Tinha dado quatro estrelas anos atrás, quando vi pela primeira vez. Hoje revi e favoritei com cinco estrelas. Se você não entendeu nada, mas continua curioso, vou dar a minha opinião sobre o que aconteceu. Minha interpretação.
Gretchen diz para Donnie que seu nome parece de super herói, ao que ele responde: Quem disse que eu não sou um?
A marca de um herói é o sacrifício e, para ser super, ele precisa de habilidades sobre-humanas.
Os superpoderes do Donnie são pelo menos três. Ele consegue enxergar o vetor pelo qual se guiar através do tempo e os raros portais que tornam isso possível. Ele consegue receber mensagens acerca do futuro. Ele consegue se comunicar com outras pessoas com habilidades similares através do tempo. Essas são as que a gente pode observar, porque ele é capaz de mais, já que Frank lhe diz "Eu posso fazer qualquer coisa, e você também pode".
As mensagens sobre o futuro, Donnie costuma receber enquanto dorme. Ele até escreve para a Vovó Morte: Só posso esperar que as repostas venham a mim durante o meu sono. Faz muito sentido que a última música do filme diga "Eu acho curioso que os sonhos em que estou morrendo sejam os melhores que já tive". O heroísmo de Darko cresce conforme suas premonições noturnas anunciam seu triste futuro, que ele aprende a aceitar e ver como algo bom — tanto porque vai salvar outras pessoas como, provavelmente, por causa de seu deslocamento e descontentamento no mundo.
Acordado, Donnie parece sofrer de alucinações com o coelho, já que o rapaz tem problemas psiquiátricos. Mas, na verdade, as visitas de Frank acontecem quando Donnie está sob medicação. São experiências reais.
Quando Darko inunda a escola, sabemos apenas que Frank se comunica com ele incitando certas coisas. Mas Donnie não picha "Ele me obrigou", e sim "Eles me obrigaram", reforçando a ideia de que mais pessoas possuem habilidades similares às dele.
Outras pessoas com habilidades similares são a Vovó Morte e o próprio Frank, ainda que sejam de naturezas diferentes das que Donnie possui. Afinal, Frank viaja o tempo todo ao passado para se comunicar com Darko. Provavelmente por ter morrido no futuro e, portanto, não estar preso ao espaço-tempo como conhecemos. Por isso Donnie e ele não podem se tocar, e vemos uma barreira invisível que separa os dois: Darko num plano atual e vivo, e Frank viajando por diferentes planos, morto.
Vovó Morte, por sua vez, entende a filosofia da viagem no tempo como ninguém na história, e sabe que vai receber uma correspondência de Darko, a qual ela aguarda ansiosamente como um sinal para ela ajudar a evitar um acidente se estiver no lugar certo e na hora certa: o atropelamento. Por isso ela costuma parar no meio da estrada: ela sabe que Frank ainda vai desviar um carro bem diante dela em algum momento no futuro, e que esse incidente mata Gretchen e culmina no assassinato de Frank, que é um momento decisivo para Darko decidir voltar no tempo. A velha escritora sabe que Frank precisa morrer para viajar no tempo e guiar Donnie.
Frank está se comunicando com Donnie para evitar seu futuro assassinato. Dona Morte está torcendo para Donnie entender seu papel na mudança da linha do tempo do seu universo e até lhe entrega uma chave ao pé do ouvido para encorajar seu sacrifício: "Todos morrem sozinhos". Essa frase é fundamental para Darko resolver se sacrificar, porque a solidão era seu maior medo, como ele revela em suas sessões de terapia. Fica mais fácil se entregar ao seu destino quando ele entende que não é o único que enfrenta a morte sozinho, mas que todos fazemos isso.
Durante o filme, Darko está tentando entender sua realidade e seu papel, até que tudo se encaixa numa noite de Halloween, quando se dá conta de que precisa seguir sua intuição até o lugar onde todos os eventos culminam —a porta de celeiro da Vovó Morte. Ali, Frank acidentalmente, desviando da velha, mata Gretchen, pelo que Donnie se vinga, matando Frank, em retribuição, mas também se dando conta de que é tal morte que permite que o coelho o guie até esse cenário. Donnie então percebe que, se voltar no tempo, pode evitar a morte da garota que ama e o assassinato de Frank.
No começo da história, o quarto de Donnie é destruído por uma turbina de avião que ninguém sabe de onde veio. É porque ela veio do futuro. No final do filme, podemos ver que a turbina do voo de Rose Darko se perde do avião e toma uma rota diferente da dele, através do portal, que surge de um fenômeno aleatório. A turbina volta para o passado, caindo sobre a casa da família Darko.
Donnie, quando percebe tudo isso, decide voltar no tempo antes da queda da turbina. Afinal, quando ela caiu pela primeira vez, ele não estava em casa, mas acordando no meio de um campo de golfe. Agora, ele sabe que, se a turbina o matar, ele não vai poder levar Gretchen até o lugar onde ela seria atropelada no futuro. Portanto, também não vai matar Frank, que era, basicamente, seu único amigo.
Com Donnie morto, o incêndio da casa de Jim nunca ocorre, então a mãe dele não precisará mais substituir a professora Kitty na viagem que causaria a sua morte, ficando também a salvo.
É assim que Donnie se torna um super herói — usando seus poderes para viajar no tempo e evitar mortes desnecessárias. Isso dentre outras coisas, como, por exemplo, a demissão de sua professora.
Estou falando o tempo todo de Darko viajar no tempo para facilitar as coisas, colocando tudo da perspectiva do herói. Mas o superpoder de Donnie, na verdade, não se parece com as viagem de Marty McFly em De Volta para o Futuro. O que ele faz parece mais com reiniciar sua realidade inteira a partir do momento em que o universo falhou abrindo uma fenda problemática. (Aquela por onde a turbina passa.) Uma possível prova de que essas pessoas estavam vivendo em um tipo de loop desde que a fenda surgiu é o livro da Vovó Morte. Donnie diz que coisas que ele está experimentando já estavam escritas no livro antes de ele as experimentar.
Quando Donnie morre, é como se a realidade dos demais personagens fosse resetada. Você pode vê-los acordando de madrugada, com as lembranças do que poderia ter acontecido no futuro se Donnie não tivesse sido esmagado pela turbina. Karen teria sido demitida, Jim teria sido preso, e assim por diante. Gretchen e Mary acenam uma para a outra, confirmando que, apesar de nunca terem se conhecido nessa realidade reiniciada, sentem que se conheceram. No futuro. Sentem uma conexão entre si, que provavelmente deriva do amor por Donnie.
Manter suas lembranças do futuro caótico que Darko criaria se não fosse atingido pela turbina é muito importante para as pessoas que ele afeta. Caso contrário, o incêndio da casa de Jim teria sido em vão, pois o criminoso sairia impune depois do reinício. Mas as pessoas que tiveram suas realidades resetadas podem lembrar do que Darko expôs sobre Jim com ajuda de Frank, por meio do incêndio. Ainda que suas lembranças sejam fragmentadas, como as de quem acorda e tenta lembrar de um sonho.
Essa história é complicada o suficiente, mas se torna ainda mais bonita porque, durante seus curtos dias, Donnie também está numa jornada pela adolescência, tentando entender sexo, solidão, e o significado de ser humano. Ou seja, ele é um adolescente normal, nesse sentido. Mas, porque está em contato com suas questões mais íntimas, é percebido por todos como um garoto perturbado.
De fato, o filme tenta mostrar que as pessoas vistas como loucas pela maioria são as mais sãs. Darko, Gretchen, Cherita, Roberta — são as pessoas que vivem solitárias por serem incompreendidas, seja por sua autenticidade, traumas ou percepção aguçada da realidade. É o que se evidencia pela letra da última música, que toca enquanto olhamos os rostos surpresos de todos os personagens que foram impactados pela escolha de Donnie, Mad World. Ela menciona rostos familiares e cansados correndo em círculos num mundo enlouquecido. Na letra da música, as pessoas "normais" não se dão conta da loucura do mundo. Quem percebe é o narrador, o cantor, que observa de fora. Assim como Darko, que não aceita a abordagem simplista que as pessoas têm do mundo, como a professora Kiitty, Jim, e até sua psiquiatra. Ele sempre questiona e zomba das visões de mundo "normais".
As pessoas solitárias e esquisitas do filme despertam medo nos "normais" assim como Darko nos incomoda quando sorri diante de suas visões ou fica com um olhar alucinado quando comete um ato de vandalismo. Essas personagens bizarras são pessoas socialmente deslocadas por sua personalidade, dor ou trauma. Gretchen teve a mãe esfaqueada pelo padrasto; Cherita não é apreciada por causa de sua aparência; Darko pode ser depressivo ou outra coisa, já que toma medicamentos controlados.
Por último, é possível que Donnie não faça sua escolha crucial apenas uma vez. Daí a letra de Mad World, novamente fazendo sentido, quando menciona caminhar em círculos.
No começo do filme, Darko está exatamente onde o portal se abriu e absorveu a turbina. Ele provavelmente poderia ter entrado no portal, mas preferiu não fazê-lo, e isso piorou as coisas para ele e as pessoas que ele amava.
Ou pode ser que ele tenha acabado de reiniciar outra realidade. Ele acabou de se sacrificar tomando um portal, que o trouxe de volta aonde ele precisará escolher se sacrificar novamente.
Essa possibilidade de Darko repetir um ciclo e sempre se tornar um herói se confirma pelo fato de a Vovó Morte sempre checar a caixa de correspondências. Como ela sabe que uma correspondência vai chegar? Talvez porque já tenha recebido essa carta em outro reboot da sua linha do tempo.
Darko também justifica sua tentativa de seguir o plano de Frank dizendo "Ele salvou a minha vida", coisa que não vemos acontecer em nenhum momento do filme. Frank pode ter salvado Donnie em outro recomeço daquela realidade.
Donnie também explica a Gretchen que seus "problemas" começaram quando ele incendiou um prédio abandonado. Isso antes de ele incendiar a casa de Jim. Talvez, ele já tenha incendiado a casa de vários Jims em vários reboots, anteriormente àquela conversa, sem nunca resolver o problema da fenda.
Donnie ainda revela não reconhecer Frank quando tira a máscara pela primeira vez, mas sua irmã, durante a festa de Halloween, menciona um amigo Frank, que foi buscar cervejas, coisa que também está anotada e assinada por Frank num bilhete na geladeira. Como ele não conhece alguém tão próximo a ele? Talvez não o reconheça apenas nessa versão reiniciada de sua realidade.
Os pais de Darko, numa conversa em seu quarto, relembram também um Frank como sendo seu amigo do passado, que morreu na noite de sua formatura. Como o coelho Frank diz que esse era o nome de seu pai e avô, é possível que o pai dele tenha morrido de forma trágica, e agora seria a vez dele, repetindo um ciclo e confirmando a ideia de Gretchen de que "Algumas pessoas nascem com a tragédia no sangue".
O filme fica ainda melhor por conseguir contar uma história tão complexa tendo como pano de fundo uma crítica ao conservadorismo, à sociedade americana e ao seu sistema educacional, e ao modo como os adolescentes podem ser invisíveis para os adultos.
Essa relação entre adultos e jovens é um tema muito importante para a história, representada principalmente no discurso da professora Karen ao ser demitida, levando consigo, para fora do prédio, a bandeira americana. Mas ela também surge na terapeuta com sentimentos ambíguos por Darko, que não conquista sua confiança e se revela uma delatora; no pai de Donine, que só faz rir diante dos problemas escolares do filho; na mãe que sofre sozinha como um dos poucos adultos a se conectar com Donnie; no professor Keneth, que sugere que conversas mais profundas com alunos podem resultar em sua demissão; numa mulher gorda aleatória na plateia durante a noite de talentos, que poderia se enxergar em Cherita, mas valoriza mais o conjunto de crianças magrinhas que fazem o esperado; na professora Kitty projetando seus desejos de glória na filha, e assim por diante.
Kitty, aliás, é uma personagem muito comovente, porque, embora pregue uma vida de fé, tradição, e de escolha entre medo e amor, não é amorosa e tem pavor de ver seu sistema de crença desmoronar. Ela é o retrato das pessoas que se apegam ao status quo e ao banal como se disso dependessem suas vidas porque, de fato, não saberiam o que fazer se precisassem encarar uma realidade com nuances mais complexas do que aquelas às quais estão acostumadas.
Essa é a minha interpretação da coisa toda, mas sugiro que ouça outras pessoas também, porque existem diversas teorias sobre o filme, tão complicadas quanto a minha, e provavelmente até mais.
Não dá para ignorar a grandeza visual do filme. Cenas, figurino, cenários, e efeitos especiais audaciosos. Várias tomadas que costuram a história são pura arte. O universo retratado é riquíssimo, com suas diferentes culturas, línguas, e tecnologias.
Porém, qual é a motivação do herói? Depende do momento do filme. Talvez nem ele saiba.
É a jornada de um povo oprimido pelo imperialismo rumo a sua liberdade. Mas o filme não retrata a opressão desse povo.
É sobre um herói com laços familiares complexos. Mas o filme não retrata essas relações.
O alienígena mais bizarro da história, que aparece logo no começo, ninguém sabe bem o que quer. E ninguém sabe que fim leva.
O vilão sobre o qual mais se cria expectativa, interpretado por Sting, é totalmente irrelevante na história. E, para ficar mais absurdo, o cantor consegue ter um desempenho melhor do que vários atores.
Tudo começa com a narração da cabeça flutuante de uma princesa. Ela vai se apaixonar pelo herói? Vai trair seu povo e se unir à rebelião? Vai ser instrumental em alguma reviravolta? Não. Ela não faz mais nada além de emprestar sua beleza à cena de abertura de maneira injustificada.
Muitos filmes do gênero e da mesma década envelheceram bem e agradam ainda hoje. Então não dá para culpar a época pelo show de teatralidade e momentos embaraçosos em Duna.
O longa tem tudo para imortalizar bordões e gestos icônicos, como Star Wars e Star Trek, mas só consegue fazer um sem-fim de más escolhas que poderiam aparecer num filme da Xuxa.
Sempre esperei que Duna tivesse certa profundidade, como Blade Runner. Mas parece uma mistura de Goonies com A História sem Fim.
Primeiro, os defeitos. Dispenso todos os cachorros e a cauda de vestido de CGI. E todo mundo esqueceu como filma à noite? Só existe noite digital agora? Não custava nada colocar a Emma numa piscina por cinco minutos em vez daquela tomada sofrível de água digital também…
Tirando isso, o filme é tudo que precisa ser. Emma Stone e Emma Thompson impecáveis como sempre. O maior acerto é o close-up da Cruella em seu monólogo, coisa que a Emma Stone mostrou que domina como poucos com Birdman e La La Land. Só ela sustenta cenas assim com esse peso todo.
A direção é tão ruim, que dei pausa para checar na sinopse se era uma comédia.
As atuações são ultra teatrais, o que só piora com tomadas que evidenciam a irrealidade da cena enquanto a câmera gira “estrategicamente” para captar as reações num timing cômico.
Não é fácil se identificar com nenhum dos personagens. Tom Hulce faz o único por quem a gente quase simpatiza. Helena Bonham Carter é excelente, mas é muito difícil torcer pelo romance sem química e mal explicado da sua personagem.
Acaba que um monstro monossilábico é o personagem mais carismático do filme, ao lado do homem cego que tem praticamente uma cena no longa.
Com diálogos tão inverossímeis quanto a escalada do protagonista no gelo, algumas falas dão a impressão de uma sátira. O mesmo serve para certas tomadas, que têm um tom ultrapassado para um filme da década de 1990, bem como algumas falhas de edição de som e escolhas de trilha sonora.
Só para reforçar: a tomada aérea do protagonista escalando o gelo poderia perfeitamente ser parte de um filme do Ace Ventura.
Só dei três estrelas porque os últimos trinta minutos do filme cumprem seu papel, apresentando uma reviravolta horripilante. Não fosse isso, acho que daria uma estrela exclusiva para o De Niro, que consegue cativar apesar do roteiro, e o verdadeiro horror estaria reservado a aturar tudo o que vem antes do último ato.
O filme usa a história improvável de uma família para fazer pensar sobre os problemas de criação que toda família enfrenta.
É sobre como todos somos, de certo modo, cobaias dos nossos pais, que nos criam com expectativas de que sejamos meio gênios ou alcancemos o máximo do nosso potencial naquilo que idealizaram para nós.
É sobre como todos os filhos, percebendo que tiveram sua individualidade comprometida pelo empenho dos pais em torná-los algo predeterminado, se frustram, se traumatizam e se rebelam.
É sobre como, por pior que tenha sido a desilusão entre os pais e os filhos, uma reconciliação pode acontecer quando nos damos conta de que nossos pais só tentaram acertar. E, no fim, temos ótimas lembranças do seu amor e cuidado em meio às suas falhas e loucuras.
No conforto que a riqueza oferece, Jean vive em constante e extremo desconforto psicológico. Apesar de privilegiado, ele não está feliz em nenhum momento enquanto mora na casa grande. Só aparece contente naquela época quando está do lado da Rita, com sua namorada ou com Severino. Todos pessoas que não partilham do mesmo privilégio social que ele.
No final, Jean aparece realmente confortável na própria pele; confiante e tranquilo pela primeira vez em toda a história, no silêncio e na calmaria da periferia.
Isso acontece logo após o trote que leva seus pais a considerar sua morte.
Metaforicamente, Jean, garoto aflito da classe média, morreu. Começou uma nova vida longe da família rica e acolhido pela família pobre, que é feita de pessoas com as quais ele possui os laços de afeto que faltavam na frieza e rigidez de sua família de sangue.
A média é 3.5?! Vocês são malucos. Esse é o filme mais gostoso de ver da DCEU. O mago velho é a única coisa ruim nele. O resto é perfeito. Do casting ao roteiro.
Tenho certeza que o filme deve ter sido eletrizante para a garotada de 1984, por causa dos efeitos especiais. Mas não por causa do roteiro.
A coisa demora para desenrolar. Informações essenciais para a trama, que poderiam aparecer nos primeiros 15 minutos de filme, só chegam depois dos 30 e poucos.
Não. É. Engraçado. O humor do filme está reservado quase inteiramente a poucas frases isoladas, e só uma realmente tira risada. O timing, parece que ficou datado, mas existem filmes da mesma época que continuam engraçados, então é difícil não culpar o roteiro.
Ele parece escrito em torno dos efeitos visuais, porque muita coisa não se justifica. Uma cratera abre, e toda a equipe dos caçadores cai nela. Ninguém morre, ninguém se fere, eles não fazem nenhuma descoberta e não sai nada lá de dentro.
O quase romance entre os personagens do Bill Murray e da Sigourney Weaver é inexplicável e até antilógico. Não rola um clima entre eles, os dois não têm química, e ela apresenta todos os motivos para não gostar dele. Depois de acordar de uma possessão sem lembranças do que viveu, cai no beijo com o cara que ela nem sabe que a salvou. Basicamente, só porque o mocinho tem que beijar uma mulher bonita no final.
E o icônico boneco de marshmallow? Ele é o momento mais esperado. Aparece, dá cinco passos, e explode. Não deixaram ele sequer esmagar um carro, quebrar umas janelas. Nada.
Pode parecer que o problema é assistir ao filme nos dias atuais. Mas De volta para o Futuro veio um ano depois e continua divertido, cativante e adorável. Então, se quiser uma comédia clássica dos anos 80, esqueça Os Caça-fantasmas e chame o Doc.
O que a gente se pergunta o tempo todo é por que Sofia se submete a uma relação tão turbulenta com Nathan. Ela é tão boa, inocente, bela, e sofreu tanto. Por que não se permite uma chance de felicidade, seja com o Stingo ou de outra maneira?
Bastante gente reclama que a cena em que a Sofia escolhe entre um dos filhos é curta e não gera o efeito esperado de um clímax. Na minha opinião, é porque o clímax é sua morte com Nathan. Ele foi a escolha de Sofia.
Não é difícil entender como Sofia cedeu à pressão de um oficial e escolheu entre um de seus filhos num momento de desespero. O difícil é entender sua escolha por Nathan. E por isso a revelação sobre as crianças, que muita gente reclama de demorar para aparecer, fica para o final. É quando finalmente entendemos por que Sofia não se permite ser feliz. Por que ela escolhe viver para Nathan, apesar de tudo. E é porque nunca se perdoou por escolher entre um de seus filhos.
Como católica, Sofia acredita que uma vida no Paraíso é para os santos, os que viveram uma vida boa, como ela diz. Mas agora, que ela acredita que Cristo virou as costas para ela, sua decisão é de viver sob penitência. Sim, ela ama Nathan e é grata por salvar sua vida. Mas também permite que sua culpa dê a ele o poder de fazê-la sofrer até a morte.
Uma história sem príncipes nem princesas, sem castelos nem chazinhos. Uma história sobre paternidade e irmandade que não precisa fazer uso de machismo para abraçar a molecada dos anos 80 com um protagonista desajeitado e seu irmão marmanjo que curte rock e jogos de RPG, e pilota um furgão com pintura maneiríssima. As mulheres não deixam de ser essenciais em posições heróicas, mas esta é a primeira animação Disney Pixar em muito tempo onde a magia é menos sobre glíter e mais sobre dragões. Fantástico!
É legal entender que nem todo filme quer ser importante e profundo. Alguns só querem ser divertidos. Quem fala que esse filme é ruim não entendeu a proposta. Ele não tenta ser Sniper Americano ou coisa do tipo. É pra entreter. Ele pega todo o absurdo típico de ação (cenas de perseguição, tiroteio, frases de efeito e sangue) e brinca consigo próprio e com seu gênero, trazendo tomadas super originais e audaciosas e é divertido do começo ao fim.
PARA TODO MUNDO QUE NÃO ENTENDEU NADA * * O Miyazaki tem um estilo próprio. Ele não segue a fórmula americana de contar histórias, que sempre explica tudo para o público. Você pode perceber isso em qualquer filme dele que tem um toque de magia. Ela simplesmente está lá. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. De certo modo, pode ser justamente o que a torna mais crível.
Neste filme específico aqui, ele trabalha com algumas lendas do folclore japonês. É por isso que não contextualiza muita coisa. O público dele sabe quem é, por exemplo, o Sem-rosto. O Monteiro Lobato não precisa explicar para brasileiro quem é o Saci. O cara simplesmente aparece pulando como o Sem-rosto aparece flutuando para os japoneses e ninguém pergunta nada.
Por fim, todo o filme é simbólico, e as interações da Chihiro com esses seres bizarros não focam os personagens ou a história, mas a moral por trás dessas interações. Como alguém mencionou antes de mim, vale a pena ler o artigo fodástico das Valquírias sobre isso, que eu googuei por causa dessa recomendação que citei e que vai deixar todo mundo com vontade de rever o filme com novos olhos.
Eu não entendo como podem dizer que esse filme é fraco. Para início de conversa, ele é uma obra cinematográfica sem paralelos em vários sentidos.
Por exemplo, por abordar um grande caso real. Por abordar um caso real de um império real. E por abordar um caso real de um império real com um puta elenco.
Pode não ser o filme mais épico do mundo sobre o tema, mas cumpre seu papel. Há meros dez anos, não se encontraria a coragem necessária para reunir tantas pessoas de alto calibre para a realização de uma obra assim.
Na minha opinião, esse é o tipo de filme que deveríamos incentivar todo mundo a assistir. Embora seja sobre um caso tão reconhecido, quanta gente ouviu falar disso no Brasil? Pode ser que alguns de nós estejamos muito à frente do que o filme comporta em relação a uma abordagem de sua temática. Mas não é o caso do grande público. Seria melhor para todo mundo num país como o nosso ser encorajado a ver esse filme em vez de Aves de Rapina, por exemplo, que vai bombar enquanto esse não será visto e enquanto a gente o critica.
Além disso, vamo, mesmo, incentivar mulheres na direção de grandes obras, mas também vamos para de caçar pelo em ovo? Ninguém reclama de A Cor Púrpura e de Django Livre terem sido dirigidos por caras brancos. Pelo contrário, não é importante que os diretores negros não sejam os únicos a fazer arte sobre a temática do racismo e da escravidão? Não é bom que os brancos também se manifestem? Da mesma maneira, qual o problema de um cara dirigir o filme em questão aqui?
Obra-prima? Talvez não. Muito importante para o cenário em que a gente vive? Com certeza.
Um filme de visual lindo e trilha sonora linda. Ele pega a gente desprevenido com momentos de ternura, tensão e magia que se elevam sobre o clima melancólico geral.
Intencionalmente, os rostos dos personagens não revelam muitas expressões por uma escolha de estilo, de maneira que, se você ficar atento, vai perceber que os sentimentos dos personagens se expressam em suas mãos.
O destino fez uma criança que se tornou obcecada pela ideia de capturar uma mosca ter sua vida radicalmente transformada quando ele finalmente consegue fazer isso. Uma magia entra em ação nesse momento e sua mão se torna capaz de sobreviver por conta própria mesmo ao perder-se de seu corpo.
A jornada da mão em busca de seu corpo é também a jornada da mente de Naoufel, em busca de pertencer, sempre olhando em retrospecto para o que tinha quando sua família era viva.
Mas Naoufel perde a mão quando perde o amor. Os dois acontecimentos marcantes colidem para desfazê-lo de uma vez por todas e libertá-lo das últimas amarras que o prendiam. Assim, ele decide ousar sua grande manobra para driblar o destino.
Quando a mão, prestes a se reunir a Naoufel, percebe que seu dono está eufórico pela primeira vez em anos, após gravar seu salto por cima da gravação do momento da morte de sua família, entende que as recentes perdas de Naoufel foram essenciais para um tipo de renascimento. Ele deixou o passado para trás ao possivelmente sentir que não tinha mais nada a perder. A mão desiste da reunião, provavelmente pensando: “Naoufel, em suas perdas, finalmente se encontrou. Está melhor sem mim”.
Ultimamente todo mundo critica como se todo filme quisesse ser artístico ou importante. Esse filme não é uma crítica social nem contra a indústria cinematográfica. É uma comédia romântica, gente. É pra ser bonitinho, água com açúcar e tudo mais. É a personagem que odeia esse gênero de filme, não o diretor ou o roteirista. Sempre vai haver espaço pra filmes pipoca — a simples distração leve sem grandes mensagens — porque nem todo mundo quer ver conteúdo sério o tempo todo. Nem a gente, né?
Donnie Darko
4.2 3,8K Assista AgoraTinha dado quatro estrelas anos atrás, quando vi pela primeira vez. Hoje revi e favoritei com cinco estrelas. Se você não entendeu nada, mas continua curioso, vou dar a minha opinião sobre o que aconteceu. Minha interpretação.
Gretchen diz para Donnie que seu nome parece de super herói, ao que ele responde: Quem disse que eu não sou um?
A marca de um herói é o sacrifício e, para ser super, ele precisa de habilidades sobre-humanas.
Os superpoderes do Donnie são pelo menos três. Ele consegue enxergar o vetor pelo qual se guiar através do tempo e os raros portais que tornam isso possível. Ele consegue receber mensagens acerca do futuro. Ele consegue se comunicar com outras pessoas com habilidades similares através do tempo. Essas são as que a gente pode observar, porque ele é capaz de mais, já que Frank lhe diz "Eu posso fazer qualquer coisa, e você também pode".
As mensagens sobre o futuro, Donnie costuma receber enquanto dorme. Ele até escreve para a Vovó Morte: Só posso esperar que as repostas venham a mim durante o meu sono. Faz muito sentido que a última música do filme diga "Eu acho curioso que os sonhos em que estou morrendo sejam os melhores que já tive". O heroísmo de Darko cresce conforme suas premonições noturnas anunciam seu triste futuro, que ele aprende a aceitar e ver como algo bom — tanto porque vai salvar outras pessoas como, provavelmente, por causa de seu deslocamento e descontentamento no mundo.
Acordado, Donnie parece sofrer de alucinações com o coelho, já que o rapaz tem problemas psiquiátricos. Mas, na verdade, as visitas de Frank acontecem quando Donnie está sob medicação. São experiências reais.
Quando Darko inunda a escola, sabemos apenas que Frank se comunica com ele incitando certas coisas. Mas Donnie não picha "Ele me obrigou", e sim "Eles me obrigaram", reforçando a ideia de que mais pessoas possuem habilidades similares às dele.
Outras pessoas com habilidades similares são a Vovó Morte e o próprio Frank, ainda que sejam de naturezas diferentes das que Donnie possui. Afinal, Frank viaja o tempo todo ao passado para se comunicar com Darko. Provavelmente por ter morrido no futuro e, portanto, não estar preso ao espaço-tempo como conhecemos. Por isso Donnie e ele não podem se tocar, e vemos uma barreira invisível que separa os dois: Darko num plano atual e vivo, e Frank viajando por diferentes planos, morto.
Vovó Morte, por sua vez, entende a filosofia da viagem no tempo como ninguém na história, e sabe que vai receber uma correspondência de Darko, a qual ela aguarda ansiosamente como um sinal para ela ajudar a evitar um acidente se estiver no lugar certo e na hora certa: o atropelamento. Por isso ela costuma parar no meio da estrada: ela sabe que Frank ainda vai desviar um carro bem diante dela em algum momento no futuro, e que esse incidente mata Gretchen e culmina no assassinato de Frank, que é um momento decisivo para Darko decidir voltar no tempo. A velha escritora sabe que Frank precisa morrer para viajar no tempo e guiar Donnie.
Frank está se comunicando com Donnie para evitar seu futuro assassinato. Dona Morte está torcendo para Donnie entender seu papel na mudança da linha do tempo do seu universo e até lhe entrega uma chave ao pé do ouvido para encorajar seu sacrifício: "Todos morrem sozinhos". Essa frase é fundamental para Darko resolver se sacrificar, porque a solidão era seu maior medo, como ele revela em suas sessões de terapia. Fica mais fácil se entregar ao seu destino quando ele entende que não é o único que enfrenta a morte sozinho, mas que todos fazemos isso.
Durante o filme, Darko está tentando entender sua realidade e seu papel, até que tudo se encaixa numa noite de Halloween, quando se dá conta de que precisa seguir sua intuição até o lugar onde todos os eventos culminam —a porta de celeiro da Vovó Morte. Ali, Frank acidentalmente, desviando da velha, mata Gretchen, pelo que Donnie se vinga, matando Frank, em retribuição, mas também se dando conta de que é tal morte que permite que o coelho o guie até esse cenário. Donnie então percebe que, se voltar no tempo, pode evitar a morte da garota que ama e o assassinato de Frank.
No começo da história, o quarto de Donnie é destruído por uma turbina de avião que ninguém sabe de onde veio. É porque ela veio do futuro. No final do filme, podemos ver que a turbina do voo de Rose Darko se perde do avião e toma uma rota diferente da dele, através do portal, que surge de um fenômeno aleatório. A turbina volta para o passado, caindo sobre a casa da família Darko.
Donnie, quando percebe tudo isso, decide voltar no tempo antes da queda da turbina. Afinal, quando ela caiu pela primeira vez, ele não estava em casa, mas acordando no meio de um campo de golfe. Agora, ele sabe que, se a turbina o matar, ele não vai poder levar Gretchen até o lugar onde ela seria atropelada no futuro. Portanto, também não vai matar Frank, que era, basicamente, seu único amigo.
Com Donnie morto, o incêndio da casa de Jim nunca ocorre, então a mãe dele não precisará mais substituir a professora Kitty na viagem que causaria a sua morte, ficando também a salvo.
É assim que Donnie se torna um super herói — usando seus poderes para viajar no tempo e evitar mortes desnecessárias. Isso dentre outras coisas, como, por exemplo, a demissão de sua professora.
Estou falando o tempo todo de Darko viajar no tempo para facilitar as coisas, colocando tudo da perspectiva do herói. Mas o superpoder de Donnie, na verdade, não se parece com as viagem de Marty McFly em De Volta para o Futuro. O que ele faz parece mais com reiniciar sua realidade inteira a partir do momento em que o universo falhou abrindo uma fenda problemática. (Aquela por onde a turbina passa.) Uma possível prova de que essas pessoas estavam vivendo em um tipo de loop desde que a fenda surgiu é o livro da Vovó Morte. Donnie diz que coisas que ele está experimentando já estavam escritas no livro antes de ele as experimentar.
Quando Donnie morre, é como se a realidade dos demais personagens fosse resetada. Você pode vê-los acordando de madrugada, com as lembranças do que poderia ter acontecido no futuro se Donnie não tivesse sido esmagado pela turbina. Karen teria sido demitida, Jim teria sido preso, e assim por diante. Gretchen e Mary acenam uma para a outra, confirmando que, apesar de nunca terem se conhecido nessa realidade reiniciada, sentem que se conheceram. No futuro. Sentem uma conexão entre si, que provavelmente deriva do amor por Donnie.
Manter suas lembranças do futuro caótico que Darko criaria se não fosse atingido pela turbina é muito importante para as pessoas que ele afeta. Caso contrário, o incêndio da casa de Jim teria sido em vão, pois o criminoso sairia impune depois do reinício. Mas as pessoas que tiveram suas realidades resetadas podem lembrar do que Darko expôs sobre Jim com ajuda de Frank, por meio do incêndio. Ainda que suas lembranças sejam fragmentadas, como as de quem acorda e tenta lembrar de um sonho.
Essa história é complicada o suficiente, mas se torna ainda mais bonita porque, durante seus curtos dias, Donnie também está numa jornada pela adolescência, tentando entender sexo, solidão, e o significado de ser humano. Ou seja, ele é um adolescente normal, nesse sentido. Mas, porque está em contato com suas questões mais íntimas, é percebido por todos como um garoto perturbado.
De fato, o filme tenta mostrar que as pessoas vistas como loucas pela maioria são as mais sãs. Darko, Gretchen, Cherita, Roberta — são as pessoas que vivem solitárias por serem incompreendidas, seja por sua autenticidade, traumas ou percepção aguçada da realidade. É o que se evidencia pela letra da última música, que toca enquanto olhamos os rostos surpresos de todos os personagens que foram impactados pela escolha de Donnie, Mad World. Ela menciona rostos familiares e cansados correndo em círculos num mundo enlouquecido. Na letra da música, as pessoas "normais" não se dão conta da loucura do mundo. Quem percebe é o narrador, o cantor, que observa de fora. Assim como Darko, que não aceita a abordagem simplista que as pessoas têm do mundo, como a professora Kiitty, Jim, e até sua psiquiatra. Ele sempre questiona e zomba das visões de mundo "normais".
As pessoas solitárias e esquisitas do filme despertam medo nos "normais" assim como Darko nos incomoda quando sorri diante de suas visões ou fica com um olhar alucinado quando comete um ato de vandalismo. Essas personagens bizarras são pessoas socialmente deslocadas por sua personalidade, dor ou trauma. Gretchen teve a mãe esfaqueada pelo padrasto; Cherita não é apreciada por causa de sua aparência; Darko pode ser depressivo ou outra coisa, já que toma medicamentos controlados.
Por último, é possível que Donnie não faça sua escolha crucial apenas uma vez. Daí a letra de Mad World, novamente fazendo sentido, quando menciona caminhar em círculos.
No começo do filme, Darko está exatamente onde o portal se abriu e absorveu a turbina. Ele provavelmente poderia ter entrado no portal, mas preferiu não fazê-lo, e isso piorou as coisas para ele e as pessoas que ele amava.
Ou pode ser que ele tenha acabado de reiniciar outra realidade. Ele acabou de se sacrificar tomando um portal, que o trouxe de volta aonde ele precisará escolher se sacrificar novamente.
Essa possibilidade de Darko repetir um ciclo e sempre se tornar um herói se confirma pelo fato de a Vovó Morte sempre checar a caixa de correspondências. Como ela sabe que uma correspondência vai chegar? Talvez porque já tenha recebido essa carta em outro reboot da sua linha do tempo.
Darko também justifica sua tentativa de seguir o plano de Frank dizendo "Ele salvou a minha vida", coisa que não vemos acontecer em nenhum momento do filme. Frank pode ter salvado Donnie em outro recomeço daquela realidade.
Donnie também explica a Gretchen que seus "problemas" começaram quando ele incendiou um prédio abandonado. Isso antes de ele incendiar a casa de Jim. Talvez, ele já tenha incendiado a casa de vários Jims em vários reboots, anteriormente àquela conversa, sem nunca resolver o problema da fenda.
Donnie ainda revela não reconhecer Frank quando tira a máscara pela primeira vez, mas sua irmã, durante a festa de Halloween, menciona um amigo Frank, que foi buscar cervejas, coisa que também está anotada e assinada por Frank num bilhete na geladeira. Como ele não conhece alguém tão próximo a ele? Talvez não o reconheça apenas nessa versão reiniciada de sua realidade.
Os pais de Darko, numa conversa em seu quarto, relembram também um Frank como sendo seu amigo do passado, que morreu na noite de sua formatura. Como o coelho Frank diz que esse era o nome de seu pai e avô, é possível que o pai dele tenha morrido de forma trágica, e agora seria a vez dele, repetindo um ciclo e confirmando a ideia de Gretchen de que "Algumas pessoas nascem com a tragédia no sangue".
O filme fica ainda melhor por conseguir contar uma história tão complexa tendo como pano de fundo uma crítica ao conservadorismo, à sociedade americana e ao seu sistema educacional, e ao modo como os adolescentes podem ser invisíveis para os adultos.
Essa relação entre adultos e jovens é um tema muito importante para a história, representada principalmente no discurso da professora Karen ao ser demitida, levando consigo, para fora do prédio, a bandeira americana. Mas ela também surge na terapeuta com sentimentos ambíguos por Darko, que não conquista sua confiança e se revela uma delatora; no pai de Donine, que só faz rir diante dos problemas escolares do filho; na mãe que sofre sozinha como um dos poucos adultos a se conectar com Donnie; no professor Keneth, que sugere que conversas mais profundas com alunos podem resultar em sua demissão; numa mulher gorda aleatória na plateia durante a noite de talentos, que poderia se enxergar em Cherita, mas valoriza mais o conjunto de crianças magrinhas que fazem o esperado; na professora Kitty projetando seus desejos de glória na filha, e assim por diante.
Kitty, aliás, é uma personagem muito comovente, porque, embora pregue uma vida de fé, tradição, e de escolha entre medo e amor, não é amorosa e tem pavor de ver seu sistema de crença desmoronar. Ela é o retrato das pessoas que se apegam ao status quo e ao banal como se disso dependessem suas vidas porque, de fato, não saberiam o que fazer se precisassem encarar uma realidade com nuances mais complexas do que aquelas às quais estão acostumadas.
Essa é a minha interpretação da coisa toda, mas sugiro que ouça outras pessoas também, porque existem diversas teorias sobre o filme, tão complicadas quanto a minha, e provavelmente até mais.
Duna
2.9 412 Assista AgoraVou falar dos pontos positivos e negativos.
Não dá para ignorar a grandeza visual do filme. Cenas, figurino, cenários, e efeitos especiais audaciosos. Várias tomadas que costuram a história são pura arte. O universo retratado é riquíssimo, com suas diferentes culturas, línguas, e tecnologias.
Porém, qual é a motivação do herói? Depende do momento do filme. Talvez nem ele saiba.
É a jornada de um povo oprimido pelo imperialismo rumo a sua liberdade. Mas o filme não retrata a opressão desse povo.
É sobre um herói com laços familiares complexos. Mas o filme não retrata essas relações.
O alienígena mais bizarro da história, que aparece logo no começo, ninguém sabe bem o que quer. E ninguém sabe que fim leva.
O vilão sobre o qual mais se cria expectativa, interpretado por Sting, é totalmente irrelevante na história. E, para ficar mais absurdo, o cantor consegue ter um desempenho melhor do que vários atores.
Tudo começa com a narração da cabeça flutuante de uma princesa. Ela vai se apaixonar pelo herói? Vai trair seu povo e se unir à rebelião? Vai ser instrumental em alguma reviravolta? Não. Ela não faz mais nada além de emprestar sua beleza à cena de abertura de maneira injustificada.
Muitos filmes do gênero e da mesma década envelheceram bem e agradam ainda hoje. Então não dá para culpar a época pelo show de teatralidade e momentos embaraçosos em Duna.
O longa tem tudo para imortalizar bordões e gestos icônicos, como Star Wars e Star Trek, mas só consegue fazer um sem-fim de más escolhas que poderiam aparecer num filme da Xuxa.
Sempre esperei que Duna tivesse certa profundidade, como Blade Runner. Mas parece uma mistura de Goonies com A História sem Fim.
Quanto Mais Quente Melhor
4.3 853 Assista AgoraAbaixo As Branquelas, viva Quanto mais Quente Melhor
Cruella
4.0 1,4K Assista AgoraPrimeiro, os defeitos.
Dispenso todos os cachorros e a cauda de vestido de CGI. E todo mundo esqueceu como filma à noite? Só existe noite digital agora? Não custava nada colocar a Emma numa piscina por cinco minutos em vez daquela tomada sofrível de água digital também…
Tirando isso, o filme é tudo que precisa ser. Emma Stone e Emma Thompson impecáveis como sempre. O maior acerto é o close-up da Cruella em seu monólogo, coisa que a Emma Stone mostrou que domina como poucos com Birdman e La La Land. Só ela sustenta cenas assim com esse peso todo.
O que precisava ser icônico é exatamente isso.
Dança dos Pássaros
4.4 25 Assista AgoraAssistam em português, mesmo, com o incrível Alexandre Moreno! S2
Frankenstein de Mary Shelley
3.7 257 Assista AgoraA direção é tão ruim, que dei pausa para checar na sinopse se era uma comédia.
As atuações são ultra teatrais, o que só piora com tomadas que evidenciam a irrealidade da cena enquanto a câmera gira “estrategicamente” para captar as reações num timing cômico.
Não é fácil se identificar com nenhum dos personagens. Tom Hulce faz o único por quem a gente quase simpatiza. Helena Bonham Carter é excelente, mas é muito difícil torcer pelo romance sem química e mal explicado da sua personagem.
Acaba que um monstro monossilábico é o personagem mais carismático do filme, ao lado do homem cego que tem praticamente uma cena no longa.
Com diálogos tão inverossímeis quanto a escalada do protagonista no gelo, algumas falas dão a impressão de uma sátira. O mesmo serve para certas tomadas, que têm um tom ultrapassado para um filme da década de 1990, bem como algumas falhas de edição de som e escolhas de trilha sonora.
Só para reforçar: a tomada aérea do protagonista escalando o gelo poderia perfeitamente ser parte de um filme do Ace Ventura.
Só dei três estrelas porque os últimos trinta minutos do filme cumprem seu papel, apresentando uma reviravolta horripilante. Não fosse isso, acho que daria uma estrela exclusiva para o De Niro, que consegue cativar apesar do roteiro, e o verdadeiro horror estaria reservado a aturar tudo o que vem antes do último ato.
Predestinados
3.3 31 Assista AgoraNão é mais um filminho bobo e divertidinho. Tudo na medida. Humor sem exageros, drama sem novela, reflexão profunda sem chatice.
O filme usa a história improvável de uma família para fazer pensar sobre os problemas de criação que toda família enfrenta.
É sobre como todos somos, de certo modo, cobaias dos nossos pais, que nos criam com expectativas de que sejamos meio gênios ou alcancemos o máximo do nosso potencial naquilo que idealizaram para nós.
É sobre como todos os filhos, percebendo que tiveram sua individualidade comprometida pelo empenho dos pais em torná-los algo predeterminado, se frustram, se traumatizam e se rebelam.
É sobre como, por pior que tenha sido a desilusão entre os pais e os filhos, uma reconciliação pode acontecer quando nos damos conta de que nossos pais só tentaram acertar. E, no fim, temos ótimas lembranças do seu amor e cuidado em meio às suas falhas e loucuras.
Amor e Monstros
3.5 664 Assista AgoraEu esperei que fosse bem fraco, mas é super gostoso e descontraído. O convite final coroa esse tempo de quarentena.
As Branquelas
3.7 3,0K Assista AgoraAcho bem curioso esse filme ter uma nota média mais alta que Até que a Sorte nos Separe aqui...
Eu Me Importo
3.3 1,2K Assista AgoraEu esperava bem mais. Especialmente que se explorasse mais a premissa de que não existem boas pessoas.
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraPra todos os que dizem que o filme não tem final, aqui vai:
No conforto que a riqueza oferece, Jean vive em constante e extremo desconforto psicológico. Apesar de privilegiado, ele não está feliz em nenhum momento enquanto mora na casa grande. Só aparece contente naquela época quando está do lado da Rita, com sua namorada ou com Severino. Todos pessoas que não partilham do mesmo privilégio social que ele.
No final, Jean aparece realmente confortável na própria pele; confiante e tranquilo pela primeira vez em toda a história, no silêncio e na calmaria da periferia.
Isso acontece logo após o trote que leva seus pais a considerar sua morte.
Metaforicamente, Jean, garoto aflito da classe média, morreu. Começou uma nova vida longe da família rica e acolhido pela família pobre, que é feita de pessoas com as quais ele possui os laços de afeto que faltavam na frieza e rigidez de sua família de sangue.
Shazam!
3.5 1,2K Assista AgoraA média é 3.5?! Vocês são malucos. Esse é o filme mais gostoso de ver da DCEU. O mago velho é a única coisa ruim nele. O resto é perfeito. Do casting ao roteiro.
Os Caça-Fantasmas
3.7 733 Assista AgoraTodo mundo ouve falar desse filme e, se você adora cinema, deve ter a impressão de que ele é obrigatório. Não perca seu tempo.
Tenho certeza que o filme deve ter sido eletrizante para a garotada de 1984, por causa dos efeitos especiais. Mas não por causa do roteiro.
A coisa demora para desenrolar. Informações essenciais para a trama, que poderiam aparecer nos primeiros 15 minutos de filme, só chegam depois dos 30 e poucos.
Não. É. Engraçado. O humor do filme está reservado quase inteiramente a poucas frases isoladas, e só uma realmente tira risada. O timing, parece que ficou datado, mas existem filmes da mesma época que continuam engraçados, então é difícil não culpar o roteiro.
Ele parece escrito em torno dos efeitos visuais, porque muita coisa não se justifica. Uma cratera abre, e toda a equipe dos caçadores cai nela. Ninguém morre, ninguém se fere, eles não fazem nenhuma descoberta e não sai nada lá de dentro.
O quase romance entre os personagens do Bill Murray e da Sigourney Weaver é inexplicável e até antilógico. Não rola um clima entre eles, os dois não têm química, e ela apresenta todos os motivos para não gostar dele. Depois de acordar de uma possessão sem lembranças do que viveu, cai no beijo com o cara que ela nem sabe que a salvou. Basicamente, só porque o mocinho tem que beijar uma mulher bonita no final.
E o icônico boneco de marshmallow? Ele é o momento mais esperado. Aparece, dá cinco passos, e explode. Não deixaram ele sequer esmagar um carro, quebrar umas janelas. Nada.
Pode parecer que o problema é assistir ao filme nos dias atuais. Mas De volta para o Futuro veio um ano depois e continua divertido, cativante e adorável. Então, se quiser uma comédia clássica dos anos 80, esqueça Os Caça-fantasmas e chame o Doc.
Seth Rogen's Hilarity for Charity
2.5 13 Assista AgoraQueria saber se toda essa galera falando que o show não é engraçado dá risada com material no estilo Os 4 Amigos. Porque aí, tá tudo explicado.
A Escolha de Sofia
4.0 514 Assista AgoraPara mim, a grande questão do filme não tem a ver com a escolha famosa.
O que a gente se pergunta o tempo todo é por que Sofia se submete a uma relação tão turbulenta com Nathan. Ela é tão boa, inocente, bela, e sofreu tanto. Por que não se permite uma chance de felicidade, seja com o Stingo ou de outra maneira?
Bastante gente reclama que a cena em que a Sofia escolhe entre um dos filhos é curta e não gera o efeito esperado de um clímax. Na minha opinião, é porque o clímax é sua morte com Nathan. Ele foi a escolha de Sofia.
Não é difícil entender como Sofia cedeu à pressão de um oficial e escolheu entre um de seus filhos num momento de desespero. O difícil é entender sua escolha por Nathan. E por isso a revelação sobre as crianças, que muita gente reclama de demorar para aparecer, fica para o final. É quando finalmente entendemos por que Sofia não se permite ser feliz. Por que ela escolhe viver para Nathan, apesar de tudo. E é porque nunca se perdoou por escolher entre um de seus filhos.
Como católica, Sofia acredita que uma vida no Paraíso é para os santos, os que viveram uma vida boa, como ela diz. Mas agora, que ela acredita que Cristo virou as costas para ela, sua decisão é de viver sob penitência. Sim, ela ama Nathan e é grata por salvar sua vida. Mas também permite que sua culpa dê a ele o poder de fazê-la sofrer até a morte.
Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica
3.9 662 Assista AgoraNum mundo dominado por histórias de princesas fofas, este filme é o que faltava para os caras que adoram a Pixar!
Uma história sem príncipes nem princesas, sem castelos nem chazinhos. Uma história sobre paternidade e irmandade que não precisa fazer uso de machismo para abraçar a molecada dos anos 80 com um protagonista desajeitado e seu irmão marmanjo que curte rock e jogos de RPG, e pilota um furgão com pintura maneiríssima. As mulheres não deixam de ser essenciais em posições heróicas, mas esta é a primeira animação Disney Pixar em muito tempo onde a magia é menos sobre glíter e mais sobre dragões. Fantástico!
Esquadrão 6
3.0 431 Assista AgoraÉ legal entender que nem todo filme quer ser importante e profundo. Alguns só querem ser divertidos. Quem fala que esse filme é ruim não entendeu a proposta. Ele não tenta ser Sniper Americano ou coisa do tipo. É pra entreter. Ele pega todo o absurdo típico de ação (cenas de perseguição, tiroteio, frases de efeito e sangue) e brinca consigo próprio e com seu gênero, trazendo tomadas super originais e audaciosas e é divertido do começo ao fim.
A Viagem de Chihiro
4.5 2,3K Assista AgoraPARA TODO MUNDO QUE NÃO ENTENDEU NADA
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O Miyazaki tem um estilo próprio. Ele não segue a fórmula americana de contar histórias, que sempre explica tudo para o público. Você pode perceber isso em qualquer filme dele que tem um toque de magia. Ela simplesmente está lá. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. De certo modo, pode ser justamente o que a torna mais crível.
Neste filme específico aqui, ele trabalha com algumas lendas do folclore japonês. É por isso que não contextualiza muita coisa. O público dele sabe quem é, por exemplo, o Sem-rosto. O Monteiro Lobato não precisa explicar para brasileiro quem é o Saci. O cara simplesmente aparece pulando como o Sem-rosto aparece flutuando para os japoneses e ninguém pergunta nada.
Por fim, todo o filme é simbólico, e as interações da Chihiro com esses seres bizarros não focam os personagens ou a história, mas a moral por trás dessas interações. Como alguém mencionou antes de mim, vale a pena ler o artigo fodástico das Valquírias sobre isso, que eu googuei por causa dessa recomendação que citei e que vai deixar todo mundo com vontade de rever o filme com novos olhos.
Magic Mike XXL
3.2 469 Assista AgoraNunca pensei que uma comédia girando em torno de strippers podia ser tão monótona. Faltou roteirista.
O Escândalo
3.6 459 Assista AgoraEu não entendo como podem dizer que esse filme é fraco. Para início de conversa, ele é uma obra cinematográfica sem paralelos em vários sentidos.
Por exemplo, por abordar um grande caso real. Por abordar um caso real de um império real. E por abordar um caso real de um império real com um puta elenco.
Pode não ser o filme mais épico do mundo sobre o tema, mas cumpre seu papel. Há meros dez anos, não se encontraria a coragem necessária para reunir tantas pessoas de alto calibre para a realização de uma obra assim.
Na minha opinião, esse é o tipo de filme que deveríamos incentivar todo mundo a assistir. Embora seja sobre um caso tão reconhecido, quanta gente ouviu falar disso no Brasil? Pode ser que alguns de nós estejamos muito à frente do que o filme comporta em relação a uma abordagem de sua temática. Mas não é o caso do grande público. Seria melhor para todo mundo num país como o nosso ser encorajado a ver esse filme em vez de Aves de Rapina, por exemplo, que vai bombar enquanto esse não será visto e enquanto a gente o critica.
Além disso, vamo, mesmo, incentivar mulheres na direção de grandes obras, mas também vamos para de caçar pelo em ovo? Ninguém reclama de A Cor Púrpura e de Django Livre terem sido dirigidos por caras brancos. Pelo contrário, não é importante que os diretores negros não sejam os únicos a fazer arte sobre a temática do racismo e da escravidão? Não é bom que os brancos também se manifestem? Da mesma maneira, qual o problema de um cara dirigir o filme em questão aqui?
Obra-prima? Talvez não. Muito importante para o cenário em que a gente vive? Com certeza.
Perdi Meu Corpo
3.8 351 Assista AgoraUm filme de visual lindo e trilha sonora linda.
Ele pega a gente desprevenido com momentos de ternura, tensão e magia que se elevam sobre o clima melancólico geral.
Intencionalmente, os rostos dos personagens não revelam muitas expressões por uma escolha de estilo, de maneira que, se você ficar atento, vai perceber que os sentimentos dos personagens se expressam em suas mãos.
O destino fez uma criança que se tornou obcecada pela ideia de capturar uma mosca ter sua vida radicalmente transformada quando ele finalmente consegue fazer isso. Uma magia entra em ação nesse momento e sua mão se torna capaz de sobreviver por conta própria mesmo ao perder-se de seu corpo.
A jornada da mão em busca de seu corpo é também a jornada da mente de Naoufel, em busca de pertencer, sempre olhando em retrospecto para o que tinha quando sua família era viva.
Mas Naoufel perde a mão quando perde o amor. Os dois acontecimentos marcantes colidem para desfazê-lo de uma vez por todas e libertá-lo das últimas amarras que o prendiam. Assim, ele decide ousar sua grande manobra para driblar o destino.
Quando a mão, prestes a se reunir a Naoufel, percebe que seu dono está eufórico pela primeira vez em anos, após gravar seu salto por cima da gravação do momento da morte de sua família, entende que as recentes perdas de Naoufel foram essenciais para um tipo de renascimento. Ele deixou o passado para trás ao possivelmente sentir que não tinha mais nada a perder. A mão desiste da reunião, provavelmente pensando: “Naoufel, em suas perdas, finalmente se encontrou. Está melhor sem mim”.
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Batman Ninja
2.8 250 Assista AgoraAlguém pode me dizer de onde o Grodd tirou tamanha tecnologia para todos aqueles castelos-robô?
Tickled
3.8 101Não vale o suspense que cria.
Megarrromântico
3.1 565 Assista AgoraUltimamente todo mundo critica como se todo filme quisesse ser artístico ou importante.
Esse filme não é uma crítica social nem contra a indústria cinematográfica. É uma comédia romântica, gente. É pra ser bonitinho, água com açúcar e tudo mais. É a personagem que odeia esse gênero de filme, não o diretor ou o roteirista.
Sempre vai haver espaço pra filmes pipoca — a simples distração leve sem grandes mensagens — porque nem todo mundo quer ver conteúdo sério o tempo todo. Nem a gente, né?