Vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Veneza. É um filme contemplativo, não há um fio narrativo, então acho que tem que estar no clima. Confesso que teve momentos que senti que não funcionou comigo, mas quando terminou fiquei pensando em várias maneiras diferentes de se ver o filme e fui gostando mais e mais dele. Acho que não estava preparado para o que ia ver e me deixou meio dividido, porém devo assistir de novo no futuro e acredito que vai funcionar mais, já que depois de ter assistido parece que o filme foi crescendo dentro de mim, criando reflexões que foram surgindo como a cada novo nível da caverna do filme. É bem interessante, valeu a assistida, mas é daqueles que não recomendo para qualquer um, é daqueles que é preciso um nível de entrega que pouquíssimas pessoas tem, por estarem acostumadas com um cinema mais feijão com arroz.
Indicado em uma das premiações paralelas no Festival de Veneza. Um filme gostoso de assistir, mas sem deixar de lado as críticas sociais que a Palestina vive hoje por conta do cerco imposto pelo estado terrorista de Israel. Mesmo com toda a aura de apartheid que vivem, a vida segue e é isto o que o filme tenta mostrar. Há situações cômicas envolvendo a estátua de Apolo, assim como há o romance tímido entre os protagonistas, os personagens vão se desenvolvendo de maneira muito simples, mas eficiente durante o filme. Acho que no geral entrega o que propõe, não é um filme que tenta ser grandioso, mas sim entreter sem ser vazio. Há cenas tão pequenas, que parecem sem importância, mas que carregam muito significado. Vale a conferida.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, na minha opinião merecia o prêmio, mas o assunto é algo que o mundo europeu cristão quer fingir que não ocorreu. Sou um grande crítico da ONU e neste filme é possível ter um gostinho a respeito deste assunto, apesar do filme não explicar o porque nada foi feito contra os sérvios, que eram a esperança americana contra a Iugoslávia, último reduto socialista na Europa depois da queda da União Soviética. Não vou me estender de como a ONU vem desde sua criação seguindo uma agenda dos EUA e seus aliados. O filme é construído de uma maneira muito foda, o desenrolar é espetacular e o elenco é só a cereja no bolo. O filme te deixa mal, te deixa pensando por semanas, meses e quem sabe até anos. Uma história que é só um pequeno detalhe do horror que foi o massacre de assolou os Balcãs na década de 90. Um filme necessário, que o mundo ocidental tenta varrer para baixo do tapete (vide o prêmio Nobel de literatura dado em 2019 para o Peter Handke que finge que exatamente o genocídio mostrado neste filme nunca aconteceu). Srebrenica não deve ser esquecida, é só mais um genocídio na conta da sociedade ocidental eurocentrista cristã do bem.
Um filme menor e diria até que meio fora da curva do diretor, onde o personagem principal só me deixou com asco. O cara simplesmente não vale nada e é só um desses babacas que orbitam o mundo masculino de uma forma geral até hoje. O filme não tem uma narrativa que te prenda, mas é feito de momentos e tem alguns diálogos excelentes que valem a pena, que é onde você o percebe como uma obra do Kiarostami. Fiquei com dó da criança que é largada no carro no frio, leva uma mala na cara e é deixada de lado toda hora. Fiquei apreensivo. Shohreh Aghdashloo novinha de tudo, linda demais e é quem carrega o filme de certa maneira.
Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. O filme é bem gostoso de assistir, o tempo vai passando e você se envolve com a história. O diretor podia deixar um pouco mais claro os períodos temporais, a cena em que o pai escuta uma partida de futebol do Juventus no carro eu identifiquei que se passa entre 2004 à 2006 porque o Cannavaro estava no time. Então provavelmente até o final do filme vemos bastante os destroços de uma Itália pós-crise de 2008. Há cenas lindíssimas e o filme consegue segurar o emocional sem cair no pedantismo. Um filme que merece ser visto e que deve agradar um público amplo. Direção e elenco espetaculares. Mesmo muita coisa não seguindo como a gente gostaria durante todo o filme, acho que emula bem a vida, que nem sempre segue nossos planos.
Vencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim. Estreando os filmes de 2023 aqui no blog com provavelmente o melhor filme do ano. Petzold consegue fazer outra obra prima que me despedaçou completamente, poucos diretores conseguem mexer tanto comigo quanto este. A premissa é a das mais simples possíveis, mas como tudo é orquestrado, como os personagens são construídos e a sucessão de fatos vai levando ao desfecho avassalador é coisa de gênio. É o tipo de história que me encanta, o tipo de coisa que eu procuro conseguir escrever um dia como escritor. O título em inglês é ridículo, "Céu Vermelho" como no original faz muito mais sentido. Que elenco! Que direção! Que filmaço!
Vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Veneza. Yuliya Vysotskaya se entrega demais como a personagem principal, acho que pertence a ela o maior mérito no que funciona no filme. O diretor até tenta manter uma certa neutralidade, mas não funciona no filme todo, há momentos que parece panfletagem ocidental (vale lembrar que Konchalovskiy era um exilado trabalhando para Hollywood onde fez até o Tango e Cash), mas isso não ocorre na maior parte do filme. A história flui muito bem e o reflexo de uma Rússia de Stalin contraposta de uma Rússia de Khrushchev é a melhor parte da história. Entender (mesmo eu sendo marxista e extremamente opositor a Stalin) como a figura dele era importante para o país e como muita coisa foi se esfacelando depois de sua morte, é poético demais.
É um autêntico Bergman, bem profundo com diálogos afiadíssimos que fazem o filme valer a pena, mas não gostei muito da narrativa. A relação entre ele e a Ana é construída de forma apressada, não convence e não me prendeu. Em contrapartida todo o mote sobre o maníaco atacando animais e como o Bergman tece a teia sobre isso criando dúvidas e certezas que se entrelaçam é genial. Obviamente que é um filme que merece ser visto, mas ao mesmo tempo em que teve partes que me prendeu bastante, teve outras que me dispersou bastante também. Elenco perfeito e confesso que quando começou o filme achei estranhíssimo um Bergman colorido (estou vendo a filmografia do diretor em ordem cronológica e este é o primeiro em cores). Funciona, mas prefiro o diretor em preto e branco.
O filme saiu do Festival de Veneza levando nada menos que 12 prêmios, incluindo o Leão de Ouro e Melhor Ator para Rade Serbedzija. Um dos filmes que mais me marcaram na minha adolescência e que fazia umas duas décadas que não revisitava. Grata surpresa ver que ele não envelheceu mal, e triste surpresa constatar que ele continua tão atual. A fórmula usada para contar histórias que se interligam separadas em diferentes capítulos, mudando seus protagonistas e usando o tempo como personagem principal de todo o filme é de uma genialidade incrível, principalmente se pensarmos que "o tempo nunca morre e o ciclo nunca se completa". Não importa quanto tempo passe, parece que a humanidade continua e continuará sempre dentro deste ciclo sem fim de barbárie. Elenco maravilhoso e confesso que Labina Mitevska era a minha crush quando moleque... e no fim acabei me envolvendo com uma garota da Macedônia em Dublin que não acreditou quando disse que amava este filme. Filme dos mais obrigatórios deste blog. Continua entre meus favoritos.
Filmado todo com um celular durante uma das manifestações do Hirak que tomaram as ruas da Argélia de 2019 até 2000 todas as sextas-feiras. É muito impressionante comparar as manifestações da Argélia com as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, pois fica mais que provado que todo levante popular sem um projeto político está fadado ao fracasso, protestar contra o status quo imposto sem apresentar uma via de solução só ajuda a extrema direita a se fortalecer. Este ano de 2023, em setembro, um especialista de direitos humanos da ONU pressionou o país a perdoar manifestantes condenados durante o Hirak, por mais que o primeiro ministro tenha renunciado em 2 de abril de 2019 (a manifestação do filme ocorre no dia 8 de março de 2019), o atual presidente era um ministro do governo anterior e o país continua tomado pelos militares. Nenhuma mudança veio com o Hirak, talvez tenha ficado até pior, portanto essencial fazermos uma analise. O filme podia focar um pouco mais na Argélia do que ficar só na manifestação por tanto tempo, tem uma tia gritando que lembra uma bolsonarista brasileira. O diretor, apesar de brasileiro, é descendente argelino por parte de pai e durante esse período na Argélia, além deste filme, fez o excelente Marinheiro das Montanhas.
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Assim como o primeiro, é de partir o coração, então fica longe se estiver meio deprimido. Teve momentos que achei Sarbojaya, a mãe, bastante egoísta, mas teve momentos que achei Apu também. Interessante como as coisas flutuam nesse aspecto emocional, o filme começa praticamente onde o primeiro acaba, a família se adaptando na nova cidade, mas as coisas não saem exatamente como o planejado. De extrema relevância comparar a cena em que um personagem tenta entrar na cozinha e é repelido pela mulher, mostrando a forte cultura de estupro que existe na Índia, há muitos casos horríveis relatados no país. Acho que o filme se mantém tão bom quanto o primeiro, dá até para dizer que é meio que um filme só. Senti falta de Durga, acho que o filme teria mais força com ela dividindo o protagonismo.
Indicado ao Leão de Ouro e vencedor de dois prêmios em premiações paralelas no Festival de Veneza. Acho que há muito no filme que funciona muito bem, principalmente no que tange a escola onde a maior parte da ação se passa. O diretor abre mão de se aprofundar nos garotos coadjuvantes e os descarta muito facilmente para se aprofundar em um melodrama desnecessário. Poderia ter trabalhado mais as relações e menos a busca incessante pelo tesouro. Não vejo problema em usar uma narrativa mais comercial, típica do cinema ocidental, afinal de contas funcionou muito bem em O Carcereiro, mas talvez aqui não funciona tão bem. Mas vale bastante a assistida, há mais acertos do que erros, não quero parecer tão crítico ao filme. Elenco está excelente e a narrativa prende bem o telespectador.
Vencedor dos prêmios de Melhor Roteiro e da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. O filme é muito bem construído, há uma certa meticulosidade em todos os cantos onde o diretor mostra toda sua capacidade técnica e narrativa. Os atores também dão um show, a coadjuvante muda é a cereja no bolo de todo o elenco. Apesar da duração extensa, o filme passa relativamente bem rápido e emociona, mas nem tudo são flores. Há uma mensagem que ficou entalada na minha garganta, com um gosto bem amargo, me pareceu que há uma certa romantização e até uma certa passada de pano para relacionamentos tóxicos (me machuca, mas me ama) que me deixou com o pé atrás. Faz a gente pensar bastante na cultura japonesa que é permeada de machismos, sexismos e misoginia, daí parece que o filme coloca uma mulher no papel típico de homem e tenta achar tudo bonito. Preferi o Roda do Destino.
Um dos filmes selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes no ano em que não ocorreu devido a pandemia. O filme é bom, achei a entrega das atrizes as personagens bem intenso, o diretor também é competente na parte técnica e o desfecho da cena final é arrebatador. Estive no Museu de História Natural em Londres em março deste ano de 2023, apesar de morar na Inglaterra fui para Londres pouquíssimas vezes, estando lá me indignei com o destrato dado ao Alfred Russel Wallace, mas me chamou a atenção um mural contando toda a história de Mary Anning (que não conhecia) e pesquisei sobre ela na época. Meu espanto ao ir assistir esse filme sem saber nada a respeito e ver que era sobre esta escavadora de fósseis, porém o filme me causou certa indignação. Explico. Não tenho problema nenhum do diretor ter inventado fatos para contar uma história, acho até legal isso, mas me incomoda quando uma pessoa real é retratado com uma personalidade completamente diferente: Anning não era uma pessoa reclusa e retraída, muito pelo contrário, era atuante em sua comunidade e rodeada de pessoas no âmbito social. Acho que mudar quem uma pessoa foi um certo desrespeito, por isso perdeu um pouco de nota.
Pensa que é um filme para a TV feito em 1969 e tem gente hoje preocupada com nudez em exposição de arte. Feito em apenas 9 dias é uma bela de uma escarrada no conservadorismo da época e só isso já faz a grandiosidade do filme. Cheio de diálogos intrincados e de situações que geram desconforto em diferentes aspectos, mostra bem o que é o diretor no final desta década de 60, cheio de experimentalismos, verborragia e diálogos afiadíssimos. A maneira como as cenas são divididas e o desenvolvimento para aquele final maravilhoso, faz deste o melhor filme para a TV realizado por Bergman, e uma peça extremamente necessária dentro de sua filmografia. Gunnar Björnstrand está ótimo e Ingrid Thulin mostra talento de sobra com sua gagueira.
Vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes. Um filme bem gostoso de assistir, você vai se envolvendo na relação que vai sendo construída, o personagem Ljoha permanece um enigma em vários aspectos, você quer desvendá-lo e não consegue. Grande acerto do diretor. A personagem principal também tem seu carisma que funciona muito bem. O filme se passar aparentemente no final dos anos 90 (com certeza de 1997 para depois) também foi outra escolha acertada, existe toda uma áurea de nostalgia para pessoas como eu que viveram e sentem saudades de um mundo mais analógico sem a febre do celular. O final é ótimo, as pontas soltas são ótimas, a experiência que fica do filme também é ótima. Enfim, um filme que eu indicaria para todo mundo, mesmo sabendo que tem uns que torceram o nariz. Apesar do filme se passar todo na Rússia, é uma produção finlandesa, inclusive foi a escolha do país para competir no Oscar.
Mais um dos filmes que foram selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu por conta da pandemia. O filme é muito bom, levanta várias questões interessantes e a maneira como tudo é mostrado também acaba dando uma carga para o filme que poderia muito bem ter ido por um caminho mais fácil. A relação entre a personagem e sua mãe tem várias camadas, o machismo e a misoginia transbordam e a falsidade da vida através de um celular acaba sendo o principal. A atriz está ótima no papel, merecedora de um prêmio de melhor atriz em Cannes caso o festival tivesse sido realizado. Um filme que parece raso se você assistir sem prestar atenção, mas muito profundo. Para uma discussão mais apurada seria necessário spoilers.
Indicado para melhor documentário do Festival de Sundance. Avassalador é a melhor palavra para descrever o sentimento de ver essas vidas passando pela nossa tela, tentar entender como é que é possível a humanidade chegar nesse ponto. Mesmo tendo cenas nitidamente ensaiadas (como quando o taxista vai comprar um café, por exemplo) a essência do que realmente importa está ali e não é nem um pouco parte de um script. O comércio local destruído pela falta de energia elétrica, a dificuldade de acesso a água e a condições dignas de sobrevivência. Há quem possa apontar o dedo para o sujeito pobre com 3 esposas e 40 filhos, mas é as mazelas da pobreza não tão diferente do Brasil. As cenas com o enfermeiro e os relatos dele são os melhores e achei os mais autênticos. Um filme necessário neste momento de genocídio que vivemos. Fico pensando quais personagens conseguiram permanecer vivos depois desse cerco de Israel.
Vencedor do Prêmio do Juri da competição Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Por mim podia ter dado a Palma de Ouro fácil para este aqui, confesso que o começo do filme não me prendeu muito, é o desenrolar e o desfecho que despedaça a gente por dentro que faz o filme ter a força que tem. Definitivamente não é um filme sobre um romance queer, é um filme sobre responsabilidade emocional (fator tão em falta na sociedade de hoje), como afetamos as pessoas a nossa volta, como as conexões se estendem entre as pessoas e a fronteira entre o egoísmo, responsabilidade e tantas outras coisas que fazem parte de pessoas e relacionamentos. Um filme complexo, que diz tanta coisa com uma história até que simples, o final martela na cabeça por muito tempo. Sarwat Gilani (a cunhada) é linda demais e dá um show. Ali Junejo e Alina Khan (o casal principal) dão um verdadeiro show, funcionam como tinham que funcionar, mas é Rasti Farooq (como Mumtaz) que rouba o filme inteiro. Diria que em um ano que teve muito, mas muito filme foda mesmo, este aqui talvez seja o melhor. (2022 foi uma surpresa de tanto filme bom).
Indicado em uma seleção paralela no Festival de Berlim. O título original é uma palavra em iorubá que significa um indivíduo atencioso e amoroso que coloca a necessidade dos outros antes da sua, portanto o título nacional que acabou sendo traduzido direto do título em inglês acaba não tendo o mesmo sentido. A estreia dos irmãos gêmeos é bastante competente e fico no aguardo para futuros filmes deles, o elenco também dão um show. Me espanta um pouco a passividade do povo nigeriano, por mais que eles estejam na merda eles não perdem o controle, não se revoltam, não gritam, não explodem... e isso é um aspecto cultural que pude perceber nos últimos anos, trabalho com vários e dois deles são relativamente bem próximos de mim, sempre me espanto com isso e neste filme pude ver muito disso. Uma triste realidade que chega a ser até um pouco indigesta de assistir. Temiloluwa Ami-Williams que interpreta Rosa está deslumbrante.
Definitivamente é o filme mais sombrio que já assisti do Bergman, e talvez o mais sombrio que já assisti na vida. Não esperava. Me pegou desprevenido. Um soco direto no estômago. Liv e Max estão fantásticos, tudo vai desmoronando de uma maneira tão sombria e pesada que fica difícil digerir tudo no final. Filme rodado no final da década de sessenta e ainda assim tão atual, tão parecido com o presente com bombas turcas destruindo Rojava, bombas americanas nas mãos de Israel destruindo Gaza, Ucrânia e Rússia ainda se engalfinhando e sabe-se lá como anda o Sudão ou Myanmar. Bergman vislumbrou um futuro sombrio e ele não poderia ter sido mais certeiro. Mais uma obra de arte da conta do mestre.
Daqueles filmes que eu sempre quis assistir desde que lançou e foi ficando... acho que eu tinha até o VHS original. Resolvi finalmente ver e gostei, típico filme dos anos 90 (Assassinos por Natureza ou Amor a Queima Roupa), mesmo sendo inferior a estes o filme diverte e trás gratas surpresas. Peter Fonda fazendo uma homenagem ao seu personagem de Easy Rider, o querido Jack Nance que foi assassinado em uma briga de bar alguns anos depois e Jeffrey Combs divertidíssimo que só quem é fã de Star Trek vai saber quem é. Renée está linda, mas interpreta aquele papel clichê de americana burra. O filme entrega o que propõe entregar, não tenta ser mais do que é e é exatamente aí que ele acerta. Lógico que é um pouco datado, mas sinto falta dessa época onde não existiam celular enchendo o saco de quem não gosta desse mundo digital. Já ia esquecendo da música, o filme tem uma trilha sonora incrível, de responsabilidade de ninguém menos que do Tom Verlaine da banda Television que infelizmente nos deixou no começo deste ano de 2023.
Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.
Um dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!
Il Buco
3.9 8Vencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Veneza. É um filme contemplativo, não há um fio narrativo, então acho que tem que estar no clima. Confesso que teve momentos que senti que não funcionou comigo, mas quando terminou fiquei pensando em várias maneiras diferentes de se ver o filme e fui gostando mais e mais dele. Acho que não estava preparado para o que ia ver e me deixou meio dividido, porém devo assistir de novo no futuro e acredito que vai funcionar mais, já que depois de ter assistido parece que o filme foi crescendo dentro de mim, criando reflexões que foram surgindo como a cada novo nível da caverna do filme. É bem interessante, valeu a assistida, mas é daqueles que não recomendo para qualquer um, é daqueles que é preciso um nível de entrega que pouquíssimas pessoas tem, por estarem acostumadas com um cinema mais feijão com arroz.
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Gaza Mon Amour
3.9 2Indicado em uma das premiações paralelas no Festival de Veneza. Um filme gostoso de assistir, mas sem deixar de lado as críticas sociais que a Palestina vive hoje por conta do cerco imposto pelo estado terrorista de Israel. Mesmo com toda a aura de apartheid que vivem, a vida segue e é isto o que o filme tenta mostrar. Há situações cômicas envolvendo a estátua de Apolo, assim como há o romance tímido entre os protagonistas, os personagens vão se desenvolvendo de maneira muito simples, mas eficiente durante o filme. Acho que no geral entrega o que propõe, não é um filme que tenta ser grandioso, mas sim entreter sem ser vazio. Há cenas tão pequenas, que parecem sem importância, mas que carregam muito significado. Vale a conferida.
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Quo Vadis, Aida?
4.2 177 Assista AgoraIndicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, na minha opinião merecia o prêmio, mas o assunto é algo que o mundo europeu cristão quer fingir que não ocorreu. Sou um grande crítico da ONU e neste filme é possível ter um gostinho a respeito deste assunto, apesar do filme não explicar o porque nada foi feito contra os sérvios, que eram a esperança americana contra a Iugoslávia, último reduto socialista na Europa depois da queda da União Soviética. Não vou me estender de como a ONU vem desde sua criação seguindo uma agenda dos EUA e seus aliados. O filme é construído de uma maneira muito foda, o desenrolar é espetacular e o elenco é só a cereja no bolo. O filme te deixa mal, te deixa pensando por semanas, meses e quem sabe até anos. Uma história que é só um pequeno detalhe do horror que foi o massacre de assolou os Balcãs na década de 90. Um filme necessário, que o mundo ocidental tenta varrer para baixo do tapete (vide o prêmio Nobel de literatura dado em 2019 para o Peter Handke que finge que exatamente o genocídio mostrado neste filme nunca aconteceu). Srebrenica não deve ser esquecida, é só mais um genocídio na conta da sociedade ocidental eurocentrista cristã do bem.
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O Relatório
3.5 4Um filme menor e diria até que meio fora da curva do diretor, onde o personagem principal só me deixou com asco. O cara simplesmente não vale nada e é só um desses babacas que orbitam o mundo masculino de uma forma geral até hoje. O filme não tem uma narrativa que te prenda, mas é feito de momentos e tem alguns diálogos excelentes que valem a pena, que é onde você o percebe como uma obra do Kiarostami. Fiquei com dó da criança que é largada no carro no frio, leva uma mala na cara e é deixada de lado toda hora. Fiquei apreensivo. Shohreh Aghdashloo novinha de tudo, linda demais e é quem carrega o filme de certa maneira.
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As Oito Montanhas
4.0 25Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. O filme é bem gostoso de assistir, o tempo vai passando e você se envolve com a história. O diretor podia deixar um pouco mais claro os períodos temporais, a cena em que o pai escuta uma partida de futebol do Juventus no carro eu identifiquei que se passa entre 2004 à 2006 porque o Cannavaro estava no time. Então provavelmente até o final do filme vemos bastante os destroços de uma Itália pós-crise de 2008. Há cenas lindíssimas e o filme consegue segurar o emocional sem cair no pedantismo. Um filme que merece ser visto e que deve agradar um público amplo. Direção e elenco espetaculares. Mesmo muita coisa não seguindo como a gente gostaria durante todo o filme, acho que emula bem a vida, que nem sempre segue nossos planos.
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Afire
3.8 51 Assista AgoraVencedor do Grande Prêmio do Juri no Festival de Berlim. Estreando os filmes de 2023 aqui no blog com provavelmente o melhor filme do ano. Petzold consegue fazer outra obra prima que me despedaçou completamente, poucos diretores conseguem mexer tanto comigo quanto este. A premissa é a das mais simples possíveis, mas como tudo é orquestrado, como os personagens são construídos e a sucessão de fatos vai levando ao desfecho avassalador é coisa de gênio. É o tipo de história que me encanta, o tipo de coisa que eu procuro conseguir escrever um dia como escritor. O título em inglês é ridículo, "Céu Vermelho" como no original faz muito mais sentido. Que elenco! Que direção! Que filmaço!
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Caros Camaradas - Trabalhadores em Luta
3.8 24 Assista AgoraVencedor do Prêmio Especial do Juri no Festival de Veneza. Yuliya Vysotskaya se entrega demais como a personagem principal, acho que pertence a ela o maior mérito no que funciona no filme. O diretor até tenta manter uma certa neutralidade, mas não funciona no filme todo, há momentos que parece panfletagem ocidental (vale lembrar que Konchalovskiy era um exilado trabalhando para Hollywood onde fez até o Tango e Cash), mas isso não ocorre na maior parte do filme. A história flui muito bem e o reflexo de uma Rússia de Stalin contraposta de uma Rússia de Khrushchev é a melhor parte da história. Entender (mesmo eu sendo marxista e extremamente opositor a Stalin) como a figura dele era importante para o país e como muita coisa foi se esfacelando depois de sua morte, é poético demais.
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A Paixão de Ana
4.2 102É um autêntico Bergman, bem profundo com diálogos afiadíssimos que fazem o filme valer a pena, mas não gostei muito da narrativa. A relação entre ele e a Ana é construída de forma apressada, não convence e não me prendeu. Em contrapartida todo o mote sobre o maníaco atacando animais e como o Bergman tece a teia sobre isso criando dúvidas e certezas que se entrelaçam é genial. Obviamente que é um filme que merece ser visto, mas ao mesmo tempo em que teve partes que me prendeu bastante, teve outras que me dispersou bastante também. Elenco perfeito e confesso que quando começou o filme achei estranhíssimo um Bergman colorido (estou vendo a filmografia do diretor em ordem cronológica e este é o primeiro em cores). Funciona, mas prefiro o diretor em preto e branco.
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Antes da Chuva
4.1 62 Assista AgoraO filme saiu do Festival de Veneza levando nada menos que 12 prêmios, incluindo o Leão de Ouro e Melhor Ator para Rade Serbedzija. Um dos filmes que mais me marcaram na minha adolescência e que fazia umas duas décadas que não revisitava. Grata surpresa ver que ele não envelheceu mal, e triste surpresa constatar que ele continua tão atual. A fórmula usada para contar histórias que se interligam separadas em diferentes capítulos, mudando seus protagonistas e usando o tempo como personagem principal de todo o filme é de uma genialidade incrível, principalmente se pensarmos que "o tempo nunca morre e o ciclo nunca se completa". Não importa quanto tempo passe, parece que a humanidade continua e continuará sempre dentro deste ciclo sem fim de barbárie. Elenco maravilhoso e confesso que Labina Mitevska era a minha crush quando moleque... e no fim acabei me envolvendo com uma garota da Macedônia em Dublin que não acreditou quando disse que amava este filme. Filme dos mais obrigatórios deste blog. Continua entre meus favoritos.
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Nardjes A
2.9 8Filmado todo com um celular durante uma das manifestações do Hirak que tomaram as ruas da Argélia de 2019 até 2000 todas as sextas-feiras. É muito impressionante comparar as manifestações da Argélia com as Jornadas de Junho de 2013 no Brasil, pois fica mais que provado que todo levante popular sem um projeto político está fadado ao fracasso, protestar contra o status quo imposto sem apresentar uma via de solução só ajuda a extrema direita a se fortalecer. Este ano de 2023, em setembro, um especialista de direitos humanos da ONU pressionou o país a perdoar manifestantes condenados durante o Hirak, por mais que o primeiro ministro tenha renunciado em 2 de abril de 2019 (a manifestação do filme ocorre no dia 8 de março de 2019), o atual presidente era um ministro do governo anterior e o país continua tomado pelos militares. Nenhuma mudança veio com o Hirak, talvez tenha ficado até pior, portanto essencial fazermos uma analise. O filme podia focar um pouco mais na Argélia do que ficar só na manifestação por tanto tempo, tem uma tia gritando que lembra uma bolsonarista brasileira. O diretor, apesar de brasileiro, é descendente argelino por parte de pai e durante esse período na Argélia, além deste filme, fez o excelente Marinheiro das Montanhas.
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O Invencível
4.2 35 Assista AgoraVencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Assim como o primeiro, é de partir o coração, então fica longe se estiver meio deprimido. Teve momentos que achei Sarbojaya, a mãe, bastante egoísta, mas teve momentos que achei Apu também. Interessante como as coisas flutuam nesse aspecto emocional, o filme começa praticamente onde o primeiro acaba, a família se adaptando na nova cidade, mas as coisas não saem exatamente como o planejado. De extrema relevância comparar a cena em que um personagem tenta entrar na cozinha e é repelido pela mulher, mostrando a forte cultura de estupro que existe na Índia, há muitos casos horríveis relatados no país. Acho que o filme se mantém tão bom quanto o primeiro, dá até para dizer que é meio que um filme só. Senti falta de Durga, acho que o filme teria mais força com ela dividindo o protagonismo.
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Crianças do Sol
3.7 16 Assista AgoraIndicado ao Leão de Ouro e vencedor de dois prêmios em premiações paralelas no Festival de Veneza. Acho que há muito no filme que funciona muito bem, principalmente no que tange a escola onde a maior parte da ação se passa. O diretor abre mão de se aprofundar nos garotos coadjuvantes e os descarta muito facilmente para se aprofundar em um melodrama desnecessário. Poderia ter trabalhado mais as relações e menos a busca incessante pelo tesouro. Não vejo problema em usar uma narrativa mais comercial, típica do cinema ocidental, afinal de contas funcionou muito bem em O Carcereiro, mas talvez aqui não funciona tão bem. Mas vale bastante a assistida, há mais acertos do que erros, não quero parecer tão crítico ao filme. Elenco está excelente e a narrativa prende bem o telespectador.
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Drive My Car
3.8 384 Assista AgoraVencedor dos prêmios de Melhor Roteiro e da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. O filme é muito bem construído, há uma certa meticulosidade em todos os cantos onde o diretor mostra toda sua capacidade técnica e narrativa. Os atores também dão um show, a coadjuvante muda é a cereja no bolo de todo o elenco. Apesar da duração extensa, o filme passa relativamente bem rápido e emociona, mas nem tudo são flores. Há uma mensagem que ficou entalada na minha garganta, com um gosto bem amargo, me pareceu que há uma certa romantização e até uma certa passada de pano para relacionamentos tóxicos (me machuca, mas me ama) que me deixou com o pé atrás. Faz a gente pensar bastante na cultura japonesa que é permeada de machismos, sexismos e misoginia, daí parece que o filme coloca uma mulher no papel típico de homem e tenta achar tudo bonito. Preferi o Roda do Destino.
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Ammonite
3.6 244 Assista AgoraUm dos filmes selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes no ano em que não ocorreu devido a pandemia. O filme é bom, achei a entrega das atrizes as personagens bem intenso, o diretor também é competente na parte técnica e o desfecho da cena final é arrebatador. Estive no Museu de História Natural em Londres em março deste ano de 2023, apesar de morar na Inglaterra fui para Londres pouquíssimas vezes, estando lá me indignei com o destrato dado ao Alfred Russel Wallace, mas me chamou a atenção um mural contando toda a história de Mary Anning (que não conhecia) e pesquisei sobre ela na época. Meu espanto ao ir assistir esse filme sem saber nada a respeito e ver que era sobre esta escavadora de fósseis, porém o filme me causou certa indignação. Explico. Não tenho problema nenhum do diretor ter inventado fatos para contar uma história, acho até legal isso, mas me incomoda quando uma pessoa real é retratado com uma personalidade completamente diferente: Anning não era uma pessoa reclusa e retraída, muito pelo contrário, era atuante em sua comunidade e rodeada de pessoas no âmbito social. Acho que mudar quem uma pessoa foi um certo desrespeito, por isso perdeu um pouco de nota.
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O Rito
4.0 46Pensa que é um filme para a TV feito em 1969 e tem gente hoje preocupada com nudez em exposição de arte. Feito em apenas 9 dias é uma bela de uma escarrada no conservadorismo da época e só isso já faz a grandiosidade do filme. Cheio de diálogos intrincados e de situações que geram desconforto em diferentes aspectos, mostra bem o que é o diretor no final desta década de 60, cheio de experimentalismos, verborragia e diálogos afiadíssimos. A maneira como as cenas são divididas e o desenvolvimento para aquele final maravilhoso, faz deste o melhor filme para a TV realizado por Bergman, e uma peça extremamente necessária dentro de sua filmografia. Gunnar Björnstrand está ótimo e Ingrid Thulin mostra talento de sobra com sua gagueira.
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Compartimento Nº 6
3.8 38Vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes. Um filme bem gostoso de assistir, você vai se envolvendo na relação que vai sendo construída, o personagem Ljoha permanece um enigma em vários aspectos, você quer desvendá-lo e não consegue. Grande acerto do diretor. A personagem principal também tem seu carisma que funciona muito bem. O filme se passar aparentemente no final dos anos 90 (com certeza de 1997 para depois) também foi outra escolha acertada, existe toda uma áurea de nostalgia para pessoas como eu que viveram e sentem saudades de um mundo mais analógico sem a febre do celular. O final é ótimo, as pontas soltas são ótimas, a experiência que fica do filme também é ótima. Enfim, um filme que eu indicaria para todo mundo, mesmo sabendo que tem uns que torceram o nariz. Apesar do filme se passar todo na Rússia, é uma produção finlandesa, inclusive foi a escolha do país para competir no Oscar.
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Suor
3.6 41 Assista AgoraMais um dos filmes que foram selecionados para a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu por conta da pandemia. O filme é muito bom, levanta várias questões interessantes e a maneira como tudo é mostrado também acaba dando uma carga para o filme que poderia muito bem ter ido por um caminho mais fácil. A relação entre a personagem e sua mãe tem várias camadas, o machismo e a misoginia transbordam e a falsidade da vida através de um celular acaba sendo o principal. A atriz está ótima no papel, merecedora de um prêmio de melhor atriz em Cannes caso o festival tivesse sido realizado. Um filme que parece raso se você assistir sem prestar atenção, mas muito profundo. Para uma discussão mais apurada seria necessário spoilers.
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Gaza
4.1 3Indicado para melhor documentário do Festival de Sundance. Avassalador é a melhor palavra para descrever o sentimento de ver essas vidas passando pela nossa tela, tentar entender como é que é possível a humanidade chegar nesse ponto. Mesmo tendo cenas nitidamente ensaiadas (como quando o taxista vai comprar um café, por exemplo) a essência do que realmente importa está ali e não é nem um pouco parte de um script. O comércio local destruído pela falta de energia elétrica, a dificuldade de acesso a água e a condições dignas de sobrevivência. Há quem possa apontar o dedo para o sujeito pobre com 3 esposas e 40 filhos, mas é as mazelas da pobreza não tão diferente do Brasil. As cenas com o enfermeiro e os relatos dele são os melhores e achei os mais autênticos. Um filme necessário neste momento de genocídio que vivemos. Fico pensando quais personagens conseguiram permanecer vivos depois desse cerco de Israel.
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Joyland
4.0 17Vencedor do Prêmio do Juri da competição Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Por mim podia ter dado a Palma de Ouro fácil para este aqui, confesso que o começo do filme não me prendeu muito, é o desenrolar e o desfecho que despedaça a gente por dentro que faz o filme ter a força que tem. Definitivamente não é um filme sobre um romance queer, é um filme sobre responsabilidade emocional (fator tão em falta na sociedade de hoje), como afetamos as pessoas a nossa volta, como as conexões se estendem entre as pessoas e a fronteira entre o egoísmo, responsabilidade e tantas outras coisas que fazem parte de pessoas e relacionamentos. Um filme complexo, que diz tanta coisa com uma história até que simples, o final martela na cabeça por muito tempo. Sarwat Gilani (a cunhada) é linda demais e dá um show. Ali Junejo e Alina Khan (o casal principal) dão um verdadeiro show, funcionam como tinham que funcionar, mas é Rasti Farooq (como Mumtaz) que rouba o filme inteiro. Diria que em um ano que teve muito, mas muito filme foda mesmo, este aqui talvez seja o melhor. (2022 foi uma surpresa de tanto filme bom).
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Eyimofe (Este é o Meu Desejo)
3.8 3Indicado em uma seleção paralela no Festival de Berlim. O título original é uma palavra em iorubá que significa um indivíduo atencioso e amoroso que coloca a necessidade dos outros antes da sua, portanto o título nacional que acabou sendo traduzido direto do título em inglês acaba não tendo o mesmo sentido. A estreia dos irmãos gêmeos é bastante competente e fico no aguardo para futuros filmes deles, o elenco também dão um show. Me espanta um pouco a passividade do povo nigeriano, por mais que eles estejam na merda eles não perdem o controle, não se revoltam, não gritam, não explodem... e isso é um aspecto cultural que pude perceber nos últimos anos, trabalho com vários e dois deles são relativamente bem próximos de mim, sempre me espanto com isso e neste filme pude ver muito disso. Uma triste realidade que chega a ser até um pouco indigesta de assistir. Temiloluwa Ami-Williams que interpreta Rosa está deslumbrante.
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Vergonha
4.3 118Definitivamente é o filme mais sombrio que já assisti do Bergman, e talvez o mais sombrio que já assisti na vida. Não esperava. Me pegou desprevenido. Um soco direto no estômago. Liv e Max estão fantásticos, tudo vai desmoronando de uma maneira tão sombria e pesada que fica difícil digerir tudo no final. Filme rodado no final da década de sessenta e ainda assim tão atual, tão parecido com o presente com bombas turcas destruindo Rojava, bombas americanas nas mãos de Israel destruindo Gaza, Ucrânia e Rússia ainda se engalfinhando e sabe-se lá como anda o Sudão ou Myanmar. Bergman vislumbrou um futuro sombrio e ele não poderia ter sido mais certeiro. Mais uma obra de arte da conta do mestre.
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Um Amor e Uma 45
3.3 21Daqueles filmes que eu sempre quis assistir desde que lançou e foi ficando... acho que eu tinha até o VHS original. Resolvi finalmente ver e gostei, típico filme dos anos 90 (Assassinos por Natureza ou Amor a Queima Roupa), mesmo sendo inferior a estes o filme diverte e trás gratas surpresas. Peter Fonda fazendo uma homenagem ao seu personagem de Easy Rider, o querido Jack Nance que foi assassinado em uma briga de bar alguns anos depois e Jeffrey Combs divertidíssimo que só quem é fã de Star Trek vai saber quem é. Renée está linda, mas interpreta aquele papel clichê de americana burra. O filme entrega o que propõe entregar, não tenta ser mais do que é e é exatamente aí que ele acerta. Lógico que é um pouco datado, mas sinto falta dessa época onde não existiam celular enchendo o saco de quem não gosta desse mundo digital. Já ia esquecendo da música, o filme tem uma trilha sonora incrível, de responsabilidade de ninguém menos que do Tom Verlaine da banda Television que infelizmente nos deixou no começo deste ano de 2023.
O Joelho de Ahed
3.0 7Vencedor do Prêmio do Juri no Festival de Cannes. Confesso que tinha um pé atrás com o diretor porque nunca consegui me conectar muito bem com seu filme Sinônimos apesar de reconhecê-lo como um filme muito bom. Este porém acabou entrando na minha lista de melhores do ano, senão O melhor. Amei! Tipo de filme que eu gosto, com toda a metalinguagem e crítica ácida (ao estado terrorista de Israel, ao sistema capitalista, a cultura de guerra, a normalização de uma realidade orwelliana ou tantas outras coisas). Nadav Lapid se faz tão necessário e talvez um dos maiores diretores da atualidade. A parte técnica é simplesmente maravilhosa e toda a construção da história com a explosão verborrágica em uma das cenas mais emblemáticas dos últimos anos. Certo, confesso que não é um filme que vá agradar uma grande maioria, mas é daqueles filmes que me conquistam.
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Limbo
3.9 13 Assista AgoraUm dos filmes que estava na seleção do Festival de Cannes para a Palma de Ouro do ano que não ocorreu devido a pandemia. Fui assistir sem saber quase nada do filme, sabia que se passava em uma ilha remota da Escócia e só, fui pego completamente de surpresa com um dos melhores filmes daquele ano. Ele é tão simples e ao mesmo tão complexo, tão sério e ao mesmo tempo tão leve, tão deliciosamente fantástico e ao mesmo tempo tão cruelmente real. Eu que moro no Reino Unido não pude deixar de rir com os personagens locais estereotipados, porque é exatamente assim. Tenho estudado árabe neste último ano com um exilado sírio e não pude deixar de me comover com a história. O ator Vikash Bhai, apesar de ser indiano e interpretar um afegão, consegue contagiar em todo momento que aparece em tela e está irreconhecível no papel. Tudo no filme funciona tão bem e acho que é daqueles que dá para indicar para todo mundo. ASSISTAM!
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