Se por um lado o documentário traz uma visão interessante da vida artística de Brando, por outro há claramente uma tentativa de suavizar questões obscuras de sua personalidade e vida pessoal. Não é um material ruim. Seu problema é ser omisso quanto a realidade dos fatos. Vale a pena a conferida, mas não é, nem de longe, um registro imparcial da vida de Marlon Brando.
Talvez o filme mais desafiador da carreira de David Cronenberg. Tudo aqui é metáfora para uma análise profunda dá degradação humana. Consegui (depois da 3ª tentativa, diga-se de passagem) terminar o livro recentemente e confesso que não me agradou 100%. Apesar de Burroughs não ser o meu escritor favorito da literatura beat, é certamente o que mais me incomoda e exerce fascínio. Creio que a melhor forma de compreender um pouco dessa estória é concebê-la como um retrato da mente de um viciado e a descoberta de sua sexualidade (principalmente se você nunca leu nada do autor em questão). Fora disso, é complicado tentar encontrar qualquer lógica em tanta loucura. O excesso de surrealismo pode agredir a sensibilidade de alguns, mas não vejo como poderia ter sido diferente. É realmente uma pena um filme tão bom ser tão subestimado. Recomendadíssimo.
Uma obra feita com esmero, resultado de um ótimo trabalho de decupagem. O maior acerto do documentário é, de longe, trazer o passado à tona sem fazer uso de uma narrativa construída sobre a morte de Kurt.
Eu não espero nenhuma participação do Dave Grohl em qualquer produção que tenha o envolvimento da Courtney. Só acho que Novoselic, sendo o único da banda a ser entrevistado, poderia ter dito muito mais do que disse. Senti um misto de má vontade e desânimo toda vez que ele falava.
É um excelente material, que vale a pena ser conferido.
Há uma pedra estranha que me diz Que o vento se esconde num sopé Que o fogo é escravo de um pajé E que a água há de ser cristalizada Nas paredes da pedra encantada Os segredos talhados por sumé
Como se não bastasse a explicação mastigada no final, Aronofsky não se aguentou e saiu explicando as entrelinhas do filme nas entrevistas que andou dando por aí, parecendo nenhum pouco interessado na capacidade interpretativa de seu público. Em menos de uma semana a internet inteira já tinha sacado todas as simbologias e metáforas. Ele poderia ter dado uma de Lynch e entendido que o espectador precisa conversar com a obra, não com o diretor.
Lendo os comentários, percebe-se que o pessoal de fato não entendeu a proposta do documentário. Pelo visto, esperavam explicações sobre os trabalhos cinematográficos dele; afinal, é o que o subtítulo sugere. Francamente, acho que alguns fãs ainda esperam algo que Lynch já afirmou inúmeras vezes não estar disposto a dar: explicações mastigadas. Meio ingênuo, né?
O grande mérito do doc é justamente não cair nas tentações de se utilizar dos filmes famosos do diretor como elementos da narrativa. É simplesmente sensacional quando, por exemplo, a estrutura organiza harmonicamente passagens perturbadoras de sua vida com imagens de pinturas mais perturbadoras ainda. Só eleva coerência do que está sendo dito. Ainda assim, muita coisa aqui diz mais sobre a gênese de seu cinema experimental do que uma mera análise superficial pode proporcionar. Ligando os pontos certos, dá pra sacar o quanto as histórias que ele nos conta são reveladoras.
Não é difícil imaginar que a visão (sonho, pesadelo, delírio?) bisonha de uma mulher nua, ensanguentada e perambulando durante a noite pela rua, anos depois serviria de inspiração para a criação da personagem de Isabella Rossellini em Blue Velvet.
Lynch não julga suas interpretações dos filmes acima das do espectador. Sua arte fala por si só, e sempre admirei isso. Destrinchar um filme desse jeito, comprometeria não só grande parte do teor de subjetividade que ele carrega, como também o livre pensar de quem assiste. Não quero dizer, com isso, que o fato dele não fazer essa acepção signifique que não há uma intenção artística que antecede a obra - provavelmente há. Mas quando se trata de Lynch, a parada é muito mais sobre as sensações que aquilo te provoca do que sobre o que você consegue entender racionalmente.
Ouvi dizer que ele, que não é nenhum pouco chegado a entrevistas, aceitou a ideia de participar do projeto para que sua filha, Lula, até então com quatro anos, pudesse ter uma espécie de recordação da história de vida do pai, narrada por ele mesmo. Parece que o velhinho não faz muita coisa no dia a dia além de pintar e brincar com a pequenina. O que vi foi um homem que pinta solitária e intensamente, uma pessoa estranhamente apática com relação ao mundo que vivemos. Gosto da imagem dele contemplando o vazio em meio a uma nuvem de fumaça, mas não me parece a mesma figura que um dia chegou a assustar o próprio pai.
“David, I don't think you should have children.”
Não só teve, como ela herdou o talento pai, hahaha.
Vida longa a uma das vozes autorais mais reconhecidas e fascinantes da sétima arte!!!
Pira louquíssima. Gostando ou não, é uma perspectiva diferente de como se daria a decadência moral da sociedade em um contexto pós-apocalíptico. Mesmo sem ter pescado totalmente a real proposta da coisa, gostei razoavelmente do que assisti. Mas convenhamos: Keanu Revees dando uma de Jim Jones não convence nem põe medo em ninguém, cada vez mais canastrão. Em alguns momentos durante o primeiro ato o roteiro ameaça se desdobrar em algumas camadas bem interessantes, em outros parece não saber muito bem que rumo seguir. E, apesar de não ter conseguido me conectar profundamente com nenhum dos protagonistas, consegui me importar minimamente com o destino dos dois. Mesmo com gore pesado em algumas cenas, o tom do filme é ameno na maior parte do tempo. Curti muito a edição, e adorei toda a psicodelia contida na cena noturna do deserto. Pela narrativa pouquíssimo palatavél para o público casual, acho que muita gente vai acabar se decepcionando. Guardadas as devidas proporções, lembra um pouco algo que o Korine faria. Eu gostei, achei maneiro.
O canibalismo como uma metáfora viva da repressão e despertar sexual feminino. Com exceção de “Anticristo”, não lembro de ter visto um filme que se apropriou de forma tão original do grotesco para expor os processos violentos e opressivos aos quais as mulheres ainda são submetidas numa sociedade tão absurdamente machista e misógina. Uma vez que você percebe que Justine faz o que faz por necessidade, e não por preferência, torna-se fácil interpretar as discussões que o longa evoca. Quem assistir com o único objetivo de ver gore, não vai pescar a essência da mensagem, pois o filme vai bem além disso. Belíssima e provocativa estreia de Julia Ducournau.
Wes Anderson é um dos diretores mais interessantes, autorais e artísticos trabalhando na atualidade. Não à toa, os críticos adoram tanto seus filmes. Os Excêntricos Tenenbaums é um exemplo de uma direção impecável e uma montagem que beira a perfeição. É simplesmente surreal o domínio que Wes possui sobre a mise-en-scène. Demorou um pouco pra me pegar, mas nada que tenha comprometido a qualidade da trama. Este é meu quinto filme do diretor, e é interessante observar como a maioria de seus personagens se encontram profundamente imersos em sentimentos que oscilam entre melancolia, depressão, solidão e tédio. A loucura de uma família emocionalmente disfuncional poderia ter sido retratada de maneira extremamente comum e banal nas mãos de outro diretor qualquer, porém, convencional é tudo que este filme não é. A trilha sonora também é um espetáculo à parte. Não sei nem o que dizer, apenas sentir. Pra mim, já é um das produções mais lindas e eficientes dos últimos tempos. Pura contemplação estética.
P.s.: Muito legal ver os irmãos Wilson trabalhando juntos.
"Margot: I think we're just gonna to have to be secretly in love with each other and leave it at that, Ritchie."
Regular, mas muito divertido. Aqui, Wes já mostrava sua pira pela simetria e talento para conduzir histórias muito simples com uma versatilidade incrível. No entanto, meu maior problema com esse roteiro é o fato de que não há evolução nesse protagonista, em nenhum momento ele é confrontado e obrigado a lidar com as consequências das suas escolhas. Senti falta de uma mudança profunda que trouxesse reflexão ao espectador. Além disso, me irrita sobremaneira que as personagens femininas sejam todas unidimensionais e submissas em relação à figura masculina. Porém, a atuação do Bill Murray é o que eleva o filme a outro nível. Meu Deus, é realmente incrível como esse homem consegue ser cativante e melancolicamente engraçado sem fazer esforço algum. Schwartzman também está incrível em seu personagem insuportável, o típico rebelde sem causa. Uma curiosidade legal: O local das filmagens é o mesmo onde Wes cursou o high school. No mais, não acho Hushmore superestimado como dizem. Me diverti bastante e dei boas risadas. Mais que recomendado!
Depois do primeiro ato, tudo neste filme é terrivelmente ruim e previsivelmente patético. Não é o pior do gênero, mas se leva tão a sério que consegue se tornar detestável em todos os níveis possíveis. O típico filme que depois de uma semana você não lembra mais de nada. Destaque para o final, que consegue a proeza de piorar o que já não era bom. Fechando com chave de ouro, a última cena ainda sinaliza que vem uma franquia caça-níquel dessa coisa horrorosa por aí. Bléh!
Um porre, chato pra caralho, misógino, repetitivo, sem propósito, e chato pra caralho de novo. O filme é de péssimo mal gosto e uma completa falta de bom senso. Uma cena de violência de gênero atrás da outra, expostas de maneira gratuita somente pra chocar e desenvolver personagens masculinos desprezíveis. Um total desfavor.
A ironia é que a própria série se encarrega de desconstruir esse conceito ridículo e falacioso que é a pornografia dita feminista. Ainda me assusta ver como essa indústria acaba com a vida psicológica, social e física dessas pessoas. Isso não é sobre o que você entende por "escolha", é sobre capitalizar em cima de uma violência filmada e usar isso como forma de entretenimento. A bandeira que Erika Lust levanta simplesmente não funciona na prática. O fato é que a exploração de corpos femininos não vai mudar porque algumas mulheres estão produzindo sua própria pornografia. Nenhuma humanização ou empoderamento vai vir através de pornografia, nem de prática sexual nenhuma.
O quarto episódio ainda traz reflexões sobre o reforço de estereótipos racistas que a indústria pornô alimenta e difunde, hipersexualização do corpo do homem negro e fetichização interracial. Fiquei bastante chocada com o fato de atrizes brancas cobrarem uma "taxa extra"para contracenar com atores negros. Depois, fui atrás e descobri que a taxa serve como um bônus para cobrir o risco de ficar "manchada" na indústria, e também porque supostamente homens negros têm tamanhos de pênis que requerem muito mais esforço físico da parte delas. Inacreditável.
A série não excede expectativas - pelo menos as minhas não foram excedidas. Creio ter sido feita por conta do sucesso que foi o documentário, mesmo assim consegue promover questionamentos interessantes e necessários.
P.s: O segundo episódio, do meu ponto de vista, é absolutamente descartável.
Netflix, fofa, esqueceu a divulgação no churrasco? Bem bosta perceber que tá acontecendo a mesmíssima coisa que aconteceu com The Get Down. Netflix com esse marketing lixo lança uma série com bandeira racial e quase não faz divulgação nenhuma, porque esse pessoal só tá interessado em exaltar série branca e vazia que faz apologia ao suicídio. Preguiça eterna de vocês.
“A situação mais perigosa para uma mulher não é um homem desconhecido na rua ou mesmo o inimigo em tempos de Guerra, mas o marido ou amante no isolamento de seu lar” – Gloria Steinem.
Me surpreendeu de uma maneira que eu não esperava, e apesar do alto teor feminista, ressalto a importância do aviso de gatilho. Impossível não se deixar afetar pelo alto nível de violência de gênero que a minissérie exibe. Cinco mulheres sofrendo, em maior ou menor grau, violências morais, físicas e sexuais. Pesadíssimo perceber a permissividade da nossa cultura com a violência machista. Mas aí vem aquele final, contrapondo-se ao processo de socialização feminina que introjeta rivalidade e alimenta entre mulheres uma misoginia internalizada que, muitas vezes, nos impede de identificar nossos verdadeiros opressores, dificultando assim nossa organização e empoderamento coletivo enquanto classe oprimida. Que venham mais produções assim.
“Jane Chapman: I mean a fat, ugly man can still be funny and lovable and successful, but it’s like it’s the most shameful thing for a woman to be.”
É bizarro notar as consequências fatais da masculinadade tóxica que é imposta aos garotos desde cedo. Enquanto a feminilidade existe como um sistema de submissão, a masculinadade se impõe como um sistema de dominação e superioridade de homens. Mas a que preço? E quem não consegue cumprir essa obrigação de ser macho? É perceptível a dificuldade geral em indetificar sintomas relacionados à depressão masculina.
Justin apresentava claros sinais de depressão, mas ninguém notou. Assim como não notaram os da Hannah.
Essa menina foi morta por um sistema patriarcal, que violenta tudo que foge do masculino e rejeita qualquer indício do feminino. Atribuir culpa dessa maneira individual resolve muito pouco, quase nada. Enquanto não mudarmos o modo como lidamos com nossas crianças do sexo masculino e desconstruirmos essa cultura que dita que ser um homem é reprimir tudo que sente e machucar mulheres, nada mudará realmente.
Vejo muitos comentários aqui na página de homens revoltados, se dizendo chocados com tamanha brutalidade cometida contra Hannah, mas são os mesmos que se opõem ao movimento feminista e suas pautas, as mesmas pautas levantadas na série. Hannah's morrem todos os dias, e você provavelmente conhece ou já ajudou a matar alguma.
Me identifiquei num nível tão pessoal que dá até vergonha.
O desajuste é da vida ou de quem se sente desajustado? April e Frank são um retrato social da vida pós-moderna, de um fenômeno que se intensificou há poucas décadas.
É doloroso ver como a personagem da Kate Winslet sofre com esse papel de "esposa perfeita", tendo que aguentar caladinha todas as consequências que essa condição traz consigo. Um retrato fiel daquela década, que perdura até os dias de hoje e subjuga mulheres de uma maneira cruel. Puro patriarcalismo. Frank não admite, mas secretamente está muito mais conformado e menos indignado com aquela vidinha provinciana do que a esposa.
O tempo todo ela parece interessada em buscar a vocação dele. Mas e com a vocação dela, quem se preocupa? Observamos no começo que seu grande sonho era atuar, no entanto, isso é deixado de lado após aquela noite desastrosa da peça. Então, é isso? Nenhuma possibilidade de descobrir outra vocação ou até mesmo continuar insistindo na atuação? Me senti imensamente angustiada por ela se anular tanto. Acho que, no fundo, a coitada não tava nem aí pra vocação de ninguém, tudo que importava era dar o fora daquele buraco o mais rápido possível e deixar de viver aquela rotina medíocre de merda. Mesmo que pra isso, tivesse que enfrentar dupla ou tripla jornada (sim, porque não imagino um homem daquela década esfregando chão e limpando bumbum de criança). Com ela trabalhando, quem cuidaria da casa e das crianças? O trabalho doméstico sempre recai em maior parte sobre a mulher, todo mundo sabe disso. Hoje em dia o sexicismo na divisão do trabalho das tarefas domésticas vem se diluindo, mas naquela época pós-guerra não era assim que funcionava. Embora esse não seja diretamente um tema discutido entre os dois, é um ponto interessante a se pensar.
A cena do café da manhã é emblemática, muito bizarra mesmo. No começo, achei que ela tentaria matá-lo de repente, enquanto o pobre comia os ovos mexidos. Só percebi suas reais intenções quando ele sai pra trabalhar e ela finalmente tira a máscara e desaba em choro. A facilidade com que ele se deixa enganar pela atuação dissimulada da esposa e acredita que está tudo bem, mesmo depois de tudo que aconteceu, é surreal. Autoenganar-se para não ter que lidar com o fato de que sua vida está ruindo. Em seguida, ela se despede dos filhos através de uma ligação.
Vi o aborto como suicídio, que ela planejou enquanto refletia no bosque depois da briga em que ambos disseram coisas terríveis um para o outro. É ali que ela desiste de tudo. Junto com o feto, também foi abortado seu próprio sonho e qualquer sopro de esperança que havia lhe restado. Pobre April, só queria mudar de vida e sair da monotonia. Mas sabemos que esse pertencimento idealizado que ela tanto almejava não existe. Três meses em Paris... e depois? Não dá pra viver fugindo, nem para mudar de vida a cada ano. Complicado.
A corretora de imóveis, interpretada pela incrível Kathy Bates, que dizia o tempo todo como o casal era especial, termina o filme falando mal dos dois e comentando com o marido o quanto sempre os achou irritante.
Só quero terminar dizendo que essa nota baixa não faz jus ao quão bom este filme é. Não consigo expressar em palavras o tanto que eu gostei desse filme, pena ser tão mal compreendido. Sem sombra de dúvidas consegue ser mais incisivo e menos maniqueísta que Beleza Americana. E o livro, escrito em 1961, tende a se tornar cada vez mais atual conforme a passagem do tempo.
"Frank: I'm not happy about it, but I have the backbone not to run away from my responsibilities."
A Verdade sobre Marlon Brando
4.4 71 Assista AgoraSe por um lado o documentário traz uma visão interessante da vida artística de Brando, por outro há claramente uma tentativa de suavizar questões obscuras de sua personalidade e vida pessoal. Não é um material ruim. Seu problema é ser omisso quanto a realidade dos fatos.
Vale a pena a conferida, mas não é, nem de longe, um registro imparcial da vida de Marlon Brando.
Eu, Tu, Eles
3.1 135Trilha sonora mais linda que existe, assinada pelo artista mais lindo do mundo!
Mistérios e Paixões
3.8 312Talvez o filme mais desafiador da carreira de David Cronenberg. Tudo aqui é metáfora para uma análise profunda dá degradação humana.
Consegui (depois da 3ª tentativa, diga-se de passagem) terminar o livro recentemente e confesso que não me agradou 100%. Apesar de Burroughs não ser o meu escritor favorito da literatura beat, é certamente o que mais me incomoda e exerce fascínio.
Creio que a melhor forma de compreender um pouco dessa estória é concebê-la como um retrato da mente de um viciado e a descoberta de sua sexualidade (principalmente se você nunca leu nada do autor em questão). Fora disso, é complicado tentar encontrar qualquer lógica em tanta loucura. O excesso de surrealismo pode agredir a sensibilidade de alguns, mas não vejo como poderia ter sido diferente.
É realmente uma pena um filme tão bom ser tão subestimado.
Recomendadíssimo.
Cobain: Montage of Heck
4.2 344 Assista AgoraUma obra feita com esmero, resultado de um ótimo trabalho de decupagem. O maior acerto do documentário é, de longe, trazer o passado à tona sem fazer uso de uma narrativa construída sobre a morte de Kurt.
O cinismo dos pais e da madrasta é impressionante. Sério, quem é que acredita naquele discurso tão dissonante e fajuto?!
Eu não espero nenhuma participação do Dave Grohl em qualquer produção que tenha o envolvimento da Courtney. Só acho que Novoselic, sendo o único da banda a ser entrevistado, poderia ter dito muito mais do que disse. Senti um misto de má vontade e desânimo toda vez que ele falava.
É um excelente material, que vale a pena ser conferido.
Soaked In Bleach
3.2 31Aberração cinematográfica é pouco pra esse lixo misógino, sensacionalista e pretensioso.
Nas Paredes da Pedra Encantada
3.7 5Há uma pedra estranha que me diz
Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por sumé
Mãe!
4.0 3,9K Assista AgoraComo se não bastasse a explicação mastigada no final, Aronofsky não se aguentou e saiu explicando as entrelinhas do filme nas entrevistas que andou dando por aí, parecendo nenhum pouco interessado na capacidade interpretativa de seu público. Em menos de uma semana a internet inteira já tinha sacado todas as simbologias e metáforas. Ele poderia ter dado uma de Lynch e entendido que o espectador precisa conversar com a obra, não com o diretor.
David Lynch: A Vida de Um Artista
4.0 45Lendo os comentários, percebe-se que o pessoal de fato não entendeu a proposta do documentário. Pelo visto, esperavam explicações sobre os trabalhos cinematográficos dele; afinal, é o que o subtítulo sugere. Francamente, acho que alguns fãs ainda esperam algo que Lynch já afirmou inúmeras vezes não estar disposto a dar: explicações mastigadas. Meio ingênuo, né?
O grande mérito do doc é justamente não cair nas tentações de se utilizar dos filmes famosos do diretor como elementos da narrativa. É simplesmente sensacional quando, por exemplo, a estrutura organiza harmonicamente passagens perturbadoras de sua vida com imagens de pinturas mais perturbadoras ainda. Só eleva coerência do que está sendo dito.
Ainda assim, muita coisa aqui diz mais sobre a gênese de seu cinema experimental do que uma mera análise superficial pode proporcionar. Ligando os pontos certos, dá pra sacar o quanto as histórias que ele nos conta são reveladoras.
Não é difícil imaginar que a visão (sonho, pesadelo, delírio?) bisonha de uma mulher nua, ensanguentada e perambulando durante a noite pela rua, anos depois serviria de inspiração para a criação da personagem de Isabella Rossellini em Blue Velvet.
Lynch não julga suas interpretações dos filmes acima das do espectador. Sua arte fala por si só, e sempre admirei isso. Destrinchar um filme desse jeito, comprometeria não só grande parte do teor de subjetividade que ele carrega, como também o livre pensar de quem assiste.
Não quero dizer, com isso, que o fato dele não fazer essa acepção signifique que não há uma intenção artística que antecede a obra - provavelmente há. Mas quando se trata de Lynch, a parada é muito mais sobre as sensações que aquilo te provoca do que sobre o que você consegue entender racionalmente.
Ouvi dizer que ele, que não é nenhum pouco chegado a entrevistas, aceitou a ideia de participar do projeto para que sua filha, Lula, até então com quatro anos, pudesse ter uma espécie de recordação da história de vida do pai, narrada por ele mesmo. Parece que o velhinho não faz muita coisa no dia a dia além de pintar e brincar com a pequenina. O que vi foi um homem que pinta solitária e intensamente, uma pessoa estranhamente apática com relação ao mundo que vivemos.
Gosto da imagem dele contemplando o vazio em meio a uma nuvem de fumaça, mas não me parece a mesma figura que um dia chegou a assustar o próprio pai.
“David, I don't think you should have children.”
Não só teve, como ela herdou o talento pai, hahaha.
Vida longa a uma das vozes autorais mais reconhecidas e fascinantes da sétima arte!!!
Sombras da Vida
3.8 1,3K Assista AgoraCinco minutos de Rooney Mara punindo a si mesma com uma torta pra te fazer refletir sobre o passado e o quão difícil é mantê-lo vivo.
Em Ritmo de Fuga
4.0 1,9K Assista AgoraEdgar Wright não tem filme ruim. No final das contas, a Marvel acabou fazendo um favor tirando ele da parada.
Amores Canibais
2.4 393 Assista AgoraPira louquíssima. Gostando ou não, é uma perspectiva diferente de como se daria a decadência moral da sociedade em um contexto pós-apocalíptico. Mesmo sem ter pescado totalmente a real proposta da coisa, gostei razoavelmente do que assisti. Mas convenhamos: Keanu Revees dando uma de Jim Jones não convence nem põe medo em ninguém, cada vez mais canastrão. Em alguns momentos durante o primeiro ato o roteiro ameaça se desdobrar em algumas camadas bem interessantes, em outros parece não saber muito bem que rumo seguir. E, apesar de não ter conseguido me conectar profundamente com nenhum dos protagonistas, consegui me importar minimamente com o destino dos dois. Mesmo com gore pesado em algumas cenas, o tom do filme é ameno na maior parte do tempo. Curti muito a edição, e adorei toda a psicodelia contida na cena noturna do deserto. Pela narrativa pouquíssimo palatavél para o público casual, acho que muita gente vai acabar se decepcionando. Guardadas as devidas proporções, lembra um pouco algo que o Korine faria.
Eu gostei, achei maneiro.
De Canção Em Canção
2.9 373 Assista Agora“I told myself any experience is better than no experience.”
Grave
3.4 1,1KO canibalismo como uma metáfora viva da repressão e despertar sexual feminino. Com exceção de “Anticristo”, não lembro de ter visto um filme que se apropriou de forma tão original do grotesco para expor os processos violentos e opressivos aos quais as mulheres ainda são submetidas numa sociedade tão absurdamente machista e misógina. Uma vez que você percebe que Justine faz o que faz por necessidade, e não por preferência, torna-se fácil interpretar as discussões que o longa evoca. Quem assistir com o único objetivo de ver gore, não vai pescar a essência da mensagem, pois o filme vai bem além disso.
Belíssima e provocativa estreia de Julia Ducournau.
Os Excêntricos Tenenbaums
4.1 856 Assista AgoraWes Anderson é um dos diretores mais interessantes, autorais e artísticos trabalhando na atualidade. Não à toa, os críticos adoram tanto seus filmes. Os Excêntricos Tenenbaums é um exemplo de uma direção impecável e uma montagem que beira a perfeição. É simplesmente surreal o domínio que Wes possui sobre a mise-en-scène. Demorou um pouco pra me pegar, mas nada que tenha comprometido a qualidade da trama. Este é meu quinto filme do diretor, e é interessante observar como a maioria de seus personagens se encontram profundamente imersos em sentimentos que oscilam entre melancolia, depressão, solidão e tédio. A loucura de uma família emocionalmente disfuncional poderia ter sido retratada de maneira extremamente comum e banal nas mãos de outro diretor qualquer, porém, convencional é tudo que este filme não é. A trilha sonora também é um espetáculo à parte. Não sei nem o que dizer, apenas sentir.
Pra mim, já é um das produções mais lindas e eficientes dos últimos tempos. Pura contemplação estética.
P.s.: Muito legal ver os irmãos Wilson trabalhando juntos.
"Margot: I think we're just gonna to have to be secretly in love with each other and leave it at that, Ritchie."
Três é Demais
3.8 274 Assista AgoraRegular, mas muito divertido. Aqui, Wes já mostrava sua pira pela simetria e talento para conduzir histórias muito simples com uma versatilidade incrível. No entanto, meu maior problema com esse roteiro é o fato de que não há evolução nesse protagonista, em nenhum momento ele é confrontado e obrigado a lidar com as consequências das suas escolhas. Senti falta de uma mudança profunda que trouxesse reflexão ao espectador. Além disso, me irrita sobremaneira que as personagens femininas sejam todas unidimensionais e submissas em relação à figura masculina. Porém, a atuação do Bill Murray é o que eleva o filme a outro nível. Meu Deus, é realmente incrível como esse homem consegue ser cativante e melancolicamente engraçado sem fazer esforço algum. Schwartzman também está incrível em seu personagem insuportável, o típico rebelde sem causa.
Uma curiosidade legal: O local das filmagens é o mesmo onde Wes cursou o high school.
No mais, não acho Hushmore superestimado como dizem. Me diverti bastante e dei boas risadas.
Mais que recomendado!
A Vida Marinha com Steve Zissou
3.8 455 Assista AgoraUm filme que tem os planos do Wes Anderson e o Seu Jorge cantando Bowie em português, não precisa de indicação.
A Autópsia
3.3 1,0K Assista AgoraDepois do primeiro ato, tudo neste filme é terrivelmente ruim e previsivelmente patético. Não é o pior do gênero, mas se leva tão a sério que consegue se tornar detestável em todos os níveis possíveis. O típico filme que depois de uma semana você não lembra mais de nada. Destaque para o final, que consegue a proeza de piorar o que já não era bom. Fechando com chave de ouro, a última cena ainda sinaliza que vem uma franquia caça-níquel dessa coisa horrorosa por aí. Bléh!
Amaldiçoada
3.8 372 Assista AgoraUm porre, chato pra caralho, misógino, repetitivo, sem propósito, e chato pra caralho de novo. O filme é de péssimo mal gosto e uma completa falta de bom senso. Uma cena de violência de gênero atrás da outra, expostas de maneira gratuita somente pra chocar e desenvolver personagens masculinos desprezíveis. Um total desfavor.
Hot Girls Wanted: Turned On
3.7 33 Assista AgoraA ironia é que a própria série se encarrega de desconstruir esse conceito ridículo e falacioso que é a pornografia dita feminista. Ainda me assusta ver como essa indústria acaba com a vida psicológica, social e física dessas pessoas. Isso não é sobre o que você entende por "escolha", é sobre capitalizar em cima de uma violência filmada e usar isso como forma de entretenimento.
A bandeira que Erika Lust levanta simplesmente não funciona na prática. O fato é que a exploração de corpos femininos não vai mudar porque algumas mulheres estão produzindo sua própria pornografia. Nenhuma humanização ou empoderamento vai vir através de pornografia, nem de prática sexual nenhuma.
O quarto episódio ainda traz reflexões sobre o reforço de estereótipos racistas que a indústria pornô alimenta e difunde, hipersexualização do corpo do homem negro e fetichização interracial. Fiquei bastante chocada com o fato de atrizes brancas cobrarem uma "taxa extra"para contracenar com atores negros. Depois, fui atrás e descobri que a taxa serve como um bônus para cobrir o risco de ficar "manchada" na indústria, e também porque supostamente homens negros têm tamanhos de pênis que requerem muito mais esforço físico da parte delas. Inacreditável.
A série não excede expectativas - pelo menos as minhas não foram excedidas. Creio ter sido feita por conta do sucesso que foi o documentário, mesmo assim consegue promover questionamentos interessantes e necessários.
P.s: O segundo episódio, do meu ponto de vista, é absolutamente descartável.
Cara Gente Branca (Volume 1)
4.3 304 Assista AgoraNetflix, fofa, esqueceu a divulgação no churrasco? Bem bosta perceber que tá acontecendo a mesmíssima coisa que aconteceu com The Get Down. Netflix com esse marketing lixo lança uma série com bandeira racial e quase não faz divulgação nenhuma, porque esse pessoal só tá interessado em exaltar série branca e vazia que faz apologia ao suicídio. Preguiça eterna de vocês.
O Verão da Minha Vida
3.7 592 Assista AgoraNem sei o que dizer de tantos comentários romantizando uma produção machista e objetificante dessa. Muito nojento.
P.s.: O Steve Carell assinou um contrato em branco? Puta que pariu!
Big Little Lies (1ª Temporada)
4.6 1,1K Assista Agora“A situação mais perigosa para uma mulher não é um homem desconhecido na rua ou mesmo o inimigo em tempos de Guerra, mas o marido ou amante no isolamento de seu lar” – Gloria Steinem.
Me surpreendeu de uma maneira que eu não esperava, e apesar do alto teor feminista, ressalto a importância do aviso de gatilho. Impossível não se deixar afetar pelo alto nível de violência de gênero que a minissérie exibe. Cinco mulheres sofrendo, em maior ou menor grau, violências morais, físicas e sexuais. Pesadíssimo perceber a permissividade da nossa cultura com a violência machista.
Mas aí vem aquele final, contrapondo-se ao processo de socialização feminina que introjeta rivalidade e alimenta entre mulheres uma misoginia internalizada que, muitas vezes, nos impede de identificar nossos verdadeiros opressores, dificultando assim nossa organização e empoderamento coletivo enquanto classe oprimida. Que venham mais produções assim.
“Jane Chapman: I mean a fat, ugly man can still be funny and lovable and successful, but it’s like it’s the most shameful thing for a woman to be.”
13 Reasons Why (1ª Temporada)
3.8 1,5K Assista AgoraÉ bizarro notar as consequências fatais da masculinadade tóxica que é imposta aos garotos desde cedo. Enquanto a feminilidade existe como um sistema de submissão, a masculinadade se impõe como um sistema de dominação e superioridade de homens. Mas a que preço? E quem não consegue cumprir essa obrigação de ser macho? É perceptível a dificuldade geral em indetificar sintomas relacionados à depressão masculina.
Justin apresentava claros sinais de depressão, mas ninguém notou. Assim como não notaram os da Hannah.
Essa menina foi morta por um sistema patriarcal, que violenta tudo que foge do masculino e rejeita qualquer indício do feminino. Atribuir culpa dessa maneira individual resolve muito pouco, quase nada. Enquanto não mudarmos o modo como lidamos com nossas crianças do sexo masculino e desconstruirmos essa cultura que dita que ser um homem é reprimir tudo que sente e machucar mulheres, nada mudará realmente.
Vejo muitos comentários aqui na página de homens revoltados, se dizendo chocados com tamanha brutalidade cometida contra Hannah, mas são os mesmos que se opõem ao movimento feminista e suas pautas, as mesmas pautas levantadas na série. Hannah's morrem todos os dias, e você provavelmente conhece ou já ajudou a matar alguma.
Foi Apenas um Sonho
3.6 1,3K Assista AgoraMe identifiquei num nível tão pessoal que dá até vergonha.
O desajuste é da vida ou de quem se sente desajustado? April e Frank são um retrato social da vida pós-moderna, de um fenômeno que se intensificou há poucas décadas.
Alguns pontos:
É doloroso ver como a personagem da Kate Winslet sofre com esse papel de "esposa perfeita", tendo que aguentar caladinha todas as consequências que essa condição traz consigo. Um retrato fiel daquela década, que perdura até os dias de hoje e subjuga mulheres de uma maneira cruel. Puro patriarcalismo. Frank não admite, mas secretamente está muito mais conformado e menos indignado com aquela vidinha provinciana do que a esposa.
O tempo todo ela parece interessada em buscar a vocação dele. Mas e com a vocação dela, quem se preocupa? Observamos no começo que seu grande sonho era atuar, no entanto, isso é deixado de lado após aquela noite desastrosa da peça. Então, é isso? Nenhuma possibilidade de descobrir outra vocação ou até mesmo continuar insistindo na atuação? Me senti imensamente angustiada por ela se anular tanto. Acho que, no fundo, a coitada não tava nem aí pra vocação de ninguém, tudo que importava era dar o fora daquele buraco o mais rápido possível e deixar de viver aquela rotina medíocre de merda. Mesmo que pra isso, tivesse que enfrentar dupla ou tripla jornada (sim, porque não imagino um homem daquela década esfregando chão e limpando bumbum de criança). Com ela trabalhando, quem cuidaria da casa e das crianças? O trabalho doméstico sempre recai em maior parte sobre a mulher, todo mundo sabe disso. Hoje em dia o sexicismo na divisão do trabalho das tarefas domésticas vem se diluindo, mas naquela época pós-guerra não era assim que funcionava. Embora esse não seja diretamente um tema discutido entre os dois, é um ponto interessante a se pensar.
A cena do café da manhã é emblemática, muito bizarra mesmo. No começo, achei que ela tentaria matá-lo de repente, enquanto o pobre comia os ovos mexidos. Só percebi suas reais intenções quando ele sai pra trabalhar e ela finalmente tira a máscara e desaba em choro. A facilidade com que ele se deixa enganar pela atuação dissimulada da esposa e acredita que está tudo bem, mesmo depois de tudo que aconteceu, é surreal. Autoenganar-se para não ter que lidar com o fato de que sua vida está ruindo.
Em seguida, ela se despede dos filhos através de uma ligação.
Vi o aborto como suicídio, que ela planejou enquanto refletia no bosque depois da briga em que ambos disseram coisas terríveis um para o outro. É ali que ela desiste de tudo. Junto com o feto, também foi abortado seu próprio sonho e qualquer sopro de esperança que havia lhe restado. Pobre April, só queria mudar de vida e sair da monotonia. Mas sabemos que esse pertencimento idealizado que ela tanto almejava não existe. Três meses em Paris... e depois? Não dá pra viver fugindo, nem para mudar de vida a cada ano. Complicado.
A corretora de imóveis, interpretada pela incrível Kathy Bates, que dizia o tempo todo como o casal era especial, termina o filme falando mal dos dois e comentando com o marido o quanto sempre os achou irritante.
Só quero terminar dizendo que essa nota baixa não faz jus ao quão bom este filme é. Não consigo expressar em palavras o tanto que eu gostei desse filme, pena ser tão mal compreendido. Sem sombra de dúvidas consegue ser mais incisivo e menos maniqueísta que Beleza Americana.
E o livro, escrito em 1961, tende a se tornar cada vez mais atual conforme a passagem do tempo.
"Frank: I'm not happy about it, but I have the backbone not to run away from my responsibilities."