Fechando a trilogia de Apu com um ótimo filme. Discordo quando dizem que é o filme mais comercial só por ter um ritmo mais fácil que os outros, acho que o ritmo mais fácil se dá pela própria dinâmica do filme que é muito boa e nos pega direto no coração. Soumitra Chatterjee faz um ótimo Apu, mas fiquei imaginando que legal que seria termos o mesmo ator desde o começo como o Jean-Pierre Léaud nos filmes do Truffaut. Sharmila Tagore é um deleite, se você assiste este filme e não fica completamente apaixonado é porque seu coração já morreu. Uma das mulheres mais lindas que o cinema já viu. Uma trilogia cheia de sofrimento, despedaça a gente. O desfecho é lindo.
O filme original é um filme infantil, por isso tem tanta gente aqui que assistiu na infância adorou. Galera reclamando de criança prodígio em filme, mas adora Os Goonies. Aceitem que vocês não são mais o público alvo deste tipo de produções, cresçam e tentem aproveitar com um olhar mais infantil que irão pelo menos sair do filme entretidos. Eu achei bem legal, cumpre muito bem o que acaba prometendo. É emocionante todas as conexões com o filme original. O elenco funciona, mesmo demorando um pouco para acontecer, quando o filme realmente acontece funciona tudo muito bem. Adorei os personagens e aguardo ansioso para a continuação que sai agora em 2024.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Oscar e do Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro. Como é que eu demorei tanto para assistir este filme? Simplesmente brilhante! Merecia a Palma de Ouro, merecia tudo que é prêmio. Sorrentino é com certeza o que o cinema italiano tem de melhor nos últimos anos. Toni Servillo dá um show como protagonista, interpretação brilhante. Simplesmente tudo no filme funciona, qualidade técnica e narrativa perfeitas. O filme tem todos os elementos contrabalanceados, há desde comédia a um senso nostálgico que faz a gente nem esconder a lágrima que escorre na cena final. Um filme sobre a vida, sobre envelhecer, sobre lugares e principalmente sobre memórias. Lindo demais!
Vencedor do Prêmio de Melhor Diretor em uma competição paralela no Festival de Berlim. Achei o filme muito bom, mas confesso que entendo que não deva funcionar com uma grande maioria, me contorcia assistindo querendo participar da conversa, tive vontades descontroladas de bater na mesa e xingar todo mundo com suas visões limitadas transbordando a burguesia alienada que vive em uma realidade paralela. O discurso de Nikolai querendo tratar a morte como algo de um mal no sentido religioso e ignorando completamente a compreensão da natureza sob um contexto geral é patético. Aliás, muito interessante notar como a natureza é ignorada em quase todos os discursos, sendo sobreposta por uma falsa razão de cunho muitas vezes religioso cristão. Eu, que moro na Europa de hoje, talvez tenha gostado tanto do filme por ter escancarado o europeu como ainda são hoje, como lidam e encaram as coisas com sua visão extremamente limitada com valores construídos há seculos com seu eurocentrismo e valores ocidentais como absolutos. Um filme necessário para entender como a Europa pensa hoje, interessante também notar, que apesar do filme se passar no século XIX, há assuntos tratados que passam pelo futuro como o genocídio armênio, e há uma cena que parece misturar tanto a Primeira Guerra quanto a Revolução de 1917. Enfim, achei muito bom e funcionou muito bem para mim. Enrolei para ver por conta dos comentários negativos, mas devia ter visto antes.
Assisti de novo para ver se consigo terminar de ver a série toda que nunca consegui. A animação é bem divertida, com cenas de ação, humor e com vários personagens antigos e novos sendo colocados no tabuleiro. Quem diria que Ahsoka iria virar uma personagem tão icônica, não? É divertido, para uma faixa etária mais infantil, assim como essas coisas tem que ser... afinal, eu me apaixonei por este universo quando tinha uns 5 anos.
Vencedor de um tal Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes (não me perguntem que prêmio é este, não tenho ideia, deve ter sido um prêmio especial daquele ano) e indicado a 5 Oscars (vencedor de Melhor Direção de Arte). Não pude estar com minha irmã quando ela faleceu e este filme me abriu várias feridas, foi bem difícil para mim assisti-lo. Achei um filme grandioso do diretor, que conseguiu combinar tudo aquilo de melhor que ele foi construindo até aqui em sua carreira. Tudo funciona, o clima claustrofóbico, a construção das personagens, o vermelho predominante. Harriet Andersson brilha como nunca, tanto que consegue ofuscar Liv e Ingrid. Os 15 minutos finais é simplesmente catártico.
Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. A atuação do Caleb Landry Jones é o que o filme tem de melhor realmente, mas acho que há conveniências demais no roteiro. Diretor perde muito tempo com cenas que não levam a lugar nenhum e acaba omitindo ou distorcendo várias coisas mais importantes. O elenco todo está muito bem e ajuda a dar o tom certo ao filme. É muito interessante o tipo de discussão que o filme acaba trazendo no final, já que mesmo a Austrália tendo restringido a lei do porte de arma depois de 1996, hoje o país tem mais armas do que na época. Simplesmente uma história, principalmente se for buscar os fatos depois de assistir ao filme, que é difícil acreditar como pode ocorrer. O filme tenta humanizar o personagem, mas depois de ler sobre a parte final que o filme não mostra fica difícil enxergá-lo de maneira muito humanizada.
Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim. Fui assistir pensando que ia gostar bem menos do que acabei gostando. Apesar do ritmo o filme passou muito rápido para mim. O prêmio de melhor diretor se justifica, imagens lindíssimas. Em um mundo onde os horrores mostrados no filme ainda são bem costumeiros (não vamos esquecer o Massacre de Odessa inclusive celebrado por alguns políticos ucranianos que continuam no poder) é interessante ver o personagem preservando sua humanidade se mantendo distante de tudo que está acontecendo ao redor dele, me identifiquei em vários níveis com o personagem. A falta de diálogo, para mim, ajudou a manter o clima do filme: denso, claustrofóbico e desumanizador. Um filme que me entregou mais do que prometia.
Indicado ao Olho de Ouro, que premia documentários no Festival de Cannes. Se eu, que não conheço Recife, fiquei emocionado, imagina quem conhece. Meu avô, nascido na cidade, sempre me contava sobre ela com um brilho no olhar e está nos meus planos visitar a cidade o quanto antes. Fui assistir ao filme sem saber do que se tratava e muito menos que era um documentário. Achei lindo! Kleber Mendonça consegue dosar tudo muito bem sem tornar nada cansativo, uma verdadeira carta de amor ao cinema, a cidade e a própria história que conecta tudo isso. Assisto muito pouco documentários e fico pensando o tanto de coisa que estou perdendo. Estou familiarizado com boa parte da obra do diretor, mas ainda não assisti O Som ao Redor, falha minha que espero remediar ainda este ano. Aqui temos várias referências ao filme em questão que acho legal ter assistido antes. Mas não me atrapalhou em nada curtir este. Filmaço, um dos melhores do ano.
Indicado a Palma de Ouro em Cannes, que para mim era o favorito ao prêmio mesmo concorrendo com o Amor do Haneke. Um dos meus filmes preferidos da vida, assisti de novo hoje e me emocionou da mesma maneira de quando vi no cinema. O filme é forte, bate em você de um jeito sem dó, os personagens são realistas, profundos e cheio de traumas que vão sendo montados como um quebra-cabeça pelo espectador. Marion Cotillard é rainha e mostra tudo e muito mais aqui, que entrega! Acho que o que mais me pega nele é o pensamento de que as pessoas, por mais diferentes que sejam, podem fazer um relacionamento dar certo se ambas querem e se empenham para isso, portanto se uma relação falhou é porque não era tão importante assim para uma delas ou até para ambas, é no que acredito. O filme é brutal e transborda amor ao mesmo tempo, difícil outro que tenha me tocado assim desse jeito.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza de onde saiu com outros 3 prêmios fora da competição oficial, também ganhou 2 Oscars incluindo o de melhor diretor. Hoje, há exatos 5 anos, eu estava em Cong na Irlanda, cidade que serviu para as filmagens deste filme, vivi ali um dos melhores dias da minha antiga vida até que uma semana depois ela foi completamente destruída fazendo com que eu nunca assistisse este filme. Uma espécie de comédia romântica com testosterona onde a competência do diretor consegue deslumbrar a gente como sempre. Wayne e O'Hara estão lindos demais e todo o elenco de apoio funciona. Interessante notar que o turismo na Irlanda só surgiu depois e por causa deste filme, já que muitos descendentes resolveram voltar para visitar o país depois de assisti-lo. Há uma estátua de bronze em Cong de John Wayne carregando no colo Maureen O'Hara e foi onde tomei o melhor café no país exatamente onde ficava o pub do filme, que hoje é uma espécie de restaurante para os turistas. Finalmente consegui assistir em uma espécie de ritual para exorcizar antigos demônios e adorei. Um dos grandes filmes do diretor.
Indicado a duas premiações paralelas no Festival de Veneza. Adorei o filme, simples e direto recheado de personagens que só acrescentam densidade ao filme, cada um com sua história e particularidade. Excelente diretora e a trilha música meio caótica da um belo tom. E minha surpresa quando aparece o Caetano Veloso (hehehehehehe). Fui assistir porque sou fã da Tihana Lazovic, que faz uma coadjuvante, mas o elenco conta ainda com a veterana Dominique Sanda e a talentosa Alba Rohrwacher. A garotinha rouba todas as cenas e o pavão é a cereja no bolo. Gostei muito da direção e fiquei na expectativa dos próximos filmes dela. Adoro filme assim: simples, história bem amarrada e personagens cativantes. Tudo transcorre em menos de um dia, então temos pedaços de um todo, como se fossemos um convidado para o almoço da família.
Filme que estreou no Festival de Berlim fora de competições. Adorei a montagem do filme, as cenas documentais de uma Romênia marcada historicamente ao mesmo tempo em que se passa a narrativa que está sendo contada deu um tom vibrante ao filme. Talvez funcionasse melhor para algumas pessoas se as interpretações não fossem tão robóticas por conta da escolha artística deles lerem um texto que é totalmente documental, mas para mim a ideia funcionou muito bem. Acho que o filme peca só em contextualizar algumas coisas, como por exemplo a Rádio Free Europe que existe até hoje, completamente financiada pelo governo dos Estados Unidos para países que consideram que não há liberdade de informação, que vai desde países europeus, Ásia e até o Oriente Médio, e que não passa de propaganda imperialista capitalista. Não defendendo a forma de "socialismo" que veio na ramificação do stalinismo em que vivia a Romênia na época. Um filme que me surpreendeu de um diretor que vem me conquistando a cada filme.
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O que dizer deste filme do Fellini sendo Fellini? É o puro neorealismo italiano e achei melhor do que o Ladrões de Bicicletas do De Sica. Achei que os personagens foram tão bem trabalhados, de uma maneira tão profunda e realista que impressiona. Anthony Quinn esbanja talento e Giulietta Masina, como sempre, é uma força da natureza. O desfecho é arrebatador. O personagem do trapezista é extremamente chato, queria dar um murros na cara dele mais do que na do Anthony Quinn. Faz a gente ficar pensando dias depois sobre a natureza humana e sobre as condições que levam algumas pessoas a serem quem são.
Vencedor de melhor roteiro no prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Fui assistir sem esperar muita coisa e no fim se mostrou um baita filme. A história é bem simples, mas as coisas se conectam e falam sobre tabus tão cotidianos, como depressão e suicídio, misturados a situações de uma Palestina ocupada de uma maneira tão sútil me conquistou. A história se passa em Haifa, formada por uma grande parte de judeus que vieram da Rússia (por isso a médica é russa) e de uma maioria árabe que segue o cristianismo (por isso a dificuldade do personagem dizer que é muçulmano). A maneira quase tragicômica de se contar uma história tão pesada é característica do povo palestino e que engrandece muito a experiência de assistir ao filme. Nos apegamos aos personagens, nos envolvemos com eles, com seus problemas e conflitos e é isso que vale a pena em um filme. Atuações e direções que esbanjam talento. Daqueles que dá para indicar para uma grande maioria que acho que vai agradar.
Indicado a uma premiação paralela no Festival de Berlim. Um filme muito bom, que talvez tenha um ritmo difícil para a maioria. Eu gostei bastante da construção da narrativa que lembrou a um livro de Graham Greene. O diretor, neto de um banqueiro como o do filme, quis revirar os porões indigestos familiares sem que fosse um filme biográfico e entrevistou muitas pessoas que ele classificou como abomináveis para que o filme fosse feito, quis mostrar o lado das pessoas vis desse passado terrível da Argentina. Para mim funcionou muito bem, mesmo que fique perdido sem saber de tudo o que está acontecendo, é exatamente isto que deixa o filme interessante. A direção, de um estreante, é competente até demais. Um filme para entender a vilania do capitalismo e como se constrói a falácia da meritocracia.
Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Eu amo o Malick, é o meu diretor de cinema americano preferido, confesso que quando assisti ao filme em seu lançamento no cinema ele tenha me arrebatado mais do que nesta segunda vez que o assisti, porém não lembro se na época toda a minha euforia pelo filme tenha vindo depois de uns dias de assistir como agora. Fiquei pensando que apesar de ouvirmos os pensamentos dos personagens por todo o filme, no fundo não sabemos o que eles estão pensando em seu íntimo. Tudo é exteriorização. O que os move, o que os faz sofrer, o que eles estão pensando e escondendo um dos outros continua intacto dentro deles e isso é sublime. Bem, não preciso falar da direção de arte do Emmanuel Lubezki, né? Não existe no cinema dupla mais perfeita que Malick/Lubezki. Impressionante o desenrolar lento (coisa que a geração TikTok tem pavor) com cenas tão curtas. Olga Kurylenko brilha em cada segundo que aparece e apesar do personagem do Bardem parecer deslocado, é dele as melhores reflexões. Continua lindo e nota máxima para mim.
Eita filminho ruim do Bergman, hein? Não acho que consegue ser pior do que o "Isto Não Aconteceria Aqui", mas para mim ficou na segunda posição do pior filme que vi do diretor. A cena inicial no quarto de hospital é linda, também há lances de câmera e coisas que funcionam. Cenas em que Bibi Andersson está sozinha (ela escolhendo a roupa para sair, por exemplo) ou algumas ponderações do personagem de Von Sydow. De resto, o filme é sofrível, uma relação que não faz o menor sentido, nunca vi alguém se apaixonar depois daquele sexo ruim. O personagem do Elliott Gould é um escroto babaca e não há em todo filme uma cena em que eles realmente pareçam apaixonados, não há um diálogo marcante, não é uma relação. O final abrupto dá um tom de filme inacabado. Só vale pela direção do Bergman mesmo, há tomadas lindíssimas. Tive que assistir em duas partes de tão ruim que estava fluindo. Um filme ruinzinho, como diz a música "Sexo Ruim" da banda Tropical Nada: "Uau, pouca coisa boa"
Filme que teve sua estreia no Festival de Cannes fora de competições. Começando agora a assistir aos filmes do ano de 2023 já posso dizer que este conseguiu superar o Céu Vermelho do Petzold na primeira posição. Que filmaço! Amei tudo, que roteiro bem escrito, cheio de detalhes (a epígrafe do Paul Nizan no livro do personagem principal praticamente preenche um monte de lacunas). Um amigo me indicou o filme dizendo que lembrou de mim por toda a película, fui correndo assistir e realmente minha identificação com o personagem do diretor é fulminante, até o cachorro dele remete ao meu falecido Truffaut. O filme simplesmente me arrebatou e digo que foi uma das melhores coisas que assisti nos últimos anos. É o que o cinema contemporâneo tem de melhor, por isso que jamais concordarei com o Greenaway de que o cinema está morto. Não conhecia o diretor e já quero assistir tudo dele. Não vou dar mais detalhes senão estrago o filme para quem for assistir.
PS: O Amigo é o Wesley que escreveu embaixo de mim aqui hahahahaha
Um dos indicados a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. O filme é muito bom, adoro esses diálogos metalinguísticos no cinema, a edição do filme funciona muito bem entre o que é o filme dentro do filme com o que é real. Diria até que talvez merecesse até uma nota melhor, mas eu não consigo ignorar o fato de ser um filme que mostra um povo vivendo de boa sob o governo sionista, não dá para não pensar que ali do lado os palestinos mal tem energia elétrica e água potável enquanto os israelenses vivem suas vidas burguesas. Tentando ignorar este fato e me focando no filme, a atuação de Marek Rozenbaum como Yoel é estupenda e merecia ser premiada, dá um show. O filme cria um diálogo muito interessante sobre o tempo, o envelhecimento e a família. Merecia mais destaque, o diretor é competente, vi um tom de crítica ao clima alarmista e histérico que deve ser viver em Israel quando ele trata de uma suposta guerra com o Irã, mas é tudo muito sutil. Um belo filme, mas que seria muito melhor com as críticas ao sionismo do diretor Nadav Lapid, por exemplo, porque espaço tinha de sobra para isso. Apesar de tudo, gostei bastante, e me emocionou.
Que filme! Parecia que eu estava lendo algo do Italo Calvino. Tudo no filme que não funciona é fruto de nossa ignorância e desconhecimento total da cultura árabe. É um filme de referências, cheio de lendas e fáculas daquele povo que para nós parece tão distante. O filme tem uma fotografia ímpar e constrói dentro de si mesmo outras fábulas que conversam com o mundo contemporâneo e que servem tanto como críticas como análises. Os andarilhos do deserto do filme são tão diferentes dos filhos que precisam migrar para outras terras para conseguir sustento nos dias de hoje? Acho que não. Depois de ver este filme ler As Mil e uma Noites subiu para o topo das minhas prioridades.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. É o terceiro filme que assisto do diretor e confesso que foi o que menos gostei, acho que há uns problemas narrativos que permeiam toda a película, mas isso não tira o mérito e a força que o filme carrega. Um filme falando dos assuntos que se propõe a falar em meados da década de 60 em um país como o Egito, é para aplaudir de pé. Faten Hamamah está muito bem no papel principal, convence completamente o espectador. De tudo, o que mais gostei, foi a discussão sobre a figura do "imigrante", mostrando que o filme infelizmente ainda é muito atual (e não só nesse aspecto). É interessante a construção de alguns personagens coadjuvantes importantes que vão dando mais força ao filme fazendo nos conectar a eles, no entanto há personagens que aparecem para não agregar em nada.
Indicado a Palma de Ouro e vencedor dos prêmios de Melhor Atriz e do Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. Para mim é um pecado muito grande terem dado a Palma de Ouro para o Barton Fink, este filme é muito superior e parece ter envelhecido como vinho. É um filme sensorial, muito mais do que narrativo, apesar da narrativa estar ali presente, como coadjuvante. É tudo tão real e ao mesmo tempo tão fantástico que é difícil descrever. Apesar da referência para o Amélie Poulain ser real, também não acho tanto assim. Acho que não deve agradar uma geração Netflix acostumada a filmes mastigados enfiados em catálogos pré-fabricados diretos em seus cérebros. Tudo no filme funcionou para mim, da fotografia à música, do elenco (Irène Jacob é uma das mulheres mais maravilhosas do mundo) ao roteiro e, principalmente, o sentimento doce e amargo que fica.
Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme impressiona em vários aspectos, e por mais que deixe a gente boiando por não conhecer tão bem as personalidades históricas russas, é preciso tirar o chapéu para toda a ideia do filme. Fiquei imaginando um filme assim com personagens da literatura russa, que sou fã, o deleite que não seria. O fato de ser todo filmado em plano sequência é um dos pontos que fazem o filme crescer bastante, há momentos que funcionam melhores que outros, mas a grandiosidade do filme ofusca qualquer defeito. Com certeza é um filme que vai melhor muito em uma segunda assistida depois de um estudo histórico sobre o período em que se passa. O Hermitage é um personagem a mais e vai ganhando espaço conforme o filme vai se desenrolando. É uma experiência bem diferente, acho que vale a pena nem se for só para contemplar, esquecer a parte narrativa.
O Mundo de Apu
4.3 31Fechando a trilogia de Apu com um ótimo filme. Discordo quando dizem que é o filme mais comercial só por ter um ritmo mais fácil que os outros, acho que o ritmo mais fácil se dá pela própria dinâmica do filme que é muito boa e nos pega direto no coração. Soumitra Chatterjee faz um ótimo Apu, mas fiquei imaginando que legal que seria termos o mesmo ator desde o começo como o Jean-Pierre Léaud nos filmes do Truffaut. Sharmila Tagore é um deleite, se você assiste este filme e não fica completamente apaixonado é porque seu coração já morreu. Uma das mulheres mais lindas que o cinema já viu. Uma trilogia cheia de sofrimento, despedaça a gente. O desfecho é lindo.
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Ghostbusters: Mais Além
3.5 408 Assista AgoraO filme original é um filme infantil, por isso tem tanta gente aqui que assistiu na infância adorou. Galera reclamando de criança prodígio em filme, mas adora Os Goonies. Aceitem que vocês não são mais o público alvo deste tipo de produções, cresçam e tentem aproveitar com um olhar mais infantil que irão pelo menos sair do filme entretidos. Eu achei bem legal, cumpre muito bem o que acaba prometendo. É emocionante todas as conexões com o filme original. O elenco funciona, mesmo demorando um pouco para acontecer, quando o filme realmente acontece funciona tudo muito bem. Adorei os personagens e aguardo ansioso para a continuação que sai agora em 2024.
A Grande Beleza
3.9 463 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes e Vencedor do Oscar e do Globo de Ouro como Melhor Filme Estrangeiro. Como é que eu demorei tanto para assistir este filme? Simplesmente brilhante! Merecia a Palma de Ouro, merecia tudo que é prêmio. Sorrentino é com certeza o que o cinema italiano tem de melhor nos últimos anos. Toni Servillo dá um show como protagonista, interpretação brilhante. Simplesmente tudo no filme funciona, qualidade técnica e narrativa perfeitas. O filme tem todos os elementos contrabalanceados, há desde comédia a um senso nostálgico que faz a gente nem esconder a lágrima que escorre na cena final. Um filme sobre a vida, sobre envelhecer, sobre lugares e principalmente sobre memórias. Lindo demais!
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Malmkrog
3.3 11Vencedor do Prêmio de Melhor Diretor em uma competição paralela no Festival de Berlim. Achei o filme muito bom, mas confesso que entendo que não deva funcionar com uma grande maioria, me contorcia assistindo querendo participar da conversa, tive vontades descontroladas de bater na mesa e xingar todo mundo com suas visões limitadas transbordando a burguesia alienada que vive em uma realidade paralela. O discurso de Nikolai querendo tratar a morte como algo de um mal no sentido religioso e ignorando completamente a compreensão da natureza sob um contexto geral é patético. Aliás, muito interessante notar como a natureza é ignorada em quase todos os discursos, sendo sobreposta por uma falsa razão de cunho muitas vezes religioso cristão. Eu, que moro na Europa de hoje, talvez tenha gostado tanto do filme por ter escancarado o europeu como ainda são hoje, como lidam e encaram as coisas com sua visão extremamente limitada com valores construídos há seculos com seu eurocentrismo e valores ocidentais como absolutos. Um filme necessário para entender como a Europa pensa hoje, interessante também notar, que apesar do filme se passar no século XIX, há assuntos tratados que passam pelo futuro como o genocídio armênio, e há uma cena que parece misturar tanto a Primeira Guerra quanto a Revolução de 1917. Enfim, achei muito bom e funcionou muito bem para mim. Enrolei para ver por conta dos comentários negativos, mas devia ter visto antes.
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Star Wars: A Guerra dos Clones
3.4 172Assisti de novo para ver se consigo terminar de ver a série toda que nunca consegui. A animação é bem divertida, com cenas de ação, humor e com vários personagens antigos e novos sendo colocados no tabuleiro. Quem diria que Ahsoka iria virar uma personagem tão icônica, não? É divertido, para uma faixa etária mais infantil, assim como essas coisas tem que ser... afinal, eu me apaixonei por este universo quando tinha uns 5 anos.
Gritos e Sussurros
4.3 472Vencedor de um tal Grande Prêmio Técnico no Festival de Cannes (não me perguntem que prêmio é este, não tenho ideia, deve ter sido um prêmio especial daquele ano) e indicado a 5 Oscars (vencedor de Melhor Direção de Arte). Não pude estar com minha irmã quando ela faleceu e este filme me abriu várias feridas, foi bem difícil para mim assisti-lo. Achei um filme grandioso do diretor, que conseguiu combinar tudo aquilo de melhor que ele foi construindo até aqui em sua carreira. Tudo funciona, o clima claustrofóbico, a construção das personagens, o vermelho predominante. Harriet Andersson brilha como nunca, tanto que consegue ofuscar Liv e Ingrid. Os 15 minutos finais é simplesmente catártico.
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Nitram
3.7 32Indicado a Palma de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes. A atuação do Caleb Landry Jones é o que o filme tem de melhor realmente, mas acho que há conveniências demais no roteiro. Diretor perde muito tempo com cenas que não levam a lugar nenhum e acaba omitindo ou distorcendo várias coisas mais importantes. O elenco todo está muito bem e ajuda a dar o tom certo ao filme. É muito interessante o tipo de discussão que o filme acaba trazendo no final, já que mesmo a Austrália tendo restringido a lei do porte de arma depois de 1996, hoje o país tem mais armas do que na época. Simplesmente uma história, principalmente se for buscar os fatos depois de assistir ao filme, que é difícil acreditar como pode ocorrer. O filme tenta humanizar o personagem, mas depois de ler sobre a parte final que o filme não mostra fica difícil enxergá-lo de maneira muito humanizada.
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Luz Natural
2.9 3Indicado ao Urso de Ouro e vencedor do Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Berlim. Fui assistir pensando que ia gostar bem menos do que acabei gostando. Apesar do ritmo o filme passou muito rápido para mim. O prêmio de melhor diretor se justifica, imagens lindíssimas. Em um mundo onde os horrores mostrados no filme ainda são bem costumeiros (não vamos esquecer o Massacre de Odessa inclusive celebrado por alguns políticos ucranianos que continuam no poder) é interessante ver o personagem preservando sua humanidade se mantendo distante de tudo que está acontecendo ao redor dele, me identifiquei em vários níveis com o personagem. A falta de diálogo, para mim, ajudou a manter o clima do filme: denso, claustrofóbico e desumanizador. Um filme que me entregou mais do que prometia.
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Retratos Fantasmas
4.2 231 Assista AgoraIndicado ao Olho de Ouro, que premia documentários no Festival de Cannes. Se eu, que não conheço Recife, fiquei emocionado, imagina quem conhece. Meu avô, nascido na cidade, sempre me contava sobre ela com um brilho no olhar e está nos meus planos visitar a cidade o quanto antes. Fui assistir ao filme sem saber do que se tratava e muito menos que era um documentário. Achei lindo! Kleber Mendonça consegue dosar tudo muito bem sem tornar nada cansativo, uma verdadeira carta de amor ao cinema, a cidade e a própria história que conecta tudo isso. Assisto muito pouco documentários e fico pensando o tanto de coisa que estou perdendo. Estou familiarizado com boa parte da obra do diretor, mas ainda não assisti O Som ao Redor, falha minha que espero remediar ainda este ano. Aqui temos várias referências ao filme em questão que acho legal ter assistido antes. Mas não me atrapalhou em nada curtir este. Filmaço, um dos melhores do ano.
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Ferrugem e Osso
3.9 821 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro em Cannes, que para mim era o favorito ao prêmio mesmo concorrendo com o Amor do Haneke. Um dos meus filmes preferidos da vida, assisti de novo hoje e me emocionou da mesma maneira de quando vi no cinema. O filme é forte, bate em você de um jeito sem dó, os personagens são realistas, profundos e cheio de traumas que vão sendo montados como um quebra-cabeça pelo espectador. Marion Cotillard é rainha e mostra tudo e muito mais aqui, que entrega! Acho que o que mais me pega nele é o pensamento de que as pessoas, por mais diferentes que sejam, podem fazer um relacionamento dar certo se ambas querem e se empenham para isso, portanto se uma relação falhou é porque não era tão importante assim para uma delas ou até para ambas, é no que acredito. O filme é brutal e transborda amor ao mesmo tempo, difícil outro que tenha me tocado assim desse jeito.
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Depois do Vendaval
3.7 63 Assista AgoraIndicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza de onde saiu com outros 3 prêmios fora da competição oficial, também ganhou 2 Oscars incluindo o de melhor diretor. Hoje, há exatos 5 anos, eu estava em Cong na Irlanda, cidade que serviu para as filmagens deste filme, vivi ali um dos melhores dias da minha antiga vida até que uma semana depois ela foi completamente destruída fazendo com que eu nunca assistisse este filme. Uma espécie de comédia romântica com testosterona onde a competência do diretor consegue deslumbrar a gente como sempre. Wayne e O'Hara estão lindos demais e todo o elenco de apoio funciona. Interessante notar que o turismo na Irlanda só surgiu depois e por causa deste filme, já que muitos descendentes resolveram voltar para visitar o país depois de assisti-lo. Há uma estátua de bronze em Cong de John Wayne carregando no colo Maureen O'Hara e foi onde tomei o melhor café no país exatamente onde ficava o pub do filme, que hoje é uma espécie de restaurante para os turistas. Finalmente consegui assistir em uma espécie de ritual para exorcizar antigos demônios e adorei. Um dos grandes filmes do diretor.
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Il paradiso del pavone
3.8 1Indicado a duas premiações paralelas no Festival de Veneza. Adorei o filme, simples e direto recheado de personagens que só acrescentam densidade ao filme, cada um com sua história e particularidade. Excelente diretora e a trilha música meio caótica da um belo tom. E minha surpresa quando aparece o Caetano Veloso (hehehehehehe). Fui assistir porque sou fã da Tihana Lazovic, que faz uma coadjuvante, mas o elenco conta ainda com a veterana Dominique Sanda e a talentosa Alba Rohrwacher. A garotinha rouba todas as cenas e o pavão é a cereja no bolo. Gostei muito da direção e fiquei na expectativa dos próximos filmes dela. Adoro filme assim: simples, história bem amarrada e personagens cativantes. Tudo transcorre em menos de um dia, então temos pedaços de um todo, como se fossemos um convidado para o almoço da família.
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Letra Maiúscula
3.2 6Filme que estreou no Festival de Berlim fora de competições. Adorei a montagem do filme, as cenas documentais de uma Romênia marcada historicamente ao mesmo tempo em que se passa a narrativa que está sendo contada deu um tom vibrante ao filme. Talvez funcionasse melhor para algumas pessoas se as interpretações não fossem tão robóticas por conta da escolha artística deles lerem um texto que é totalmente documental, mas para mim a ideia funcionou muito bem. Acho que o filme peca só em contextualizar algumas coisas, como por exemplo a Rádio Free Europe que existe até hoje, completamente financiada pelo governo dos Estados Unidos para países que consideram que não há liberdade de informação, que vai desde países europeus, Ásia e até o Oriente Médio, e que não passa de propaganda imperialista capitalista. Não defendendo a forma de "socialismo" que veio na ramificação do stalinismo em que vivia a Romênia na época. Um filme que me surpreendeu de um diretor que vem me conquistando a cada filme.
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A Estrada da Vida
4.3 228 Assista AgoraVencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O que dizer deste filme do Fellini sendo Fellini? É o puro neorealismo italiano e achei melhor do que o Ladrões de Bicicletas do De Sica. Achei que os personagens foram tão bem trabalhados, de uma maneira tão profunda e realista que impressiona. Anthony Quinn esbanja talento e Giulietta Masina, como sempre, é uma força da natureza. O desfecho é arrebatador. O personagem do trapezista é extremamente chato, queria dar um murros na cara dele mais do que na do Anthony Quinn. Faz a gente ficar pensando dias depois sobre a natureza humana e sobre as condições que levam algumas pessoas a serem quem são.
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Febre do Mediterrâneo
3.5 4Vencedor de melhor roteiro no prêmio Um Certo Olhar no Festival de Cannes. Fui assistir sem esperar muita coisa e no fim se mostrou um baita filme. A história é bem simples, mas as coisas se conectam e falam sobre tabus tão cotidianos, como depressão e suicídio, misturados a situações de uma Palestina ocupada de uma maneira tão sútil me conquistou. A história se passa em Haifa, formada por uma grande parte de judeus que vieram da Rússia (por isso a médica é russa) e de uma maioria árabe que segue o cristianismo (por isso a dificuldade do personagem dizer que é muçulmano). A maneira quase tragicômica de se contar uma história tão pesada é característica do povo palestino e que engrandece muito a experiência de assistir ao filme. Nos apegamos aos personagens, nos envolvemos com eles, com seus problemas e conflitos e é isso que vale a pena em um filme. Atuações e direções que esbanjam talento. Daqueles que dá para indicar para uma grande maioria que acho que vai agradar.
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Azor
3.3 11Indicado a uma premiação paralela no Festival de Berlim. Um filme muito bom, que talvez tenha um ritmo difícil para a maioria. Eu gostei bastante da construção da narrativa que lembrou a um livro de Graham Greene. O diretor, neto de um banqueiro como o do filme, quis revirar os porões indigestos familiares sem que fosse um filme biográfico e entrevistou muitas pessoas que ele classificou como abomináveis para que o filme fosse feito, quis mostrar o lado das pessoas vis desse passado terrível da Argentina. Para mim funcionou muito bem, mesmo que fique perdido sem saber de tudo o que está acontecendo, é exatamente isto que deixa o filme interessante. A direção, de um estreante, é competente até demais. Um filme para entender a vilania do capitalismo e como se constrói a falácia da meritocracia.
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Amor Pleno
3.0 558Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Eu amo o Malick, é o meu diretor de cinema americano preferido, confesso que quando assisti ao filme em seu lançamento no cinema ele tenha me arrebatado mais do que nesta segunda vez que o assisti, porém não lembro se na época toda a minha euforia pelo filme tenha vindo depois de uns dias de assistir como agora. Fiquei pensando que apesar de ouvirmos os pensamentos dos personagens por todo o filme, no fundo não sabemos o que eles estão pensando em seu íntimo. Tudo é exteriorização. O que os move, o que os faz sofrer, o que eles estão pensando e escondendo um dos outros continua intacto dentro deles e isso é sublime. Bem, não preciso falar da direção de arte do Emmanuel Lubezki, né? Não existe no cinema dupla mais perfeita que Malick/Lubezki. Impressionante o desenrolar lento (coisa que a geração TikTok tem pavor) com cenas tão curtas. Olga Kurylenko brilha em cada segundo que aparece e apesar do personagem do Bardem parecer deslocado, é dele as melhores reflexões. Continua lindo e nota máxima para mim.
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A Hora do Amor
3.4 16Eita filminho ruim do Bergman, hein? Não acho que consegue ser pior do que o "Isto Não Aconteceria Aqui", mas para mim ficou na segunda posição do pior filme que vi do diretor. A cena inicial no quarto de hospital é linda, também há lances de câmera e coisas que funcionam. Cenas em que Bibi Andersson está sozinha (ela escolhendo a roupa para sair, por exemplo) ou algumas ponderações do personagem de Von Sydow. De resto, o filme é sofrível, uma relação que não faz o menor sentido, nunca vi alguém se apaixonar depois daquele sexo ruim. O personagem do Elliott Gould é um escroto babaca e não há em todo filme uma cena em que eles realmente pareçam apaixonados, não há um diálogo marcante, não é uma relação. O final abrupto dá um tom de filme inacabado. Só vale pela direção do Bergman mesmo, há tomadas lindíssimas. Tive que assistir em duas partes de tão ruim que estava fluindo. Um filme ruinzinho, como diz a música "Sexo Ruim" da banda Tropical Nada: "Uau, pouca coisa boa"
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Fechar os Olhos
4.3 15Filme que teve sua estreia no Festival de Cannes fora de competições. Começando agora a assistir aos filmes do ano de 2023 já posso dizer que este conseguiu superar o Céu Vermelho do Petzold na primeira posição. Que filmaço! Amei tudo, que roteiro bem escrito, cheio de detalhes (a epígrafe do Paul Nizan no livro do personagem principal praticamente preenche um monte de lacunas). Um amigo me indicou o filme dizendo que lembrou de mim por toda a película, fui correndo assistir e realmente minha identificação com o personagem do diretor é fulminante, até o cachorro dele remete ao meu falecido Truffaut. O filme simplesmente me arrebatou e digo que foi uma das melhores coisas que assisti nos últimos anos. É o que o cinema contemporâneo tem de melhor, por isso que jamais concordarei com o Greenaway de que o cinema está morto. Não conhecia o diretor e já quero assistir tudo dele. Não vou dar mais detalhes senão estrago o filme para quem for assistir.
PS: O Amigo é o Wesley que escreveu embaixo de mim aqui hahahahaha
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A Morte do Cinema e do Meu Pai Também
3.5 1Um dos indicados a Palma de Ouro no Festival de Cannes que não ocorreu devido a pandemia. O filme é muito bom, adoro esses diálogos metalinguísticos no cinema, a edição do filme funciona muito bem entre o que é o filme dentro do filme com o que é real. Diria até que talvez merecesse até uma nota melhor, mas eu não consigo ignorar o fato de ser um filme que mostra um povo vivendo de boa sob o governo sionista, não dá para não pensar que ali do lado os palestinos mal tem energia elétrica e água potável enquanto os israelenses vivem suas vidas burguesas. Tentando ignorar este fato e me focando no filme, a atuação de Marek Rozenbaum como Yoel é estupenda e merecia ser premiada, dá um show. O filme cria um diálogo muito interessante sobre o tempo, o envelhecimento e a família. Merecia mais destaque, o diretor é competente, vi um tom de crítica ao clima alarmista e histérico que deve ser viver em Israel quando ele trata de uma suposta guerra com o Irã, mas é tudo muito sutil. Um belo filme, mas que seria muito melhor com as críticas ao sionismo do diretor Nadav Lapid, por exemplo, porque espaço tinha de sobra para isso. Apesar de tudo, gostei bastante, e me emocionou.
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Andarilho do Deserto
3.5 8Que filme! Parecia que eu estava lendo algo do Italo Calvino. Tudo no filme que não funciona é fruto de nossa ignorância e desconhecimento total da cultura árabe. É um filme de referências, cheio de lendas e fáculas daquele povo que para nós parece tão distante. O filme tem uma fotografia ímpar e constrói dentro de si mesmo outras fábulas que conversam com o mundo contemporâneo e que servem tanto como críticas como análises. Os andarilhos do deserto do filme são tão diferentes dos filhos que precisam migrar para outras terras para conseguir sustento nos dias de hoje? Acho que não. Depois de ver este filme ler As Mil e uma Noites subiu para o topo das minhas prioridades.
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El haram
4.1 2Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. É o terceiro filme que assisto do diretor e confesso que foi o que menos gostei, acho que há uns problemas narrativos que permeiam toda a película, mas isso não tira o mérito e a força que o filme carrega. Um filme falando dos assuntos que se propõe a falar em meados da década de 60 em um país como o Egito, é para aplaudir de pé. Faten Hamamah está muito bem no papel principal, convence completamente o espectador. De tudo, o que mais gostei, foi a discussão sobre a figura do "imigrante", mostrando que o filme infelizmente ainda é muito atual (e não só nesse aspecto). É interessante a construção de alguns personagens coadjuvantes importantes que vão dando mais força ao filme fazendo nos conectar a eles, no entanto há personagens que aparecem para não agregar em nada.
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A Dupla Vida de Véronique
4.1 275 Assista AgoraIndicado a Palma de Ouro e vencedor dos prêmios de Melhor Atriz e do Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema no Festival de Cannes. Para mim é um pecado muito grande terem dado a Palma de Ouro para o Barton Fink, este filme é muito superior e parece ter envelhecido como vinho. É um filme sensorial, muito mais do que narrativo, apesar da narrativa estar ali presente, como coadjuvante. É tudo tão real e ao mesmo tempo tão fantástico que é difícil descrever. Apesar da referência para o Amélie Poulain ser real, também não acho tanto assim. Acho que não deve agradar uma geração Netflix acostumada a filmes mastigados enfiados em catálogos pré-fabricados diretos em seus cérebros. Tudo no filme funcionou para mim, da fotografia à música, do elenco (Irène Jacob é uma das mulheres mais maravilhosas do mundo) ao roteiro e, principalmente, o sentimento doce e amargo que fica.
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Arca Russa
4.0 183Indicado a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme impressiona em vários aspectos, e por mais que deixe a gente boiando por não conhecer tão bem as personalidades históricas russas, é preciso tirar o chapéu para toda a ideia do filme. Fiquei imaginando um filme assim com personagens da literatura russa, que sou fã, o deleite que não seria. O fato de ser todo filmado em plano sequência é um dos pontos que fazem o filme crescer bastante, há momentos que funcionam melhores que outros, mas a grandiosidade do filme ofusca qualquer defeito. Com certeza é um filme que vai melhor muito em uma segunda assistida depois de um estudo histórico sobre o período em que se passa. O Hermitage é um personagem a mais e vai ganhando espaço conforme o filme vai se desenrolando. É uma experiência bem diferente, acho que vale a pena nem se for só para contemplar, esquecer a parte narrativa.
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