Um dos indicados em nova direção no nosso Festival de São Paulo, apesar do diretor já ter realizado o filme Lina em 2017. Achei o filme muito bom, claramente filmado com recursos bem limitados no Afeganistão e que consegue, brincando com a não linearidade do roteiro, contar uma história coesa com uma narrativa bem agradável de ir acompanhando. Quando termina você quer mais, quer acompanhar coisas que ficam no ar, chega a se preocupar com personagens. Daí me acendeu um alerta: comecei a me preocupar com os atores que o realizaram depois da retomada do país pelas forças do Talibã. A película, em linhas gerais, pode parecer que não tem nada demais, mas o brilhantismo está nas entrelinhas, é preciso estar atento. A cena maravilhosa em que a lindíssima Atefeh Amini, que interpreta a professora, está lendo um livro do Gabriel García Marquez fiquei curioso em descobrir qual era, mas as letras em alfabeto árabe estão muito pequenas e não consegui ler.
Gostei do filme em linhas gerais, acho que há muitas coisas que poderiam ter um desenvolvimento melhor, principalmente a figura do pai, mas também a do irmão e do tio que achei personagens bem interessantes. É gostoso de acompanhar como o diretor resolve contar sua história em um ritmo meio quebrado, delicado e com várias situações que servem de anticlímax. Definitivamente não é um filme para todo mundo, tem um ritmo bem diferente. Fiquei muito interessado em acompanhar outros trabalhos do diretor. Waiyee Rivera, a atriz principal, leva o filme muito bem em um protagonismo que pareceu-me exigir bastante dela. O reflexo do mundo pós-pandêmico é bem evidenciado aqui, mas no mundo real parece que já nem existiu.
Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Achei o filme todo errado, há os pontos interessantes, parece que vai para um lado, daí para outro e no fim fica completamente perdido. Antonio Pitanga está excelente, há cenas maravilhosas e Ana Flávia Cavalcanti está deslumbrante e é isso. A personagem Jennifer parece que vai dar o gás que o filme precisava, mas acaba não servindo para absolutamente nada, parece ter sido colocada ali por puro enfeite. O filme cai naquilo que odiei do filme Coringa, por exemplo, será que qualquer coisa se justifica pela degradação social? Fazer mal a uma criança, sem entrar em detalhes de que era um filha da puta, mas era uma criança... se justifica? Daí o filme também tenta justificar o racismo dos sulistas? (já que a figura que eles descarregam seu ódio se prega a fazer tudo aquilo que eles temem). Tem horas que o filme realmente parece que vai engrenar, mas não engrena. Achei bem decepcionante. Há cenas descartáveis, outras muito subaproveitadas na narrativa e ainda outras deslumbrantes. Um filme com um enorme potencial desperdiçado na minha opinião.
Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Atuação para Maren Eggert no Festival de Berlim. Adorei o filme, estava com a expectativa lá embaixo, mas me surpreendeu bastante positivamente. As questões que levantam são ótimas e mesmo o desfecho tendo uma excelente escolha de lado, é possível defender um outro. O filme me remeteu bastante ao episódio 9 da segunda temporada de Star Trek: A Nova Geração intitulado The Measure Of A Man onde há uma discussão se o androide Data é um ser vivo. Os seres humanos também não são controlados por algoritmos que nosso cérebro vai processando através de nossas experiências? Porque que com uma IA seria diferente? Dá muito pano para a manga. A dupla principal está excelente e a direção não deixa a peteca cair, pois é leve e gostoso de assistir como uma comédia romântica que não precisa cair em clichês e ser vazia. Achei um filme extremamente importante e atual devido as discussões recentes sobre inteligência artificial.
Era um dos filmes selecionados em Cannes no ano que o Festival não aconteceu devido a pandemia. Achei o filme maravilhoso, a personagem é mais profunda do que as piscinas em que costuma nadar, onde as reflexões vão muito além do esporte. Katerine Svard convence muito como Nadia, apesar de não ser atriz e ter vários paralelos com a personagem, não se enganem, pois ela não está interpretando ela mesma (Savard também ganhou uma medalha de bronze no revezamento assim como no filme, mas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, mas ao contrário da personagem, ela não está aposentada, participou das Olimpíadas em Tóquio ficando em 4º lugar em uma das três provas que participou e nesta semana que escrevo este texto ela iniciou a preparação olímpica para Paris em 2024). O mais legal do filme é que as Olimpíadas de Tóquio ficou quase uma versão de realidade paralela, já que o filme foi feito sem saber que iria ocorrer uma pandemia, o que deu um toque maravilhoso para o filme. Achei a direção muito competente, o filme flui, e vou falar de novo que Savard brilha. Me emocionei bastante. Fico pensando quem foi o idiota que tinha o título "Nadia, Borboleta" na mesa que dá um enorme significado para o filme, já que os dilemas da personagem a coloca em uma espécie de casulo de maturação para tentar se desenvolver em algo mais além do esporte, daí o imbecil pensa que "Vida de Campeã" é um título melhor.
Mais um filme feito para a televisão por Bergman, confesso que não caiu muito no meu gosto. Achei que o filme se estendeu demais, acaba dispersando a atenção devido a linha narrativa mais experimental. Ingrid Thulin e Uno Henning estão muito bem em suas atuações e são os principais motivos que mantive o interesse. As partes com o advogado eu achei meio chata, mas como tudo que o Bergman toca é cheio de significados. Mesmo eu não tendo gostado muito há elementos muito bons que vale a pena. De resto achei tudo muito regular mesmo, muito abaixo do que o Bergman vinha produzindo nesta época. Nunca li nenhuma peça do Strindberg, então não posso fazer nenhuma comparação neste sentido com a adaptação, mas é interessante que mesmo que não tenha me prendido tanto eu fiquei com uma curiosidade em ler o material original.
Primeira coisa a se pensar é que é um filme da Barbie, americano e de Hollywood... se você for assistir pensando que é um filme cult de cinema arte é lógico que você vai reclamar. Greta Gerwig mostra aqui porque ela é uma das maiores dentro do mercado americano, o filme é excelente, não se leva a sério quando não é para se levar e trás um monte de reflexão (coisa que o cinema comercial de Hollywood não fazia faz um certo tempo). O filme funciona inteiramente bem, é lúdico, não é a toa que está fazendo um sucesso com meninas crianças e adultas. Precisamos de muito mais filmes assim, onde a mulher é empoderada e não mero enfeite em franquias chatas de testosterona. Toda a referência da diretora, o elenco e as críticas bem construídas tanto em relação ao machismo quanto ao capitalismo (vale lembrar que Hollywood vive a maior greve cinematográfica de décadas) estão perfeitas. Eu amei!
Um dos únicos filme com um prêmio no Festival de Cannes de 2020 que foi cancelado por conta da pandemia, recebeu o prêmio da Gan Foundation para distribuição do filme. A película é muito boa, e mesmo tendo algumas situações que extrapolam demais a realidade, é tudo feito em um ritmo muito bom, com um desenvolvimento da história de uma maneira que prende a gente. O que mais chama a atenção no filme não é parte técnica ou a história em si, mas a entrega da atriz Joanna Scanlan, impressiona, faz com que a história que está sendo contada ganhe uma vida, uma realidade e uma força muito grande. Um filme de detalhes, que mexe em sentimentos internos, que pode até passar batido para muita gente, mas tem alma.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor de outros dois prêmios em competições paralelas. Primeiro filme de um dos maiores diretores de todos os tempos, que demorou três anos por falta de recursos. O filme é muito bom, apesar de ter momentos arrastados e achar que podia ser um pouco mais curto, O diretor foi fortemente influenciado pelo neorrealismo italiano. Chunibala Devi, que interpreta a velinha, é de uma simpatia maravilhosa e veio a falecer no mesmo ano de lançamento do filme, mas é Uma Das Gupta que rouba a cena com seu papel de Durga: o filme é dela. Apu pode vir a se tornar o protagonista da trilogia, mas este é um filme focado em sua irmã e é assim que funciona. A raiva que dá de ver uma sociedade machista patriarcal ferrando a família é grande. O desfecho é meio apressado, mas a experiência final faz o filme valer a pena.
Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Prêmio entregue pelo European Film Promotion para a atriz Judith State no Festival de Berlim. Que filmaço! Para quem, como eu, vive uma situação de vida de emigrante na Europa não tem como não se identificar com algo. Racismo, xenofobia, preconceito, ignorância... enfim, um retrato perfeito da Europa inteira de uma maneira macro se utilizando de uma vila na Romênia de uma maneira micro. A hipocrisia reina e o futuro é de fácil vislumbre como a visão da criança andando na floresta. Um dos meus melhores amigos no trabalho é cingalês e foi revoltante algumas cenas como só um diretor competente poderia fazer. A atriz premiada em Berlim entrega muito no papel. O desfecho é tão estranho que deixa a gente pensando semanas depois... fiquei fazendo um paralelo entre os Sem Ursos do Panahi já que esse é com ursos, hahahahahaha, mas é interessante pensar nos governos falidos que nos controlam e nas visões que ambos os filmes nos dão sobre isso.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Audiard nunca decepciona e aqui não é diferente, talvez o seu filme mais simples e cotidiano em muitos aspectos, mas que funciona absurdamente bem. Não há como não se identificar com alguma coisa e a construção dos personagens é fantástica. Há todo um aspecto psicológico por trás de cada um deles que permanece oculto como em um iceberg durante todo o filme. Eu sou apaixonado pela Noémie Merlant, então sou suspeito para falar qualquer coisa dela, mas a Lucie Zhang consegue roubar todas as cenas em que aparece e é uma graça. Tive raiva do personagem masculino em alguns momentos, mas homem é assim, né? A nota subiu um pouquinho com o final fofo que entrega, eu adorei! Fiquei curioso em ler a história em quadrinhos em que é baseado, já está no meu carrinho de compras.
Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que nunca aconteceu devido a Pandemia. Para mim, definitivamente, não funcionou. O personagem é chato, o fato de ser irresponsável e infantil nem conta tanto... o cara é um baita de um chato mesmo. O filme por ser meio autobiográfico do diretor já faz eu torcer o nariz para ele. Há cenas que funcionam, a parte técnica tem uma altíssima qualidade e o filme é assistível somente por isso. A relação entre ele e a namorada e ir percebendo o quanto ele é babaca prende o telespectador assim como os momentos "roadie movie", mas para por aí. O restante do filme simplesmente não vai para lugar nenhum... é um tremendo limbo. No fim, de um modo geral, não vale a pena a assistida. Preciso comentar que o cara tem o pior penteado que eu já vi na vida.
Vencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Veneza. Que filmaço! Não sou muito fã de filme de tribunal, mas tem alguns que realmente me ganham e este foi um deles. A tomada inicial na corte toma um tempo considerável do filme, acho que quase metade, e pode parecer um pouco cansativo, mas todas as peças do filme já são colocadas no tabuleiro ali. O filme só vai crescendo, e a gente vai tendo opiniões como se fizesse parte do juri. Quando tudo parece formado na nossa cabeça vem a martelada rachando nosso crânio com o melhor discurso de encerramento da história do cinema, todo mundo precisa assistir isso. É visceral! É magnífico! É perfeito! Assisti uma sequência de filmes feministas meio que sem querer e o final desse foi a coroação final de todos eles. A diretora, até onde cavei a informação, não tem nenhum parentesco com a diretora Mati Diop de mesmo sobrenome, minhas pesquisas também dizem que é um sobrenome bem comum no Senegal. O saxofonista francês Thomas de Pourquery, que faz uma ponta no filme como o marido da personagem principal, conseguiu ganhar o meu prêmio de marido mais fofo do ano. Todo o elenco brilha!
Vencedor da Menção Especial do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Excelente filme, merecia ter competido ao Leão de Ouro. A direção da Tatiana Huezo faz toda a diferença, a delicadeza de um olhar feminino ao que o filme se propõe foi essencial, um filme com a temática feminista que merece ser assistido. Todo o elenco está ótimo e toda a trama que vai caminhando para um clímax de tragédia eminente é angustiante e magistralmente orquestrado. Todo o filme me tirou o fôlego e depois que acaba continuamos querendo acompanhar a vida da personagem principal e todas as outras que vivem em seu ciclo. O filme também é conhecido no Brasil como "A Noite do Fogo", mas pelo IMDB o título original lançado no Brasil é o mesmo do livro "Reze Pelas Mulheres Roubadas". Merece ser visto.
Indicado a uma das premiações paralelas no Festival de Veneza. Não sei porque o pessoal malhou tanto esse filme, achei tão gostoso de assistir em vários aspectos. Cria uma certa apreensão como também um clima fofo. Achei que alguns pontos do desfecho não precisavam, podiam deixar mais aberto e abstrato, mas o filme funcionou muito bem pra mim. Eu me identifiquei com a personagem, já pulei do precipício algumas vezes assim para quebrar a cara e olhando para trás nunca me arrependi. Achei a direção, ritmo e elenco muito bons. Quem diz que ela "largou uma vida nos EUA" não entende muito o que é ser emigrante em outro país, tem horas que a gente só quer uma desculpa para voltar para casa.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Eu simplesmente amei e digo com tranquilidade que é um dos melhores filmes do ano sem sombra de dúvidas, e olha que foi um ano com filmes bem fodas! Não há como assistir e não traçar um paralelo com 8½ do Fellini, e isto fez com que eu gostasse mais do filme do que a maioria que torceu o nariz. Dizem que o filme é pretensioso e egocêntrico, mas não é isto o que qualifica um bom artista? Fellini nao foi pretensioso e egocêntrico com seu 8½ ou Michelangelo ao pintar a Capela Sistina? Porque Iñárritu não pode? Ficamos estagnados a artistas do passado que ficamos comparando com os do presente, impedindo que o processo continue por causa daquele discurso "nada será tão bom quanto antigamente". Será que se Fellini tivesse feito o Bardo nos anos 60 e Iñárritu fizesse o 8½ hoje não teria um pessoal malhando da mesma maneira? Talvez nosso olhar esteja viciado. O filme é lindo, perfeito, para mim tudo funcionou, emocionou e fez sentido com o final que me tirou lágrimas. O melhor filme do diretor disparado para mim! Acho que como imigrante fora do Brasil teve um significado muito maior com muita coisa que tive que encarar com o filme, principalmente o fato de que não quero morrer em outro lugar que não seja o Brasil.
Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes. O diretor não tinha caído muito nas minhas graças com o filme Um Homem Que Grita, mas que bom que a primeira impressão não é sempre a que fica. Que filmaço! O enredo todo e como as coisas vão se amarrando é muito bom nesse filme, a maneira que foi filmado. Tudo! Uma direção super sensível com um olhar bem feminino do diretor. O "plot twist" no final dá um gás para o que já estava funcionando muito bem. As atrizes estão ótimas também. Fui assistir sem dar muita bola e terminei a sessão batendo palmas. Filme africano de alto calibre. Fiquei com vontade de assistir mais coisas dele agora. Importantíssimo para se discutir assuntos sobre aborto, religião e feminismo.
Era um dos filmes selecionados no Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. O filme é feito de momentos, há cenas que funcionam lindamente e outras que não. Como um todo o filme é uma colcha de retalhos com tecidos bonitos e outros nem tanto. Se estende demais e cria situações completamente fora da realidade para justificar determinadas cenas que a diretora queria colocar no filme, não me convenceu. O que chama a atenção é a qualidade técnica e a entrega da atriz principal ao papel. O filme começa lindamente com uma bela cena inicial, daí ele vai caindo e subindo de nível o tempo todo como uma montanha russa, ao final pelo menos traz uma reflexão.
Indicado ao Palma de Ouro e vencedor do Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. Era um dos filmes que eu mais aguardava do ano, pois o diretor havia me conquistado com seu excelente Apenas 6,5. Não decepciona. Os Irmãos de Leila é um filme bem diferente do seu anterior, mas magnífico, senti que estava vendo um Os Irmãos Karamazov transposto para a cultura iraniana em um Irã contemporâneo. Tudo no filme funciona e nem tudo tem desfechos absolutos como no livro de Dostoiévski. O elenco está brilhante, todos eles. Eu comecei odiando o personagem Manouchehr (interpretado por um irreconhecível Payman Maadi) e terminei o filme adorando ele. É esse bombardeamento de sentimentos controversos que deixa o filme tão forte. Um dos melhores filmes do ano, fácil! Leila tem seu nome no título por uma razão não menos importante, por ser uma figura feminina que parece coadjuvante em seu próprio filme é de uma complexidade maravilhosa em um país extremamente machista.
Um filme com a qualidade Pixar nunca é uma perda de tempo. É sempre muito agradável de assistir, com este não é diferente. Há alguns esteriótipos com italianos, faltou explorar algumas coisas sobre os personagens marinhos, mas o foco sobre a amizade é muito bem trabalhado. Está longe de ser um dos trabalhos mais memoráveis do estúdio, mas funciona muito bem.
Um belo filme africano, com uma direção poderosa, imagens lindíssimas e momentos que transforma o filme em uma incrível fábula. Eu confesso que preferi o começo do filme onde eles vivem no vilarejo, o cenário muito mais propício para o desenvolvimento da história, acho que o roteiro podia ter usado algum artifício para não tirar a história dali e levar os personagens para a cidade grande, pois lá o filme perdeu um pouco a força da fantasia. Pode ter sido intencional para retratar a realidade de uma grande cidade do país, mas como narrativa o vilarejo estava funcionando melhor. De resto a história é bem simples, mas a maneira como é contada e se desenvolve só demonstra a competência do diretor estreante. Algumas sinopses do filme que vi por aí estragam completamente algumas surpresas, indico que não leiam sinopses desse filme. Vale a pena, demonstra a força do cinema africano que merece mais destaque.
O que falar de um filme perfeito? Venceu apenas o Oscar de Melhor Roteiro provando de uma vez por todas que o Oscar é uma furada. Orson Welles tinha apenas 25 anos quando realizou essa pérola e ele sempre negou que foi baseado na vida do magnata William Randolph Hearst. Impressionante como Welles convence no papel de toda a vida do personagem, inclusive com uma maquiagem ótima durante a velhice. As cenas são deslumbrantes e o desenrolar da história é ótimo até o desfecho matador. Há tantas nuances e o personagem é tão complexo como na teoria formulada pelo próprio Hemingway chamada de Princípio do Iceberg, onde fatos podem ser omitidos, mas que ainda assim estarão na história. Marcou muito minha adolescência e assistindo novamente agora consigo dizer que se não é o melhor filme já feito, então não sei qual é.
Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Eu sempre tenho um pé atrás com as películas do Weerasethakul, nunca consigo uma imersão muito boa nos filmes, mas neste aqui finalmente eu consegui. Filme fantástico! Indo completamente na contramão e servindo até como crítica ao mundo frenético de redes sociais e de rapidez, o filme se constrói de maneira lenta, poética e calma ao mesmo tempo em que nos vai instigando sobre o que está acontecendo. Tilda está sensacional. As câmeras fixas me lembraram muito o cinema de Yasujiro Ozu, com uma cenografia linda. O final que fecha tudo com chave de ouro depois de toda uma cena lindíssima com o pescador é só uma cereja no bolo. Finalmente me entreguei aos filmes do diretor.
Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro, óbvio, porque é um filme estrangeiro bem americanizado. O filme não é ruim, mas se você tentar comparar com a obra literária em que ele é baseado, então o filme é bem ruim. Tentei abstrair, se ignorar o livro do Erich Maria Remarque ele entretém satisfatoriamente. Não tem quase nada do livro no filme, é basicamente outra história com os mesmos personagens, mas nem estes são muito fiéis a suas características ao livro. Sim, eu sei que é difícil manter coisas do livro, mas é fato aqui que quase tudo foi alterado, o filme de 1930 conseguiu ser bem mais fiel (e olha que eu tinha críticas a ele antes). Me espanta ver gente assistindo e dizendo como é realista... "meu filho, você lutou lá para saber se é realista?" De acordo com o livro eles nem viam os franceses, não havia aquelas batalhas incessantes como no filme, prefiro a opinião do autor (que lutou) do que da galera exaltada com um filme. Ficou interessante a comparação do povo sofrendo enquanto o alto escalão tinha vida fácil, mas desenvolver tudo nos últimos dias da guerra foi um tremendo erro de roteiro, no livro acompanhamos anos do personagem no front, entre hospitais, licenças com a família e estripulias com os amigos. Foi bom, mas podia ter sido um filmaço se tivessem seguido pelo menos um pouco do livro.
The Dogs Didn't Sleep Last Night
3.1 2Um dos indicados em nova direção no nosso Festival de São Paulo, apesar do diretor já ter realizado o filme Lina em 2017. Achei o filme muito bom, claramente filmado com recursos bem limitados no Afeganistão e que consegue, brincando com a não linearidade do roteiro, contar uma história coesa com uma narrativa bem agradável de ir acompanhando. Quando termina você quer mais, quer acompanhar coisas que ficam no ar, chega a se preocupar com personagens. Daí me acendeu um alerta: comecei a me preocupar com os atores que o realizaram depois da retomada do país pelas forças do Talibã. A película, em linhas gerais, pode parecer que não tem nada demais, mas o brilhantismo está nas entrelinhas, é preciso estar atento. A cena maravilhosa em que a lindíssima Atefeh Amini, que interpreta a professora, está lendo um livro do Gabriel García Marquez fiquei curioso em descobrir qual era, mas as letras em alfabeto árabe estão muito pequenas e não consegui ler.
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O Neon Através do Oceano
3.3 2Gostei do filme em linhas gerais, acho que há muitas coisas que poderiam ter um desenvolvimento melhor, principalmente a figura do pai, mas também a do irmão e do tio que achei personagens bem interessantes. É gostoso de acompanhar como o diretor resolve contar sua história em um ritmo meio quebrado, delicado e com várias situações que servem de anticlímax. Definitivamente não é um filme para todo mundo, tem um ritmo bem diferente. Fiquei muito interessado em acompanhar outros trabalhos do diretor. Waiyee Rivera, a atriz principal, leva o filme muito bem em um protagonismo que pareceu-me exigir bastante dela. O reflexo do mundo pós-pandêmico é bem evidenciado aqui, mas no mundo real parece que já nem existiu.
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Casa de Antiguidades
3.1 30Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. Achei o filme todo errado, há os pontos interessantes, parece que vai para um lado, daí para outro e no fim fica completamente perdido. Antonio Pitanga está excelente, há cenas maravilhosas e Ana Flávia Cavalcanti está deslumbrante e é isso. A personagem Jennifer parece que vai dar o gás que o filme precisava, mas acaba não servindo para absolutamente nada, parece ter sido colocada ali por puro enfeite. O filme cai naquilo que odiei do filme Coringa, por exemplo, será que qualquer coisa se justifica pela degradação social? Fazer mal a uma criança, sem entrar em detalhes de que era um filha da puta, mas era uma criança... se justifica? Daí o filme também tenta justificar o racismo dos sulistas? (já que a figura que eles descarregam seu ódio se prega a fazer tudo aquilo que eles temem). Tem horas que o filme realmente parece que vai engrenar, mas não engrena. Achei bem decepcionante. Há cenas descartáveis, outras muito subaproveitadas na narrativa e ainda outras deslumbrantes. Um filme com um enorme potencial desperdiçado na minha opinião.
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O Homem Ideal
3.6 71Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Atuação para Maren Eggert no Festival de Berlim. Adorei o filme, estava com a expectativa lá embaixo, mas me surpreendeu bastante positivamente. As questões que levantam são ótimas e mesmo o desfecho tendo uma excelente escolha de lado, é possível defender um outro. O filme me remeteu bastante ao episódio 9 da segunda temporada de Star Trek: A Nova Geração intitulado The Measure Of A Man onde há uma discussão se o androide Data é um ser vivo. Os seres humanos também não são controlados por algoritmos que nosso cérebro vai processando através de nossas experiências? Porque que com uma IA seria diferente? Dá muito pano para a manga. A dupla principal está excelente e a direção não deixa a peteca cair, pois é leve e gostoso de assistir como uma comédia romântica que não precisa cair em clichês e ser vazia. Achei um filme extremamente importante e atual devido as discussões recentes sobre inteligência artificial.
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Vida de Campeã
3.3 9 Assista AgoraEra um dos filmes selecionados em Cannes no ano que o Festival não aconteceu devido a pandemia. Achei o filme maravilhoso, a personagem é mais profunda do que as piscinas em que costuma nadar, onde as reflexões vão muito além do esporte. Katerine Svard convence muito como Nadia, apesar de não ser atriz e ter vários paralelos com a personagem, não se enganem, pois ela não está interpretando ela mesma (Savard também ganhou uma medalha de bronze no revezamento assim como no filme, mas nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016, mas ao contrário da personagem, ela não está aposentada, participou das Olimpíadas em Tóquio ficando em 4º lugar em uma das três provas que participou e nesta semana que escrevo este texto ela iniciou a preparação olímpica para Paris em 2024). O mais legal do filme é que as Olimpíadas de Tóquio ficou quase uma versão de realidade paralela, já que o filme foi feito sem saber que iria ocorrer uma pandemia, o que deu um toque maravilhoso para o filme. Achei a direção muito competente, o filme flui, e vou falar de novo que Savard brilha. Me emocionei bastante. Fico pensando quem foi o idiota que tinha o título "Nadia, Borboleta" na mesa que dá um enorme significado para o filme, já que os dilemas da personagem a coloca em uma espécie de casulo de maturação para tentar se desenvolver em algo mais além do esporte, daí o imbecil pensa que "Vida de Campeã" é um título melhor.
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A Dream Play
3.7 5Mais um filme feito para a televisão por Bergman, confesso que não caiu muito no meu gosto. Achei que o filme se estendeu demais, acaba dispersando a atenção devido a linha narrativa mais experimental. Ingrid Thulin e Uno Henning estão muito bem em suas atuações e são os principais motivos que mantive o interesse. As partes com o advogado eu achei meio chata, mas como tudo que o Bergman toca é cheio de significados. Mesmo eu não tendo gostado muito há elementos muito bons que vale a pena. De resto achei tudo muito regular mesmo, muito abaixo do que o Bergman vinha produzindo nesta época. Nunca li nenhuma peça do Strindberg, então não posso fazer nenhuma comparação neste sentido com a adaptação, mas é interessante que mesmo que não tenha me prendido tanto eu fiquei com uma curiosidade em ler o material original.
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Barbie
3.9 1,6K Assista AgoraPrimeira coisa a se pensar é que é um filme da Barbie, americano e de Hollywood... se você for assistir pensando que é um filme cult de cinema arte é lógico que você vai reclamar. Greta Gerwig mostra aqui porque ela é uma das maiores dentro do mercado americano, o filme é excelente, não se leva a sério quando não é para se levar e trás um monte de reflexão (coisa que o cinema comercial de Hollywood não fazia faz um certo tempo). O filme funciona inteiramente bem, é lúdico, não é a toa que está fazendo um sucesso com meninas crianças e adultas. Precisamos de muito mais filmes assim, onde a mulher é empoderada e não mero enfeite em franquias chatas de testosterona. Toda a referência da diretora, o elenco e as críticas bem construídas tanto em relação ao machismo quanto ao capitalismo (vale lembrar que Hollywood vive a maior greve cinematográfica de décadas) estão perfeitas. Eu amei!
After Love
3.9 11Um dos únicos filme com um prêmio no Festival de Cannes de 2020 que foi cancelado por conta da pandemia, recebeu o prêmio da Gan Foundation para distribuição do filme. A película é muito boa, e mesmo tendo algumas situações que extrapolam demais a realidade, é tudo feito em um ritmo muito bom, com um desenvolvimento da história de uma maneira que prende a gente. O que mais chama a atenção no filme não é parte técnica ou a história em si, mas a entrega da atriz Joanna Scanlan, impressiona, faz com que a história que está sendo contada ganhe uma vida, uma realidade e uma força muito grande. Um filme de detalhes, que mexe em sentimentos internos, que pode até passar batido para muita gente, mas tem alma.
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A Canção da Estrada
4.4 71 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e vencedor de outros dois prêmios em competições paralelas. Primeiro filme de um dos maiores diretores de todos os tempos, que demorou três anos por falta de recursos. O filme é muito bom, apesar de ter momentos arrastados e achar que podia ser um pouco mais curto, O diretor foi fortemente influenciado pelo neorrealismo italiano. Chunibala Devi, que interpreta a velinha, é de uma simpatia maravilhosa e veio a falecer no mesmo ano de lançamento do filme, mas é Uma Das Gupta que rouba a cena com seu papel de Durga: o filme é dela. Apu pode vir a se tornar o protagonista da trilogia, mas este é um filme focado em sua irmã e é assim que funciona. A raiva que dá de ver uma sociedade machista patriarcal ferrando a família é grande. O desfecho é meio apressado, mas a experiência final faz o filme valer a pena.
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R.M.N.
3.8 12Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Prêmio entregue pelo European Film Promotion para a atriz Judith State no Festival de Berlim. Que filmaço! Para quem, como eu, vive uma situação de vida de emigrante na Europa não tem como não se identificar com algo. Racismo, xenofobia, preconceito, ignorância... enfim, um retrato perfeito da Europa inteira de uma maneira macro se utilizando de uma vila na Romênia de uma maneira micro. A hipocrisia reina e o futuro é de fácil vislumbre como a visão da criança andando na floresta. Um dos meus melhores amigos no trabalho é cingalês e foi revoltante algumas cenas como só um diretor competente poderia fazer. A atriz premiada em Berlim entrega muito no papel. O desfecho é tão estranho que deixa a gente pensando semanas depois... fiquei fazendo um paralelo entre os Sem Ursos do Panahi já que esse é com ursos, hahahahahaha, mas é interessante pensar nos governos falidos que nos controlam e nas visões que ambos os filmes nos dão sobre isso.
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Paris, 13° Distrito
3.8 33 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Audiard nunca decepciona e aqui não é diferente, talvez o seu filme mais simples e cotidiano em muitos aspectos, mas que funciona absurdamente bem. Não há como não se identificar com alguma coisa e a construção dos personagens é fantástica. Há todo um aspecto psicológico por trás de cada um deles que permanece oculto como em um iceberg durante todo o filme. Eu sou apaixonado pela Noémie Merlant, então sou suspeito para falar qualquer coisa dela, mas a Lucie Zhang consegue roubar todas as cenas em que aparece e é uma graça. Tive raiva do personagem masculino em alguns momentos, mas homem é assim, né? A nota subiu um pouquinho com o final fofo que entrega, eu adorei! Fiquei curioso em ler a história em quadrinhos em que é baseado, já está no meu carrinho de compras.
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Caminhando Contra o Vento
2.8 2Mais um dos filmes selecionados para o Festival de Cannes que nunca aconteceu devido a Pandemia. Para mim, definitivamente, não funcionou. O personagem é chato, o fato de ser irresponsável e infantil nem conta tanto... o cara é um baita de um chato mesmo. O filme por ser meio autobiográfico do diretor já faz eu torcer o nariz para ele. Há cenas que funcionam, a parte técnica tem uma altíssima qualidade e o filme é assistível somente por isso. A relação entre ele e a namorada e ir percebendo o quanto ele é babaca prende o telespectador assim como os momentos "roadie movie", mas para por aí. O restante do filme simplesmente não vai para lugar nenhum... é um tremendo limbo. No fim, de um modo geral, não vale a pena a assistida. Preciso comentar que o cara tem o pior penteado que eu já vi na vida.
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Saint Omer
3.7 15 Assista AgoraVencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Veneza. Que filmaço! Não sou muito fã de filme de tribunal, mas tem alguns que realmente me ganham e este foi um deles. A tomada inicial na corte toma um tempo considerável do filme, acho que quase metade, e pode parecer um pouco cansativo, mas todas as peças do filme já são colocadas no tabuleiro ali. O filme só vai crescendo, e a gente vai tendo opiniões como se fizesse parte do juri. Quando tudo parece formado na nossa cabeça vem a martelada rachando nosso crânio com o melhor discurso de encerramento da história do cinema, todo mundo precisa assistir isso. É visceral! É magnífico! É perfeito! Assisti uma sequência de filmes feministas meio que sem querer e o final desse foi a coroação final de todos eles. A diretora, até onde cavei a informação, não tem nenhum parentesco com a diretora Mati Diop de mesmo sobrenome, minhas pesquisas também dizem que é um sobrenome bem comum no Senegal. O saxofonista francês Thomas de Pourquery, que faz uma ponta no filme como o marido da personagem principal, conseguiu ganhar o meu prêmio de marido mais fofo do ano. Todo o elenco brilha!
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A Noite do Fogo
3.8 34 Assista AgoraVencedor da Menção Especial do prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Excelente filme, merecia ter competido ao Leão de Ouro. A direção da Tatiana Huezo faz toda a diferença, a delicadeza de um olhar feminino ao que o filme se propõe foi essencial, um filme com a temática feminista que merece ser assistido. Todo o elenco está ótimo e toda a trama que vai caminhando para um clímax de tragédia eminente é angustiante e magistralmente orquestrado. Todo o filme me tirou o fôlego e depois que acaba continuamos querendo acompanhar a vida da personagem principal e todas as outras que vivem em seu ciclo. O filme também é conhecido no Brasil como "A Noite do Fogo", mas pelo IMDB o título original lançado no Brasil é o mesmo do livro "Reze Pelas Mulheres Roubadas". Merece ser visto.
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Preparativos para Ficarmos Juntos por Tempo Indefinido
2.9 21 Assista AgoraIndicado a uma das premiações paralelas no Festival de Veneza. Não sei porque o pessoal malhou tanto esse filme, achei tão gostoso de assistir em vários aspectos. Cria uma certa apreensão como também um clima fofo. Achei que alguns pontos do desfecho não precisavam, podiam deixar mais aberto e abstrato, mas o filme funcionou muito bem pra mim. Eu me identifiquei com a personagem, já pulei do precipício algumas vezes assim para quebrar a cara e olhando para trás nunca me arrependi. Achei a direção, ritmo e elenco muito bons. Quem diz que ela "largou uma vida nos EUA" não entende muito o que é ser emigrante em outro país, tem horas que a gente só quer uma desculpa para voltar para casa.
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Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades
3.3 83Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Eu simplesmente amei e digo com tranquilidade que é um dos melhores filmes do ano sem sombra de dúvidas, e olha que foi um ano com filmes bem fodas! Não há como assistir e não traçar um paralelo com 8½ do Fellini, e isto fez com que eu gostasse mais do filme do que a maioria que torceu o nariz. Dizem que o filme é pretensioso e egocêntrico, mas não é isto o que qualifica um bom artista? Fellini nao foi pretensioso e egocêntrico com seu 8½ ou Michelangelo ao pintar a Capela Sistina? Porque Iñárritu não pode? Ficamos estagnados a artistas do passado que ficamos comparando com os do presente, impedindo que o processo continue por causa daquele discurso "nada será tão bom quanto antigamente". Será que se Fellini tivesse feito o Bardo nos anos 60 e Iñárritu fizesse o 8½ hoje não teria um pessoal malhando da mesma maneira? Talvez nosso olhar esteja viciado. O filme é lindo, perfeito, para mim tudo funcionou, emocionou e fez sentido com o final que me tirou lágrimas. O melhor filme do diretor disparado para mim! Acho que como imigrante fora do Brasil teve um significado muito maior com muita coisa que tive que encarar com o filme, principalmente o fato de que não quero morrer em outro lugar que não seja o Brasil.
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Lingui
4.1 11Indicado ao Palma de Ouro no Festival de Cannes. O diretor não tinha caído muito nas minhas graças com o filme Um Homem Que Grita, mas que bom que a primeira impressão não é sempre a que fica. Que filmaço! O enredo todo e como as coisas vão se amarrando é muito bom nesse filme, a maneira que foi filmado. Tudo! Uma direção super sensível com um olhar bem feminino do diretor. O "plot twist" no final dá um gás para o que já estava funcionando muito bem. As atrizes estão ótimas também. Fui assistir sem dar muita bola e terminei a sessão batendo palmas. Filme africano de alto calibre. Fiquei com vontade de assistir mais coisas dele agora. Importantíssimo para se discutir assuntos sobre aborto, religião e feminismo.
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Beginning
3.4 16 Assista AgoraEra um dos filmes selecionados no Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. O filme é feito de momentos, há cenas que funcionam lindamente e outras que não. Como um todo o filme é uma colcha de retalhos com tecidos bonitos e outros nem tanto. Se estende demais e cria situações completamente fora da realidade para justificar determinadas cenas que a diretora queria colocar no filme, não me convenceu. O que chama a atenção é a qualidade técnica e a entrega da atriz principal ao papel. O filme começa lindamente com uma bela cena inicial, daí ele vai caindo e subindo de nível o tempo todo como uma montanha russa, ao final pelo menos traz uma reflexão.
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Os Irmãos de Leila
4.2 12Indicado ao Palma de Ouro e vencedor do Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. Era um dos filmes que eu mais aguardava do ano, pois o diretor havia me conquistado com seu excelente Apenas 6,5. Não decepciona. Os Irmãos de Leila é um filme bem diferente do seu anterior, mas magnífico, senti que estava vendo um Os Irmãos Karamazov transposto para a cultura iraniana em um Irã contemporâneo. Tudo no filme funciona e nem tudo tem desfechos absolutos como no livro de Dostoiévski. O elenco está brilhante, todos eles. Eu comecei odiando o personagem Manouchehr (interpretado por um irreconhecível Payman Maadi) e terminei o filme adorando ele. É esse bombardeamento de sentimentos controversos que deixa o filme tão forte. Um dos melhores filmes do ano, fácil! Leila tem seu nome no título por uma razão não menos importante, por ser uma figura feminina que parece coadjuvante em seu próprio filme é de uma complexidade maravilhosa em um país extremamente machista.
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Luca
4.1 769Um filme com a qualidade Pixar nunca é uma perda de tempo. É sempre muito agradável de assistir, com este não é diferente. Há alguns esteriótipos com italianos, faltou explorar algumas coisas sobre os personagens marinhos, mas o foco sobre a amizade é muito bem trabalhado. Está longe de ser um dos trabalhos mais memoráveis do estúdio, mas funciona muito bem.
O Enterro de Kojo
3.5 7Um belo filme africano, com uma direção poderosa, imagens lindíssimas e momentos que transforma o filme em uma incrível fábula. Eu confesso que preferi o começo do filme onde eles vivem no vilarejo, o cenário muito mais propício para o desenvolvimento da história, acho que o roteiro podia ter usado algum artifício para não tirar a história dali e levar os personagens para a cidade grande, pois lá o filme perdeu um pouco a força da fantasia. Pode ter sido intencional para retratar a realidade de uma grande cidade do país, mas como narrativa o vilarejo estava funcionando melhor. De resto a história é bem simples, mas a maneira como é contada e se desenvolve só demonstra a competência do diretor estreante. Algumas sinopses do filme que vi por aí estragam completamente algumas surpresas, indico que não leiam sinopses desse filme. Vale a pena, demonstra a força do cinema africano que merece mais destaque.
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Cidadão Kane
4.3 990 Assista AgoraO que falar de um filme perfeito? Venceu apenas o Oscar de Melhor Roteiro provando de uma vez por todas que o Oscar é uma furada. Orson Welles tinha apenas 25 anos quando realizou essa pérola e ele sempre negou que foi baseado na vida do magnata William Randolph Hearst. Impressionante como Welles convence no papel de toda a vida do personagem, inclusive com uma maquiagem ótima durante a velhice. As cenas são deslumbrantes e o desenrolar da história é ótimo até o desfecho matador. Há tantas nuances e o personagem é tão complexo como na teoria formulada pelo próprio Hemingway chamada de Princípio do Iceberg, onde fatos podem ser omitidos, mas que ainda assim estarão na história. Marcou muito minha adolescência e assistindo novamente agora consigo dizer que se não é o melhor filme já feito, então não sei qual é.
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Memória
3.5 64 Assista AgoraVencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Eu sempre tenho um pé atrás com as películas do Weerasethakul, nunca consigo uma imersão muito boa nos filmes, mas neste aqui finalmente eu consegui. Filme fantástico! Indo completamente na contramão e servindo até como crítica ao mundo frenético de redes sociais e de rapidez, o filme se constrói de maneira lenta, poética e calma ao mesmo tempo em que nos vai instigando sobre o que está acontecendo. Tilda está sensacional. As câmeras fixas me lembraram muito o cinema de Yasujiro Ozu, com uma cenografia linda. O final que fecha tudo com chave de ouro depois de toda uma cena lindíssima com o pescador é só uma cereja no bolo. Finalmente me entreguei aos filmes do diretor.
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Nada de Novo no Front
4.0 611 Assista AgoraVencedor do Oscar de Filme Estrangeiro, óbvio, porque é um filme estrangeiro bem americanizado. O filme não é ruim, mas se você tentar comparar com a obra literária em que ele é baseado, então o filme é bem ruim. Tentei abstrair, se ignorar o livro do Erich Maria Remarque ele entretém satisfatoriamente. Não tem quase nada do livro no filme, é basicamente outra história com os mesmos personagens, mas nem estes são muito fiéis a suas características ao livro. Sim, eu sei que é difícil manter coisas do livro, mas é fato aqui que quase tudo foi alterado, o filme de 1930 conseguiu ser bem mais fiel (e olha que eu tinha críticas a ele antes). Me espanta ver gente assistindo e dizendo como é realista... "meu filho, você lutou lá para saber se é realista?" De acordo com o livro eles nem viam os franceses, não havia aquelas batalhas incessantes como no filme, prefiro a opinião do autor (que lutou) do que da galera exaltada com um filme. Ficou interessante a comparação do povo sofrendo enquanto o alto escalão tinha vida fácil, mas desenvolver tudo nos últimos dias da guerra foi um tremendo erro de roteiro, no livro acompanhamos anos do personagem no front, entre hospitais, licenças com a família e estripulias com os amigos. Foi bom, mas podia ter sido um filmaço se tivessem seguido pelo menos um pouco do livro.
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