O maior mérito deste filme foi ser um dos primeiros a seguir o movimento Dogma, uma tentativa de se buscar um cinema mais genuíno, abdicando de uma série de trucagens em favor do essencial. Tirando isso, não passa de um retrato pretensamente cáustico e iconoclasta de uma família desmoronando durante o aniversário do patriarca. Muito cartaz para pouca fita.
O primeiro clássico do "mockumentary". Uma tiração de sarro com os maiores clichês sobre o rock. O início da colaboração de Christopher Guest (aqui, ator e corroteirista) com um grupo estável de atores a fim de realizarem outros filmes na mesma linhagem, tanto sobre exposições de cachorros (The Best In Show) quanto a música folk (A Mighty Wind) ou qualquer outro assunto, aliando esculhambação com ternura. Isto é...
Outro filme menor do profílico Stephen Frears. Entre mostrar a descoberta do mundo por um tímido garoto de sete anos durante a década de 30, em meio à pobreza da sua família, e a enojante sedução do fascismo para indivíduos no limite da falta de condições de sustento, o roteiro não consegue apresentar excelência em nenhuma dessas vertentes. No elenco, além do pequeno Anthony Borrows, destaca-se Ian Hart, que interpreta o pai de Liam, um homem acossado pelo desemprego e atraído por um grupo de antissemitas que usa a insatisfação das classes baixas como pretexto para perpretar o ódio racial. É desses filmes que poderiam ser ótimos, caso houvesse mais empenho de quem os realizou.
Esse filme deveria ser mostrado a todos os produtores que se recusam a oferecer bons papeis a atrizes que passaram dos cinquenta anos. Michelle Pfeiffer é a alma deste filme, convincente no papel de Lea, uma mulher sensual às portas da meia-idade e ainda capaz de se abrir ao amor, apesar de ser uma cortesã. Chega a ser doloroso o descompasso entre ela e seu jovem amante, Chéri (Rupert Friend, mediano), levado pela própria mãe, também cortesã (Kathy Bates), para que sua colega o inicie sexualmente, mas não a ponto de aceitar o filho se envolvendo de forma mais intensa com Lea. Porém, mesmo com um material tão rico nas mãos, Stephen Frears não se inspira o bastante para tornar "Chéri" um filme memorável. Não chega a ser um ponto baixo em sua carreira, mas é sabido que Frears é capaz de fazer melhor que isso.
Stephen Fry é Wilde. Fato. Após este filme, será quase impossível, ao ler algum livro do escritor irlandês ou qualquer notícia a seu respeito, ignorar a imagem do seu intérprete nesta cinebiografia honesta e digna. Em vez de, como diria o crítico Inácio Araújo, representar um personagem real do berço ao túmulo, começa mostrando um Wilde já consagrado enquanto escritor, descobrindo sua verdadeira sexualidade, culminando no seu rumoroso caso com o jovem Alfred Douglas, codinome "Bosie", sua maior paixão e o responsável pela sua ruína total. Em contraste, vemos a resignada esposa de Wilde, Constance (Jennifer Ehle), ao seu lado até o limite de suas forças. Jude Law convence no papel do frívolo Bosie, bem como Tom Wilkinson interpretando seu pai, o Marquês de Queensberry, a representar a hipocrisia da sociedade inglesa quanto ao "amor que não ousa dizer seu nome". Porém, em particular, a presença de Robbie Ross (Michael Sheen) é a mais memorável de todas, depois da incorporação de Wilde por Stephen Fry. O melhor amigo do escritor, responsável pelo despertar da sua homossexualidade (em uma cena notável) e, ao mesmo tempo, a única pessoa que permaneceu ao seu lado, mesmo depois do escândalo que levou à condenação de Wilde a trabalhos forçados e, em seguida, do ostracismo e repúdio dos que, antes disso, o saudavam como um dos grandes nomes da literatura de língua inglesa. Um filme altamente recomendável. Pelo menos aos de mente aberta.
Tim Robbins é daqueles artistas que não disfarçam suas preferências políticas ao se lançarem à realização de filmes. "O Poder Vai Dançar", a pretexto de centrar-se numa controversa encenação teatral dirigida por Orson Welles nos anos 30, mostra uma simpatia pelo liberalismo e a defesa da liberdade de expressão, ainda mais quando ameaçada num contexto histórico de ascensão do fascismo na Europa e o prenúncio da caça às bruxas do macartismo nos anos 50. Com um vasto e excelente elenco, que atua com notável boa vontade, "O Poder Vai Dançar", a despeito de algumas licenças estéticas quanto à caracterização de alguns personagens reais (custava terem feito um Orson Welles mais convincente?), é um filme divertido e que permite algumas reflexões sobre política, arte e o perigo de se misturá-los.
Whodunit? Este filme tinha tudo para ser o típico "golpe do grande elenco": produções cujo único mérito é a presença de com atores e atrizes de várias idades e países em uma trama genérica qualquer. O risco aumenta quando se trata de um roteiro baseado num romance de Agatha Christie. Porém, o resultado, aqui, compensa o esforço. Até porque Sidney Lumet, por sua larga experiência na televisão antes do cinema, sabia quando deixar o estilo de lado em favor do entretenimento puro. E embora Albert Finney pareça um tanto deslocado no papel do detetive Poirot, se comparado à desenvoltura de Peter Ustinov em outras adaptações de livros da mesma autora, as interpretações, no geral, convencem. Para apreciadores de tramas rocambolescas, vale a pena.
Enquanto ator, Ben Stiller vinha de uma série consecutiva de atuações irritantes em comédias de sorriso amarelo, quando muito. Já enquanto diretor, estava devendo um filme de impacto, daqueles a justificar a persistência nessa profissão. "Trovão Tropical" redimiu a carreira de Ben Stiller em todos os sentidos. Merecido êxito de público e crítica, é impiedoso ao se referir a estrelas de filmes de ação que lutam para serem reconhecidos por seus dotes dramáticos(Stallone?), a atores que confundem transformação física com interpretação (Christian Bale?) e a humoristas que se servem da escatologia como a única fonte para fazerem graça (a lista é longa...). Obtendo um notável equilíbrio entre atuações substanciosas e o humor em suas várias possibilidades, "Trovão Tropical" remodela diversos clichês, resultando em um filme original, mais do que assistível.
Uma boa premissa, por si só, jamais justifica um filme. Por mais peculiar que seja. Alguém deveria dizer isso a James Franco quando mudar de posição perante uma câmera. Porque "Eu, Eu Mesmo e o Macaco" tinha tudo para ser um filme insólito sobre a criação artística, a necessidade de isolamento para a sua realização e os percalços do mundo cotidiano. E imaginar um macaco falante e inconveniente a servir de antagonista tornaria tudo ainda mais curioso. Infelizmente, o resultado final é pífio. Melhor sorte numa próxima, James.
Fosse apenas pelo prólogo expressionista, ou por todas as cenas com o Drácula envelhecido, este filme seria excelente. Contudo, Coppola está no meio do caminho entre a liberdade autoral e a produção por encomenda. Cineastas feito ele conseguem, nos dizeres de Scorsese, "contrabandear" elementos estilísticos mesmo nos filmes mais comerciais. Porém, a atuação bisonha de Keanu Reeves e uma certa falta de rumo na metade final do filme deixam "Drácula" aquém do esperado. Winona Ryder, ao menos, convence como o objeto de um desejo que os séculos não conseguiram destruir. E Gary Oldman... bem, ele É Drácula. Isso diz tudo.
Este documentário consegue, a um só tempo, ser um documento histórico e um agradável retrato musical de Seattle, tornando-a identificável com todo lugar longe dos epicentros culturais onde pessoas imbuídas do espírito do do-it-yourself, em vez de reclamar do marasmo, preferem derrubá-lo. Vale destacar, além dos ônus e bônus advindos da explosão chamada Nirvana, a abordagem crítica do subsequente modismo "grunge". Se você é estudante do ensino médio e sua professora vier a passar este filme em sala de aula, você certamente estuda na escola dos sonhos.
Carla Camurati conseguiu fazer um filme bem mais simpático e bem resolvido que "Carlota Joaquina". Um filme na média, válido pelo elenco de veteranos. Marco Nanini, embora bom ator, nem sempre convence em cena. Assistível.
Voltamos a Noah Baumbach e o modo insólito como ele alia acertos de contas familiares com referências intelectuais, alternando estranheza e familiariedade. Ei-lo, agora, a falar de uma escritora (Nicole Kidman) que se mostra um desastre ao lidar com as emoções alheias. Partindo com seu filho adolescente para visitar a irmã (Jennifer Jason Leigh, então esposa do diretor) no interior, em pouco tempo demonstra ser exatamente o oposto de sua parenta, uma mulher simpática e desencanada. Já o filho da escritora é um adolescente tão podado pela mãe que precisa se trancar no banheiro de um trem em movimento para poder gritar e extravasar toda a tensão gerada pela incompreensão materna. Some-se isso ao noivo (um Jack Black incrivelmente contido), de quem não se sabe se será realmente um bom marido, e a outros personagens que apenas realçam os contrastes entre as irmãs, e eis uma visão das mais incômodas sobre o relacionamento fraterno entre pessoas completamente descompassadas. Quem assistiu ao filme "A Lula e a Baleia" notará alguns pontos em comum com este filme. O tempo, porém, dirá se essas semelhanças consistirão num estilo baumbachiano ou se virarão meros cacoetes.
Devo adiantar que "A Lula e A Baleia" não é um filme pelo qual eu me encantei logo de cara. Porém, ao repassar a trajetória de dois irmãos lidando com a separação de seus pais na Nova York dos anos 80, o filme cresceu bastante na minha mente. É chover no molhado apontar o ótimo trabalho de Jeff Daniels e Laura Linney interpretando o casal partido, ambos escritores, cujas carreiras seguem direções opostas: ele para baixo, ela para cima. A princípio, cada filho parece ter suas preferências bem definidas, como torcedores de futebol. Walt (um Jesse Eisenberg aceitável), talvez por sua adolescência e por ser homem, afina-se mais com o pai. Frank (o ótimo Owen Kline, filho de Kevin Kline), ainda pré-adolescente, mais frágil, toma partido da mãe. Felizmente o filme não se reduz a essa divisão estanque. A presença de uma das alunas do escritor (Anna Paquin) e do novo namorado da escritora (William Baldwin) faz a trama mais dinâmica e complexa. Particularmente, os instantes insólitos de Frank ao telefone ou em frente ao espelho são os mais peculiares do filme. Escapando de ser um filme pernóstico e arrogante, "A Lula e A Baleia" surpreende pela sua honestidade ao falar da tal infelicidade que atinge a todas as famílias. Mesmo as mais intelectualizadas.
Como usar um caso real de contraespionagem nos estertores da Guerra Fria, envolvendo um dos mais exemplares agentes da CIA que acaba sendo investigado por um colega mais novo, e fazer dessa premissa um filme verdadeiramente adulto, sem ofender a inteligência alheia e capaz de tratar de temas feito o patriotismo, o senso de dever e outras questões dignas de reflexões as mais profundas? "Quebra de Confiança" equivale à soma disso tudo. As ótimas atuações do trio principal são valorizadas pela direção sóbria e segura, sem pirotecnias vulgares nem reviravoltas estéreis. Creio que o futuro fará um bem danado a esse filme. Que mais pessoas o descubram.
Por não ter sido da geração harrypottermaníaca, ver Rupert Grint fora dessa série de filmes não pareceu grande coisa. Contudo, nota-se que é um bom ator, daqueles que torcemos para que escolha bem seus futuros projetos, ainda mais por ter alcançado a fama muito novo. Este filme pretensamente edificante, que remete levemente a um clima "Harold and Maude" (vide "Ensina-me a Viver"), trata-se daquelas típicas produções inglesas assistíveis cujo elenco é a grande atração, senão a única. Julie Walters faz a típica senhora despachada que tira um jovem travado, filho de uma mãe castradora (Laura Linney) de uma vida entorpecida e lhe mostra um novo rumo para sua existência. Simpático, porém na média.
Ao saber que se tratava de outra incursão de Ethan Hawke na direção, procurei ter mais boa vontade, depois do frustrante "Dramas e Sonhos". Visualmente, o filme seus momentos de beleza, em especial quando William e Sarah vão para o México. Aliás, Catarina Sandino Moreno é o grande motivo para assistir a "Um Amor Jovem". Em compensação, Mark Webber está um tanto passado para interpretar mais um jovem sem rumo, o que faz a escalação do próprio Ethan interpretando o pai do protagonista parecer ainda mais inadequada. Há outros bons atores no elenco, mas o roteiro um tanto auto-indulgente não ajuda muito. Boa tentativa, Ethan. Mas ainda está devendo um bom filme.
Uma obra menor do mestre Manoel. Ainda assim, capaz de suscitar reflexões sobre o amor. Destaque para as participações da pianista Maria João Pires e do cantor Pedro Abrunhosa.
O filme da "retomada do cinema brasileiro", conforme os almanaques da vida. Mais um pretexto para professoras de História preguiçosas "ensinarem" seus alunos. E um filme superestimado em demasia. Engraçado como há tanta gente que deplora o cinema brasileiro por conta de cenas de nudez, sexo e palavrões, mas dá valor a projetos de comédia feito "Carlota Joaquina". Claro que há algumas boas atuações. Porém, é muito pouco para tanto cartaz que oferecem a este filme.
Realizar um filme ambientado nos anos 50 durante os extravagantes anos 80, ainda mais pelas mãos de um cineasta bem ambientado nesta época? Poderia ser um desastre. Felizmente, as qualidades de "Absolute Beginners" superam seus defeitos. Destaque para a aparição de Ray Davies, vocalista do clássico conjunto The Kinks, no papel do pai do protagonista. Curiosamente, a participação de David Bowie é a mais dispensável do conjunto, compensada pela ótima música-tema homônima (recomendo a versão original, com mais de oito minutos). Equilibrando a trama com números musicais adequados, temos um filme que vale a pena ser reavaliado.
Ethan Hawke, em seu longa-metragem de estreia na direção, não conseguiu fazer um filme emocionante, apesar do ambiente promissor (o mítico Chelsea Hotel, em Nova York) e do bom elenco. Falta empatia, para não dizer outras qualidades. Salva-se apenas a participação do legendário cantor Jimmy Scott, em especial quando ele canta "Jealous Guy", de John Lennon, numa versão doída e plena de sentimento. Bem o contrário do resto do filme.
Adaptar Shakespeare para o cinema é cada vez mais desafiador. Pretender ser fiel à época em que as peças são ambientadas pode ser um desastre caso este seja seu único mérito. O ideal é preservar a essência de seus personagens, não importando a fidelidade histórica. Disto isso, "Titus", extraído da mais sanguinolenta das peças shakespearianas, parte para mais liberdade do que o usual, por conta do estilo exuberante de sua diretora, Julie Taymor, egressa da Broadway, o que explica a grandiloquência deste filme. Unir elementos da Roma antiga, época em que a peça acontece, com elementos do fascismo europeu dos anos 30 e 40, consiste numa saída coerente com o teor macabro da trama. Contudo, apesar do apuro estético e das atuações primorosas de Anthony Hopkins e Jessica Lange, fica a impressão de que este filme poderia ser melhor elaborado. Enfim, vale para apreciadores de Shakespeare, nem que seja para horrorizar os puristas.
Para provar que nem todo filme de época precisa recender a mofo ou parecer um camafeu, eis "A Essência da Paixão". Mostrando que, a despeito de ser uma nação relativamente nova e menos estratificada do que a Inglaterra, os EUA também tiveram sua parcela de hipocrisia nas altas classes. A ponto de ser possível à imaginação da escritora Edith Wharton criar a figura, ora trágica, ora patética, da desventurada Lily Barth, encarnada com profundidade pela subestimada Gillian Anderson. Aliás, atuações boas sobram neste filme: desde a sempre ótima Laura Linney, passando por Jodhi May até os mais surpreendentes Eric Stoltz e Dan Aykroyd. Terence Davies, um diretor cujo estilo não costuma ser dos mais palatáveis, sempre permeado por um intenso sabor de nostalgia, está mais acessível nesta produção, onde seu estilo se mostra com mais nitidez numa determinada cena, sem palavras nem atores, apenas a música e a câmera se movendo sempre em frente, em meio a paisagens campestres. Dizem os fãs da escritora Edith Wharton que este filme é mais fiel ao livro em que se baseou do que "A Época da Inocência", de Martin Scorsese, adaptado de outra obra sua com o mesmo nome. Mesmo sem condições de avaliar sobre a fidelidade desses filmes às obras de onde se basearam, digo que "A Essência da Paixão" soa mais convincente do que "A Época da Inocência", com todo o respeito ao grande Scorsese. Recomendado.
Festa de Família
4.2 397 Assista AgoraO maior mérito deste filme foi ser um dos primeiros a seguir o movimento Dogma, uma tentativa de se buscar um cinema mais genuíno, abdicando de uma série de trucagens em favor do essencial. Tirando isso, não passa de um retrato pretensamente cáustico e iconoclasta de uma família desmoronando durante o aniversário do patriarca. Muito cartaz para pouca fita.
Isto É Spinal Tap
3.9 147O primeiro clássico do "mockumentary". Uma tiração de sarro com os maiores clichês sobre o rock. O início da colaboração de Christopher Guest (aqui, ator e corroteirista) com um grupo estável de atores a fim de realizarem outros filmes na mesma linhagem, tanto sobre exposições de cachorros (The Best In Show) quanto a música folk (A Mighty Wind) ou qualquer outro assunto, aliando esculhambação com ternura. Isto é...
Liam
3.6 7Outro filme menor do profílico Stephen Frears. Entre mostrar a descoberta do mundo por um tímido garoto de sete anos durante a década de 30, em meio à pobreza da sua família, e a enojante sedução do fascismo para indivíduos no limite da falta de condições de sustento, o roteiro não consegue apresentar excelência em nenhuma dessas vertentes. No elenco, além do pequeno Anthony Borrows, destaca-se Ian Hart, que interpreta o pai de Liam, um homem acossado pelo desemprego e atraído por um grupo de antissemitas que usa a insatisfação das classes baixas como pretexto para perpretar o ódio racial. É desses filmes que poderiam ser ótimos, caso houvesse mais empenho de quem os realizou.
Chéri
3.2 152Esse filme deveria ser mostrado a todos os produtores que se recusam a oferecer bons papeis a atrizes que passaram dos cinquenta anos. Michelle Pfeiffer é a alma deste filme, convincente no papel de Lea, uma mulher sensual às portas da meia-idade e ainda capaz de se abrir ao amor, apesar de ser uma cortesã. Chega a ser doloroso o descompasso entre ela e seu jovem amante, Chéri (Rupert Friend, mediano), levado pela própria mãe, também cortesã (Kathy Bates), para que sua colega o inicie sexualmente, mas não a ponto de aceitar o filho se envolvendo de forma mais intensa com Lea. Porém, mesmo com um material tão rico nas mãos, Stephen Frears não se inspira o bastante para tornar "Chéri" um filme memorável. Não chega a ser um ponto baixo em sua carreira, mas é sabido que Frears é capaz de fazer melhor que isso.
Wilde – O Primeiro Homem Moderno
3.7 91Stephen Fry é Wilde. Fato.
Após este filme, será quase impossível, ao ler algum livro do escritor irlandês ou qualquer notícia a seu respeito, ignorar a imagem do seu intérprete nesta cinebiografia honesta e digna.
Em vez de, como diria o crítico Inácio Araújo, representar um personagem real do berço ao túmulo, começa mostrando um Wilde já consagrado enquanto escritor, descobrindo sua verdadeira sexualidade, culminando no seu rumoroso caso com o jovem Alfred Douglas, codinome "Bosie", sua maior paixão e o responsável pela sua ruína total.
Em contraste, vemos a resignada esposa de Wilde, Constance (Jennifer Ehle), ao seu lado até o limite de suas forças.
Jude Law convence no papel do frívolo Bosie, bem como Tom Wilkinson interpretando seu pai, o Marquês de Queensberry, a representar a hipocrisia da sociedade inglesa quanto ao "amor que não ousa dizer seu nome".
Porém, em particular, a presença de Robbie Ross (Michael Sheen) é a mais memorável de todas, depois da incorporação de Wilde por Stephen Fry. O melhor amigo do escritor, responsável pelo despertar da sua homossexualidade (em uma cena notável) e, ao mesmo tempo, a única pessoa que permaneceu ao seu lado, mesmo depois do escândalo que levou à condenação de Wilde a trabalhos forçados e, em seguida, do ostracismo e repúdio dos que, antes disso, o saudavam como um dos grandes nomes da literatura de língua inglesa.
Um filme altamente recomendável. Pelo menos aos de mente aberta.
O Poder Vai Dançar
3.5 8Tim Robbins é daqueles artistas que não disfarçam suas preferências políticas ao se lançarem à realização de filmes. "O Poder Vai Dançar", a pretexto de centrar-se numa controversa encenação teatral dirigida por Orson Welles nos anos 30, mostra uma simpatia pelo liberalismo e a defesa da liberdade de expressão, ainda mais quando ameaçada num contexto histórico de ascensão do fascismo na Europa e o prenúncio da caça às bruxas do macartismo nos anos 50. Com um vasto e excelente elenco, que atua com notável boa vontade, "O Poder Vai Dançar", a despeito de algumas licenças estéticas quanto à caracterização de alguns personagens reais (custava terem feito um Orson Welles mais convincente?), é um filme divertido e que permite algumas reflexões sobre política, arte e o perigo de se misturá-los.
Assassinato no Expresso Oriente
3.7 189 Assista AgoraWhodunit?
Este filme tinha tudo para ser o típico "golpe do grande elenco": produções cujo único mérito é a presença de com atores e atrizes de várias idades e países em uma trama genérica qualquer.
O risco aumenta quando se trata de um roteiro baseado num romance de Agatha Christie.
Porém, o resultado, aqui, compensa o esforço. Até porque Sidney Lumet, por sua larga experiência na televisão antes do cinema, sabia quando deixar o estilo de lado em favor do entretenimento puro. E embora Albert Finney pareça um tanto deslocado no papel do detetive Poirot, se comparado à desenvoltura de Peter Ustinov em outras adaptações de livros da mesma autora, as interpretações, no geral, convencem. Para apreciadores de tramas rocambolescas, vale a pena.
Trovão Tropical
3.2 967 Assista AgoraEnquanto ator, Ben Stiller vinha de uma série consecutiva de atuações irritantes em comédias de sorriso amarelo, quando muito. Já enquanto diretor, estava devendo um filme de impacto, daqueles a justificar a persistência nessa profissão. "Trovão Tropical" redimiu a carreira de Ben Stiller em todos os sentidos. Merecido êxito de público e crítica, é impiedoso ao se referir a estrelas de filmes de ação que lutam para serem reconhecidos por seus dotes dramáticos(Stallone?), a atores que confundem transformação física com interpretação (Christian Bale?) e a humoristas que se servem da escatologia como a única fonte para fazerem graça (a lista é longa...).
Obtendo um notável equilíbrio entre atuações substanciosas e o humor em suas várias possibilidades, "Trovão Tropical" remodela diversos clichês, resultando em um filme original, mais do que assistível.
Eu, Eu Mesmo e o Macaco
2.0 24Uma boa premissa, por si só, jamais justifica um filme. Por mais peculiar que seja. Alguém deveria dizer isso a James Franco quando mudar de posição perante uma câmera. Porque "Eu, Eu Mesmo e o Macaco" tinha tudo para ser um filme insólito sobre a criação artística, a necessidade de isolamento para a sua realização e os percalços do mundo cotidiano. E imaginar um macaco falante e inconveniente a servir de antagonista tornaria tudo ainda mais curioso. Infelizmente, o resultado final é pífio. Melhor sorte numa próxima, James.
Drácula de Bram Stoker
4.0 1,4K Assista AgoraFosse apenas pelo prólogo expressionista, ou por todas as cenas com o Drácula envelhecido, este filme seria excelente. Contudo, Coppola está no meio do caminho entre a liberdade autoral e a produção por encomenda. Cineastas feito ele conseguem, nos dizeres de Scorsese, "contrabandear" elementos estilísticos mesmo nos filmes mais comerciais. Porém, a atuação bisonha de Keanu Reeves e uma certa falta de rumo na metade final do filme deixam "Drácula" aquém do esperado. Winona Ryder, ao menos, convence como o objeto de um desejo que os séculos não conseguiram destruir. E Gary Oldman... bem, ele É Drácula. Isso diz tudo.
Hype!
4.3 22 Assista AgoraEste documentário consegue, a um só tempo, ser um documento histórico e um agradável retrato musical de Seattle, tornando-a identificável com todo lugar longe dos epicentros culturais onde pessoas imbuídas do espírito do do-it-yourself, em vez de reclamar do marasmo, preferem derrubá-lo. Vale destacar, além dos ônus e bônus advindos da explosão chamada Nirvana, a abordagem crítica do subsequente modismo "grunge". Se você é estudante do ensino médio e sua professora vier a passar este filme em sala de aula, você certamente estuda na escola dos sonhos.
Passaporte para a Vida
3.5 3Não fosse a longa duração, a ausência de clima ou a sensação de que esta história é menos heroica do que aparenta, poderia ser um grande filme.
Copacabana
3.1 23Carla Camurati conseguiu fazer um filme bem mais simpático e bem resolvido que "Carlota Joaquina". Um filme na média, válido pelo elenco de veteranos. Marco Nanini, embora bom ator, nem sempre convence em cena. Assistível.
Margot e o Casamento
2.9 231 Assista AgoraVoltamos a Noah Baumbach e o modo insólito como ele alia acertos de contas familiares com referências intelectuais, alternando estranheza e familiariedade. Ei-lo, agora, a falar de uma escritora (Nicole Kidman) que se mostra um desastre ao lidar com as emoções alheias. Partindo com seu filho adolescente para visitar a irmã (Jennifer Jason Leigh, então esposa do diretor) no interior, em pouco tempo demonstra ser exatamente o oposto de sua parenta, uma mulher simpática e desencanada.
Já o filho da escritora é um adolescente tão podado pela mãe que precisa se trancar no banheiro de um trem em movimento para poder gritar e extravasar toda a tensão gerada pela incompreensão materna. Some-se isso ao noivo (um Jack Black incrivelmente contido), de quem não se sabe se será realmente um bom marido, e a outros personagens que apenas realçam os contrastes entre as irmãs, e eis uma visão das mais incômodas sobre o relacionamento fraterno entre pessoas completamente descompassadas. Quem assistiu ao filme "A Lula e a Baleia" notará alguns pontos em comum com este filme. O tempo, porém, dirá se essas semelhanças consistirão num estilo baumbachiano ou se virarão meros cacoetes.
A Lula e a Baleia
3.7 317 Assista AgoraDevo adiantar que "A Lula e A Baleia" não é um filme pelo qual eu me encantei logo de cara. Porém, ao repassar a trajetória de dois irmãos lidando com a separação de seus pais na Nova York dos anos 80, o filme cresceu bastante na minha mente. É chover no molhado apontar o ótimo trabalho de Jeff Daniels e Laura Linney interpretando o casal partido, ambos escritores, cujas carreiras seguem direções opostas: ele para baixo, ela para cima. A princípio, cada filho parece ter suas preferências bem definidas, como torcedores de futebol. Walt (um Jesse Eisenberg aceitável), talvez por sua adolescência e por ser homem, afina-se mais com o pai. Frank (o ótimo Owen Kline, filho de Kevin Kline), ainda pré-adolescente, mais frágil, toma partido da mãe. Felizmente o filme não se reduz a essa divisão estanque. A presença de uma das alunas do escritor (Anna Paquin) e do novo namorado da escritora (William Baldwin) faz a trama mais dinâmica e complexa. Particularmente, os instantes insólitos de Frank ao telefone ou em frente ao espelho são os mais peculiares do filme. Escapando de ser um filme pernóstico e arrogante, "A Lula e A Baleia" surpreende pela sua honestidade ao falar da tal infelicidade que atinge a todas as famílias. Mesmo as mais intelectualizadas.
Quebra de Confiança
3.5 47Como usar um caso real de contraespionagem nos estertores da Guerra Fria, envolvendo um dos mais exemplares agentes da CIA que acaba sendo investigado por um colega mais novo, e fazer dessa premissa um filme verdadeiramente adulto, sem ofender a inteligência alheia e capaz de tratar de temas feito o patriotismo, o senso de dever e outras questões dignas de reflexões as mais profundas? "Quebra de Confiança" equivale à soma disso tudo. As ótimas atuações do trio principal são valorizadas pela direção sóbria e segura, sem pirotecnias vulgares nem reviravoltas estéreis. Creio que o futuro fará um bem danado a esse filme. Que mais pessoas o descubram.
Lições de Vida
3.6 111Por não ter sido da geração harrypottermaníaca, ver Rupert Grint fora dessa série de filmes não pareceu grande coisa. Contudo, nota-se que é um bom ator, daqueles que torcemos para que escolha bem seus futuros projetos, ainda mais por ter alcançado a fama muito novo. Este filme pretensamente edificante, que remete levemente a um clima "Harold and Maude" (vide "Ensina-me a Viver"), trata-se daquelas típicas produções inglesas assistíveis cujo elenco é a grande atração, senão a única.
Julie Walters faz a típica senhora despachada que tira um jovem travado, filho de uma mãe castradora (Laura Linney) de uma vida entorpecida e lhe mostra um novo rumo para sua existência. Simpático, porém na média.
Um Amor Jovem
3.3 54Ao saber que se tratava de outra incursão de Ethan Hawke na direção, procurei ter mais boa vontade, depois do frustrante "Dramas e Sonhos". Visualmente, o filme seus momentos de beleza, em especial quando William e Sarah vão para o México. Aliás, Catarina Sandino Moreno é o grande motivo para assistir a "Um Amor Jovem". Em compensação, Mark Webber está um tanto passado para interpretar mais um jovem sem rumo, o que faz a escalação do próprio Ethan interpretando o pai do protagonista parecer ainda mais inadequada. Há outros bons atores no elenco, mas o roteiro um tanto auto-indulgente não ajuda muito. Boa tentativa, Ethan. Mas ainda está devendo um bom filme.
A Carta
3.3 3Uma obra menor do mestre Manoel. Ainda assim, capaz de suscitar reflexões sobre o amor. Destaque para as participações da pianista Maria João Pires e do cantor Pedro Abrunhosa.
Carlota Joaquina, Princesa do Brasil
3.1 240O filme da "retomada do cinema brasileiro", conforme os almanaques da vida. Mais um pretexto para professoras de História preguiçosas "ensinarem" seus alunos. E um filme superestimado em demasia. Engraçado como há tanta gente que deplora o cinema brasileiro por conta de cenas de nudez, sexo e palavrões, mas dá valor a projetos de comédia feito "Carlota Joaquina". Claro que há algumas boas atuações. Porém, é muito pouco para tanto cartaz que oferecem a este filme.
Absolute Beginners
3.1 12Realizar um filme ambientado nos anos 50 durante os extravagantes anos 80, ainda mais pelas mãos de um cineasta bem ambientado nesta época? Poderia ser um desastre. Felizmente, as qualidades de "Absolute Beginners" superam seus defeitos. Destaque para a aparição de Ray Davies, vocalista do clássico conjunto The Kinks, no papel do pai do protagonista. Curiosamente, a participação de David Bowie é a mais dispensável do conjunto, compensada pela ótima música-tema homônima (recomendo a versão original, com mais de oito minutos). Equilibrando a trama com números musicais adequados, temos um filme que vale a pena ser reavaliado.
Dramas e Sonhos
2.9 2Ethan Hawke, em seu longa-metragem de estreia na direção, não conseguiu fazer um filme emocionante, apesar do ambiente promissor (o mítico Chelsea Hotel, em Nova York) e do bom elenco. Falta empatia, para não dizer outras qualidades. Salva-se apenas a participação do legendário cantor Jimmy Scott, em especial quando ele canta "Jealous Guy", de John Lennon, numa versão doída e plena de sentimento. Bem o contrário do resto do filme.
Titus
3.5 33Adaptar Shakespeare para o cinema é cada vez mais desafiador. Pretender ser fiel à época em que as peças são ambientadas pode ser um desastre caso este seja seu único mérito. O ideal é preservar a essência de seus personagens, não importando a fidelidade histórica. Disto isso, "Titus", extraído da mais sanguinolenta das peças shakespearianas, parte para mais liberdade do que o usual, por conta do estilo exuberante de sua diretora, Julie Taymor, egressa da Broadway, o que explica a grandiloquência deste filme. Unir elementos da Roma antiga, época em que a peça acontece, com elementos do fascismo europeu dos anos 30 e 40, consiste numa saída coerente com o teor macabro da trama. Contudo, apesar do apuro estético e das atuações primorosas de Anthony Hopkins e Jessica Lange, fica a impressão de que este filme poderia ser melhor elaborado. Enfim, vale para apreciadores de Shakespeare, nem que seja para horrorizar os puristas.
A Essência da Paixão
3.5 14Para provar que nem todo filme de época precisa recender a mofo ou parecer um camafeu, eis "A Essência da Paixão". Mostrando que, a despeito de ser uma nação relativamente nova e menos estratificada do que a Inglaterra, os EUA também tiveram sua parcela de hipocrisia nas altas classes. A ponto de ser possível à imaginação da escritora Edith Wharton criar a figura, ora trágica, ora patética, da desventurada Lily Barth, encarnada com profundidade pela subestimada Gillian Anderson. Aliás, atuações boas sobram neste filme: desde a sempre ótima Laura Linney, passando por Jodhi May até os mais surpreendentes Eric Stoltz e Dan Aykroyd.
Terence Davies, um diretor cujo estilo não costuma ser dos mais palatáveis, sempre permeado por um intenso sabor de nostalgia, está mais acessível nesta produção, onde seu estilo se mostra com mais nitidez numa determinada cena, sem palavras nem atores, apenas a música e a câmera se movendo sempre em frente, em meio a paisagens campestres.
Dizem os fãs da escritora Edith Wharton que este filme é mais fiel ao livro em que se baseou do que "A Época da Inocência", de Martin Scorsese, adaptado de outra obra sua com o mesmo nome. Mesmo sem condições de avaliar sobre a fidelidade desses filmes às obras de onde se basearam, digo que "A Essência da Paixão" soa mais convincente do que "A Época da Inocência", com todo o respeito ao grande Scorsese. Recomendado.