Um dos longas-metragens mais duvidosos de 2019. Isso mesmo. Desde o seu anúncio que a produção levantava dúvidas sobre qual seria seu real potencial e o que seria entregue no final. Estou falando de ‘As Golpistas’, estrelado por Jennifer Lopez e que deve chegar às telonas na próxima semana. Felizmente, tudo o que se esperava foi alcançado e o cinema girl power está de volta.
O filme acompanha a ex-stripper Destiny e sua amiga e sócia Ramona. Devido à crise financeira que abalou Wall Street em 2008, Destiny e Ramona viram o declínio na quantidade de clientes na boate. Com isso, decidem elas mesmas iniciar um plano aonde, juntamente com algumas amigas, vão atrás de homens em restaurantes para, após dopá-los, faturar em cima de seus cartões de crédito.
A diretora Lorene Scafaria, que também assina o roteiro, acerta muito na escolha do elenco e no tom do filme, com todas as suas nuances e transformações. A produção começa focada nas strippers e suas sensualidades para chegar aos aspectos sociais e familiares daquelas pessoas. O foco é humanizar os personagens e fazer com que o público se identifique com o drama de cada uma.
Os grandes nomes desse filme são o de Jennifer Lopez e Constance Wu, que ditam o ritmo do longa-metragem. Tanto é que muitos críticos já cravam as duas entre as indicadas na temporada de premiações. Além disso, as coadjuvantes Lili Reinhart e Keke Palmer conseguem aproveitar muito bem os minutos que tem de destaque em suas cenas. Vale ressaltar a participação especial de Cardi B como uma das strippers.
Obviamente que este não é um filme perfeito e existem coisas que incomodam. Existem barrigas no roteiro para que se alongue a duração do longa-metragem. Isso se mostra desnecessário e certamente teria sido melhor se ele tivesse uns dez ou 15 minutos a menos. Contudo, isso não tira os méritos de ‘As Golpistas’, principalmente se for comparado a filmes que buscaram esse protagonismo feminino e falharam.
Existem filmes ruins e filmes que ousam ocupar o posto de pior do ano. No caso de ‘Medo Profundo – O Segundo Ataque’, ele era para ser o primeiro caso e assim teria sido até o seu ato final. Talvez esse seja o grande problema do longa-metragem que estreia nesta semana e que pude conferir na segunda-feira. Leiam até o final e compreendam os problemas desta produção.
O longa-metragem acompanha um grupo de quatro amigas aventureiras que moram na América Central em uma expedição às ruínas de uma cidade subaquática, no litoral da cidade. No entanto, durante o passeio pelo fundo do mar, elas descobrem que não estão sozinhas e os verdadeiros “moradores” do local não estão muito satisfeitos com as visitas.
O ponto é que, durante 1h10 do filme (ele tem cerca de 90 minutos), por mais que as atuações não sejam verossímeis, a mulher seja filmada de forma a valorizar uma sensualidade forçada e o roteiro seja fraco; existe o mistério. Todo aquele espírito de filme de tubarão está presente e de uma maneira diferente e pouco usual. Apesar de fraco, não era nada desprezível.
Mas eles ainda tinham 20 minutos para mostrar todo um surreal que me perdeu completamente. Existem tubarões cegos saltando e jovens sem experiência os matando com um dente enquanto está sendo abocanhada. Isso mesmo. Não se leu errado aqui (risos). O pior é que isso é muito desconexo do que vinha sendo construído no decorrer do filme.
Acho que o problema é esse. Deveria ter sido definido o enfoque e seguido até o fim, mas não. Ele se calca na realidade durante boa parte e no final parte para o trash e para a galhofa. Isso tudo sem motivo aparente e sem nenhuma justificativa. Com isso, vira um dos piores filmes do ano e um dos piores de tubarão, mas que tinha potencial para ser um pouco melhor se tivesse focado em um lado.
‘Medo Profundo – O Segundo Ataque’ é um filme que vinha sendo jogado no calendário e foi adiado em diversas oportunidades neste ano. Agora foi possível compreender os motivos para que isso tivesse ocorrido. Com certeza estreia em uma semana fraca para ter alguma esperança de fazer bilheteria. Contudo, é difícil prever algo de positivo com esse longa-metragem.
Desde o lançamento de ‘Coringa’ que teve início a temporada de premiações para o cinema estadunidense. Essa reta final do ano é voltada para longas-metragens que buscam um lugar ao sol. É uma ótima época para ir ao cinema e também para conferir o trabalho de grandes atores. Projetos biográficos vão muito bem neste período e ‘Green Book’ (vencedor de melhor filme em 2018) é a prova de que sempre surgem bons filmes na área. É nisso que se baseia o lançamento da semana: ‘Ford vs Ferrari’.
O filme se passa na década de 1960, quando a Ford resolve entrar no ramo das corridas automobilísticas para ganhar o prestígio e o glamour da Ferrari. Para tanto, contrata o ex-piloto Carroll Shelby para chefiar a empreitada. Por mais que tenha carta branca para montar sua equipe, incluindo o piloto e engenheiro Ken Miles, Shelby enfrenta problemas com a Ford, especialmente pela mentalidade voltada para os negócios e a imagem da empresa do que propriamente ao aspecto esportivo.
A obra é digna de nota, tanto para quem entende como para quem não acompanha o mundo automobilístico. Isso porque ele é muito mais do que um filme de corrida. É a história de superação de dois homens e também de duas grandes montadoras. É-nos apresentado a crueza do mundo corporativo ao mesmo tempo em que se mostra o glamour e os sonhos de vencer a famosa corrida das 24 horas de Le Mans, na França. Tudo isso ao lado da dupla interpretada por Matt Damon e Christian Bale.
E que atuações ambos os atores entregaram ao público. Os dois conseguem serem os opostos e ao mesmo tempo amigos, mas sem clichês ou atuações caricatas. Eu tinha receio de que o papel de Bale pudesse destoar, mas não. Isso só prova o talento do eterno Batman como ator. Já Damon faz uma atuação mais contida, pois seu personagem pede isso. Contudo, ele mede muito bem a emoção da corrida com a seriedade do corporativismo.
‘Ford vs Ferrari’ é uma grande aposta para a temporada 2020 de premiações. Isso tanto em aspectos técnicos, como fotografia e edição; como também aspectos artísticos. Principalmente para Christian Bale, que pode (e deve) ser pelo menos indicado como melhor ator (ou ator coadjuvante). Tudo depende da campanha que será promovida pela distribuidora do longa-metragem. Tudo é possível para a produção repetir os feitos automobilísticos dentro do Oscar.
A falta de criatividade dos estúdios de Hollywood faz com que cada vez mais sequências de clássicos, remakes e reboots sejam aconteçam. Além de haver um roteiro pronto, existe a “garantia” de sucesso (pelo menos na bilheteria) e também mexe com o saudosismo e o imaginário do público que já consumiu aquilo. Talvez seja pensando nisso que surge ‘Doutor Sono’, do mesmo universo de ‘O Iluminado’.
O longa-metragem, dirigido por Mike Flanagan, acompanha Danny Torrance, que conseguiu sobreviver a uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado por espíritos malignos. Danny agora é um adulto traumatizado e alcoólatra. Sem residência fixa, ele se estabelece em uma cidade, onde consegue um emprego no hospital e cria um vínculo telepático com uma menina.
Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que o filme não é ruim e não se sustenta apenas dos easter-eggs do passado. Muito pelo contrário, tem muito pano para manga essa sequência. O problema é que ele não consegue se desprender do passado – e na verdade eu nem sei se ele quer isso. ‘Doutor Sono’ aborda e recria diversas cenas do filme original em um misto de homenagem com sequência.
O problema é que tudo era mais subjetivo no filme de 1980. Além disso, a construção do personagem era muito mais ambientada no suspense e na loucura, ao contrário deste longa-metragem, que abraça o universo fantástico para trazer todo o mundo de Stephen King (o escritor não sai do cinema nunca) para as telonas mais uma vez – e com sucesso (provavelmente).
Não são coisas que estragam a experiência cinematográfica e, como muitos não viram o filme de 1980, ‘Doutor Sono’ vai agradar muito pela nova história, mas deixará a desejar para os espectadores que não terão as referências. Já o público antigo perderá um pouco da magia de 1980, com toda a suspense e construção de personagem mais aprofundada.
Mike Flanagan dirige bem e o destaque na atuação está no nome de Ewan McGregor, que entrega todos os dramas e problemas pessoais que se espera de um personagem que já passou por tanto na vida. Contudo, a comparação é evidente e a parada no meio termo pode prejudicar: era necessário focar mais no público antigo ou no novo. Esse meio do caminho é arriscado demais.
Uma das estreias mais aguardadas de 2019. Isso por todos e não apenas por este que vos escreve, apesar de que eu esperava muito deste longa-metragem. Ele prometia ser algo grandioso e nunca antes feito, com um ator que tem excelentes de trabalhos e é considerado por alguns como um dos melhores de sua geração. Joaquin Phoenix (indicado ao Oscar por ‘Gladiador’) é quem dá vida ao ‘Coringa’.
O filme acompanha Arthur Fleck, que trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne é seu maior representante.
Começo esse texto dizendo que, para assistir esse longa-metragem, é necessário ter estômago. Isso porque, tudo que é deixado na tela é forte. As cenas são intensas e o filme como um todo incomoda. Incomoda muito. A psicopatia do personagem, interpretado magistralmente por Phoenix, faz a gente duvidar sobre as capacidades. Existem pelo menos duas cenas onde ninguém espera aquela atitude do protagonista.
Porém ele faz tudo. Ele é louco e isso ficou mais claro que água para todos. O Coringa é insano e a gente vê isso. Ele não tem nada a perder e ninguém pode controlar a loucura que passa na cabeça dele. Isso fica claro na atuação de Phoenix e na direção competente de Todd Phillips. Isso sem falar do trabalho de fotografia, que é digno de nota, feito por Lawrence Sher.
Outro ponto positivo está na trilha sonora que, atrelado à fotografia e a atuação de Joaquin Phoenix (em minha opinião o melhor Coringa do cinema) fazem com que o filme tenha que ser assistido no cinema. Eu pude acompanhar no UCI do Park Shopping Canoas, que tem um dos melhores sistemas de som (comparados a redes populares de cinema) e a imersão é muito maior.
Coringa é um dos melhores filmes do ano – e um dos mais intensos também – e deve ser lembrado na temporada de premiações. Pelo menos entre os indicados para Joaquin Phoenix e Lawrence Sher, que entregam trabalhos deslumbrantes. Sobre o ator, que é um dos meus favoritos, tenho um adento: essa é a melhor atuação de sua carreira e pode ser considerada a melhor encarnação do personagem nos cinemas.
Sempre esteve na moda do cinema produzir cinebiografias. Todo ano saem várias. No Brasil isso não é diferente e diverso longa-metragem já foram comentados nas páginas deste jornal. Contudo, acho que esse é o primeiro de um comunicador que escreve aqui. Uma comunicadora no caso e talvez a maior que o Brasil já viu. Estou falando da produção que conta a história de Hebe Camargo frente ao seu programa na Bandeirantes e no SBT.
O filme mostra a Hebe Camargo que se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão. Sua carreira passou por diversas mudanças ao longo dos anos, mas foi durante a década de 80, no período de transição da ditadura para a democracia, que Hebe tomou uma decisão importante. A apresentadora passou a controlar a própria carreira e, independentemente de qualquer coisa, se revelou para o público como uma mulher extraordinária, capaz de superar qualquer crise.
Um acerto da produção foi focar em um espectro menor. Não foi abordada toda a carreira da apresentadora, mas sim sua reta final na TV Bandeirantes e os primeiros anos dentro do SBT. Isso ao mesmo tempo em que se debatia se a censura havia ou não acabado no Brasil. No meio disso tudo estava à apresentadora, sempre desbocada e sem papas na língua; apresentando a realidade de uma sociedade e tomando posições fortes na época (ao lado dos homossexuais e falando sobre AIDS).
Apesar de ser um acerto do diretor Maurício Farias, também fiquei com falta de mais. Queria saber o início da apresentadora e sua vida após acontecimentos marcantes que são retratados no filme (não vou dar spoiler algum). Talvez seja pelo carisma da apresentadora, atrelado ao talento de Andrea Beltrão, que faça com que essa identificação e preocupação com a personagem aflore cada vez mais, porém é preciso deixar claro: não tem quem não saia do cinema curioso pelo antes e depois do filme.
Contudo, obviamente que o filme tem falhas. A escolha de quem interpreta o Silvio Santos não combina e existem outros problemas maiores que precisavam ser aprofundados: os aspectos políticos de Hebe com Maluf, o apoio à busca pelo tratamento da AIDS, o surgimento do selinho (marca registrada da apresentadora), os motivos de sua birra com a rede Globo; entre outros. Todas são pontas soltas que mostram como esse filme deveria ter sido uma série.
Hebe Camargo teve uma carreira brilhante e longeva na televisão brasileira. Era uma mulher carismática, talentosa e corajosa; sempre enfrentando tudo o que era preciso pelos seus ideais. Com certeza merece esse filme, que é uma justa homenagem pela trajetória, mas o gosto de quero mais fica na boca. E não é aquele de quem deixou para uma sequência, mas sim de que faltou tempo e espaço para abordar e aprofundar histórias na linha do tempo projetada.
Um dos filmes mais aguardados por este que vos escreve estreou na quinta-feira, 19/09, e já foi conferido por mim. Estou falando de ‘Rambo – Até o Fim’, novo projeto da franquia de Sylvester Stallone nos cinemas. O ator de 73 anos segue trazendo suas produções em reboots ou sequências para uma nova geração e, felizmente, acertaram mais uma vez com este filme.
O longa-metragem acompanha Rambo, que agora vive recluso e trabalha em um rancho que fica na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Sua vida antiga marcada por lutas violentas, mas quase sempre vitoriosas, ficou no passado. No entanto, quando a filha de um amigo é sequestrada, Rambo não consegue controlar seu ímpeto por justiça e resolve enfrentar um dos mais perigosos cartéis do México.
Primeiro é necessário compreender que é um filme do Rambo, personagem clássico que estreou em 1982 nos cinemas e que contará com o seu sexto filme em 2019, onze anos após o último lançamento. Então se sabe que haverá muito sangue na cara, violência em demasia e cenas “um pouco surreais” envolvendo o nosso protagonista (nem parece um setentão).
Tudo está presente no filme: vilões caricatos (desta vez os vilões são mexicanos), vingança e matança. Tudo com o nosso querido Stallone como protagonista. A trama é mal desenvolvida, não podemos negar. A história foi criada para nos levar até o clímax do final e nada mais. Não existem apresentações profundas e nem explicações das motivações de cada um dos personagens.
O sequestro da menina, a suposta melhor amiga, o pai ausente e o cartel de prostitutas. Tudo orquestrado e caricato, com o único objetivo de nos levar para os últimos 20/30 minutos do longa-metragem, que vale muito a pena. Mistura tudo o que já foi visto na franquia do Rambo – com mais sangue, em um nível Tarantino – com as armadilhas vistas em ‘Esqueceram de Mim’.
Obviamente que o filme tem outros pontos positivos. A fotografia está muito bonita – principalmente nas cenas da fazenda, os efeitos especiais estão muito bons e a atuação de Stallone novamente surpreende. É incrível como o ator e produtor vêm promovendo homenagens aos anos 80 e 90, mas com atuações concisas, muitas vezes superando o seu nível do passado.
‘Rambo – Até o Fim’ é uma ótima pedida para os órfãos dos anos 90 e que curtem o universo criado pelo Sylvester Stallone. Para quem busca violência e sangue, encontrará isso, mas se familiariza com o personagem clássico de outrora. Que venham mais filmes como esse (quero um filme do Cobra e um do Falcão logo) para que o mestre Stallone seja reverenciado pelas novas gerações.
O cinema é feito de ciclos. Um claro exemplo é a leva de super-heróis que estão nos cinemas há alguns longos anos ou os faroestes do passado. São levas que vem e vão. Uma das “febres” que vem ganhando força (mas ainda sem tanto investimento) são os filmes com cunho religioso. Esse ano já esteve aqui ‘Superação – O Milagre da Fé’ e agora foi à vez de ‘Divaldo – O Mensageiro da Paz’.
O longa-metragem apresenta a convivência com a mediunidade desde os quatro anos de Divaldo, que era rejeitado pelas outras crianças e reprimido pelo pai. Ao completar 17 anos, o jovem decide usar seu dom para ajudar as pessoas e se muda para Salvador, com o apoio da mãe. Sob a orientação de sua guia espiritual, Joanna de Ângelis, ele se torna um dos médiuns mais importantes de todos os tempos.
A produção é, tecnicamente falando, muito boa. Consegue entregar boas cenas e atuações convincentes. Talvez a única exceção seja Ghilherme Lobo, que aparenta ter decorado as frases em alguns momentos (soando pouco naturais). Isso também acontece com Regiane Alves e Marcos Veras, mas no caso deles não incomoda tanto, afinal existe um sobrenatural ao entorno deles que remete ao passado.
A divisão do filme em três fases da vida de Divaldo foi um acerto e ela é muito bem dividida: uma criança que não entende o que passa, mas brinca com tudo isso; um adolescente cheio de dúvidas sobre o que quer e como fará isso; e um adulto mais conciso e pleno de suas funções. Tudo isso muito bem dividido, mas focado na juventude (onde as dúvidas e situações embaraçosas mais acontecem).
Contudo, no quesito atuação, o destaque fica para a mãe, interpretado por Laila Garin, que sempre acreditou no filho, mesmo sem compreender o que era. Sua cena final então é de um sentimentalismo que emociona todos os presentes na sessão. Existem outros momentos que foram construídos com este propósito, mas nenhum deles chegou perto deste final.
‘Divaldo – O Mensageiro da Paz’ merece ser visto por todos para que se conheça a trajetória deste homem de 92 anos. Além disso, não é necessário se preocupar: não existe uma doutrinação religiosa no longa-metragem (apesar de pequenas alfinetadas, mas que fazem sentido para a trama). Com certeza é uma boa pedida para quem gosta de histórias reais e brasileiras.
Voltamos ao cinema e, nada melhor, do que assistir a um dos longas-metragens mais aguardados de 2019. Estou falando da nova incursão de Quentin Tarantino nas telonas, com “Era uma Vez em... Hollywood”. Além da direção magistral do mestre por trás de “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”, o filme também conta com um elenco recheado de estrelas, como Brad Pitt, Leonardo DiCaprio e Margot Robbie.
O filme acompanha Rick Dalton, um ator de TV que, juntamente com seu dublê, está decidido a fazer o nome em Hollywood. Para tanto, ele conhece muitas pessoas influentes na indústria cinematográfica, o que os acaba levando aos assassinatos realizados por Charles Manson na época, entre eles o da atriz Sharon Tate, que na época estava grávida do diretor Roman Polanski.
A produção tem o objetivo de, como dito anteriormente, apresentar o assassinato de Sharon Tate (um caso real, ocorrido em 1969), mas engana-se quem acha que o filme se prende a investigar esse crime. Muito pelo contrário. Ele apenas apresenta os personagens que fazem parte desta história antes do assassinato ser consumado. São retratadas as rotinas de três tramas menores, que culminam no que todos esperam.
Contudo, o filme pouco se prende nisso. Na realidade, o foco dele está nos personagens. São quase duas horas desenvolvendo os três antes protagonistas, plantando pequenas sementes para que o telespectador junte as peças. Comigo foi assim, tendo em vista que eu não havia lido sinopse e nem visto o trailer do longa-metragem. A surpresa é bem maior, tendo em vista que muitos sabiam da trama – enquanto eu não.
A liberdade e o talento dos três atores estão excelentes. Todos entregam grandes personagens em atuações únicas, tendo em vista o espaço para o desenvolvimento de cada um. Também não poderia faltar a boa e velha violência típica de Tarantino, que aparece de forma rápida na metade do filme, mas deixa todos sem ar nas cenas finais – tenham coração forte e se preparem para o que pode acontecer.
Tarantino evolui demais como cineasta. Cada vez mais ele se torna independente das cenas violentas – grande chamariz para o seu trabalho no início – e pode focar em boas histórias. Além disso, ele chegou num nível que pode contar com o ator que quiser tamanho é o seu prestigio dentro da indústria. Algo que ele merece muito pelo seu trabalho e que faz nós, o público, muito feliz.
Todos falaram desta releitura de “O Rei Leão” e, mesmo com um leve atraso, estou aqui para falar o que achei deste live-action da Disney. A produção, dirigida por Jon Favreau, era muito esperada pelo público que assistiu a animação dos anos 90. Por gerar todo esse saudosismo e carinho, esse foi o filme escolhido para marcar a chegada do Cinemark no Bourbon Wallig.
O longa-metragem acompanha Simba, um jovem leão cujo destino é se tornar o rei da selva. Entretanto, uma armadilha elaborada por seu tio Scar faz com que Mufasa, o atual rei, morra ao tentar salvar o filhote. Consumido pela culpa, Simba deixa o reino rumo a um local distante, onde encontra amigos que o ensinam a mais uma vez ter prazer pela vida.
Quem espera ver coisas novas, desista. O filme é quase que uma refilmagem da animação original. Ele respeita e muito o material existente e faz poucas adaptações (no politicamente correto). Existe uma cena/música nova que chama a atenção, mas nada demais. Porém acho que era isso que os fãs esperavam neste caso: a refilmagem para a nova geração.
Essa espécie de live-action com animação é muito bem executada. Eu tinha receios sobre como ficaria, mas não existe do que reclamar. Talvez alguns detalhes nos movimentos, mas nada que estrague a experiência cinematográfica. Eu tinha o receio de que as falas pudessem soar estranhas, mas isso também não ocorreu. Logo no início se acostuma e pode-se aproveitar sem preocupação.
Quem merece um parágrafo a parte é Timão e Pumba. Eles são o alívio cômico do longa-metragem e se saem muito bem. Ambos funcionam graças ao trabalho de dublagem e ao carisma dos dois personagens. Destaque para Seth Rogen, que entrega mais um trabalho digno de nota e começa a alçar voos mais altos em sua carreira. As piadas envolvendo flatulências e o peso são os pontos altos.
“O Rei Leão” respeita o seu antecessor e atualiza a animação para um novo público. Não é uma substituição e nem uma releitura, mas sim uma ideia para eternizar a história – independente da maneira com que é contada. Um acerto que eu espero ver ganhando força numa possível sequência e em mais espaço para o Pumba. Agora é esperar os próximos passos da Disney.
Na última semana, devido à falta de cabines de imprensa, comentei aqui o documentário “Democracia em Vertigem”, que apresenta uma narrativa esquerdista sobre os acontecimentos. Buscando a imparcialidade, desta vez será falado de um documentário que narra os acontecimentos do período militar dentro do país, com um viés centro-direita. Estou falando de “1964 – O Brasil Entre Armas e Livros”.
Procurando oferecer outra perspectiva a respeito da ditadura militar instaurada no Brasil entre 1964 e 1985, o documentário reúne sociólogos, historiadores e jornalistas para debaterem o passado e a sua influência no futuro. Analisando uma coletânea de documentos retirados do serviço de inteligência da extinta Tchecoslováquia, eles prometem revelar uma verdade, até então, escondida.
Mantendo o posicionamento da última semana, novamente não será entrado em um mérito político. A ideia é analisar o documentário tecnicamente. As interpretações políticas devem ser feitas pelos telespectadores e não pela redação imparcial deste veículo de comunicação. Indica-se sim que todos assistam tudo que é produzido, seja de esquerda ou de direita, e interprete da maneira que achar correto.
Partindo para a crítica: ele é rico em entrevistas e fontes. São dezenas de jornalistas, pesquisadores e cientistas políticos analisando os fatos que culminaram em 1964 e os reflexos deste movimento nos dias de hoje. Tudo muito bem filmado e dirigido. Ele se sustenta muito nas entrevistas e em imagens de arquivo. Além disso, existem exclusividades como a ida da equipe para outros países.
Um dos objetivos do documentário era falar do período militar e acredito que ele peca nesse sentido. A produção tem em torno de duas horas. Boa parte dele é voltada para desenvolver os motivos da intervenção – como se quisessem justificar. No final existem os reflexos do final deste período (1988) e a gestão do PT. Contudo, falta profundidade no período entre 1964 e 1988.
Eles até fazem analises construtivas e que saem do discurso padrão da direita (assumindo a tortura em alguns casos, por exemplo), mas o período que é destinado para analisar esses mais de 30 anos é pequeno quando se pensa no restante da produção. Talvez tenha sido a ideia de eles explicarem os motivos e não as consequências – uma ideia válida, porém que peca pelo discurso usado.
“1964 – O Brasil Entre Armas e Livros” é um bom documentário desta nova safra de produções políticas independentes com um viés ideológico. A produção do Brasil Paralelo precisa também ser assistida por quem discorde da narrativa proposta. O debate da política deve ser feito por todos e, quanto mais conteúdo produzido e assistido, mais rico fica o debate.
Mais uma semana que se vai onde muito foi pensado sobre qual filme escrever. Desta vez, o tema será diferente: um documentário produzido pela Netflix, chamado “Democracia em Vertigem”. Essa é uma produção nacional da cineasta Petra Costa e que trata do cenário político brasileiro, vindo desde o início das eleições diretas até a polarização em 2018.
O documentário acompanha o processo de impeachment da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que foi considerado como um dos reflexos da polarização política e da ascensão da extrema-direita para o poder. O filme conta com imagens internas e exclusivas dos bastidores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Palácio da Alvorada, enquanto ocorria a votação para a queda de Dilma.
Antes de qualquer coisa, aqui não entraremos em um mérito político. A ideia é analisar o documentário tecnicamente. As interpretações políticas devem ser feitas pelos telespectadores e não pela redação imparcial deste veículo de comunicação. Indica-se sim que todos assistam tudo que é produzido, seja de esquerda ou de direita, e interprete da maneira que achar correto.
Partindo para a crítica: tecnicamente falando, ele é muito bem produzido e têm sacadas muito boas – os momentos da vida da diretora são relacionados com o cenário político do país. Além disso, ela conta com muita imagem que até então eram inéditas, feitas pelo fotógrafo oficial do presidente Lula (o que faz pensar que o próprio esteja produzindo algo partidário com essas imagens).
Contudo, quando se entra na questão de entrevistas, falta material. Existe apenas uma com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o que é pouco quando se compara com outros documentários de viés político – o Brasil Paralelo entrevistou mais de dez pessoas (chutando por baixo) na sua última produção. No caso de Petra, ela se vale muito das imagens exclusivas do fotógrafo do que de material próprio.
Entretanto, devido ao material inédito e exclusivo até então, a produção ganhou força no cenário nacional e internacional, tendo sido citada por veículos estadunidenses e distribuído mundialmente pela Netflix. Por mais que tenha seu viés esquerdista, produção se sobressai de outras pela escolha narrativa feita e pelas imagens concedidas pela comunicação presidencial.
“Democracia em Vertigem” é um documentário que tem de ser visto por todos – seja para concordar ou discordar com a narrativa escolhida. O debate da política deve ser feito por todos e, quanto mais conteúdo produzido e assistido, mais rico fica o debate. A produção da Netflix cumpre esse papel tanto quanto a produção do Brasil Paralelo que está no YouTube.
Um dos filmes mais aguardados deste ano. É essa a expectativa que carrega o longa-metragem “Homem-Aranha: Longe de Casa”. O motivo? É a primeira produção pós “Vingadores: Ultimato” e deve mostrar o futuro do universo Marvel nos cinemas e seus reflexos depois dos acontecimentos das últimas obras desenvolvidas pela editora e Disney.
O filme acompanha Peter Parker, que está em uma viagem de duas semanas pela Europa, ao lado de seus amigos de colégio, quando é surpreendido pela visita de Nick Fury. Precisando de ajuda para enfrentar monstros nomeados como Elementais, Fury o convoca para lutar ao lado de Mysterio, um novo herói que afirma ter vindo de uma Terra paralela.
De início pode-se dizer que é um bom início (ou fim) da nova fase da Marvel nos cinemas. Ele repete a fórmula bem humorada de fazer cinema e respeita o legado dos super-heróis que começaram este universo. Além disso, ele explica muito bem – e em pouco tempo – os reflexos do que aconteceu desde o final de “Vingadores: Ultimato” – o filme se passa logo depois.
O elenco segue muito bem afinado, com destaque para Tom Holland, Zendaya, Jacob Batalon e Jon Favreau, que retornam do primeiro filme; e de Jake Gyllenhaal, que interpreta o Mysterio. Todos entregam boas atuações e com uma boa medida entre o drama e a comédia, funcionando como alívios cômicos sempre que necessário e sem atrapalhar a fluidez da trama.
Contudo, o roteiro acaba menosprezando o seu público em alguns momentos. Existem muitas piadas fora de hora e sem necessidade, quase que pausando o filme para serem inseridas. Além disso, o longa-metragem acaba esmiuçando demais a trama e colocando na boca dos personagens todos os planos – algo meio anos 90 e que sabemos que não acontece na vida real.
“Homem-Aranha: Longe de Casa” é um bom filme para mostrar o que podemos esperar da Marvel. Ele funciona como um final da última fase e começo da próxima, concluindo arcos e abrindo um leque de novas possibilidades. Merece ser assistido no cinema por tudo o que apresenta e cerca o longa-metragem. Um aviso: são duas cenas pós-créditos e todos tem que assistir as duas.
Estamos chegando à semana de férias das crianças, em julho. Esse é um período aonde os filmes infantis chegam ao cinema. Já estrearam “Pets 2”, “Turma da Mônica” e agora é a vez de “A Pequena Travessa”. Essa foi à produção assistida na semana e que deve agradar ao público que ama animais e uma boa aventura – além de fazer sentir saudades do Doutor Dolittle.
O longa-metragem acompanha Lilli Susewind, uma menina que tem a habilidade de falar com animais, mas fora seus pais, ninguém sabe deste segredo. Quando ela conhece Jess, um menino divertido e misterioso de sua nova escola decide contar para ele. Juntos, os dois precisam achar o filhote de elefante que foi roubado do zoológico da cidade.
Obviamente que este não é um filme para mim e, muitos dos aspectos técnicos que julgo necessário não são correspondidos, mas também não irão desagradar as crianças. É um longa-metragem para elas e garanto que, pelo ponto de vista das três que estavam comigo na cabine de imprensa, que o filme diverte e entretém quem é o verdadeiro público-alvo.
Contudo, esses problemas não podem passar impunes. O principal pode-se dizer que é o roteiro, que faltam explicações. O telespectador não sabe de onde vêm os dons da protagonista – ela fala com os animais – e os dramas dos personagens. Com isso, não existe a identificação e nem a preocupação com que algo dê errado. Tudo depende da fantasia construída para as crianças.
A imaginação é peça fundamental para que a experiência seja positiva. A amizade das crianças, o pai descolado e a mãe que puxa a orelha, a dona do zoológico. São estereótipos existentes e mantidos com fidelidade pela direção de “A Pequena Travessa”. Com isso, o sucesso para as crianças deve ser grande. Isso devido às férias escolares de inverno.
“A Pequena Travessa” não é um filme feito para adultos, mas sim para as crianças. As chances de elas gostarem são grandes e, se os adultos forem juntos, se permitam imaginar e se desprendam do técnico. Assim será possível ter uma experiência lúdica sobre aventura de crianças, brincadeiras e o bem estar dos animais – temas leves e bem tratados para o público jovem.
Quando se fala no cinema nacional, não existem dúvidas de que este era um dos filmes mais aguardados desde o seu anúncio, em 2017. Está se falando de ‘Turma da Mônica – Laços’, que adapta para live-action os personagens mais populares das histórias em quadrinhos brasileiras. O ousado projeto chega aos cinemas na próxima semana, mas aqui eu já vou convencer todos a irem ao cinema.
O longa-metragem tem como foco o Floquinho, cachorro do Cebolinha, que desapareceu. O menino desenvolve então um plano infalível para resgatar o cãozinho, mas para isso vão precisar da ajuda de seus fiéis amigos Mônica, Magali e Cascão. Juntos, eles irão enfrentar grandes desafios e viverem grandes aventuras para levar o cão de volta para casa.
Não tem como analisar essa obra sem toda a nostalgia e importância que os personagens da turma da Mônica têm para o imaginário popular e sabe-se que a pressão seria muito grande. Contudo, o diretor Daniel Rezende consegue entregar aqui algo que nem os fãs acreditavam ser possível. Está praticamente tudo perfeito: elenco, direção e roteiro coesos para homenagear esses gibis de sucesso.
O elenco é acertado em todos os personagens. Os quatro protagonistas estão muito bem e respeitam muito o material de origem – além de terem sacadas para brincar com certas coisas dos gibis, como o uso de sapatos. Todos estão muito bem, mas o elenco adulto também supera as expectativas: Paulinho Vilhena, Monica Iozzi, Fafá Rennó e Rodrigo Santoro são apenas alguns nomes de destaque da trama.
Além dos protagonistas, a direção de Daniel Rezende também apresenta personagens secundários com diversas referências. Tudo isso de forma orgânica e muito bem desenvolvida, sem passar uma referência jogada e sem fundamento. O trabalho do diretor é assertivo em tudo e respeita muito o material de origem – talvez pelo cineasta ser fã daquele universo.
Ao sair do filme, não tem como não pensar numa sequência – nos quadrinhos, depois de ‘Laços’, existe as obras ‘Lições’ e ‘Lembranças’ – e muitos já sonham em ver esse universo crescendo no cinema. Contudo, o receio em como manter esse elenco (crianças crescem rápido) pode ser complicado e, devido ao talento e carisma dos quatro protagonistas, já ficou definido que eles são a Turma da Mônica.
Toda pessoa que acompanha cinema tem seus atores preferidos. Aquelas pessoas que, por mais que não façam um grande filme, a gente vai ao cinema para prestigiar e depois elogiar a obra para os outros – por mais que ela tenha uma qualidade duvidosa. No meu caso, existe uma tríade que alcança esse local: Russell Crowe, Javier Bardem e Seth Rogen. Esse último, estrela “Casal Improvável”, o filme desta semana.
Solitário, sem emprego, autodestrutivo e fracassado, o jornalista Fred Flarsky se esforça para tentar mudar os rumos de sua vida. Quando se reencontra com a sua antiga babá, Charlotte Field, que hoje se tornou uma das mulheres mais poderosas do mundo, um romance improvável surge entre eles, causando uma inesperada reação em cadeia.
Além de Seth Rogen, Charlize Theron também protagoniza o longa-metragem e, surpreendentemente, o casal tem muita química. Obviamente que são dois grandes profissionais, mas em áreas diferentes. Enquanto Rogen é mais cômico e tem um humor escrachado, Charlize é conhecida por trabalhos mais densos e com personagens profundos e bem desenvolvidos.
Contudo, por mais que exista essa diferença de estilo dos dois protagonistas, ambos conseguem se desenvolver muito bem dentro de um mesmo universo, de forma coesa. O trabalho de atuação dos dois é simples, mas competente, conseguindo desenvolver empatia e verossimilhança com o que acontece. Tudo graças ao roteiro fechado e a uma direção que não ousa, porém também não erra.
E a comédia, que é o grande ponto do filme, é muita assertiva. As piadas funcionam de forma orgânica e as reações são tão naturais que nem parece um filme. Um ponto acertado, pois Rogen já fez filmes onde acaba perdendo a mão, partindo para um humor mais pesado e escrachado. Aqui ele soube desenvolver algo mais perto da nossa realidade, melhorando muito o filme.
“Casal Improvável” é um filme que seguirá o caminho de “Vizinhos”: talvez não encha as salas de cinema, mas terá um publico cativo quando for para os canais de streaming que se popularizam. É uma comédia leve, divertida e que consegue gerar uma identificação com o público. Um acerto na carreira do ator, que se consolida como um dos atores da minha tríade.
Apresentar os super-heróis ou recontar suas origens pensando de forma diferente do que aconteceu é uma prática muito comum nas editoras de quadrinho estadunidenses. Agora esse evento foi transportado para os cinemas, com a estreia de “Brightburn – Filho das Trevas”, que apresenta referências ao universo dos X-Men, Homem-Aranha e, principalmente, Super-Homem.
O longa-metragem começa quando uma criança alienígena cai no terreno de um casal da parte rural dos Estados Unidos e eles decidem criar o menino como seu filho. Porém, ao começar a descobrir seus poderes, ao invés de se tornar um herói para a humanidade, ele passa a aterrorizar a pequena cidade onde vive se tornando uma força obscura na Terra.
Produzido por James Gunn (diretor de Guardiões da Galáxia e do novo Esquadrão Suicida), “Brightburn – Filho das Trevas” não tem ligação direta com nenhuma editora ou personagem, porém ele toma como base conceitos popular sobre o Super-Homem. O jeito como ele chega a terra, onde vive sua criação e até seus poderes e adereços utilizados. O que diferencia Brandon do herói é o viés apresentado.
Conhecido por ser o símbolo do heroísmo nos Estados Unidos, desta vez a versão contada é diferente. E se ao invés de bom moço ele fosse um vilão sem escrúpulos, dissimulado e que mata sem ressentimento. Isso que é construído aqui – com direito a espaços para aprofundar a história e apresentar outros seres poderosos e maquiavélicos – podem sonhar com a liga do mal de James Gunn.
Tudo isso funciona muito bem devido à direção que, mesmo com um roteiro apressado demais (produção tem 01h30 de duração), consegue desenvolver boas cenas – com claras referências ao Super-Homem. Além disso, todos os três atores principais entregam veracidade e empatia com suas atuações, fazendo com que o público se aproxime e preocupe com o futuro de todos.
“Brightburn – Filho das Trevas” é um projeto pessoal e de baixo orçamento, mas que consegue sair da caixinha e da mesmice que é feita hoje no cinema mainstream. Mesmo com falhas, a produção consegue gerar envolvimento e entreter o público presente. Tomara que ele tenha boa aceitação do público, pois espaços para uma sequência foram deixados.
Tem vezes que filmes simples e que sofrem de alguns problemas técnicos acabam cativando o telespectador. Isso pode acontecer devido ao roteiro bem resolvido, ao elenco cativante – e competente – ou devido a alguma identificação que o público encontre com a trama. No caso do filme desta semana, “A Menina e o Leão”, o que acontece é o somatório de tudo isso.
O elenco está muito bem (pelo que li, foram três anos filmando para que animal e protagonista – assim como todo o elenco – crescesse e se desenvolvesse juntos), o roteiro é coeso, fechado e verossímil; e não tem como não se apegar a história. A entrega e o envolvimento do animal com a protagonista é algo genuíno e passa uma mensagem de conservação da fauna que é de suma importância para os dias de hoje.
Para quem desconhece, o longa-metragem acompanha a história de Mia, uma jovem de 14 anos que desde pequena tem uma profunda amizade com Charlie, um leão branco da fazenda de sua família. Quando seu pai decide vender Charlie para caçadores de troféus, Mia não vê outra opção além de fugir com o leão para leva-lo até uma reserva e salvar sua vida.
“A Menina e o Leão” tem um grande problema que o prejudica: a direção. Ela é muito confusa, não aprofunda tramas secundárias importantes e, na primeira metade do filme, coloca um ritmo acelerado demais. Talvez, se tivesse mantido o ritmo colocado na segunda metade do longa-metragem, o filme seria mais bem apreciado. Porém isso não tira os méritos que a obra tem.
Com isso, a obra consegue mostrar a relação do ser humano com o animal e ainda conscientizar a população sobre os riscos de extinção dos leões, considerada os reis da selva. Para isso, além de mostrar uma dura realidade vivida por estes animais – muitas vezes legalizada – o longa-metragem também apresenta dados de como estes bichos estão morrendo a cada ano que passa.
Apesar de todos os percalços encontrados, o filme cumpre muito bem o seu papel social e também como entretenimento. É uma pena que a data escolhida possa prejudicar a sua sucesso nas bilheterias – competirá com grandes produções. Porém acreditasse que ele tem um papel a cumprir: a conscientização sobre o cuidado com a fauna. Espera-se que esse ponto seja alcançado.
Mais uma vez se tenta fazer um filme baseado em uma franquia de videogames. Contudo, desta vez não é franquia qualquer – longe de desmerecer outros universos – mas sim de um jogo/anime/mangá que conquista gerações há alguns anos. Está se falando de “Pokémon: Detetive Pikachu”, que deve chegar aos cinemas neste final de semana.
O longa-metragem acompanha o desaparecimento do detetive Harry Goodman, que faz com que seu filho Tim, interpretado por Justice Smith, parta à sua procura. Ao seu lado ele conta com Pikachu, um Pokémon decidido a também se tornar um detetive. Juntos, eles percorrem as ruas de neon da metrópole de Ryme City, onde humanos e Pokémon vivem em harmonia.
E já podemos começar essa crítica com uma sentença: fiquem tranquilos, pois temos um bom filme aqui. Isso mesmo, mesmo sendo um live-action de um anime (o que causou bastante preocupação) e não tendo adaptado nenhum jogo clássico da franquia, tudo está lá. São os Pokémon da nossa infância, com referências claras aos jogos e animes clássicos.
Tudo está muito bem encaixado em um filme que soube desenvolver um roteiro próprio e inédito, ao invés de adaptar diretamente algum capítulo do jogo (existe um jogo lançado em 2016, mas não tão popular quanto o restante da franquia). Com isso, as comparações com o material clássico deixam de existir. Ao invés disso, temos referências e um saudosismo muito especial.
As atuações de Justice Smith e Ryan Reynolds (dublador do Pikachu) são convincentes e as cenas de ação bem construídas – mesmo com tanto CGI – o que mostra o potencial que essa franquia tem. Não existe cena pós-crédito ou gancho para sequência. Muito pelo contrário. O filme é redondo e bem fechado, mas nada impede que os fãs sonhem com a sequência.
“Pokémon: Detetive Pikachu” é uma grata surpresa para quem tinha medo de uma bomba ou para quem tinha a curiosidade de saber como os Pokémon seriam no nosso mundo. Com direito a fan service de primeira linha, o longa-metragem entrega uma obra coesa com o que foi construído até aqui. Tomara que se tenha um novo fenômeno como o Pokémon GO.
Filmes de qualidade questionável ou considerados médios surgem aos montes. Na realidade eles são a maioria dentro do cenário hollywoodiano. Eles focam na quantidade para, de vez em quando, surgir um “Green Book” – apesar de também existirem bombas como “Um Funeral em Família”. Contudo, na maioria das vezes, o que saem são filmes medianos e que podem dar sorte com o calendário e carinho do público. Esse pode ser o caso de “Cópias – De Volta à Vida”.
O longa-metragem acompanha a história que se sucede depois de um grave acidente de trânsito que matou toda a família do neurocientista, interpretado pelo ator Keanu Reeves, que sente que perdeu o sentido da vida. Utilizando seu meio de trabalho, ele se torna obcecado em trazê-los de volta, mesmo que isso signifique desafiar boa parte do governo e, principalmente, as leis da física.
O que dizer desde longa-metragem. Ele está longe de ser um filme ruim. Tem atuações concisas de todos – na medida do seu potencial. A carga de dramaticidade é forte, porém “curta”. Todos os dramas e embates morais que podem surgir acabam sendo resolvidos rapidamente por todos. Isso tanto nas cenas em que envolvem Reeves como também nos outros personagens. Na realidade o roteiro falha muito em criar tramas paralelas e acaba não as desenvolvendo.
Um exemplo é – alerta de spoiler – quando eles são “ressuscitados”. Logo em uma das primeiras cenas, uma das personagens sente uma dor forte e para o que está fazendo. Na hora o que passa pela cabeça é que algo poderia dar errado. Ainda mais pelo enfoque que é dado: ela está caminhando sozinha e para por causa da dor. O que acontece? Nada. Isso nunca mais é retomado no longa-metragem e não se sabe os motivos daquela cena existir.
Isso sem falar em clichês como a empresa governamental que parecia ser boa e depois acaba se mostrando malvada ou os homens de terno preto que tentam matar o mocinho. Não que isso atrapalhe a experiência cinematográfica, mas as escolhas óbvias acabam fazendo com que o telespectador se desconecte do filme. Eu mesmo descobri qual era o “problema” no processo que envolve os cérebros dos pacientes (não entrarei em detalhes para não atrapalhar a experiência) antes de Reeves.
“Cópias – De Volta à Vida” é um filme mais do mesmo, mas que tinha potencial para ser algo diferente. Isso principalmente pela escolha final que foi tomada, onde se mostra um mundo diferente do habitual quando filmes como esse são feitos. Contudo, as obviedades e clichês do roteiro podem atrapalhar quem precisa se conectar e envolver em um filme. Faltou mais do roteirista, mas isso não tira alguns méritos do elenco e direção.
Em semanas intensas e curtas como a da semana passada, fica complicado assistir a algum lançamento da semana. Isso devido à rotina exaustiva que uma redação jornalística. Pensando nisso, o filme de hoje é um exemplo para quem quer saber como funcionam os jornais deste país. Quem quiser conferir, “The Post – A Guerra Secreta” está disponível no Telecine.
O filme retrata a história real da divulgação de documentos secretos dos Estados Unidos referente à Guerra do Vietnã. Na história, Katharine Graham – primeira editora do The Washington Post -, se alia a Ben Dradlee com o intuito de expor os segredos do governo mantidos a sete chaves por quatro presidentes e por mais de três décadas. Juntos, eles superarão as diferenças e arriscarão suas carreiras em prol da verdade.
Protagonizando os principais papéis deste longa-metragem, temos Tom Hanks e Meryl Streep, dois monstros do cinema mundial. É meio que chover no molhado elogiar as atuações desta dupla. Ambos entregam trabalhos convincentes e dignos em um filme produzido de forma meteórica pelo competente diretor Steven Spielberg. Só com esses três já da para ver que o projeto é grande.
Contudo, mesmo esses monstros do cinema acabam tropeçando. Meryl entrega uma atuação contida e Hanks soa caricato em alguns momentos. Além disso, Spielberg faz uma boa direção, mas peca na edição do filme. Existem excessos que não precisavam estar no filme (o informante parando próximo aos guardas ou o momento em que a assistente do procurador é maltratada).
Só que isso acaba ficando em segundo plano devido à história que ali era contada – talvez ainda mais para quem seja jornalista. Ali existem fatos que muitos já vivenciaram (os riscos de se tornar amigo de fontes ou o medo de retaliações do governo em caso de publicações de matérias). A realidade de quem exerce essa profissão tão importante nos dias de hoje é muito bem retratada nesta obra.
“The Post – A Guerra Secreta” está longe de ser um filme excepcional, mas tem grandes chances de conquistar o público. Seja pela história, elenco ou direção, o longa-metragem esteve entre os indicados ao Oscar no ano passado e é uma boa pedida para quem tem curiosidade em compreender um pouco mais a importância desta profissão na história até os dias de hoje.
Existe um filme que, há algum tempo, vem gerando curiosidade e debate nas redes sociais – além de muitos choros. Estamos falando de “Superação – O Milagre da Fé”, protagonizado por Marcel Ruiz, Josh Lucas e Chrissy Metz. A história real retrata o jovem que sobreviveu após 60 minutos sem respirar. Tudo isso baseado no trabalho dos médicos e na fé da matriarca da família.
O filme acompanha John Smith, um menino de 14 anos, que passeava com a família em uma manhã de inverno no Lago St Louis, quando, acidentalmente, sofreu uma queda e se afogou. Chegando ao hospital, John foi considerado morto por mais de 60 minutos até que sua mãe, Joyce Smith, juntou todas as suas forças e pediu a Deus para que seu filho sobrevivesse. Sua prece poderosa foi responsável por um milagre inédito.
Começamos falando pela direção consistente de Roxann Dawson, que começa arriscando bastante em planos e movimentos de câmera pouco usuais, mas acaba deixando de ousar no decorrer do longa-metragem. Porém, mesmo assim, ela constrói um trabalho consistente e sem erros, baseando muito do seu trabalho na atuação forte de Chrissy Metz (This Is Us).
A protagonista entrega uma personagem forte e com fé, mas ao mesmo tempo humana. Uma pessoa completamente verossímil e que mostra o sentimento em ver um filho em uma situação crítica como aquela. Chrissy é a grande surpresa quando se fala em atuação, uma vez que ela ofusca completamente os outros personagens – mesmo com bons atores presentes.
“Superação – O Milagre da Fé” colhe os frutos de atuações consistentes e não força tanto na pregação religiosa (um acerto para não afastar o público cético). Apesar de um roteiro simples e, muitas vezes, óbvio, a produção consegue despertar emoções fortes em ambos os públicos. Independente de sua religião é impossível não se emocionar ou sensibilizar com a história contada.
Mais uma semana que se vai e, devido ao nosso calendário não seguir o ritmo do calendário cinematográfico estadunidense, ainda estamos assistindo filmes que foram indicados ao Oscar. Isso significa que amanhã chega aos cinemas “Duas Rainhas”, indicado na categoria de melhor figurino. Nos EUA ele foi lançado em 21 de dezembro e somente em abril chega ao Brasil.
O longa-metragem acompanha Mary que, ainda criança, foi prometida ao filho mais velho do rei Henrique II, Francis, e então foi levada para França. Mas logo Francis morre e Mary volta para a Escócia, na tentativa de derrubar sua prima Elizabeth I, a Rainha da Inglaterra.
Não tem como não começar esse texto sem falar do figurino, que foi o motivo que levou a indicação. E não há dúvidas de que está indicação foi merecida. O trabalho desenvolvido merece destaque, principalmente devido ao grande número de figurinos apresentados pelas duas protagonistas e pelo irmão de Mary – ele é responsável pelo exército e aparece com um lugar de respeito no reino.
O filme me lembra, mesmo estando abaixo no nível de qualidade, o que foi feito em “A Favorita”. A força das protagonistas femininas ganha destaque devido ao trabalho de Saoirse Ronan e Margot Robbie. Ambas entregam atuações viscerais e que mostram a força que uma rainha precisa para liderar uma nação, muitas vezes sem escrúpulos para se manter no poder.
A obra consegue dar sequência ao bom momento de histórias protagonizadas por mulheres fortes. Com certeza a série de projetos que surgem com o passar do tempo mostram como o movimento feminista está influenciando o cinema no mundo inteiro. As produções cinematográficas influenciam gerações e retratam um espaço da sociedade. Isso é arte e cultura.
“Duas Rainhas” está longe de ser um filme excepcional. Muito pelo contrário. É um filme mediano para bom, mas com bastante falhas. Contudo, ele consegue envolver o telespectador. Isso graças a trama instigante e ao talento das protagonistas. Uma ótima pedida para quem viu outros filmes do gênero e ficou querendo ver mais.
Existem vezes em que produções leves e sem pretensões, que contam histórias de pessoas reais e verossímeis, ganham o espaço no cinema e no coração do público. Um diretor que consegue desenvolver projetos assim é o chileno Sebastián Lelio, que dirigiu o vencedor do Oscar de 2017, “Uma Mulher Fantástica” (categoria estrangeira) e o interessante “Desobediência”. Agora não foi diferente com “Gloria Bell”.
O filme acompanha uma mulher sozinha com 50 anos e espírito livre, que ocupa suas noites buscando amor em boates para adultos solteiros em Los Angeles. Sua frágil felicidade muda no dia em que conhece Arnold. Sua intensa paixão a deixa alternando entre esperança e desespero, até ela descobrir uma nova força e que agora, surpreendentemente, ela consegue brilhar mais do que nunca.
Primeiramente, para quem não sabe, este filme é um remake de obra de mesmo nome que foi lançado em 2013 e considerado o primeiro grande trabalho que catapultou o diretor chileno. Só que, ao invés de Paulina García, o filme é protagonizado por Julianne Moore. E, pode-se dizer, ela arrasa no papel de estrela do filme, entregando cenas fortes e intensas, indo do riso ao choro com uma naturalidade e talento raro.
O filme é todo desenvolvido no entorno de Gloria. Mostra a realidade nua e crua, além da independência da mulher perante a sociedade. Ela não precisa de um homem para se divertir ou se sentir completa. Sem falar que o longa-metragem não cai para nenhum estereótipo, buscando retratar de forma coerente uma mulher que passa dos 50 anos e quer viver a vida.
“Gloria Bell” é um projeto intimista. Não tem grandes orçamentos e nem busca bilheterias monstruosas. Ele é intimista e verossímil. Uma história que a gente não sabe que precisa conhecer até realmente apreciar. Mais um projeto interessante do cineasta chileno, que consegue aos poucos construir uma carreira coerente e instigante no cinema estadunidense.
As Golpistas
3.5 538 Assista AgoraUm dos longas-metragens mais duvidosos de 2019. Isso mesmo. Desde o seu anúncio que a produção levantava dúvidas sobre qual seria seu real potencial e o que seria entregue no final. Estou falando de ‘As Golpistas’, estrelado por Jennifer Lopez e que deve chegar às telonas na próxima semana. Felizmente, tudo o que se esperava foi alcançado e o cinema girl power está de volta.
O filme acompanha a ex-stripper Destiny e sua amiga e sócia Ramona. Devido à crise financeira que abalou Wall Street em 2008, Destiny e Ramona viram o declínio na quantidade de clientes na boate. Com isso, decidem elas mesmas iniciar um plano aonde, juntamente com algumas amigas, vão atrás de homens em restaurantes para, após dopá-los, faturar em cima de seus cartões de crédito.
A diretora Lorene Scafaria, que também assina o roteiro, acerta muito na escolha do elenco e no tom do filme, com todas as suas nuances e transformações. A produção começa focada nas strippers e suas sensualidades para chegar aos aspectos sociais e familiares daquelas pessoas. O foco é humanizar os personagens e fazer com que o público se identifique com o drama de cada uma.
Os grandes nomes desse filme são o de Jennifer Lopez e Constance Wu, que ditam o ritmo do longa-metragem. Tanto é que muitos críticos já cravam as duas entre as indicadas na temporada de premiações. Além disso, as coadjuvantes Lili Reinhart e Keke Palmer conseguem aproveitar muito bem os minutos que tem de destaque em suas cenas. Vale ressaltar a participação especial de Cardi B como uma das strippers.
Obviamente que este não é um filme perfeito e existem coisas que incomodam. Existem barrigas no roteiro para que se alongue a duração do longa-metragem. Isso se mostra desnecessário e certamente teria sido melhor se ele tivesse uns dez ou 15 minutos a menos. Contudo, isso não tira os méritos de ‘As Golpistas’, principalmente se for comparado a filmes que buscaram esse protagonismo feminino e falharam.
Medo Profundo: O Segundo Ataque
2.6 336Existem filmes ruins e filmes que ousam ocupar o posto de pior do ano. No caso de ‘Medo Profundo – O Segundo Ataque’, ele era para ser o primeiro caso e assim teria sido até o seu ato final. Talvez esse seja o grande problema do longa-metragem que estreia nesta semana e que pude conferir na segunda-feira. Leiam até o final e compreendam os problemas desta produção.
O longa-metragem acompanha um grupo de quatro amigas aventureiras que moram na América Central em uma expedição às ruínas de uma cidade subaquática, no litoral da cidade. No entanto, durante o passeio pelo fundo do mar, elas descobrem que não estão sozinhas e os verdadeiros “moradores” do local não estão muito satisfeitos com as visitas.
O ponto é que, durante 1h10 do filme (ele tem cerca de 90 minutos), por mais que as atuações não sejam verossímeis, a mulher seja filmada de forma a valorizar uma sensualidade forçada e o roteiro seja fraco; existe o mistério. Todo aquele espírito de filme de tubarão está presente e de uma maneira diferente e pouco usual. Apesar de fraco, não era nada desprezível.
Mas eles ainda tinham 20 minutos para mostrar todo um surreal que me perdeu completamente. Existem tubarões cegos saltando e jovens sem experiência os matando com um dente enquanto está sendo abocanhada. Isso mesmo. Não se leu errado aqui (risos). O pior é que isso é muito desconexo do que vinha sendo construído no decorrer do filme.
Acho que o problema é esse. Deveria ter sido definido o enfoque e seguido até o fim, mas não. Ele se calca na realidade durante boa parte e no final parte para o trash e para a galhofa. Isso tudo sem motivo aparente e sem nenhuma justificativa. Com isso, vira um dos piores filmes do ano e um dos piores de tubarão, mas que tinha potencial para ser um pouco melhor se tivesse focado em um lado.
‘Medo Profundo – O Segundo Ataque’ é um filme que vinha sendo jogado no calendário e foi adiado em diversas oportunidades neste ano. Agora foi possível compreender os motivos para que isso tivesse ocorrido. Com certeza estreia em uma semana fraca para ter alguma esperança de fazer bilheteria. Contudo, é difícil prever algo de positivo com esse longa-metragem.
Ford vs Ferrari
3.9 715 Assista AgoraDesde o lançamento de ‘Coringa’ que teve início a temporada de premiações para o cinema estadunidense. Essa reta final do ano é voltada para longas-metragens que buscam um lugar ao sol. É uma ótima época para ir ao cinema e também para conferir o trabalho de grandes atores. Projetos biográficos vão muito bem neste período e ‘Green Book’ (vencedor de melhor filme em 2018) é a prova de que sempre surgem bons filmes na área. É nisso que se baseia o lançamento da semana: ‘Ford vs Ferrari’.
O filme se passa na década de 1960, quando a Ford resolve entrar no ramo das corridas automobilísticas para ganhar o prestígio e o glamour da Ferrari. Para tanto, contrata o ex-piloto Carroll Shelby para chefiar a empreitada. Por mais que tenha carta branca para montar sua equipe, incluindo o piloto e engenheiro Ken Miles, Shelby enfrenta problemas com a Ford, especialmente pela mentalidade voltada para os negócios e a imagem da empresa do que propriamente ao aspecto esportivo.
A obra é digna de nota, tanto para quem entende como para quem não acompanha o mundo automobilístico. Isso porque ele é muito mais do que um filme de corrida. É a história de superação de dois homens e também de duas grandes montadoras. É-nos apresentado a crueza do mundo corporativo ao mesmo tempo em que se mostra o glamour e os sonhos de vencer a famosa corrida das 24 horas de Le Mans, na França. Tudo isso ao lado da dupla interpretada por Matt Damon e Christian Bale.
E que atuações ambos os atores entregaram ao público. Os dois conseguem serem os opostos e ao mesmo tempo amigos, mas sem clichês ou atuações caricatas. Eu tinha receio de que o papel de Bale pudesse destoar, mas não. Isso só prova o talento do eterno Batman como ator. Já Damon faz uma atuação mais contida, pois seu personagem pede isso. Contudo, ele mede muito bem a emoção da corrida com a seriedade do corporativismo.
‘Ford vs Ferrari’ é uma grande aposta para a temporada 2020 de premiações. Isso tanto em aspectos técnicos, como fotografia e edição; como também aspectos artísticos. Principalmente para Christian Bale, que pode (e deve) ser pelo menos indicado como melhor ator (ou ator coadjuvante). Tudo depende da campanha que será promovida pela distribuidora do longa-metragem. Tudo é possível para a produção repetir os feitos automobilísticos dentro do Oscar.
Doutor Sono
3.7 1,0K Assista AgoraA falta de criatividade dos estúdios de Hollywood faz com que cada vez mais sequências de clássicos, remakes e reboots sejam aconteçam. Além de haver um roteiro pronto, existe a “garantia” de sucesso (pelo menos na bilheteria) e também mexe com o saudosismo e o imaginário do público que já consumiu aquilo. Talvez seja pensando nisso que surge ‘Doutor Sono’, do mesmo universo de ‘O Iluminado’.
O longa-metragem, dirigido por Mike Flanagan, acompanha Danny Torrance, que conseguiu sobreviver a uma tentativa de homicídio por parte do pai, um escritor perturbado por espíritos malignos. Danny agora é um adulto traumatizado e alcoólatra. Sem residência fixa, ele se estabelece em uma cidade, onde consegue um emprego no hospital e cria um vínculo telepático com uma menina.
Antes de qualquer coisa é preciso deixar claro que o filme não é ruim e não se sustenta apenas dos easter-eggs do passado. Muito pelo contrário, tem muito pano para manga essa sequência. O problema é que ele não consegue se desprender do passado – e na verdade eu nem sei se ele quer isso. ‘Doutor Sono’ aborda e recria diversas cenas do filme original em um misto de homenagem com sequência.
O problema é que tudo era mais subjetivo no filme de 1980. Além disso, a construção do personagem era muito mais ambientada no suspense e na loucura, ao contrário deste longa-metragem, que abraça o universo fantástico para trazer todo o mundo de Stephen King (o escritor não sai do cinema nunca) para as telonas mais uma vez – e com sucesso (provavelmente).
Não são coisas que estragam a experiência cinematográfica e, como muitos não viram o filme de 1980, ‘Doutor Sono’ vai agradar muito pela nova história, mas deixará a desejar para os espectadores que não terão as referências. Já o público antigo perderá um pouco da magia de 1980, com toda a suspense e construção de personagem mais aprofundada.
Mike Flanagan dirige bem e o destaque na atuação está no nome de Ewan McGregor, que entrega todos os dramas e problemas pessoais que se espera de um personagem que já passou por tanto na vida. Contudo, a comparação é evidente e a parada no meio termo pode prejudicar: era necessário focar mais no público antigo ou no novo. Esse meio do caminho é arriscado demais.
Coringa
4.4 4,1K Assista AgoraUma das estreias mais aguardadas de 2019. Isso por todos e não apenas por este que vos escreve, apesar de que eu esperava muito deste longa-metragem. Ele prometia ser algo grandioso e nunca antes feito, com um ator que tem excelentes de trabalhos e é considerado por alguns como um dos melhores de sua geração. Joaquin Phoenix (indicado ao Oscar por ‘Gladiador’) é quem dá vida ao ‘Coringa’.
O filme acompanha Arthur Fleck, que trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne é seu maior representante.
Começo esse texto dizendo que, para assistir esse longa-metragem, é necessário ter estômago. Isso porque, tudo que é deixado na tela é forte. As cenas são intensas e o filme como um todo incomoda. Incomoda muito. A psicopatia do personagem, interpretado magistralmente por Phoenix, faz a gente duvidar sobre as capacidades. Existem pelo menos duas cenas onde ninguém espera aquela atitude do protagonista.
Porém ele faz tudo. Ele é louco e isso ficou mais claro que água para todos. O Coringa é insano e a gente vê isso. Ele não tem nada a perder e ninguém pode controlar a loucura que passa na cabeça dele. Isso fica claro na atuação de Phoenix e na direção competente de Todd Phillips. Isso sem falar do trabalho de fotografia, que é digno de nota, feito por Lawrence Sher.
Outro ponto positivo está na trilha sonora que, atrelado à fotografia e a atuação de Joaquin Phoenix (em minha opinião o melhor Coringa do cinema) fazem com que o filme tenha que ser assistido no cinema. Eu pude acompanhar no UCI do Park Shopping Canoas, que tem um dos melhores sistemas de som (comparados a redes populares de cinema) e a imersão é muito maior.
Coringa é um dos melhores filmes do ano – e um dos mais intensos também – e deve ser lembrado na temporada de premiações. Pelo menos entre os indicados para Joaquin Phoenix e Lawrence Sher, que entregam trabalhos deslumbrantes. Sobre o ator, que é um dos meus favoritos, tenho um adento: essa é a melhor atuação de sua carreira e pode ser considerada a melhor encarnação do personagem nos cinemas.
Hebe: A Estrela do Brasil
3.4 182Sempre esteve na moda do cinema produzir cinebiografias. Todo ano saem várias. No Brasil isso não é diferente e diverso longa-metragem já foram comentados nas páginas deste jornal. Contudo, acho que esse é o primeiro de um comunicador que escreve aqui. Uma comunicadora no caso e talvez a maior que o Brasil já viu. Estou falando da produção que conta a história de Hebe Camargo frente ao seu programa na Bandeirantes e no SBT.
O filme mostra a Hebe Camargo que se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão. Sua carreira passou por diversas mudanças ao longo dos anos, mas foi durante a década de 80, no período de transição da ditadura para a democracia, que Hebe tomou uma decisão importante. A apresentadora passou a controlar a própria carreira e, independentemente de qualquer coisa, se revelou para o público como uma mulher extraordinária, capaz de superar qualquer crise.
Um acerto da produção foi focar em um espectro menor. Não foi abordada toda a carreira da apresentadora, mas sim sua reta final na TV Bandeirantes e os primeiros anos dentro do SBT. Isso ao mesmo tempo em que se debatia se a censura havia ou não acabado no Brasil. No meio disso tudo estava à apresentadora, sempre desbocada e sem papas na língua; apresentando a realidade de uma sociedade e tomando posições fortes na época (ao lado dos homossexuais e falando sobre AIDS).
Apesar de ser um acerto do diretor Maurício Farias, também fiquei com falta de mais. Queria saber o início da apresentadora e sua vida após acontecimentos marcantes que são retratados no filme (não vou dar spoiler algum). Talvez seja pelo carisma da apresentadora, atrelado ao talento de Andrea Beltrão, que faça com que essa identificação e preocupação com a personagem aflore cada vez mais, porém é preciso deixar claro: não tem quem não saia do cinema curioso pelo antes e depois do filme.
Contudo, obviamente que o filme tem falhas. A escolha de quem interpreta o Silvio Santos não combina e existem outros problemas maiores que precisavam ser aprofundados: os aspectos políticos de Hebe com Maluf, o apoio à busca pelo tratamento da AIDS, o surgimento do selinho (marca registrada da apresentadora), os motivos de sua birra com a rede Globo; entre outros. Todas são pontas soltas que mostram como esse filme deveria ter sido uma série.
Hebe Camargo teve uma carreira brilhante e longeva na televisão brasileira. Era uma mulher carismática, talentosa e corajosa; sempre enfrentando tudo o que era preciso pelos seus ideais. Com certeza merece esse filme, que é uma justa homenagem pela trajetória, mas o gosto de quero mais fica na boca. E não é aquele de quem deixou para uma sequência, mas sim de que faltou tempo e espaço para abordar e aprofundar histórias na linha do tempo projetada.
Rambo: Até o Fim
3.2 551 Assista AgoraUm dos filmes mais aguardados por este que vos escreve estreou na quinta-feira, 19/09, e já foi conferido por mim. Estou falando de ‘Rambo – Até o Fim’, novo projeto da franquia de Sylvester Stallone nos cinemas. O ator de 73 anos segue trazendo suas produções em reboots ou sequências para uma nova geração e, felizmente, acertaram mais uma vez com este filme.
O longa-metragem acompanha Rambo, que agora vive recluso e trabalha em um rancho que fica na fronteira entre os Estados Unidos e o México. Sua vida antiga marcada por lutas violentas, mas quase sempre vitoriosas, ficou no passado. No entanto, quando a filha de um amigo é sequestrada, Rambo não consegue controlar seu ímpeto por justiça e resolve enfrentar um dos mais perigosos cartéis do México.
Primeiro é necessário compreender que é um filme do Rambo, personagem clássico que estreou em 1982 nos cinemas e que contará com o seu sexto filme em 2019, onze anos após o último lançamento. Então se sabe que haverá muito sangue na cara, violência em demasia e cenas “um pouco surreais” envolvendo o nosso protagonista (nem parece um setentão).
Tudo está presente no filme: vilões caricatos (desta vez os vilões são mexicanos), vingança e matança. Tudo com o nosso querido Stallone como protagonista. A trama é mal desenvolvida, não podemos negar. A história foi criada para nos levar até o clímax do final e nada mais. Não existem apresentações profundas e nem explicações das motivações de cada um dos personagens.
O sequestro da menina, a suposta melhor amiga, o pai ausente e o cartel de prostitutas. Tudo orquestrado e caricato, com o único objetivo de nos levar para os últimos 20/30 minutos do longa-metragem, que vale muito a pena. Mistura tudo o que já foi visto na franquia do Rambo – com mais sangue, em um nível Tarantino – com as armadilhas vistas em ‘Esqueceram de Mim’.
Obviamente que o filme tem outros pontos positivos. A fotografia está muito bonita – principalmente nas cenas da fazenda, os efeitos especiais estão muito bons e a atuação de Stallone novamente surpreende. É incrível como o ator e produtor vêm promovendo homenagens aos anos 80 e 90, mas com atuações concisas, muitas vezes superando o seu nível do passado.
‘Rambo – Até o Fim’ é uma ótima pedida para os órfãos dos anos 90 e que curtem o universo criado pelo Sylvester Stallone. Para quem busca violência e sangue, encontrará isso, mas se familiariza com o personagem clássico de outrora. Que venham mais filmes como esse (quero um filme do Cobra e um do Falcão logo) para que o mestre Stallone seja reverenciado pelas novas gerações.
Divaldo: O Mensageiro da Paz
4.3 121O cinema é feito de ciclos. Um claro exemplo é a leva de super-heróis que estão nos cinemas há alguns longos anos ou os faroestes do passado. São levas que vem e vão. Uma das “febres” que vem ganhando força (mas ainda sem tanto investimento) são os filmes com cunho religioso. Esse ano já esteve aqui ‘Superação – O Milagre da Fé’ e agora foi à vez de ‘Divaldo – O Mensageiro da Paz’.
O longa-metragem apresenta a convivência com a mediunidade desde os quatro anos de Divaldo, que era rejeitado pelas outras crianças e reprimido pelo pai. Ao completar 17 anos, o jovem decide usar seu dom para ajudar as pessoas e se muda para Salvador, com o apoio da mãe. Sob a orientação de sua guia espiritual, Joanna de Ângelis, ele se torna um dos médiuns mais importantes de todos os tempos.
A produção é, tecnicamente falando, muito boa. Consegue entregar boas cenas e atuações convincentes. Talvez a única exceção seja Ghilherme Lobo, que aparenta ter decorado as frases em alguns momentos (soando pouco naturais). Isso também acontece com Regiane Alves e Marcos Veras, mas no caso deles não incomoda tanto, afinal existe um sobrenatural ao entorno deles que remete ao passado.
A divisão do filme em três fases da vida de Divaldo foi um acerto e ela é muito bem dividida: uma criança que não entende o que passa, mas brinca com tudo isso; um adolescente cheio de dúvidas sobre o que quer e como fará isso; e um adulto mais conciso e pleno de suas funções. Tudo isso muito bem dividido, mas focado na juventude (onde as dúvidas e situações embaraçosas mais acontecem).
Contudo, no quesito atuação, o destaque fica para a mãe, interpretado por Laila Garin, que sempre acreditou no filho, mesmo sem compreender o que era. Sua cena final então é de um sentimentalismo que emociona todos os presentes na sessão. Existem outros momentos que foram construídos com este propósito, mas nenhum deles chegou perto deste final.
‘Divaldo – O Mensageiro da Paz’ merece ser visto por todos para que se conheça a trajetória deste homem de 92 anos. Além disso, não é necessário se preocupar: não existe uma doutrinação religiosa no longa-metragem (apesar de pequenas alfinetadas, mas que fazem sentido para a trama). Com certeza é uma boa pedida para quem gosta de histórias reais e brasileiras.
Era Uma Vez em... Hollywood
3.8 2,3K Assista AgoraVoltamos ao cinema e, nada melhor, do que assistir a um dos longas-metragens mais aguardados de 2019. Estou falando da nova incursão de Quentin Tarantino nas telonas, com “Era uma Vez em... Hollywood”. Além da direção magistral do mestre por trás de “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”, o filme também conta com um elenco recheado de estrelas, como Brad Pitt, Leonardo DiCaprio e Margot Robbie.
O filme acompanha Rick Dalton, um ator de TV que, juntamente com seu dublê, está decidido a fazer o nome em Hollywood. Para tanto, ele conhece muitas pessoas influentes na indústria cinematográfica, o que os acaba levando aos assassinatos realizados por Charles Manson na época, entre eles o da atriz Sharon Tate, que na época estava grávida do diretor Roman Polanski.
A produção tem o objetivo de, como dito anteriormente, apresentar o assassinato de Sharon Tate (um caso real, ocorrido em 1969), mas engana-se quem acha que o filme se prende a investigar esse crime. Muito pelo contrário. Ele apenas apresenta os personagens que fazem parte desta história antes do assassinato ser consumado. São retratadas as rotinas de três tramas menores, que culminam no que todos esperam.
Contudo, o filme pouco se prende nisso. Na realidade, o foco dele está nos personagens. São quase duas horas desenvolvendo os três antes protagonistas, plantando pequenas sementes para que o telespectador junte as peças. Comigo foi assim, tendo em vista que eu não havia lido sinopse e nem visto o trailer do longa-metragem. A surpresa é bem maior, tendo em vista que muitos sabiam da trama – enquanto eu não.
A liberdade e o talento dos três atores estão excelentes. Todos entregam grandes personagens em atuações únicas, tendo em vista o espaço para o desenvolvimento de cada um. Também não poderia faltar a boa e velha violência típica de Tarantino, que aparece de forma rápida na metade do filme, mas deixa todos sem ar nas cenas finais – tenham coração forte e se preparem para o que pode acontecer.
Tarantino evolui demais como cineasta. Cada vez mais ele se torna independente das cenas violentas – grande chamariz para o seu trabalho no início – e pode focar em boas histórias. Além disso, ele chegou num nível que pode contar com o ator que quiser tamanho é o seu prestigio dentro da indústria. Algo que ele merece muito pelo seu trabalho e que faz nós, o público, muito feliz.
O Rei Leão
3.8 1,6K Assista AgoraTodos falaram desta releitura de “O Rei Leão” e, mesmo com um leve atraso, estou aqui para falar o que achei deste live-action da Disney. A produção, dirigida por Jon Favreau, era muito esperada pelo público que assistiu a animação dos anos 90. Por gerar todo esse saudosismo e carinho, esse foi o filme escolhido para marcar a chegada do Cinemark no Bourbon Wallig.
O longa-metragem acompanha Simba, um jovem leão cujo destino é se tornar o rei da selva. Entretanto, uma armadilha elaborada por seu tio Scar faz com que Mufasa, o atual rei, morra ao tentar salvar o filhote. Consumido pela culpa, Simba deixa o reino rumo a um local distante, onde encontra amigos que o ensinam a mais uma vez ter prazer pela vida.
Quem espera ver coisas novas, desista. O filme é quase que uma refilmagem da animação original. Ele respeita e muito o material existente e faz poucas adaptações (no politicamente correto). Existe uma cena/música nova que chama a atenção, mas nada demais. Porém acho que era isso que os fãs esperavam neste caso: a refilmagem para a nova geração.
Essa espécie de live-action com animação é muito bem executada. Eu tinha receios sobre como ficaria, mas não existe do que reclamar. Talvez alguns detalhes nos movimentos, mas nada que estrague a experiência cinematográfica. Eu tinha o receio de que as falas pudessem soar estranhas, mas isso também não ocorreu. Logo no início se acostuma e pode-se aproveitar sem preocupação.
Quem merece um parágrafo a parte é Timão e Pumba. Eles são o alívio cômico do longa-metragem e se saem muito bem. Ambos funcionam graças ao trabalho de dublagem e ao carisma dos dois personagens. Destaque para Seth Rogen, que entrega mais um trabalho digno de nota e começa a alçar voos mais altos em sua carreira. As piadas envolvendo flatulências e o peso são os pontos altos.
“O Rei Leão” respeita o seu antecessor e atualiza a animação para um novo público. Não é uma substituição e nem uma releitura, mas sim uma ideia para eternizar a história – independente da maneira com que é contada. Um acerto que eu espero ver ganhando força numa possível sequência e em mais espaço para o Pumba. Agora é esperar os próximos passos da Disney.
1964: O Brasil Entre Armas e Livros
3.1 333Na última semana, devido à falta de cabines de imprensa, comentei aqui o documentário “Democracia em Vertigem”, que apresenta uma narrativa esquerdista sobre os acontecimentos. Buscando a imparcialidade, desta vez será falado de um documentário que narra os acontecimentos do período militar dentro do país, com um viés centro-direita. Estou falando de “1964 – O Brasil Entre Armas e Livros”.
Procurando oferecer outra perspectiva a respeito da ditadura militar instaurada no Brasil entre 1964 e 1985, o documentário reúne sociólogos, historiadores e jornalistas para debaterem o passado e a sua influência no futuro. Analisando uma coletânea de documentos retirados do serviço de inteligência da extinta Tchecoslováquia, eles prometem revelar uma verdade, até então, escondida.
Mantendo o posicionamento da última semana, novamente não será entrado em um mérito político. A ideia é analisar o documentário tecnicamente. As interpretações políticas devem ser feitas pelos telespectadores e não pela redação imparcial deste veículo de comunicação. Indica-se sim que todos assistam tudo que é produzido, seja de esquerda ou de direita, e interprete da maneira que achar correto.
Partindo para a crítica: ele é rico em entrevistas e fontes. São dezenas de jornalistas, pesquisadores e cientistas políticos analisando os fatos que culminaram em 1964 e os reflexos deste movimento nos dias de hoje. Tudo muito bem filmado e dirigido. Ele se sustenta muito nas entrevistas e em imagens de arquivo. Além disso, existem exclusividades como a ida da equipe para outros países.
Um dos objetivos do documentário era falar do período militar e acredito que ele peca nesse sentido. A produção tem em torno de duas horas. Boa parte dele é voltada para desenvolver os motivos da intervenção – como se quisessem justificar. No final existem os reflexos do final deste período (1988) e a gestão do PT. Contudo, falta profundidade no período entre 1964 e 1988.
Eles até fazem analises construtivas e que saem do discurso padrão da direita (assumindo a tortura em alguns casos, por exemplo), mas o período que é destinado para analisar esses mais de 30 anos é pequeno quando se pensa no restante da produção. Talvez tenha sido a ideia de eles explicarem os motivos e não as consequências – uma ideia válida, porém que peca pelo discurso usado.
“1964 – O Brasil Entre Armas e Livros” é um bom documentário desta nova safra de produções políticas independentes com um viés ideológico. A produção do Brasil Paralelo precisa também ser assistida por quem discorde da narrativa proposta. O debate da política deve ser feito por todos e, quanto mais conteúdo produzido e assistido, mais rico fica o debate.
Democracia em Vertigem
4.1 1,3KMais uma semana que se vai onde muito foi pensado sobre qual filme escrever. Desta vez, o tema será diferente: um documentário produzido pela Netflix, chamado “Democracia em Vertigem”. Essa é uma produção nacional da cineasta Petra Costa e que trata do cenário político brasileiro, vindo desde o início das eleições diretas até a polarização em 2018.
O documentário acompanha o processo de impeachment da ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff, que foi considerado como um dos reflexos da polarização política e da ascensão da extrema-direita para o poder. O filme conta com imagens internas e exclusivas dos bastidores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Palácio da Alvorada, enquanto ocorria a votação para a queda de Dilma.
Antes de qualquer coisa, aqui não entraremos em um mérito político. A ideia é analisar o documentário tecnicamente. As interpretações políticas devem ser feitas pelos telespectadores e não pela redação imparcial deste veículo de comunicação. Indica-se sim que todos assistam tudo que é produzido, seja de esquerda ou de direita, e interprete da maneira que achar correto.
Partindo para a crítica: tecnicamente falando, ele é muito bem produzido e têm sacadas muito boas – os momentos da vida da diretora são relacionados com o cenário político do país. Além disso, ela conta com muita imagem que até então eram inéditas, feitas pelo fotógrafo oficial do presidente Lula (o que faz pensar que o próprio esteja produzindo algo partidário com essas imagens).
Contudo, quando se entra na questão de entrevistas, falta material. Existe apenas uma com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), o que é pouco quando se compara com outros documentários de viés político – o Brasil Paralelo entrevistou mais de dez pessoas (chutando por baixo) na sua última produção. No caso de Petra, ela se vale muito das imagens exclusivas do fotógrafo do que de material próprio.
Entretanto, devido ao material inédito e exclusivo até então, a produção ganhou força no cenário nacional e internacional, tendo sido citada por veículos estadunidenses e distribuído mundialmente pela Netflix. Por mais que tenha seu viés esquerdista, produção se sobressai de outras pela escolha narrativa feita e pelas imagens concedidas pela comunicação presidencial.
“Democracia em Vertigem” é um documentário que tem de ser visto por todos – seja para concordar ou discordar com a narrativa escolhida. O debate da política deve ser feito por todos e, quanto mais conteúdo produzido e assistido, mais rico fica o debate. A produção da Netflix cumpre esse papel tanto quanto a produção do Brasil Paralelo que está no YouTube.
Homem-Aranha: Longe de Casa
3.6 1,3K Assista AgoraUm dos filmes mais aguardados deste ano. É essa a expectativa que carrega o longa-metragem “Homem-Aranha: Longe de Casa”. O motivo? É a primeira produção pós “Vingadores: Ultimato” e deve mostrar o futuro do universo Marvel nos cinemas e seus reflexos depois dos acontecimentos das últimas obras desenvolvidas pela editora e Disney.
O filme acompanha Peter Parker, que está em uma viagem de duas semanas pela Europa, ao lado de seus amigos de colégio, quando é surpreendido pela visita de Nick Fury. Precisando de ajuda para enfrentar monstros nomeados como Elementais, Fury o convoca para lutar ao lado de Mysterio, um novo herói que afirma ter vindo de uma Terra paralela.
De início pode-se dizer que é um bom início (ou fim) da nova fase da Marvel nos cinemas. Ele repete a fórmula bem humorada de fazer cinema e respeita o legado dos super-heróis que começaram este universo. Além disso, ele explica muito bem – e em pouco tempo – os reflexos do que aconteceu desde o final de “Vingadores: Ultimato” – o filme se passa logo depois.
O elenco segue muito bem afinado, com destaque para Tom Holland, Zendaya, Jacob Batalon e Jon Favreau, que retornam do primeiro filme; e de Jake Gyllenhaal, que interpreta o Mysterio. Todos entregam boas atuações e com uma boa medida entre o drama e a comédia, funcionando como alívios cômicos sempre que necessário e sem atrapalhar a fluidez da trama.
Contudo, o roteiro acaba menosprezando o seu público em alguns momentos. Existem muitas piadas fora de hora e sem necessidade, quase que pausando o filme para serem inseridas. Além disso, o longa-metragem acaba esmiuçando demais a trama e colocando na boca dos personagens todos os planos – algo meio anos 90 e que sabemos que não acontece na vida real.
“Homem-Aranha: Longe de Casa” é um bom filme para mostrar o que podemos esperar da Marvel. Ele funciona como um final da última fase e começo da próxima, concluindo arcos e abrindo um leque de novas possibilidades. Merece ser assistido no cinema por tudo o que apresenta e cerca o longa-metragem. Um aviso: são duas cenas pós-créditos e todos tem que assistir as duas.
A Pequena Travessa
2.3 4 Assista AgoraEstamos chegando à semana de férias das crianças, em julho. Esse é um período aonde os filmes infantis chegam ao cinema. Já estrearam “Pets 2”, “Turma da Mônica” e agora é a vez de “A Pequena Travessa”. Essa foi à produção assistida na semana e que deve agradar ao público que ama animais e uma boa aventura – além de fazer sentir saudades do Doutor Dolittle.
O longa-metragem acompanha Lilli Susewind, uma menina que tem a habilidade de falar com animais, mas fora seus pais, ninguém sabe deste segredo. Quando ela conhece Jess, um menino divertido e misterioso de sua nova escola decide contar para ele. Juntos, os dois precisam achar o filhote de elefante que foi roubado do zoológico da cidade.
Obviamente que este não é um filme para mim e, muitos dos aspectos técnicos que julgo necessário não são correspondidos, mas também não irão desagradar as crianças. É um longa-metragem para elas e garanto que, pelo ponto de vista das três que estavam comigo na cabine de imprensa, que o filme diverte e entretém quem é o verdadeiro público-alvo.
Contudo, esses problemas não podem passar impunes. O principal pode-se dizer que é o roteiro, que faltam explicações. O telespectador não sabe de onde vêm os dons da protagonista – ela fala com os animais – e os dramas dos personagens. Com isso, não existe a identificação e nem a preocupação com que algo dê errado. Tudo depende da fantasia construída para as crianças.
A imaginação é peça fundamental para que a experiência seja positiva. A amizade das crianças, o pai descolado e a mãe que puxa a orelha, a dona do zoológico. São estereótipos existentes e mantidos com fidelidade pela direção de “A Pequena Travessa”. Com isso, o sucesso para as crianças deve ser grande. Isso devido às férias escolares de inverno.
“A Pequena Travessa” não é um filme feito para adultos, mas sim para as crianças. As chances de elas gostarem são grandes e, se os adultos forem juntos, se permitam imaginar e se desprendam do técnico. Assim será possível ter uma experiência lúdica sobre aventura de crianças, brincadeiras e o bem estar dos animais – temas leves e bem tratados para o público jovem.
Turma da Mônica: Laços
3.6 607 Assista AgoraQuando se fala no cinema nacional, não existem dúvidas de que este era um dos filmes mais aguardados desde o seu anúncio, em 2017. Está se falando de ‘Turma da Mônica – Laços’, que adapta para live-action os personagens mais populares das histórias em quadrinhos brasileiras. O ousado projeto chega aos cinemas na próxima semana, mas aqui eu já vou convencer todos a irem ao cinema.
O longa-metragem tem como foco o Floquinho, cachorro do Cebolinha, que desapareceu. O menino desenvolve então um plano infalível para resgatar o cãozinho, mas para isso vão precisar da ajuda de seus fiéis amigos Mônica, Magali e Cascão. Juntos, eles irão enfrentar grandes desafios e viverem grandes aventuras para levar o cão de volta para casa.
Não tem como analisar essa obra sem toda a nostalgia e importância que os personagens da turma da Mônica têm para o imaginário popular e sabe-se que a pressão seria muito grande. Contudo, o diretor Daniel Rezende consegue entregar aqui algo que nem os fãs acreditavam ser possível. Está praticamente tudo perfeito: elenco, direção e roteiro coesos para homenagear esses gibis de sucesso.
O elenco é acertado em todos os personagens. Os quatro protagonistas estão muito bem e respeitam muito o material de origem – além de terem sacadas para brincar com certas coisas dos gibis, como o uso de sapatos. Todos estão muito bem, mas o elenco adulto também supera as expectativas: Paulinho Vilhena, Monica Iozzi, Fafá Rennó e Rodrigo Santoro são apenas alguns nomes de destaque da trama.
Além dos protagonistas, a direção de Daniel Rezende também apresenta personagens secundários com diversas referências. Tudo isso de forma orgânica e muito bem desenvolvida, sem passar uma referência jogada e sem fundamento. O trabalho do diretor é assertivo em tudo e respeita muito o material de origem – talvez pelo cineasta ser fã daquele universo.
Ao sair do filme, não tem como não pensar numa sequência – nos quadrinhos, depois de ‘Laços’, existe as obras ‘Lições’ e ‘Lembranças’ – e muitos já sonham em ver esse universo crescendo no cinema. Contudo, o receio em como manter esse elenco (crianças crescem rápido) pode ser complicado e, devido ao talento e carisma dos quatro protagonistas, já ficou definido que eles são a Turma da Mônica.
Casal Improvável
3.4 290 Assista AgoraToda pessoa que acompanha cinema tem seus atores preferidos. Aquelas pessoas que, por mais que não façam um grande filme, a gente vai ao cinema para prestigiar e depois elogiar a obra para os outros – por mais que ela tenha uma qualidade duvidosa. No meu caso, existe uma tríade que alcança esse local: Russell Crowe, Javier Bardem e Seth Rogen. Esse último, estrela “Casal Improvável”, o filme desta semana.
Solitário, sem emprego, autodestrutivo e fracassado, o jornalista Fred Flarsky se esforça para tentar mudar os rumos de sua vida. Quando se reencontra com a sua antiga babá, Charlotte Field, que hoje se tornou uma das mulheres mais poderosas do mundo, um romance improvável surge entre eles, causando uma inesperada reação em cadeia.
Além de Seth Rogen, Charlize Theron também protagoniza o longa-metragem e, surpreendentemente, o casal tem muita química. Obviamente que são dois grandes profissionais, mas em áreas diferentes. Enquanto Rogen é mais cômico e tem um humor escrachado, Charlize é conhecida por trabalhos mais densos e com personagens profundos e bem desenvolvidos.
Contudo, por mais que exista essa diferença de estilo dos dois protagonistas, ambos conseguem se desenvolver muito bem dentro de um mesmo universo, de forma coesa. O trabalho de atuação dos dois é simples, mas competente, conseguindo desenvolver empatia e verossimilhança com o que acontece. Tudo graças ao roteiro fechado e a uma direção que não ousa, porém também não erra.
E a comédia, que é o grande ponto do filme, é muita assertiva. As piadas funcionam de forma orgânica e as reações são tão naturais que nem parece um filme. Um ponto acertado, pois Rogen já fez filmes onde acaba perdendo a mão, partindo para um humor mais pesado e escrachado. Aqui ele soube desenvolver algo mais perto da nossa realidade, melhorando muito o filme.
“Casal Improvável” é um filme que seguirá o caminho de “Vizinhos”: talvez não encha as salas de cinema, mas terá um publico cativo quando for para os canais de streaming que se popularizam. É uma comédia leve, divertida e que consegue gerar uma identificação com o público. Um acerto na carreira do ator, que se consolida como um dos atores da minha tríade.
Brightburn: Filho das Trevas
2.7 607 Assista AgoraApresentar os super-heróis ou recontar suas origens pensando de forma diferente do que aconteceu é uma prática muito comum nas editoras de quadrinho estadunidenses. Agora esse evento foi transportado para os cinemas, com a estreia de “Brightburn – Filho das Trevas”, que apresenta referências ao universo dos X-Men, Homem-Aranha e, principalmente, Super-Homem.
O longa-metragem começa quando uma criança alienígena cai no terreno de um casal da parte rural dos Estados Unidos e eles decidem criar o menino como seu filho. Porém, ao começar a descobrir seus poderes, ao invés de se tornar um herói para a humanidade, ele passa a aterrorizar a pequena cidade onde vive se tornando uma força obscura na Terra.
Produzido por James Gunn (diretor de Guardiões da Galáxia e do novo Esquadrão Suicida), “Brightburn – Filho das Trevas” não tem ligação direta com nenhuma editora ou personagem, porém ele toma como base conceitos popular sobre o Super-Homem. O jeito como ele chega a terra, onde vive sua criação e até seus poderes e adereços utilizados. O que diferencia Brandon do herói é o viés apresentado.
Conhecido por ser o símbolo do heroísmo nos Estados Unidos, desta vez a versão contada é diferente. E se ao invés de bom moço ele fosse um vilão sem escrúpulos, dissimulado e que mata sem ressentimento. Isso que é construído aqui – com direito a espaços para aprofundar a história e apresentar outros seres poderosos e maquiavélicos – podem sonhar com a liga do mal de James Gunn.
Tudo isso funciona muito bem devido à direção que, mesmo com um roteiro apressado demais (produção tem 01h30 de duração), consegue desenvolver boas cenas – com claras referências ao Super-Homem. Além disso, todos os três atores principais entregam veracidade e empatia com suas atuações, fazendo com que o público se aproxime e preocupe com o futuro de todos.
“Brightburn – Filho das Trevas” é um projeto pessoal e de baixo orçamento, mas que consegue sair da caixinha e da mesmice que é feita hoje no cinema mainstream. Mesmo com falhas, a produção consegue gerar envolvimento e entreter o público presente. Tomara que ele tenha boa aceitação do público, pois espaços para uma sequência foram deixados.
A Menina e o Leão
3.5 90 Assista AgoraTem vezes que filmes simples e que sofrem de alguns problemas técnicos acabam cativando o telespectador. Isso pode acontecer devido ao roteiro bem resolvido, ao elenco cativante – e competente – ou devido a alguma identificação que o público encontre com a trama. No caso do filme desta semana, “A Menina e o Leão”, o que acontece é o somatório de tudo isso.
O elenco está muito bem (pelo que li, foram três anos filmando para que animal e protagonista – assim como todo o elenco – crescesse e se desenvolvesse juntos), o roteiro é coeso, fechado e verossímil; e não tem como não se apegar a história. A entrega e o envolvimento do animal com a protagonista é algo genuíno e passa uma mensagem de conservação da fauna que é de suma importância para os dias de hoje.
Para quem desconhece, o longa-metragem acompanha a história de Mia, uma jovem de 14 anos que desde pequena tem uma profunda amizade com Charlie, um leão branco da fazenda de sua família. Quando seu pai decide vender Charlie para caçadores de troféus, Mia não vê outra opção além de fugir com o leão para leva-lo até uma reserva e salvar sua vida.
“A Menina e o Leão” tem um grande problema que o prejudica: a direção. Ela é muito confusa, não aprofunda tramas secundárias importantes e, na primeira metade do filme, coloca um ritmo acelerado demais. Talvez, se tivesse mantido o ritmo colocado na segunda metade do longa-metragem, o filme seria mais bem apreciado. Porém isso não tira os méritos que a obra tem.
Com isso, a obra consegue mostrar a relação do ser humano com o animal e ainda conscientizar a população sobre os riscos de extinção dos leões, considerada os reis da selva. Para isso, além de mostrar uma dura realidade vivida por estes animais – muitas vezes legalizada – o longa-metragem também apresenta dados de como estes bichos estão morrendo a cada ano que passa.
Apesar de todos os percalços encontrados, o filme cumpre muito bem o seu papel social e também como entretenimento. É uma pena que a data escolhida possa prejudicar a sua sucesso nas bilheterias – competirá com grandes produções. Porém acreditasse que ele tem um papel a cumprir: a conscientização sobre o cuidado com a fauna. Espera-se que esse ponto seja alcançado.
Pokémon: Detetive Pikachu
3.5 671 Assista AgoraMais uma vez se tenta fazer um filme baseado em uma franquia de videogames. Contudo, desta vez não é franquia qualquer – longe de desmerecer outros universos – mas sim de um jogo/anime/mangá que conquista gerações há alguns anos. Está se falando de “Pokémon: Detetive Pikachu”, que deve chegar aos cinemas neste final de semana.
O longa-metragem acompanha o desaparecimento do detetive Harry Goodman, que faz com que seu filho Tim, interpretado por Justice Smith, parta à sua procura. Ao seu lado ele conta com Pikachu, um Pokémon decidido a também se tornar um detetive. Juntos, eles percorrem as ruas de neon da metrópole de Ryme City, onde humanos e Pokémon vivem em harmonia.
E já podemos começar essa crítica com uma sentença: fiquem tranquilos, pois temos um bom filme aqui. Isso mesmo, mesmo sendo um live-action de um anime (o que causou bastante preocupação) e não tendo adaptado nenhum jogo clássico da franquia, tudo está lá. São os Pokémon da nossa infância, com referências claras aos jogos e animes clássicos.
Tudo está muito bem encaixado em um filme que soube desenvolver um roteiro próprio e inédito, ao invés de adaptar diretamente algum capítulo do jogo (existe um jogo lançado em 2016, mas não tão popular quanto o restante da franquia). Com isso, as comparações com o material clássico deixam de existir. Ao invés disso, temos referências e um saudosismo muito especial.
As atuações de Justice Smith e Ryan Reynolds (dublador do Pikachu) são convincentes e as cenas de ação bem construídas – mesmo com tanto CGI – o que mostra o potencial que essa franquia tem. Não existe cena pós-crédito ou gancho para sequência. Muito pelo contrário. O filme é redondo e bem fechado, mas nada impede que os fãs sonhem com a sequência.
“Pokémon: Detetive Pikachu” é uma grata surpresa para quem tinha medo de uma bomba ou para quem tinha a curiosidade de saber como os Pokémon seriam no nosso mundo. Com direito a fan service de primeira linha, o longa-metragem entrega uma obra coesa com o que foi construído até aqui. Tomara que se tenha um novo fenômeno como o Pokémon GO.
Cópias: De Volta à Vida
2.5 284 Assista AgoraFilmes de qualidade questionável ou considerados médios surgem aos montes. Na realidade eles são a maioria dentro do cenário hollywoodiano. Eles focam na quantidade para, de vez em quando, surgir um “Green Book” – apesar de também existirem bombas como “Um Funeral em Família”. Contudo, na maioria das vezes, o que saem são filmes medianos e que podem dar sorte com o calendário e carinho do público. Esse pode ser o caso de “Cópias – De Volta à Vida”.
O longa-metragem acompanha a história que se sucede depois de um grave acidente de trânsito que matou toda a família do neurocientista, interpretado pelo ator Keanu Reeves, que sente que perdeu o sentido da vida. Utilizando seu meio de trabalho, ele se torna obcecado em trazê-los de volta, mesmo que isso signifique desafiar boa parte do governo e, principalmente, as leis da física.
O que dizer desde longa-metragem. Ele está longe de ser um filme ruim. Tem atuações concisas de todos – na medida do seu potencial. A carga de dramaticidade é forte, porém “curta”. Todos os dramas e embates morais que podem surgir acabam sendo resolvidos rapidamente por todos. Isso tanto nas cenas em que envolvem Reeves como também nos outros personagens. Na realidade o roteiro falha muito em criar tramas paralelas e acaba não as desenvolvendo.
Um exemplo é – alerta de spoiler – quando eles são “ressuscitados”. Logo em uma das primeiras cenas, uma das personagens sente uma dor forte e para o que está fazendo. Na hora o que passa pela cabeça é que algo poderia dar errado. Ainda mais pelo enfoque que é dado: ela está caminhando sozinha e para por causa da dor. O que acontece? Nada. Isso nunca mais é retomado no longa-metragem e não se sabe os motivos daquela cena existir.
Isso sem falar em clichês como a empresa governamental que parecia ser boa e depois acaba se mostrando malvada ou os homens de terno preto que tentam matar o mocinho. Não que isso atrapalhe a experiência cinematográfica, mas as escolhas óbvias acabam fazendo com que o telespectador se desconecte do filme. Eu mesmo descobri qual era o “problema” no processo que envolve os cérebros dos pacientes (não entrarei em detalhes para não atrapalhar a experiência) antes de Reeves.
“Cópias – De Volta à Vida” é um filme mais do mesmo, mas que tinha potencial para ser algo diferente. Isso principalmente pela escolha final que foi tomada, onde se mostra um mundo diferente do habitual quando filmes como esse são feitos. Contudo, as obviedades e clichês do roteiro podem atrapalhar quem precisa se conectar e envolver em um filme. Faltou mais do roteirista, mas isso não tira alguns méritos do elenco e direção.
The Post: A Guerra Secreta
3.5 607 Assista AgoraEm semanas intensas e curtas como a da semana passada, fica complicado assistir a algum lançamento da semana. Isso devido à rotina exaustiva que uma redação jornalística. Pensando nisso, o filme de hoje é um exemplo para quem quer saber como funcionam os jornais deste país. Quem quiser conferir, “The Post – A Guerra Secreta” está disponível no Telecine.
O filme retrata a história real da divulgação de documentos secretos dos Estados Unidos referente à Guerra do Vietnã. Na história, Katharine Graham – primeira editora do The Washington Post -, se alia a Ben Dradlee com o intuito de expor os segredos do governo mantidos a sete chaves por quatro presidentes e por mais de três décadas. Juntos, eles superarão as diferenças e arriscarão suas carreiras em prol da verdade.
Protagonizando os principais papéis deste longa-metragem, temos Tom Hanks e Meryl Streep, dois monstros do cinema mundial. É meio que chover no molhado elogiar as atuações desta dupla. Ambos entregam trabalhos convincentes e dignos em um filme produzido de forma meteórica pelo competente diretor Steven Spielberg. Só com esses três já da para ver que o projeto é grande.
Contudo, mesmo esses monstros do cinema acabam tropeçando. Meryl entrega uma atuação contida e Hanks soa caricato em alguns momentos. Além disso, Spielberg faz uma boa direção, mas peca na edição do filme. Existem excessos que não precisavam estar no filme (o informante parando próximo aos guardas ou o momento em que a assistente do procurador é maltratada).
Só que isso acaba ficando em segundo plano devido à história que ali era contada – talvez ainda mais para quem seja jornalista. Ali existem fatos que muitos já vivenciaram (os riscos de se tornar amigo de fontes ou o medo de retaliações do governo em caso de publicações de matérias). A realidade de quem exerce essa profissão tão importante nos dias de hoje é muito bem retratada nesta obra.
“The Post – A Guerra Secreta” está longe de ser um filme excepcional, mas tem grandes chances de conquistar o público. Seja pela história, elenco ou direção, o longa-metragem esteve entre os indicados ao Oscar no ano passado e é uma boa pedida para quem tem curiosidade em compreender um pouco mais a importância desta profissão na história até os dias de hoje.
Superação - O Milagre da Fé
3.6 237 Assista AgoraExiste um filme que, há algum tempo, vem gerando curiosidade e debate nas redes sociais – além de muitos choros. Estamos falando de “Superação – O Milagre da Fé”, protagonizado por Marcel Ruiz, Josh Lucas e Chrissy Metz. A história real retrata o jovem que sobreviveu após 60 minutos sem respirar. Tudo isso baseado no trabalho dos médicos e na fé da matriarca da família.
O filme acompanha John Smith, um menino de 14 anos, que passeava com a família em uma manhã de inverno no Lago St Louis, quando, acidentalmente, sofreu uma queda e se afogou. Chegando ao hospital, John foi considerado morto por mais de 60 minutos até que sua mãe, Joyce Smith, juntou todas as suas forças e pediu a Deus para que seu filho sobrevivesse. Sua prece poderosa foi responsável por um milagre inédito.
Começamos falando pela direção consistente de Roxann Dawson, que começa arriscando bastante em planos e movimentos de câmera pouco usuais, mas acaba deixando de ousar no decorrer do longa-metragem. Porém, mesmo assim, ela constrói um trabalho consistente e sem erros, baseando muito do seu trabalho na atuação forte de Chrissy Metz (This Is Us).
A protagonista entrega uma personagem forte e com fé, mas ao mesmo tempo humana. Uma pessoa completamente verossímil e que mostra o sentimento em ver um filho em uma situação crítica como aquela. Chrissy é a grande surpresa quando se fala em atuação, uma vez que ela ofusca completamente os outros personagens – mesmo com bons atores presentes.
“Superação – O Milagre da Fé” colhe os frutos de atuações consistentes e não força tanto na pregação religiosa (um acerto para não afastar o público cético). Apesar de um roteiro simples e, muitas vezes, óbvio, a produção consegue despertar emoções fortes em ambos os públicos. Independente de sua religião é impossível não se emocionar ou sensibilizar com a história contada.
Duas Rainhas
3.4 344 Assista AgoraMais uma semana que se vai e, devido ao nosso calendário não seguir o ritmo do calendário cinematográfico estadunidense, ainda estamos assistindo filmes que foram indicados ao Oscar. Isso significa que amanhã chega aos cinemas “Duas Rainhas”, indicado na categoria de melhor figurino. Nos EUA ele foi lançado em 21 de dezembro e somente em abril chega ao Brasil.
O longa-metragem acompanha Mary que, ainda criança, foi prometida ao filho mais velho do rei Henrique II, Francis, e então foi levada para França. Mas logo Francis morre e Mary volta para a Escócia, na tentativa de derrubar sua prima Elizabeth I, a Rainha da Inglaterra.
Não tem como não começar esse texto sem falar do figurino, que foi o motivo que levou a indicação. E não há dúvidas de que está indicação foi merecida. O trabalho desenvolvido merece destaque, principalmente devido ao grande número de figurinos apresentados pelas duas protagonistas e pelo irmão de Mary – ele é responsável pelo exército e aparece com um lugar de respeito no reino.
O filme me lembra, mesmo estando abaixo no nível de qualidade, o que foi feito em “A Favorita”. A força das protagonistas femininas ganha destaque devido ao trabalho de Saoirse Ronan e Margot Robbie. Ambas entregam atuações viscerais e que mostram a força que uma rainha precisa para liderar uma nação, muitas vezes sem escrúpulos para se manter no poder.
A obra consegue dar sequência ao bom momento de histórias protagonizadas por mulheres fortes. Com certeza a série de projetos que surgem com o passar do tempo mostram como o movimento feminista está influenciando o cinema no mundo inteiro. As produções cinematográficas influenciam gerações e retratam um espaço da sociedade. Isso é arte e cultura.
“Duas Rainhas” está longe de ser um filme excepcional. Muito pelo contrário. É um filme mediano para bom, mas com bastante falhas. Contudo, ele consegue envolver o telespectador. Isso graças a trama instigante e ao talento das protagonistas. Uma ótima pedida para quem viu outros filmes do gênero e ficou querendo ver mais.
Gloria Bell
3.4 121 Assista AgoraExistem vezes em que produções leves e sem pretensões, que contam histórias de pessoas reais e verossímeis, ganham o espaço no cinema e no coração do público. Um diretor que consegue desenvolver projetos assim é o chileno Sebastián Lelio, que dirigiu o vencedor do Oscar de 2017, “Uma Mulher Fantástica” (categoria estrangeira) e o interessante “Desobediência”. Agora não foi diferente com “Gloria Bell”.
O filme acompanha uma mulher sozinha com 50 anos e espírito livre, que ocupa suas noites buscando amor em boates para adultos solteiros em Los Angeles. Sua frágil felicidade muda no dia em que conhece Arnold. Sua intensa paixão a deixa alternando entre esperança e desespero, até ela descobrir uma nova força e que agora, surpreendentemente, ela consegue brilhar mais do que nunca.
Primeiramente, para quem não sabe, este filme é um remake de obra de mesmo nome que foi lançado em 2013 e considerado o primeiro grande trabalho que catapultou o diretor chileno. Só que, ao invés de Paulina García, o filme é protagonizado por Julianne Moore. E, pode-se dizer, ela arrasa no papel de estrela do filme, entregando cenas fortes e intensas, indo do riso ao choro com uma naturalidade e talento raro.
O filme é todo desenvolvido no entorno de Gloria. Mostra a realidade nua e crua, além da independência da mulher perante a sociedade. Ela não precisa de um homem para se divertir ou se sentir completa. Sem falar que o longa-metragem não cai para nenhum estereótipo, buscando retratar de forma coerente uma mulher que passa dos 50 anos e quer viver a vida.
“Gloria Bell” é um projeto intimista. Não tem grandes orçamentos e nem busca bilheterias monstruosas. Ele é intimista e verossímil. Uma história que a gente não sabe que precisa conhecer até realmente apreciar. Mais um projeto interessante do cineasta chileno, que consegue aos poucos construir uma carreira coerente e instigante no cinema estadunidense.