Sinceramente, uma perda de tempo. Não assusta, não emociona, nem coisa alguma. Lamento muito que Laura Linney e o saudoso Alan Bates tenham perdido tempo neste filme desprovido de clima ou de qualquer outro atributo artístico considerável.
Uma comédia sem preocupações em polêmicas gratuitas e que não usa escatologia como muleta. Cinematograficamente, é um filme simples, sem nenhum grande arrojo estético. Porém, como é de costume nos filmes de Francis Weber, trata-se de entretenimento de alto nível. E, coisa rara nas comédias da atualidade, causa frouxos de riso com facilidade. Brilhante atuação do precocemente falecido Jacques Villeret. Vale dizer que a refilmagem americana, "Um Jantar Para Idiotas", ao estender o número de personagens e de situações, não desmerece o original. Contudo, este ainda é o melhor dos dois.
Eis um filme querido, caloroso e demonstrativo das oscilações de sentimentos que compõem as famílias, cada uma desventurada a seu modo. O roteiro concentra-se na vida de Zachary, em especial nas suas errâncias durante o caminho da auto-descoberta, tortuoso por sua orientação afetiva distingui-lo dos demais. Se fosse apenas por isso, não se diferenciaria de tantos filmes relativos à diversidade sexual. Porém, Jean Marc-Vallée sabe trabalhar as imagens de modo cativante, somado à caprichada trilha sonora. Nunca mais será possível ouvir "Space Oddity", de David Bowie, do mesmo jeito depois de "C.R.A.Z.Y.". Idem para "Hier encore", a chanson de Charles Aznavour que é o leitmotiv do pai do protagonista, representando magistralmente o apego da maioria das pessoas, após certa idade, aos mesmos gostos e valores. Destaque também para a forma assimétrica com que os irmãos são retratados. Num microcosmo da realidade de todas as famílias, sempre há figuras mais interessantes que outras. E em vez de nivelar todos em um roteiro esquemático, "C.R.A.Z.Y." mostra-se bastante orgânico neste aspecto. Desconfio sempre de filmes muito cultuados por aspectos específicos. Não raro, costumam desabar sob um olhar mais crítico e menos deslumbrado. Não é o caso deste filme, por sincero e nada banal.
Filmes de despedida sempre levam a uma sensação de fechamento para balanço. Quando o final da vida se aproxima, elementos acumulados ao longo do trajeto aparecem, mesmo que indiretamente. "O Gerente" causa essas impressões todas, ainda mais por ser o último trabalho de um cineasta dedicado a falar de coisas idas, de celebrar o passado de um Brasil hoje praticamente encastelado em museus. Além das autorreferências, por meio de cartazes de seus filmes em algumas cenas. Carlos Drummond de Andrade, mais do que o autor adaptado pelo roteiro, comparece em imagem e som, curiosamente dissociados. Ecos de Charles Chaplin e João Gilberto, dentre outros, aparecem na tela, aclimatando ainda mais este filme gentilmente anacrônico. Aliás, teria sido intencional esse anacronismo nas cenas em que personagens com trajes dos anos 50 andam pelas ruas do Rio de Janeiro atual, ou se trata da velha contenção de gastos convertida em criatividade? Seja qual for a resposta, o resultado estranha e fascina. A narradora vivida por Joana Fomm é um achado: onipresente, interage com o protagonista e, às vezes, fica deslocada na narrativa, no que está longe de ser um defeito. Vale destacar também a forma enviesada como se apresenta a tara do gerente. O que impede este filme de ser excelente é o tom meio discursivo de algumas passagens, chegando a ser historicamente didáticas, e o excesso de atenção ao caso com a personagem vivida por Ana Maria do Nascimento e Silva, viúva do diretor na vida real. No fim, entretanto, o saldo é positivo, ainda mais por certas participações especiais, dentre as quais destaco as de Paulo Cesar Pereio (hilário!) e de Othon Bastos. E não poderia encerrar sem um elogio a Ney Latorraca, tão notável por seu histrionismo em seus papeis mais famosos na televisão, porém capaz de atuar sutilmente, fazendo jus à elegância do seu personagem. Saraceni, um homem de cinema e para o cinema, soube partir com estilo.
Os primeiros minutos deste filme quase me fizeram crer que Spike Lee estaria desaprendendo a dirigir, de tão frouxos e desinteressantes. Porém, após a grandiloquente cena do primeiro ataque ao pelotão de militares negros, o clima melhora. Os quatro protagonistas foram bem desenvolvidos no roteiro de modo a representar o preconceito racial sem apelar para discursos vazios. A cena da sorveteria, por sinal, é a mais emblemática dessas intenções. A novidade, porém, está na interação com os italianos em meio às atrocidades cometidas pelos nazistas já nos estertores da II Guerra Mundial. A presença do menino Angelo, que poderia ser apenas um recurso emocionalmente apelativo, mostra-se genuinamente emocionante, ainda mais por sua ligação com o soldado Train, mesmo que ambos não falem a mesma língua. Embora não seja um dos melhores filmes de Spike Lee, e considerando que sua duração poderia ser menor, ao menos não é tão frustante quanto se falou na época do seu lançamento. E quem não chorar com o final, precisa ir correndo ao cardiologista.
Eis um filme de terror sem a pretensão vã de reinventar o gênero e muito longe da busca em chocar a qualquer custo. Os intérpretes estão bastante convincentes, em especial a protagonista Isabelle Fuhrman. Sabe dosar a aflição causada no espectador pelo crescendo de ações violentas partindo da misteriosa órfã com uma sanguinolência nada gratuita. Bom entretenimento.
É impressionante o tanto de comédias românticas frustrantes nos tempos atuais. Ainda mais quando temos um diretor competente, Rob Reiner. Não ajuda em nada o uso da batida mistura entre ficção e realidade envolvendo um escritor e uma obra a ser concluída. Junte isso a um anódino Luke Wilson e ao desperdício de bons intérpretes e teremos um filme dispensável, que só não é uma completa perda de tempo por conta da esforçada Kate Hudson.
O antissemitismo de acordo com a visão lúcida do dramaturgo Arthur Miller, encenado com correção e com ótimas interpretações. Em especial a de David Paymer, no papel do judeu hostilizado pela vizinhança. Vale a pena.
Embora se baseie no casamento e no divórcio ruidosos entre o cineasta Peter Bogdanovich e a produtora Polly Platt, há bem mais conexões a se fazer com este filme. É o cúmulo da ironia terem escalado Ryan O'Neal, ele mesmo tendo trabalhado com Bogdanovich, para interpretar o personagem inspirado no diretor. Além disso, Ryan teve, na vida real, uma relação de amor e ódio com sua filha, a atriz Tatum O'Neal. Difícil não lembrar disso ao vermos como seu personagem se comporta perante a filha, interpretada de forma espontânea pela infante Drew Barrymore. Shelley Long não brilha tanto neste filme, mas convence. Reparem numa novíssima Sharon Stone, interpretando a amante do cineasta. A despeito do exagero no título, é um drama válido.
Um filme de ação com um pouco mais de pretensões além da média do gênero. Contudo, o resultado é apenas passável. Em compensação, as atuações de Deborah Kara Unger e James Coburn valem a pena. Fico devendo o original, "À Queima-Roupa", de John Boorman.
Esta cinebiografia, embora tenha evitado a pretensão de resumir toda a vida de uma figura pública em algumas horas, não está à altura do personagem. As atuações são apenas aceitáveis. E a realização do veterano Norman Jewison não entusiasma, de tão burocrática. Definitivamente, não merece estar na lista dos grandes filmes ligados ao boxe. Nem mesmo dos grandes dramas humanistas.
A Última Profecia
3.2 164 Assista AgoraSinceramente, uma perda de tempo. Não assusta, não emociona, nem coisa alguma. Lamento muito que Laura Linney e o saudoso Alan Bates tenham perdido tempo neste filme desprovido de clima ou de qualquer outro atributo artístico considerável.
O Jantar dos Malas
3.6 25Uma comédia sem preocupações em polêmicas gratuitas e que não usa escatologia como muleta. Cinematograficamente, é um filme simples, sem nenhum grande arrojo estético. Porém, como é de costume nos filmes de Francis Weber, trata-se de entretenimento de alto nível. E, coisa rara nas comédias da atualidade, causa frouxos de riso com facilidade. Brilhante atuação do precocemente falecido Jacques Villeret.
Vale dizer que a refilmagem americana, "Um Jantar Para Idiotas", ao estender o número de personagens e de situações, não desmerece o original. Contudo, este ainda é o melhor dos dois.
C.R.A.Z.Y. - Loucos de Amor
4.2 712Eis um filme querido, caloroso e demonstrativo das oscilações de sentimentos que compõem as famílias, cada uma desventurada a seu modo. O roteiro concentra-se na vida de Zachary, em especial nas suas errâncias durante o caminho da auto-descoberta, tortuoso por sua orientação afetiva distingui-lo dos demais. Se fosse apenas por isso, não se diferenciaria de tantos filmes relativos à diversidade sexual. Porém, Jean Marc-Vallée sabe trabalhar as imagens de modo cativante, somado à caprichada trilha sonora. Nunca mais será possível ouvir "Space Oddity", de David Bowie, do mesmo jeito depois de "C.R.A.Z.Y.". Idem para "Hier encore", a chanson de Charles Aznavour que é o leitmotiv do pai do protagonista, representando magistralmente o apego da maioria das pessoas, após certa idade, aos mesmos gostos e valores. Destaque também para a forma assimétrica com que os irmãos são retratados. Num microcosmo da realidade de todas as famílias, sempre há figuras mais interessantes que outras. E em vez de nivelar todos em um roteiro esquemático, "C.R.A.Z.Y." mostra-se bastante orgânico neste aspecto. Desconfio sempre de filmes muito cultuados por aspectos específicos. Não raro, costumam desabar sob um olhar mais crítico e menos deslumbrado. Não é o caso deste filme, por sincero e nada banal.
O Gerente
2.7 6Filmes de despedida sempre levam a uma sensação de fechamento para balanço. Quando o final da vida se aproxima, elementos acumulados ao longo do trajeto aparecem, mesmo que indiretamente. "O Gerente" causa essas impressões todas, ainda mais por ser o último trabalho de um cineasta dedicado a falar de coisas idas, de celebrar o passado de um Brasil hoje praticamente encastelado em museus. Além das autorreferências, por meio de cartazes de seus filmes em algumas cenas. Carlos Drummond de Andrade, mais do que o autor adaptado pelo roteiro, comparece em imagem e som, curiosamente dissociados. Ecos de Charles Chaplin e João Gilberto, dentre outros, aparecem na tela, aclimatando ainda mais este filme gentilmente anacrônico. Aliás, teria sido intencional esse anacronismo nas cenas em que personagens com trajes dos anos 50 andam pelas ruas do Rio de Janeiro atual, ou se trata da velha contenção de gastos convertida em criatividade? Seja qual for a resposta, o resultado estranha e fascina. A narradora vivida por Joana Fomm é um achado: onipresente, interage com o protagonista e, às vezes, fica deslocada na narrativa, no que está longe de ser um defeito. Vale destacar também a forma enviesada como se apresenta a tara do gerente. O que impede este filme de ser excelente é o tom meio discursivo de algumas passagens, chegando a ser historicamente didáticas, e o excesso de atenção ao caso com a personagem vivida por Ana Maria do Nascimento e Silva, viúva do diretor na vida real. No fim, entretanto, o saldo é positivo, ainda mais por certas participações especiais, dentre as quais destaco as de Paulo Cesar Pereio (hilário!) e de Othon Bastos. E não poderia encerrar sem um elogio a Ney Latorraca, tão notável por seu histrionismo em seus papeis mais famosos na televisão, porém capaz de atuar sutilmente, fazendo jus à elegância do seu personagem. Saraceni, um homem de cinema e para o cinema, soube partir com estilo.
Milagre em St. Anna
3.6 92Os primeiros minutos deste filme quase me fizeram crer que Spike Lee estaria desaprendendo a dirigir, de tão frouxos e desinteressantes. Porém, após a grandiloquente cena do primeiro ataque ao pelotão de militares negros, o clima melhora. Os quatro protagonistas foram bem desenvolvidos no roteiro de modo a representar o preconceito racial sem apelar para discursos vazios. A cena da sorveteria, por sinal, é a mais emblemática dessas intenções. A novidade, porém, está na interação com os italianos em meio às atrocidades cometidas pelos nazistas já nos estertores da II Guerra Mundial. A presença do menino Angelo, que poderia ser apenas um recurso emocionalmente apelativo, mostra-se genuinamente emocionante, ainda mais por sua ligação com o soldado Train, mesmo que ambos não falem a mesma língua. Embora não seja um dos melhores filmes de Spike Lee, e considerando que sua duração poderia ser menor, ao menos não é tão frustante quanto se falou na época do seu lançamento. E quem não chorar com o final, precisa ir correndo ao cardiologista.
A Órfã
3.6 3,4K Assista AgoraEis um filme de terror sem a pretensão vã de reinventar o gênero e muito longe da busca em chocar a qualquer custo. Os intérpretes estão bastante convincentes, em especial a protagonista Isabelle Fuhrman. Sabe dosar a aflição causada no espectador pelo crescendo de ações violentas partindo da misteriosa órfã com uma sanguinolência nada gratuita. Bom entretenimento.
Alex & Emma: Escrevendo Sua História de Amor
2.9 56É impressionante o tanto de comédias românticas frustrantes nos tempos atuais. Ainda mais quando temos um diretor competente, Rob Reiner. Não ajuda em nada o uso da batida mistura entre ficção e realidade envolvendo um escritor e uma obra a ser concluída. Junte isso a um anódino Luke Wilson e ao desperdício de bons intérpretes e teremos um filme dispensável, que só não é uma completa perda de tempo por conta da esforçada Kate Hudson.
Focus
3.6 12O antissemitismo de acordo com a visão lúcida do dramaturgo Arthur Miller, encenado com correção e com ótimas interpretações. Em especial a de David Paymer, no papel do judeu hostilizado pela vizinhança. Vale a pena.
Diferenças Irreconciliáveis
3.2 12Embora se baseie no casamento e no divórcio ruidosos entre o cineasta Peter Bogdanovich e a produtora Polly Platt, há bem mais conexões a se fazer com este filme. É o cúmulo da ironia terem escalado Ryan O'Neal, ele mesmo tendo trabalhado com Bogdanovich, para interpretar o personagem inspirado no diretor. Além disso, Ryan teve, na vida real, uma relação de amor e ódio com sua filha, a atriz Tatum O'Neal. Difícil não lembrar disso ao vermos como seu personagem se comporta perante a filha, interpretada de forma espontânea pela infante Drew Barrymore. Shelley Long não brilha tanto neste filme, mas convence. Reparem numa novíssima Sharon Stone, interpretando a amante do cineasta. A despeito do exagero no título, é um drama válido.
O Troco
3.6 250 Assista AgoraUm filme de ação com um pouco mais de pretensões além da média do gênero. Contudo, o resultado é apenas passável. Em compensação, as atuações de Deborah Kara Unger e James Coburn valem a pena. Fico devendo o original, "À Queima-Roupa", de John Boorman.
Hurricane: O Furacão
4.0 252 Assista AgoraEsta cinebiografia, embora tenha evitado a pretensão de resumir toda a vida de uma figura pública em algumas horas, não está à altura do personagem. As atuações são apenas aceitáveis. E a realização do veterano Norman Jewison não entusiasma, de tão burocrática. Definitivamente, não merece estar na lista dos grandes filmes ligados ao boxe. Nem mesmo dos grandes dramas humanistas.