O filme é, na maior parte do tempo, um teste de paciência, mas a personagem Dora até reflete bem alguns brasileiros que, na melhor das hipóteses, sentem uma desconexão e, na pior, um certo desdém pelo próprio país e cultura. Marília Hughes e Cláudio Marques têm boas intenções e tentam trazer à tona as possibilidades que surgem quando se permite conhecer as próprias raízes. O que falta é um roteiro que se equipare, já que os conflitos não são bem articulados nem resolvidos de forma convincente. Além disso, as atuações são mecânicas e os diálogos soam quase todos forçados. Salva-se pela fotografia, com belas imagens do Santo Antônio Além do Carmo, do Dique do Tororó e da Festa de Iemanjá.
Nada muito informativo, esclarecedor, muito menos controverso aqui. Só uma dúzia de celebridades contando suas experiências com psicodélicos, acompanhadas de representações visuais sem nenhuma intenção de realismo. Fora isso, algumas paródias de campanhas antidrogas forçando a barra para parecer engraçadas.
"A vida não vai melhorar. É tudo uma questão de agonia. Essa agonia começou desde que você nasceu. Você acha que um lugar novo vai alterar o seu destino? Novo lugar, novos sofrimentos."
A diretora Marília Rocha capta com grande naturalidade a experiência de ser um expatriado e aí está o grande mérito e fraqueza do filme. Ao mesmo tempo em que questões como a busca por um apartamento soam realistas e familiares a qualquer imigrante, dando um ar documental à obra, um pouco mais de conflito seria oportuno para desenvolvimento mais profundo das personagens. A propósito, é um deleite ouvir o sotaque português e o mineiro num mesmo filme.
Andrey Zvyagintsev não faz julgamentos morais em Elena, um retrato franco das diferenças de classe na Rússia moderna, contada através de um dilema ético em relação a um processo de herança. Lançado 8 anos antes de Parasita de Bong Joon-ho, não pude deixar de traçar paralelos entre as duas narrativas.
"It was really absurd in a way. I mean, he had this curious quirk strange characteristic. And for a time everyone loved him, and then people stopped loving him and then he did this stunt, you know, with the airplane, and then everybody loved him again. That's what the 20s were like and, you know, if you think about it, has America changed so much? I don't think so."
Warwick Thornton, que assina a direção e a fotografia desse meat pie western, utiliza o cenário espetacular do Outback australiano para contar uma história de racismo e injustiça contra o povo aborígene nos anos 1920s. Empregando-se magistralmente de flashbacks e flash-forwards, o filme é um triunfo que transita naturalmente do western ao drama de tribunal e culmina em um final no estilo de O Sol É para Todos. Um estudo essencial e tópico sobre colonialismo que gera reflexão sobre o papel dos aborígenes na construção da Austrália e as injustiças perpetradas contra essa população, um debate longe de acabar no país e que tem inspirado filmes excelentes.
O melhor filme de Marco Berger até o momento. Os protagonistas são mais complexos e o roteiro é mais bem desenvolvido do que nos filmes anteriores, além de estarem presentes os elementos característicos de sua filmografia - os personagens lacônicos, a tensão sexual, o voyeurismo -, que se tornaram marca registrada do diretor.
A cena inicial se passa em Hohenschönhausen, antiga prisão política da Stasi (hoje museu e memorial em Berlim), mas não foi gravada lá. Knabe, o diretor do memorial, recusou-se a autorizar a gravação pelo modo como um homem da Stasi é retratado como herói no filme. Donnersmarck argumentou que A Lista da Schindler utilizou a mesma narrativa. Knabe respondeu: "Essa é exatamente a diferença. Existiu um Schindler. Nunca existiu um Wiesler".
Vale a pena refletir sobre a glorificação de membros de organizações criminosas e autoritárias, em detrimento das vítimas e das pessoas que realmente lutaram contra esses sistemas opressores.
Toni Erdmann é uma sátira mordaz ao sistema capitalista e ao mundo globalizado, no qual predomina a lógica de produtividade e as pessoas vivem para o trabalho. Até mesmo os convidados para festas de aniversário são colegas de empresa.
"Quem mais virá?" "Basicamente minha equipe do escritório."
Uma mulher que precisa provar todos os dias o seu valor e não consegue terminar uma frase sem ser interrompida. Para ser alguém, não basta existir, é preciso ter sucesso, sempre. "Uma nova geração de executivos - todos fazem mestrado no exterior, são poliglotas, muito dedicados, pensam de forma internacional."
Toni Erdmann é sobre um pai tentando se reaproximar da filha, agindo da forma mais ridícula possível, para fazê-la enxergar que a vida é mais do que uma lista de afazeres.
Enquanto seus pais se envolvem em discussões e novos relacionamentos, Alyosha, o filho de um casal em processo de divórcio desaparece. Zvyagintsev utiliza essa família disfuncional como cenário para retratar a sociedade russa contemporânea.
A negligência parental e o nelyubov (o desamor, o anti-amor) são temas em foco durante toda a obra, desde o modo como Zhenya trata seu filho, passando pela relação problemática desta com sua própria mãe, até a relação de Boris com seu filho mais novo nos minutos finais. O roteiro é afiado e constrói através de diálogos ríspidos a dureza e agressividade nas relações entre os personagens.
Em meio a trama, são feitos vários comentários sobre o estado da sociedade russa. Tão negligentes como os pais são as instituições: a busca por Alyosha é conduzida por um grupo de voluntários enquanto a polícia se abstém, alegando que há "situações mais importantes do que procurar por um adolescente sumido".
É retratado também o poder da Igreja Ortodoxa Russa e sua influência na relações pessoais e até mesmo trabalhistas, pelo medo de Boris de ser demitido após o divórcio. Em uma das poucas cenas de humor, descobre-se que um dos empregados chegou ao ponto de levar uma família falsa para um confraternização.
Merece destaque a excelente fotografia, que transmite de forma onipresente a dureza do clima russo, e se equipara à frieza e à hostilidade das relações humanas vistas durante todo o filme.
Tem um roteiro tão trivial que não chamaria muita atenção, não fossem as 2h40 de auto-indulgências, extravagâncias e exibicionismos na direção. Com atuações pobres e diálogos que não têm muito a dizer, Gaspar Noé gasta €12 milhões num exercício de ego e sai bem-sucedido na tarefa de irritar o espectador.
Depois de assistir ao filme, pouco se sabe, por exemplo, sobre as ideias de Fernanda, além de que acha Salvador quente e ouve Sex Pistols. Se os personagens secundários tivessem melhor desenvolvimento, talvez o filme fosse mais incisivo nas ideias que quer levantar, já que Caio também nunca tem muito a dizer.
Mais do que um filme sobre culinária, 'Chef' é um filme sobre um artista, sua relação com quem financia sua arte e com os críticos, liberdade criativa, a dicotomia sucesso de público x sucesso de crítica, relações familiares, além do impacto - negativo e positivo - da imprensa e das redes sociais (mais relevante do que nunca). O filme consegue interligar todos esses temas e discuti-los muito bem. Fotografia e trilha sonora são um prazer à parte, além dos pratos deliciosos. Fiquei com vontade de sair viajando pra conhecer a culinária de cada local. Assisti pelo elenco e me surpreendi.
Guerra de Algodão
2.6 27 Assista AgoraO filme é, na maior parte do tempo, um teste de paciência, mas a personagem Dora até reflete bem alguns brasileiros que, na melhor das hipóteses, sentem uma desconexão e, na pior, um certo desdém pelo próprio país e cultura. Marília Hughes e Cláudio Marques têm boas intenções e tentam trazer à tona as possibilidades que surgem quando se permite conhecer as próprias raízes. O que falta é um roteiro que se equipare, já que os conflitos não são bem articulados nem resolvidos de forma convincente. Além disso, as atuações são mecânicas e os diálogos soam quase todos forçados. Salva-se pela fotografia, com belas imagens do Santo Antônio Além do Carmo, do Dique do Tororó e da Festa de Iemanjá.
O Beijo no Asfalto
4.1 95"Todo filme é um documentário sobre sua própria criação." (Jacques Rivette)
Cidade Baixa
3.4 356 Assista AgoraMais baiano do que isso é impossível.
Dançando no Escuro
4.4 2,3K Assista AgoraSe ao mesmo a Selma tivesse se mudado para um país com sistema público de saúde...
Nuvens Passageiras
4.0 20Não está fácil pro trabalhador nem na Finlândia...
Maior Viagem: Uma Aventura Psicodélica
3.7 76Nada muito informativo, esclarecedor, muito menos controverso aqui. Só uma dúzia de celebridades contando suas experiências com psicodélicos, acompanhadas de representações visuais sem nenhuma intenção de realismo. Fora isso, algumas paródias de campanhas antidrogas forçando a barra para parecer engraçadas.
Um Elefante Sentado Quieto
4.2 61"A vida não vai melhorar. É tudo uma questão de agonia. Essa agonia começou desde que você nasceu. Você acha que um lugar novo vai alterar o seu destino? Novo lugar, novos sofrimentos."
Reino Animal
3.6 172 Assista AgoraCompletamente confuso com esses criminosos que se parecem uns com os outros.
A Cidade Onde Envelheço
3.6 130 Assista AgoraA diretora Marília Rocha capta com grande naturalidade a experiência de ser um expatriado e aí está o grande mérito e fraqueza do filme. Ao mesmo tempo em que questões como a busca por um apartamento soam realistas e familiares a qualquer imigrante, dando um ar documental à obra, um pouco mais de conflito seria oportuno para desenvolvimento mais profundo das personagens. A propósito, é um deleite ouvir o sotaque português e o mineiro num mesmo filme.
Elena
3.5 46Andrey Zvyagintsev não faz julgamentos morais em Elena, um retrato franco das diferenças de classe na Rússia moderna, contada através de um dilema ético em relação a um processo de herança. Lançado 8 anos antes de Parasita de Bong Joon-ho, não pude deixar de traçar paralelos entre as duas narrativas.
Zelig
4.2 355"It was really absurd in a way. I mean, he had this curious quirk strange characteristic. And for a time everyone loved him, and then people stopped loving him and then he did this stunt, you know, with the airplane, and then everybody loved him again. That's what the 20s were like and, you know, if you think about it, has America changed so much? I don't think so."
Doce País
3.6 25Warwick Thornton, que assina a direção e a fotografia desse meat pie western, utiliza o cenário espetacular do Outback australiano para contar uma história de racismo e injustiça contra o povo aborígene nos anos 1920s. Empregando-se magistralmente de flashbacks e flash-forwards, o filme é um triunfo que transita naturalmente do western ao drama de tribunal e culmina em um final no estilo de O Sol É para Todos. Um estudo essencial e tópico sobre colonialismo que gera reflexão sobre o papel dos aborígenes na construção da Austrália e as injustiças perpetradas contra essa população, um debate longe de acabar no país e que tem inspirado filmes excelentes.
Um Loiro
3.7 76O melhor filme de Marco Berger até o momento. Os protagonistas são mais complexos e o roteiro é mais bem desenvolvido do que nos filmes anteriores, além de estarem presentes os elementos característicos de sua filmografia - os personagens lacônicos, a tensão sexual, o voyeurismo -, que se tornaram marca registrada do diretor.
Duas ou Três Coisas que Eu Sei Dela
3.7 82 Assista Agora"Os objetos existem. Se prestamos mais atenção a eles do que às pessoas, é porque eles existem mais do que as pessoas."
A Vida dos Outros
4.3 645A cena inicial se passa em Hohenschönhausen, antiga prisão política da Stasi (hoje museu e memorial em Berlim), mas não foi gravada lá. Knabe, o diretor do memorial, recusou-se a autorizar a gravação pelo modo como um homem da Stasi é retratado como herói no filme. Donnersmarck argumentou que A Lista da Schindler utilizou a mesma narrativa. Knabe respondeu: "Essa é exatamente a diferença. Existiu um Schindler. Nunca existiu um Wiesler".
Vale a pena refletir sobre a glorificação de membros de organizações criminosas e autoritárias, em detrimento das vítimas e das pessoas que realmente lutaram contra esses sistemas opressores.
Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência
3.6 267 Assista Agora♪ Uppå halta Lottas krog i Göteborg ♪
As Faces de Toni Erdmann
3.8 257 Assista Agora"Você faz tudo como se fosse obrigada. Parabéns!"
Toni Erdmann é uma sátira mordaz ao sistema capitalista e ao mundo globalizado, no qual predomina a lógica de produtividade e as pessoas vivem para o trabalho.
Até mesmo os convidados para festas de aniversário são colegas de empresa.
"Quem mais virá?" "Basicamente minha equipe do escritório."
Uma mulher que precisa provar todos os dias o seu valor e não consegue terminar uma frase sem ser interrompida. Para ser alguém, não basta existir, é preciso ter sucesso, sempre. "Uma nova geração de executivos - todos fazem mestrado no exterior, são poliglotas, muito dedicados, pensam de forma internacional."
Toni Erdmann é sobre um pai tentando se reaproximar da filha, agindo da forma mais ridícula possível, para fazê-la enxergar que a vida é mais do que uma lista de afazeres.
Sem Amor
3.8 319 Assista AgoraEnquanto seus pais se envolvem em discussões e novos relacionamentos, Alyosha, o filho de um casal em processo de divórcio desaparece. Zvyagintsev utiliza essa família disfuncional como cenário para retratar a sociedade russa contemporânea.
A negligência parental e o nelyubov (o desamor, o anti-amor) são temas em foco durante toda a obra, desde o modo como Zhenya trata seu filho, passando pela relação problemática desta com sua própria mãe, até a relação de Boris com seu filho mais novo nos minutos finais. O roteiro é afiado e constrói através de diálogos ríspidos a dureza e agressividade nas relações entre os personagens.
Em meio a trama, são feitos vários comentários sobre o estado da sociedade russa. Tão negligentes como os pais são as instituições: a busca por Alyosha é conduzida por um grupo de voluntários enquanto a polícia se abstém, alegando que há "situações mais importantes do que procurar por um adolescente sumido".
É retratado também o poder da Igreja Ortodoxa Russa e sua influência na relações pessoais e até mesmo trabalhistas, pelo medo de Boris de ser demitido após o divórcio. Em uma das poucas cenas de humor, descobre-se que um dos empregados chegou ao ponto de levar uma família falsa para um confraternização.
Merece destaque a excelente fotografia, que transmite de forma onipresente a dureza do clima russo, e se equipara à frieza e à hostilidade das relações humanas vistas durante todo o filme.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 871 Assista AgoraTem um roteiro tão trivial que não chamaria muita atenção, não fossem as 2h40 de auto-indulgências, extravagâncias e exibicionismos na direção. Com atuações pobres e diálogos que não têm muito a dizer, Gaspar Noé gasta €12 milhões num exercício de ego e sai bem-sucedido na tarefa de irritar o espectador.
Columbus
3.8 129Columbus é para a arquitetura o que Paterson é para a poesia.
Depois da Chuva
2.9 50Depois de assistir ao filme, pouco se sabe, por exemplo, sobre as ideias de Fernanda, além de que acha Salvador quente e ouve Sex Pistols. Se os personagens secundários tivessem melhor desenvolvimento, talvez o filme fosse mais incisivo nas ideias que quer levantar, já que Caio também nunca tem muito a dizer.
Chef
3.7 784 Assista AgoraMais do que um filme sobre culinária, 'Chef' é um filme sobre um artista, sua relação com quem financia sua arte e com os críticos, liberdade criativa, a dicotomia sucesso de público x sucesso de crítica, relações familiares, além do impacto - negativo e positivo - da imprensa e das redes sociais (mais relevante do que nunca). O filme consegue interligar todos esses temas e discuti-los muito bem. Fotografia e trilha sonora são um prazer à parte, além dos pratos deliciosos. Fiquei com vontade de sair viajando pra conhecer a culinária de cada local. Assisti pelo elenco e me surpreendi.
Ela
4.2 5,8K Assista AgoraDeveria ser proibido dublar esse filme.
2 mais 2
3.1 120 Assista AgoraUm bom retrato de uma sociedade que se diz liberal, mas que, no fundo, ainda mantém o conservadorismo.