É um grande desafio aos diretores que se propõem adaptar qualquer obra de H.P Lovecraft. Pois ao contrário dos autores "contemporâneos" como Stephen King, por exemplo, por mais que exista um contraponto entre a obra literária e o resultado final de uma releitura da obra apresentada em um longa-metragem. Ainda assim, existe um terreno seguro aonde o diretor pode se apoiar. Esse ponto seguro se baseia em enredos contemporâneos, contextos e ambientes inseridos na realidade atual, atmosfera familiar, dramas humanos, lugares e medos comuns a nossa humanidade. Pontos cruciais aonde a trama/suspense/ terror pode se desenvolver e se torna de fácil transmutação para o diretor desenvolver seu filme baseado na obra.
Até mesmo escritores mais clássicos como Edgar Allan Poe (Gato Preto) , H.G Wells (Guerra dos Mundos), Bram Stoker (Drácula), Mary Shelley (Frankenstein), Henry James (Os inocentes), Ira Levin (O Bebê de Rosemary), William Peter Blatty (O Exorcista), Jay Anson (Horror em Amityville), Clive Barker (Hellraiser), Robert Bloch (Psicose) são facilmente adaptáveis pois o que sustenta a coluna vertebral de sua trama literária são dramas humanos: amor perdido, exclusão social, maternidade, consciência perdida, busca por prazeres, família destruída, preservação da espécie, superstições e preconceitos, medo do desconhecido e repulsa ao estranho e diferente, insanidade e todas as questões freudianas possíveis.
No entanto, H.P Lovecraft é um grande desafio, pois é um contra-ponto diante de tudo aquilo que nos trás uma conexão humana com nossos dramas cotidianos e cíclicos em nossa história. Toda beleza da obra de Lovecraft, toda sua magnitude, esplendor, fantástico, cósmico e surreal de sua obra se expressa justamente na experiência e imersão da própria leitura e o universo mitológico que a compõem. Foram poucos diretores que tiveram uma “inspiração a altura” tornando o resultado final significativo, mesmo sendo completamente diferente a obra literária original. Pois de fato é isso. Não existe um filme completamente fiel a obra literária. Assistir um filme baseado em um livro esperando essa fidelidade é uma injustiça com o escritor e com o diretor. O escritor tem como palco a imaginação do leitor para criar a sua ilusão. Para que essa ilusão seja aceita ele desenvolve com um minimalismo extremamente convincente cada aspecto de sua história: o ambiente, os personagens e suas personalidades, suas experiências e tudo que faz com que nós, os leitores, compor cada mínimo aspecto realista daquela ficção.
Já o diretor não tem somente a escrita em suas mãos (o roteiro) para contar uma história. Ele tem que coordenar todas as formas de expressão para compor uma narrativa: fotografia, música, sonoplastia, artes visuais, teatro, semiótica, iluminação e figurino. Por essa razão, nunca comparo uma obra literária com um longa-metragem. O escritor visualizou sua vida e seus conflitos para escrever. Essa é sua fonte de inspiração e nunca poderemos questiona-lo se foi fiel a ela ou não. Mesmo que pudemos, teríamos uma visão diferente, pois toda verdade que obtemos de uma observação se baseia nas experiências que carregamos como conhecimento para julgar aquilo que vemos.
Com o diretor da mesma forma. O filme é o resultado final de um longo trabalho de coordenação de todos os meios artísticos de expressões citados. O filme que assistimos não é uma transmutação da obra-literária em imagens e sons. Mas sim uma visão do diretor sobre a obra literária somado a todas as referências e conhecimentos que ele possui como profissional e ser humano. Podemos ver isso com muita clareza com o filme O iluminado de Stanley Kubrick, inspirado na obra de mesmo título do escritor Stephen King. O filme é aclamado por crítica e público e na minha apreciação pessoal, a obra mestre de Kubrick. No entanto na época King odiou o versão de Kubrick. Que de fato é bem diferente da obra literária. Mas não deixa de ser um grande filme, pois Kubrick captou o “espírito da coisa”.
É claro que existem versões filmes baseados em obra literária que são um desastre. E nisso não podemos não podemos afirmar que o desastre é resultado da falta de fidelidade a obra literária, pois seria impossível. São mídias diferentes. Mas podemos colocar a culpa na incompetência técnica, na direção e até nos produtores executivos que dão sempre um pitaco no filme, pois estão investindo dinheiro. No caso dos filmes inspirados na obra literária de H.P Lovecraft, os fatores anteriores são bem possíveis, mas a complexidade de sua obra ainda assim é um grande fator central nas adaptações. Admirador da obra de Lovecraft que sou, sempre me permito assistir filmes inspirados em seu universo cósmico. Confesso que ao longo dos meus 30 anos assistindo filmes, raras vezes vi uma adaptação cinematográfica que honre a essência do escritor ou tenha uma percepção de muito bom-senso de sua obra.
A produção mais fidedigna ao universo lovecraftiano que assisti tem como feitor um diretor latino, José Luis Alemán. São dois filmes que se complementam: “La Herencia Valdemar (O Legado Valdemar – 2010)” e “La Herencia Valdemar II: La Sombra Prohibida (O Legado Valdemar II: A Sombra Proibida 2011)”. Incrivelmente recentes, mas ambos são extremamente competentes em sua narrativa e composição da atmosférica tétrica e inebriante do universo do escritor. Captando com sabedoria sua essência na descrição do horror diante do desconhecido e inominável de suas obras.
Digo isso, pois tenho alguns filmes no coração ao longo dos anos que são baseados na obra de Lovecraft. Alguns toscos, outros cômicos e poucos que deram um interessante olhar a obra, mas acima de tudo, tiveram uma importância de alguma forma. Citarei só os realmente relevantes, como o clássico “Re-Animator (1985)” do Stuart Gordon. Gordon soube misturar horror, suspense, humor e sex exploitation ao filme, sem deixar desmerecer Lovecraft, mas deixando a sua assinatura inconfundível como diretor. Considero crucial do mesmo diretor "From Beyond (1985)" e "Dagon (2001)", porém sem muito “glamour”. Se é que “glamour” se encaixa com os filmes B. E por último, mas não menos importante, “Necronomicon - O Livro Proibido dos Mortos (1993)” do diretor Brian Yuzna.
E aqui chegamos ao “Color Out of Space (A Cor que Caiu do Espaço - 2020)”. Fiz toda essa introdução não apenas para validar minha crítica, mas para explicitar a diferença entre obra literária e adaptação cinematográfica. Que não existe uma fidelidade literária em adaptação cinematográfica. O filme é o equilíbrio de várias expressões artísticas, mas principalmente a inspiração e percepção do diretor diante da obra do escritor. Tendo H.P Lovecraft como um dos mais difíceis escritores nessa tarefa. Por essa razão considero um grande desafio de qualquer diretor adaptar uma obra de Lovecraft.
E pelo que percebi o diretor Richard Stanley escolheu uma das histórias mais difíceis do escritor “A Cor que Caiu do Espaço”. Digo difícil, não no quesito de se captar inspiração, mas de realmente expressar com o mesmo paralelo tétrico algo que é quase indescritível. Outra história que considero um grande desafio é “A música de Erich Zann”. Ao ler o conto você entende o encantamento músico pelas notas e canção que o aprisiona em um ciclo de contemplação naquilo que ele mesmo compõe. Ao mesmo tempo, durante a leitura do conto, pensamos como é o som daquelas notas, como é a melodia daquela canção. Pois o autor escreve com uma perspicácia indescritível a sensação de um som que não estamos ouvindo. A mesma sensação se tem com o conto “A Cor que Caiu do Espaço”. Durante a leitura ficamos deslumbrados como a ideia de uma cor jamais vista e os seres descritíveis e antigos que se manifestam com a exuberância espectral dessas cores, somado ao horror e loucura que os personagens são tomados.
Trazer essa história para os dias atuais, ao meu ver, foi uma tentativa do diretor de nos colocar no mesmo contexto. Mas os personagens são tão rasos e com frustrações cotidianamente banais que acabaram tornando solúvel a experiência do horror sobre o desconhecido. Algo que nesse quesito deveria ser uma experiência mais intensa e imersiva. Ainda mais por estarmos diante de uma obra de Lovecraft. O personagem Ward Phillips, incumbido de trazer a narrativa consigo, criar a atmosfera investigativa e ao mesmo tempo alimentar a trama com a incógnita de suas descobertas, teve uma apresentação completamente nula na história. Se o seu personagem fosse mais trabalhado o desfecho da história seria mais denso e imersivo.
Ward Phillips é um epidemiologista que veio até a zona rural da Nova Inglaterra para pesquisar sobre a qualidade da água aos cuidados da empresa de saneamento. Ward Phillips é um dos pseudônimos do escritor Howard Phillips Lovecraft. O filme se inicia com a voz do personagem Ward, interpretado pelo ator Elliot Knight, citando Lovecraft. Como também termina com Ward, citando Lovecraft. Da mesma forma que o personagem “abriu” a narrativa, “fechou” sem fazer a menor diferença. E claro, temos Nicolas Cage, sendo Nicolas Cage. Por mais que nos créditos diga que o personagem interpretado por ele seja Nathan Gardner, vemos apenas Nicolas Cage “despirocando” como Nicolas Cage: louco, insano, exagerado e cheio de piras. Faz muito tempo que Nicolas Cage segue o modo Charles-Bronson-Fim-de-Carreira em sua interpretação. Os personagens dados a ele tem que casar com sua loucura pessoal como foi o caso de “Mandy: Sede de Vingança” (2018) do diretor Panos Cosmatos. O filme é bom? Ainda estou processando essa resposta... “Color Out of Space” é um filme que se assiste uma única vez. Não é o pior filme baseado na obra de Lovecraft. Já me deparei com alguns que incitaram sono e tédio em minha tentativa de assisti-los. “Color Out of Space” provavelmente será um “Sinais” com Mel Gibson que passará muito na sessão da tarde. Tentou ser uma obra com referências a Lovecraft. Falhou miseravelmente. Mas é uma diversão para quem não espera muito do filme. E na terceira parte do filme tem uma mutação genética entre humanos que vale a pena.
O filme possui grandes atores e uma ótima fotografia. Mas é muito arrastado e com um alter-ego-da-felicidade-americana que eles não se cansam de exaltar em cenas arrastadas.
Rambo - Last Blood tenta passar o espírito do soldado traumatizado pelas guerras, pelas percas e acima de tudo: "um exército de um único homem e o exército de um homem só". Essas são as únicas referencias do primeiro filme. O que se segue é o que esperamos [ou o que está sempre proposto a entregar] da franquia Rambo: força, estratégia, armadilhas para lidar com inúmeros inimigos, um a um, com as próprias mãos. Em uma versão sem censura e com muito mais sague. O filme não é ruim, mas não tem a carga dramática do primeiro que se propôs a fidelidade ao livro o qual se inspirou: First Blood - David Morrell (1972). A diferença é que no livro de Morrell o nosso personagem, Jhon Rambo se suicida no final. O livro trata da exclusão do soldado a sociedade que prometeu proteger em uma guerra falida e inválida de propósitos nobres. First Blood, o primeiro filme, consegue carregar essa forma dramática. Os filmes que se seguem são uma representação caricata histórica dos vilões em cada cultura oposta a cultura americana. E digo isso, não de forma pejorativa, pois nunca vi nas séries de rambo uma necessidade histórica, por isso não faço alarde com os mexicanos conforme a mídia tem feito. Considero uma visão caricata dos vilões. Mas isso não me ofende, pois eu entendo o propósito do filme e o vejo como entretenimento com erros históricos e não um documentário com distorção dos fatos.
Tendo dito isso, não considero “Rambo - Last Blood” como a chave de ouro que fecha um ciclo. Vejo com um novo filme do Rambo que oferece o que a ideia de Rambo tem a oferecer. Não é um filme ruim, pois tem boas cenas de ação, mas não é um excelente filme. É um exercício ao saudosismo com ar de melancolia no sentido “será que precisava de mais um”. Particularmente falando acho que o filme do Sylvester Stallone é mais um afago ao próprio ego e a memória do seu personagem icônico [além de ser uma boa maneira de garantir um $din din$] do que uma obra extremamente expressiva que fecha um ciclo. É um filme que facilmente passará batido para quem não tem a memória afetiva com o personagem e a época em que tais filmes aconteceram. Mas Rambo é Rambo. A diversão é garantida.
A premissa que faz a idéia parecer interessante, não se sustenta na direção e roteiro fraco. A sensação que fica que parece que o filme foi desenvolvido após assistir aquelas listas de "os 10 melhores filmes de terror" de acordo com o youtuber do momento. Pois não existe nenhuma estética, dinâmica e atuação convincente. Usaram cenas de jump-scare que me soou como "vamos colocar uns sustos aqui para a gente definir o que faz com a trama do filme ao chegar ao final". O filme teve a pretensão de ser suspense genuíno, mas não foi. Tentou ser um Demian, mas nem passou perto.
Quando From Dusk Till Dawn 2 foi lançado em 1999 minha expectativa andavam de mãos dadas. Primeiro por que conheci From Dusk Till Dawn nas noites da bandeirantes e ao mesmo tempo estava conhecendo o estilo de Quentin Tarantino que alguns anos antes acabara de lançar Cães de Aluguel.
Minha grande surpresa com o primeiro From Dusk Till Dawn foi o plot-twist do filme, pois notavelmente a primeira parte do filme é um filme ao estilo Quentin Tarantino e notavelmente a segunda parte era um filme estilo Robert Rodriguez. Quando surgiu em 1999 From Dusk Till Dawn 2: Texas Blood Money eu fiquei muito apreensivo, pois tudo de interessante havia sido revelado no primeiro e o roteiro teria que ser muito criativo para trazer uma competência a algo que terminou de forma surpreendente. O fato é que em 1999 achei o filme uma bela porcaria.
Mas nada como os anos e novas experiências para nos fazer rever nossas avaliações, não só sobre o filme, mas também sobre a vida. Com o surgimento da série From Dusk Till Dawn e meu conhecimento adquirido durante os anos sobre diretores, produtores e atores. Acabei tendo uma perspectiva diferente sobre o filme.
Ele continua sendo inferior ao primeiro, sem sombra de dúvidas. Mas não é tão trágico quanto a cosmologia que a série quis reconstruir. O filme não tem uma grande reviravolta como o primeiro, faltou humor e diálogos engraçados a altura do primeiro. Mas existe um filme que trás boa diversão, sem fugir do universo proposto pelo primeiro. Temos a participação no inicio do filme do canastração Bruce Campbell (Evil Dead) como o advogado inescrupuloso. Temos Raymond Cruz que atualmente é conhecido como Tuco Salamanca do Breaking Bad.
É um filme canastração que atualmente vejo com menos "ódio" e cumpre seu papel de divertir
A idéia, a premissa da história é sensacional: “um filho Jor-El que não veio para salvar a humanidade”. A execução, roteiro e desenvolvimento que foi catastrófica. Perderam a grande oportunidade de nos intrigar desconstruindo a ideia do biótipo de um “salvador” que veio libertar a humanidade e dar razões mais concretas para destruição da raça humana. Pois a razão que deram ou veio de um roteirista muito patriota ou de uma criança de 10 anos: “Somos uma raça superior”. A idéia de terror do filme também é muito ridícula. Na verdade, eles não criam nem tensão de suspense, quiçá, terror. Se você tem hábito de assistir filmes de terror a mais de 5 anos ou nasceu nos anos 80 vai estar vacinado para todas as técnicas de “terror” aplicadas nesse filme. Técnicas que te garanto que já foram aplicadas em todos os filmes, principalmente os mais clichês do gênero: ângulos fechados com o personagem central com rosto oculto, reflexos no espelho, jump-scare por kilo e outras bobagens que não sustentam a premissa da história.
O segredo para esse filme ter sucesso é ter um bom roteiro com pés no drama para tornar os “super poderes” em algo realmente sobrenatural na aceitação do telespectador. Com isso um suspense bem trabalhado na trama e desenvolvimento da criança e suas razões com a humanidade. E depois o terror no segundo ato mostrando realmente a natureza bestial seguido de uma premissa que mudasse o contexto da história no final, mostrando que o mal não é por si só, revelando algo destruir da raça humana que ele como salvador veio intermediar. A premissa é boa, mas o desenvolvimento estragou as milhares de oportunidades de tornar o filme algo muito criativo.
Para não dizer que não tem nada de bom nesse filme. A fotografia é boa e a cena do caco de vidro no olho é interessante. Fora isso, esse filme só é recomendado para quem nunca viu um filme de terror na vida. Dessa forma o telespectador precoce no gênero poderá ter uma “experiência de terror”. Mas se você já tem uma vasta experiência no gênero, fuja. Veja só por mera curiosidade antropológica ou nem isso.
Um bom exemplo de como jogar o dinheiro da contratação de grandes atores no lixo. Faltou criatividade para desenvolver uma história que não soasse mais do mesmo, faltou roteiro para deixar tudo interessante e faltou direção para dar ritmo na história. É aquele tipo de filme que você assisti pelo mérito de grandes filmes dos atores presentes
UM FILME QUE NOS FAZ PENSAR NO SIGNIFICADO DE VIVER E ESTAR VIVO
Caramba, esse filme me emocionou demais. Talvez porque eu esteja pensando muito sobre a vida ou talvez porque eu esteja vivendo dias caoticamente sabáticos. Provavelmente eu esteja completamente errado, afinal é um do Gus Van Sant com Joaquin Phoenix! Mas tenho que admitir. É o segundo filme com o Joaquin Phoenix que eu não esperava completamente nada e ele me desconstruiu completamente. A primeira vez foi com filme “I'm Still Here”. Eu fiquei completamente convencido de que se tratava de um documentário sobre a vida do próprio Phoenix e a sua desistência das artes cênicas e ascensão fatídica como um astro do Rap! A segunda vez que fui completamente iludido foi com “Ela (Her)”, um filme de 2013 que só fui descobrir que o Joaquin Phoenix atuava após os créditos.
Em “A Pé Ele Não Vai Longe” Joaquin Phoenix conta a história real de John Callahan, um alcoólatra que se torna tetraplégico após um acidente de carro. O filme não foca de forma melodramática nas dificuldades de acessibilidade para o deficiente, mas sim, na aceitação da vida como ela é. Na dificuldade monstruosa que é vive-la em certos aspectos, mas principalmente, quando se é uma pessoa com deficiência. A maioria das pessoas vai ao terapeuta ou psicólogo para entender a vida, entender a si mesmo e buscar um propósito para viver com o bornal de frustrações individuais. De fato, quem se tornou deficiente e não nasceu deficiente também busca esse “propósito pessoal”.
No entanto para quem nasceu deficiente as idiossincrasia físicas que o define são apenas características que reescrevem a forma como ele vê as nuances da vida. As frustrações pessoais não são fardo, mas aprendizados diante da própria essência. O que para algumas pessoas são problemas de extrema grandeza, algo transponível. Para o deficiente é algo que já está pressuposto na experiência individual de vivenciar as coisas. Pois a deficiência não é um fator a ser superado, mais sim, uma característica da sua própria essência. Os fatores a ser superados são externos e sociais. Questões que vão muito além de uma calçada com acessibilidade ou o que os outros realmente irão pensar. A luta é por uma igualdade intimista.
Por essa razão, o que nos faz frequentar um psicólogo (pessoalmente falando), não é como eu devo encarar a minha deficiência. Mas a forma como eu preciso compreender, tolerar, aceitar, aprender a não me impactar com o preconceito alheio. Preconceito esse que é interpretado pela maioria das pessoas de forma banal e errada. Não é preconceito, mesmo que seja grosseiro, a identificação da deficiência no outro: “Olha! Ele é um deficiente”. Nem tão pouco a expressão de estranheza por estar diante de algo diferente ou simplesmente a aversão involuntária diante da anti-estética nua e crua. E sem dúvida não é preconceito utilizar o humor diante das diferenças. Desde que seja de forma muito honesta, inteligente, não ofensiva e sincera. Acho o teor humorístico muito válido, pois quebra barreiras.
Com exceção do humor, todas as formas de definições acima não são preconceito. São apenas ignorância e desconhecimento diante do que é diferente. Essas manifestações de ignorância são fáceis de lidar e desarmar com o uso da ironia, dialogo ou explicação dos fatos. O preconceito real, aquele que lidamos todos os dias. É mais sutil, hipócrita, exclusivo e desumano. É aquele que define o ser como incapaz para fazer algo, viver algo, pertencer a alguém justamente por que concepções pessoais do outro definem que aquela forma de existência não é o melhor para si. E isso pode ser manifestado da forma mais explicita possível até diante do gesto mais sutil visível.
Por essa razão filme se tornou impactante. Justamente por me fazer pensar, independente da deficiência, que a felicidade não é saber sanar todas as dores, mas viver com ela todos os dias e estar em paz. Nenhum de nós está da livre da apatia humana e o egoísmo distorcido em forma de “verdades pessoais”.
Mas tirando esse papo de lado o filme já vale por tratar-se de uma obra do diretor Gus Van Sant, responsável por “Milk: A Voz da Igualdade” e “Gênio Indomável”. O cineasta apresenta a história de uma vida com mais baixos do que altos sem vitimizar seu personagem – o que já é um ponto positivo, pois outro poderia transformar a narrativa em um dramalhão. Van Sant recupera a história de Callahan sem qualquer julgamento de caráter. O filme vai e volta no tempo, em uma montagem não linear. Acompanhamos a vida um tanto sem sentido do personagem, que bebia do acordar ao dormir, até que um acidente irresponsável o tirou de cena. Para mim o diretor fez algo nobre. Não romantizou a deficiência. Coisa que o filme “Como eu era antes de você” se fez completamente medíocre...
Alguns consideram o filme “lento”, porém, o que alguns observam como lentidão, eu chamo de RITMO. É o ritmo que dita a profundidade dos personagens, suas nuances, seus rumos, suas escolhas que fazem juízo as suas ações finais. Sem esse ritmo não entenderíamos a trivialidade e profundidade que assola um homem comum a caminhar até as últimas consequências da bestialidade para alçar suas necessidades básicas. O sonho de constituir uma família. Descrevendo dessa forma, trivialmente, parece clichê como qualquer outro filme de ação “vingando a honra da família ou a ausência de um ente querido”. Por essa razão que o ritmo da narrativa faz toda a diferença. O ritmo nos apresenta o homem com comum com um emprego mediano em uma sociedade capitalista. O ritmo nos apresenta o homem comum lidando com a abstinência de seus vícios e ausência familiar. O ritmo nos apresenta o desejo de mudar e as escolhas feitas para essa mudança. Sem o ritmo que o roteiro propõe o personagem soaria como um “bad ass” clichê, a violência não seria poética e por fim o filme seria mais um clichezão de um fodão demostrando as proezas de sua testosterona. “Brawl in Cell Block 99” tem o espírito de justiça de Django e a licença poética e narrativa “Bronson”. Quem considera o ritmo desse filme um problema, jamais entenderá a dinâmica da direção de S. Craig Zahler. É justamente o ritmo que faz o filme não ser previsível e os personagens sejam interessantes. Quem gosta de cinema de verdade, fiquem de olha no Sr. Craig Zahler. “Brawl in Cell Block 99” tem tudo para se tornar um cult. Agora quem vê o cinema apenas com entretenimento linear. Esse não é seu filme, talvez, Transformers.
NÃO FOI DESSA VEZ - Talvez eu não esteja preparado para entender American Psycho, talvez American Psycho não é tão interessante quanto roga o glamour em volta dele. Independente dos motivos, não me pegou. Embora tenha atores sensacionais.
"Mal Nosso" quebra todo aquele clichê que diz que todo filme independente brasileiro, diante de orçamento limitado ou distante do orçamento de grandes produções, deve ser cômico, tosco e trash. Para simplesmente compensar a falta de profissionalismo. Grande engano! "Nosso mal" foge dessas diretrizes e nos apresenta uma história sólida, interessante e original. Apesar de grandes influências dos mestres do horror que notamos nos pequenos detalhes, Samuel Galli não peca na originalidade de suas intenções. A trama é bem construída, entregando o necessário para que fiquemos até o fim. A direção, iluminação e efeitos visuais pincelam a narrativa deixando tudo mais interessante, sem fazer referências aos clichês do terror para dizer que estamos assistindo a um filme de terror como os clássicos que ele reverência. Tudo tem seu tempo e lugar dentro da narrativa. E acima de tudo, tem sua originalidade própria.
"Nosso Mal" é uma prova que com profissionalismo, boa direção, bom roteiro, suor, garra e respeitando a inteligência do público é capaz de se construir um bom filme de terror nacional. Sem cenas toscas e humor bufão para compensar a falta de recursos orçamentários.
É claro que o filme tem seus pontos baixos. Ficou devendo em algumas atuações, faltou um certo carisma em alguns personagens, convencimento em algumas atuações e carisma visceral no aspecto de assassino, mas isso não estraga a magia. A história é tão interessante e os efeitos visuais tão impressionantes que você acaba se envolvendo e detalhes da atuação passam desapercebido. No primeiro ato, realmente fica difícil entrar no clima, pois é notável ver pessoas contracenando ao invés de ver personagens nos iludindo diante da história que representam. Mas a qualidade do roteiro e da drama nos leva ao segundo ato e logo já estamos imersos dentro do suspense e terror.
Em si o filme é uma obra indispensável para quem desejar saber o que o Brasil anda produzindo de mais interessante no gênero de terror. Os efeitos visuais ficam aos cuidados do magnifico Rodrigo Aragão que é o nosso Tom Savini brasileiro! E o diretor Samuel Galli tem tudo para ser o nosso Guilhermo DelToro tupiniquin. Que venha novos trabalhos!
Li avaliações “humorísticas” sobre o filme e até algumas perspectivas que o filme não tinha “nada com nada”. Na verdade, Prodigy é uma nova vertente do horror que está surgindo recentemente. Assim como outras vertentes que já existem como gore, splatter, suspense, horror, terror, sexplotation, new french extremity e etc. Não sei que nome a irá definir a nova tendência a qual Prodigy está inserido. Até porque quando os pintores começaram a fazer desenhos surrealistas, eles não disseram “Vou chamar essa minha pintura e esse período histórico de surrealismo!” Não é assim que acontece. Rs
Mas Prodigy se soma a linha de outros filmes muito eficientes e bem produzidos, aonde o medo está na criação da atmosfera sugestiva e do roteiro bem mapeado. Roteiro esse que não promete Jump scare (musiquinha frenética que se torna intensa e cortes secos com expressões, gatos ou qualquer coisa que provoque um “susto”), mas sim uma conexão com o contexto ao ponto de instigar o telespectador a questionar a “a origem do mal absoluto” que compõem a trama. Nada é revelado gratuitamente, mas tudo vai sendo induzido e demostrado com a transformação da trama. Pode ser um filme para poucos se o seu estilo e um terror de ação frenética com arquétipos de bem e mal extremamente definido e um final dedutível para devido a ambivalência explicita de bem e mal.
Mas se você gosta de uma trama um pouco mais devagar, mas que não peca na promessa de te deixar intrigado, apreensivo e especulativo quanto aos acontecimentos que irão surgir. Esse é seu filme! Para quem deseja entender essa nova vertente do suspense que está surgindo, há outros títulos interessantes como Hereditário (2018) Direção Ari Aster e Corra! (2017) direção Jordan Peele. A série da Netflix “A Maldição da Residência Hill” também se enquadra nesse quesito que é bem simples de sacar. Roteiros bem elaborados com atmosfera que te envolve no contexto da drama, seja te envolvendo intelectualmente ou apreensivamente através do suspense que se torna intrigante a cada passo. É uma mistura do suspense de Alfred Hitchcock com a forma como o novo cinema francês extremo apresenta seu horror, ou seja, o medo não está no monstro, assassino ou entidade do mal. O medo real é saber que “o mostro” é um individuo comum do dia-a-dia.
Eu entendi a idéia que o filme quis passar sobre a vida com doses de humor, mas para mim não funcionou. Se o filme fosse estranho, me cativaria com algo que não sei explicar. Talvez eu não seja o público alvo desse filme. Vale algumas cenas engraçadas e non-sense. Mas esse não é o filme para quem deseja pensar sobre o sentido da vida. Depois desse filme a frase popular "Quem tem cú, tem medo", perde o sentido. A frase mais adequada é "Para quem tem cú, há esperança"
Um bom filme. Plot twist bacana. Não é um filme ruim, mas no entanto, não é inovador. Carrega na essência do roteiro a mesma idéia dos filmes mais novos do Planeta dos Macacos. Para quem não tem muitas referências da mesma sintetize é um filme para se surpreender. Para quem viu muitas coisas. É um bom filme, com aventura, boas cenas e diversão.
Eu não esperava muito do filme, mas o filme se fez justo naquilo que propôs apresentar. É dificil não ficar cansado da velha mecânica dos filmes de terror americano "susto provocado por estrondo musical e corte surpresa". Felizmente o filme não se escorou nesse recurso e logo tratou de nos envolver em uma história dramática de família, tendo como pano de fundo as criaturas cegas atraídas pelo som. Confesso que senti uma inspiração de um episodio da serie NightVisions de 2001, o 22º episódio da série chamado "Harmony" aonde é proibido ouvir música, além da semelhança de contexto com The Cloverfield: Que se inicia no climax central: "Criaturas? Da onde são? Para aonde irão?" O que torna o filme bom é realmente cumprir o que promete, sem tentar vender mais do que pode oferecer. Uma história interessante, enredo dramático que mantém a história conectada, sem super-ações heroícas e sem desfechos perfeitos da família americana que sempre se sai bem.
Faltou respeitar o significado das cores no cinema. Mas fora isso. É um filme bom para se curtir sem se arrepender. Não é uma revelação do suspense, mas cumpre o que promete.
Boxcar Bertha é um filme regular. É justo que assim seja, pois é um dos primeiros filmes do Scorsese. O filme é mais um exercício cinematográfico sobre o que funciona e o que não funciona. Assim como qualquer coisa que nos propusermos fazer pela primeira vez tendo só a teoria como experiência. Somente depois nos seus dois filmes seguintes: Mean Streets (1973) e Taxi Driver (1976) iremos ver as assinaturas e linguagem cinematográficas de Martin Scorsese.
Para quem estuda cinema é um ótimo filme para perceber a evolução técnica e de linguagem do diretor. Para quem assiste por entretenimento é interessante para ver John Carradine em atuação. Famoso por suas aparições e filmes B e pai de David Carradine, ator que fez muitos filmes de ação, faroeste e suspense. David Carradine ganhou notoriedade com o filme Kung Fu de 1972, mas ficou mundialmente conhecido sendo o Bill do filme Kill Bill de Quentin Tarantino.
Não é um dois filmes que será lembrado por ser uma obra prima do gênero, mas é um bom filme. Não te cansa, tem bons momentos de humor e ação. Alguns personagens são muito bons. É um bom filme para diversão. A ideia do roteiro é ótima, mas imagino que Scorcese ou Tarantino dariam uma outra leitura. Para quem quer assistir um filme sem compromisso e também não quer perder tem assistindo algo ruim. Fica a dica
Revenge não é um filme original. Ou seja, a proposta da história já foi vista em muitos outros filmes anteriores. Inclusive no filme que a diretora Coralie Fargeat não negou em se inspirar e homenagear: I Spit on Your Grave, 1978 do diretor Meir Zarchi. Mas isso não faz com que o filme seja ruim. O filme se faz sincero naquilo que promete. É como ouvir AC/DC. Seja o álbum “High Voltage” de 1976 ou “Rock or Bust” de 2015, você sabe o que vai ouvir. É algo muito bom, com energia, mas nada diferente do que você já ouviu. Você sabe o que esperar. Revenge utiliza a mesma forma. A história da garota que vai até as últimas consequências para se vingar dos seus malfeitores. O filme não promete uma coisa e entrega outra. É direto, franco e sincero. O que diferencia Revenge dos outros filmes similares e forma como ele apresenta os detalhes da história. O take do sangue caindo na formiga revela muito bem isso. Além disso não há cenas de “ultra heroísmo” da protagonista. Todas as cenas são brutas e densas, mas no limite da sensibilidade e realidade que ela se propõe. Sem desafiar a física ou a nossa própria inteligência. Falando em brutalidade, prepare-se para cenas poéticas de gore, sangue e efeitos visuais impressionantes. Não é nada trasheiro ou podreira de segunda mão. São efeitos visuais convincentes. Além da homenagem em si ao cult de 1978, Revenge é acima de tudo um dialogo sútil sobre a visibilidade feminina em uma sociedade composta por idéias tão sólidas sobre as “verdades masculinas”. Revenge não é um filme fantástico, mas é um bom filme e acima de tudo sincero. Para o primeiro filme, Coralie Fargeat se saiu muito bem. Que venha os próximos!
Não é o melhor filme de todos os tempos e nem está entre os mais memoráveis, mas é filme bom/razoável. Algumas cenas valem o filme. Ponto para atuação Malcolm McDowell. E ponto curioso para "Rick" (Andrew Lincoln) em versão grunge
A Cor que Caiu do Espaço
3.1 347É um grande desafio aos diretores que se propõem adaptar qualquer obra de H.P Lovecraft. Pois ao contrário dos autores "contemporâneos" como Stephen King, por exemplo, por mais que exista um contraponto entre a obra literária e o resultado final de uma releitura da obra apresentada em um longa-metragem. Ainda assim, existe um terreno seguro aonde o diretor pode se apoiar. Esse ponto seguro se baseia em enredos contemporâneos, contextos e ambientes inseridos na realidade atual, atmosfera familiar, dramas humanos, lugares e medos comuns a nossa humanidade. Pontos cruciais aonde a trama/suspense/ terror pode se desenvolver e se torna de fácil transmutação para o diretor desenvolver seu filme baseado na obra.
Até mesmo escritores mais clássicos como Edgar Allan Poe (Gato Preto) , H.G Wells (Guerra dos Mundos), Bram Stoker (Drácula), Mary Shelley (Frankenstein), Henry James (Os inocentes), Ira Levin (O Bebê de Rosemary), William Peter Blatty (O Exorcista), Jay Anson (Horror em Amityville), Clive Barker (Hellraiser), Robert Bloch (Psicose) são facilmente adaptáveis pois o que sustenta a coluna vertebral de sua trama literária são dramas humanos: amor perdido, exclusão social, maternidade, consciência perdida, busca por prazeres, família destruída, preservação da espécie, superstições e preconceitos, medo do desconhecido e repulsa ao estranho e diferente, insanidade e todas as questões freudianas possíveis.
No entanto, H.P Lovecraft é um grande desafio, pois é um contra-ponto diante de tudo aquilo que nos trás uma conexão humana com nossos dramas cotidianos e cíclicos em nossa história. Toda beleza da obra de Lovecraft, toda sua magnitude, esplendor, fantástico, cósmico e surreal de sua obra se expressa justamente na experiência e imersão da própria leitura e o universo mitológico que a compõem.
Foram poucos diretores que tiveram uma “inspiração a altura” tornando o resultado final significativo, mesmo sendo completamente diferente a obra literária original. Pois de fato é isso. Não existe um filme completamente fiel a obra literária. Assistir um filme baseado em um livro esperando essa fidelidade é uma injustiça com o escritor e com o diretor. O escritor tem como palco a imaginação do leitor para criar a sua ilusão. Para que essa ilusão seja aceita ele desenvolve com um minimalismo extremamente convincente cada aspecto de sua história: o ambiente, os personagens e suas personalidades, suas experiências e tudo que faz com que nós, os leitores, compor cada mínimo aspecto realista daquela ficção.
Já o diretor não tem somente a escrita em suas mãos (o roteiro) para contar uma história. Ele tem que coordenar todas as formas de expressão para compor uma narrativa: fotografia, música, sonoplastia, artes visuais, teatro, semiótica, iluminação e figurino. Por essa razão, nunca comparo uma obra literária com um longa-metragem. O escritor visualizou sua vida e seus conflitos para escrever. Essa é sua fonte de inspiração e nunca poderemos questiona-lo se foi fiel a ela ou não. Mesmo que pudemos, teríamos uma visão diferente, pois toda verdade que obtemos de uma observação se baseia nas experiências que carregamos como conhecimento para julgar aquilo que vemos.
Com o diretor da mesma forma. O filme é o resultado final de um longo trabalho de coordenação de todos os meios artísticos de expressões citados. O filme que assistimos não é uma transmutação da obra-literária em imagens e sons. Mas sim uma visão do diretor sobre a obra literária somado a todas as referências e conhecimentos que ele possui como profissional e ser humano. Podemos ver isso com muita clareza com o filme O iluminado de Stanley Kubrick, inspirado na obra de mesmo título do escritor Stephen King. O filme é aclamado por crítica e público e na minha apreciação pessoal, a obra mestre de Kubrick. No entanto na época King odiou o versão de Kubrick. Que de fato é bem diferente da obra literária. Mas não deixa de ser um grande filme, pois Kubrick captou o “espírito da coisa”.
É claro que existem versões filmes baseados em obra literária que são um desastre. E nisso não podemos não podemos afirmar que o desastre é resultado da falta de fidelidade a obra literária, pois seria impossível. São mídias diferentes. Mas podemos colocar a culpa na incompetência técnica, na direção e até nos produtores executivos que dão sempre um pitaco no filme, pois estão investindo dinheiro.
No caso dos filmes inspirados na obra literária de H.P Lovecraft, os fatores anteriores são bem possíveis, mas a complexidade de sua obra ainda assim é um grande fator central nas adaptações. Admirador da obra de Lovecraft que sou, sempre me permito assistir filmes inspirados em seu universo cósmico. Confesso que ao longo dos meus 30 anos assistindo filmes, raras vezes vi uma adaptação cinematográfica que honre a essência do escritor ou tenha uma percepção de muito bom-senso de sua obra.
A produção mais fidedigna ao universo lovecraftiano que assisti tem como feitor um diretor latino, José Luis Alemán. São dois filmes que se complementam: “La Herencia Valdemar (O Legado Valdemar – 2010)” e “La Herencia Valdemar II: La Sombra Prohibida (O Legado Valdemar II: A Sombra Proibida 2011)”. Incrivelmente recentes, mas ambos são extremamente competentes em sua narrativa e composição da atmosférica tétrica e inebriante do universo do escritor. Captando com sabedoria sua essência na descrição do horror diante do desconhecido e inominável de suas obras.
Digo isso, pois tenho alguns filmes no coração ao longo dos anos que são baseados na obra de Lovecraft. Alguns toscos, outros cômicos e poucos que deram um interessante olhar a obra, mas acima de tudo, tiveram uma importância de alguma forma. Citarei só os realmente relevantes, como o clássico “Re-Animator (1985)” do Stuart Gordon. Gordon soube misturar horror, suspense, humor e sex exploitation ao filme, sem deixar desmerecer Lovecraft, mas deixando a sua assinatura inconfundível como diretor. Considero crucial do mesmo diretor "From Beyond (1985)" e "Dagon (2001)", porém sem muito “glamour”. Se é que “glamour” se encaixa com os filmes B. E por último, mas não menos importante, “Necronomicon - O Livro Proibido dos Mortos (1993)” do diretor Brian Yuzna.
E aqui chegamos ao “Color Out of Space (A Cor que Caiu do Espaço - 2020)”. Fiz toda essa introdução não apenas para validar minha crítica, mas para explicitar a diferença entre obra literária e adaptação cinematográfica. Que não existe uma fidelidade literária em adaptação cinematográfica. O filme é o equilíbrio de várias expressões artísticas, mas principalmente a inspiração e percepção do diretor diante da obra do escritor. Tendo H.P Lovecraft como um dos mais difíceis escritores nessa tarefa. Por essa razão considero um grande desafio de qualquer diretor adaptar uma obra de Lovecraft.
E pelo que percebi o diretor Richard Stanley escolheu uma das histórias mais difíceis do escritor “A Cor que Caiu do Espaço”. Digo difícil, não no quesito de se captar inspiração, mas de realmente expressar com o mesmo paralelo tétrico algo que é quase indescritível. Outra história que considero um grande desafio é “A música de Erich Zann”. Ao ler o conto você entende o encantamento músico pelas notas e canção que o aprisiona em um ciclo de contemplação naquilo que ele mesmo compõe. Ao mesmo tempo, durante a leitura do conto, pensamos como é o som daquelas notas, como é a melodia daquela canção. Pois o autor escreve com uma perspicácia indescritível a sensação de um som que não estamos ouvindo. A mesma sensação se tem com o conto “A Cor que Caiu do Espaço”. Durante a leitura ficamos deslumbrados como a ideia de uma cor jamais vista e os seres descritíveis e antigos que se manifestam com a exuberância espectral dessas cores, somado ao horror e loucura que os personagens são tomados.
Trazer essa história para os dias atuais, ao meu ver, foi uma tentativa do diretor de nos colocar no mesmo contexto. Mas os personagens são tão rasos e com frustrações cotidianamente banais que acabaram tornando solúvel a experiência do horror sobre o desconhecido. Algo que nesse quesito deveria ser uma experiência mais intensa e imersiva. Ainda mais por estarmos diante de uma obra de Lovecraft. O personagem Ward Phillips, incumbido de trazer a narrativa consigo, criar a atmosfera investigativa e ao mesmo tempo alimentar a trama com a incógnita de suas descobertas, teve uma apresentação completamente nula na história. Se o seu personagem fosse mais trabalhado o desfecho da história seria mais denso e imersivo.
Ward Phillips é um epidemiologista que veio até a zona rural da Nova Inglaterra para pesquisar sobre a qualidade da água aos cuidados da empresa de saneamento. Ward Phillips é um dos pseudônimos do escritor Howard Phillips Lovecraft. O filme se inicia com a voz do personagem Ward, interpretado pelo ator Elliot Knight, citando Lovecraft. Como também termina com Ward, citando Lovecraft. Da mesma forma que o personagem “abriu” a narrativa, “fechou” sem fazer a menor diferença. E claro, temos Nicolas Cage, sendo Nicolas Cage. Por mais que nos créditos diga que o personagem interpretado por ele seja Nathan Gardner, vemos apenas Nicolas Cage “despirocando” como Nicolas Cage: louco, insano, exagerado e cheio de piras. Faz muito tempo que Nicolas Cage segue o modo Charles-Bronson-Fim-de-Carreira em sua interpretação. Os personagens dados a ele tem que casar com sua loucura pessoal como foi o caso de “Mandy: Sede de Vingança” (2018) do diretor Panos Cosmatos. O filme é bom? Ainda estou processando essa resposta...
“Color Out of Space” é um filme que se assiste uma única vez. Não é o pior filme baseado na obra de Lovecraft. Já me deparei com alguns que incitaram sono e tédio em minha tentativa de assisti-los. “Color Out of Space” provavelmente será um “Sinais” com Mel Gibson que passará muito na sessão da tarde. Tentou ser uma obra com referências a Lovecraft. Falhou miseravelmente. Mas é uma diversão para quem não espera muito do filme. E na terceira parte do filme tem uma mutação genética entre humanos que vale a pena.
Além da Linha Vermelha
3.9 382 Assista AgoraO filme possui grandes atores e uma ótima fotografia. Mas é muito arrastado e com um alter-ego-da-felicidade-americana que eles não se cansam de exaltar em cenas arrastadas.
Rambo: Até o Fim
3.2 551 Assista AgoraRambo - Last Blood tenta passar o espírito do soldado traumatizado pelas guerras, pelas percas e acima de tudo: "um exército de um único homem e o exército de um homem só". Essas são as únicas referencias do primeiro filme. O que se segue é o que esperamos [ou o que está sempre proposto a entregar] da franquia Rambo: força, estratégia, armadilhas para lidar com inúmeros inimigos, um a um, com as próprias mãos. Em uma versão sem censura e com muito mais sague.
O filme não é ruim, mas não tem a carga dramática do primeiro que se propôs a fidelidade ao livro o qual se inspirou: First Blood - David Morrell (1972). A diferença é que no livro de Morrell o nosso personagem, Jhon Rambo se suicida no final. O livro trata da exclusão do soldado a sociedade que prometeu proteger em uma guerra falida e inválida de propósitos nobres. First Blood, o primeiro filme, consegue carregar essa forma dramática. Os filmes que se seguem são uma representação caricata histórica dos vilões em cada cultura oposta a cultura americana. E digo isso, não de forma pejorativa, pois nunca vi nas séries de rambo uma necessidade histórica, por isso não faço alarde com os mexicanos conforme a mídia tem feito. Considero uma visão caricata dos vilões. Mas isso não me ofende, pois eu entendo o propósito do filme e o vejo como entretenimento com erros históricos e não um documentário com distorção dos fatos.
Tendo dito isso, não considero “Rambo - Last Blood” como a chave de ouro que fecha um ciclo. Vejo com um novo filme do Rambo que oferece o que a ideia de Rambo tem a oferecer. Não é um filme ruim, pois tem boas cenas de ação, mas não é um excelente filme. É um exercício ao saudosismo com ar de melancolia no sentido “será que precisava de mais um”. Particularmente falando acho que o filme do Sylvester Stallone é mais um afago ao próprio ego e a memória do seu personagem icônico [além de ser uma boa maneira de garantir um $din din$] do que uma obra extremamente expressiva que fecha um ciclo. É um filme que facilmente passará batido para quem não tem a memória afetiva com o personagem e a época em que tais filmes aconteceram. Mas Rambo é Rambo. A diversão é garantida.
Eli
2.5 589 Assista AgoraA premissa que faz a idéia parecer interessante, não se sustenta na direção e roteiro fraco. A sensação que fica que parece que o filme foi desenvolvido após assistir aquelas listas de "os 10 melhores filmes de terror" de acordo com o youtuber do momento. Pois não existe nenhuma estética, dinâmica e atuação convincente. Usaram cenas de jump-scare que me soou como "vamos colocar uns sustos aqui para a gente definir o que faz com a trama do filme ao chegar ao final". O filme teve a pretensão de ser suspense genuíno, mas não foi. Tentou ser um Demian, mas nem passou perto.
Um Drink No Inferno 2: Texas Sangrento
2.5 142 Assista AgoraQuando From Dusk Till Dawn 2 foi lançado em 1999 minha expectativa andavam de mãos dadas. Primeiro por que conheci From Dusk Till Dawn nas noites da bandeirantes e ao mesmo tempo estava conhecendo o estilo de Quentin Tarantino que alguns anos antes acabara de lançar Cães de Aluguel.
Minha grande surpresa com o primeiro From Dusk Till Dawn foi o plot-twist do filme, pois notavelmente a primeira parte do filme é um filme ao estilo Quentin Tarantino e notavelmente a segunda parte era um filme estilo Robert Rodriguez. Quando surgiu em 1999 From Dusk Till Dawn 2: Texas Blood Money eu fiquei muito apreensivo, pois tudo de interessante havia sido revelado no primeiro e o roteiro teria que ser muito criativo para trazer uma competência a algo que terminou de forma surpreendente. O fato é que em 1999 achei o filme uma bela porcaria.
Mas nada como os anos e novas experiências para nos fazer rever nossas avaliações, não só sobre o filme, mas também sobre a vida. Com o surgimento da série From Dusk Till Dawn e meu conhecimento adquirido durante os anos sobre diretores, produtores e atores. Acabei tendo uma perspectiva diferente sobre o filme.
Ele continua sendo inferior ao primeiro, sem sombra de dúvidas. Mas não é tão trágico quanto a cosmologia que a série quis reconstruir. O filme não tem uma grande reviravolta como o primeiro, faltou humor e diálogos engraçados a altura do primeiro. Mas existe um filme que trás boa diversão, sem fugir do universo proposto pelo primeiro. Temos a participação no inicio do filme do canastração Bruce Campbell (Evil Dead) como o advogado inescrupuloso. Temos Raymond Cruz que atualmente é conhecido como Tuco Salamanca do Breaking Bad.
É um filme canastração que atualmente vejo com menos "ódio" e cumpre seu papel de divertir
Brightburn: Filho das Trevas
2.7 607 Assista AgoraA idéia, a premissa da história é sensacional: “um filho Jor-El que não veio para salvar a humanidade”. A execução, roteiro e desenvolvimento que foi catastrófica. Perderam a grande oportunidade de nos intrigar desconstruindo a ideia do biótipo de um “salvador” que veio libertar a humanidade e dar razões mais concretas para destruição da raça humana. Pois a razão que deram ou veio de um roteirista muito patriota ou de uma criança de 10 anos: “Somos uma raça superior”.
A idéia de terror do filme também é muito ridícula. Na verdade, eles não criam nem tensão de suspense, quiçá, terror. Se você tem hábito de assistir filmes de terror a mais de 5 anos ou nasceu nos anos 80 vai estar vacinado para todas as técnicas de “terror” aplicadas nesse filme. Técnicas que te garanto que já foram aplicadas em todos os filmes, principalmente os mais clichês do gênero: ângulos fechados com o personagem central com rosto oculto, reflexos no espelho, jump-scare por kilo e outras bobagens que não sustentam a premissa da história.
O segredo para esse filme ter sucesso é ter um bom roteiro com pés no drama para tornar os “super poderes” em algo realmente sobrenatural na aceitação do telespectador. Com isso um suspense bem trabalhado na trama e desenvolvimento da criança e suas razões com a humanidade. E depois o terror no segundo ato mostrando realmente a natureza bestial seguido de uma premissa que mudasse o contexto da história no final, mostrando que o mal não é por si só, revelando algo destruir da raça humana que ele como salvador veio intermediar. A premissa é boa, mas o desenvolvimento estragou as milhares de oportunidades de tornar o filme algo muito criativo.
Para não dizer que não tem nada de bom nesse filme. A fotografia é boa e a cena do caco de vidro no olho é interessante. Fora isso, esse filme só é recomendado para quem nunca viu um filme de terror na vida. Dessa forma o telespectador precoce no gênero poderá ter uma “experiência de terror”. Mas se você já tem uma vasta experiência no gênero, fuja. Veja só por mera curiosidade antropológica ou nem isso.
O Animal Cordial
3.4 618 Assista AgoraAs críticas que ouvi foram boas, mas a experiência em assistir ao filme não teve o mesmo impacto das opiniões sobre a obra.
O Protetor
2.3 163 Assista AgoraUm bom exemplo de como jogar o dinheiro da contratação de grandes atores no lixo. Faltou criatividade para desenvolver uma história que não soasse mais do mesmo, faltou roteiro para deixar tudo interessante e faltou direção para dar ritmo na história. É aquele tipo de filme que você assisti pelo mérito de grandes filmes dos atores presentes
A Pé Ele Não Vai Longe
3.5 122 Assista AgoraUM FILME QUE NOS FAZ PENSAR NO SIGNIFICADO DE VIVER E ESTAR VIVO
Caramba, esse filme me emocionou demais. Talvez porque eu esteja pensando muito sobre a vida ou talvez porque eu esteja vivendo dias caoticamente sabáticos. Provavelmente eu esteja completamente errado, afinal é um do Gus Van Sant com Joaquin Phoenix! Mas tenho que admitir. É o segundo filme com o Joaquin Phoenix que eu não esperava completamente nada e ele me desconstruiu completamente. A primeira vez foi com filme “I'm Still Here”. Eu fiquei completamente convencido de que se tratava de um documentário sobre a vida do próprio Phoenix e a sua desistência das artes cênicas e ascensão fatídica como um astro do Rap! A segunda vez que fui completamente iludido foi com “Ela (Her)”, um filme de 2013 que só fui descobrir que o Joaquin Phoenix atuava após os créditos.
Em “A Pé Ele Não Vai Longe” Joaquin Phoenix conta a história real de John Callahan, um alcoólatra que se torna tetraplégico após um acidente de carro. O filme não foca de forma melodramática nas dificuldades de acessibilidade para o deficiente, mas sim, na aceitação da vida como ela é. Na dificuldade monstruosa que é vive-la em certos aspectos, mas principalmente, quando se é uma pessoa com deficiência. A maioria das pessoas vai ao terapeuta ou psicólogo para entender a vida, entender a si mesmo e buscar um propósito para viver com o bornal de frustrações individuais. De fato, quem se tornou deficiente e não nasceu deficiente também busca esse “propósito pessoal”.
No entanto para quem nasceu deficiente as idiossincrasia físicas que o define são apenas características que reescrevem a forma como ele vê as nuances da vida. As frustrações pessoais não são fardo, mas aprendizados diante da própria essência. O que para algumas pessoas são problemas de extrema grandeza, algo transponível. Para o deficiente é algo que já está pressuposto na experiência individual de vivenciar as coisas. Pois a deficiência não é um fator a ser superado, mais sim, uma característica da sua própria essência. Os fatores a ser superados são externos e sociais. Questões que vão muito além de uma calçada com acessibilidade ou o que os outros realmente irão pensar. A luta é por uma igualdade intimista.
Por essa razão, o que nos faz frequentar um psicólogo (pessoalmente falando), não é como eu devo encarar a minha deficiência. Mas a forma como eu preciso compreender, tolerar, aceitar, aprender a não me impactar com o preconceito alheio. Preconceito esse que é interpretado pela maioria das pessoas de forma banal e errada. Não é preconceito, mesmo que seja grosseiro, a identificação da deficiência no outro: “Olha! Ele é um deficiente”. Nem tão pouco a expressão de estranheza por estar diante de algo diferente ou simplesmente a aversão involuntária diante da anti-estética nua e crua. E sem dúvida não é preconceito utilizar o humor diante das diferenças. Desde que seja de forma muito honesta, inteligente, não ofensiva e sincera. Acho o teor humorístico muito válido, pois quebra barreiras.
Com exceção do humor, todas as formas de definições acima não são preconceito. São apenas ignorância e desconhecimento diante do que é diferente. Essas manifestações de ignorância são fáceis de lidar e desarmar com o uso da ironia, dialogo ou explicação dos fatos. O preconceito real, aquele que lidamos todos os dias. É mais sutil, hipócrita, exclusivo e desumano. É aquele que define o ser como incapaz para fazer algo, viver algo, pertencer a alguém justamente por que concepções pessoais do outro definem que aquela forma de existência não é o melhor para si. E isso pode ser manifestado da forma mais explicita possível até diante do gesto mais sutil visível.
Por essa razão filme se tornou impactante. Justamente por me fazer pensar, independente da deficiência, que a felicidade não é saber sanar todas as dores, mas viver com ela todos os dias e estar em paz. Nenhum de nós está da livre da apatia humana e o egoísmo distorcido em forma de “verdades pessoais”.
Mas tirando esse papo de lado o filme já vale por tratar-se de uma obra do diretor Gus Van Sant, responsável por “Milk: A Voz da Igualdade” e “Gênio Indomável”. O cineasta apresenta a história de uma vida com mais baixos do que altos sem vitimizar seu personagem – o que já é um ponto positivo, pois outro poderia transformar a narrativa em um dramalhão. Van Sant recupera a história de Callahan sem qualquer julgamento de caráter. O filme vai e volta no tempo, em uma montagem não linear. Acompanhamos a vida um tanto sem sentido do personagem, que bebia do acordar ao dormir, até que um acidente irresponsável o tirou de cena. Para mim o diretor fez algo nobre. Não romantizou a deficiência. Coisa que o filme “Como eu era antes de você” se fez completamente medíocre...
Violentia
2.2 5 Assista AgoraA idéia central é boa, mas a forma como desenvolvem a idéia é desatroza
O Silêncio
2.5 612 Assista AgoraUma cópia safada e descarada de "Um Lugar Silencioso". Caça-níquel deslavado
Confronto no Pavilhão 99
3.7 217 Assista AgoraAlguns consideram o filme “lento”, porém, o que alguns observam como lentidão, eu chamo de RITMO. É o ritmo que dita a profundidade dos personagens, suas nuances, seus rumos, suas escolhas que fazem juízo as suas ações finais. Sem esse ritmo não entenderíamos a trivialidade e profundidade que assola um homem comum a caminhar até as últimas consequências da bestialidade para alçar suas necessidades básicas. O sonho de constituir uma família.
Descrevendo dessa forma, trivialmente, parece clichê como qualquer outro filme de ação “vingando a honra da família ou a ausência de um ente querido”. Por essa razão que o ritmo da narrativa faz toda a diferença. O ritmo nos apresenta o homem com comum com um emprego mediano em uma sociedade capitalista. O ritmo nos apresenta o homem comum lidando com a abstinência de seus vícios e ausência familiar. O ritmo nos apresenta o desejo de mudar e as escolhas feitas para essa mudança. Sem o ritmo que o roteiro propõe o personagem soaria como um “bad ass” clichê, a violência não seria poética e por fim o filme seria mais um clichezão de um fodão demostrando as proezas de sua testosterona.
“Brawl in Cell Block 99” tem o espírito de justiça de Django e a licença poética e narrativa “Bronson”. Quem considera o ritmo desse filme um problema, jamais entenderá a dinâmica da direção de S. Craig Zahler. É justamente o ritmo que faz o filme não ser previsível e os personagens sejam interessantes. Quem gosta de cinema de verdade, fiquem de olha no Sr. Craig Zahler. “Brawl in Cell Block 99” tem tudo para se tornar um cult. Agora quem vê o cinema apenas com entretenimento linear. Esse não é seu filme, talvez, Transformers.
Psicopata Americano
3.7 1,9K Assista AgoraNÃO FOI DESSA VEZ - Talvez eu não esteja preparado para entender American Psycho, talvez American Psycho não é tão interessante quanto roga o glamour em volta dele. Independente dos motivos, não me pegou. Embora tenha atores sensacionais.
Mal Nosso
3.0 160"Mal Nosso" quebra todo aquele clichê que diz que todo filme independente brasileiro, diante de orçamento limitado ou distante do orçamento de grandes produções, deve ser cômico, tosco e trash. Para simplesmente compensar a falta de profissionalismo. Grande engano! "Nosso mal" foge dessas diretrizes e nos apresenta uma história sólida, interessante e original. Apesar de grandes influências dos mestres do horror que notamos nos pequenos detalhes, Samuel Galli não peca na originalidade de suas intenções. A trama é bem construída, entregando o necessário para que fiquemos até o fim. A direção, iluminação e efeitos visuais pincelam a narrativa deixando tudo mais interessante, sem fazer referências aos clichês do terror para dizer que estamos assistindo a um filme de terror como os clássicos que ele reverência. Tudo tem seu tempo e lugar dentro da narrativa. E acima de tudo, tem sua originalidade própria.
"Nosso Mal" é uma prova que com profissionalismo, boa direção, bom roteiro, suor, garra e respeitando a inteligência do público é capaz de se construir um bom filme de terror nacional. Sem cenas toscas e humor bufão para compensar a falta de recursos orçamentários.
É claro que o filme tem seus pontos baixos. Ficou devendo em algumas atuações, faltou um certo carisma em alguns personagens, convencimento em algumas atuações e carisma visceral no aspecto de assassino, mas isso não estraga a magia. A história é tão interessante e os efeitos visuais tão impressionantes que você acaba se envolvendo e detalhes da atuação passam desapercebido. No primeiro ato, realmente fica difícil entrar no clima, pois é notável ver pessoas contracenando ao invés de ver personagens nos iludindo diante da história que representam. Mas a qualidade do roteiro e da drama nos leva ao segundo ato e logo já estamos imersos dentro do suspense e terror.
Em si o filme é uma obra indispensável para quem desejar saber o que o Brasil anda produzindo de mais interessante no gênero de terror. Os efeitos visuais ficam aos cuidados do magnifico Rodrigo Aragão que é o nosso Tom Savini brasileiro! E o diretor Samuel Galli tem tudo para ser o nosso Guilhermo DelToro tupiniquin. Que venha novos trabalhos!
Maligna
2.6 100 Assista AgoraLi avaliações “humorísticas” sobre o filme e até algumas perspectivas que o filme não tinha “nada com nada”. Na verdade, Prodigy é uma nova vertente do horror que está surgindo recentemente. Assim como outras vertentes que já existem como gore, splatter, suspense, horror, terror, sexplotation, new french extremity e etc. Não sei que nome a irá definir a nova tendência a qual Prodigy está inserido. Até porque quando os pintores começaram a fazer desenhos surrealistas, eles não disseram “Vou chamar essa minha pintura e esse período histórico de surrealismo!” Não é assim que acontece. Rs
Mas Prodigy se soma a linha de outros filmes muito eficientes e bem produzidos, aonde o medo está na criação da atmosfera sugestiva e do roteiro bem mapeado. Roteiro esse que não promete Jump scare (musiquinha frenética que se torna intensa e cortes secos com expressões, gatos ou qualquer coisa que provoque um “susto”), mas sim uma conexão com o contexto ao ponto de instigar o telespectador a questionar a “a origem do mal absoluto” que compõem a trama. Nada é revelado gratuitamente, mas tudo vai sendo induzido e demostrado com a transformação da trama. Pode ser um filme para poucos se o seu estilo e um terror de ação frenética com arquétipos de bem e mal extremamente definido e um final dedutível para devido a ambivalência explicita de bem e mal.
Mas se você gosta de uma trama um pouco mais devagar, mas que não peca na promessa de te deixar intrigado, apreensivo e especulativo quanto aos acontecimentos que irão surgir. Esse é seu filme! Para quem deseja entender essa nova vertente do suspense que está surgindo, há outros títulos interessantes como Hereditário (2018) Direção Ari Aster e Corra! (2017) direção Jordan Peele. A série da Netflix “A Maldição da Residência Hill” também se enquadra nesse quesito que é bem simples de sacar. Roteiros bem elaborados com atmosfera que te envolve no contexto da drama, seja te envolvendo intelectualmente ou apreensivamente através do suspense que se torna intrigante a cada passo. É uma mistura do suspense de Alfred Hitchcock com a forma como o novo cinema francês extremo apresenta seu horror, ou seja, o medo não está no monstro, assassino ou entidade do mal. O medo real é saber que “o mostro” é um individuo comum do dia-a-dia.
Precisamos Falar Sobre o Kevin
4.1 4,2K Assista Agora"Precisamos Falar Sobre o Kevin" nos faz pensar na importância do aborto e métodos anticonceptivos. rs
Um Cadáver para Sobreviver
3.5 936 Assista AgoraEu entendi a idéia que o filme quis passar sobre a vida com doses de humor, mas para mim não funcionou. Se o filme fosse estranho, me cativaria com algo que não sei explicar. Talvez eu não seja o público alvo desse filme. Vale algumas cenas engraçadas e non-sense. Mas esse não é o filme para quem deseja pensar sobre o sentido da vida.
Depois desse filme a frase popular "Quem tem cú, tem medo", perde o sentido. A frase mais adequada é "Para quem tem cú, há esperança"
Extinção
2.9 433 Assista AgoraUm bom filme. Plot twist bacana. Não é um filme ruim, mas no entanto, não é inovador. Carrega na essência do roteiro a mesma idéia dos filmes mais novos do Planeta dos Macacos. Para quem não tem muitas referências da mesma sintetize é um filme para se surpreender. Para quem viu muitas coisas. É um bom filme, com aventura, boas cenas e diversão.
Mandy: Sede de Vingança
3.3 537 Assista AgoraSó gostei da paleta de cores e os efeitos de edição. Mas é outro filme de maníacos da estrada e vingança.
Um Lugar Silencioso
4.0 3,0K Assista AgoraEu não esperava muito do filme, mas o filme se fez justo naquilo que propôs apresentar. É dificil não ficar cansado da velha mecânica dos filmes de terror americano "susto provocado por estrondo musical e corte surpresa". Felizmente o filme não se escorou nesse recurso e logo tratou de nos envolver em uma história dramática de família, tendo como pano de fundo as criaturas cegas atraídas pelo som.
Confesso que senti uma inspiração de um episodio da serie NightVisions de 2001, o 22º episódio da série chamado "Harmony" aonde é proibido ouvir música, além da semelhança de contexto com The Cloverfield: Que se inicia no climax central: "Criaturas? Da onde são? Para aonde irão?"
O que torna o filme bom é realmente cumprir o que promete, sem tentar vender mais do que pode oferecer. Uma história interessante, enredo dramático que mantém a história conectada, sem super-ações heroícas e sem desfechos perfeitos da família americana que sempre se sai bem.
Faltou respeitar o significado das cores no cinema. Mas fora isso. É um filme bom para se curtir sem se arrepender. Não é uma revelação do suspense, mas cumpre o que promete.
Sexy e Marginal
3.1 52 Assista AgoraBoxcar Bertha é um filme regular. É justo que assim seja, pois é um dos primeiros filmes do Scorsese. O filme é mais um exercício cinematográfico sobre o que funciona e o que não funciona. Assim como qualquer coisa que nos propusermos fazer pela primeira vez tendo só a teoria como experiência. Somente depois nos seus dois filmes seguintes: Mean Streets (1973) e Taxi Driver (1976) iremos ver as assinaturas e linguagem cinematográficas de Martin Scorsese.
Para quem estuda cinema é um ótimo filme para perceber a evolução técnica e de linguagem do diretor. Para quem assiste por entretenimento é interessante para ver John Carradine em atuação. Famoso por suas aparições e filmes B e pai de David Carradine, ator que fez muitos filmes de ação, faroeste e suspense. David Carradine ganhou notoriedade com o filme Kung Fu de 1972, mas ficou mundialmente conhecido sendo o Bill do filme Kill Bill de Quentin Tarantino.
O Carma de um Assassino
3.1 53Não é um dois filmes que será lembrado por ser uma obra prima do gênero, mas é um bom filme. Não te cansa, tem bons momentos de humor e ação. Alguns personagens são muito bons. É um bom filme para diversão. A ideia do roteiro é ótima, mas imagino que Scorcese ou Tarantino dariam uma outra leitura. Para quem quer assistir um filme sem compromisso e também não quer perder tem assistindo algo ruim. Fica a dica
Vingança
3.2 581 Assista AgoraRevenge não é um filme original. Ou seja, a proposta da história já foi vista em muitos outros filmes anteriores. Inclusive no filme que a diretora Coralie Fargeat não negou em se inspirar e homenagear: I Spit on Your Grave, 1978 do diretor Meir Zarchi. Mas isso não faz com que o filme seja ruim. O filme se faz sincero naquilo que promete. É como ouvir AC/DC. Seja o álbum “High Voltage” de 1976 ou “Rock or Bust” de 2015, você sabe o que vai ouvir. É algo muito bom, com energia, mas nada diferente do que você já ouviu. Você sabe o que esperar. Revenge utiliza a mesma forma. A história da garota que vai até as últimas consequências para se vingar dos seus malfeitores. O filme não promete uma coisa e entrega outra. É direto, franco e sincero. O que diferencia Revenge dos outros filmes similares e forma como ele apresenta os detalhes da história. O take do sangue caindo na formiga revela muito bem isso. Além disso não há cenas de “ultra heroísmo” da protagonista. Todas as cenas são brutas e densas, mas no limite da sensibilidade e realidade que ela se propõe. Sem desafiar a física ou a nossa própria inteligência. Falando em brutalidade, prepare-se para cenas poéticas de gore, sangue e efeitos visuais impressionantes. Não é nada trasheiro ou podreira de segunda mão. São efeitos visuais convincentes. Além da homenagem em si ao cult de 1978, Revenge é acima de tudo um dialogo sútil sobre a visibilidade feminina em uma sociedade composta por idéias tão sólidas sobre as “verdades masculinas”. Revenge não é um filme fantástico, mas é um bom filme e acima de tudo sincero. Para o primeiro filme, Coralie Fargeat se saiu muito bem. Que venha os próximos!
Os Gângsteres
3.7 18Não é o melhor filme de todos os tempos e nem está entre os mais memoráveis, mas é filme bom/razoável. Algumas cenas valem o filme. Ponto para atuação Malcolm McDowell. E ponto curioso para "Rick" (Andrew Lincoln) em versão grunge