Uau, filme do Tarkovsky que me dilacerou por completo! Aquela sensação que senti fortemente com O ESPELHO, não só pela complexa estrutura. O SACRIFÍCIO dilacera quem vê porque fala do vazio do discurso humano, do vazio da espiritualidade do mundo moderno, encara a morte de frente, cita Nietzsche nitidamente, põe fogo tal como um Yukio Mishima. Sonho, devaneio, silêncio e morte --
"O que eu quis foi propor questões e demonstrar problemas que vão diretamente ao núcleo das nossas vidas e, desse modo, levar o. espectador de volta às fontes dormentes e ressequidas da nossa existência. Figuras, imagens visuais, estão muito mais capacitadas para realizar essa finalidade do que quaisquer palavras, particularmente hoje, quando o mundo perdeu todo o mistério e magia, e falar tornou-se mero palavrório — vazio de significado, como observa Alexander. Estamos sendo sufocados por uma avalanche de informações, contudo, ao mesmo tempo, nossos sentimentos permanecem intocados pelas mensagens de suprema importância que poderiam mudar nossas vidas"
Um dos filmes que mais gosto do Tarkovsky. Só a proposital colocação de um poeta, um cientista e um 'messias' já vale mais que todo um curso de teoria da literatura!! como és belo o embate dos discursos!! Na segunda parte, o escritor, ao chão, diz: "o homem escreve porque sofre, porque duvida de si". Como não lembrar de O ESPELHO (1975), momento em que Andrei diz que "escrever é um ato ético"?
E como venho procurando a Zona durante minha vida!!! Ah, Tarkovsky!!!
Pra mim, a maior poesia cinematográfica. Filme-fragmento. Memórias da mãe, da guerra, retorno bachelardiano à infância, união à natureza.. tudo em poesia. Filme pra viver e sentir.hoje e sempre.. Duas poesias declamadas no filme que me são magistrais: "Vivemos todos à beira mar". E como o poeta sabe bem como viver à beira mar. "Escrever é um ato de coragem. A obrigação do poeta é causar emoções espirituais, e não educar idólatras". belo!!
Solaris tem algo bastante peculiar: não apenas o debate existencial (filosoficamente falando), as leituras acerca do "oceano", Hari e a presença do devaneio (outra abertura filosófica, se se quer trazer uma epistemologia de Bachelard, por ex.). Mas a tomada do mundo (Solaris) como uma "imagem". (corroborada na cena
final, a terra --este nosso mundo sensível-- sob as nuvens, dentro d'uma ilha
). Essa é uma fundamentação neoplatônica e que vai aparecer nas outras obras de tarkovski. Sem teorizar,porque me falta ânimo p/ isso. mas acho que Solaris é uma perfeita introdução para as obras seguintes (digo: Stalker e Nostalgia).
Na minha visão (veja bem: na minha opinião) o filme é muito ingênuo. Assisti por força de uma amiga que também é operadora de Emergência.
1) Certamente a narrativa do filme acerta por mostrar o "outro lado" da vida de telefonistas de Emergência -- uma profissão que não é reconhecida por ninguém e muito hárdua (ninguém nos comentários aqui, inclusive, tocou nisso. Sim, li religiosamente os coments). 2) Após os 30min.iniciais o filme consegue uma atmosfera de tensão muito boa, com peripécias inteligentes. 3) A cena
da menina sequestrada deixando seu testemunho para a família
é cume do filme, o ponto alto de beleza e tristeza. 4) O filme abusa de "cópias" de muito mal-gosto, destruindo qualquer possibilidade de originalidade.4.1 -- O "sequestrador/assassino", com claros distúrbios psicológicos, parece uma caricatura de mal gosto de filmes como A Casa de Cera (2005) -- há uma cena diretamente referente. 4.2 -- a cena final,
fechar a porta e deixar um corpo ao cruel abandono
. Esta cena, inclusive, é totalmente deslocada da suposta proposta do filme. 5) A operadora Jordan é brilhante ao assumir as dores da vítima e ir atrás do algoz (violando uma tese de operadores que a própria fala, de não criar vinculo emocional com a vítima). Mas esse ato cai com a cena final, criando uma patética atmosfera. 6) Repito: minha opinião. 1 estrela, no MÁXIMO, pelo argumento do filme: mostrar à sociedade a dura vida dos operadores, "Estrelas" que lidam com um cruel mundo. Pessoas que também choram, desejam, amam, se indignam. Sim, há vida e amor do outro lado do telefone!!
(i) De uma trilha sonora maravilhosa, e que casa com a narrativa. O média-metragem, ao colocar soldados diante de bombas da 2ªGuerra, cria uma atmosfera de tensão no telespectador. A narrativa inscreve-se, assim, no limiar vida/morte. (ii) Confesso que duas coisas me intrigaram e intrigam ainda: a) A cena
do hospital, ao filmar um ato cirúrgico, parecendo-me que ficou isolada na proposta
; b) o magistral título da obra. Sobre essa última inquietação, é fabuloso pensar: como são soldados que são "escalados" a transportarem as bombas, lembrei-me muito dos antigos samurais nipônicos que encaravam com garra o enfrentamento "com" o limiar da morte. Certamente os nipônicos do Meiji, em situações similares, diriam que 'Hoje não haverá saída', não abandonando seus postos. Esta é uma leitura inicial. Não concordo em nada com que disse um renomado crítico que a obra é panfletária e desvia para questões ideológicas. Concordo com o estimado Sr. que a obra possa ser tomada de "registro histórico", documento, a depender do que entendamos por isso. Quem sabe nas próximas eu não venha com outras leituras. Vou alí ver umas bombas.
Belíssimo! Encantei-me mais com a Tatiana e sua escritura, fruto de um corpo pútrido: poesia libertária, poesia das ruas, magma antropogenético, antropogeográfico. literatura como denúncia!! E a citação do filósofo alemão Heidegger sobre o moldar o vazio foi extremamente oportuna, somado ao belo trabalho sonoro do Wisnik. Documentário blanchotianamente fundamental.
Ótimo filme. A presença do grande escritor João Guimarães Rosa é constante: desde o título, que é uma referência ao conto "Corpo Fechado", do livro SAGARANA, sua primeira obra (cheguei a este filme do Schubert Magalhães por causa do conto), até os elementos narrativos:
o filme já começa com uma citação do Rosa, o feiticeiro, o coronel Trajano (no conto seu nome é Targino), João de Deus (que no conto é Manuel Flôr)
. Interessante também é a presença dos elementos da prosa rosiana no filme: o misticismo, o pacto, o amor, a luta, a linha tênue vida/morte, a brabeza do sertenejo, o sertão sem fim.. É um filme fiel às influências e de um resultado original, somado a uma belíssima fotografia. Filme perseverante.
Lindo!! Tanto na forma quanto no conteúdo. Ao vê-lo, vieram-me à tona lembranças de um certo humor do Cláudio MacDowell; a crítica humorada à censura, do Mamoru Hosi. O filme cria uma ótima atmosfera para se pensar o processo criativo e censura na época.E interessante e irônica é uma fala do dono da emissora:
Divertidíssima comédia quebequense. Estranhamente o diretor não é conhecido no Brasil, devido a tamanha preciosidade de sua obra. Mas uma grandeza não no sentindo estético, e sim na singeleza com que toca no cotidiano, e mais especificamente no gênero "comédia". Sem dúvida, um filme que fala da comédia, do fazer comédia. Metanarrativa. Metacinema. A partir de peripécias muito bem construidas e uso de todos elementos da teoria da narrativa -- um roteiro invejável -- Emile Gaudreault nos apresenta um filme original: E se muitos no Brasil (com o atual momento em que acha-se que faz comédia, e o resultado é uma afetação sem igual) prestigiassem esse filme.. Meu anseio é que o diretor, em breve, venha a ser difundido no Brasil. Grande filme. Um talento canadense, certamente.
Simplicidade e beleza que circunfundem-se no filme. Em apenas uma noite e em um fragmento de avenida, isto é, em um recorte espaço-temporal todas as peripécias da narrativa se desdobram -- corroborando a maestria do roteiro. Estruturalismos à parte -- e como não sou cinéfilo, esquivo-me dos detalhes operacionais -- a narrativa do filme vem tocar em questões muito interessantes (e que, geralmente, o cinema francês tão bem toca): 1) a questão do "Outro", o estrangeiro, as margens, o periférico, as culturas em trânsito (os temas tão caros da corrente dos Estudos Culturais). 2) Os momentos de situações-limite onde todas as máscaras caem.Onde, diante do "Outro", do diferente, da minoria, aí os preconceitos arraigados saltam. Onde todo o "bom-mocismo" parece já não existir. Aí o filme desvela algo de forte: longe de psicanálises junguianas, desvelar
Bela fotografia do cotidiano e a simplicidade com que a câmera de Esposito filma o dia-a-dia dos quatro amigos-irmãos. O que mais chamou-me atenção foi a tese que Esposito segue pela boca do personagem Manu (Jean-Pierre Darroussin): que é maravilhoso quando o "amor e o riso caminham juntos". Ah.. uma tese que devíamos aprender! E penso que o filme ganha neste ponto: aprender a humildade e simplicidade da vida (pela ótica do personagem Manu, e também do professor Antoine). O que ironicamente contrasta com os caracteres do personagem empresário Alex (Marc Lavoine). Certamente, uma grande lição. Só elogios para LE COEUR DES HOMMES. (E ainda tocado com a beleza espiritual do personagem Manu..).
Lindo filme. Não conhecia o Bertrand Tavernier. Terceira obra sua, L'HORLOGER DE S-PAUL merece elogios desde o movimento de câmera até a diegese propriamente. Tudo com maestria e simplicidade: trilha sonora, cores e (o melhor) um final dignamente bergmaniano:
Primorosa comédia: fora os clichés, há algo de interessante no intercâmbio cultural, o contato com outras culturas, o papel do estrangeiro, o "Outro" -- essas discussões tão caras aos Estudos Culturais. Chez soi é isso: o "estar-em" casa. O filme é um ótimo convite, portanto.
É.. Não é mero acaso a aproximação com o poema do Manuel Bandeira, sobre o João Gostoso.. Meia estrela para a coerente trilha sonora; outra meia estrela pelo roteiro.
Dos documentários às obras de ficção, o que mais me chama atenção em Kawase é a inscrição da natureza, phýsis, e a colocação dos personagens em estado de contemplação -- pondo também o próprio espectador. Assim Kawase se mantém extremamente fiel à tradição nipônica que melhor soube lidar com a questão do silêncio, com o "pôr a palavra" em estado de "theoría", de contemplar. As obras de Kawase convidam à mística, ao neoplatonismo. Cinema que chama a filosofia. Sem dúvida, os clássicos do cinema e do teatro oriental desembocam em Naomi Kawase.
O doc. traz alguns elementos místicos de suas produções anteriores da década de 90, além de desvelar o seu processo criativo já nos primeiros minutos. Diz Naomi Kawase:
A câmera de Kawase aqui está em sua boa forma: um mergulho intimista, uma busca, fotografias, silêncio, o real. O documentário desemboca na mística através dos enquadramentos, do plano contra-plongée, do olhar para a natureza -- sempre presente na obra da cineasta. Naomi Kawase, ao filmar a natureza, a contempla. Contempla a phýsis. Medita. Neoplatônica por excelência, a câmara de Kawase induz ao puro êxtase. O círculo da busca, assim, se completa. Grande Naomi.
Já vinha admirado com os trabalhos de Paul Thomas Anderson. Neste, um exponencial: além da brilhante atuação de Joaquim Phoenix, que atinge os cumes da interpretação, o filme faz-se uma excelente abertura para discutir/ver/e pensar os atuais momentos em que passamos, onde há uma certa "confusão" de o que vem a ser "espaço político" e "espaço religioso". Que exibam esse filme nas universidades e nos cursos de ciências da religião. Ou melhor: que vejamos mais e sempre Paul Thomas Anderson.
Quase 2 anos de espera e consegui assistir!!! Deus, como chorei!! Vi assim que cheguei ao Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (o filme segue lá em exibição até o final da exposição do Paulo Leminski, em abril). Mesmo com muito barulho da rua (o que prejudicou,pois é um filme de silêncios..), deu para apreciar a grandeza fotográfica e o João Miguel no seu máximo de atuação, explêndido!! Mesmo o Catatau sendo uma bomba experimental e o próprio Leminski um poeta que fez barulho na geração, o silêncio do filme é propício, e o próprio lado zen-budista do Leminski aplaudiria o filme. E que lindo foi ver René Descartes, o pai do "método", filósofo da razão,lógica, dançando forró nos mercados do Recife!!! Prepotente, enfadonho, "pseudocult"? Não: um filme tão grande,intenso e visual como o próprio poeta cachorrolouco Paulo Leminski! Uma linha que não termina, entre Sol e aço (sim, um gesto mishimiano)!!! Agora, não conhecer o poeta pode-se classificar tal filme com tais predicações.. Paciência.
Nota final: o filme está "circulando" pelo Brasil através do projeto Iconoclássicos pelo Itaú Cultural. Espero (muito) ver o filme de novo, e novamente!! É um desses filmes que assistir a mais de 5 vezes só tem a engrandecer.
Adaptação de um conto de Aníbal Machado e trazendo Millôr Fernandes para os diálogos (a grande transa cinema e literatura) o filme se faz a obra prima do diretor. Por meio de diálogos arrebatadores e flashbacks o filme centraliza na amizade de um engenheiro bem sucedido e um garoto pobre carregador de bagagens e pequenos serviços. Mais que uma amizade:um enlace onírico, topofílico. Um encontro bachelardiano, sem dúvida!! Muito mais que discutir a homossexualidade (que eu acho horrível para o contexto), os dois ligam-se pelo vento. Os dois "habitam" (n)o vento. Habitar poético, habitar heideggeriano. Tudo neste filme é "habitação poética". Relação mística. A presença do filósofo francês Bachelard e do alemão Martin Heidegger tem lugar neste filme.. Sem me alongar na leitura poética e filosófica do filme, digo 2 pontos primorosos do filme: 1) o elemento poético que terá GRANDE presença no diretor russo herdeiro de Tarkovsky, Alexsandr Sokurov, em um filme PAI E FILHO (2003); 2) o traço rosiano na amizade dos protagonistas do filme. O Engenheiro e o garoto pobre. Riobaldo mais Diadorim. E perceberam que o filme justamente tinha que ser em Minas Gerais, nas veredas e chapadões, pelos morros no horizontes? Um filme, sem dúvida, digno de aplausos, entre Sokurov e Guimarães Rosa, transando cinema e literatura.
talvez eu tenha ido com grande expectativa (ah, a Hermila e o João..), e isso é sempre um problema. mas o filme não me cativou, exceto nos momentos de embalo do som de Karina Buhr (e de fato, para mim, esse foi o ponto alto do filme, a trilha sonora). João Miguel aparece como mero coadjuvante (uma pena, um grande ator). E não entendo as pessoas se reportarem à semiótica para expressar admiração ao ator neste filme (<<aiiii, o joão miguel *--* >>. Oi?). Certamente o filme ganha algumas estrelas pela brilhante (como sempre) atuação de Hermila Guedes e pelo descortinação digamos glamourosa e badalada da profissão do médico. sim: aí o filme acerta em cheio. sim: também achei o "off" por muitas vezes chato e desnecessário. forçou uma crítica digamos "filosófica". é isso.
O Sacrifício
4.3 148Uau, filme do Tarkovsky que me dilacerou por completo! Aquela sensação que senti fortemente com O ESPELHO, não só pela complexa estrutura. O SACRIFÍCIO dilacera quem vê porque fala do vazio do discurso humano, do vazio da espiritualidade do mundo moderno, encara a morte de frente, cita Nietzsche nitidamente, põe fogo tal como um Yukio Mishima. Sonho, devaneio, silêncio e morte --
Não é mesmo a epígrafe deixada para o seu filho que deseja "esperança e fé"?
O melhor mesmo é ler o próprio Tarkovsky sobre o filme, em Esculpir o Tempo (1998, pela Ed. Martins Fontes, página 274):
"O que eu quis foi propor questões e demonstrar problemas que vão diretamente ao núcleo das nossas vidas e, desse modo, levar o. espectador de volta às fontes dormentes e ressequidas da nossa existência. Figuras, imagens visuais, estão muito mais capacitadas para realizar essa finalidade do que quaisquer palavras, particularmente hoje, quando o mundo perdeu todo o mistério e magia, e falar tornou-se mero palavrório — vazio de significado, como observa Alexander. Estamos sendo sufocados por uma avalanche de informações, contudo, ao mesmo tempo, nossos
sentimentos permanecem intocados pelas mensagens de suprema importância que poderiam mudar nossas vidas"
Stalker
4.3 503 Assista AgoraUm dos filmes que mais gosto do Tarkovsky. Só a proposital colocação de um poeta, um cientista e um 'messias' já vale mais que todo um curso de teoria da literatura!! como és belo o embate dos discursos!!
Na segunda parte, o escritor, ao chão, diz: "o homem escreve porque sofre, porque duvida de si". Como não lembrar de O ESPELHO (1975), momento em que Andrei diz que "escrever é um ato ético"?
E como venho procurando a Zona durante minha vida!!! Ah, Tarkovsky!!!
O Espelho
4.3 264 Assista AgoraPra mim, a maior poesia cinematográfica. Filme-fragmento. Memórias da mãe, da guerra, retorno bachelardiano à infância, união à natureza.. tudo em poesia. Filme pra viver e sentir.hoje e sempre..
Duas poesias declamadas no filme que me são magistrais: "Vivemos todos à beira mar". E como o poeta sabe bem como viver à beira mar.
"Escrever é um ato de coragem. A obrigação do poeta é causar emoções espirituais, e não educar idólatras".
belo!!
Solaris
4.2 369 Assista AgoraSolaris tem algo bastante peculiar: não apenas o debate existencial (filosoficamente falando), as leituras acerca do "oceano", Hari e a presença do devaneio (outra abertura filosófica, se se quer trazer uma epistemologia de Bachelard, por ex.). Mas a tomada do mundo (Solaris) como uma "imagem". (corroborada na cena
final, a terra --este nosso mundo sensível-- sob as nuvens, dentro d'uma ilha
Andrei Rublev
4.3 131um denso itinerário poético, complexo e intimista. as últimas horas, então.
antológico, sem dúvidas. filme para a vida..
A Infância de Ivan
4.3 156 Assista AgoraAh, como atravessei alguns rios na minha infância, tal como Ivan..
Chamada de Emergência
3.7 1,5K Assista AgoraNa minha visão (veja bem: na minha opinião) o filme é muito ingênuo. Assisti por força de uma amiga que também é operadora de Emergência.
1) Certamente a narrativa do filme acerta por mostrar o "outro lado" da vida de telefonistas de Emergência -- uma profissão que não é reconhecida por ninguém e muito hárdua (ninguém nos comentários aqui, inclusive, tocou nisso. Sim, li religiosamente os coments).
2) Após os 30min.iniciais o filme consegue uma atmosfera de tensão muito boa, com peripécias inteligentes.
3) A cena
da menina sequestrada deixando seu testemunho para a família
4) O filme abusa de "cópias" de muito mal-gosto, destruindo qualquer possibilidade de originalidade.4.1 -- O "sequestrador/assassino", com claros distúrbios psicológicos, parece uma caricatura de mal gosto de filmes como A Casa de Cera (2005) -- há uma cena diretamente referente.
4.2 -- a cena final,
com as duas mulheres trancando o algoz,
fechar a porta e deixar um corpo ao cruel abandono
5) A operadora Jordan é brilhante ao assumir as dores da vítima e ir atrás do algoz (violando uma tese de operadores que a própria fala, de não criar vinculo emocional com a vítima). Mas esse ato cai com a cena final, criando uma patética atmosfera.
6) Repito: minha opinião. 1 estrela, no MÁXIMO, pelo argumento do filme: mostrar à sociedade a dura vida dos operadores, "Estrelas" que lidam com um cruel mundo. Pessoas que também choram, desejam, amam, se indignam. Sim, há vida e amor do outro lado do telefone!!
Hoje Não Haverá Saída Livre
3.5 19 Assista Agora(i) De uma trilha sonora maravilhosa, e que casa com a narrativa. O média-metragem, ao colocar soldados diante de bombas da 2ªGuerra, cria uma atmosfera de tensão no telespectador. A narrativa inscreve-se, assim, no limiar vida/morte.
(ii) Confesso que duas coisas me intrigaram e intrigam ainda: a) A cena
do hospital, ao filmar um ato cirúrgico, parecendo-me que ficou isolada na proposta
Esta é uma leitura inicial. Não concordo em nada com que disse um renomado crítico que a obra é panfletária e desvia para questões ideológicas. Concordo com o estimado Sr. que a obra possa ser tomada de "registro histórico", documento, a depender do que entendamos por isso. Quem sabe nas próximas eu não venha com outras leituras. Vou alí ver umas bombas.
O Zero Não é Vazio
3.9 13Belíssimo! Encantei-me mais com a Tatiana e sua escritura, fruto de um corpo pútrido: poesia libertária, poesia das ruas, magma antropogenético, antropogeográfico. literatura como denúncia!! E a citação do filósofo alemão Heidegger sobre o moldar o vazio foi extremamente oportuna, somado ao belo trabalho sonoro do Wisnik. Documentário blanchotianamente fundamental.
O Homem do Corpo Fechado
2.9 2Ótimo filme. A presença do grande escritor João Guimarães Rosa é constante: desde o título, que é uma referência ao conto "Corpo Fechado", do livro SAGARANA, sua primeira obra (cheguei a este filme do Schubert Magalhães por causa do conto), até os elementos narrativos:
o filme já começa com uma citação do Rosa, o feiticeiro, o coronel Trajano (no conto seu nome é Targino), João de Deus (que no conto é Manuel Flôr)
Interessante também é a presença dos elementos da prosa rosiana no filme: o misticismo, o pacto, o amor, a luta, a linha tênue vida/morte, a brabeza do sertenejo, o sertão sem fim.. É um filme fiel às influências e de um resultado original, somado a uma belíssima fotografia. Filme perseverante.
As Delícias da Vida
2.6 10Lindo!! Tanto na forma quanto no conteúdo. Ao vê-lo, vieram-me à tona lembranças de um certo humor do Cláudio MacDowell; a crítica humorada à censura, do Mamoru Hosi. O filme cria uma ótima atmosfera para se pensar o processo criativo e censura na época.E interessante e irônica é uma fala do dono da emissora:
"a coisa [a novela] está descambando para um terreno perigoso, precisamos de algo mais romântico, otimista, de acordo com a realidade do momento"
Não conhecia o diretor. Um ótimo começo.
Le Sens de L'humour
4.0 1Divertidíssima comédia quebequense. Estranhamente o diretor não é conhecido no Brasil, devido a tamanha preciosidade de sua obra. Mas uma grandeza não no sentindo estético, e sim na singeleza com que toca no cotidiano, e mais especificamente no gênero "comédia". Sem dúvida, um filme que fala da comédia, do fazer comédia. Metanarrativa. Metacinema. A partir de peripécias muito bem construidas e uso de todos elementos da teoria da narrativa -- um roteiro invejável -- Emile Gaudreault nos apresenta um filme original: E se muitos no Brasil (com o atual momento em que acha-se que faz comédia, e o resultado é uma afetação sem igual) prestigiassem esse filme.. Meu anseio é que o diretor, em breve, venha a ser difundido no Brasil. Grande filme. Um talento canadense, certamente.
Le Jardin de Papa
4.0 1Simplicidade e beleza que circunfundem-se no filme. Em apenas uma noite e em um fragmento de avenida, isto é, em um recorte espaço-temporal todas as peripécias da narrativa se desdobram -- corroborando a maestria do roteiro.
Estruturalismos à parte -- e como não sou cinéfilo, esquivo-me dos detalhes operacionais -- a narrativa do filme vem tocar em questões muito interessantes (e que, geralmente, o cinema francês tão bem toca): 1) a questão do "Outro", o estrangeiro, as margens, o periférico, as culturas em trânsito (os temas tão caros da corrente dos Estudos Culturais).
2) Os momentos de situações-limite onde todas as máscaras caem.Onde, diante do "Outro", do diferente, da minoria, aí os preconceitos arraigados saltam. Onde todo o "bom-mocismo" parece já não existir. Aí o filme desvela algo de forte: longe de psicanálises junguianas, desvelar
o homem branco selvagem e colonizador (e ironicamente, na África).
diante desse enfrentamento
O Coração dos Homens
3.6 5Bela fotografia do cotidiano e a simplicidade com que a câmera de Esposito filma o dia-a-dia dos quatro amigos-irmãos. O que mais chamou-me atenção foi a tese que Esposito segue pela boca do personagem Manu (Jean-Pierre Darroussin): que é maravilhoso quando o "amor e o riso caminham juntos". Ah.. uma tese que devíamos aprender! E penso que o filme ganha neste ponto: aprender a humildade e simplicidade da vida (pela ótica do personagem Manu, e também do professor Antoine). O que ironicamente contrasta com os caracteres do personagem empresário Alex (Marc Lavoine). Certamente, uma grande lição. Só elogios para LE COEUR DES HOMMES.
(E ainda tocado com a beleza espiritual do personagem Manu..).
O Relojoeiro de Saint-Paul
3.6 4Lindo filme. Não conhecia o Bertrand Tavernier. Terceira obra sua, L'HORLOGER DE S-PAUL merece elogios desde o movimento de câmera até a diegese propriamente. Tudo com maestria e simplicidade: trilha sonora, cores e (o melhor) um final dignamente bergmaniano:
o momento em que pai e filho, na prisão, se entregam à intimidade, superam as distâncias, amam
Comme Chez Soi
3.0 1Primorosa comédia: fora os clichés, há algo de interessante no intercâmbio cultural, o contato com outras culturas, o papel do estrangeiro, o "Outro" -- essas discussões tão caras aos Estudos Culturais. Chez soi é isso: o "estar-em" casa. O filme é um ótimo convite, portanto.
Meu Nome é João
3.0 1É.. Não é mero acaso a aproximação com o poema do Manuel Bandeira, sobre o João Gostoso.. Meia estrela para a coerente trilha sonora; outra meia estrela pelo roteiro.
Nanayo
3.9 19 Assista AgoraDos documentários às obras de ficção, o que mais me chama atenção em Kawase é a inscrição da natureza, phýsis, e a colocação dos personagens em estado de contemplação -- pondo também o próprio espectador. Assim Kawase se mantém extremamente fiel à tradição nipônica que melhor soube lidar com a questão do silêncio, com o "pôr a palavra" em estado de "theoría", de contemplar. As obras de Kawase convidam à mística, ao neoplatonismo. Cinema que chama a filosofia. Sem dúvida, os clássicos do cinema e do teatro oriental desembocam em Naomi Kawase.
Carta de Uma Cerejeira Amarela em Flor
4.2 8O doc. traz alguns elementos místicos de suas produções anteriores da década de 90, além de desvelar o seu processo criativo já nos primeiros minutos. Diz Naomi Kawase:
"Faço filmes para deixar algo como prova de minha existência. [...] Filmar me deixa viva"
"Meu destino é cair como folha de cerejeira".
Em Seus Braços
4.1 12A câmera de Kawase aqui está em sua boa forma: um mergulho intimista, uma busca, fotografias, silêncio, o real. O documentário desemboca na mística através dos enquadramentos, do plano contra-plongée, do olhar para a natureza -- sempre presente na obra da cineasta. Naomi Kawase, ao filmar a natureza, a contempla. Contempla a phýsis. Medita. Neoplatônica por excelência, a câmara de Kawase induz ao puro êxtase. O círculo da busca, assim, se completa. Grande Naomi.
O Mestre
3.7 1,0K Assista AgoraJá vinha admirado com os trabalhos de Paul Thomas Anderson. Neste, um exponencial: além da brilhante atuação de Joaquim Phoenix, que atinge os cumes da interpretação, o filme faz-se uma excelente abertura para discutir/ver/e pensar os atuais momentos em que passamos, onde há uma certa "confusão" de o que vem a ser "espaço político" e "espaço religioso". Que exibam esse filme nas universidades e nos cursos de ciências da religião. Ou melhor: que vejamos mais e sempre Paul Thomas Anderson.
Ex isto
3.6 44Quase 2 anos de espera e consegui assistir!!! Deus, como chorei!! Vi assim que cheguei ao Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (o filme segue lá em exibição até o final da exposição do Paulo Leminski, em abril). Mesmo com muito barulho da rua (o que prejudicou,pois é um filme de silêncios..), deu para apreciar a grandeza fotográfica e o João Miguel no seu máximo de atuação, explêndido!!
Mesmo o Catatau sendo uma bomba experimental e o próprio Leminski um poeta que fez barulho na geração, o silêncio do filme é propício, e o próprio lado zen-budista do Leminski aplaudiria o filme. E que lindo foi ver René Descartes, o pai do "método", filósofo da razão,lógica, dançando forró nos mercados do Recife!!!
Prepotente, enfadonho, "pseudocult"? Não: um filme tão grande,intenso e visual como o próprio poeta cachorrolouco Paulo Leminski! Uma linha que não termina, entre Sol e aço (sim, um gesto mishimiano)!!! Agora, não conhecer o poeta pode-se classificar tal filme com tais predicações.. Paciência.
Nota final: o filme está "circulando" pelo Brasil através do projeto Iconoclássicos pelo Itaú Cultural. Espero (muito) ver o filme de novo, e novamente!! É um desses filmes que assistir a mais de 5 vezes só tem a engrandecer.
O Menino e o Vento
4.3 62Certamente o mais "poético" do Carlos Hugo Christensen!! Abaixo faço apenas um comentário poético-filosófico e em spoiler para não prejudicar ninguém.
Adaptação de um conto de Aníbal Machado e trazendo Millôr Fernandes para os diálogos (a grande transa cinema e literatura) o filme se faz a obra prima do diretor. Por meio de diálogos arrebatadores e flashbacks o filme centraliza na amizade de um engenheiro bem sucedido e um garoto pobre carregador de bagagens e pequenos serviços. Mais que uma amizade:um enlace onírico, topofílico. Um encontro bachelardiano, sem dúvida!! Muito mais que discutir a homossexualidade (que eu acho horrível para o contexto), os dois ligam-se pelo vento. Os dois "habitam" (n)o vento. Habitar poético, habitar heideggeriano. Tudo neste filme é "habitação poética". Relação mística. A presença do filósofo francês Bachelard e do alemão Martin Heidegger tem lugar neste filme..
Sem me alongar na leitura poética e filosófica do filme, digo 2 pontos primorosos do filme: 1) o elemento poético que terá GRANDE presença no diretor russo herdeiro de Tarkovsky, Alexsandr Sokurov, em um filme PAI E FILHO (2003); 2) o traço rosiano na amizade dos protagonistas do filme. O Engenheiro e o garoto pobre. Riobaldo mais Diadorim. E perceberam que o filme justamente tinha que ser em Minas Gerais, nas veredas e chapadões, pelos morros no horizontes? Um filme, sem dúvida, digno de aplausos, entre Sokurov e Guimarães Rosa, transando cinema e literatura.
Era Uma Vez Eu, Verônica
3.5 198talvez eu tenha ido com grande expectativa (ah, a Hermila e o João..), e isso é sempre um problema. mas o filme não me cativou, exceto nos momentos de embalo do som de Karina Buhr (e de fato, para mim, esse foi o ponto alto do filme, a trilha sonora). João Miguel aparece como mero coadjuvante (uma pena, um grande ator). E não entendo as pessoas se reportarem à semiótica para expressar admiração ao ator neste filme (<<aiiii, o joão miguel *--* >>. Oi?).
Certamente o filme ganha algumas estrelas pela brilhante (como sempre) atuação de Hermila Guedes e pelo descortinação digamos glamourosa e badalada da profissão do médico. sim: aí o filme acerta em cheio. sim: também achei o "off" por muitas vezes chato e desnecessário. forçou uma crítica digamos "filosófica". é isso.