Khouri não esconde nada, desde o princípio deixa claro aos olhos do espectador que aquelas personagens não irão mudar, independente da crescente angústia que elas revelam. Já se percebe de cara, quando os quatro vão ao apartamento, que apesar de suas infelizes e vazias vidas, não há para onde correr. São indecisos, acomodados, hipócritas, esperam o diferente mas lutam pela inercia do igual. O encontro passa então a ser um espelho que reflete toda a insatisfação (talvez até pelo uso do espelho literal, nas cenas onde estão na cama) e é liberada nos diálogos que entregam pouco a pouco cada personagem. Não deixando atrás do pano o lado erótico, Khouri trabalha os planos muito espertamente, simplesmente consegue dizer tudo, sem mostrar nada. Khouri usa a sugestão, um recurso difícil de funcionar, mas que aqui, ocorre fluidamente em todo o longa. Com os pequenos toques nas costas, os ombros de fora e beijos no pescoço, Khouri cria um clima de sensualidade e uma lacuna no ócio que os mantém ali.
"À Meia-noite Levarei Sua Alma" não pode ser colocado apenas junto da sessão de filmes de terror. Ou talvez, o terror de hoje tenha sucumbido demais, imerso na irracionalidade. Este é um longa esperto. Mojica criou um personagem que desafiasse e incomodasse a moral do público, que tocasse em alguma repulsa; que tocasse em alguma verdade absoluta. Temos então Zé, Zé parece cutucar qualquer forma de vida existente, implorando por um castigo que provasse a existência de uma força superior. Zé desacredita no que não vê, condena os simbolismos implantados nos medos. Em suma, Zé quer conversar com a morte, checar sua veracidade quase inacreditável. Sem valores, há espaço para toda e qualquer ação, independente da reação. E nessa corda bamba de filosofia sobre o desconhecido e sobre o sangue que corre nas veias, se constrói a sinistra trama metafórica.
"Prendimi L'Anima" é um longa que defino como deleitoso. Sua crítica está aplicada de forma sutil, permitindo a fluidez que faz os acontecimentos andarem - e isso, cria uma atmosfera leve para tratar de temáticas pesadas. Baseado numa pegada psicanalítica, explora o nascimento das teorias de Freud, o começo de uma nova Ciência. Sem choques elétricos; sem amarras; por alto, sem a tortura que piorava o quadro dos pacientes. Jung pretendia entender o considerado louco e tirá-lo daquele estado por meio de técnicas menos evasivas, com conversa e autoconhecimento. Contudo, há um contraponto nisso. Fala-se sobre liberdade. O louco também é ser humano, o louco é um apaixonado obsessivo. Assim Jung começa a viver a perda da razão em seu amor, o paralelo com a loucura. No fim das contas, Sabina parecia apenas querer um romance para dar sentido à sua existência, seu problema era a falta de companhia, o que lhe tirava o apetite de viver. A "cura" para enfermidade era menos problemática do que julgavam os médicos. Carregado de uma positividade quase inacreditável perante aos fatos retratados, "Prendimi L'Anima" é incrível. Incrível em suas atuações, trilha sonora e temática.
Quando um filme é ruim e cheio de falhas, o que a gente pode dizer? Ah, que fotografia linda. Sim, ah que fotografia linda! Mas meus caros, quantas situações absurdas e quantas reações absurdas das personagens diante delas. Desconfio que quando o moço que escreveu esse roteiro estava em seu curso, esqueceram de mandá-lo ir viver e observar a ordem natural humana. Que isso!
Filmes psicológicos exploram as situações recorrendo ao artifício da dúvida. Nenhuma certeza pode ser dita, há apenas fatos acontecendo e a reação emocional das personagens diante deles, o que passa ser o indicador do espectador. "Onder Us" tem um roteiro trabalhadíssimo, no qual a estória se multiplica diante da visão de cada membro que a compõe, o que cria uma trama cheia de braços e incertezas. O efeito é demais, o que não era mostrado logo, na próxima cena é revelado, e isso mantém o espectador a mercê do desenrolar. O ritmo se torna um pouco pesado em cenas onde não há diálogos, e essa lentidão chega a incomodar um pouco, mas é entendível que talvez a intenção do diretor fosse criar uma atmosfera de suspensão. A expressão das personagens acaba por compensar.
"Hombre Mirando al Sudeste" é um dos raros filmes que atacam o tema da loucura com muita inteligência. A abordagem é uma crítica incrível ao homem que procura tanto ser justo e racional, que se torna o mais irracional dos seres. Estúpidos, como Rantes prefere chamar. Estúpidos e medrosos de não ultrapassarem o chamado limite, doentes por não acatarem e responderem aos estímulos comuns ao desejo, por ignorar e martirizar toda e qualquer forma de diferença do pensamento. E segue por diálogos representativos, criando alegorias para ilustrar o cerne da questão: a quem realmente pertence essa insanidade? Ao louco, ou a quem prefere reprimir a "loucura"?
Para lançar uma crítica à uma hegemonia é preciso voltar aos seus primórdios. Vlácil ambienta "O vale das Abelhas" na Idade Média, o período da escuridão e da contradição. Desfrutando de construções muito bem compostas, onde imagem e som fundem amigavelmente, este longa dá seus gritos ao cristianismo. Culpa e liberdade estão antagonizadas e seguem também na representação dos dois irmãos, com visões oprimidas (um menos, outro mais) do ponto sexual. O desejo explode e denuncia a vida hipócrita do "querer" e reprimir. Às palavras da personagem:"Quem iria viver assim? A raça humana iria se extinguir", parecem palavras diretas ao pensamento conservador religioso, onde há mais sofrimento do que paz. E há algo Bergeriano no meio dos enquadramentos que fazem os personagens encararam a câmera, na utilização dos sons de fundo para criar metáforas, e tudo que há de disponível para ligar crítica à arte.
Para entender "Goodbye Solo" talvez seja preciso deixar de lado alguns conceitos preestabelecidos sobre o correto. Nesse caso, parece que o correto pouco importa, e a relação de suporte é o ponto culminante. Buscar soluções, na amizade destas personagens, simplesmente não ocorre. E Solo demora a compreender que não havia solução. Há simplesmente a vontade de entender o outro, e isso vale. Respeitar uma decisão, por mais insana que lhe pareça, foi o desafio do personagem. "Boodbye Solo" deixa um clima no ar, uma incerteza que pode não agradar todos, mas é sem dúvida uma opção para quem busca assistir um longa que propõe algo diferente. Conta com uma fotografia bonita - a cena final, então - e um elenco super disposto a dar a leveza que precisava para não se tornar um dramão.
"Des Nouvelles du Bon Dieu" tem coragem em abordar o tema niilista de uma forma tão natural, sem medo do que possa a vir machucar a moral. E consegue levá-lo ao extremo, colocá-lo em prova, mostrar na realidade o que seria a total perda de sentidos e valores de alguém perante a sociedade civil que estamos organizados. É uma experiência interessantíssima de assistir, e por tal fato, até acontece um certo paradoxo... nós espectadores assistindo os personagens falando sobre serem personagens ou estarem a imaginar. A comédia cria um tom de leveza e o diálogo com o público fica bem evidente pelas escolhas em mencionar frases do livro que os protagonistas levam, quase como uma pergunta direta, um desafio direto a quem vê. O que queremos com filmes destes heim? Embaralhar mais a cabeça? Pois bem "São as perguntas que lhe fazem avançar, as respostas apenas destroem."
Acho genial essa forma de compor um roteiro: você mostra as visões, os lados e joga as metáforas ali, sempre fazendo um paralelo intrínseco com a crítica proposta. Surplus não é absurdo ou radical, é apenas uma avaliação profunda e real dos moldes de consumo do mundo atual. A insustentabilidade desse sistema, um paradigma que está adoecendo pessoas e adoecendo o planeta.
"Naked" é forte em todos os seus sentidos: abordagem, elenco, estética e diálogos. E principalmente, forte em conseguir fazer tudo isso funcionar junto. É um convite para um mergulho nas profundezas humanas, nas entranhas de um ser desprovido de pudor, nu e transparente, sem capa protetora. Johnny é um personagem incrível, quase inacreditável. Sua mente vaga a esmo pelas ruas de Londres, seu niilismo ataca qualquer viajante que trombe por perto, suas dúvidas transbordam em discursos existencialistas. "Naked" parece mostrar que nós, personagens da vida, vivemos quase como um castigo, arrastando a carga de sermos errados e possuímos a incapacidade de evoluir. Indaga o fim do mundo, propõe a transcendência... Tudo explorado com ironia, na base das contradições do pensamento.
A apatia de Carol chega a doer ao espectador, mas transmitiu o exato caos psicótico da personagem. O que temos aqui não é uma simples repulsa ao sexo, mas talvez uma negação à tudo que se relacionasse aos homens. Ficamos imaginando - e é difícil não ficar pensando nisso - o que causou esse sentimento em Carol. O preto e branco casou muito bem com o estilo de filmagem de Polanksi, que se utiliza de metáforas e desvios mentais da personagem para criar o clima de terror psicológico. Fiquei na cabeça,
Jotuomba logo no começo parece refletir a própria personalidade dos moradores: uma calmaria, uma certa distancia emocional. A rotina das personagens é fortemente marcada pela vida simples, onde a reunião humana, o ato de preparar a comida e ir a missa são os fatores que pautam suas vidas. Na metade, já com mais intimidade, se percebe que os moradores nada de frios tem. São figuras naquela cidadezinha, onde pequenas histórias se acumulam de passados distantes, relevância para mais ninguém, a não ser para eles mesmos. E em meio ao clima campestre, eis que surge a visitante, que parece não entender o ritmo lento onde os moradores brincam que decidem a hora da própria morte. Temos então como foco, o tempo...o tempo de vida.
Que roteiro bem construído, torna o espectador escravo do final, impossível desgrudar da tela. O poder do clímax esta aí, a estória tomou proporções medonhas e os moldes "filme" e não documentário, permitiu uma trama. Agora, só um porém me deixou mais surpresa que a própria estória,
Filme que fala sobre fazer filmes é uma delícia. E Burton, será que isso foi uma confissão? "Faça um filme comercial e depois faça doze com o dinheiro dele". Só que estes com suas maluquices. E é bastante disso que aparece na filmografia do Tim, há um enorme abismo entre "Alice" e "Ed Wood" ou entre "Sombras de Noite" e "O Estranho Mundo de Jack". Agora voltando ao longa em questão, só posso dizer, demais. O tratamento do preto e branco, as atuações estereotipadas dos personagens estereotipados, o clima sacolejante entre comédia e escuridão e a bonita trilha sonora, isso é diversão com qualidade, vai.
"Roma" é um filme sem estrutura determinada. Você pode tentar encaixá-lo em alguma classificação, e se conseguir, me conte como. Fellini não foca em personagens, Fellini não cria trama genérica problema-solução, Fellini nos faz visitar uma das realidades de Roma (porque parece ter várias). E faz um mix de visões, a antiga Roma e a nova. Berço do governo, sede da Igreja (e que crítica boa o desfile, hã?), imersa por criadores, a cidade é banhada por exuberância e ilusões, tendo sido afundada e maltratada, um dos pontos tocados pelo diretor. E talvez ele nem se importe com isso, na verdade essa parece ser a magia de Roma, sua força para reerguer. Facetas diversas de um povo que viveu em vias da controvérsia.
Fui tristemente equivocada na minha opinião sobre Godard. Ele me provou, pela segunda vez, toda a imensidão e força de um filme de sua autoria. "Pierrot le Fou" evoca um sentimento inexplicável para quem assiste, uma liberdade plena, representada por Marianne. São diálogos incríveis, que parecem conversar com o espectador. Jean-Paul Belmondo se mostra um ator incrível (mudando minha opinião quando assisti Acossado, onde me parecia indiferente e comum), desperta uma natureza unica. Godard não deixou barato na crítica, como sempre há um fundo que fala sobre a confusão mental humana. O diretor acentua frases fortes sobre personalidade. Diz a dupla imagem do homem em si... o homem se enxergando de um modo e como ele realmente é. São pinturas diferentes.
Há também um existencialismo poético envolvente em cada cena, na qual a chama guia da discussão é a falta de rumo. A mudança de postura perante a vida, quando o céu azul, sorrio. Quando não, morte. Posso me conhecer, posso ter tudo. E assim mesmo, o que vou fazer da minha vida?
O filme acerta no timing, mesmo nas cenas supostamente calmas há um fio de tensão sempre ligado, ainda acompanhado pela falta de iluminação de boa parte, acentuam o clima de mistério. O espectador sente que onde a qualquer hora, qualquer coisa pode acontecer, e isso mantém um certo foco, a atenção contínua, digo até que parece que o filme tem menos do que realmente há. A trilha sonora é gostosa, uma misturinha celta com as grandes harmonias melodramáticas, serviu. A crítica está sobre a eterna disputa entre os povos, toda a situação que já conhecemos e continuaremos assistindo enquanto houver ganância humana envolvida na história.
Mais um filme que prova a habilidade espantosa de Mikhail Baryshnikov como intérprete. Aliás, a escolha do elenco parece ter sido rigorosa, dedo à dedo, os personagens cabiam muito bem aos atores. Este longa é como uma sensação, um gosto dos bastidores, uma visualização do processo artístico e os atritos que podem desencadear de uma relação com o desconhecido e sensível. Na vida destes personagens, arte não era profissão, é a própria vida. Ross acertou em cheio na atmosfera do palco (digo por experiência própria) e se tornou um filme muito poético pelas belas imagens. Essa é a vida do artista, lidar com um turbilhão de sentimentos e moldá-los à certa forma, que emocione.
Vamos combinar, as cenas são construídas no clichê e óbvio, mas não dá pra negar uma ficção científica. Os efeitos são até legais e o fechamento ser pautado pela
teoria da Panspermia (óia as aulas de Biologia funcionando) ficou interessante. Muito romanceado em vista dos ET's , mas quem sabe não foi mesmo (quase) isso... um cometa, matéria orgânica
Esse filme foi uma boa surpresa. Eu não esperava, talvez por não reconhecer essa esfera no país, uma ficção. É o Cinema brasileiro procurando novas vertentes, algo que é muito interessante, pluralidade cria opções, foge do entediante. É comercial? É, mas conta uma história bem bolada, e com uma execução bem gostosa, é o que vale. Destaque para atuação do Wagner, e me arrisco a dizer, que se superou em relação à outros longas. O resultado é um trabalho diferente das comédias atuais no mercado, é uma chance pra quem quer relaxar, mas com uma qualidade bacana.
Noite Vazia
4.1 88Khouri não esconde nada, desde o princípio deixa claro aos olhos do espectador que aquelas personagens não irão mudar, independente da crescente angústia que elas revelam. Já se percebe de cara, quando os quatro vão ao apartamento, que apesar de suas infelizes e vazias vidas, não há para onde correr. São indecisos, acomodados, hipócritas, esperam o diferente mas lutam pela inercia do igual. O encontro passa então a ser um espelho que reflete toda a insatisfação (talvez até pelo uso do espelho literal, nas cenas onde estão na cama) e é liberada nos diálogos que entregam pouco a pouco cada personagem. Não deixando atrás do pano o lado erótico, Khouri trabalha os planos muito espertamente, simplesmente consegue dizer tudo, sem mostrar nada. Khouri usa a sugestão, um recurso difícil de funcionar, mas que aqui, ocorre fluidamente em todo o longa. Com os pequenos toques nas costas, os ombros de fora e beijos no pescoço, Khouri cria um clima de sensualidade e uma lacuna no ócio que os mantém ali.
À Meia-Noite Levarei Sua Alma
3.9 288 Assista Agora"À Meia-noite Levarei Sua Alma" não pode ser colocado apenas junto da sessão de filmes de terror. Ou talvez, o terror de hoje tenha sucumbido demais, imerso na irracionalidade. Este é um longa esperto. Mojica criou um personagem que desafiasse e incomodasse a moral do público, que tocasse em alguma repulsa; que tocasse em alguma verdade absoluta. Temos então Zé, Zé parece cutucar qualquer forma de vida existente, implorando por um castigo que provasse a existência de uma força superior. Zé desacredita no que não vê, condena os simbolismos implantados nos medos. Em suma, Zé quer conversar com a morte, checar sua veracidade quase inacreditável. Sem valores, há espaço para toda e qualquer ação, independente da reação. E nessa corda bamba de filosofia sobre o desconhecido e sobre o sangue que corre nas veias, se constrói a sinistra trama metafórica.
Olhar Estrangeiro
3.8 47 Assista AgoraAfinal, quem somos nós?
Jornada da Alma
3.9 105"Prendimi L'Anima" é um longa que defino como deleitoso. Sua crítica está aplicada de forma sutil, permitindo a fluidez que faz os acontecimentos andarem - e isso, cria uma atmosfera leve para tratar de temáticas pesadas. Baseado numa pegada psicanalítica, explora o nascimento das teorias de Freud, o começo de uma nova Ciência. Sem choques elétricos; sem amarras; por alto, sem a tortura que piorava o quadro dos pacientes. Jung pretendia entender o considerado louco e tirá-lo daquele estado por meio de técnicas menos evasivas, com conversa e autoconhecimento. Contudo, há um contraponto nisso. Fala-se sobre liberdade. O louco também é ser humano, o louco é um apaixonado obsessivo. Assim Jung começa a viver a perda da razão em seu amor, o paralelo com a loucura. No fim das contas, Sabina parecia apenas querer um romance para dar sentido à sua existência, seu problema era a falta de companhia, o que lhe tirava o apetite de viver. A "cura" para enfermidade era menos problemática do que julgavam os médicos. Carregado de uma positividade quase inacreditável perante aos fatos retratados, "Prendimi L'Anima" é incrível. Incrível em suas atuações, trilha sonora e temática.
Expresso Transiberiano
3.1 129 Assista AgoraQuando um filme é ruim e cheio de falhas, o que a gente pode dizer? Ah, que fotografia linda. Sim, ah que fotografia linda! Mas meus caros, quantas situações absurdas e quantas reações absurdas das personagens diante delas. Desconfio que quando o moço que escreveu esse roteiro estava em seu curso, esqueceram de mandá-lo ir viver e observar a ordem natural humana. Que isso!
Onder Ons
3.4 8Filmes psicológicos exploram as situações recorrendo ao artifício da dúvida. Nenhuma certeza pode ser dita, há apenas fatos acontecendo e a reação emocional das personagens diante deles, o que passa ser o indicador do espectador. "Onder Us" tem um roteiro trabalhadíssimo, no qual a estória se multiplica diante da visão de cada membro que a compõe, o que cria uma trama cheia de braços e incertezas. O efeito é demais, o que não era mostrado logo, na próxima cena é revelado, e isso mantém o espectador a mercê do desenrolar. O ritmo se torna um pouco pesado em cenas onde não há diálogos, e essa lentidão chega a incomodar um pouco, mas é entendível que talvez a intenção do diretor fosse criar uma atmosfera de suspensão. A expressão das personagens acaba por compensar.
Homem Olhando o Sudeste
4.2 12"Hombre Mirando al Sudeste" é um dos raros filmes que atacam o tema da loucura com muita inteligência. A abordagem é uma crítica incrível ao homem que procura tanto ser justo e racional, que se torna o mais irracional dos seres. Estúpidos, como Rantes prefere chamar. Estúpidos e medrosos de não ultrapassarem o chamado limite, doentes por não acatarem e responderem aos estímulos comuns ao desejo, por ignorar e martirizar toda e qualquer forma de diferença do pensamento. E segue por diálogos representativos, criando alegorias para ilustrar o cerne da questão: a quem realmente pertence essa insanidade? Ao louco, ou a quem prefere reprimir a "loucura"?
O Vale das Abelhas
4.2 12Para lançar uma crítica à uma hegemonia é preciso voltar aos seus primórdios. Vlácil ambienta "O vale das Abelhas" na Idade Média, o período da escuridão e da contradição. Desfrutando de construções muito bem compostas, onde imagem e som fundem amigavelmente, este longa dá seus gritos ao cristianismo. Culpa e liberdade estão antagonizadas e seguem também na representação dos dois irmãos, com visões oprimidas (um menos, outro mais) do ponto sexual. O desejo explode e denuncia a vida hipócrita do "querer" e reprimir. Às palavras da personagem:"Quem iria viver assim? A raça humana iria se extinguir", parecem palavras diretas ao pensamento conservador religioso, onde há mais sofrimento do que paz. E há algo Bergeriano no meio dos enquadramentos que fazem os personagens encararam a câmera, na utilização dos sons de fundo para criar metáforas, e tudo que há de disponível para ligar crítica à arte.
Adeus
3.7 28Para entender "Goodbye Solo" talvez seja preciso deixar de lado alguns conceitos preestabelecidos sobre o correto. Nesse caso, parece que o correto pouco importa, e a relação de suporte é o ponto culminante. Buscar soluções, na amizade destas personagens, simplesmente não ocorre. E Solo demora a compreender que não havia solução. Há simplesmente a vontade de entender o outro, e isso vale. Respeitar uma decisão, por mais insana que lhe pareça, foi o desafio do personagem. "Boodbye Solo" deixa um clima no ar, uma incerteza que pode não agradar todos, mas é sem dúvida uma opção para quem busca assistir um longa que propõe algo diferente. Conta com uma fotografia bonita - a cena final, então - e um elenco super disposto a dar a leveza que precisava para não se tornar um dramão.
Deus só Atende aos Domingos
3.9 26"Des Nouvelles du Bon Dieu" tem coragem em abordar o tema niilista de uma forma tão natural, sem medo do que possa a vir machucar a moral. E consegue levá-lo ao extremo, colocá-lo em prova, mostrar na realidade o que seria a total perda de sentidos e valores de alguém perante a sociedade civil que estamos organizados. É uma experiência interessantíssima de assistir, e por tal fato, até acontece um certo paradoxo... nós espectadores assistindo os personagens falando sobre serem personagens ou estarem a imaginar. A comédia cria um tom de leveza e o diálogo com o público fica bem evidente pelas escolhas em mencionar frases do livro que os protagonistas levam, quase como uma pergunta direta, um desafio direto a quem vê. O que queremos com filmes destes heim? Embaralhar mais a cabeça? Pois bem "São as perguntas que lhe fazem avançar, as respostas apenas destroem."
Surplus
4.1 61Acho genial essa forma de compor um roteiro: você mostra as visões, os lados e joga as metáforas ali, sempre fazendo um paralelo intrínseco com a crítica proposta. Surplus não é absurdo ou radical, é apenas uma avaliação profunda e real dos moldes de consumo do mundo atual. A insustentabilidade desse sistema, um paradigma que está adoecendo pessoas e adoecendo o planeta.
Nu
4.0 126"Naked" é forte em todos os seus sentidos: abordagem, elenco, estética e diálogos. E principalmente, forte em conseguir fazer tudo isso funcionar junto. É um convite para um mergulho nas profundezas humanas, nas entranhas de um ser desprovido de pudor, nu e transparente, sem capa protetora. Johnny é um personagem incrível, quase inacreditável. Sua mente vaga a esmo pelas ruas de Londres, seu niilismo ataca qualquer viajante que trombe por perto, suas dúvidas transbordam em discursos existencialistas. "Naked" parece mostrar que nós, personagens da vida, vivemos quase como um castigo, arrastando a carga de sermos errados e possuímos a incapacidade de evoluir. Indaga o fim do mundo, propõe a transcendência... Tudo explorado com ironia, na base das contradições do pensamento.
Repulsa ao Sexo
4.0 462 Assista AgoraA apatia de Carol chega a doer ao espectador, mas transmitiu o exato caos psicótico da personagem. O que temos aqui não é uma simples repulsa ao sexo, mas talvez uma negação à tudo que se relacionasse aos homens. Ficamos imaginando - e é difícil não ficar pensando nisso - o que causou esse sentimento em Carol. O preto e branco casou muito bem com o estilo de filmagem de Polanksi, que se utiliza de metáforas e desvios mentais da personagem para criar o clima de terror psicológico. Fiquei na cabeça,
o retrato no final, junto à família... Será que seu trauma advém dessa época? Um abuso infantil, talvez.
Histórias Que Só Existem Quando Lembradas
4.1 283 Assista AgoraJotuomba logo no começo parece refletir a própria personalidade dos moradores: uma calmaria, uma certa distancia emocional. A rotina das personagens é fortemente marcada pela vida simples, onde a reunião humana, o ato de preparar a comida e ir a missa são os fatores que pautam suas vidas. Na metade, já com mais intimidade, se percebe que os moradores nada de frios tem. São figuras naquela cidadezinha, onde pequenas histórias se acumulam de passados distantes, relevância para mais ninguém, a não ser para eles mesmos. E em meio ao clima campestre, eis que surge a visitante, que parece não entender o ritmo lento onde os moradores brincam que decidem a hora da própria morte. Temos então como foco, o tempo...o tempo de vida.
Frankenweenie
3.8 1,5K Assista AgoraAdorável esse clima preto e branco.
O Impostor
4.0 154Que roteiro bem construído, torna o espectador escravo do final, impossível desgrudar da tela. O poder do clímax esta aí, a estória tomou proporções medonhas e os moldes "filme" e não documentário, permitiu uma trama. Agora, só um porém me deixou mais surpresa que a própria estória,
como assim o cara está solto, com filhos e esposa?
Ed Wood
4.0 583 Assista AgoraFilme que fala sobre fazer filmes é uma delícia. E Burton, será que isso foi uma confissão? "Faça um filme comercial e depois faça doze com o dinheiro dele". Só que estes com suas maluquices. E é bastante disso que aparece na filmografia do Tim, há um enorme abismo entre "Alice" e "Ed Wood" ou entre "Sombras de Noite" e "O Estranho Mundo de Jack". Agora voltando ao longa em questão, só posso dizer, demais. O tratamento do preto e branco, as atuações estereotipadas dos personagens estereotipados, o clima sacolejante entre comédia e escuridão e a bonita trilha sonora, isso é diversão com qualidade, vai.
Roma de Fellini
4.1 65 Assista Agora"Roma" é um filme sem estrutura determinada. Você pode tentar encaixá-lo em alguma classificação, e se conseguir, me conte como. Fellini não foca em personagens, Fellini não cria trama genérica problema-solução, Fellini nos faz visitar uma das realidades de Roma (porque parece ter várias). E faz um mix de visões, a antiga Roma e a nova. Berço do governo, sede da Igreja (e que crítica boa o desfile, hã?), imersa por criadores, a cidade é banhada por exuberância e ilusões, tendo sido afundada e maltratada, um dos pontos tocados pelo diretor. E talvez ele nem se importe com isso, na verdade essa parece ser a magia de Roma, sua força para reerguer. Facetas diversas de um povo que viveu em vias da controvérsia.
O Demônio das Onze Horas
4.2 430 Assista AgoraFui tristemente equivocada na minha opinião sobre Godard. Ele me provou, pela segunda vez, toda a imensidão e força de um filme de sua autoria. "Pierrot le Fou" evoca um sentimento inexplicável para quem assiste, uma liberdade plena, representada por Marianne. São diálogos incríveis, que parecem conversar com o espectador. Jean-Paul Belmondo se mostra um ator incrível (mudando minha opinião quando assisti Acossado, onde me parecia indiferente e comum), desperta uma natureza unica. Godard não deixou barato na crítica, como sempre há um fundo que fala sobre a confusão mental humana. O diretor acentua frases fortes sobre personalidade. Diz a dupla imagem do homem em si... o homem se enxergando de um modo e como ele realmente é. São pinturas diferentes.
Por isso o lance dos nomes.
O Último dos Moicanos
3.8 377 Assista AgoraO filme acerta no timing, mesmo nas cenas supostamente calmas há um fio de tensão sempre ligado, ainda acompanhado pela falta de iluminação de boa parte, acentuam o clima de mistério. O espectador sente que onde a qualquer hora, qualquer coisa pode acontecer, e isso mantém um certo foco, a atenção contínua, digo até que parece que o filme tem menos do que realmente há. A trilha sonora é gostosa, uma misturinha celta com as grandes harmonias melodramáticas, serviu. A crítica está sobre a eterna disputa entre os povos, toda a situação que já conhecemos e continuaremos assistindo enquanto houver ganância humana envolvida na história.
Momento de Decisão
3.5 29Mais um filme que prova a habilidade espantosa de Mikhail Baryshnikov como intérprete. Aliás, a escolha do elenco parece ter sido rigorosa, dedo à dedo, os personagens cabiam muito bem aos atores. Este longa é como uma sensação, um gosto dos bastidores, uma visualização do processo artístico e os atritos que podem desencadear de uma relação com o desconhecido e sensível. Na vida destes personagens, arte não era profissão, é a própria vida. Ross acertou em cheio na atmosfera do palco (digo por experiência própria) e se tornou um filme muito poético pelas belas imagens. Essa é a vida do artista, lidar com um turbilhão de sentimentos e moldá-los à certa forma, que emocione.
Missão: Marte
3.0 142 Assista AgoraVamos combinar, as cenas são construídas no clichê e óbvio, mas não dá pra negar uma ficção científica. Os efeitos são até legais e o fechamento ser pautado pela
teoria da Panspermia (óia as aulas de Biologia funcionando) ficou interessante. Muito romanceado em vista dos ET's , mas quem sabe não foi mesmo (quase) isso... um cometa, matéria orgânica
O Homem do Futuro
3.7 2,5K Assista AgoraEsse filme foi uma boa surpresa. Eu não esperava, talvez por não reconhecer essa esfera no país, uma ficção. É o Cinema brasileiro procurando novas vertentes, algo que é muito interessante, pluralidade cria opções, foge do entediante. É comercial? É, mas conta uma história bem bolada, e com uma execução bem gostosa, é o que vale. Destaque para atuação do Wagner, e me arrisco a dizer, que se superou em relação à outros longas. O resultado é um trabalho diferente das comédias atuais no mercado, é uma chance pra quem quer relaxar, mas com uma qualidade bacana.
Piaf - Um Hino ao Amor
4.3 1,1K Assista AgoraEita, como não desabar? Intensidade vivenciada! Impossível não receber a mensagem que Piaf deixou, emocionante.