da América!"
Enola Holmes
3.5 816 Assista AgoraEm termos de história, Enola Holmes pode soar um pouco mais longo do que deveria. Porém, alguns pontos asseguram a energia do longa. São eles: o enorme carisma de Milly Bobby Brown e suas divertidas (embora não tão refinadas) quebras da quarta parede; a montagem do filme, que sabe entrecortar e conectar o presente (os desafios e empecilhos que a personagem enfrenta) às lições e dicas que sua mãe a ensinou durante os seus 16 anos (desde técnicas de luta, decifração de códigos ou de raciocínio lógico); e um arco de evolução de personagem claro (embora um pouco previsível).
Conseguindo garantir um bom entretenimento ao longo de suas 2 horas.
Todos estão bem no elenco de apoio. O Mycroft de Sam Claflin tem mais caras e bocas e é pontualmente intenso, tentando forçar os moldes de "mulher respeitável" que a sociedade dita em Enola, através do Instituto de Etiqueta da Senhora Harrison (Fiona Shaw).
Seu outro irmão, Sherlock (Henry Cavill) aqui é mostrado num espectro menos "completamente cerebral", tendo até nuances de carinho ou afeição, quase nunca vistos em outras interpretações do personagem.
Helena Bonham Carter aparece pouco, mas dispensa comentários. Ela consegue demonstrar amor, obstinação e sagacidade como mãe, como mulher e como uma Holmes.
A atmosfera do filme é vem convidativa, o desenvolvimento e resolução do mistério do desaparecimento do Marquês Tewkesbury (Louis Partridge, vivendo o personagem subtítulo do livro no qual o filme se baseia) é operante.
A reconstrução de época é boa, assim como a cinematografia, o figurino e a trilha sonora de Daniel Pemberton.
E ainda há uma promessa e possibilidade de este ser o começo de uma franquia. Há 6 livros com a personagem principal, os quais não li, mas que certamente gostaria de ver em filmes.
O tom de aventura, de busca por significação, por propósito e liberdade excede a "busca pela mãe desaparecida", e a protagonista encerra o filme com ainda muito a galgar.
Ainda mais quando o filme trata também sobre feminismo, busca por representação feminina na política, e sobre mudanças que acontecem e que devem acontecer para que o mundo, a sociedade e o homem evoluam em conjunto.
Sobre Meninos e Lobos
4.1 1,5K Assista AgoraEastwood constrói seu drama numa direção que contempla bem todos os seus personagens. Numa história sobre perdas, traumas, culpa e remorso, o roteiro sabe mostrar que todos no longa compartilham esses pontos em suas vidas.
Com fortes atuações, o texto desenvolve personagens como Jimmy Markum (Sean Penn, vencedor do Oscar de Melhor Ator), endurecido e abalado por traições e pela perda da primeira esposa e agora de sua filha Katie (Emmy Rossum); Sean Devine (Kevin Bacon), investigador controlado, mas ressentido pelo afastamento de sua esposa grávida; seu parceiro Whitey Powers (Laurence Fishburn); e Dave Boyle (Tim Robbins, vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), um homem acuado, marcado e que carrega uma ferida de infância nunca fechada,
quando foi sequestrado e abusado sexualmente por 2 homens.
Sequestro presenciado por Jimmy e Sean, e que os assombra até a vida adulta.
“Porque, às vezes, o homem não era um homem no final. Ele era o menino. O menino que escapou dos lobos. Um animal da noite. Invisível, silencioso... Vivendo em um mundo que os outros jamais viram. Um mundo de vaga-lumes...", diz Doyle numa cena.
Como o filme avança com a investigação do assassinato de Katie, acho interessante como o roteiro consegue espalhar, desde o início, através de diálogos e cenas com dualidade, olhares, versões e gotas de sangue, suspeitas em várias vertentes.
Jimmy acredita que Katie e Brendan Harris (Tom Guilry, interpretando um garoto de pai "ausente", mãe irresponsável e irmão mudo), tinham algum relacionamento, e que este a matou. Celeste (Marcia Gay Harden, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), mulher de Dave, começa a ficar assustada e desconfiar do marido...
Gosto também como o caráter e personalidade de todos ali são postos à prova. Todos questionam e são questionados, suspeitam e se tornam suspeitos de algo, confrontam e são confrontados. E, no fim, todos sofrem de alguma maneira.
Mérito do roteiro de Brian Helgeland, que é bem articulado.
"O homem é o lobo do homem.", como diria Thomas Hobbes.
As coisas se revelam e se afunilam aos poucos, como é de se esperar de um bom filme do gênero, e, embora o desfecho do caso não seja o trecho mais inspirado do filme, e que haja certa indulgência exposta de e em alguns personagens, prezo o modo como o final não é nada catártico ou consolador para absolutamente ninguém. Como o resto do filme, é penoso e real.
Ainda temos Laura Linney, como Annabeth, mulher de Jimmy; que aparece pouco, mas que também está bem.
O longa versa bem como detalhes, acontecimentos, fatos e escolhas do passado podem manchar e abalar vidas para sempre, e reverberar devastadoramente no futuro.
"Às vezes penso que nós três entramos naquele carro. E que tudo isso foi só um sonho, sabe? Na realidade, ainda somos garotos de 11 anos, presos em um porão. Imaginando como seria nossas vidas se tivéssemos escapado..."
Personal Shopper
3.1 384 Assista AgoraNão posso negar que o filme prendeu minha atenção, mais pelo "o que esse filme está querendo dizer?" do que por qualquer outra coisa.
Porém, toda a construção de trama, que envolve muitas tentativas de abordar o luto, de viver esperando por "sinais", de se achar perdida em si e vivendo uma vida para os outros, como um fantasma esperando seu lugar no purgatório, soa monótona, desinteressante e até frustrante.
Os fade-outs entre muitas cenas são usados exageradamente e sempre aparecem como uma interrogação, sendo que quase nada é respondido sobre os personagens coadjuvantes e "subtramas", que praticamente não têm peso.
Assayas desenvolve seu filme (sem muita definição) junto à sua protagonista, que passeia entre uma curiosidade rasa por arte abstrata, o sofrimento após a morte do irmão gêmeo, viagens e compras infinitas pela Europa, mensagens de um "desconhecido", algo que consegue dar ritmo ao longa, apesar de perder a energia depois (especialmente por nunca sabermos se é uma entidade sobrenatural ou certo alguém que comete certo crime), e sobre a suposta mediunidade e busca por "contato" de Maureen Cartwright (Kristen Stewart).
Por falar nela, definitivamente é a atuação mais bem arranjada, completa e verdadeira da carreira de Kristen.
E isso já vale pelo filme, que tem um final bem "põe qualquer coisa aí", e que se sustenta completamente nas costas da atriz.
Akira
4.3 868 Assista AgoraApesar de o filme possuir algumas pontas soltas, devido à sua história complexa, cheia de personagens e críticas sociais que poderiam muito bem render uma franquia ou uma série de TV das boas, para que pudessem se desenvolver completamente, as qualidades visuais da animação e do roteiro são incríveis; tanto para a época quanto ainda hoje.
É interessante que esse filme é de 88, tem um salto temporal de 31 anos, após um desastre com uma suposta "bomba" que destruiu a antiga cidade de Tóquio (aparentemente, durante a "3ª Guerra Mundial"), se passando em 2019 (ano passado), e, em determinada cena, um personagem diz que "As Olimpíadas serão ano que vem"; ou seja: em 2020, numa "Neo Tóquio" reconstruída.
E não é que teríamos mesmo os Jogos Olímpicos de Tóquio nesse ano? Pena que foram adiados devido à Pandemia...
Não há tantas explicações sobre os experimentos feitos pelo governo em crianças e seus poderes, só o suficiente para te deixar intrigado em especulações sobre as tramas que ainda envolvem terrorismo doméstico, controle estatal, violência nas ruas, e os colapsos sociais causados quando uma população é desassistida e ignorada por aqueles que estão no poder.
É um turbilhão de caos e energia, de sangue e anarquia, de vida e escolhas, de espaço e sentimentos extremados.
É um filme japonês que toca em feridas profundas da história do país, especialmente no que se refere aos bombardeamentos terroristas dos EUA sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki.
Faltam alguns detalhes e amarrações de enredo, mas é um clássico pesado e inegável. Apesar de não ser perfeito.
"O poder de Akira existe dentro de todos nós. Mas, quando este é acordado, devemos escolher como usá-lo. Mesmo que não estejamos preparados."
Estou Pensando em Acabar com Tudo
3.1 1,0K Assista AgoraSinceramente, minha reação durante todos os 130 minutos se baseou em "WTF" atrás de "WTF".
É claro que precisarei de mais tempo para digerir melhor a miríade de diálogos complexos sobre a vida, tempo, fracassos, envelhecimento, esquecimento... Sobre física, metafísica, amor, morte, demônios internos, existência e sobre acabar com tudo.
Há muitas metáforas para se esmiuçar; há misturas, transições, estranhezas, dualidades, trialidades, "quadrialidades"...
Enfim, certamente o filme me deixou confuso, angustiado e curioso em entendê-lo melhor. Já que é bem abarcado em interpretações; muitas, inclusive.
É, por vezes, bizarro, psicologicamente assustador, complicado, mas toca em temas até bem sensíveis de uma maneira diferente, que exige reflexão.
De cara, o que sei de fato é que o elenco está um primor aqui. E os diálogos de Kaufman, apesar de longos e talvez exaustivos em certos momentos, são bem inspirados, cheios de referências, e confluem bem com atmosfera do longa.
Toni Collette é sempre tão boa em assumir personagens multifacetadas, e não é diferente aqui; entre risos e movimentos afetados, e falas arrastadas, compassadas, pela velhice, mas cheias de emoção, ela domina.
Jesse Plemons mostra indiferença, autoisolamento, preocupação, um desejo interno por controle (de situações, até de pensamentos alheios), e explosões pontuais de raiva muito bem. E é sempre ótimo assistir algo com o David Thewlis.
A cinematografia é bem enevoada, ríspida (especialmente nas cenas azuladas no carro, em que a neve agressiva investe na lataria e no vidro tal qual os pensamentos na mente dos personagens), abafada (pelo formato de tela 4;3), com tons de um sonho bagunçado ou de alguma alucinação sem freios que se torna outro dos trunfos do filme.
O monólogo inicial, a declamação do poema "BoneDog" (especialmente pela voz e olhares desolados, mas firmes de Jessie Buckley), e a cena do "balé" na escola bateram na alma.
"Estou pensando em acabar com tudo. Quando esse pensamento chega, ele permanece, continua, domina. Não há nada que eu possa fazer. Acredite. Não vai embora. Está lá, goste ou não. Está lá quando como, quando eu vou para a cama. Está lá quando eu durmo, quando acordo. Está lá. Sempre..."
Os Intrusos
2.1 94 Assista AgoraNossa boa e velha Arya Stark, Maisie Williams, está bem, encarnando Mary, aquele tipo de personagem que percebe que há algo de errado na casa e com o casal de idosos que lá vive, e que tenta, sem conseguir, convencer seus amigos disso, chegando a certos extremos.
Há algum momento tenso espalhado aqui e ali numa trama que vai girando e girando e não atinge todo o seu potencial.
O elenco é completado pelos veteranos Sylvester McCoy (como Dr. Huggins), interpretando um personagem dissimulado e quase impassível, e Rita Tushingham (como Ellen Huggins, sua esposa), com olhares pungentes e por vezes perdido, que externam insultos, ódio e certa inocência confusa e distorcida.
Como a personagem tem problemas de memória, isso proporciona cenas de intensidade interessantes entre ela e os personagens que compõe o resto do filme: Jake Curran (como Gaz), Andrew Ellis (como Terry) e Ian Kenny (como Nathan), que são bem competentes. O elenco se torna, de fato, a melhor parte do filme.
A premissa da história conta com pontos positivos, especialmente nas ideias colocadas ali, envolvendo sequestros, filhas, irmãs e namoradas perdidas, castigo e algum tipo de jogo psicótico... Mas eles não se sustentam tanto a longo de pouco mais de 95 minutos.
A grande burrice e fácil manipulação de parte dos personagens irritam, e os minutos finais são meio viajados demais e até bobos, mas o filme de Julius Berg possui algum valor de entretenimento.
"O Homem nas Trevas", de Fede Alvarez, soube se aproveitar bem mais de uma trama parecida.
Alien vs. Predador 2
2.4 413 Assista AgoraEsses dois filmes não fogem dos clichês ou tramas batidas da franquia da qual se ramifica (Alien), ou do subgênero, mas conseguem sustentar certo interesse com personagens minimamente mais trabalhados, boas cenas de ação, bons efeitos especiais e práticos (como todos os outros longas), e com decente construção de claustrofobia e suspense (no primeiro), e de urgência (no segundo).
O cenário inexplorado da Terra (para os filmes Alien) dá algumas novas possibilidades para que os diretores criem subtramas interessantes com o horror e ansiedade dos humanos frente às criaturas vagando por vilas baleeiras supostamente abandonadas, geleiras que encobrem pirâmides desconhecidas na Antártida, por esgotos, usinas de energia, bosques ou por avenidas... Possibilidades que são usadas um pouco, embora tivessem mais potencial.
A mitologia de Alien e do Predador, misturada a elementos histórico-culturais humanos (do primeiro filme), funciona bem.
As perseguições e embates do tipo caça-e-caçador entre as criaturas proporcionam as sequências mais agitadas e brutais dos filmes. O modo como as duas raças exploram todas as suas habilidades, naturais ou tecnológicas (a cauda, o exoesqueleto e o sangue corrosivo do Xenomorfo; as garras, lanças e armaduras do Predador) é bem legal.
O elenco dos dois filmes é bom, fazem o que dá pra fazer enquanto o destaque claro é dos alienígenas se pegando na porrada e se matando no escuro e na chuva. Destaque para Sanaa Lathan, no primeiro, e Steven Pasquale, no segundo.
O final do segundo filme, inclusive, até soa como um tipo de retcon ou prequel para a história da franquia Alien; ao menos no que diz respeito à Megacorporação Weyland-Yutani.
Alien: A Ressurreição
3.1 488 Assista AgoraApós ter visto todos os filmes da franquia Alien há alguns meses, e deixado esse para depois por motivos de esquecimento, resolvi encerrar de vez; mesmo sabendo que esse é o menos querido entre os 6 filmes.
Bem, Jeunet não soube criar ou desenvolver tensão e suspense, o que já é metade do caminho para o erro numa franquia baseada nisto (em tese). Mas a ação também não é tão inspirada, e os personagens (novos ou velhos), assim como a trama escrita por Joss Whedon, são bem descartáveis e não acrescentam nada de interessante à franquia.
Winona Ryder e Ron Perlman são desperdiçados com personagens desenvolvidos em cima de carisma ou babaquice em excesso e que não geram nenhum apelo ou interesse por suas histórias pouco exploradas. Já Sigourney Weaver tem sua personagem icônica completamente desconstruída sem a mínima precisão ou respeito. Depois de 200 anos da morte de Ellen Ripley, cientistas clonam a Tenente. Só que a nova personalidade fria e robótica destoa demais do que havíamos visto antes. Não funciona. Ela só tem uma cena boa, e nada mais.
Coitada da Ripley, e coitada da Sigourney, que foi "ressuscitada" depois de um terceiro filme já ruim para fazer um pior.
O Xenomorfo, sendo tratado como "lindo bebê" e assumindo retoques de hibridismo humano (com a xenomorfa Rainha desenvolvendo um "útero", e seu "filho" tendo um crânio semelhante ao humano), perde todo o seu senso de ameaça. E a relação e sentimentos estranhamente maternos entre ele e a cópia de Ripley soam bobos e sem sentido.
O filme certamente tem algum valor de produção, em maquiagem, próteses e efeitos práticos gerais, ao passo que os efeitos especiais são bem fracos.
Um final de sábado bem mais ou menos.