"Anatomia de uma Queda" é um filme sobre verdade. Ou melhor, sobre verdades. Ao contrário do que supomos, a verdade não é uma certeza, é a construção de uma possibilidade. Ou ainda um conjunto de sentimentos que são reais, verídicos, que carregam sentido e sentimento. A verdade só se materializa a partir da narrativa, e a narrativa é um constructo possível pela vivência de quem é o portador daquela verdade.
A ideia da diretora, e roteirista, de levar a crise do relacionamento ao tribunal a partir da morte de Samuel é genial porque transporta esse conflito de verdades inerentes às crises conjugais ao julgamento fático, que é o campo jurídico. Que, na verdade, não ironicamente, é a limitação material da justiça. Os julgamentos dos tribunais se dão a partir de provas, não convicções, diferentemente do julgamento ético ou moral que fazemos da vida fora deles.
Tudo no filme é muito bem pensado e nos leva a uma discussão de gênero, de permissões, de inversões de papéis, de questionamentos éticos. E a conclusão é lógica, materialmente coerente. O que necessiamente não significa justa, partindo de uma premissa que aborda também as conjunturas, as deduções e as convicções amparadas em fatos. Um filme muito bem feito, um filme para ser visto, discutido e recomendado.
O resultado do julgamento não descerra a verdade sobre o caso em si. Ele cristaliza uma verdade. A verdade material e, materialmente, é uma verdade justa. Não haviam provas suficientes que encriminassem Sandra para além das suposições com base na forma abusiva que se definhava a relação desde o acidente com Daniel. Porém, é preciso se atentar a algumas situações que são pontos de virada da narrativa.
A primeira delas é o segundo depoimento de Daniel. A personagem, diante de todo desgaste causado pela briga dos pais, precisou desenvolver ao longo desses anos uma maturidade precoce. Comportamento que se prova no "experimento" que testa no seu cachorro para testar por tabela a versão da própria mãe, bem como na sobriedade de pedir que a mãe não ficasse na mesma casa que ele antes do seu depoimento. Vemos aqui um amadurecimento precoce do menino (que já estava suportando toda situação pública de sua própria vida em um nível teoricamente insuportável para tão pouca idade). Verdade também é o que escolhemos acreditar, por isso é construção de possibilidade. Ele escolheu acreditar que o pai realmente havia tentando suicídio a partir da associação do vômito e do cachorro, da mesma forma que a conversa da ida ao veterinário se tratava de uma metáfora do próprio pai se despedindo dele. Poderia ter decidido acreditar que o vômito era um envenenamento e que a conversa sobre brevidade da vida era estrita ao cachorro, mas, ao fazer isso, estaria validando a culpa da mãe na morte do pai, o que, insconscientemente, resultaria na perda de um outro tutor (a mãe seria presa e ele provavelmente cresceria por alguns anos sem pai e sem mãe).
O segundo ponto, e esse aqui eu considero um ato falho, é a conversa que Sandra mantém com o advogado, agora amigo, após a absolvição. Um inocente, em toda sua certeza, não deveria questionar se o vencer, ou a vitória em si, é insuficiente. O inocente que recebe absolvição exulta a justiça, não deveria haver espaço para questionar a moral da vitória nesta altura. Não digo que Sandra de fato foi a responsável pela morte de Samuel, porque materialmente é insuficiente e porque o próprio filme constrói essa narrativa para que haja a dúvida (e o debate), mas, mesmo que tenha sido de fato um suicídio, a protagonista acusa algum nível de culpa (mesmo se mostrando extremamente egoísta e narcísica), a questão é: a culpa que carrega é pelo fato de ter cometido o crime e saído impune ou de saber que a forma dura como desgastou a relação com marido após o acidente com o filho foi a consequência do suicídio. Nunca saberemos, lidemos com a dúvida e com a condição material (e inconclusiva) das verdades.
Talvez seja um dos filmes mais geniais que eu assisti. Acho que poucos diretores conseguem praticar um suspense/terror psicológico como Lynch. A forma como manipula imagens e sons para criar ambiências que prendem o espectador é genial. O filme é sobre ilusão e realidade, sonho e verdade. Ou tudo junto. Um consciente inconsciente. O filme é um primor. Clássico.
Desenvolveu outras faces das personagens, aprofundou as narrativas, trouxe mais humanidade aos protagonistas. Mas a grande mensagem da temporada (que deveria ter terminado com a revanche de 85 haha) é o tensionamento entre coletivo e indíviduo, ego e compaixão. É uma temporada também sobre poder e as consequências do uso de quem o detém. Ótima temporada (pena que cancelaram, porém, entendo que a questão da representação de personagens da vida real seja realmente complexo e gere algum desgaste na produção dos roteiros)
PS.: A parte do "suave" de Westhead com Magic se tornou na minha cena favorita de toda série =)
Tem humor satírico, tem pedagogia de classe, tem aprofundamento do debate de gênero e da futilidade contemporânea. Diálogos bem construídos e bem montados.
Um diálogo relativamente simples mostrou a inteligência de Ostlund. A discussão entre Yaya e Carl no elevador ganhou muito mais sensibilidade pela inteligência do diretor. Aliás, que grata surpresa o trampo desse sueco.
A sensação que eu tive quando terminei é de que na questão de gênero, o filme aprofunda a mensagem em Midsommar.
Filme muito bem feito e pungente nas discussões contemporâneas.
Uma série pra entender que para além dos resultados num esporte, existe as complexidades humanas em todo aquele que colabora pra fazer o esporte.
Tudo na ambientação é mágico. A trilha, as mudanças edição na textura das capturas, mas os maiores destaques ficam com a montagem (ora apressando a história, ora num ritmo mais lento) e com o roteiro, os diálogos são muito bem construídos, trazendo reflexões sobre os sentimentos que atravessam atletas, familiares dos atletas e cartolas.
Apesar da dramatização, que gerou críticas por parte de alguns dos dramatizados, é uma série obrigatória para quem curte esporte (nem necessariamente basquete).
A série é cheia de referências, desde a própria obra de Lewis Carroll até a estética meio videogame. E ao contrário de Round 6, que traz uma crítica praticamente ao sistema (aprofundando pouco a complexidade dos personagens), Alice in Borderland é basicamente sobre as relações humanas, em uma reflexão mais ampla.
A 2ª temporada é muito melhor que a 1ª. Diálogos melhores, personagens mais cativantes, menos foco nos jogos (que devem ser só um pretexto pra desenvolvimento dos dramas e não o principal, senão vira um Round 6 da vida). Em especial, o Rei de Paus e o advogado (acho que é o valete de ouro), merecem destaque.
A forma como a temporada se encerra é muito boa e torço para que não haja uma 3ª temporada. As pontas soltas, todos os excessos, as cenas de Deus Ex Machina, tudo no roteiro foi encaixado neste final.
Quem tiver a fim de ver só gore, pensar pouco e só se distrair, é melhor buscar outra opção. Alice in Borderland é uma série pra fazer refletir sobre as relações pessoais que construímos ao longo da vida e quais sentimentos, se é que é possível hierarquizá-los, são realmente importantes dentro das nossas subjetividades.
Pra um filme transmitir exatamente a ambientação onde a protagonista está inserida não precisa ser arrastado, enfadonho. A narrativa simplesmente não prende. Não instiga você a imaginar o que vem em seguida na trama. Não envolve o espectador.
É só um suspense psicológico em uma história de vida comum a tantas trabalhadoras e trabalhadores, um suspense vazio, que não se apega de onde vem, nem pra onde vai. Muito difícil de construir uma empatia com a personagem.
Conta com alguns easter eggs, em alguns outros momentos você vê um cuidado na montagem da cena, os planos longos, mas é preciso muita boa vontade para ir além e dar uma chance do filme acabar...
Consegue trazer algum nível de reflexão, sobretudo nas relações humanas e familiares, mas os monólogos, principalmente, reproduzem um "gonguismo", uma forçação de barra, que colocam tudo a perder.
Você se prende naquela narrativa, na forma como é contada a história e de repente um "epa, como uma pessoa que tá contando uma história tão triste se vale de uma narrativa tão poética e lírica?" (o pior episódio de todos é de Constante Wu).
Esse estranhamento que passa nessa forçada deixa a série por vezes inverossímil (mas porr@, é uma série de ficção científica, certo? Mas o foco são nos dramas das relações humanas e ninguém conta suas memórias da forma que a série mostra).
Cranston e Stuhlbarg carregam a série nas costas. Não porque a série é ruim, longe disso, mas porque são dois puta atores da atualidade. A fórmula que faz prender quem assiste é interessante, mas é bem Breaking Bad (você torce pelo que é errado eticamente e não sabe bem o porquê dessa torcida, tendo em vista que o principal envolvido é um grande babaca).
Porém, o único defeito evidente é o fato do roteiro dar umas forçadas beirando o "deus ex machina" pra fechar o arco narrativo principal. É compreensível, tendo em vista que é preciso para dar um desfecho, mas, não deixa de soar forçado, tirando um pouco do brilhantismo da série.
Ademais, vale o play e as 10 partes (faltou criatividade) da série.
Quando você não consegue construir uma narrativa que proporcione UM plot twist decente, você precisa sair soltando plot twists como quem tá salgando comida.
Narrativa forçada, inverossímil em vários aspectos. Gasta muito tempo para construir as personas dos protagonistas, e pouquíssimo tempo pra enfiar goela abaixo uma sequência de plot twists que deixa o enredo ainda mais absurdo.
Pra mim, a principal retomada do que fica da primeira temporada é resumida na fala de Rust Cohle: "time is a flat circle". Tudo nessa terceira temporada gira em torno desse conceito.
As três tentativas de investigação sob as mesmas circunstâncias por parte de Hayes e West (em três tempos diferentes), o lance de envolver exatamente o desaparecimento de um menino e uma menina, a tensão em torno de uma possível rede de pedofilia...
A prova dessa retomada é mostrada na própria temporada com a citação ao trabalho de Cohle e Hart em Louisiana e na cena final, com Hayes entrando na mata, como se passado, presente e futuro ocupassem um mesmo espaço.
Um ótima temporada para quem se frustrou, com razão, com a segunda.
O grande problema é que nunca mais teremos uma temporada de True Detective como foi a primeira. O parâmetro é cruel demais. Mas, há que se reconhecer, mais um ótimo trabalho de Pizzolatto.
Um puta "metafilme", mostrando uma versão alternativa (ou não) do mundo underground de Hollywood. Cheio de referências a filmes e diretores clássicos. Mas o grande trabalho em torno do filme é a forma como o diretor constrói a narrativa como se o protagonista estivesse o tempo todo na iminência de abrir uma fenda e acessar uma realidade paralela,
quando no fundo, toda paranoia em torno dos códigos, levou a uma "seita", que não chega a ser uma outra dimensão, mas de fato é algo tão recluso e envolve tantos ilícitos que acaba sendo, de certa forma, uma realidade alternativa.
"Ain mas deixou ponta solta". "Ain mas e aquela parte lá que ficou sem explicação...". Então, jovem, alguns trechos do filme foram feitos justamente pra fornecer experiências que não são, necessariamente, ajudar a fechar a história do arco principal. A geração "Marvel x DC" dos cinemas precisa (re)aprender a ver filme. Pensei que o "homem-aranha" como protagonista fosse ajudar nessa pedagogia....
Não é uma série policial, é uma série policial também. Mare of Easttown (ou Maria de Cidade de Leste =] ) é uma baita série de drama, muito bem executada, com personagens secundários importantes para dar destaque à protagonista, e que protagonista.
A HBO sempre traz bons dramas. Neste a gente vê as relações de maternidade, paternidade, de família mesmo, construídas e desconstruídas o tempo todo. É uma série sobre as relações de família, basicamente, que acaba ganhando em suspense com as duas investigações que conduzem o fio narrativo da série.
Não tem cabimento comparar com a brilhante primeira temporada de True Detectiva, principalmente porque é uma série inversa de Mare of Easttwon, o drama é parte do enredo, não o todo. Em Mare of Easttown saber "quem matou Laura Palmer" é secundário, o foco está na construção das personagens envolvidas na investigação.
Faltou se aprofundar no enredo de forma que o filme passasse alguma mensagem. O roteiro se perde muito nas relações pessoais da família protagonista e ainda assim na profundidade de um pires. Fazendo muita força, você encontra uma moral no filme, mas o desfecho da história não comove, não causa impacto, não gera sentimentos. Uma narrativa bem interessante, numa ambientação razoavelmente explorada nos filmes de ficção científica, mas muito mal desenvolvida.
Incrível como usando praticamente só dois personagens em um ilha, numa filmagem P&B, o diretor conseguiu contar tanta coisa em uma única narrativa (relação dos dois vigias do farol) e com tanta riqueza de hipertextualidade com a mitologia grega.
Um filme fundamental pra entendermos a composição de classes nos países sulamericanos, mas, ainda mais fundamental pra entendermos que golpes e ditaduras militares não brotam do nada. É preciso primeiramente lastro popular, depois a evolução das modulações do Estado de exceção, passando desde a antipatia velada com padres por serem "vermelhos demais" até passeatas públicas com direito às batidas de panelas (!?).
A História mostra. A plenitude da beleza da Democracia nos países com governos progressistas é diretamente proporcional à certeza de que a durabilidade desses tempos é curta pela intolerância das elites sulamericanas, oligárquicas e escravagistas em sua maioria.
Com perdão do trocadilho, mas Machuca deixar o coração da gente doído por mostrar tanta semelhanças com a história que vivenciamos neste Brasil dos últimos tempos...
Parasita mostra que dá pra fazer cinema de crítica social fora do luga comum. Um filme completo, cheio de momentos que fazem refletir sobre as complexidades sociais do mundo capitalista e logo depois entrega cenas cômicas ou de suspense que nos fazem esquecer que o filme se trata eminentemente de uma cinema "social".
De todas as mensagens deixadas por Parasita, a mais forte é a do cheiro. Não importa o que você faça, quão próximo da elite você seja, o quanto de acesso que tenha a privilégios, o seu cheiro (enquanto metáfora de uma barreira social quase invisível) vai tratar de recolocar você ao lugar que pertence.
História tão forte com execução incompatível. A edição, os cortes abruptos na narrativa, fragmentos dos acontecimentos como forma de fazer o expectador interpretar da sua forma tira o impacto dos fatos.
A morte de Yuki foi atenuada na montagem de cenas. Não sei se era a ideia de passar minimalismo ou foi preguiça mesmo do diretor.
Atuação das crianças é um primor. A trama do protagonista, Akira, é muito legal, mas também causa menos impacto do que deveria.
Ainda que o diretor tivesse a intenção de causar uma expectativa para o desenrolar da história em quem assiste ao filme, numa eterna espera de uma virada de chave que nunca chega (assim como os meninos esperam pela volta da sua mãe), o andamento do filme deixou a desejar.
Quem não entendeu, devia tá sóbrio. Maravilhosa história sobre morte, pós-vida e vida. Gaspar Noé dá uma aula de como narrar com as câmeras a viagem de um espírito quando desencarna. Tempo circular, a vida como energia e um conceito sucinto de reencarnação. Cinema de arte, não de comércio. Gaspar Noé é foda!
O documentário “Nunca Me Sonharam”, de 2017, apresenta um recorte verossímil e plural da realidade da educação básica no Brasil no que diz respeito em ensino público, especificamente. Montado a partir de depoimentos de estudantes, professores e gestores de escolas de pelo menos quatro regiões do país, o filme apresenta uma narrativa plural na qual é exposto um problema complexo, multifacetado e histórico. Ainda que passível de edição e de uma curadoria das informações a serem retratadas, a direção expõe com honestidade o panorama nas escolas públicas. Relatos que evidenciam desafios semelhantes, muitas vezes uníssonos, embora os depoimentos sejam de jovens e profissionais de pontos geograficamente opostos, extremos culturalmente. Ao passo que dá voz aos estudantes (enquanto adolescentes e jovens), em suas inquietudes e inseguranças, o documentário tenta inserir o espectador dentro da instabilidade emocional dos alunos. Da mesma forma age com os professores e diretores, uma vez que, registra o esforço dos profissionais para driblar as adversidades encontradas na seja perante a falta de recursos, seja pela própria dificuldade em gerir pessoas imaturas e eventualmente intransigentes. “Nunca Me Sonharam” é um trabalho visualmente bonito, construído na simbiose harmônica de depoimentos lúcidos e fotografia esmerada. Um trabalho fundamental para se entender o estágio da educação básica no Brasil do Séc. XXI e traçar planos para reverter as agruras da área.
Um filho de um imigrante italiano. Um afrodescendente, ao mesmo tempo. Um nordestino. Um homem de origem pobre. E o maior nome da resistência armada na ditadura civil-militar brasileira unia quase todos os grupos oprimidos. O líder revolucionário que o Brasil precisava, mas que à época não quis. Um filme que, além de documento histórico rico, é um pedido de desculpas e um "muito obrigado" do Brasil ao talvez maior quadro da esquerda brasileira.
O filme inteiro é uma metalinguagem entre o real e o ficcional. E por isso, tudo que se comentar a respeito de furos na construção do roteiro, será justificado do ponto de vista dessa relação. Nada está fora do lugar, ao meu ver. Direção certeira de Haneke. Praticamente sem cenas explícitas de violência, mas de um terror psicológico que perturba o espectador. Um bom filme, numa pegada mais comercial, mas com pitadas de um cinema mais artístico.
Paul é inserido por Haneke como detentor do poder de migrar entre o ficcional do próprio filme e o real de quem assiste. Tanto que é o único a quebrar a 4ª parede (falar diretamente com o espectador) e o responsável por mudar o rumo do filme na cena do controle. O diálogo entre Paul e Peter no barco, na cena da morte de Anna, é a síntese da mensagem do filme.
A montagem onde o ficcional e o real se misturam é feita com autoridade por Haneke. As vítimas dos dois sádicos são famílias ricas, pessoas que ocupam na sociedade da nossa realidade uma vida praticamente ficcional. As cenas mais importantes tem uma fluidez lenta, para passar uma visceralidade e uma crueza genuinamente reais.
No geral, um bom filme de terror psicológico de um diretor que sempre traz boas discussões.em seus trabalhos.
Filme extramente singelo, mas que fala de amor, em todas as suas vertentes, com uma riqueza de significado tremenda. O romance juvenil em paradoxo ao adulto, o bromance, o amor entre pai e filho. Talvez o desfecho da trama tenha deixado uma sensação de forçação de barra, mas não comprometeu o filme em si. Acredito que os que acharam o filme cansativo se deixaram levar pela tradução tosca brasileira, afinal não se trata de um filme de ação, ou muito menos de um romance.
Mais um bom filme da ótima nova fase de McConaughey.
Anatomia de uma Queda
4.0 819 Assista Agora"Anatomia de uma Queda" é um filme sobre verdade. Ou melhor, sobre verdades. Ao contrário do que supomos, a verdade não é uma certeza, é a construção de uma possibilidade. Ou ainda um conjunto de sentimentos que são reais, verídicos, que carregam sentido e sentimento. A verdade só se materializa a partir da narrativa, e a narrativa é um constructo possível pela vivência de quem é o portador daquela verdade.
A ideia da diretora, e roteirista, de levar a crise do relacionamento ao tribunal a partir da morte de Samuel é genial porque transporta esse conflito de verdades inerentes às crises conjugais ao julgamento fático, que é o campo jurídico. Que, na verdade, não ironicamente, é a limitação material da justiça. Os julgamentos dos tribunais se dão a partir de provas, não convicções, diferentemente do julgamento ético ou moral que fazemos da vida fora deles.
Tudo no filme é muito bem pensado e nos leva a uma discussão de gênero, de permissões, de inversões de papéis, de questionamentos éticos. E a conclusão é lógica, materialmente coerente. O que necessiamente não significa justa, partindo de uma premissa que aborda também as conjunturas, as deduções e as convicções amparadas em fatos. Um filme muito bem feito, um filme para ser visto, discutido e recomendado.
O resultado do julgamento não descerra a verdade sobre o caso em si. Ele cristaliza uma verdade. A verdade material e, materialmente, é uma verdade justa. Não haviam provas suficientes que encriminassem Sandra para além das suposições com base na forma abusiva que se definhava a relação desde o acidente com Daniel. Porém, é preciso se atentar a algumas situações que são pontos de virada da narrativa.
A primeira delas é o segundo depoimento de Daniel. A personagem, diante de todo desgaste causado pela briga dos pais, precisou desenvolver ao longo desses anos uma maturidade precoce. Comportamento que se prova no "experimento" que testa no seu cachorro para testar por tabela a versão da própria mãe, bem como na sobriedade de pedir que a mãe não ficasse na mesma casa que ele antes do seu depoimento. Vemos aqui um amadurecimento precoce do menino (que já estava suportando toda situação pública de sua própria vida em um nível teoricamente insuportável para tão pouca idade). Verdade também é o que escolhemos acreditar, por isso é construção de possibilidade. Ele escolheu acreditar que o pai realmente havia tentando suicídio a partir da associação do vômito e do cachorro, da mesma forma que a conversa da ida ao veterinário se tratava de uma metáfora do próprio pai se despedindo dele. Poderia ter decidido acreditar que o vômito era um envenenamento e que a conversa sobre brevidade da vida era estrita ao cachorro, mas, ao fazer isso, estaria validando a culpa da mãe na morte do pai, o que, insconscientemente, resultaria na perda de um outro tutor (a mãe seria presa e ele provavelmente cresceria por alguns anos sem pai e sem mãe).
O segundo ponto, e esse aqui eu considero um ato falho, é a conversa que Sandra mantém com o advogado, agora amigo, após a absolvição. Um inocente, em toda sua certeza, não deveria questionar se o vencer, ou a vitória em si, é insuficiente. O inocente que recebe absolvição exulta a justiça, não deveria haver espaço para questionar a moral da vitória nesta altura. Não digo que Sandra de fato foi a responsável pela morte de Samuel, porque materialmente é insuficiente e porque o próprio filme constrói essa narrativa para que haja a dúvida (e o debate), mas, mesmo que tenha sido de fato um suicídio, a protagonista acusa algum nível de culpa (mesmo se mostrando extremamente egoísta e narcísica), a questão é: a culpa que carrega é pelo fato de ter cometido o crime e saído impune ou de saber que a forma dura como desgastou a relação com marido após o acidente com o filho foi a consequência do suicídio. Nunca saberemos, lidemos com a dúvida e com a condição material (e inconclusiva) das verdades.
Cidade dos Sonhos
4.2 1,7K Assista AgoraTalvez seja um dos filmes mais geniais que eu assisti. Acho que poucos diretores conseguem praticar um suspense/terror psicológico como Lynch. A forma como manipula imagens e sons para criar ambiências que prendem o espectador é genial. O filme é sobre ilusão e realidade, sonho e verdade. Ou tudo junto. Um consciente inconsciente. O filme é um primor. Clássico.
Lakers: Hora de Vencer (2ª Temporada)
4.1 10 Assista AgoraDesenvolveu outras faces das personagens, aprofundou as narrativas, trouxe mais humanidade aos protagonistas. Mas a grande mensagem da temporada (que deveria ter terminado com a revanche de 85 haha) é o tensionamento entre coletivo e indíviduo, ego e compaixão. É uma temporada também sobre poder e as consequências do uso de quem o detém. Ótima temporada (pena que cancelaram, porém, entendo que a questão da representação de personagens da vida real seja realmente complexo e gere algum desgaste na produção dos roteiros)
PS.: A parte do "suave" de Westhead com Magic se tornou na minha cena favorita de toda série =)
The Midnight Gospel (1ª Temporada)
4.5 455 Assista AgoraA melhor série produzida pela Netflix.
Triângulo da Tristeza
3.6 730 Assista AgoraTem humor satírico, tem pedagogia de classe, tem aprofundamento do debate de gênero e da futilidade contemporânea. Diálogos bem construídos e bem montados.
Um diálogo relativamente simples mostrou a inteligência de Ostlund. A discussão entre Yaya e Carl no elevador ganhou muito mais sensibilidade pela inteligência do diretor. Aliás, que grata surpresa o trampo desse sueco.
A sensação que eu tive quando terminei é de que na questão de gênero, o filme aprofunda a mensagem em Midsommar.
Filme muito bem feito e pungente nas discussões contemporâneas.
Lakers: Hora de Vencer (1ª Temporada)
4.3 23 Assista AgoraUma série pra entender que para além dos resultados num esporte, existe as complexidades humanas em todo aquele que colabora pra fazer o esporte.
Tudo na ambientação é mágico. A trilha, as mudanças edição na textura das capturas, mas os maiores destaques ficam com a montagem (ora apressando a história, ora num ritmo mais lento) e com o roteiro, os diálogos são muito bem construídos, trazendo reflexões sobre os sentimentos que atravessam atletas, familiares dos atletas e cartolas.
Apesar da dramatização, que gerou críticas por parte de alguns dos dramatizados, é uma série obrigatória para quem curte esporte (nem necessariamente basquete).
Alice in Borderland (2ª Temporada)
4.0 178 Assista AgoraA série é cheia de referências, desde a própria obra de Lewis Carroll até a estética meio videogame. E ao contrário de Round 6, que traz uma crítica praticamente ao sistema (aprofundando pouco a complexidade dos personagens), Alice in Borderland é basicamente sobre as relações humanas, em uma reflexão mais ampla.
A 2ª temporada é muito melhor que a 1ª. Diálogos melhores, personagens mais cativantes, menos foco nos jogos (que devem ser só um pretexto pra desenvolvimento dos dramas e não o principal, senão vira um Round 6 da vida). Em especial, o Rei de Paus e o advogado (acho que é o valete de ouro), merecem destaque.
A forma como a temporada se encerra é muito boa e torço para que não haja uma 3ª temporada. As pontas soltas, todos os excessos, as cenas de Deus Ex Machina, tudo no roteiro foi encaixado neste final.
Quem tiver a fim de ver só gore, pensar pouco e só se distrair, é melhor buscar outra opção. Alice in Borderland é uma série pra fazer refletir sobre as relações pessoais que construímos ao longo da vida e quais sentimentos, se é que é possível hierarquizá-los, são realmente importantes dentro das nossas subjetividades.
A Assistente
3.3 199 Assista AgoraPra um filme transmitir exatamente a ambientação onde a protagonista está inserida não precisa ser arrastado, enfadonho. A narrativa simplesmente não prende. Não instiga você a imaginar o que vem em seguida na trama. Não envolve o espectador.
É só um suspense psicológico em uma história de vida comum a tantas trabalhadoras e trabalhadores, um suspense vazio, que não se apega de onde vem, nem pra onde vai. Muito difícil de construir uma empatia com a personagem.
Conta com alguns easter eggs, em alguns outros momentos você vê um cuidado na montagem da cena, os planos longos, mas é preciso muita boa vontade para ir além e dar uma chance do filme acabar...
Sozinhos
3.6 64Consegue trazer algum nível de reflexão, sobretudo nas relações humanas e familiares, mas os monólogos, principalmente, reproduzem um "gonguismo", uma forçação de barra, que colocam tudo a perder.
Você se prende naquela narrativa, na forma como é contada a história e de repente um "epa, como uma pessoa que tá contando uma história tão triste se vale de uma narrativa tão poética e lírica?" (o pior episódio de todos é de Constante Wu).
Esse estranhamento que passa nessa forçada deixa a série por vezes inverossímil (mas porr@, é uma série de ficção científica, certo? Mas o foco são nos dramas das relações humanas e ninguém conta suas memórias da forma que a série mostra).
Your Honor (1ª Temporada)
3.8 72 Assista AgoraCranston e Stuhlbarg carregam a série nas costas. Não porque a série é ruim, longe disso, mas porque são dois puta atores da atualidade. A fórmula que faz prender quem assiste é interessante, mas é bem Breaking Bad (você torce pelo que é errado eticamente e não sabe bem o porquê dessa torcida, tendo em vista que o principal envolvido é um grande babaca).
Porém, o único defeito evidente é o fato do roteiro dar umas forçadas beirando o "deus ex machina" pra fechar o arco narrativo principal. É compreensível, tendo em vista que é preciso para dar um desfecho, mas, não deixa de soar forçado, tirando um pouco do brilhantismo da série.
Ademais, vale o play e as 10 partes (faltou criatividade) da série.
Observadores
3.0 420 Assista AgoraQuando você não consegue construir uma narrativa que proporcione UM plot twist decente, você precisa sair soltando plot twists como quem tá salgando comida.
Narrativa forçada, inverossímil em vários aspectos. Gasta muito tempo para construir as personas dos protagonistas, e pouquíssimo tempo pra enfiar goela abaixo uma sequência de plot twists que deixa o enredo ainda mais absurdo.
Nível '50 Tons de Cinza'
True Detective (3ª Temporada)
4.0 285Pra mim, a principal retomada do que fica da primeira temporada é resumida na fala de Rust Cohle: "time is a flat circle". Tudo nessa terceira temporada gira em torno desse conceito.
As três tentativas de investigação sob as mesmas circunstâncias por parte de Hayes e West (em três tempos diferentes), o lance de envolver exatamente o desaparecimento de um menino e uma menina, a tensão em torno de uma possível rede de pedofilia...
A prova dessa retomada é mostrada na própria temporada com a citação ao trabalho de Cohle e Hart em Louisiana e na cena final, com Hayes entrando na mata, como se passado, presente e futuro ocupassem um mesmo espaço.
Um ótima temporada para quem se frustrou, com razão, com a segunda.
O grande problema é que nunca mais teremos uma temporada de True Detective como foi a primeira. O parâmetro é cruel demais. Mas, há que se reconhecer, mais um ótimo trabalho de Pizzolatto.
O Mistério de Silver Lake
3.0 292 Assista AgoraUm puta "metafilme", mostrando uma versão alternativa (ou não) do mundo underground de Hollywood. Cheio de referências a filmes e diretores clássicos. Mas o grande trabalho em torno do filme é a forma como o diretor constrói a narrativa como se o protagonista estivesse o tempo todo na iminência de abrir uma fenda e acessar uma realidade paralela,
quando no fundo, toda paranoia em torno dos códigos, levou a uma "seita", que não chega a ser uma outra dimensão, mas de fato é algo tão recluso e envolve tantos ilícitos que acaba sendo, de certa forma, uma realidade alternativa.
"Ain mas deixou ponta solta". "Ain mas e aquela parte lá que ficou sem explicação...". Então, jovem, alguns trechos do filme foram feitos justamente pra fornecer experiências que não são, necessariamente, ajudar a fechar a história do arco principal. A geração "Marvel x DC" dos cinemas precisa (re)aprender a ver filme. Pensei que o "homem-aranha" como protagonista fosse ajudar nessa pedagogia....
Mare of Easttown
4.4 656 Assista AgoraNão é uma série policial, é uma série policial também. Mare of Easttown (ou Maria de Cidade de Leste =] ) é uma baita série de drama, muito bem executada, com personagens secundários importantes para dar destaque à protagonista, e que protagonista.
A HBO sempre traz bons dramas. Neste a gente vê as relações de maternidade, paternidade, de família mesmo, construídas e desconstruídas o tempo todo. É uma série sobre as relações de família, basicamente, que acaba ganhando em suspense com as duas investigações que conduzem o fio narrativo da série.
Não tem cabimento comparar com a brilhante primeira temporada de True Detectiva, principalmente porque é uma série inversa de Mare of Easttwon, o drama é parte do enredo, não o todo. Em Mare of Easttown saber "quem matou Laura Palmer" é secundário, o foco está na construção das personagens envolvidas na investigação.
Série recomendadíssima!
O Último Suspiro
3.0 139 Assista AgoraFaltou se aprofundar no enredo de forma que o filme passasse alguma mensagem. O roteiro se perde muito nas relações pessoais da família protagonista e ainda assim na profundidade de um pires. Fazendo muita força, você encontra uma moral no filme, mas o desfecho da história não comove, não causa impacto, não gera sentimentos. Uma narrativa bem interessante, numa ambientação razoavelmente explorada nos filmes de ficção científica, mas muito mal desenvolvida.
O Farol
3.8 1,6K Assista AgoraIncrível como usando praticamente só dois personagens em um ilha, numa filmagem P&B, o diretor conseguiu contar tanta coisa em uma única narrativa (relação dos dois vigias do farol) e com tanta riqueza de hipertextualidade com a mitologia grega.
Filme pra ver sem deixar escapar nenhuma detalhe.
(E que atuação do vampirinho, hein?)
Machuca
4.3 281Tão indigesto quanto necessário.
Um filme fundamental pra entendermos a composição de classes nos países sulamericanos, mas, ainda mais fundamental pra entendermos que golpes e ditaduras militares não brotam do nada. É preciso primeiramente lastro popular, depois a evolução das modulações do Estado de exceção, passando desde a antipatia velada com padres por serem "vermelhos demais" até passeatas públicas com direito às batidas de panelas (!?).
A História mostra. A plenitude da beleza da Democracia nos países com governos progressistas é diretamente proporcional à certeza de que a durabilidade desses tempos é curta pela intolerância das elites sulamericanas, oligárquicas e escravagistas em sua maioria.
Com perdão do trocadilho, mas Machuca deixar o coração da gente doído por mostrar tanta semelhanças com a história que vivenciamos neste Brasil dos últimos tempos...
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraParasita mostra que dá pra fazer cinema de crítica social fora do luga comum. Um filme completo, cheio de momentos que fazem refletir sobre as complexidades sociais do mundo capitalista e logo depois entrega cenas cômicas ou de suspense que nos fazem esquecer que o filme se trata eminentemente de uma cinema "social".
De todas as mensagens deixadas por Parasita, a mais forte é a do cheiro. Não importa o que você faça, quão próximo da elite você seja, o quanto de acesso que tenha a privilégios, o seu cheiro (enquanto metáfora de uma barreira social quase invisível) vai tratar de recolocar você ao lugar que pertence.
Filmaço!
Ninguém Pode Saber
4.3 228História tão forte com execução incompatível. A edição, os cortes abruptos na narrativa, fragmentos dos acontecimentos como forma de fazer o expectador interpretar da sua forma tira o impacto dos fatos.
A morte de Yuki foi atenuada na montagem de cenas. Não sei se era a ideia de passar minimalismo ou foi preguiça mesmo do diretor.
Atuação das crianças é um primor. A trama do protagonista, Akira, é muito legal, mas também causa menos impacto do que deveria.
Ainda que o diretor tivesse a intenção de causar uma expectativa para o desenrolar da história em quem assiste ao filme, numa eterna espera de uma virada de chave que nunca chega (assim como os meninos esperam pela volta da sua mãe), o andamento do filme deixou a desejar.
Enter The Void: Viagem Alucinante
4.0 870Quem não entendeu, devia tá sóbrio. Maravilhosa história sobre morte, pós-vida e vida. Gaspar Noé dá uma aula de como narrar com as câmeras a viagem de um espírito quando desencarna. Tempo circular, a vida como energia e um conceito sucinto de reencarnação. Cinema de arte, não de comércio. Gaspar Noé é foda!
Nunca Me Sonharam
4.4 23 Assista AgoraO documentário “Nunca Me Sonharam”, de 2017, apresenta um recorte verossímil e plural da realidade da educação básica no Brasil no que diz respeito em ensino público, especificamente. Montado a partir de depoimentos de estudantes, professores e gestores de escolas de pelo menos quatro regiões do país, o filme apresenta uma narrativa plural na qual é exposto um problema complexo, multifacetado e histórico. Ainda que passível de edição e de uma curadoria das informações a serem retratadas, a direção expõe com honestidade o panorama nas escolas públicas. Relatos que evidenciam desafios semelhantes, muitas vezes uníssonos, embora os depoimentos sejam de jovens e profissionais de pontos geograficamente opostos, extremos culturalmente. Ao passo que dá voz aos estudantes (enquanto adolescentes e jovens), em suas inquietudes e inseguranças, o documentário tenta inserir o espectador dentro da instabilidade emocional dos alunos. Da mesma forma age com os professores e diretores, uma vez que, registra o esforço dos profissionais para driblar as adversidades encontradas na seja perante a falta de recursos, seja pela própria dificuldade em gerir pessoas imaturas e eventualmente intransigentes. “Nunca Me Sonharam” é um trabalho visualmente bonito, construído na simbiose harmônica de depoimentos lúcidos e fotografia esmerada. Um trabalho fundamental para se entender o estágio da educação básica no Brasil do Séc. XXI e traçar planos para reverter as agruras da área.
Marighella
4.1 112Um filho de um imigrante italiano. Um afrodescendente, ao mesmo tempo. Um nordestino. Um homem de origem pobre. E o maior nome da resistência armada na ditadura civil-militar brasileira unia quase todos os grupos oprimidos. O líder revolucionário que o Brasil precisava, mas que à época não quis. Um filme que, além de documento histórico rico, é um pedido de desculpas e um "muito obrigado" do Brasil ao talvez maior quadro da esquerda brasileira.
Violência Gratuita
3.8 739 Assista AgoraO filme inteiro é uma metalinguagem entre o real e o ficcional. E por isso, tudo que se comentar a respeito de furos na construção do roteiro, será justificado do ponto de vista dessa relação. Nada está fora do lugar, ao meu ver. Direção certeira de Haneke. Praticamente sem cenas explícitas de violência, mas de um terror psicológico que perturba o espectador. Um bom filme, numa pegada mais comercial, mas com pitadas de um cinema mais artístico.
Paul é inserido por Haneke como detentor do poder de migrar entre o ficcional do próprio filme e o real de quem assiste. Tanto que é o único a quebrar a 4ª parede (falar diretamente com o espectador) e o responsável por mudar o rumo do filme na cena do controle. O diálogo entre Paul e Peter no barco, na cena da morte de Anna, é a síntese da mensagem do filme.
A montagem onde o ficcional e o real se misturam é feita com autoridade por Haneke. As vítimas dos dois sádicos são famílias ricas, pessoas que ocupam na sociedade da nossa realidade uma vida praticamente ficcional. As cenas mais importantes tem uma fluidez lenta, para passar uma visceralidade e uma crueza genuinamente reais.
No geral, um bom filme de terror psicológico de um diretor que sempre traz boas discussões.em seus trabalhos.
Amor Bandido
3.7 353 Assista AgoraFilme extramente singelo, mas que fala de amor, em todas as suas vertentes, com uma riqueza de significado tremenda. O romance juvenil em paradoxo ao adulto, o bromance, o amor entre pai e filho. Talvez o desfecho da trama tenha deixado uma sensação de forçação de barra, mas não comprometeu o filme em si. Acredito que os que acharam o filme cansativo se deixaram levar pela tradução tosca brasileira, afinal não se trata de um filme de ação, ou muito menos de um romance.
Mais um bom filme da ótima nova fase de McConaughey.