Bastante gente achou o filme apenas fofo ou um passatempo que não acrescenta muito. Mas eu acho que o filme, apesar de não ter a pretensão de ser sofisticado, é bem mais do que isso. Alex não é o típico garoto saindo do armário. Ele é um garoto que não se deu conta de que é gay porque repirimiu sua sexualidade e nem se lembra de tê-lo feito. A cena da piscina, quando Alex, bêbado, mergulha, mostra quando ele se lembra do exato momento em que, ainda criança, passou a noite em claro escondendo de si mesmo a sua orientação, depois de passar por um trauma. Adolescente, Alex não se lembrava nem do trauma nem dos seus desdobramentos. E essa história não é sempre contada. Sair do armário é uma história recorrente, mas não perceber a existência do armário é uma história nova no cinema até onde me lembro. E aqui ela foi apresentada de uma maneira eficaz sem aparentar muito esforço, o que mostra a sensibilidade dos criadores para o fato de que assuntos complexos podem ser bem recebidos se tratados com naturalidade. Eles não criaram um filme hiperdramático, o que torna a história acessível para um público mais amplo, que precisa ouvi-la. É verdade que pode ficar a impressão de que alguns esteriótipos foram reforçados. Mas o filme não se intimida diante dessa possibilidade exatamente porque, na vida real, é comum se apoiar na negação do esteriótipo para fugir da realidade.
Galera, alguém tem uma explicação pra atitude da Marzia? Não entendi por que ela perdoa o Elio do nada prometendo amizade eterna depois do que ele fez com ela nem como ela entendeu que ele andava “triste”... :/
Cara, esse filme é super rico. Com certeza não faz o tipo entretenimento para quando a gente só quer se distrair, e talvez seja isso que confunde boa parte do pessoal comentando aqui. Por exemplo, tem a questão recorrente dos diálogos rápidos que “não levam a lugar algum”. É normal se sentir assim quando a maioria dos filmes nos dão diálogos com todas as respostas. Mas no caso dos Meyerowitz, os diálogos são desencontrados exatamente como deveriam ser — eles refletem o distanciamento entre os personagens, o egoísmo na comunicação de todos, a tentativa geral de estar em vantagem nas relações ou cobrar direitos. São diálogos que imitam os que a gente vê na vida real, que não têm todas as respostas e também não levam a lugar algum. Outra coisa que todo mundo tá martelando: o final. Ele é metafórico, mas é muito significativo. Para começar, o Danny tá usando os óculos dele, que não são grande coisa, mas que ele nem lembrava que eram dele. Isso é reencontrar sua identidade e estar confortável com ela por mais modesta que seja. É nesse momento que ele encontra confiança para abordar Loretta, que ele teve muito tempo para contatar, mas nunca o fez por estar perdido em relação a si mesmo. Por fim, a Eliza encontra a peça do avô que a família toda achava ter sido perdida. Isso é legado, é não ter sido vão nem o trabalho do avô, nem o do pai, nem o de toda a família. A própria jornada da Eliza e o modo como o pai fala dela com Loretta é um retrato de que a gente costuma pensar que, em família, nosso esforço se perde, e que pessoas em quem a gente via tanto potencial seguem uma trilha tão diferente do que a gente esperava, que parece ser a trilha errada. Mas a Eliza tem a leveza e a alegria que faltam à família. Ela é o retrato de que os percalços dos Meyerowitz valeram a pena. Ela é o que é por causa deles, assim como o Matt teve que admitir ser o que era por causa do pai. É doce e genial. Sem falar no rompimento do Danny com o pai, quando ele finalmente assume controle da vida sem mais permitir que as desculpas do seu pai sejam as dele. Ele arruma uma maneira madura de se desvincular sem ressentimentos. Maravilhoso.
É exatamente essa sensação de falta de conclusão, de deslocamento, que deveria se sentir ao final, quando a mulher é vista num mundo dominado por homens. Quero dizer, se o filme fosse sobre o homem, e sobre como "nosso herói" vai lidar com suas reviravoltas, o final seria uma decepção. Mas, no fim, a mulher é o centro. O mundo não voltou a ser como era no começo. Ela é que assumiu o papel do "macho alfa" deslocado num mundo onde o seu gênero é fragilizado. Para mim, o final foi bem mais impactante do que toda a sequência de "inversão de papéis" do restante da narrativa.
Quem deveria ser herói não é nem isso nem vilão - é neutro. Quem deveria ser vilão tem seus planos alcançados e ninguém se incomoda; nem os mocinhos. Não tem sentido algum.
Alex Strangelove - O Amor Pode Ser Confuso
3.2 365 Assista AgoraBastante gente achou o filme apenas fofo ou um passatempo que não acrescenta muito. Mas eu acho que o filme, apesar de não ter a pretensão de ser sofisticado, é bem mais do que isso.
Alex não é o típico garoto saindo do armário. Ele é um garoto que não se deu conta de que é gay porque repirimiu sua sexualidade e nem se lembra de tê-lo feito.
A cena da piscina, quando Alex, bêbado, mergulha, mostra quando ele se lembra do exato momento em que, ainda criança, passou a noite em claro escondendo de si mesmo a sua orientação, depois de passar por um trauma.
Adolescente, Alex não se lembrava nem do trauma nem dos seus desdobramentos. E essa história não é sempre contada. Sair do armário é uma história recorrente, mas não perceber a existência do armário é uma história nova no cinema até onde me lembro. E aqui ela foi apresentada de uma maneira eficaz sem aparentar muito esforço, o que mostra a sensibilidade dos criadores para o fato de que assuntos complexos podem ser bem recebidos se tratados com naturalidade. Eles não criaram um filme hiperdramático, o que torna a história acessível para um público mais amplo, que precisa ouvi-la.
É verdade que pode ficar a impressão de que alguns esteriótipos foram reforçados. Mas o filme não se intimida diante dessa possibilidade exatamente porque, na vida real, é comum se apoiar na negação do esteriótipo para fugir da realidade.
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Me Chame Pelo Seu Nome
4.1 2,6K Assista AgoraGalera, alguém tem uma explicação pra atitude da Marzia? Não entendi por que ela perdoa o Elio do nada prometendo amizade eterna depois do que ele fez com ela nem como ela entendeu que ele andava “triste”... :/
Três Anúncios Para um Crime
4.2 2,0K Assista AgoraSe alguém entendeu alguma moral pra história, agradeço muito se compartilhar.
Os Meyerowitz: Família Não se Escolhe (Histórias Novas e Selecionadas)
3.4 257 Assista AgoraCara, esse filme é super rico. Com certeza não faz o tipo entretenimento para quando a gente só quer se distrair, e talvez seja isso que confunde boa parte do pessoal comentando aqui.
Por exemplo, tem a questão recorrente dos diálogos rápidos que “não levam a lugar algum”. É normal se sentir assim quando a maioria dos filmes nos dão diálogos com todas as respostas. Mas no caso dos Meyerowitz, os diálogos são desencontrados exatamente como deveriam ser — eles refletem o distanciamento entre os personagens, o egoísmo na comunicação de todos, a tentativa geral de estar em vantagem nas relações ou cobrar direitos. São diálogos que imitam os que a gente vê na vida real, que não têm todas as respostas e também não levam a lugar algum.
Outra coisa que todo mundo tá martelando: o final. Ele é metafórico, mas é muito significativo. Para começar, o Danny tá usando os óculos dele, que não são grande coisa, mas que ele nem lembrava que eram dele. Isso é reencontrar sua identidade e estar confortável com ela por mais modesta que seja.
É nesse momento que ele encontra confiança para abordar Loretta, que ele teve muito tempo para contatar, mas nunca o fez por estar perdido em relação a si mesmo.
Por fim, a Eliza encontra a peça do avô que a família toda achava ter sido perdida. Isso é legado, é não ter sido vão nem o trabalho do avô, nem o do pai, nem o de toda a família.
A própria jornada da Eliza e o modo como o pai fala dela com Loretta é um retrato de que a gente costuma pensar que, em família, nosso esforço se perde, e que pessoas em quem a gente via tanto potencial seguem uma trilha tão diferente do que a gente esperava, que parece ser a trilha errada. Mas a Eliza tem a leveza e a alegria que faltam à família. Ela é o retrato de que os percalços dos Meyerowitz valeram a pena. Ela é o que é por causa deles, assim como o Matt teve que admitir ser o que era por causa do pai.
É doce e genial. Sem falar no rompimento do Danny com o pai, quando ele finalmente assume controle da vida sem mais permitir que as desculpas do seu pai sejam as dele. Ele arruma uma maneira madura de se desvincular sem ressentimentos. Maravilhoso.
Eu Não Sou um Homem Fácil
3.5 737 Assista AgoraAo contrário do que a maioria diz aqui, não achei o final nem um pouco decepcionante.
É exatamente essa sensação de falta de conclusão, de deslocamento, que deveria se sentir ao final, quando a mulher é vista num mundo dominado por homens.
Quero dizer, se o filme fosse sobre o homem, e sobre como "nosso herói" vai lidar com suas reviravoltas, o final seria uma decepção. Mas, no fim, a mulher é o centro. O mundo não voltou a ser como era no começo. Ela é que assumiu o papel do "macho alfa" deslocado num mundo onde o seu gênero é fragilizado. Para mim, o final foi bem mais impactante do que toda a sequência de "inversão de papéis" do restante da narrativa.
Titã
2.3 268 Assista AgoraQuem deveria ser herói não é nem isso nem vilão - é neutro. Quem deveria ser vilão tem seus planos alcançados e ninguém se incomoda; nem os mocinhos. Não tem sentido algum.