A década de 90 foi extraordinária para o cinema de uma forma geral, porém a indústria americana estava, como já de costume, absorvendo o máximo que podiam de um gênero em especifico para conseguir mais dinheiro, as comédias românticas. Tivemos sucessos conhecidíssimos como: “Pretty woman”, “10 Things I Hate about You” e “Notting Hill”.
No meio do enxame de títulos com a mesma temática de jovens superficiais que encontram no amor uma forma de enxergar o mundo de uma forma diferente, podemos citar inúmeros com apelo popular, porém acredito que o filme que mais soube se comunicar com uma geração e dizer a verdade sobre o que é amadurecer e a forma mais natural de enxergar a vida foi BEFORE SUNRISE.
Dirigido por Richard Linklater, acompanhamos Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), dois jovens que se conhecem no trem após testemunharem a briga de um casal, após uma primeira conversa e já interessados um pelo outro, Jesse convida Celine para descer com ele em Viena e passarem a madrugada juntos onde no dia seguinte o mesmo deverá de pegar um avião de volta ao Estados Unidos.
O que chama atenção em um primeiro olhar é a naturalidade da relação entre Jessie e Celine, percebemos nos pequenos gestos de quando ele olha para ela e esta finge que não vê, a tentativa de impressionar em um primeiro contato e os gestos calculados para nunca invadir demais porém deixando claro o interesse. São pequenos detalhes, porém conversam facilmente com nosso instinto de perceber que era algo que nós mesmos faríamos nestas circustâncias.
Before sunrise além de tudo é uma aula de forma e conteúdo, se pensarmos que o filme busca demonstrar uma naturalidade e o mais próximo possível de uma realidade que é duas pessoas se conhecendo, o filme adquiri escolhas que moldam a sua forma para alcançar esses objetivos. Temos planos longos de uma conversa continua que revelam a visão de mundo de cada um, uma fotografia que busca a neutralidade de uma dia comum e a trilha diegética que faz-nos imergir cada vez mais na história.
Jessie, um rapaz que demonstra não ter muitas ambições a principio por não saber de fato o quer almejar, mas valoriza a relação humana e tem o charme ao seu favor. Celine é uma moça mais esclarecida sobre si, possui uma opinião formada sobre quase tudo e por ter mais o “pé no chão”, demonstra ter um certa maturidade que contrasta com Jessie. E são nestas dualidades e experiências de vidas diferentes que são exibidos as mais belas discussões que você pode esperar sobre a vida, amor, sexo, religião, futuro e divagações que trazem uma aproximação fácil com o público.
Before Sunrise é uma bela história sobre descoberta. Descoberta de si mesmo através de um terceiro; de como o amor sincero nasce através dos diálogos e dos pequenos detalhes que reparamos nas outras pessoas. Somos imperfeitos e temos nossas próprias opiniões, que mudam constantemente, porém é isso que nos torna único.
Se em Before Sunrise temos a descoberta entre Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), em Before Sunset temos a (re)descoberta, uma vez que se passaram 9 anos após o primeiro encontro e nada mais natural que já tenham uma profissão, novas opiniões e novas experiências de vida.
Agora escrito não só por Richard Linklater, mas também pelos atores, o que é incrível tendo em vista que eles deram vida a estes personagens, eles mais do que ninguém saberiam explorar este amadurecimento e retratar suas mudanças durantes estes anos. Jesse ainda demonstrando traços de sua personalidade desde o primeiro encontro, soa desajeitado perante a presença de uma Celine mais intelectualizada. A distância intelectual de ambos ainda é gritante, porém isso é irrisório uma vez que eles ainda se divertem com a presença um do outro.
O primor técnico de trazer uma naturalidade em torno de Jesse e Celine continua aqui, parece que estamos num filme francês dos anos 60 durante a Nouvelle Vague que, enquanto vamos admirando as belezas das ruas de Paris, estamos cada vez mais intertido na relação entre os personagens.
A beleza na interação de ambos são renovadas agora com as suas novas posições sociais, as suas novas visões de mundo e autonomia que não tinham há 9 anos atrás. Os mesmos possuem as suas vidas e seus novos relacionamentos, e agora o público tem noção dos desfecho deste novo encontro e tudo o que ambos tem a ganhar e a perder dependendo de suas escolhas.
Estamos em constantes metamorfoses, mudamos nossas opiniões e nosso jeito de ser, quem não muda é porque morreu. E notar essas mudanças no outro muitas vezes é uma tarefa difícil, pois torcemos para que as pessoas não percam aquilo que mais admiramos nelas. Fico imaginando Jesse e Celine nesse jogo de olhares, gestos e confusões procurando aqueles detalhes que fizeram um se apaixonar pelo outro naquele trem.
Quando os anseios do coração são mais fortes do que as nossas próprias realizações.
Cabíria diz para Alberto Lazzari: "... As outras (prostitutas) dormem debaixo da ponte. Tenho minha própria casa com luz, água, gás, todas as comodidades. Não me falta nada."
Esta fala de Cabíria torna-se uma potente armadura à personagem que demonstra ser forte na maior parte do tempo, demonstra seu orgulho por ter realizações que muitas das mulheres do mesmo oficio não conseguiram. Porém Cabíria abriria mão de todas estas conquistas para preencher aquilo que seu coração mais anseia, por mais que este anseio não seja totalmente explicito, fica claro o seu desejo de mudar de vida, mas como? Se a vida nunca lhe foi fácil.
O filme vai além de sua personagem e sua busca, ele é o registro do seu tempo e exprime os resultados da segunda grande guerra e da era Mussolini, refletindo aqui em filhos que cresceram sem seus pais, pessoas vivendo em docas e a concentração de famílias em comunidades nas periferias de Roma.
Como bem refletido numa rima visual do inicio e no final do filme, Cabiria se vê mais uma vez numa situação embaraçosa, pois mais uma de suas tentativas de finalmente preencher o seu vazio e ter a sua grande chance de ter uma vida melhor, vão embora junto com os vigaristas na qual ela deposita sua confiança. Em toda a sua trajetória pela madrugada ela tinha tudo que precisava, ela mesma!
Fellini cria poesia com imagens em movimentos, sua simplicidade em seus planos longos criam um palco de naturalidade onde o brilho de Giulietta Masina traz em voga as sombras da vida de Cabíria.
karin é uma mulher que possui um problema mental degenerativo acreditando que receberá a visita de Deus, vamos acompanhando sua deterioração enquanto isso afeta os entornos de seu meio familiar.
Bergman trabalha bem a ambiguidade do significado de Deus e da própria fé: uma lado temos a alusão de associar o fanatismo religioso a uma questão de doença e como isso afeta o meio social (Karin), na outra ponta está quem, após um momento trágico, vê no amor que tem por seus filhos uma forma de categorizar a fé (David).
Karin (Harriet Andersson) numa incrível atuação, exprime muito bem essa ideia dúbia da fé, pois temos a sua bondade e como esta vai se apagando quando a sua espera por Deus transforma em negação dos seus próprios instintos. Destaco também a excelente mis-en-scène que trabalha em prol desta tragédia. A casa onde habitam possui formas quadrangulares deixando um ambiente rígido e não natural, seus minúsculos espaços demonstram como o problema de Karin sufocam a todos. O quarto onde ela ouve as vozes é reflexo de sua mente, um lugar vazio e inóspito. Quando a mesma decide que precisa ser internada, esta num barco quebrado e afundado, espelho de sua atual situação
A perspectiva individual que temos sobre Deus ultrapassa o limite da razão. Deus pode ter vários nomes e formas, tem quem o chame de dinheiro ou fama, amor ou poder, justiça ou compaixão... Enfim, a forma como você o enxergará mostrará se você estará no caminho de ser uma pessoa melhor ou no caminho da loucura.
Buñuel era uma sujeito criativo, provocador e com uma visão niilista da sociedade, seus temas vão além de um simples fetiche com a incoerência proporcionada pelo surrealismo, mas também alegorias vindas através do cotidiano de classes, pessoas e convenções sociais.
Em "O Anjo Exterminador", ele trabalha com a hipótese de pessoas pertencentes à burguesia presas em uma palácio através de uma barreira invisível. Estas pessoas ao longo deste enclausuramento liberam os seus comportamentos mais primitivos, muitas vezes partindo para violência e não vendo mais significados em suas próprias vidas.
A prisão desta classe burguesa e dos fiéis na igreja, representam as suas verdadeiras faces uma vez estando em dificuldade, fome e falta de esperança. A movimentação de câmera acompanha essa desestabilização uma vez que parte de travelling suaves até quando a loucura toma conta do espaço e parte para planos mais estático perdendo sua delicadeza, fragmentando um espaço que era belo para um inabitável e super populoso.
A barreira criada por Buñuel torna-se uma divisão intelectual destas classes onde a parte inferior estão os medos, anseios e violência que estes grupos escondem, a parte externa são exibidas apenas uma maleável camada de atuações falsas e costumes conservadores. Atuações e comportamentos que sempre foram os grandes inimigos de Buñuel na Espanha.
Blow-up trabalha de forma gradual a mudança de perspectiva de Thomas sobre a vida ao seu redor. Se ao inicio somos apresentados a um fotografo egocêntrico onde em seu entorno as coisas fluem através de sua lente e suas escolhas, uma vez que ele presencia um suposto homicídio, essa perspectiva sai de si e passa a ser sobre àquelas pessoas. Digo suposto, pois uma vez imerso na mente de Thomas, vamos dando valores e interpretações em meio a imensidões de ampliações de fotografia e borrões escuros que o mesmo revela. Assim como Antonioni mostra que o braço de guitarra quebrado só tem valor no espaço onde o show estava acontecendo e na rua ela é apenas um braço de guitarra, logo as fotografias só tinham alguma importância enquanto nelas damos valor de uma prova criminal.
Nesse jogo de valores, de fatos que ocorreram ou não e o que é real e o que não é real, vemos em uma partida de tênis imaginária que a realidade é subjetiva nos olhos de quem a vê, se forçamos a nossa mente de que há bola de tênis em jogo, nós a veremos.
Marriage Story possui uma atmosfera naturalista sufocante, onde o arco de cada um dos personagens é palpável, você sofre junto com eles, você sente suas angústias e sabe muito bem o que cada um tem a perder. Esta naturalidade percorre há tempos às obras do diretor Noah Baumbach, onde este prefere sempre contar histórias de pessoas reais em seu cotidiano enfrentando seus dilemas.
Acompanhamos o processo de divórcio entre Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver), porém o principio pacifico vai dando espaço para uma situação mais conturbada entre o casal. O Pilar principal de sustentação do filme é a interação entre estes dois atores, incrivelmente sutil como cada um consegue transmitir informações apenas com um olhar, com movimentos corporais e nas pequenas situações de desgastes que cada um enfrenta ao tentar colocar um ponto final na história que ajudaram a construir. Fazendo reforçar o ditado de que casar é difícil, porém separar é pior ainda.
Independente do divórcio, ambos ainda demonstram o seu respeito e carinho, nunca querendo exceder os limites para não querer piorar a situação, mas sempre colocando nas entrelinhas aquilo que sempre os incomodaram, tudo que sabemos sobre a vida do casal é verbalizado pelos mesmos, ficamos com o papel de julgar aquelas pessoas, o que é uma ótima decisão do diretor de nos deixar como júri de todo esse contexto. O roteiro magistralmente pontua ótimos diálogos, constrói camadas enervantes até o ponto de onde ninguém conseguir esconder mais o que sente.
A naturalidade citada no início do texto percorre todas as nuances da Mis-em-Scene, as locações pequenas são preenchidas com a presença de Nicole e Charlie, tornam-se aconchegantes cada ambiente em que estes ocupam, mesmo o subtexto tratando de um assunto tão delicado. A vivacidade destes ambientes se contrasta quando cada um necessita lidar diretamente com o seus advogados, pois estes profissionais ocupam espaços bem maiores e com certa artificialidade ofuscando a humanidade que cada membro do casal ainda possui.
Os advogados desempenham um ponto chave, para Nora e Jay, o casal é apenas mais um cliente, sempre agindo com indiferença e seguindo protocolos pré-definidos, tratando todo o contexto do divórcio como uma disputa de próprio ego, fazendo a situação tornar mais difícil do que já é. Já Bert tenta ser mais humano e pacifico devido sua experiência de vida, mas logo é descartado, pois este ambiente demonstra não ser para pessoas condescendentes.
Relacionamentos possuem começo, meio e, não necessariamente, fim. Marriage Story vem para dizer que o fim, é o mais complexo de todos. Encerra ali a história de duas pessoas que em determinado ponto da vida se amaram incondicionalmente, cada uma delas levará um pouco da outra consigo.
The Irishman traz a máfia sob uma perspectiva mais realística, com menos glamour e com um teor mais humanizado. Acompanhamos a trajetória de um homem que após ter voltado da guerra, tenta dar um situação melhor para sua família recorrendo a caminhos nada ortodoxos.
Tão triste quanto seu início, é o seu fim. Frank em sua velhice decide nos contar sua trajetória e passamos a ser o avaliador das escolhas de Frank, seus arrependimentos, suas reflexões e onde ele poderia ter feito diferente.
Todos os pontos característicos de um filme de máfia estão aqui , a desconstrução ocorre quando Scorsese decide narrar os fatos com naturalidade encarando aquelas pessoas como seres comuns. Acompanhamos o seu cotidiano, necessidades e seus crimes sem que nada seja extravagante, pois a descrição e o tempo são a chave destes criminosos alcançarem seus objetivos, desde infiltração em órgãos do estado até o controle da economia de uma determinada região, tudo precisa levar seu tempo assim os personagens carregará em suas costas o peso de todas as suas ações.
Martin Scorsese revisita mais um gênero que fez parte sua história, mantém sua coroa real de um dos melhores diretores de todos os tempos e nós, seu súditos, aplaudimos incansavelmente mais uma de suas obras.
Irrational Man vai na mesma linha de matchpoint, sendo assim não é um filme sobre o Woody Allen, mas vemos muitos personagens parafraseando ideias pertinentes ao intelecto do diretor.
O filme funciona muito bem com seu jogo de contrapontos, por exemplo: no principio temos os vários relatos positivos sobre o professor Abe, quando este chega na cidade, é um sujeito totalmente oposto. A cinematografia e o design de produção exuberantes adquiri um toque Alegre e vintage, porém completamente oposto ao que vemos sobre o auto estima de Abe. O contraponto do Abe infeliz e sem motivos para viver com aquele inegavelmente feliz após ter acreditado ter feito justiça.
Nesse embate de ideias e contrapontos, o filme torna-se repetitivo inúmeras vezes, com as mesmas divagações e sem muito com que trabalhar. Woody incha com tudo que pode até concluir.
“Joker” permaneceu por semanas em minha mente, fazendo-me questionar sobre tudo aquilo que assisti e, principalmente, por ser uma viagem na mente de uma pessoa que não gostaria de ser aquilo que vai se tornando, o reflexo de Arthur frente ao espelho colocando um sorriso no próprio rosto com os dedos pode ser qualquer pessoa querendo que o dia não acabasse do jeito que acabou, ou que a vida tomasse outro rumo que não seja a tristeza.
O longa narra a série de situações ruins que ocorrem na vida de Arthur Fleck, que aos poucos vão moldando o seu desenvolvimento até o caos. Escrito e dirigido por Todd Philips, este sabe muito bem do trabalho que tem em mãos, e sabiamente utiliza inúmeras referências da nova Hollywood que contribuem para contar sua história: personagens ambíguos, abstração da realidade e o pessimismo de uma sociedade degradada são apenas alguns destes exemplos, ou seja, se “Joker” fosse lançado no final dos anos 60, possivelmente seria tão relevante quanto está sendo para nós atualmente.
Todd Phillips arrisca em contar uma história mais intrusiva na mente de seu personagem adotando um tom soturno e lento, fugindo da linha dos filmes que também são baseados em personagens de quadrinhos que sempre procuram desenvolver suas tramas até culminar numa resolução catastrófica de grandes proporções. Ótima visão do roteiro em trabalhar neste aspecto intimista e conciliar o presente desastroso na vida de Arthur com os seus traumas do passado juntamente com possíveis desfechos para o futuro, esse dinamismo é saudável para o poder de dedução do público, porém o filme algumas vezes não resiste em explicar algumas coisas que já tinham ficado claras.
O desenvolvimento de Arthur ocorre de forma gradual onde no principio ele é uma reação de como a sociedade o trata, após determinada ocorrência no metrô, ele passa a ser uma reação para esta sociedade que está em declinio onde a maioria, certamente, sofrem situações semelhantes a de Arthur, porém a diferença está no caminho que todos estes escolhem tomar, pois se você decide fazer mal a alguém, você é um vilão! Mesmo que no passado você tenha sido uma vitima.
Tudo é hostil ao redor de Arthur, seu envolto ausente de cor reflete sua mente degradada onde o refúgio está em breves momentos de imaginação que aparentemente demonstram ser uma realidade, a cinematografia ajuda nesta percepção utilizando-se de baixa iluminação somado a um verde apático. Mas onde não havia vida, ganha cores logo após Arthur realmente descobrir e aceitar essa personalidade que sempre esteve ao seu lado, porém adormecida.
Sendo uma trama quase exclusiva sobre a vida de um personagem, Joaquin Phoenix consegue transmitir tudo que o personagem precisava para captar nossa atenção, nossa pena e, ao mesmo tempo, o nosso medo, graças a sua atuação que é estendida até as suas curvas corporais grotescas e suas tentativas de controlar seu transtorno em situações inoportunas.
Joker é um filme que não possui medo de arriscar-se e nem mostrar aquilo que realmente quer dizer, seu universo pode ser interpretado como espelho social de uma determinada época ou de situações cotidianas mesmo passando em um lugar fictício, além de tratar da discrepância entre as diferentes classes sociais na qual 2019 já nos presentearam com ótimos títulos, vide os filmes Bacural e Parasita.
O perigo que muitos dizem que o filme pode transmitir é uma falácia, pois a arte nunca será um gatilho para o mal, temos o bem e o mal dentro de nós, cabe escolhermos para qual caminho enveredar.
“Joker” permaneceu por semanas em minha mente, fazendo-me questionar sobre tudo aquilo que assisti e, principalmente, por ser uma viagem na mente uma pessoa que não gostaria de ser aquilo que vai se tornando, o reflexo de Arthur frente ao espelho colocando um sorriso no próprio rosto com os dedos pode ser qualquer um querendo que o dia não acabasse do jeito que acabou, ou que a vida tomasse outro rumo que não seja a tristeza.
Uma série de situações ruins ocorre na vida de Arthur Fleck que aos poucos vão moldando o seu desenvolvimento até o caos, sem pressa de entregar o coringa como conhecemos, Todd Phillips arrisca em adotar uma história épica de fatos sucessivos lentamente até o grande final, saindo da linha dos grandes filmes que são baseados em personagens de quadrinhos, acrescentado ainda pelo desenvolvimento da trama basear-se mais em situações que ocorreriam com qualquer um em um dia ruim.
O desenvolvimento do Arthur ocorre de forma sublime onde no principio ele é uma reação de como a sociedade o trata, após determinada ocorrência no metrô, ele passa a ser uma reação numa sociedade decadente onde a maioria, certamente, sofre situações semelhantes à de Arthur, porém a diferença está no caminho que todos estes escolhem tomar, ou seja, se você decide fazer mal a alguém, você é um vilão! Mesmo que no passado você tenha sido uma vitima.
Tudo é hostil ao redor de Arthur, seu envolto ausente de cor e de vida reflete sua mente degradada onde o refúgio está em breves momentos de imaginação que aparentemente demonstram ser uma realidade, ponto este interessante onde poderá gerar dúvidas se determinado fato ocorreu, porém nada mais saudável de que um debate acalorado para discutir essas narrativas de roteiro. O roteiro em si trabalha como uma serie de episódios de situações ruins para a vida de Arthur ligada aos seus traumas do passado juntamente com possíveis desfechos para possíveis futuros, determinado flashback ou uma cena durante a grande rebelião podem incomodar, porém é uma pequena agulha num palheiro envolto de perfeições.
Joaquin Phoenix consegue transmitir tudo que o personagem precisava para captar nossa atenção, e foi além estendendo sua atuação a curvas corporais grotescas, suas tentativas de controlar sua risada em situações de perigo misturando tudo isso a tosses e olhar de medo. Um grande personagem para um grande ator.
Joker é um grande filme que não possui medo de arriscar-se e nem mostrar aquilo que realmente quer dizer, sua realidade nada mais é do que um espelho social de inúmeras nações. O perigo que muitos dizem que o filme pode transmitir é uma falácia, pois a arte nunca será uma ameaça ou gatilho para o mal, temos o bem e o mal dentro de nós mesmos, cabe escolhermos para qual caminho enveredar
"Youth” diz tanto sobre nós mesmos que fica difícil de dizer qual arco mais nos tocou, e sendo a vida o principal assunto do filme, ele irá comunicar com todos facilmente.
Gosto quando o filme trabalha com a retratação de uma vida inteira vivida onde episódios do passado retornam para nos lembrar de como tomamos decisões erradas, ou decisões que parecem ser erradas que no final das contas não foi tão errada assim, pois ela foi necessária para conhecermos nós mesmos. Diz sobre o papel do artista e suas obras, como ficamos marcados por algumas destas obras, processo criativo e como se livrar de velhos rótulos e partir para novos caminhos. Como trabalhar com culpas depois de anos de arrependimento, como encaramos as situações ruins de nossos semelhantes e a tarefa difícil de perdoar e se redimir.
A fotografia limpa e ofuscante a todo momento trabalha como uma forma de iluminação sobre a epifania de cada um dos personagens, pois a todo momentos eles estão em constantes contestações sobre si mesmos e seu passado, alguns até não consegue lidar com isso de forma racional.
Todos os momentos que vivemos hoje tornarão gotas em um oceano de memórias que certamente esqueceremos dos detalhes, mas teremos a lembrança de como foi bom ter vivido todos eles.
Dividido em duas partes, "as boas maneiras" consegue a todo tempo deixar claro sua mensagem de acompanhar os vários estágios da maternidade através de uma história que flerta com o suspense/terror/romance/drama e que faz um ótimo serviço ao cinema nacional. Em sua primeira parte, Marjorie Estiano assalta nossa sanidade com uma personagem repleta de segredos e ambiguidades. Mergulhada em cores azuis que saltam magicamente em nossos olhos, e ao mesmo tempo entra em contraste com o ar sombrio enquanto anunciam a chegada de uma criança.
A segunda parte permanece em seu ritmo lento e contemplativo, porém não possui o mesmo apelo dramático que a primeira parte consegue expressar, mas ainda bom. Continuando assumindo seu enredo materno, porém agora depois da gestação, passamos a conhecer o desafio de uma mãe que deve enfrentar as mudanças naturais que a criança sofre para sua adolescência.
Uma interessante viagem que assume seus vários gêneros e cria um palco que mais parece uma lenda contada de pessoas para pessoas através de seus efeitos visuais que parecem pinturas, sua trilha sonora cantada pelos próprios personagens e flashbacks com técnicas de animação.
O western nordestino “Bacurau”, parte da premissa de todos os problemas conhecidos do sertão, desde pobreza extrema, passando pela ausência do estado para prover políticas sociais até a indisponibilidade de água para população. Estes temas foram abordados perfeitamente em muitos filmes do movimento cinema novo, mas “Bacurau” traz uma roupagem moderna e pop para estes filmes, mostrando que há muito para ser explorado.
O clima western trazido por Kleber Mendonça e Dornelles, parte desde créditos iniciais com o mesmo modelo de apresentação dos westerns americanos, passando pela montagem de fusão lateral, até aquela tensão antes do grande duelo, sem contar que o clima árido do nordeste favorece para criar um espetáculo de terra sem lei.
A invasão à Bacurau expressa à ilusão de superioridade que muitos possuem sobre os mais pobres, assim como o coronelismo presente até hoje em muitas terras pobres do nordeste brasileiro. Partindo desta visão, temos um filme relevante politicamente com um teor de entretenimento que conhecemos muito bem nos filmes de Quentin Tarantino, ou seja, violência e criação de um ambiente prestes a explodir a qualquer momento. Aliás, caso Tarantino nascesse no nordeste brasileiro, sem dúvida este seria o modelo filme que ele iria dirigir.
Ganhando o prêmio do júri em Cannes, terceiro prêmio mais importante do festival, ajudou a no processo de divulgação do filme, mas o nome de Kleber Mendonça Filho já é um bom motivo para assistirmos ao filme, pois como bem vimos em “O Som ao Redor” e “Aquarius”, Kleber tem o dom de criar climas desconfortáveis, criar personagens fortes, filmar em pequenos espaços retratando um clima claustrofóbico e trabalhar com os problemas das diferenças classes sociais.
Bacural trouxe o poderio que cinema brasileiro possui, a quantidade de histórias que podemos contar e a quantidade de prêmios que podemos trazer.
Se eu pudesse atribuir um elogio ao filme, eu diria que ele é repugnante. Repugnante, pois é essa a proposta que filme pretende alcançar e é exatamente isso que ele entrega.Toda degradação humana resumida em uma hora e cinquenta minutos.
Se por um lado o filme é escasso de informações que justifique certos acontecimentos, ele é totalmente sincero quanto às loucuras e fetiches do assassino protagonista. Todo envolto do filme é criado para exibir um palco hostil a qualquer beleza que posso existir naquela realidade.
Sendo assim, the golden glove é uma filme que atende ao seu objetivo tornando-se um filme interessante, porém não recomendável a todos.
Há uma série de filmes de ação sendo lançados estruturamente muito semelhantes: direção de arte estilizada abusando de cores neons, coreografias complexas, longos planos de personagens caindo na porrada e protagonistas que não conseguem fugir do seu passado . Das características citadas podemos lembrar de filmes como: "The Villainess", "Atomic Blonde" e "John Wick".
Isso é muito importante, pois revitaliza o gênero e traz uma roupagem nova a um gênero que já foi deverás explorado e tem um poder imenso de criar ídolos.
Em "John Wick: Chapter 3", a cinematografia trabalha totalmente em detrimento de criar espetáculos para as sequências de lutas, se nos dois primeiros longas já tínhamos ótimas coreografias exuberantes, no terceiro filme, Chad Stahelski e sua equipe mostraram que eles são capazes de ir além criando sequências extremamente empolgantes e entregando uma obra na qual o filme se propõe a entregar, fazendo o dever de casa.
O roteiro produz um auto-deboche sagaz, e se por alguma vez você pensou que as motivações de Wick eram ingênuas, o filme tem plena noção disso e repete inúmeras vezes: "tudo isso por causa de um cachorro e um carro".
Sem sombras de dúvidas John Wick entrou no grupo de personagens na qual você não pode comprar briga, neste grupo também estão: John McClane, Terminator, John J. Rambo e Martin Riggs.
A abordagem das diferenças de classes é bem notória e a todo o momento fica claro esta discrepância, temos os opostos de ambas as famílias que possui uma estrutura igual de componentes, porém a questão do dinheiro muda o comportamento de ambos.
Sabemos que parasitas são organismos que se multiplicam e se alojam em um hospedeiro para usufruir de seus recursos, a família Ki-taek utiliza dessa artimanha para conseguir trabalhar para a família Park, no começo há uma certa admiração por parte de Kim Ki-taek pela figura do patrão até o momento em que percebe os preconceitos que este guarda consigo.
A beleza de “Parasite” esta na forma como a história se desenrola, podendo ser apenas um filme sobre classes sociais, mas ele vai além e escolhe ir por caminhos que nós espectadores não esperávamos. Até certo ponto, o desfecho era claro e simples, mas graças a um roteiro inventivo e original, temos a certeza de que os caminhos irão levar ao caos. Nessa viagem incerta somos bombardeados por risos, terror e drama.
A montagem é extremamente cuidadosa contribuindo com a dinâmica atenuante do filme, ela trabalha a favor da ação e vai mudando seu ritmo de acordo com as alterações de tons que o filme vai sofrendo, tons estes que não muda drasticamente, ele é paciente e navega até o ponto chave de explodir.
“Parasite” é uma obra original provindo de um país frutífero de filmes bons e teve seu reconhecimento no festival de Cannes de 2019, levou não só a Palma de Ouro, mas também a nossa sanidade mental.
"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos." - Charles Chaplin
Esta frase de Charles Chaplin causou-me a mesma linha de pensamento que Booksmart. Os estágios da vida passam rapidamente, viva uma vida da qual não se arrependa, busque aquilo que te traz felicidade, assim terá uma vida que valha a pena ser vivida.
Em quadro é revelado um corredor escuro e apático, vemos em profundidade de campo uma porta se abrindo, única fonte de luz do quadro provém desta porta aberta, também através dela surge nosso herói com uma de suas roupas mais extravagantes e ao abrir a segunda porta, pensamos: “é hora do show!”. Desfecho da cena: o herói estava a caminho de um centro de reabilitação para dependentes, pode soar anticlimático, mas é um quebra de expectativa sensata de que nosso herói tem problemas, e que o filme não irá passar a mão em sua cabeça.
Rocketman consegue ser mais fiel e sincero a respeito de seu artista inspirador do que Bohemian Rhapsody tentou ser para Freddy Mercury, o que diferencia é que o primeiro está mais interessado em retratar como os entornos afetam diretamente a vida de Elton John, enquanto o segundo está mais interessado em vender a banda Queen através do carismático vocalista.
Rocketman aborda a trajetória do artista Elton Hercules John através de um musical muito bem dirigido, estes números musicais são energéticos e adquiri um tom fantasioso contrapondo a vida particular e social do protagonista. Se em um lado temos o artista no palco que em seus números nos fazem lembrar os musicais da era clássica de Hollywood, no outro temos um homem carente, tímido e que sempre buscou, mas nunca conseguiu ter ligações afetuosas com alguém.
Quando o show acaba e o público vai embora, o artista tem que encarar a si mesmo e a sua vida real, o filme entra em ação muitas vezes retratando a ausência de pessoas na vida de Elton nestes momentos, reforça que fama e dinheiro não são suficientes para preencher a vida de alguém. Nesta tentativa de chocar ao entrar no íntimo do personagem, o filme se perde constantemente, há uma tentativa de ser tornar um drama particular através de formulas prontas, porém perde seu tom a todo momento entre shows e números que mais parecem um filme da Disney.
Rocketman é um filme energético e encaixa as músicas do Elton John perfeitamente em cena, na qual a letras traduzem a ação em tela; apresenta um elenco que traduz bem o universo do filme em retratar o vazio de uma pessoa que aparentemente tem tudo, porém fica claro a sua tentativa de persistir em um drama que nunca consegue comover.
Filmes como “Apocalypse Now” e “Phytom” estão interessados em mostrar os horrores da guerra, suas destruições, e a deterioração mental e física dos homens que estão em uma guerra que não foram eles que iniciaram. Já MASH escolhe um caminho totalmente diferente, porém sem deixar de fora o protesto social contra a guerra.
Em meio a uma sociedade americana que protestava contra a guerra na década de 70, MASH encara com muito bom humor o descaso das pessoas perante a guerra no oriente, e seu cunho cômico e contestador fugindo dos padrões hollywoodianos de contar histórias torna-se um filme obrigatório meio à chamada Nova Hollywood.
Robert Altman dirige de forma despretensiosa ao ponto de esquecermos que estamos vendo um filme sobre guerra, apostando mais no time cômico, nas reações dos personagens perante determinadas situações e no desdém com os objetivos do país que eles defendem.
O filme mantém seu tom a todo instante, mesmo nos momentos recorrentes em que os cirurgiões (Benjami e John) estão salvando vidas, há uma brecha para uma piada ser encaixada, e este é um ponto importante, independente do desdém de nossos amigos cirurgiões, eles são altruístas ao ponto de sempre estarem disponíveis para salvar vidas alheias.
Nada escapa dos olhares zombeteiros dos personagens: religião, conservadorismo, guerra, hierarquia, sexo é apenas alguns dos temas explorados divertidamente. É com muita alegria que assisto a meu primeiro filme de Robert Altman, uma grata surpresa que espero que se estenda nos próximos títulos, pois se inicia aqui uma maratona de filmes dirigidos pelo mesmo.
The dirt adquiri um tom documentarista querendo expor a história da banda Mötley Crüe e a trajetória de vida e personalidade de cada um dos integrantes, e sempre fazendo isso tomando de assalto uma fórmula que já é comum em filmes biográficos de grupos musicais, porém aqui eles possui uma liberdade maior para expor sexo e drogas. Por mais que o filme inclua inúmeras cenas que não acrescentam em nada na história, estão lá apenas para dizer, " olha como somos maus", o filme possui um ritmo dinâmico e para quem gosta da banda, meu caso, torna-se divertido acompanhar todo aquele hedonismo.
os créditos começaram a subir e eu fiquei com a seguinte pergunta: Quanto dos casais se arrependem de ter feito a escolha de se juntar com alguém que não ama, e se os mesmos sentem falta de seus antigos parceiros?
Gaspar Noé possui toda a liberdade para expressar sua visão sobre sexo em "Love", o diretor exibi todas as nuances do sexo: o sexo selvagem, sexo com fetiche, sexo conciliatório, sexo violento e são nestes momentos que mais dizem sobre o entrosamento do casal. O primeiro ato há um ar de suspense que faz a história avançar, porém conforme as peças vão se encaixando, o filme não tem mais para onde ir e o diretor prolonga o fim com mais cenas desnecessárias de sexo. Apesar de tudo, um bom filme.
Histórias são apagadas numa guerra, simplesmente deixam de existir e quem as viveu, passaram por dias de sofrimentos que nós nascidos pós-guerra jamais saberemos o que é viver nestas condições. Isao Takahata aborda tantos temas, mas a ganância e apatia sobressaem aos outros que demonstra que já falhamos como ser humanos.
O tom cômico parte da tragédia vivida pelos personagens, tragédia esta retratada em forma de estereótipos e exageros que até soam divertido, porém demonstram problemas individuais graves.
Antes do Amanhecer
4.3 1,9K Assista AgoraA década de 90 foi extraordinária para o cinema de uma forma geral, porém a indústria americana estava, como já de costume, absorvendo o máximo que podiam de um gênero em especifico para conseguir mais dinheiro, as comédias românticas. Tivemos sucessos conhecidíssimos como: “Pretty woman”, “10 Things I Hate about You” e “Notting Hill”.
No meio do enxame de títulos com a mesma temática de jovens superficiais que encontram no amor uma forma de enxergar o mundo de uma forma diferente, podemos citar inúmeros com apelo popular, porém acredito que o filme que mais soube se comunicar com uma geração e dizer a verdade sobre o que é amadurecer e a forma mais natural de enxergar a vida foi BEFORE SUNRISE.
Dirigido por Richard Linklater, acompanhamos Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), dois jovens que se conhecem no trem após testemunharem a briga de um casal, após uma primeira conversa e já interessados um pelo outro, Jesse convida Celine para descer com ele em Viena e passarem a madrugada juntos onde no dia seguinte o mesmo deverá de pegar um avião de volta ao Estados Unidos.
O que chama atenção em um primeiro olhar é a naturalidade da relação entre Jessie e Celine, percebemos nos pequenos gestos de quando ele olha para ela e esta finge que não vê, a tentativa de impressionar em um primeiro contato e os gestos calculados para nunca invadir demais porém deixando claro o interesse. São pequenos detalhes, porém conversam facilmente com nosso instinto de perceber que era algo que nós mesmos faríamos nestas circustâncias.
Before sunrise além de tudo é uma aula de forma e conteúdo, se pensarmos que o filme busca demonstrar uma naturalidade e o mais próximo possível de uma realidade que é duas pessoas se conhecendo, o filme adquiri escolhas que moldam a sua forma para alcançar esses objetivos. Temos planos longos de uma conversa continua que revelam a visão de mundo de cada um, uma fotografia que busca a neutralidade de uma dia comum e a trilha diegética que faz-nos imergir cada vez mais na história.
Jessie, um rapaz que demonstra não ter muitas ambições a principio por não saber de fato o quer almejar, mas valoriza a relação humana e tem o charme ao seu favor. Celine é uma moça mais esclarecida sobre si, possui uma opinião formada sobre quase tudo e por ter mais o “pé no chão”, demonstra ter um certa maturidade que contrasta com Jessie. E são nestas dualidades e experiências de vidas diferentes que são exibidos as mais belas discussões que você pode esperar sobre a vida, amor, sexo, religião, futuro e divagações que trazem uma aproximação fácil com o público.
Before Sunrise é uma bela história sobre descoberta. Descoberta de si mesmo através de um terceiro; de como o amor sincero nasce através dos diálogos e dos pequenos detalhes que reparamos nas outras pessoas. Somos imperfeitos e temos nossas próprias opiniões, que mudam constantemente, porém é isso que nos torna único.
Antes do Pôr-do-Sol
4.2 1,5K Assista AgoraSe em Before Sunrise temos a descoberta entre Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), em Before Sunset temos a (re)descoberta, uma vez que se passaram 9 anos após o primeiro encontro e nada mais natural que já tenham uma profissão, novas opiniões e novas experiências de vida.
Agora escrito não só por Richard Linklater, mas também pelos atores, o que é incrível tendo em vista que eles deram vida a estes personagens, eles mais do que ninguém saberiam explorar este amadurecimento e retratar suas mudanças durantes estes anos. Jesse ainda demonstrando traços de sua personalidade desde o primeiro encontro, soa desajeitado perante a presença de uma Celine mais intelectualizada. A distância intelectual de ambos ainda é gritante, porém isso é irrisório uma vez que eles ainda se divertem com a presença um do outro.
O primor técnico de trazer uma naturalidade em torno de Jesse e Celine continua aqui, parece que estamos num filme francês dos anos 60 durante a Nouvelle Vague que, enquanto vamos admirando as belezas das ruas de Paris, estamos cada vez mais intertido na relação entre os personagens.
A beleza na interação de ambos são renovadas agora com as suas novas posições sociais, as suas novas visões de mundo e autonomia que não tinham há 9 anos atrás. Os mesmos possuem as suas vidas e seus novos relacionamentos, e agora o público tem noção dos desfecho deste novo encontro e tudo o que ambos tem a ganhar e a perder dependendo de suas escolhas.
Estamos em constantes metamorfoses, mudamos nossas opiniões e nosso jeito de ser, quem não muda é porque morreu. E notar essas mudanças no outro muitas vezes é uma tarefa difícil, pois torcemos para que as pessoas não percam aquilo que mais admiramos nelas. Fico imaginando Jesse e Celine nesse jogo de olhares, gestos e confusões procurando aqueles detalhes que fizeram um se apaixonar pelo outro naquele trem.
Noites de Cabíria
4.5 382 Assista AgoraQuando os anseios do coração são mais fortes do que as nossas próprias realizações.
Cabíria diz para Alberto Lazzari:
"... As outras (prostitutas) dormem debaixo da ponte. Tenho minha própria casa com luz, água, gás, todas as comodidades. Não me falta nada."
Esta fala de Cabíria torna-se uma potente armadura à personagem que demonstra ser forte na maior parte do tempo, demonstra seu orgulho por ter realizações que muitas das mulheres do mesmo oficio não conseguiram. Porém Cabíria abriria mão de todas estas conquistas para preencher aquilo que seu coração mais anseia, por mais que este anseio não seja totalmente explicito, fica claro o seu desejo de mudar de vida, mas como? Se a vida nunca lhe foi fácil.
O filme vai além de sua personagem e sua busca, ele é o registro do seu tempo e exprime os resultados da segunda grande guerra e da era Mussolini, refletindo aqui em filhos que cresceram sem seus pais, pessoas vivendo em docas e a concentração de famílias em comunidades nas periferias de Roma.
Como bem refletido numa rima visual do inicio e no final do filme, Cabiria se vê mais uma vez numa situação embaraçosa, pois mais uma de suas tentativas de finalmente preencher o seu vazio e ter a sua grande chance de ter uma vida melhor, vão embora junto com os vigaristas na qual ela deposita sua confiança. Em toda a sua trajetória pela madrugada ela tinha tudo que precisava, ela mesma!
Fellini cria poesia com imagens em movimentos, sua simplicidade em seus planos longos criam um palco de naturalidade onde o brilho de Giulietta Masina traz em voga as sombras da vida de Cabíria.
Através de um Espelho
4.3 249karin é uma mulher que possui um problema mental degenerativo acreditando que receberá a visita de Deus, vamos acompanhando sua deterioração enquanto isso afeta os entornos de seu meio familiar.
Bergman trabalha bem a ambiguidade do significado de Deus e da própria fé: uma lado temos a alusão de associar o fanatismo religioso a uma questão de doença e como isso afeta o meio social (Karin), na outra ponta está quem, após um momento trágico, vê no amor que tem por seus filhos uma forma de categorizar a fé (David).
Karin (Harriet Andersson) numa incrível atuação, exprime muito bem essa ideia dúbia da fé, pois temos a sua bondade e como esta vai se apagando quando a sua espera por Deus transforma em negação dos seus próprios instintos. Destaco também a excelente mis-en-scène que trabalha em prol desta tragédia. A casa onde habitam possui formas quadrangulares deixando um ambiente rígido e não natural, seus minúsculos espaços demonstram como o problema de Karin sufocam a todos. O quarto onde ela ouve as vozes é reflexo de sua mente, um lugar vazio e inóspito. Quando a mesma decide que precisa ser internada, esta num barco quebrado e afundado, espelho de sua atual situação
A perspectiva individual que temos sobre Deus ultrapassa o limite da razão. Deus pode ter vários nomes e formas, tem quem o chame de dinheiro ou fama, amor ou poder, justiça ou compaixão... Enfim, a forma como você o enxergará mostrará se você estará no caminho de ser uma pessoa melhor ou no caminho da loucura.
O Anjo Exterminador
4.3 376 Assista AgoraBuñuel era uma sujeito criativo, provocador e com uma visão niilista da sociedade, seus temas vão além de um simples fetiche com a incoerência proporcionada pelo surrealismo, mas também alegorias vindas através do cotidiano de classes, pessoas e convenções sociais.
Em "O Anjo Exterminador", ele trabalha com a hipótese de pessoas pertencentes à burguesia presas em uma palácio através de uma barreira invisível. Estas pessoas ao longo deste enclausuramento liberam os seus comportamentos mais primitivos, muitas vezes partindo para violência e não vendo mais significados em suas próprias vidas.
A prisão desta classe burguesa e dos fiéis na igreja, representam as suas verdadeiras faces uma vez estando em dificuldade, fome e falta de esperança. A movimentação de câmera acompanha essa desestabilização uma vez que parte de travelling suaves até quando a loucura toma conta do espaço e parte para planos mais estático perdendo sua delicadeza, fragmentando um espaço que era belo para um inabitável e super populoso.
A barreira criada por Buñuel torna-se uma divisão intelectual destas classes onde a parte inferior estão os medos, anseios e violência que estes grupos escondem, a parte externa são exibidas apenas uma maleável camada de atuações falsas e costumes conservadores. Atuações e comportamentos que sempre foram os grandes inimigos de Buñuel na Espanha.
Blow-Up: Depois Daquele Beijo
3.9 370 Assista AgoraBlow-up trabalha de forma gradual a mudança de perspectiva de Thomas sobre a vida ao seu redor. Se ao inicio somos apresentados a um fotografo egocêntrico onde em seu entorno as coisas fluem através de sua lente e suas escolhas, uma vez que ele presencia um suposto homicídio, essa perspectiva sai de si e passa a ser sobre àquelas pessoas. Digo suposto, pois uma vez imerso na mente de Thomas, vamos dando valores e interpretações em meio a imensidões de ampliações de fotografia e borrões escuros que o mesmo revela. Assim como Antonioni mostra que o braço de guitarra quebrado só tem valor no espaço onde o show estava acontecendo e na rua ela é apenas um braço de guitarra, logo as fotografias só tinham alguma importância enquanto nelas damos valor de uma prova criminal.
Nesse jogo de valores, de fatos que ocorreram ou não e o que é real e o que não é real, vemos em uma partida de tênis imaginária que a realidade é subjetiva nos olhos de quem a vê, se forçamos a nossa mente de que há bola de tênis em jogo, nós a veremos.
História de um Casamento
4.0 1,9K Assista AgoraMarriage Story possui uma atmosfera naturalista sufocante, onde o arco de cada um dos personagens é palpável, você sofre junto com eles, você sente suas angústias e sabe muito bem o que cada um tem a perder. Esta naturalidade percorre há tempos às obras do diretor Noah Baumbach, onde este prefere sempre contar histórias de pessoas reais em seu cotidiano enfrentando seus dilemas.
Acompanhamos o processo de divórcio entre Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver), porém o principio pacifico vai dando espaço para uma situação mais conturbada entre o casal. O Pilar principal de sustentação do filme é a interação entre estes dois atores, incrivelmente sutil como cada um consegue transmitir informações apenas com um olhar, com movimentos corporais e nas pequenas situações de desgastes que cada um enfrenta ao tentar colocar um ponto final na história que ajudaram a construir. Fazendo reforçar o ditado de que casar é difícil, porém separar é pior ainda.
Independente do divórcio, ambos ainda demonstram o seu respeito e carinho, nunca querendo exceder os limites para não querer piorar a situação, mas sempre colocando nas entrelinhas aquilo que sempre os incomodaram, tudo que sabemos sobre a vida do casal é verbalizado pelos mesmos, ficamos com o papel de julgar aquelas pessoas, o que é uma ótima decisão do diretor de nos deixar como júri de todo esse contexto. O roteiro magistralmente pontua ótimos diálogos, constrói camadas enervantes até o ponto de onde ninguém conseguir esconder mais o que sente.
A naturalidade citada no início do texto percorre todas as nuances da Mis-em-Scene, as locações pequenas são preenchidas com a presença de Nicole e Charlie, tornam-se aconchegantes cada ambiente em que estes ocupam, mesmo o subtexto tratando de um assunto tão delicado. A vivacidade destes ambientes se contrasta quando cada um necessita lidar diretamente com o seus advogados, pois estes profissionais ocupam espaços bem maiores e com certa artificialidade ofuscando a humanidade que cada membro do casal ainda possui.
Os advogados desempenham um ponto chave, para Nora e Jay, o casal é apenas mais um cliente, sempre agindo com indiferença e seguindo protocolos pré-definidos, tratando todo o contexto do divórcio como uma disputa de próprio ego, fazendo a situação tornar mais difícil do que já é. Já Bert tenta ser mais humano e pacifico devido sua experiência de vida, mas logo é descartado, pois este ambiente demonstra não ser para pessoas condescendentes.
Relacionamentos possuem começo, meio e, não necessariamente, fim. Marriage Story vem para dizer que o fim, é o mais complexo de todos. Encerra ali a história de duas pessoas que em determinado ponto da vida se amaram incondicionalmente, cada uma delas levará um pouco da outra consigo.
O Irlandês
4.0 1,5K Assista AgoraThe Irishman traz a máfia sob uma perspectiva mais realística, com menos glamour e com um teor mais humanizado. Acompanhamos a trajetória de um homem que após ter voltado da guerra, tenta dar um situação melhor para sua família recorrendo a caminhos nada ortodoxos.
Tão triste quanto seu início, é o seu fim. Frank em sua velhice decide nos contar sua trajetória e passamos a ser o avaliador das escolhas de Frank, seus arrependimentos, suas reflexões e onde ele poderia ter feito diferente.
Todos os pontos característicos de um filme de máfia estão aqui , a desconstrução ocorre quando Scorsese decide narrar os fatos com naturalidade encarando aquelas pessoas como seres comuns. Acompanhamos o seu cotidiano, necessidades e seus crimes sem que nada seja extravagante, pois a descrição e o tempo são a chave destes criminosos alcançarem seus objetivos, desde infiltração em órgãos do estado até o controle da economia de uma determinada região, tudo precisa levar seu tempo assim os personagens carregará em suas costas o peso de todas as suas ações.
Martin Scorsese revisita mais um gênero que fez parte sua história, mantém sua coroa real de um dos melhores diretores de todos os tempos e nós, seu súditos, aplaudimos incansavelmente mais uma de suas obras.
Louvado seja Scorsese.
O Homem Irracional
3.5 553 Assista AgoraIrrational Man vai na mesma linha de matchpoint, sendo assim não é um filme sobre o Woody Allen, mas vemos muitos personagens parafraseando ideias pertinentes ao intelecto do diretor.
O filme funciona muito bem com seu jogo de contrapontos, por exemplo: no principio temos os vários relatos positivos sobre o professor Abe, quando este chega na cidade, é um sujeito totalmente oposto. A cinematografia e o design de produção exuberantes adquiri um toque Alegre e vintage, porém completamente oposto ao que vemos sobre o auto estima de Abe. O contraponto do Abe infeliz e sem motivos para viver com aquele inegavelmente feliz após ter acreditado ter feito justiça.
Nesse embate de ideias e contrapontos, o filme torna-se repetitivo inúmeras vezes, com as mesmas divagações e sem muito com que trabalhar. Woody incha com tudo que pode até concluir.
Coringa
4.4 4,1K Assista Agora“Joker” permaneceu por semanas em minha mente, fazendo-me questionar sobre tudo aquilo que assisti e, principalmente, por ser uma viagem na mente de uma pessoa que não gostaria de ser aquilo que vai se tornando, o reflexo de Arthur frente ao espelho colocando um sorriso no próprio rosto com os dedos pode ser qualquer pessoa querendo que o dia não acabasse do jeito que acabou, ou que a vida tomasse outro rumo que não seja a tristeza.
O longa narra a série de situações ruins que ocorrem na vida de Arthur Fleck, que aos poucos vão moldando o seu desenvolvimento até o caos. Escrito e dirigido por Todd Philips, este sabe muito bem do trabalho que tem em mãos, e sabiamente utiliza inúmeras referências da nova Hollywood que contribuem para contar sua história: personagens ambíguos, abstração da realidade e o pessimismo de uma sociedade degradada são apenas alguns destes exemplos, ou seja, se “Joker” fosse lançado no final dos anos 60, possivelmente seria tão relevante quanto está sendo para nós atualmente.
Todd Phillips arrisca em contar uma história mais intrusiva na mente de seu personagem adotando um tom soturno e lento, fugindo da linha dos filmes que também são baseados em personagens de quadrinhos que sempre procuram desenvolver suas tramas até culminar numa resolução catastrófica de grandes proporções. Ótima visão do roteiro em trabalhar neste aspecto intimista e conciliar o presente desastroso na vida de Arthur com os seus traumas do passado juntamente com possíveis desfechos para o futuro, esse dinamismo é saudável para o poder de dedução do público, porém o filme algumas vezes não resiste em explicar algumas coisas que já tinham ficado claras.
O desenvolvimento de Arthur ocorre de forma gradual onde no principio ele é uma reação de como a sociedade o trata, após determinada ocorrência no metrô, ele passa a ser uma reação para esta sociedade que está em declinio onde a maioria, certamente, sofrem situações semelhantes a de Arthur, porém a diferença está no caminho que todos estes escolhem tomar, pois se você decide fazer mal a alguém, você é um vilão! Mesmo que no passado você tenha sido uma vitima.
Tudo é hostil ao redor de Arthur, seu envolto ausente de cor reflete sua mente degradada onde o refúgio está em breves momentos de imaginação que aparentemente demonstram ser uma realidade, a cinematografia ajuda nesta percepção utilizando-se de baixa iluminação somado a um verde apático. Mas onde não havia vida, ganha cores logo após Arthur realmente descobrir e aceitar essa personalidade que sempre esteve ao seu lado, porém adormecida.
Sendo uma trama quase exclusiva sobre a vida de um personagem, Joaquin Phoenix consegue transmitir tudo que o personagem precisava para captar nossa atenção, nossa pena e, ao mesmo tempo, o nosso medo, graças a sua atuação que é estendida até as suas curvas corporais grotescas e suas tentativas de controlar seu transtorno em situações inoportunas.
Joker é um filme que não possui medo de arriscar-se e nem mostrar aquilo que realmente quer dizer, seu universo pode ser interpretado como espelho social de uma determinada época ou de situações cotidianas mesmo passando em um lugar fictício, além de tratar da discrepância entre as diferentes classes sociais na qual 2019 já nos presentearam com ótimos títulos, vide os filmes Bacural e Parasita.
O perigo que muitos dizem que o filme pode transmitir é uma falácia, pois a arte nunca será um gatilho para o mal, temos o bem e o mal dentro de nós, cabe escolhermos para qual caminho enveredar.
Coringa
4.4 4,1K Assista Agora“Joker” permaneceu por semanas em minha mente, fazendo-me questionar sobre tudo aquilo que assisti e, principalmente, por ser uma viagem na mente uma pessoa que não gostaria de ser aquilo que vai se tornando, o reflexo de Arthur frente ao espelho colocando um sorriso no próprio rosto com os dedos pode ser qualquer um querendo que o dia não acabasse do jeito que acabou, ou que a vida tomasse outro rumo que não seja a tristeza.
Uma série de situações ruins ocorre na vida de Arthur Fleck que aos poucos vão moldando o seu desenvolvimento até o caos, sem pressa de entregar o coringa como conhecemos, Todd Phillips arrisca em adotar uma história épica de fatos sucessivos lentamente até o grande final, saindo da linha dos grandes filmes que são baseados em personagens de quadrinhos, acrescentado ainda pelo desenvolvimento da trama basear-se mais em situações que ocorreriam com qualquer um em um dia ruim.
O desenvolvimento do Arthur ocorre de forma sublime onde no principio ele é uma reação de como a sociedade o trata, após determinada ocorrência no metrô, ele passa a ser uma reação numa sociedade decadente onde a maioria, certamente, sofre situações semelhantes à de Arthur, porém a diferença está no caminho que todos estes escolhem tomar, ou seja, se você decide fazer mal a alguém, você é um vilão! Mesmo que no passado você tenha sido uma vitima.
Tudo é hostil ao redor de Arthur, seu envolto ausente de cor e de vida reflete sua mente degradada onde o refúgio está em breves momentos de imaginação que aparentemente demonstram ser uma realidade, ponto este interessante onde poderá gerar dúvidas se determinado fato ocorreu, porém nada mais saudável de que um debate acalorado para discutir essas narrativas de roteiro. O roteiro em si trabalha como uma serie de episódios de situações ruins para a vida de Arthur ligada aos seus traumas do passado juntamente com possíveis desfechos para possíveis futuros, determinado flashback ou uma cena durante a grande rebelião podem incomodar, porém é uma pequena agulha num palheiro envolto de perfeições.
Joaquin Phoenix consegue transmitir tudo que o personagem precisava para captar nossa atenção, e foi além estendendo sua atuação a curvas corporais grotescas, suas tentativas de controlar sua risada em situações de perigo misturando tudo isso a tosses e olhar de medo. Um grande personagem para um grande ator.
Joker é um grande filme que não possui medo de arriscar-se e nem mostrar aquilo que realmente quer dizer, sua realidade nada mais é do que um espelho social de inúmeras nações. O perigo que muitos dizem que o filme pode transmitir é uma falácia, pois a arte nunca será uma ameaça ou gatilho para o mal, temos o bem e o mal dentro de nós mesmos, cabe escolhermos para qual caminho enveredar
A Juventude
4.0 342"Youth” diz tanto sobre nós mesmos que fica difícil de dizer qual arco mais nos tocou, e sendo a vida o principal assunto do filme, ele irá comunicar com todos facilmente.
Gosto quando o filme trabalha com a retratação de uma vida inteira vivida onde episódios do passado retornam para nos lembrar de como tomamos decisões erradas, ou decisões que parecem ser erradas que no final das contas não foi tão errada assim, pois ela foi necessária para conhecermos nós mesmos. Diz sobre o papel do artista e suas obras, como ficamos marcados por algumas destas obras, processo criativo e como se livrar de velhos rótulos e partir para novos caminhos. Como trabalhar com culpas depois de anos de arrependimento, como encaramos as situações ruins de nossos semelhantes e a tarefa difícil de perdoar e se redimir.
A fotografia limpa e ofuscante a todo momento trabalha como uma forma de iluminação sobre a epifania de cada um dos personagens, pois a todo momentos eles estão em constantes contestações sobre si mesmos e seu passado, alguns até não consegue lidar com isso de forma racional.
Todos os momentos que vivemos hoje tornarão gotas em um oceano de memórias que certamente esqueceremos dos detalhes, mas teremos a lembrança de como foi bom ter vivido todos eles.
As Boas Maneiras
3.5 648 Assista AgoraDividido em duas partes, "as boas maneiras" consegue a todo tempo deixar claro sua mensagem de acompanhar os vários estágios da maternidade através de uma história que flerta com o suspense/terror/romance/drama e que faz um ótimo serviço ao cinema nacional. Em sua primeira parte, Marjorie Estiano assalta nossa sanidade com uma personagem repleta de segredos e ambiguidades. Mergulhada em cores azuis que saltam magicamente em nossos olhos, e ao mesmo tempo entra em contraste com o ar sombrio enquanto anunciam a chegada de uma criança.
A segunda parte permanece em seu ritmo lento e contemplativo, porém não possui o mesmo apelo dramático que a primeira parte consegue expressar, mas ainda bom. Continuando assumindo seu enredo materno, porém agora depois da gestação, passamos a conhecer o desafio de uma mãe que deve enfrentar as mudanças naturais que a criança sofre para sua adolescência.
Uma interessante viagem que assume seus vários gêneros e cria um palco que mais parece uma lenda contada de pessoas para pessoas através de seus efeitos visuais que parecem pinturas, sua trilha sonora cantada pelos próprios personagens e flashbacks com técnicas de animação.
Bacurau
4.3 2,8K Assista AgoraO western nordestino “Bacurau”, parte da premissa de todos os problemas conhecidos do sertão, desde pobreza extrema, passando pela ausência do estado para prover políticas sociais até a indisponibilidade de água para população. Estes temas foram abordados perfeitamente em muitos filmes do movimento cinema novo, mas “Bacurau” traz uma roupagem moderna e pop para estes filmes, mostrando que há muito para ser explorado.
O clima western trazido por Kleber Mendonça e Dornelles, parte desde créditos iniciais com o mesmo modelo de apresentação dos westerns americanos, passando pela montagem de fusão lateral, até aquela tensão antes do grande duelo, sem contar que o clima árido do nordeste favorece para criar um espetáculo de terra sem lei.
A invasão à Bacurau expressa à ilusão de superioridade que muitos possuem sobre os mais pobres, assim como o coronelismo presente até hoje em muitas terras pobres do nordeste brasileiro. Partindo desta visão, temos um filme relevante politicamente com um teor de entretenimento que conhecemos muito bem nos filmes de Quentin Tarantino, ou seja, violência e criação de um ambiente prestes a explodir a qualquer momento. Aliás, caso Tarantino nascesse no nordeste brasileiro, sem dúvida este seria o modelo filme que ele iria dirigir.
Ganhando o prêmio do júri em Cannes, terceiro prêmio mais importante do festival, ajudou a no processo de divulgação do filme, mas o nome de Kleber Mendonça Filho já é um bom motivo para assistirmos ao filme, pois como bem vimos em “O Som ao Redor” e “Aquarius”, Kleber tem o dom de criar climas desconfortáveis, criar personagens fortes, filmar em pequenos espaços retratando um clima claustrofóbico e trabalhar com os problemas das diferenças classes sociais.
Bacural trouxe o poderio que cinema brasileiro possui, a quantidade de histórias que podemos contar e a quantidade de prêmios que podemos trazer.
O Bar Luva Dourada
3.6 340Se eu pudesse atribuir um elogio ao filme, eu diria que ele é repugnante. Repugnante, pois é essa a proposta que filme pretende alcançar e é exatamente isso que ele entrega.Toda degradação humana resumida em uma hora e cinquenta minutos.
Se por um lado o filme é escasso de informações que justifique certos acontecimentos, ele é totalmente sincero quanto às loucuras e fetiches do assassino protagonista. Todo envolto do filme é criado para exibir um palco hostil a qualquer beleza que posso existir naquela realidade.
Sendo assim, the golden glove é uma filme que atende ao seu objetivo tornando-se um filme interessante, porém não recomendável a todos.
John Wick 3: Parabellum
3.9 1,0K Assista AgoraHá uma série de filmes de ação sendo lançados estruturamente muito semelhantes: direção de arte estilizada abusando de cores neons, coreografias complexas, longos planos de personagens caindo na porrada e protagonistas que não conseguem fugir do seu passado . Das características citadas podemos lembrar de filmes como: "The Villainess", "Atomic Blonde" e "John Wick".
Isso é muito importante, pois revitaliza o gênero e traz uma roupagem nova a um gênero que já foi deverás explorado e tem um poder imenso de criar ídolos.
Em "John Wick: Chapter 3", a cinematografia trabalha totalmente em detrimento de criar espetáculos para as sequências de lutas, se nos dois primeiros longas já tínhamos ótimas coreografias exuberantes, no terceiro filme, Chad Stahelski e sua equipe mostraram que eles são capazes de ir além criando sequências extremamente empolgantes e entregando uma obra na qual o filme se propõe a entregar, fazendo o dever de casa.
O roteiro produz um auto-deboche sagaz, e se por alguma vez você pensou que as motivações de Wick eram ingênuas, o filme tem plena noção disso e repete inúmeras vezes: "tudo isso por causa de um cachorro e um carro".
Sem sombras de dúvidas John Wick entrou no grupo de personagens na qual você não pode comprar briga, neste grupo também estão: John McClane, Terminator, John J. Rambo e Martin Riggs.
Parasita
4.5 3,6K Assista AgoraA abordagem das diferenças de classes é bem notória e a todo o momento fica claro esta discrepância, temos os opostos de ambas as famílias que possui uma estrutura igual de componentes, porém a questão do dinheiro muda o comportamento de ambos.
Sabemos que parasitas são organismos que se multiplicam e se alojam em um hospedeiro para usufruir de seus recursos, a família Ki-taek utiliza dessa artimanha para conseguir trabalhar para a família Park, no começo há uma certa admiração por parte de Kim Ki-taek pela figura do patrão até o momento em que percebe os preconceitos que este guarda consigo.
A beleza de “Parasite” esta na forma como a história se desenrola, podendo ser apenas um filme sobre classes sociais, mas ele vai além e escolhe ir por caminhos que nós espectadores não esperávamos. Até certo ponto, o desfecho era claro e simples, mas graças a um roteiro inventivo e original, temos a certeza de que os caminhos irão levar ao caos. Nessa viagem incerta somos bombardeados por risos, terror e drama.
A montagem é extremamente cuidadosa contribuindo com a dinâmica atenuante do filme, ela trabalha a favor da ação e vai mudando seu ritmo de acordo com as alterações de tons que o filme vai sofrendo, tons estes que não muda drasticamente, ele é paciente e navega até o ponto chave de explodir.
“Parasite” é uma obra original provindo de um país frutífero de filmes bons e teve seu reconhecimento no festival de Cannes de 2019, levou não só a Palma de Ouro, mas também a nossa sanidade mental.
Fora de Série
3.9 493 Assista Agora"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos."
- Charles Chaplin
Esta frase de Charles Chaplin causou-me a mesma linha de pensamento que Booksmart. Os estágios da vida passam rapidamente, viva uma vida da qual não se arrependa, busque aquilo que te traz felicidade, assim terá uma vida que valha a pena ser vivida.
Rocketman
4.0 922 Assista AgoraEm quadro é revelado um corredor escuro e apático, vemos em profundidade de campo uma porta se abrindo, única fonte de luz do quadro provém desta porta aberta, também através dela surge nosso herói com uma de suas roupas mais extravagantes e ao abrir a segunda porta, pensamos: “é hora do show!”. Desfecho da cena: o herói estava a caminho de um centro de reabilitação para dependentes, pode soar anticlimático, mas é um quebra de expectativa sensata de que nosso herói tem problemas, e que o filme não irá passar a mão em sua cabeça.
Rocketman consegue ser mais fiel e sincero a respeito de seu artista inspirador do que Bohemian Rhapsody tentou ser para Freddy Mercury, o que diferencia é que o primeiro está mais interessado em retratar como os entornos afetam diretamente a vida de Elton John, enquanto o segundo está mais interessado em vender a banda Queen através do carismático vocalista.
Rocketman aborda a trajetória do artista Elton Hercules John através de um musical muito bem dirigido, estes números musicais são energéticos e adquiri um tom fantasioso contrapondo a vida particular e social do protagonista. Se em um lado temos o artista no palco que em seus números nos fazem lembrar os musicais da era clássica de Hollywood, no outro temos um homem carente, tímido e que sempre buscou, mas nunca conseguiu ter ligações afetuosas com alguém.
Quando o show acaba e o público vai embora, o artista tem que encarar a si mesmo e a sua vida real, o filme entra em ação muitas vezes retratando a ausência de pessoas na vida de Elton nestes momentos, reforça que fama e dinheiro não são suficientes para preencher a vida de alguém. Nesta tentativa de chocar ao entrar no íntimo do personagem, o filme se perde constantemente, há uma tentativa de ser tornar um drama particular através de formulas prontas, porém perde seu tom a todo momento entre shows e números que mais parecem um filme da Disney.
Rocketman é um filme energético e encaixa as músicas do Elton John perfeitamente em cena, na qual a letras traduzem a ação em tela; apresenta um elenco que traduz bem o universo do filme em retratar o vazio de uma pessoa que aparentemente tem tudo, porém fica claro a sua tentativa de persistir em um drama que nunca consegue comover.
M.A.S.H.
3.5 147 Assista AgoraFilmes como “Apocalypse Now” e “Phytom” estão interessados em mostrar os horrores da guerra, suas destruições, e a deterioração mental e física dos homens que estão em uma guerra que não foram eles que iniciaram. Já MASH escolhe um caminho totalmente diferente, porém sem deixar de fora o protesto social contra a guerra.
Em meio a uma sociedade americana que protestava contra a guerra na década de 70, MASH encara com muito bom humor o descaso das pessoas perante a guerra no oriente, e seu cunho cômico e contestador fugindo dos padrões hollywoodianos de contar histórias torna-se um filme obrigatório meio à chamada Nova Hollywood.
Robert Altman dirige de forma despretensiosa ao ponto de esquecermos que estamos vendo um filme sobre guerra, apostando mais no time cômico, nas reações dos personagens perante determinadas situações e no desdém com os objetivos do país que eles defendem.
O filme mantém seu tom a todo instante, mesmo nos momentos recorrentes em que os cirurgiões (Benjami e John) estão salvando vidas, há uma brecha para uma piada ser encaixada, e este é um ponto importante, independente do desdém de nossos amigos cirurgiões, eles são altruístas ao ponto de sempre estarem disponíveis para salvar vidas alheias.
Nada escapa dos olhares zombeteiros dos personagens: religião, conservadorismo, guerra, hierarquia, sexo é apenas alguns dos temas explorados divertidamente. É com muita alegria que assisto a meu primeiro filme de Robert Altman, uma grata surpresa que espero que se estenda nos próximos títulos, pois se inicia aqui uma maratona de filmes dirigidos pelo mesmo.
The Dirt - Confissões do Mötley Crue
3.8 285 Assista AgoraThe dirt adquiri um tom documentarista querendo expor a história da banda Mötley Crüe e a trajetória de vida e personalidade de cada um dos integrantes, e sempre fazendo isso tomando de assalto uma fórmula que já é comum em filmes biográficos de grupos musicais, porém aqui eles possui uma liberdade maior para expor sexo e drogas. Por mais que o filme inclua inúmeras cenas que não acrescentam em nada na história, estão lá apenas para dizer, " olha como somos maus", o filme possui um ritmo dinâmico e para quem gosta da banda, meu caso, torna-se divertido acompanhar todo aquele hedonismo.
Love
3.5 883 Assista Agoraos créditos começaram a subir e eu fiquei com a seguinte pergunta: Quanto dos casais se arrependem de ter feito a escolha de se juntar com alguém que não ama, e se os mesmos sentem falta de seus antigos parceiros?
Gaspar Noé possui toda a liberdade para expressar sua visão sobre sexo em "Love", o diretor exibi todas as nuances do sexo: o sexo selvagem, sexo com fetiche, sexo conciliatório, sexo violento e são nestes momentos que mais dizem sobre o entrosamento do casal.
O primeiro ato há um ar de suspense que faz a história avançar, porém conforme as peças vão se encaixando, o filme não tem mais para onde ir e o diretor prolonga o fim com mais cenas desnecessárias de sexo. Apesar de tudo, um bom filme.
Túmulo dos Vagalumes
4.6 2,2KHistórias são apagadas numa guerra, simplesmente deixam de existir e quem as viveu, passaram por dias de sofrimentos que nós nascidos pós-guerra jamais saberemos o que é viver nestas condições. Isao Takahata aborda tantos temas, mas a ganância e apatia sobressaem aos outros que demonstra que já falhamos como ser humanos.
Dona Flor e Seus Dois Maridos
3.5 171 Assista AgoraO tom cômico parte da tragédia vivida pelos personagens, tragédia esta retratada em forma de estereótipos e exageros que até soam divertido, porém demonstram problemas individuais graves.