Confesso que eu não veria este filme se ele não fosse dirigido e roteirizado por quem foi, pois desde Pearl Harbor não assisto mais romances que tenham Ben Affleck como protagonista. Questão de autopreservação cinéfila mesmo. Mas diante de tantos comentários esdrúxulos e idiotas, eu me pergunto o que as pessoas realmente esperam de um filme do Terrence Malick e da forma como ele conta suas histórias. Vocês vão assistir filme abstrato de diretor existencialista esperando plot twist e vêm aqui dizer que deu sono? Que canseira.
Nossa, que filme ruim, cara. Até quando a Sofia Coppola vai achar que cinema se sustenta de fotografia? Filme sem rumo do cacete! Não sei como uma diretora com tantas boas referências faz algo assim, bobo, inofensivo, inócuo e sem consistência, mas principalmente, pretensiosamente preenchido com uma suposta melancolia na tentativa de deixá-lo poético. Acaba sendo só irritante, e não há elenco que salve. Nem o Bill Murray, que antes de abrir a boca eu já tô rindo, conseguiu dar jeito nisso. A mensagem sobre o vazio presente nas relações interpessoais cotidianas fica clara rápido demais e depois disso você só quer que o filme acabe. Chatíssimo. É sempre um terreno arenoso quando a Sofia se mete a tentar retratar o tema "vazio existencial". Não adianta, o modo como ela aborda esse assunto não me convence, pois não acho que a mesma tenha talento suficiente para isso. Outros filmes já abordaram de maneira muito mais eficaz a solidão e isolamento do indivíduo vivendo em grandes centros urbanos. Também não gostei nada de como a cultura japonesa é exotificada no filme, quase beirando a xenofobia. Como se o ambiente e as pessoas ali fossem sempre motivo para estranheza ou ridicularização. Americanos sendo americanos. Eu, particularmente, não consegui tolerar a inépcia do roteiro. Não me conectei em nenhum nível com a história. Talvez nas mãos de outra diretora poderia ter sido bem melhor.
Será que o Lars não cansa nunca de ser um babaca megalomaníaco de merda? Senti uma puta de uma vergonha alheia daquela postura passivo-agressiva dele. Qual a necessidade daquilo?! Depoimento altamente constrangedor e dispensável.
Sem dúvida, Logan marca uma nova fase da Marvel e eleva os filmes de (anti-)heróis a outro nível. Para nós, fãs, é indescritível o sentimento de satisfação ao ver um filme que consegue esmiuçar os aspectos mais relevantes de um dos personagens mais complexos e memoráveis do universo Marvel. Hugh Jackman entrega o Wolverine que sempre sonhei em ver. Só tenho a agradecer a todos os envolvidos.
Nossa, achei muito fraquinho, arrastado e perdido demais. Apesar da história ser realmente trágica, o roteiro é pouquíssimo interessante e bastante desconexo. Acontece que em nenhum momento consegui me sentir envolvida pela atmosfera melancólica, depressiva e niilista que o filme tenta passar. Destaco negativamente a personagem Sara: que pessoa inexpressiva, chata e insuportavelmente sonsa! Argh! Isso vale para o resto dos personagens também, que são totalmente arquetípicos e interpretados por atores péssimos. Tudo fica ainda pior lá pela segunda metade do filme, quando o roteiro se perde em minúcias mais desinteressantes ainda. A única coisa que se salva aqui é a fotografia, mas não é suficiente para tornar a trama menos superficial e rasa do que ela é. Não consigo recomendar, achei tão boring que levei dias para terminá-lo. O tipo de filme que não assistiria jamais uma segunda vez.
É um problema quando você começa a se identificar com os personagens do Dolan, não é? Terminei este filme com emoções oscilando entre a completa indiferença e um incômodo latente que quase gritava através do silêncio. Definitivamente, não foi fácil. Uma das características que mais gosto em Dolan, é a forma como ele chama o espectador a se indagar sobre a passividade de seu personagem principal ao apresentá-lo, alguém que mantém-se na mais completa apatia quanto as coisas que o afeta. Como compreender esse sofrimento subjetivo e reprimido, mas latente, que visivelmente corrói e atormenta a alma daquele homem? A melhor maneira de entender todo esse sofrimento é observando a dinâmica familiar e comportamental daqueles indivíduos. Se você cair na bobagem de passar os noventa minutos tentando descobrir o motivo pelo qual Louis voltou depois de tanto tempo, vai perder o bonde, pois isso realmente não é algo que importa do ponto de vista narrativo. O filme não é sobre um membro desgarrado tentando contar uma notícia ruim para família que ele abandonou há doze anos atrás, é sobre as inúmeras tentativas feitas por ele para lidar com o doloroso fato de que ele já não sente mais nada por aquelas pessoas. São como estranhos. Em determinado momento, a inabilidade afetiva típica de famílias fragilizadas e fragmentadas se faz tão presente no ambiente, que o filme torna-se constrangedor a ponto de você se contorcer na poltrona. E é assustador perceber que, em maior ou menor escala, estamos todos inseridos num contexto tão parecido quanto. Isso é algo absurdamente contemporâneo. Imagino que o menino Dolan deva passar muito tempo na terapia.
"Antoine: Detesto escutar. Detesto conversar. Pensam que os calados são bons ouvintes, mas eu calo a boca para me deixarem em paz."
Até quando estupro será um artifício para desenvolver personagens femininas sob a justificativa de fortalecê-las emocional e fisicamente? Por que, apesar de todo debate sobre violência de gênero e cultura do estupro, esse parece ser um recurso narrativo cada vez recorrente em filmes e séries? Não entendo, sério. Para piorar, como se não bastasse aquele estupro desnecessário e completamente fora de contexto, a personagem engravida e decide ter o filho sob o argumento mais pró-vida que você respeita: o filho não deve pagar pelos erros dos pais. Really?! Que desserviço! Isso porque a diretora, Patricia Rozema, afirmou que se interessou em dirigir o longa pela representatividade feminina. Decepcionante. Ninguém precisa de mais personagens femininas desenvolvidas a partir de estupros.
A ideia em si promove a discussão e consequentemente nos leva à reflexão, mas acho que o diretor perdeu a mão nos trintas minutos finais. É um final esdrúxulo e sofrivelmente previsível, que vai de encontro a todos os valores primários passados durante o filme e quase põe tudo a perder. Pela relevância do tema abordado, não havia porque do filme ser conduzido com tamanha ausência de urgência como foi. O jogo de ética é deixado de lado em prol de um orgulho quase descabido. Certamente, a situação pela qual a protagonista passa é o tipo de situação que mexe com nossa noção de moralidade, no entanto, penso que faltou cadência para que seus atos acontecessem com mais coerência e menos condescendência. Vale a pena pela reflexão que suscita. O capitalismo altamente burocrático faz, circunstancialmente, com que nossos valores girem em torno de dinheiro, em troca de sobrevivência. O processo de degradação financeira do indivíduo acontece quase como num efeito dominó em que cada evento desencadeia outro e, em meio a tudo isso, resta-nos somente tentar sobreviver a esse modus operandi, que nos escraviza e nos forja diariamente.
Uma aula de como iniciar uma conversa com o crush da maneira correta:
– Vai falar com ela, temos tempo. – Perguntar o que pensam sobre trabalhadores em luta armada contra as classes exploradoras e as estruturas do Estado? Ou se ela é uma materialista dialética e aceita a primazia da luta de classes?
Será que vocês conseguem, por um momento, imaginar um filme que conta a história de um homem heterosexual que descobre que sente prazer em ser estuprado e começa a fazer joguinhos sexuais com seu estuprador? Ué, por que não? Vocês também sentem desejo como a gente, correto? Por que, então, um homem não poderia ter um orgasmo durante um estupro? Imagina só o alvoroço que seria uma vítima masculina de estupro gozando, enquanto leva uns tapas na cara. Uau! Mas uma mulher tudo bem, né? "Meu corpo, minhas regras", certo? Se ela gostou, quem somos nós pra julgar? Nota-se que uma fantasia doentia dessas só sairia da cabeça de um homem. É uma fantasia masculina, fomentada e incentivada pela pornografia, achar que uma mulher sentiria qualquer tipo de prazer numa violência dessas. Na cabeça dos homens, estamos sempre disponíveis para sexo, sempre com vontade, negar fogo é para as fracas, né não? Mesmo que inicialmente ela não queira, convenhamos que não dá pra resistir aos encantos de um belo pau de um desconhecido tentando te violar enquanto te espanca gostoso, vocês não acham?
O mundo está mudando, amores. Empoderamento masculino também é uma realidade. Homens empoderados de verdade não precisam mais esconder suas vontades ocultas de ser enrabados nem se colocar nesse papel de vítima, eles invertem o jogo a seu favor e tomam o controle da situação.
Este é um filme sobre as consequências de não conseguir (se)perdoar e uma demonstração dolorosa do que acontece quando a dor do luto nos esmaga o peito e tira nosso fôlego.
Nietzsche dizia que se você olha muito tempo para o abismo, ele te olha de volta. E é ao voltar para aquela cidade e se deparando novamente com seus próprios abismos internos, que Lee se vê escorregando em direção a um abismo que pode, decisivamente, engoli-lo de vez. Aliás, o maior trunfo aqui está na forma como o diretor decide contar sua história, além da excelente construção de seus personagens, especialmente Lee. Casey Affleck conseguiu dar vida a um homem completamente danificado, calejado e petrificado pela tristeza e culpa que carrega dentro de si. A carga emocional entre ele e a personagem da Michelle Williams chega a ser palpável, tudo graças aos bons diálogos e a boa química dos atores.
Acho que entender a atmosfera amarga do filme em sua totalidade dependerá do quão próximo dessa realidade o espectador está ou já esteve alguma vez. Não, não estou dizendo que o filme "não é para todo mundo", pois odeio essa expressão presunçosa e rasteira. Maaaas, porém, no entanto, creio fortemente que o atual momento de vida de quem assistirá será crucial para que se consiga capitar toda consternação dos personagens. Estar no mesmo estado de angústia que os protagonistas te fará compreendê-los num outro nível. Não é o tipo de filme que vai te arrancar lágrimas com cenas melodramáticas ou qualquer recurso narrativo barato geralmente usados para arrancar lágrimas do espectador, o roteiro aqui não te oferece maniqueísmos ou questões fáceis. A grandeza dessa obra reside na sutileza de um roteiro extremamente humano e nas reflexões que ele nos traz. À medida que uma certa melancolia generalizada se instala na trama, tornar-se inevitável não pensar sobre a solidão e suas facetas mais aterrorizantes; não somente a dos personagens, mas a nossa própria. O sentimento transpassado é de que, por mais sem sentido, funesta e destituída de alegria que a vida tenha se tornado, ela não para nem desacelera para ninguém. De uma forma ou de outra, mesmo em meio à dor, temos que seguir em frente. A lição que me ficou é que, eventualmente, a vida tirará algo de você. Somos invadidos pela sensação de autoreflexão quase involuntária de que a vida é difícil para qualquer um e este mundo não é fácil para ninguém.
Um filme devastador, e um dos mais belos que já vi. Não achei que me identificaria tanto. O modo como este filme me afetou era algo pelo qual eu não esperava. Saí do cinema com um gosto amargo na boca. DEVE ser visto.
"Randi Chandler: I said a lot of terrible things to you. My heart was broken, and I know yours is broken, too."
Que porrada na cara! Tive que pausar o filme algumas vezes porque não conseguia absorver tanta maldade, e também porque me senti atordoada em inúmeras cenas. Este filme é um retrato nu e cru da miséria do white trash australiano. Em diversos momentos chega a ser constrangedor observar todo esse estado de penúria ao qual a humanidade foi reduzida. A vida é bem dura naquele fim de mundo sujo e não há nenhuma perspectiva de futuro ou esperança que torne a existência daquelas pessoas um pouco menos miserável. Fadados ao pior da degradação moral e humana, uma vez que o abandono afetivo e a precariedade financeira surgem como fatores determinantes e condicionantes àquelas vidas, são pessoas que estão por conta própria, totalmente entregues à abjeção.
John não matava pelo ódio aos homossexuais e pedófilos, matava por sadismo, por prazer na crueldade e no sofrimento do outro. Se não houvesse gays e pedófilos na comunidade, ele arranjaria outro grupo para aterrorizar e despejar toda sua covardia travestida de "justiça". O filme traz uma reflexão social muito válida; com exceção da psicopatia, esse homem não é muito diferente desses "justiceiros sociais", tão presentes na realidade brasileira e que barbarizam comumente em nome de crimes cometidos contra "gente de bem". O que nos tornamos, hein? Métodos de tortura sobrepondo-se às leis. E a vida humana se reduz a nada.
Pobre Jamie. Foi apenas um adolescente que, completamente à toa e carente de uma figura paterna, acabou fazendo o que não queria e finalmente se deixou corromper pelas práticas homicidas do padrasto (claramente psicopata). Me doeu ver o tanto de abuso físico e psicológico que esse garoto teve que aguentar.
Sem dúvida, um dos filmes mais pesados - gáfica e psicologicamente - que já vi.
Filmeco medíocre, desonesto e misógino em absolutamente todos aspectos possíveis! Argh! Não sei de onde consegui força pra terminar de ver. Bla bla bla romantização de abuso bla bla bla protagonista babaca e completamente insuportável transformado em herói bla bla bla another boring movie, that's the truth!
Começo dizendo que os aspectos técnicos de La La Land são IM-PE-CÁ-VEIS, mas não foi esse o principal motivo pelo qual fui assisti-lo. Portanto, se você está interessado em ler sobre tais aspectos, minhas palavras não são para você, pois não discorrerei aqui sobre essa questão. E sempre deixando bem claro que minha opinião tem ligação e influência direta com a importância que eu dou ao cinema como ferramenta de análise capaz de dissecar e refletir a realidade cultural e política de um determinado contexto e sua época. Então, se você é um desses espectadores que só tem a pretensão de sentar na poltrona, comer sua pipoca e "desligar o cérebro" (odeio essa expressão), essas palavras também não são para você, ok? Nem perca seu tempo. Dito isso, bora falar dos impactos negativos que a mensagem desse filme traz consigo e das fantasias meritocráticas inatingíveis que ele reforça.
Esse é meu segundo filme do Damien Chazelle, e uma coisa que eu notei é que ele sempre pauta seus roteiros na busca incansável de seus personagens pelo reconhecimento e pela fama, e se você não alcança esse patamar do "sonho americano", você é um loser que não se esforçou o bastante pelos seus objetivos. São filmes que nos trazem motivação através de uma mensagem que é falsa e altamente ilusória. Particularmente, também me incomoda que este diretor goste tanto de celebrar ritmos construídos e eternizados por negros mas sempre protagonizados por brancos. Quando fui assistir esse filme eu não esperava de forma alguma que ele pintasse um retrato fidedigno da verdadeira realidade dos aspirantes a artistas em Los Angeles, mas eu também não esperava uma ode tão descarada ao "sonho americano" e a todo esse discurso de ideal meritocrático falido, e é exatamente em cima desse subjetivismo narcísico e conservador que essa obra se sustenta. Justamente por isso foi bem estranho ver o feedback da galera saindo da sessão, todo mundo muito empolgado, me dizendo o quão incrível se sentiam e eu não consegui sentir a mesma coisa. Quer dizer, com quem esse filme tá realmente falando? Com certeza não comigo e nem com você. Me vêm à mente algumas reflexões inevitáveis; o quanto cada vez mais somos empurrados numa competitividade sem fim em busca de um ideal de sucesso inalcançável para maioria esmagadora da população, o quanto essa mentalidade dominante que a mídia e o capital nos impõe sobre o que é felicidade, forma um senso comum acerca das definições de "ganhar" e "perder". Ao final, uma coisa ecoou na minha cabeça: a glamourização de chegar a ser alguém famoso, por vezes, grita mais alto que a própria vontade de fazer arte e causar algum impacto no mundo através dela. Há infinitas maneiras de se viver a arte, tantas possibilidades... E me irrita sobremaneira que isso seja resumido a holofotes e aplausos. Tudo aqui é reduzido ao deslumbre do american way of life. Poxa, penso que é importante começarmos a questionarmos as dinâmicas e parâmetros de sucesso que nos são impelidos desde sempre por meio de produções como esta, e em meio a tudo isso, encontrar satisfação pessoal, não como utopia, mas como concretude. O filme tem seus momentos de beleza, mas o fato de estar vinculado a uma determinada perspectiva de classe me fez, do meu lugar, enxergá-lo quase como um devaneio, uma realidade fantasiosa. Apesar de estar sendo ovacionado pelos motivos errados, La La Land faz uma bela homenagem aos clássicos musicais da velha Hollywood - onde os tempos eram outros -. A problemática aqui reside no lugar em que essa mensagem está estruturada. O filme é bacana, divertiu, valeu o ingresso! Não preciso concordar moralmente como um filme para achá-lo bom. Sei separar as coisas.
"Mia: People love what other people are passionate about."
"Droga! Fui pega mais uma vez pelo combo pôster-tumblr-feelings + "universo paralelo" na sinopse. Isso precisa parar!
Ok, o filme começa e já nos primeiros minutos você pega um bode desgraçado do protagonista, isso porque não demora muito até percebermos que ele é aquele tipo de cara insuportavelmente pedante, que se acha melhor que todo mundo e adora fazer referências pseudointelectuais enquanto analisa tudo e todos a sua volta. Logo em seguida, somos apresentados a Kimberly, ela representa o típico esteriótipo da ~manic pixie dream girl~ e seu espírito livre equivale ao tamanho da sua falta de personalidade. Que mulher insuportável! Em diversos momentos fica claro que essa chata de galocha não nutre nenhuma boa vontade de manter a relação, pois a mesma está ocupada demais fazendo cobranças infundadas, criando paranóias e causando brigas do nada. Eu sei que muita gente que assistiu ao filme deve ter pensado que a culpa do relacionamento não ter dado certo foi somente do Dell por ele ter desperdiçado todas as chances que lhe foram dadas, mas isso não é totalmente verdade. A melancolia dela, às vezes, vai no limiar do óbvio e do sem sentido. Não há nada de muito verdadeiro na maneira como a personagem se relaciona com as pessoas ao seu redor. Dell e Kimberly são duas figuras extremamente egoístas que não curtem muito encarar as consequências das atitudes que tomam, agem por impulso e, ao primeiro sinal de que as coisas não estão dando certo, desistem um do outro e decidem seguir caminhos diferentes. Mesmo que em alguns momentos você torça para que aquilo dê certo de uma vez, você já sabe que está fadado ao fracasso. A relação deles não é saudável e, em diversas ocasiões, vira quase uma competição de quem machuca mais o outro. E eu nem sei se dá pra chamar aquilo de amor, uma vez que o próprio Dell assume a possibilidade de que talvez o que ele sente seja apenas dependência emocional. Acontece que dificulta muito se conectar com a história que o filme quer te contar quando você não está nem aí para os personagens e tudo que os circunda soa unidimensional e enfadonho. Grande parte dos diálogos são constituídos, literalmente, de referências que não acrescentam nada do ponto de vista narrativo. O que eu vi foi um amontoado de quotes artificiais e clichês que quase sempre caem pra filosofia barata. Nada soa orgânico nas conversas entre eles, simplesmente porque não parece o tipo de coisa que uma pessoa diria pra outra na vida real. Não sei, acho que faltou um diretor de mãos firmes pra corrigir alguns probleminhas de atuação dos dois atores, ambos parecem muito afetados e caricatos, sem falar na ausência de química. O filme toca muito na questão de só valorizar uma coisa quando essa coisa é perdida, e nos faz pensar em como aquilo que você diz e aquilo que o outro entende nem sempre é a mesma coisa. Mas nenhuma dessas reflexões é desenvolvida com profundidade. Sobram boas ideias, bastante estilização e uma premissa interessante, só que tudo acaba engolido pelo excesso de referências e falta de verossimilhança no comportamento dos personagens. Comet não foi um bom filme pra mim, mas talvez um coração partido ou um término recente afete seu julgamento sobre ele.
"Dell: If you're capable of making choices that knowingly hurts the other person, that's not love."
Bem repetitivo. O problema desse filme é que ele é chato pra cacete e ainda se acha muito sensível e autoral. Não há absolutamente nada acima das expectativas aqui. Com um roteiro que perambula em círculos e sempre volta para o mesmo lugar, parece mais um videoclipe de duas horas de duração. Prepotente. Essa é a palavra, prepotente ao extremo. Gaspar Noé é irritantemente autorreferente, irritantemente longo e insuportavelmente excessivo. Há um narcisismo sem precedentes aqui, muito maior do que o normalmente visto em suas obras anteriores. É como se ele tivesse a certeza de estar trabalhando num projeto realmente transgressor e genial. Se vende como um filme de amor - a começar pelo título -, mas não há nenhum tipo de amor aqui além do amor próprio. Btw, esse Murphy é um dos personagens mais desprezíveis que eu já tive o desprazer de ver em cena. Tudo gira em torno do pau dele e todas as vontades precisam ser obedecidas ao bel prazer dele. É o cara que vai acabar com a tua vida, te deixar na merda, e tudo bem, porque ele fode gostoso pra caralho.
E pra quem acha que esse filme quebrou tabus por causa de um punhado de cenas de sexo esteticamente bonitas e uma fotografia marcante, só uma coisinha: Lars Von Trier, John Cameron Mitchell, entre outros diretores e diretoras já fizeram isso, e de maneira infinitamente mais profunda. Eu recomendaria o filme numa boa se as pessoas soubessem assistir sem romantizar cada fragmento de abuso que veem pela frente, mas vocês não sabem; pelo menos é o que os arroubos (“belo!”, “poético!”, “libertador!”) da opinião geral sugerem nos comentários. Encerro minha opinião com uma frase dita pelo protagonista, que reflete a real filosofia por trás desse filme.
"Murphy: I wanna make movies out of blood, sperm and tears. That's the essence of life."
Todos os elogios não são suficientes perante ao que Andrei Tarkovski merece. Sessenta minutos é tão pouco tempo... Eu poderia ficar horas a fio apenas ouvindo este homem falar sobre sua arte.
Eu passo mal quando lembro da genialidade dessa obra-prima, sério mesmo. Revisitei-o; continua irretocavelmente poderoso, lírico e delicado. Aquele que viu essa obra e não sentiu nada, não gosta de cinema. Salve Tarkovski!
Pura identidade cultural. Uma ode ao sentimento mais cantado e decantado de todos os tempos, para todos que já sofreram ou sofrerão por ele. Se a paixão é a coisa mais brega do mundo, então somos todos bregas.
Não tem nada de novo a dizer sobre a indústria da moda, mas funciona como vislumbre de como se dá a construção social da figura feminina em cima da estética, e também como desmonte da estrutura do comércio de mulheres. A história assusta porque mostra mulheres grotescas e animalescas como homens. Refn tenta, porém, não consegue esconder sua visão fetichista sobre o tema. Além do mais, a vagarosidade, pedância e autoindulgência do filme começaram a incomodar demais a partir do segundo ato. Talvez eu dê uma segunda chance em outro momento.
É incrível como esse filme não conseguiu se aprofundar em absolutamente nenhuma das questões que se propôs a abordar. Não vou nem citar o outro famigerado filme da diretora aqui, como vi muitos tecerem comparações, porque o cu não tem a ver com as calças. São temáticas completamente diferentes e qualquer comparação entre as duas obras é sem sentido. Ok, o filme quer nos falar sobre um adolescente descobrindo-se sexualmente, identidade de gênero, sua líbido, seus amores, tudo isso acontecendo em meio a descoberta de que, na verdade, ele foi sequestrado enquanto ainda bebê na maternidade pela mulher que ele achou a vida inteira ser sua mãe. Eu tô aqui me perguntando como a Anna achou que seria possível desenvolver todas essas questões em míseros 80min. Deu no que deu: um filme que parece um curta, que acaba sem mais nem menos e que falha no propósito de causar reflexões. O processo da transição de gênero é totalmente negligenciado pelo roteiro, não há esmero, não há um olhar mais apurado sobre a questão. O filme parece dizer apenas que gênero é performance, e acho que nem se tocaram disso. Os problemas no roteiro não param por aí... Como ignorar o fato de que a mãe de criação e a irmã (também roubada) simplesmente desaparecem da metade do filme pra lá? O que diabos foi aquilo?! Outra coisa que me incomodou foi a construção do protagonista, ele não parece ter sido feito pra cativar. O machismo do personagem se manifesta em pequenas ações (não ajudando em casa, sequer sabe fritar um ovo), além disso, eu diria que ele tem sérias tendências à violência contra mulher (isso fica nítido nas cenas dele empurrando agressivamente sua ficante/namorada e a mãe biológica toda vez que explode de raiva). Pierre é apático, é tapado, sem carisma, não encanta, e eu acho que ele foi feito pra ser assim mesmo. Sem falar que a atuação do ator deixa muito a desejar. O resto do elenco é mediano em suas atuações (com exceção do Matheus Nachtergaele, sempre em nível máximo de excelência). Aproveitando o ensejo, por quê não falar do elenco principal majoritariamente branco? Ignorar completamente um problema não é a melhor forma de resolvê-lo, e sendo uma mulher engajada em questões políticas e socias dentro do cinema, achei que Anna tivesse entendido isso. Mas pelo visto não. Que foi? A representatividade do filme já estava esgotada com um garoto branco, classe média, confuso sobre questões de gênero e sexualidade? Me poupe! Me recordo que quando num debate na USP Anna foi perguntada sobre o porquê de Jéssica (Que Horas Ela Volta) ser branca, e não negra (como era originalmente no roteiro), ela respondeu que havia analisado melhor, que se a personagem fosse branca, o filme seria mais sobre racismo do que sobre classismo. Além do mais, a atriz apareceu, ela se encantou com seu talento e foi decidido que seria assim. Eu amei Jéssica. Mas qual a desculpa aqui dessa vez? Não vejo nenhum motivo plausível para as únicas negras do filme serem uma empregada uniformizada e uma secretária. No mais, premissa foda, que poderia ter sido infinitamente melhor executada, mas que falha miseravelmente ao entregar um drama muito mal estruturado e escrito com personagens subdesenvolvidos. É realmente uma pena uma trama tão boa como essa não ter tido seu potencial explorado ao máximo.
"Pierre: Eu não escolhi ser sequestrado duas vezes!"
Não traz nada de novo ou que já não saibamos sobre a alienação, futilidade e breguice dos jovens da alta classe brasileira. A ideia de "estupidez branca adolescente" já foi utilizada de maneira bem mais eficaz em vários outros filmes do mesmo estilo. Neville D’Almeida nos apresenta uma crítica travestida de sátira a toda uma geração completamente alheia à realidade à volta, através de cinco amigos burgueses, que não tem problemas financeiros, mas adoram alugar uma laje no morro pra fazer suas festinhas regadas a sexo, drogas e... sertanejo. O tédio e falta de propósito de suas vidas os fazem almejar algo fora de suas bolhas. O diretor também não parece nem um pouco preocupado em fazer com que o público nutra alguma simpatia por seus personagens. Não é que eles tenham sido mal utilizados, é que eles foram construídos pra serem dessa maneira, desagradáveis e insuportáveis. Depois de muitos "cus" "pirocas", todo tipo de piadinha machista de cunho sexual e muito falocentrismo, você já não aguenta mais olhar pra cara daquela gente afetada. As interpretações são extremamente teatrais, os personagens falam gritando o filme inteiro, e em alguns momentos é incompreensível o que está sendo dito. Com exceção da Bruna Linzmeyer e do Johnny Massaro, achei o elenco bem ruinzinho, mal escalado. A ideia era boa, mas o desenvolvimento ficou abaixo do que eu esperava. Além do fato do filme ser bem curto, o que deixou o mesmo corrido demais, focando somente no espetáculo. Apesar dos defeitos, o longa traz duas questões bastante atuais para reflexão: A “fetichização” da favela e como a burguesia brasileira se apropria de outras culturas sem qualquer pudor.
P.s: Eu sei que elite cafona não é privilégio carioca, não. Tem em tudo quanto é lugar. Mas não deu pra deixar de notar que a do Rio de Janeiro tem todo um jeitinho inconfundível, né? Risos.
"Amsterdã: "Vocês sabem como é mal acordar e já sacar que você tá fodido?"
Creio ser necessário passar por essa realidade para entender verdadeiramente o filme e seus personagens, caso contrário, é provável que passará os 96min sentindo raiva dos dois. A verdade é que não sei se sou capaz de dar uma análise imparcial sobre esse filme, não somente por me identificar com a estória que é retratada mas também porque me vejo intensamente representada nesse personagem. Me sinto muito mal ao vê-lo. Testemunhei muitos aqui reclamando do roteiro, não concordo com tais reclamações, pois o roteiro, apesar de simples, me parece adequado ao que o filme se propõe. Chega assustar a forma como Dolan conseguiu transpor com tamanha verossimilhança o sentimento de amor e ódio que permeia aquela relação, a histeria, as explosões, e não menos importante, os raros momentos em que ele consegue se conectar com a mãe. Tudo sem maniqueísmos, tal como na vida real. O ódio que as pessoas sentiram de Hubert equivale ao ódio que o próprio Hubert sente de si mesmo, por sentir o que sente, e da forma como sente. Porque, por mais que seja difícil pra quem está fora acreditar/entender, é bem mais doloroso do que parece. A verdade é nua e crua: Às vezes o que separa duas pessoas é, justamente, estarem muito próximas. Às vezes, e só às vezes, você precisa ficar longe de quem ama, pra não correr o risco de não amar mais.
“Não há outra coisa que matar nessa vida que o inimigo interior, o duplo no duro núcleo. Dominá-lo é uma arte. Até que ponto somos artistas?”
Regurgitei com tanto pretensiosismo. Aonde está a genialidade desse filme? Com um roteiro extremamente irregular (aliás, o roteiro é o maior dos problemas aqui), o filme se sustenta somente por seu senso estético e se rende à lugares comuns sem o menor apuro, tornando uma estória naturalmente fácil de gerar identificação num desfile de obviedades e simbolismos vazios. Queria muito ter gostado da obra, por ela representar uma temática bastante interessante pra mim, que é esse processo tão tumultuado de transição do jovem para a idade adulta e todo sentimento de inadequação inerente que envolve esse período, tudo de um ponto de vista externo e quase onírico. Mas é impossível nutrir qualquer interesse ou empatia por personagens tão unidimensionais e, sobretudo, por um protagonista tão apático, pedante e fora do lugar. Um filme sem objetivo, que não apresenta nenhum propósito e ainda se acha muito poético e intimista. Tinha potencial.
Amor Pleno
3.0 558Confesso que eu não veria este filme se ele não fosse dirigido e roteirizado por quem foi, pois desde Pearl Harbor não assisto mais romances que tenham Ben Affleck como protagonista. Questão de autopreservação cinéfila mesmo. Mas diante de tantos comentários esdrúxulos e idiotas, eu me pergunto o que as pessoas realmente esperam de um filme do Terrence Malick e da forma como ele conta suas histórias. Vocês vão assistir filme abstrato de diretor existencialista esperando plot twist e vêm aqui dizer que deu sono? Que canseira.
Encontros e Desencontros
3.8 1,7K Assista AgoraNossa, que filme ruim, cara. Até quando a Sofia Coppola vai achar que cinema se sustenta de fotografia? Filme sem rumo do cacete! Não sei como uma diretora com tantas boas referências faz algo assim, bobo, inofensivo, inócuo e sem consistência, mas principalmente, pretensiosamente preenchido com uma suposta melancolia na tentativa de deixá-lo poético. Acaba sendo só irritante, e não há elenco que salve. Nem o Bill Murray, que antes de abrir a boca eu já tô rindo, conseguiu dar jeito nisso. A mensagem sobre o vazio presente nas relações interpessoais cotidianas fica clara rápido demais e depois disso você só quer que o filme acabe. Chatíssimo.
É sempre um terreno arenoso quando a Sofia se mete a tentar retratar o tema "vazio existencial". Não adianta, o modo como ela aborda esse assunto não me convence, pois não acho que a mesma tenha talento suficiente para isso. Outros filmes já abordaram de maneira muito mais eficaz a solidão e isolamento do indivíduo vivendo em grandes centros urbanos.
Também não gostei nada de como a cultura japonesa é exotificada no filme, quase beirando a xenofobia. Como se o ambiente e as pessoas ali fossem sempre motivo para estranheza ou ridicularização. Americanos sendo americanos.
Eu, particularmente, não consegui tolerar a inépcia do roteiro. Não me conectei em nenhum nível com a história. Talvez nas mãos de outra diretora poderia ter sido bem melhor.
A cena do beijo foi tão nonsense, desconexa e desnecessária que eu nem fiquei curiosa em saber o que ele sussurrou no ouvido dela.
"Bob: The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you."
Invadindo Bergman
4.1 20Será que o Lars não cansa nunca de ser um babaca megalomaníaco de merda? Senti uma puta de uma vergonha alheia daquela postura passivo-agressiva dele. Qual a necessidade daquilo?! Depoimento altamente constrangedor e dispensável.
Logan
4.3 2,6K Assista AgoraSem dúvida, Logan marca uma nova fase da Marvel e eleva os filmes de (anti-)heróis a outro nível. Para nós, fãs, é indescritível o sentimento de satisfação ao ver um filme que consegue esmiuçar os aspectos mais relevantes de um dos personagens mais complexos e memoráveis do universo Marvel. Hugh Jackman entrega o Wolverine que sempre sonhei em ver. Só tenho a agradecer a todos os envolvidos.
Bridgend
2.8 25Nossa, achei muito fraquinho, arrastado e perdido demais. Apesar da história ser realmente trágica, o roteiro é pouquíssimo interessante e bastante desconexo. Acontece que em nenhum momento consegui me sentir envolvida pela atmosfera melancólica, depressiva e niilista que o filme tenta passar. Destaco negativamente a personagem Sara: que pessoa inexpressiva, chata e insuportavelmente sonsa! Argh! Isso vale para o resto dos personagens também, que são totalmente arquetípicos e interpretados por atores péssimos. Tudo fica ainda pior lá pela segunda metade do filme, quando o roteiro se perde em minúcias mais desinteressantes ainda.
A única coisa que se salva aqui é a fotografia, mas não é suficiente para tornar a trama menos superficial e rasa do que ela é.
Não consigo recomendar, achei tão boring que levei dias para terminá-lo. O tipo de filme que não assistiria jamais uma segunda vez.
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 304 Assista AgoraÉ um problema quando você começa a se identificar com os personagens do Dolan, não é? Terminei este filme com emoções oscilando entre a completa indiferença e um incômodo latente que quase gritava através do silêncio. Definitivamente, não foi fácil.
Uma das características que mais gosto em Dolan, é a forma como ele chama o espectador a se indagar sobre a passividade de seu personagem principal ao apresentá-lo, alguém que mantém-se na mais completa apatia quanto as coisas que o afeta. Como compreender esse sofrimento subjetivo e reprimido, mas latente, que visivelmente corrói e atormenta a alma daquele homem? A melhor maneira de entender todo esse sofrimento é observando a dinâmica familiar e comportamental daqueles indivíduos. Se você cair na bobagem de passar os noventa minutos tentando descobrir o motivo pelo qual Louis voltou depois de tanto tempo, vai perder o bonde, pois isso realmente não é algo que importa do ponto de vista narrativo.
O filme não é sobre um membro desgarrado tentando contar uma notícia ruim para família que ele abandonou há doze anos atrás, é sobre as inúmeras tentativas feitas por ele para lidar com o doloroso fato de que ele já não sente mais nada por aquelas pessoas. São como estranhos. Em determinado momento, a inabilidade afetiva típica de famílias fragilizadas e fragmentadas se faz tão presente no ambiente, que o filme torna-se constrangedor a ponto de você se contorcer na poltrona. E é assustador perceber que, em maior ou menor escala, estamos todos inseridos num contexto tão parecido quanto. Isso é algo absurdamente contemporâneo.
Imagino que o menino Dolan deva passar muito tempo na terapia.
"Antoine: Detesto escutar. Detesto conversar. Pensam que os calados são bons ouvintes, mas eu calo a boca para me deixarem em paz."
No Escuro da Floresta
3.1 191 Assista AgoraAté quando estupro será um artifício para desenvolver personagens femininas sob a justificativa de fortalecê-las emocional e fisicamente? Por que, apesar de todo debate sobre violência de gênero e cultura do estupro, esse parece ser um recurso narrativo cada vez recorrente em filmes e séries?
Não entendo, sério. Para piorar, como se não bastasse aquele estupro desnecessário e completamente fora de contexto, a personagem engravida e decide ter o filho sob o argumento mais pró-vida que você respeita: o filho não deve pagar pelos erros dos pais.
Really?! Que desserviço! Isso porque a diretora, Patricia Rozema, afirmou que se interessou em dirigir o longa pela representatividade feminina. Decepcionante. Ninguém precisa de mais personagens femininas desenvolvidas a partir de estupros.
A Lição
3.9 26 Assista AgoraA ideia em si promove a discussão e consequentemente nos leva à reflexão, mas acho que o diretor perdeu a mão nos trintas minutos finais. É um final esdrúxulo e sofrivelmente previsível, que vai de encontro a todos os valores primários passados durante o filme e quase põe tudo a perder. Pela relevância do tema abordado, não havia porque do filme ser conduzido com tamanha ausência de urgência como foi. O jogo de ética é deixado de lado em prol de um orgulho quase descabido. Certamente, a situação pela qual a protagonista passa é o tipo de situação que mexe com nossa noção de moralidade, no entanto, penso que faltou cadência para que seus atos acontecessem com mais coerência e menos condescendência.
Vale a pena pela reflexão que suscita.
O capitalismo altamente burocrático faz, circunstancialmente, com que nossos valores girem em torno de dinheiro, em troca de sobrevivência. O processo de degradação financeira do indivíduo acontece quase como num efeito dominó em que cada evento desencadeia outro e, em meio a tudo isso, resta-nos somente tentar sobreviver a esse modus operandi, que nos escraviza e nos forja diariamente.
Capitão Fantástico
4.4 2,7K Assista AgoraUma aula de como iniciar uma conversa com o crush da maneira correta:
– Vai falar com ela, temos tempo.
– Perguntar o que pensam sobre trabalhadores em luta armada contra as classes exploradoras e as estruturas do Estado? Ou se ela é uma materialista dialética e aceita a primazia da luta de classes?
Elle
3.8 886Será que vocês conseguem, por um momento, imaginar um filme que conta a história de um homem heterosexual que descobre que sente prazer em ser estuprado e começa a fazer joguinhos sexuais com seu estuprador? Ué, por que não? Vocês também sentem desejo como a gente, correto? Por que, então, um homem não poderia ter um orgasmo durante um estupro? Imagina só o alvoroço que seria uma vítima masculina de estupro gozando, enquanto leva uns tapas na cara. Uau!
Mas uma mulher tudo bem, né? "Meu corpo, minhas regras", certo? Se ela gostou, quem somos nós pra julgar?
Nota-se que uma fantasia doentia dessas só sairia da cabeça de um homem. É uma fantasia masculina, fomentada e incentivada pela pornografia, achar que uma mulher sentiria qualquer tipo de prazer numa violência dessas. Na cabeça dos homens, estamos sempre disponíveis para sexo, sempre com vontade, negar fogo é para as fracas, né não? Mesmo que inicialmente ela não queira, convenhamos que não dá pra resistir aos encantos de um belo pau de um desconhecido tentando te violar enquanto te espanca gostoso, vocês não acham?
O mundo está mudando, amores. Empoderamento masculino também é uma realidade. Homens empoderados de verdade não precisam mais esconder suas vontades ocultas de ser enrabados nem se colocar nesse papel de vítima, eles invertem o jogo a seu favor e tomam o controle da situação.
LIBERTEM-SE! :)
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraEste é um filme sobre as consequências de não conseguir (se)perdoar e uma demonstração dolorosa do que acontece quando a dor do luto nos esmaga o peito e tira nosso fôlego.
Nietzsche dizia que se você olha muito tempo para o abismo, ele te olha de volta. E é ao voltar para aquela cidade e se deparando novamente com seus próprios abismos internos, que Lee se vê escorregando em direção a um abismo que pode, decisivamente, engoli-lo de vez.
Aliás, o maior trunfo aqui está na forma como o diretor decide contar sua história, além da excelente construção de seus personagens, especialmente Lee. Casey Affleck conseguiu dar vida a um homem completamente danificado, calejado e petrificado pela tristeza e culpa que carrega dentro de si. A carga emocional entre ele e a personagem da Michelle Williams chega a ser palpável, tudo graças aos bons diálogos e a boa química dos atores.
Acho que entender a atmosfera amarga do filme em sua totalidade dependerá do quão próximo dessa realidade o espectador está ou já esteve alguma vez.
Não, não estou dizendo que o filme "não é para todo mundo", pois odeio essa expressão presunçosa e rasteira. Maaaas, porém, no entanto, creio fortemente que o atual momento de vida de quem assistirá será crucial para que se consiga capitar toda consternação dos personagens. Estar no mesmo estado de angústia que os protagonistas te fará compreendê-los num outro nível. Não é o tipo de filme que vai te arrancar lágrimas com cenas melodramáticas ou qualquer recurso narrativo barato geralmente usados para arrancar lágrimas do espectador, o roteiro aqui não te oferece maniqueísmos ou questões fáceis. A grandeza dessa obra reside na sutileza de um roteiro extremamente humano e nas reflexões que ele nos traz. À medida que uma certa melancolia generalizada se instala na trama, tornar-se inevitável não pensar sobre a solidão e suas facetas mais aterrorizantes; não somente a dos personagens, mas a nossa própria.
O sentimento transpassado é de que, por mais sem sentido, funesta e destituída de alegria que a vida tenha se tornado, ela não para nem desacelera para ninguém. De uma forma ou de outra, mesmo em meio à dor, temos que seguir em frente. A lição que me ficou é que, eventualmente, a vida tirará algo de você. Somos invadidos pela sensação de autoreflexão quase involuntária de que a vida é difícil para qualquer um e este mundo não é fácil para ninguém.
Um filme devastador, e um dos mais belos que já vi. Não achei que me identificaria tanto. O modo como este filme me afetou era algo pelo qual eu não esperava. Saí do cinema com um gosto amargo na boca.
DEVE ser visto.
"Randi Chandler: I said a lot of terrible things to you. My heart was broken, and I know yours is broken, too."
Os Crimes de Snowtown
3.4 113 Assista AgoraQue porrada na cara! Tive que pausar o filme algumas vezes porque não conseguia absorver tanta maldade, e também porque me senti atordoada em inúmeras cenas.
Este filme é um retrato nu e cru da miséria do white trash australiano. Em diversos momentos chega a ser constrangedor observar todo esse estado de penúria ao qual a humanidade foi reduzida. A vida é bem dura naquele fim de mundo sujo e não há nenhuma perspectiva de futuro ou esperança que torne a existência daquelas pessoas um pouco menos miserável. Fadados ao pior da degradação moral e humana, uma vez que o abandono afetivo e a precariedade financeira surgem como fatores determinantes e condicionantes àquelas vidas, são pessoas que estão por conta própria, totalmente entregues à abjeção.
Duas coisas:
John não matava pelo ódio aos homossexuais e pedófilos, matava por sadismo, por prazer na crueldade e no sofrimento do outro. Se não houvesse gays e pedófilos na comunidade, ele arranjaria outro grupo para aterrorizar e despejar toda sua covardia travestida de "justiça". O filme traz uma reflexão social muito válida; com exceção da psicopatia, esse homem não é muito diferente desses "justiceiros sociais", tão presentes na realidade brasileira e que barbarizam comumente em nome de crimes cometidos contra "gente de bem". O que nos tornamos, hein? Métodos de tortura sobrepondo-se às leis. E a vida humana se reduz a nada.
Pobre Jamie. Foi apenas um adolescente que, completamente à toa e carente de uma figura paterna, acabou fazendo o que não queria e finalmente se deixou corromper pelas práticas homicidas do padrasto (claramente psicopata). Me doeu ver o tanto de abuso físico e psicológico que esse garoto teve que aguentar.
Sem dúvida, um dos filmes mais pesados - gáfica e psicologicamente - que já vi.
Passageiros
3.3 1,5K Assista AgoraFilmeco medíocre, desonesto e misógino em absolutamente todos aspectos possíveis! Argh! Não sei de onde consegui força pra terminar de ver.
Bla bla bla romantização de abuso bla bla bla protagonista babaca e completamente insuportável transformado em herói bla bla bla another boring movie, that's the truth!
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista Agora~~ unpopular opinion ~~
Começo dizendo que os aspectos técnicos de La La Land são IM-PE-CÁ-VEIS, mas não foi esse o principal motivo pelo qual fui assisti-lo. Portanto, se você está interessado em ler sobre tais aspectos, minhas palavras não são para você, pois não discorrerei aqui sobre essa questão. E sempre deixando bem claro que minha opinião tem ligação e influência direta com a importância que eu dou ao cinema como ferramenta de análise capaz de dissecar e refletir a realidade cultural e política de um determinado contexto e sua época. Então, se você é um desses espectadores que só tem a pretensão de sentar na poltrona, comer sua pipoca e "desligar o cérebro" (odeio essa expressão), essas palavras também não são para você, ok? Nem perca seu tempo. Dito isso, bora falar dos impactos negativos que a mensagem desse filme traz consigo e das fantasias meritocráticas inatingíveis que ele reforça.
Esse é meu segundo filme do Damien Chazelle, e uma coisa que eu notei é que ele sempre pauta seus roteiros na busca incansável de seus personagens pelo reconhecimento e pela fama, e se você não alcança esse patamar do "sonho americano", você é um loser que não se esforçou o bastante pelos seus objetivos. São filmes que nos trazem motivação através de uma mensagem que é falsa e altamente ilusória. Particularmente, também me incomoda que este diretor goste tanto de celebrar ritmos construídos e eternizados por negros mas sempre protagonizados por brancos.
Quando fui assistir esse filme eu não esperava de forma alguma que ele pintasse um retrato fidedigno da verdadeira realidade dos aspirantes a artistas em Los Angeles, mas eu também não esperava uma ode tão descarada ao "sonho americano" e a todo esse discurso de ideal meritocrático falido, e é exatamente em cima desse subjetivismo narcísico e conservador que essa obra se sustenta. Justamente por isso foi bem estranho ver o feedback da galera saindo da sessão, todo mundo muito empolgado, me dizendo o quão incrível se sentiam e eu não consegui sentir a mesma coisa. Quer dizer, com quem esse filme tá realmente falando? Com certeza não comigo e nem com você. Me vêm à mente algumas reflexões inevitáveis; o quanto cada vez mais somos empurrados numa competitividade sem fim em busca de um ideal de sucesso inalcançável para maioria esmagadora da população, o quanto essa mentalidade dominante que a mídia e o capital nos impõe sobre o que é felicidade, forma um senso comum acerca das definições de "ganhar" e "perder".
Ao final, uma coisa ecoou na minha cabeça: a glamourização de chegar a ser alguém famoso, por vezes, grita mais alto que a própria vontade de fazer arte e causar algum impacto no mundo através dela.
Há infinitas maneiras de se viver a arte, tantas possibilidades... E me irrita sobremaneira que isso seja resumido a holofotes e aplausos. Tudo aqui é reduzido ao deslumbre do american way of life. Poxa, penso que é importante começarmos a questionarmos as dinâmicas e parâmetros de sucesso que nos são impelidos desde sempre por meio de produções como esta, e em meio a tudo isso, encontrar satisfação pessoal, não como utopia, mas como concretude.
O filme tem seus momentos de beleza, mas o fato de estar vinculado a uma determinada perspectiva de classe me fez, do meu lugar, enxergá-lo quase como um devaneio, uma realidade fantasiosa.
Apesar de estar sendo ovacionado pelos motivos errados, La La Land faz uma bela homenagem aos clássicos musicais da velha Hollywood - onde os tempos eram outros -. A problemática aqui reside no lugar em que essa mensagem está estruturada.
O filme é bacana, divertiu, valeu o ingresso! Não preciso concordar moralmente como um filme para achá-lo bom. Sei separar as coisas.
"Mia: People love what other people are passionate about."
Eu Estava Justamente Pensando em Você
3.6 372 Assista Agora"Droga! Fui pega mais uma vez pelo combo pôster-tumblr-feelings + "universo paralelo" na sinopse. Isso precisa parar!
Ok, o filme começa e já nos primeiros minutos você pega um bode desgraçado do protagonista, isso porque não demora muito até percebermos que ele é aquele tipo de cara insuportavelmente pedante, que se acha melhor que todo mundo e adora fazer referências pseudointelectuais enquanto analisa tudo e todos a sua volta. Logo em seguida, somos apresentados a Kimberly, ela representa o típico esteriótipo da ~manic pixie dream girl~ e seu espírito livre equivale ao tamanho da sua falta de personalidade. Que mulher insuportável! Em diversos momentos fica claro que essa chata de galocha não nutre nenhuma boa vontade de manter a relação, pois a mesma está ocupada demais fazendo cobranças infundadas, criando paranóias e causando brigas do nada.
Eu sei que muita gente que assistiu ao filme deve ter pensado que a culpa do relacionamento não ter dado certo foi somente do Dell por ele ter desperdiçado todas as chances que lhe foram dadas, mas isso não é totalmente verdade. A melancolia dela, às vezes, vai no limiar do óbvio e do sem sentido. Não há nada de muito verdadeiro na maneira como a personagem se relaciona com as pessoas ao seu redor. Dell e Kimberly são duas figuras extremamente egoístas que não curtem muito encarar as consequências das atitudes que tomam, agem por impulso e, ao primeiro sinal de que as coisas não estão dando certo, desistem um do outro e decidem seguir caminhos diferentes. Mesmo que em alguns momentos você torça para que aquilo dê certo de uma vez, você já sabe que está fadado ao fracasso. A relação deles não é saudável e, em diversas ocasiões, vira quase uma competição de quem machuca mais o outro. E eu nem sei se dá pra chamar aquilo de amor, uma vez que o próprio Dell assume a possibilidade de que talvez o que ele sente seja apenas dependência emocional.
Acontece que dificulta muito se conectar com a história que o filme quer te contar quando você não está nem aí para os personagens e tudo que os circunda soa unidimensional e enfadonho. Grande parte dos diálogos são constituídos, literalmente, de referências que não acrescentam nada do ponto de vista narrativo. O que eu vi foi um amontoado de quotes artificiais e clichês que quase sempre caem pra filosofia barata. Nada soa orgânico nas conversas entre eles, simplesmente porque não parece o tipo de coisa que uma pessoa diria pra outra na vida real. Não sei, acho que faltou um diretor de mãos firmes pra corrigir alguns probleminhas de atuação dos dois atores, ambos parecem muito afetados e caricatos, sem falar na ausência de química.
O filme toca muito na questão de só valorizar uma coisa quando essa coisa é perdida, e nos faz pensar em como aquilo que você diz e aquilo que o outro entende nem sempre é a mesma coisa. Mas nenhuma dessas reflexões é desenvolvida com profundidade.
Sobram boas ideias, bastante estilização e uma premissa interessante, só que tudo acaba engolido pelo excesso de referências e falta de verossimilhança no comportamento dos personagens.
Comet não foi um bom filme pra mim, mas talvez um coração partido ou um término recente afete seu julgamento sobre ele.
"Dell: If you're capable of making choices that knowingly hurts the other person, that's not love."
Love
3.5 883 Assista AgoraBem repetitivo. O problema desse filme é que ele é chato pra cacete e ainda se acha muito sensível e autoral. Não há absolutamente nada acima das expectativas aqui. Com um roteiro que perambula em círculos e sempre volta para o mesmo lugar, parece mais um videoclipe de duas horas de duração. Prepotente. Essa é a palavra, prepotente ao extremo. Gaspar Noé é irritantemente autorreferente, irritantemente longo e insuportavelmente excessivo. Há um narcisismo sem precedentes aqui, muito maior do que o normalmente visto em suas obras anteriores. É como se ele tivesse a certeza de estar trabalhando num projeto realmente transgressor e genial. Se vende como um filme de amor - a começar pelo título -, mas não há nenhum tipo de amor aqui além do amor próprio. Btw, esse Murphy é um dos personagens mais desprezíveis que eu já tive o desprazer de ver em cena. Tudo gira em torno do pau dele e todas as vontades precisam ser obedecidas ao bel prazer dele. É o cara que vai acabar com a tua vida, te deixar na merda, e tudo bem, porque ele fode gostoso pra caralho.
E pra quem acha que esse filme quebrou tabus por causa de um punhado de cenas de sexo esteticamente bonitas e uma fotografia marcante, só uma coisinha: Lars Von Trier, John Cameron Mitchell, entre outros diretores e diretoras já fizeram isso, e de maneira infinitamente mais profunda.
Eu recomendaria o filme numa boa se as pessoas soubessem assistir sem romantizar cada fragmento de abuso que veem pela frente, mas vocês não sabem; pelo menos é o que os arroubos (“belo!”, “poético!”, “libertador!”) da opinião geral sugerem nos comentários.
Encerro minha opinião com uma frase dita pelo protagonista, que reflete a real filosofia por trás desse filme.
"Murphy: I wanna make movies out of blood, sperm and tears. That's the essence of life."
Tempo de Viagem
4.1 23Todos os elogios não são suficientes perante ao que Andrei Tarkovski merece. Sessenta minutos é tão pouco tempo... Eu poderia ficar horas a fio apenas ouvindo este homem falar sobre sua arte.
O Espelho
4.3 264 Assista AgoraEu passo mal quando lembro da genialidade dessa obra-prima, sério mesmo. Revisitei-o; continua irretocavelmente poderoso, lírico e delicado. Aquele que viu essa obra e não sentiu nada, não gosta de cinema. Salve Tarkovski!
Vou Rifar Meu Coração
4.1 214VIVA O BREGA E SUAS HISTÓRIAS!!!
Pura identidade cultural. Uma ode ao sentimento mais cantado e decantado de todos os tempos, para todos que já sofreram ou sofrerão por ele. Se a paixão é a coisa mais brega do mundo, então somos todos bregas.
Demônio de Neon
3.2 1,2K Assista AgoraNão tem nada de novo a dizer sobre a indústria da moda, mas funciona como vislumbre de como se dá a construção social da figura feminina em cima da estética, e também como desmonte da estrutura do comércio de mulheres. A história assusta porque mostra mulheres grotescas e animalescas como homens. Refn tenta, porém, não consegue esconder sua visão fetichista sobre o tema. Além do mais, a vagarosidade, pedância e autoindulgência do filme começaram a incomodar demais a partir do segundo ato.
Talvez eu dê uma segunda chance em outro momento.
Mãe Só Há Uma
3.5 408 Assista AgoraÉ incrível como esse filme não conseguiu se aprofundar em absolutamente nenhuma das questões que se propôs a abordar. Não vou nem citar o outro famigerado filme da diretora aqui, como vi muitos tecerem comparações, porque o cu não tem a ver com as calças. São temáticas completamente diferentes e qualquer comparação entre as duas obras é sem sentido. Ok, o filme quer nos falar sobre um adolescente descobrindo-se sexualmente, identidade de gênero, sua líbido, seus amores, tudo isso acontecendo em meio a descoberta de que, na verdade, ele foi sequestrado enquanto ainda bebê na maternidade pela mulher que ele achou a vida inteira ser sua mãe. Eu tô aqui me perguntando como a Anna achou que seria possível desenvolver todas essas questões em míseros 80min. Deu no que deu: um filme que parece um curta, que acaba sem mais nem menos e que falha no propósito de causar reflexões. O processo da transição de gênero é totalmente negligenciado pelo roteiro, não há esmero, não há um olhar mais apurado sobre a questão. O filme parece dizer apenas que gênero é performance, e acho que nem se tocaram disso.
Os problemas no roteiro não param por aí... Como ignorar o fato de que a mãe de criação e a irmã (também roubada) simplesmente desaparecem da metade do filme pra lá? O que diabos foi aquilo?! Outra coisa que me incomodou foi a construção do protagonista, ele não parece ter sido feito pra cativar. O machismo do personagem se manifesta em pequenas ações (não ajudando em casa, sequer sabe fritar um ovo), além disso, eu diria que ele tem sérias tendências à violência contra mulher (isso fica nítido nas cenas dele empurrando agressivamente sua ficante/namorada e a mãe biológica toda vez que explode de raiva). Pierre é apático, é tapado, sem carisma, não encanta, e eu acho que ele foi feito pra ser assim mesmo. Sem falar que a atuação do ator deixa muito a desejar. O resto do elenco é mediano em suas atuações (com exceção do Matheus Nachtergaele, sempre em nível máximo de excelência).
Aproveitando o ensejo, por quê não falar do elenco principal majoritariamente branco? Ignorar completamente um problema não é a melhor forma de resolvê-lo, e sendo uma mulher engajada em questões políticas e socias dentro do cinema, achei que Anna tivesse entendido isso. Mas pelo visto não. Que foi? A representatividade do filme já estava esgotada com um garoto branco, classe média, confuso sobre questões de gênero e sexualidade? Me poupe! Me recordo que quando num debate na USP Anna foi perguntada sobre o porquê de Jéssica (Que Horas Ela Volta) ser branca, e não negra (como era originalmente no roteiro), ela respondeu que havia analisado melhor, que se a personagem fosse branca, o filme seria mais sobre racismo do que sobre classismo. Além do mais, a atriz apareceu, ela se encantou com seu talento e foi decidido que seria assim. Eu amei Jéssica. Mas qual a desculpa aqui dessa vez? Não vejo nenhum motivo plausível para as únicas negras do filme serem uma empregada uniformizada e uma secretária.
No mais, premissa foda, que poderia ter sido infinitamente melhor executada, mas que falha miseravelmente ao entregar um drama muito mal estruturado e escrito com personagens subdesenvolvidos. É realmente uma pena uma trama tão boa como essa não ter tido seu potencial explorado ao máximo.
"Pierre: Eu não escolhi ser sequestrado duas vezes!"
A Frente Fria que a Chuva Traz
2.5 152 Assista AgoraNão traz nada de novo ou que já não saibamos sobre a alienação, futilidade e breguice dos jovens da alta classe brasileira. A ideia de "estupidez branca adolescente" já foi utilizada de maneira bem mais eficaz em vários outros filmes do mesmo estilo. Neville D’Almeida nos apresenta uma crítica travestida de sátira a toda uma geração completamente alheia à realidade à volta, através de cinco amigos burgueses, que não tem problemas financeiros, mas adoram alugar uma laje no morro pra fazer suas festinhas regadas a sexo, drogas e... sertanejo. O tédio e falta de propósito de suas vidas os fazem almejar algo fora de suas bolhas. O diretor também não parece nem um pouco preocupado em fazer com que o público nutra alguma simpatia por seus personagens. Não é que eles tenham sido mal utilizados, é que eles foram construídos pra serem dessa maneira, desagradáveis e insuportáveis. Depois de muitos "cus" "pirocas", todo tipo de piadinha machista de cunho sexual e muito falocentrismo, você já não aguenta mais olhar pra cara daquela gente afetada. As interpretações são extremamente teatrais, os personagens falam gritando o filme inteiro, e em alguns momentos é incompreensível o que está sendo dito. Com exceção da Bruna Linzmeyer e do Johnny Massaro, achei o elenco bem ruinzinho, mal escalado. A ideia era boa, mas o desenvolvimento ficou abaixo do que eu esperava. Além do fato do filme ser bem curto, o que deixou o mesmo corrido demais, focando somente no espetáculo.
Apesar dos defeitos, o longa traz duas questões bastante atuais para reflexão: A “fetichização” da favela e como a burguesia brasileira se apropria de outras culturas sem qualquer pudor.
P.s: Eu sei que elite cafona não é privilégio carioca, não. Tem em tudo quanto é lugar. Mas não deu pra deixar de notar que a do Rio de Janeiro tem todo um jeitinho inconfundível, né? Risos.
"Amsterdã: "Vocês sabem como é mal acordar e já sacar que você tá fodido?"
Eu Matei Minha Mãe
3.9 1,3KCreio ser necessário passar por essa realidade para entender verdadeiramente o filme e seus personagens, caso contrário, é provável que passará os 96min sentindo raiva dos dois. A verdade é que não sei se sou capaz de dar uma análise imparcial sobre esse filme, não somente por me identificar com a estória que é retratada mas também porque me vejo intensamente representada nesse personagem. Me sinto muito mal ao vê-lo. Testemunhei muitos aqui reclamando do roteiro, não concordo com tais reclamações, pois o roteiro, apesar de simples, me parece adequado ao que o filme se propõe. Chega assustar a forma como Dolan conseguiu transpor com tamanha verossimilhança o sentimento de amor e ódio que permeia aquela relação, a histeria, as explosões, e não menos importante, os raros momentos em que ele consegue se conectar com a mãe. Tudo sem maniqueísmos, tal como na vida real. O ódio que as pessoas sentiram de Hubert equivale ao ódio que o próprio Hubert sente de si mesmo, por sentir o que sente, e da forma como sente. Porque, por mais que seja difícil pra quem está fora acreditar/entender, é bem mais doloroso do que parece.
A verdade é nua e crua: Às vezes o que separa duas pessoas é, justamente, estarem muito próximas. Às vezes, e só às vezes, você precisa ficar longe de quem ama, pra não correr o risco de não amar mais.
“Não há outra coisa que matar nessa vida que o inimigo interior, o duplo no duro núcleo. Dominá-lo é uma arte. Até que ponto somos artistas?”
Ponto Zero
3.3 45Regurgitei com tanto pretensiosismo. Aonde está a genialidade desse filme? Com um roteiro extremamente irregular (aliás, o roteiro é o maior dos problemas aqui), o filme se sustenta somente por seu senso estético e se rende à lugares comuns sem o menor apuro, tornando uma estória naturalmente fácil de gerar identificação num desfile de obviedades e simbolismos vazios. Queria muito ter gostado da obra, por ela representar uma temática bastante interessante pra mim, que é esse processo tão tumultuado de transição do jovem para a idade adulta e todo sentimento de inadequação inerente que envolve esse período, tudo de um ponto de vista externo e quase onírico. Mas é impossível nutrir qualquer interesse ou empatia por personagens tão unidimensionais e, sobretudo, por um protagonista tão apático, pedante e fora do lugar. Um filme sem objetivo, que não apresenta nenhum propósito e ainda se acha muito poético e intimista. Tinha potencial.