Assistir a freira é como ir ao McDonald's acreditando que irá encontrar comida de verdade, o sanduíche é bonito, vistoso e até chama atenção, porém é totalmente artificial e sem sabor.
A ganância por poder e dinheiro já foi utilizada inúmeras vezes como motivação para antagonistas atrapalharem os planos dos nossos heróis. Não ficamos incomodados com este argumento, pois ele é totalmente plausível para nós humanos, nós somos gananciosos por natureza. O ponto que a ganância torna um problema é quando pessoas passam a ser exploradas para satisfazer os desejos de poucos, essa situação se repete com certa frequência em nossa realidade e quando exposta na ficção, torna-se algo plausível e aceitamos o vilão como ele foi entregue, pois este tipo de gente faz parte do nosso mundo, infelizmente.
Guava Island trabalha com esta questão quando expõe um povo pobre que depende quase e exclusivamente da fabrica de costura para sobreviver, a fábrica é comandada pelo personagem Red (Nonso Anozie), por deter o maior meio econômico da ilha, Red torna-se o dono de todo aquele território, controlando todos os meios de comunicação e ditando suas próprias leis. Enxergamos o povo de Guava através de uma cinematografia granulada e crua, sem artifícios, quase um registro documental, através desta ótica interpretamos os subtextos da simplicidade daqueles que lá o vivem. Quando apresentado Red pela primeira vez, é claro o contraponto, a mis-em-scene adquiri outra estética, seu escritório possui cores vivas e quentes, começando pelo seu figurino de cor laranja saturado, quase que uma metáfora ao sol que ilumina Guava.
Apesar dessa triste diegese, o filme possui um tom leve e alegre em quase toda sua totalidade, o primeiro ponto é a história da ilha na qual o diretor opta por contar através de uma animação, é uma escolha narrativa lúdica na qual demonstra a visão folclórica que as crianças possuem da ilha contada através de gerações; o segundo ponto é a presença do casal Deni (Donald Glover) e Kofi (Rihana). Deni é um carismático músico que mesmo sabendo dos males do local onde vive, ama seu lar e deseja unir todos através de suas músicas, porém seus interesses são conflitantes com o de Red. Kofi, almeja sair da ilha, mas isso não é possível sem que Deni esteja ao seu lado, é uma personagem com talento desperdiçado, pois possui medo e segredos não explorados, simplesmente abandonaram estas questões e não deram recursos suficientes para Rihana trabalhar.
O diretor Miro Murai consegue expor bem a realidade da ilha numa espécie de documentário, expondo a cultura de Guava numa opressão quase imperceptível, mas existente. Miro também balanceia o tom do filme intercalando em leve e descontraído até chegar a um suspense com perigo iminente, este aspecto é importante, pois deixa-nos sem saber o que esperar da trama. Além disso, Guava Island é um musical e possui as características importantes para que o gênero funcione, isso é, músicas e coreografias que preenchem os olhos e ouvidos, mesmo as coreografias sendo em menores escalas. As músicas são iniciadas através de som diegéticos, por exemplo, de uma máquina sendo ligada, músicos nas ruas começam a tocar e shows que ocorrem na rua, isso faz com que os números musicais soem naturalista e orgânicos.
Guava Island é um filme curto, apenas 55 minutos, suficientes para uma homenagem à cultura negra; dialoga sobre sonhos, opressão e libertação através da arte. Compara a realidade de Guava com a da América afirmando que não há tantas diferenças, e possui muitos pontos que gerariam ótimas discussões, porém não explora todo seu potencial e deixa-nos com a sensação de aventura incompleta.
O diretor possui domínio do gênero, e usa isto para criar uma desconstrução dos slasher movies, além disso possui um auto deboche consciente de sua trama, deboche mais evidente quando é demonstrado a superficialidade das motivações do assassino (mais uma forma de brincar com o gênero).
Para um fã, finalizar um arco que levou praticamente onze anos para se encerrar, não é fácil. Conta-se com o excesso de expectativas e uma linha tênue que vai entre felicidade de acompanhar o fim daquela história e a tristeza de dizer adeus para personagens que fizeram parte de nossas vidas; imagine o fã que aguardou três anos para ver o “um anel” ser destruído, ou o fã que aguardou dez anos para ver Harry Potter enfrentar o assassino de seus pais, estamos falando do mesmo sentimento.
Após Thanos dizimar metade dos habitantes da Terra, os Vingadores tem a difícil tarefa de manter a ordem no planeta, conviver com o fracasso de ter presenciado bilhões de pessoas sendo mortas e encontrar uma possível solução de reverter o grande ocorrido.
O sentimento de urgência que o filme aborda é quase sufocante, juntamente ao tom denso e emocionalmente carregado, faz desta obra um dos filmes que mais bem trabalhou o aspecto drama dos filmes da Marvel, e não podíamos esperar nada diferente, pois agora estamos acompanhando as consequências negativas do plano do grande vilão e a impotência daqueles que seriam os únicos capazes de proteger o planeta. A trilha sonora acentua a tristeza dos personagens através de pianos perfeitamente orquestrados, a fotografia crua expondo uma América debilitada, o azul predominante no Stark contornando seu pessimismo, estes são elementos narrativos que reforçam o tom que o filme gostaria de alcançar, e os fazem muito bem.
Todos os personagens tiveram seus filmes independentes e foram importantes no desenvolver deste universo, é plausível que nem todos ganhem a mesma importância e é o que ocorre, muitos destes heróis não são trabalhados ao máximo e nem são expostos quanto poderia ser, pois a história concentra em alguns poucos para resolução da trama, e este filtro vai afunilando ainda mais no decorrer do filme até focar especificamente em três heróis que possuem mais tempo em tela: Tony Stark, Thor e Steve Rogers. Robert Downey Jr. Teve uma mudança estética drástica tornando-se muito magro e carrega um grande sentimento de perda durante todo o filme, apresenta-nos uma tristeza palpável e um pessimismo compreensível, Thor faz parte do time mais cômico deste quarto filme e há um sentimento constante de que o mesmo pode colocar a missão em risco a todo o momento, junto com o Hulk, são os personagens que mais foram desconstruídos neste novo filme, Steve Rogers apresenta certo contraponto ao Tony stark, pois Steve está disposto a apostar todas as fichas em uma solução rápida para o conflito.
A cinematografia surpreende, em especial às cenas de ação que possuem planos longos de vários elementos ocorrendo simultaneamente, demonstrando um bom controle do que ocorre em quadro e trabalha muito bem com a direção de arte criando espetáculos imensos de catástrofes e desordem assim como as belas criações de cenários no espaço, ficaria satisfeito se a direção de arte fosse lembrada em 2020 na premiação do Oscar.
A direção trabalha muito bem o conceito de incertezas e o sentimento de morte iminente, é um filme que trabalha bem a questão de que tudo pode dar muito certo ou muito errado, e que durante este caminho poderá ocorrer muitas perdas, é ai que o filme acerta, pois a questão da imprevisibilidade rodeia tudo e todos deixando uma curiosidade constante para quem assiste. As cenas de ação são empolgantes e ágeis, quando é exigida um pouco mais de cautela para um momento mais introspectivo a direção não tem pressa e deixa-nos digerir toda aquela carga dramática, o conjunto destes aspectos de fato tira nossa percepção de que o filme durou três horas, acertando perfeitamente no ritmo. O saudosismo e nostalgia dos fãs contam muito para a aceitação do filme, tendo em vista que há inúmeras referências aos antigos filmes e quando determinados heróis aparecem em cena, a câmera faz questão de movimentar lentamente e preenche-los no quadro em tentativa de veneração, a direção sabia muito como ganhar o público e utilizou isso como arma.
Os roteiristas Stephen McFeely e Christopher Markus, os mesmo que escreveram os filmes do Capitão América e Vingadores: Guerra Infinita, tiveram que trabalhar e expor referências e premissas de antigos filmes concomitante com a resolução deste novo conflito, são tantos elementos orquestrados de uma só vez que nos resta aplaudir ao complexo trabalho de organização de informações, pois em nenhum momento sentimos perdidos a todo este caos. O roteiro é recheado de piadas e alívios cômicos como todo e qualquer filme da Marvel, muitas delas aqui funcionam e outras soam ingênuas não havendo graça alguma, certas vezes contrapondo ao tom denso que a cena exigiria.
Vingadores 4: Ultimato apresenta uma franquia consistente e audaciosa, sua resolução corajosa encerra mais de uma década de história colocando vingadores nos próximos livros de história do cinema.
Após escrever e dirigir seu primeiro longa, Corra (Get Out), Jordan Peele ganhou todas as atenções do público e dos críticos, merecidamente, pois Corra mesmo não sendo uma história original, apresentou um excelente suspense sendo ao mesmo tempo relevante socialmente abordando o preconceito velado de uma sociedade. A tarefa de permanecer no mesmo patamar de qualidade é difícil, não para Jordan, o mesmo veio para mostrar que ele tem muito mais a dizer.
Nós (Us), recente longa do diretor, apresenta-nos a família Wilson em suas férias quando, inesperadamente, é atacado por pessoas idênticas a eles, tornando aquelas férias um inferno.
O conjunto narrativo que o torna eletrizante é muito bem trabalhado com muito uso de sombras, reflexos, câmera desestabilizada refletindo o emocional da família, planos panorâmicos sem pressa de apresentar um desfecho e a trilha tensa intercalando entre cantos gregorianos feitos por crianças, batidas marcadas por violinos estridentes e gritos criando um palco de agonia. Isso tudo é multiplicado pela atuação da Lupita Nyong’o, aqui como Adelaide Wilson, demonstra uma mulher determinada a lutar pelos seus filhos, o desespero que a personagem transmite através dos olhos é algo crível, seu medo e sua força são palpáveis. As reações de Adelaide geram, depois de certo tempo, contradição conforme revelação dos fatos, tornando-a uma personagem rica e de difícil compreensão. A atuação no gênero horror é essencial para a imersão do espectador na trama, e Lupita soube muito bem transmitir todo o terror necessário para tornar o filme Nós, uma obra essencial do gênero.
Encontramos alternâncias no tom do filme, onde a tragédia é quase todo momento interrompida por piadas constantes, é uma característica dos roteiros de Jordan, entretanto inúmeras vezes soam destoantes retirando o sentimento de urgência que o enredo precisaria ter.
A cinematografia trabalha muito com uso de sombras fazendo bom uso da luz para criar espetáculos sombrios e captar belos planos; o uso dos reflexos não transparece apenas um fetiche visual, mas também para criar a impressão de duas pessoas iguais juntas, uma vez sabendo que a família Wilson foram atacados aparentemente por eles mesmos, isso torna quase um reforço da narrativa. Muito uso de planos subjetivos, ângulo nas costas e profundidade de campo, este último até fazendo referência ao Hitchcock, onde o rosto do personagem principal fica em um primeiríssimo plano (quase um plano detalhe) enquanto ao fundo acompanhamos a reação de um segundo personagem.
Nós é um Thriller tenso onde possui uma estrutura gradativa de caos, apresenta uma simbologia através da diferença de classes, onde os excessos de uns contrapõe a vida miserável de outros. Novamente Jordan cria a tragédia concomitante com um discurso social, assim como corra, o diretor consegue trabalhar os dois temas paralelamente sem atropelar um ao outro, criando assim uma identidade particular para suas obras.
- Abaixo uma rápida interpretação do filme com spoilers.
Jeremias - Cap. 11 Vers. 11: “Portanto assim diz o senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei”.
A citação bíblica aparece constantemente no filme, seja no anúncio da TV ou no horário expresso no relógio, esta passagem relata à queda dos habitantes de Judá e Jerusalém pelos invasores babilônicos, Deus havia punidos estes dois povos devido as suas rebeldias, pecados e idolatrias. No mesmo livro de Jeremias, é apresentada a promessa de Deus oferecendo uma nova aliança, onde os pecados dos homens seriam todos perdoados, sendo esta aliança o novo testamento.
A sociedade é atacada por clones delas mesmas que viviam secretamente no subterrâneo de Santa Cruz, estes clones viveram uma vida totalmente diferente, uma vida a beira do caos, pobreza e abandono. Os clones foram criados por humanos e abandonados vivendo de forma precária contrapondo ao estilo de vida da sociedade, e através de Red (Adelaide verdadeira que foi trocada no inicio do filme), esta planeja o ataque com a ideia da aliança Hand Across America (campanha publicitária da década de 80 para ajudar pobres dos Estados Unidos, campanha essa sem sucesso na época).
O filme em si aborda a diferença social que a America enfrenta; o fato de sermos atacados por nós mesmo, reforça a ideia que de que somos nossos próprios inimigos, permitimos que haja tantas vidas miseráveis criando disparidades com tantas outras que vivem em excessos, e a passagem bíblica aparece como forma de ameaça e maldição divina denunciando a nossa própria queda como sociedade, comprovada quando a família Wilson chega a sua cidade e encontra todos mortos.
Quando assistimos os clones vivendo no subterrâneo, um espelho das nossas próprias vidas, refletimos sobre nossos comportamentos, costumes e formas de agir, uma relação muito bem apresentada por Jordan. Se a nova aliança prometida por Deus é facilmente comparada ao Hand Across America colocada em prática pelos clones, então a mesma foi cumprida e não há mais diferenças e nem pecados, e o castigo divino foi concretizado, sendo a partir dali uma nova era, o novo testamento.
Há determinados diretores que nos surpreendem de tal forma que ficamos a espera de cada novo titulo que os mesmos venham a lançar, seja por seu estilo particular de filmar, pelos temas que estes abordam ou a relevância que o diretor possui na indústria cinematográfica, Yorgos Lanthimos é um destes diretores que devem estar anotado em nosso caderno, além de possui as características citadas, Yorgos é extremamente perfeccionista pensando em cada detalhe que possa tornar a experiência do espectador mais imersiva do que seria.
Em “A Favorita”, Yorgos apresenta uma trama mais acessível que os seus filmes anteriores, porém seu teor cômico em situações trágicas e a relação de pessoas com desvios de caráter estão aqui, quem já assistiu “O Lagosta” e “O Sacrifício do Servo Sagrado” entenderá o meu ponto de vista. Acompanhamos a rainha Anne (Olivia Colman) e sua relação com Lady Sarah (Rachel Weisz), esta última auxilia a rainha na governança e nas decisões do reino, porém esta relação pode ser comprometida com a chegada de Abigail (Emma Stone), prima de Sarah, que não pretende mais levar uma vida de criada e almeja tornar uma lady novamente.
Olivia Colman tem a difícil tarefa de nos entregar uma rainha problemática e incompetente, o roteiro ajuda muito neste quesito, porém sua interpretação dá um peso maior para a personagem, não só em suas falas, mas também em seu olhar e movimento corporal que enaltece uma mulher fraca, insegura e carente, inúmeras vezes utilizando do poder para ganhar o mínimo de atenção, indicação merecida ao Oscar de melhor atriz. Rachel Weisz é o oposto da rainha, uma mulher forte e determinada que utiliza o cargo de confiança para colocar em prática suas convicções políticas, suas palavras e sua postura acentuam mais o seu poder sobre todos, incluindo sobre a própria rainha. Emma Stone como Abigail, é a que mais possui um desenvolvimento de personagem na trama, passando de uma serva para melhor amiga da rainha, e está mudança é refletida em seu comportamento, acompanhamos uma Abigail observadora no ínicio, para uma Abigail manipuladora em determinado segmento do filme, como Emma é expressiva aqui, preste atenção no banho de lama como a mesma exprime em sua feição um sentimento de impotência.
A cinematografia é determinante para observarmos estas personagens em ação, em muito planos enxergamos Sarah em Contra-Plongée (câmera apontada de baixo para cima) tornando-a grande e poderosa, por exemplo, em certo segmento enxergamos Sarah neste plano e é criado a alusão de que a mesma está na proporção de tamanho da enorme janela do castelo, afirmando sua posição naquela casa enquanto a rainha está estirada no chão, em outro momento vemos Abigail sobre estes mesmos ângulos, pois ela está conseguindo seu poder almejado. As lentes oculares criam ambientes maiores do que eles já são e distorcem a imagem refletindo as perspectivas também distorcidas dos personagens em quadro. Os grandes planos de fundo dão uma dimensão de grandiosidade à locação que juntamente com a direção de arte, cria planos pictóricos para quem assiste. A iluminação contorna a vida daquelas pessoas, vemos muito tons de amarelos exprimindo as riquezas daquele reino enquanto a ala dos empregados está em um azul acinzentado deixando claro uma frieza e um vazio mordaz. Enquanto acompanhamos a vida dos personagens, há uma guerra acontecendo entre os ingleses e os franceses, não estamos acompanhando a guerra, mas há um detalhe que as janelas do castelo sempre estão totalmente iluminadas escondendo o que está por fora, podendo ser uma referência às bombas que estão sendo lançadas enquanto a rainha direciona sua atenção para assuntos particulares, e quando esta decide olhar pela janela, é acometida por uma grande tristeza ou pelo sentimento morte iminente.
A direção de arte cria belas ambientações para a Inglaterra do século XVIII acentuando obras e decorações condizentes a época, juntamente a isto, soma-se o figurino fenomenal de Sandy Powell, que já trabalhou inúmeras vezes com Martin Scorsese em “Os Infiltrados”, “Gangues de Nova York” e “Lobo de Wall Street”.
A trilha é um espetáculo a parte, aqui não funciona somente como uma forma de situarmos no tempo, mas ela carrega toda a carga dramática tornando-se a mais potente arma narrativa do filme. Vale mencionar como o design de som cria formas para o que estamos ouvindo, parece tudo palpável, como se estivéssemos do lado daquelas pessoas, tudo é perfeitamente audível em alto e bom som, sejam os passos das pessoas, o colocar dos brincos, o estalar da fogueira, o mastigar do bolo ou o eco dos tiros.
A Favorita surpreende como filme de ambição e jogo de poder, o tempo/espaço cria uma ambientação suave destoando do caráter dos personagens (ninguém neste filme toma suas decisões sem pensar em si mesmo), e Yorgos consegue trabalhar bem nestes detalhes, pois assim como Anne, você não sabe em quem confiar ou qual a melhor escolha a se fazer, esta ferramenta narrativa é crucial para mergulharmos no filme e querer saber o triste fim daqueles personagens, um dos meus FAVORITOS de 2018.
Lembro-me que meu avô era o símbolo de força e generosidade em nossa família, criou inúmeros filhos tratando-os com carinho, incluindo as gerações de netos que vieram a seguir. Uma vez diagnosticado com Alzheimer, uma nuvem de vulnerabilidade pairou sobre sua cabeça e todos da família foram afetados diretamente, todos fizeram o que podiam para ajuda-lo, e assim foi até o último dia de sua vida. Não consigo enxergar outra demonstração de amor mais poderosa do que esta. Não fugindo completamente da minha introdução, “Amour” nos apresenta Anne (Emmanuelle Riva), uma ex-professora de piano que após sofrer um AVC e ter seu lado direito do corpo comprometido, torna-se dependente de seu esposo Georges (Jean-Louis Trintignant) para realização de todas as suas tarefas, desde aquelas mais simples. Dirigido por Michael Haneke, um excelente diretor que geralmente gosta de subverter as características dos gêneros, assim foi em Caché e Funny Games, aqui não é diferente. Uma vez que o filme se chama “Amour” e retrata a vida de um casal, esperamos uma história de romance como todas as outras, mas Haneke não está interessado em narrar à estória de quando o mocinho conhece a mocinha, e sim o depois deste fato, quando o mocinho vive o suficiente ao lado da mocinha, onde a demonstração de amor está no cuidar quando um deles está totalmente debilitado, ou seja, aonde todos nós chegaremos um dia. Haneke gosta tanto de quebrar paradigmas que percebemos isto no início do filme, quando a câmera enquadra num plano geral uma plateia antes de um espetáculo iniciar, não notamos a presença do casal Anne e Georges, pois até então não sabemos quem será os personagens da história que iremos acompanhar, o diretor além de não nos dar pistas de que os nossos protagonistas estão na plateia, faz questão de coloca-los no canto inferior esquerdo, onde nossos olhos demoram mais a chegar. A narrativa evidencia a iminência da morte e as trivialidades da vida de um casal de terceira idade, onde o esquecer da torneira aberta ou o não abastecimento do saleiro torna-se algo normal, uma conversa que será deixada de lado após algumas horas, porém a tristeza após uma tragédia como ocorrida com Anne, fez destas trivialidades algo digno de se sentir falta. A cinematografia utiliza planos longos para retratar o cotidiano do casal, às vezes tão longo que estamos acompanhando uma conversa entre os personagens, um deles sai de quadro e após alguns minutos o outro também, o plano continua no mesmo enquadramento e a conversa não é interrompida demonstrando uma bela preparação dos atores para a gravação destas cenas, assim como o diretor sabia perfeitamente o que queria entregar para o público. A utilização destes planos pode parecer moroso para alguns depois de certo tempo, porém vemos que essa escolha é proposital para colocarmos naquele cotidiano, onde tudo demora mais a passar. A direção de arte cria ambientações espetaculares demonstrando que aquela casa, onde se passa grande parte do filme, são de pessoas de mais idade ou de um tempo que não corresponde aos atuais. Há uma harmonia de cores na mise em scène entre o figurino e a locação, utilizando-se de cores pastéis, verde musgo e amarelo. Logo percebemos que Alexandre (Alexandre Tharaud), ex-aluno de Anne, e mais tarde a visita da filha do casal, não fazem parte daquele espaço, por estarem usando roupas pretas, destoando das outras cores. Ao fundo, notamos que o piano escuro, também diverge totalmente com o ambiente, exaltando que a música não é mais presente na vida do casal. Georges, depois de saber da doença da esposa, sempre é enquadrado usando azul, exaltando sua tristeza. Jean-Louis Trintignant está perfeito como Georges, retratando um homem que se vê impotente ao assistir sua esposa morrendo aos poucos, percebemos em seus gestos que ele não possui agilidade para cuidar de pessoas, e sente-se frustrado a todo tempo, pois não basta sua esposa doente, deve lidar também com situações chatas de depender de todos para serviços simples e ainda pagar por eles, uma enfermeira que não possui aptidão e um pombo que sempre aparece depois de uma ação que não deveria ser feita, uma delas do próprio Georges. Não imagino a personagem Anne sendo interpretada por outra atriz, a não ser pela Emmanuelle Riva, sentimos em seus movimentos, olhares e falas de que Anne encontra-se presa em seu próprio corpo, e quando num estágio mais avançado da doença, a sua feição demonstra que estar viva, tornou-se sinônimo de sofrimento, com certeza é uma atuação que permanecerá comigo por muito tempo. A química entre o casal é muito verdadeira, em 10 minutos de filme estamos completamente mergulhados naquele relacionamento. Isabelle Huppert (excelente como sempre) mostra-se insatisfeita ao ver como a mãe se encontra, tendo em vista ao que esta última foi no passado. Amour, ganhador da palma de ouro em 2012 e de melhor filme estrangeiro no Óscar em 2013, é uma obra-prima que evidencia o efeito do tempo sobre as pessoas, pois o tempo é inevitável e passa para todos, nada é mais forte do que ele, pois ninguém pode controlá-lo ou interrompê-lo.
Eu não me enquadraria no universo de Game Nigh, pois eu não sou nada competitivo e o nível dos personagens aqui está em hard para cima. O filme tem tudo que dá certo: rimas narrativas, montagens criativas com matchcuts inteligentíssimos, planos sequencia difíceis, piadas que funcionam super bem, personagens cativantes, narrativa dinâmica e claro, Rachel Mcadams, tudo fica mais belo quando ela está presente.
Imagine que no meio dos horrores da segunda guerra mundial, não bastando as atrocidades dos nazistas, Hitler ainda realizasse experimentos com humanos para criar soldados zumbis poderosos, não é difícil imaginar sabendo que os nazistas usavam seres humanos em experiências cientificas, mas em Overlord isso torna possível, com muito gore e ação, temos uma história apreensiva que torna essa imaginação possível. Após uma tropa de soldados americanos terem que abandonar seu avião após um ataque alemão, o soldado Boyce, Ford, Chase e Tibbet precisam continuar com a missão na qual foram designados, porém ao chegarem ao seu destino, descobrem mistérios que desafiam a compreensão humana. O início é essencial para imergir na trama, através de planos fechados nos soldados e a exposição das suas percepções perante a guerra, vamos conhecendo cada um deles: Boyce é o inseguro e inexperiente, Ford em contraponto, é o experiente de poucas palavras que sempre parti para a ação, Tibbet é apresentado como um homem difícil por suas falas agressivas e poucos amigáveis, porém possui tempo suficiente para mudarmos esta visão sobre ele, e Chase é o fotografo do grupo tentando registrar tudo. Além desta apresentação, é criada uma tensão crescente através da trilha pulsante que avisa sobre um perigo eminente, grandes planos de fundo onde na mesma ação que o general discursa para o pelotão, ao fundo há bombas explodindo e aviões caindo, é algo muito bem trabalhado. A fotografia chama atenção por vezes demonstrando a desorientação do protagonista Boyce depois de uma explosão, câmeras tremidas depois de um ataque (não gosto de câmera tremida, mas aqui é usada do jeito certo), planos-sequência empolgantes, um deles incrível onde Boyce tenta fugir de um local especifico que está prestes a ruir, e a montagem tenta acompanhar essa ação com muitos cortes dando ritmo, por vezes falhando ao incluir jump scares esperados não acrescentando nada a tensão que o filme precisa ter, tensão essa muito perdida no segundo ato do filme. O roteiro, infelizmente, possui algumas falhas, muito expositivo em determinadas cenas, onde numa cena de climax, os soldados têm que interrompê-la para expor o passado, onde era para criar empatia, tira-nos cada vez mais do filme. Chloe, uma personagem mal apresentada incluída para ser ponto emocional incompetente para o protagonista, possui falas que não a ajudam, por exemplo: Chloe convida os soldados para se refugiarem em sua casa, minutos depois a mesma diz que eles não podem ficar, pois traz perigo a ela e sua família, neste caso era só não ter convidado. Overlod é divertido, cheio de ações empolgantes e provavelmente vai fazer virarmos o rosto inúmeras vezes pelo conjunto de cenas grotescas, assim como maquiagens incríveis de criaturas deformadas e membros decepados. Uma surpresa, pois o gênero gore é tão pouco divulgado, sendo este filme uma exceção.
Está certo que todos os casais possuem seus segredos íntimos e confidenciais, mas o que temos aqui não é brincadeira amigos, é passível de revolta. O roteiro não tem pressa nenhuma em apresentar seu plot, ele começa íntimo retratando seus personagens e como eles se relacionam entre si, alguns flashbacks do casal, e quando tudo vem a tona, é impossível não ficar insandecido e ansioso por uma resolução, isso tudo graças a interação da Glenn Close com Jonathan Pryce, soa tão natural que você esquece que são atores exercendo sua profissão. Muito interessante a abordagem da questão da mulher como esposa, onde a mesma sempre fica a sombra do marido recebendo alguns elogios, porém sempre esquecidas invalidando todas suas conquistas individuais. Sabe aquela frase que sempre escutamos: "atrás de um grande homem, sempre existirá uma grande mulher", ela não funciona aqui, e certeza que não funciona em muitos casos, pois não são elas que deveriam estão atrás de alguém, na maioria das vezes, elas deveriam tomar a frente.
Creed é uma homenagem à trajetória do Rocky Balboa sem que isso apague a grandiosidade do Creed Junior, há espaços para os dois, tanto para o desenvolvimento de personagem Adonis, quanto para mostrar o novo cotidiano de Rocky. É um filme estiloso, a câmera sempre parece ser um fã tentando alcançar o protagonista, ela percorre a platéia na tentativa de enxerga-lo e antes dele entrar no ringue o ângulo sempre fica na nuca do protagonista, quando é para captar os momentos de lutas, são planos sequências longos e muito bem coreografados aumentando a realidade e apreensão de quem assiste, na primeira luta importante de Creed Junior é incrível ver a câmera girando em 360 graus sempre captando os movimentos dos lutadores, é legal demais! Na última luta essa técnica se perde um pouco e é utilizada mais cortes para avançar os 12 rounds, mas é compreensível e continua sendo arrepiante. Michael B. Jordan está ótimo, ele transmite uma cara fechado e de personalidade forte, realçando com sutilezas os traumas de sua vida, sempre andando numa linha tênue de um cara Durão para alguém com uma carência familiar extrema. Stallone como Rocky não há o que dizer nada, ele criou o personagem e o conhece mais do que qualquer um, ainda transmite aquela simplicidade que conhecemos desde do Rocky de 1976, aqui ele é o treinador e criador de frases de efeitos, são tantas ditas no filme que daria para fazer uma antologia poética. A montagem e edição é um show a parte, não há como vibrar nas sequências de treinamento, cenas curtas de cada etapa com cortes abruptos criando um ritmo frenético, dosando este ritmo quando é tratado algum assunto mais denso. Creed é uma filme que eu indicaria para qualquer pessoa, independente do gênero favorito da mesma.
Eu possuo uma certa facilidade de gostar de filmes com roteiro regado a humor negro, onde há presença da comédia inglesa, todos os personagens são deploráveis e o protogonista contém desvios de caráter e procura resolver seus problemas na base da violência, na maioria das vezes estes protagonistas procuram uma certa redenção, sempre falhando miseravelmente. É uma formula que sempre dará certo para mim... isso não faz de mim uma pessoa má!
Não há como assistir ao filme e não se enxergar na pele do Leonardo em nossa adolescência, onde as inseguranças afloram, o desejo de pertencer a algo, a busca de fazer parte de um meio social, aceitação de terceiros e a determinação de provar-se a todo instante. Sendo tal trama já reproduzidas dezenas de vezes nos filmes de coming of age, aqui ele não encontra-se saturado, sendo pela naturalidade dos fatos que incidem na vida do protagonista, tanto pelas ações que, aos poucos, vão moldando a personalidade do mesmo.
É impressionante a genialidade no humor de Buster Keaton, a criatividade, talento e imaginação transporta o público para fora de sua realidade e faz-se ter olhos apenas para o que está sendo exibido. Junto com Chaplin, produziu obras magnificas e importantes para era do cinema mudo, sendo Keaton utilizando de efeitos mais ousados com temáticas mais "ingênuas", e Chaplin sendo socialmente mais relevante em seus temas.
Queen, sem sombra de dúvida, encontra-se entre as bandas mais bem-sucedidas de todos os tempos, devido a sua persistência e o talento de cada um dos integrantes da banda, em especial ao vocalista Freddie Mercury que sempre foi performático e carismático em suas apresentações ao vivo, levando uma vida desregrada a base festas e drogas. Era inevitável que um dia a história da banda, ou do vocalista, ganharia uma versão para o cinema, o que traz inúmeras responsabilidades tendo em vista a quantidade de fãs e o que a banda representa para o Rock N’ Roll em geral.
Eis que este dia chega e temos o filme Bohemian Rhapsody, nome retirado da música de mesmo nome, canção escrita por Mercury que se dedicou muito para compor a mesma, todos denominavam esta música como “a coisa do Freddie”, assim como a canção, o filme trata-se do Freddie, e “as coisas” que o envolviam. O filme retrata as nuances de personalidades do protagonista, demônios, solidão, banda, vida pessoal e amorosa, uma série de detalhes muito bem captados pelo ator Rami Malek, que demonstra um estudo de personagem formidável. Os membros da banda estão muito bem representados por atores que possuem as mesmas aparências físicas e faciais, chega a assustar tamanha semelhança, porém não ganham o mesmo desenvolvimento que Frieddie.
Dirigido por Bryan Singer, um diretor já consolidado na indústria com bons filmes no currículo, entre ele o ótimo “The Usual Suspects”, entrega-nos um filme saudosista a banda e possuem muitas características de promovê-los comercialmente, isto não é fator para diminuir a experiência fílmica.
O filme apresenta um ritmo frenético com uma montagem criativa e muito competente, é formidável ver um filme deste aspecto com uma montagem e edição tão genuína, uma vez que a película transita a todo instante de um show dinâmico para um assunto mais denso, tudo isso feito de um modo natural. A cinematografia acompanha a edição na questão do dinamismo gerando grande espetáculos ao demonstrar as apresentações ao vivo da banda, iluminação e as cores utilizada na fotografia remetem muito aos anos 70.
Deve-se apontar também à mixagem de som, a sincronia da voz original do cantor ao personagem, muito vezes é imperceptível, e há uma cena em especifico que os integrantes da banda, ao conversar com o representante do estúdio, gesticulam e atuam de acordo com o ritmo do som de fundo.
Caso você seja um fã da banda e do vocalista, vibrará a cada canção e show exposto, mas poderá ficar insatisfeito com o roteiro ao retratar com superficialidade muitos assuntos que foram determinantes na vida do artista, assim como usar inúmeros clichês do gênero já batidos que não funcionam como apelo dramático, assim não conseguindo nos emocionar em determinadas cenas cujo este era o objetivo, mas para um público que não conhece a banda, será uma viagem divertida e conhecerá as características mais relevantes sobre o que representava o queen, certeza buscarão mais sobre aquela que é uma das melhoras bandas de todos os tempos.
A casa que Jack construiu, definitivamente não é um filme que agradará a todos; torturas, violências gráficas, duração longa e alegorias, são os primeiros tópicos do cardápio. Um filme que desafia a decifrar metáforas, suportar situações incomodas e testa o sadismo do público. Jack é um engenheiro e psicopata que narra cinco dos seus sessenta casos de homicídios em duas horas e meia de filme. Sendo ele um homem com transtornos e enfrenta seus demônios diariamente, encontra em suas vitimas uma forma de adquirir superioridade, satisfazer seu narcisismo e, sobretudo, alcançar uma perfeição artística preenchendo seu ego, uma que vez que seus assassinatos são encarados como uma obra de arte. Por mais que o protagonista seja um engenheiro e arquiteto, fica claro que seu maior dom não é criar, sendo que a maior parte do tempo o mesmo está destruindo, seja a casa que ele tanto luta para construir, quanto as vidas que cruzam a seu caminho. Dirigido por Lars Von Trier, o longa traz consigo toda a identidade do diretor, todas as suas característica de direção estão aqui: câmera na mão onde gera takes tremidos e desestabilização, roteiro recheado de filosofias, cortes secos, divisão por capítulos, alegorias concomitante às ações dos personagens, fotografia crua sem efeitos práticos criando ambientações densas, longas cenas, atuações impecáveis e narrativas criativas utilizando de linguagens poucos usuais para exprimir conceitos e ideias. Com mais de uma hora e meia de filme, o diretor expõe cenas de alguns de seus filmes juntamente com opiniões sobre arte e artista, bem e mal, deixando claro que Jack, nada mais é, que o seu alter ego dialogando com o público. Sendo assim, não só atrelamos as obras de arte de Lars com os ambiciosos homicídios do perfeccionista Jack, mas todas as convicções do personagem, desejos e opiniões; o que pode ser perigoso tendo em vista que o protagonista possui visões equivocadas sobre assuntos delicados. Lars Von Trier nos brinda com mais um filme complexo, artístico e, sobretudo, difícil de ser digerido, porém é disso que o diretor é conhecido e foi assim que o mesmo trilhou sua carreira. Que nada cale o Lars.
Ilfitrado na Klan é um filme de época, porém há inúmeros destaques aos comportamentos deploráveis que reverberam aos dias atuais. Seguindo uma veia cômica do inicio ao fim, o filme nunca faz esquecer-se da gravidade do problema que ali está sendo retratado, e o público transforma-se em um espectador ao presenciar discursos daqueles personagens que representam suas ideologias, temos o forte e motivador discurso do personagem Kwame Ture, os generalistas comentários da Patrice e os discursos de preconceito e ódio do personagem David Duke. Esta obra arrancará bons sorrisos através de situações hilárias, após seu fim, irá fazer-te refletir e apresentará um final aterrorizador. O roteiro é o grande herói, por se tratar de um assunto repetido centenas de vezes, mas com o seu humor sagaz e de palavras poderosas, faz-se deste filme um obra obrigatória. A montagem e edição brincam com nossos sentidos sendo mais dinâmica e enaltecendo a ação e comédia, utilizando-se assim de mais cortes para conduzir momentos tensos e engraçados, tornando assim um elemento cômico no próprio filme. A cinematografia competente utiliza-se muitos cenários da cor marrom com inúmeras nuances em vermelho criando uma identidade visual e remetendo a época em que se passa a história, ótimos planos em conjunto e movimentações suaves sem nunca tornar-se monótono. John David Washington nos apresenta o excelente personagem Ron, faz-se acreditar que ele está prestes a explodir a qualquer momento, Adam Driver interpreta Flip, um homem que começa a refletir suas origens e que a todo instante está em alerta para tudo que possa ocorrer ao seu redor. Spike Lee demonstra saber perfeitamente o filme que ele gostaria de entregar, pois a narrativa ocorre de forma natural, sem parecer forçado, como ocorre em muitos filmes que abordam o mesmo tema. Um grande filme com uma grande história, onde retrata um grupo de pessoas com mentes pequenas, mas caso você juntar um número razoável destas pessoas, as consequências são imensuráveis.
Cuidado! Não espere que Hereditário seja o Exorcista da nova geração como dizem algumas matérias, é um engano afirmar esta preposição, porém temos uma obra que não deve passar despercebida. O filme intercala drama e terror, perfeitamente coreografados pelo diretor, que controla nossos sentidos a fim de trazer desconforto, angústia, curiosidade e empatia. Além dos segredos que uma família guarda para seus herdeiros, sejam estes segredos bons ou ruins, o filme vai adiante, trata-se de luto, desestruturação familiar, e claro, elementos sobrenaturais. Não discorre de um filme aterrorizante e espantoso, mas sim de uma película perturbadora criada através da situação incômoda na qual a família encontrava-se. Esteticamente e tecnicamente, o filme é impecável, a fotografia é afinada, com grande uso de tracking shots com movimentos lentos justamente com a função de fazer com que imergimos na trama, bom uso de sombras e jogos de câmeras aguçados demonstrando controle do diretor em querer mostrar aquilo que o público deve assistir; edição com planos longos, estas duas últimas características técnicas citadas, torna-o mais arrastados para alguns e mais tenso para outros. Trilha sonora empolgante, ajuda a criar tensão e o desing de som ligeiramente eficiente para causar sustos, tendo em vista que jumps scare aqui é ausente. Mis en scene precisa criando um espetáculo sombrio, atuações formidáveis, em especial para Toni Collete. É um daqueles que se faz pensar por semanas, é um terror feito de maneira diferenciada e que foge dos clichês dos gêneros, isto causando descontentamento entre os fãs mais tradicionalista, e satisfazendo aqueles que gostam de ver algo novo. Fez-me lembrar de aspectos que Polanski usou em Bebê de Rosemary, onde a situação é mais aterrorizante do que imagens gráficas, onde o terror não está nos sustos, mas sim no drama vivido pelos personagens, e o final, quem assistir saberá do que estou dizendo.
Não assista pensando que você terá respostas, pois a dúvida, dentre vários assuntos tratados, é o que constrói a trama desta película e o que nos proporciona interesse, nenhumas das decisões tomadas pelos personagens são feito com total certeza. Além da dúvida que ronda a trama, assim como nossas vidas, o filme trata de fofocas, conservadorismo, opressão religiosa, voltar-nos contra aquilo que não concordamos mesmo que inofensivo para nós, solidão, passados obscuros, incertezas, cobertura da igreja para os padres pedófilos, abuso entre outros. Este filme é uma aula de cinematografia, cada plano é bonito por si só, fazendo-nos pensar que cada tomada foi pensada minuciosamente para nos proporcionar uma experiência fílmica única; Temos planos diagonais para causar desestabilização emocional, inúmeros planos gerais com ambientes introspectivos criando uma tensão constante ao longo do filme, close-up constantes destacando as reações de um elenco muito competente, contra-plongée exibindo a hierarquia e o poder do homem que fala pelo altar, não pisque o olho durante o filme para não perder nenhuma bela pintura. A edição é totalmente competente sendo este um filme todo falado, dando ênfase a um ótimo roteiro. Avaliando o roteiro em menor escala, temos diálogos inquietantes, duros e reflexivos perante a trama que não é fácil de digerir. Meryl Streep está perfeita, ela é a personificação do que é a igreja, inquisodora e controladora, é o objeto que move a história e nos oferece uma aula de atuação. Philip Seymour Hoffman está genial como sempre, uma grande perda para o cinema, porém nos deixou um legado de filmes bons, incluindo este. Philip nos entrega um personagem enigmático e constantemente está brincando com nossas atenções, nunca sabemos realmente se devemos confiar nesta persona, transitando entre o culpado e inocente, às vezes os dois juntos. Amy Adams é a nossa futura rainha, um currículo impecável de filmes bons, aqui ela transmite uma ingenuidade e bondade credíveis, mas o brilho aqui é todo da Meryl Streep. Viola Davis aparece pouco, mas o suficiente para mostrar aquilo que já sabemos sobre o seu talento, a mesma aqui é uma mulher que carregada de tristeza em suas costas, onde não tem poder de melhorar a vida de seu filho, uma mulher oprimida por diversas formas, tem noção de todos os seus problemas e fraquezas, mas não pode fazer nada para solucioná-los. Eu não sou padre, mas posso oferecer-lhe um conselho, assista este filme!
Mais um Filme baseado em uma obra de Stephen King, não são poucas as adaptações, e isso demonstra que ele é o "Rei" dos escritos adaptados para o cinema. Estamos falando do filme "stand by me", retirado do livro "the body". Quatro amigos reúnem-se para encontrar um cadáver perdido com o intuito de ficarem conhecidos com a descoberta. Para nós, o objetivo de encontrar o corpo torna-se segundo plano, pois durante a jornada, a autodescoberta de cada um dos garotos toma por completo a nossa atenção. São crianças, porém já sentem o peso do mundo em seus ombros, reconhece o destino já traçado, a perspectiva de um futuro ruim e, sobretudo, as consequências em suas vidas ocasionado pelo tratamento que recebem de seus pais. Chris é o personagem mais complexo do bando, ao longo do filme vemos nele o mais forte, o conselheiro, não se abstém para defender seus amigos, guarda consigo muitos problemas, o que faz ser um personagem carregado de dor. Sua família é conhecida por ser arruaceiros e seu pai um violento, fazendo-o acreditar que sua vida não poderá ser diferente, suas descrenças do futuro e dos adultos são evidentes quando o mesmo relata o caso ocorrido com sua professora, em minha visão, o ápice do filme, mas ele tem a felicidade de ter Gordie como amigo para mostrar que ele poder ser diferente. Gordie possui uma carga emocional densa por ser um invisível perante seus pais, sempre é rebaixado por não fazer aquilo que o irmão fazia, não estava no padrão na qual os adultos enquadravam como importante ou bem sucedido, mas teve a felicidade de ter Chis como amigo, pois Chris torna-se a forma paterna do pequeno Gordie. Vern é o alívio cômico competente e Teddy é o explosivo da turma, e possui uma necessidade constante de colocar sua coragem em prova, e demonstra trilhar a suposta loucura do pai. Mesmo após o ocorrido, há a separação do grupo, aquele momento foi eternizado, tornando lembranças que eles passarão a contar, pois assim é vida, feitos de pequenos momentos agradáveis que tornarão lembranças por aqueles que presenciaram tal momento, em determinada ocasião, essas memórias serão perdidas como lágrimas na chuva. Edição precisa tornando um filme ágil e uma trilha sonora impecável com a função de nos situarmos no tempo em que se passa o filme. Rob Reiner dirigindo mais um filme motivante, privilegiando as relações humanas e a importância de uma vida feliz, executando um roteiro complexo e ao mesmo tempo sensível. Um belo filme que mostra a beleza de termos amigos, mesmo que passageiros, mas que façam a diferença em nossa jornada chamada vida. A relevância de termos memórias, da relação entre pais e filhos e como somos influenciados pela nossa infância, não podemos perder essa fase tão sublime.
A Freira
2.5 1,5K Assista AgoraAssistir a freira é como ir ao McDonald's acreditando que irá encontrar comida de verdade, o sanduíche é bonito, vistoso e até chama atenção, porém é totalmente artificial e sem sabor.
Guava Island
4.0 248A ganância por poder e dinheiro já foi utilizada inúmeras vezes como motivação para antagonistas atrapalharem os planos dos nossos heróis. Não ficamos incomodados com este argumento, pois ele é totalmente plausível para nós humanos, nós somos gananciosos por natureza. O ponto que a ganância torna um problema é quando pessoas passam a ser exploradas para satisfazer os desejos de poucos, essa situação se repete com certa frequência em nossa realidade e quando exposta na ficção, torna-se algo plausível e aceitamos o vilão como ele foi entregue, pois este tipo de gente faz parte do nosso mundo, infelizmente.
Guava Island trabalha com esta questão quando expõe um povo pobre que depende quase e exclusivamente da fabrica de costura para sobreviver, a fábrica é comandada pelo personagem Red (Nonso Anozie), por deter o maior meio econômico da ilha, Red torna-se o dono de todo aquele território, controlando todos os meios de comunicação e ditando suas próprias leis. Enxergamos o povo de Guava através de uma cinematografia granulada e crua, sem artifícios, quase um registro documental, através desta ótica interpretamos os subtextos da simplicidade daqueles que lá o vivem. Quando apresentado Red pela primeira vez, é claro o contraponto, a mis-em-scene adquiri outra estética, seu escritório possui cores vivas e quentes, começando pelo seu figurino de cor laranja saturado, quase que uma metáfora ao sol que ilumina Guava.
Apesar dessa triste diegese, o filme possui um tom leve e alegre em quase toda sua totalidade, o primeiro ponto é a história da ilha na qual o diretor opta por contar através de uma animação, é uma escolha narrativa lúdica na qual demonstra a visão folclórica que as crianças possuem da ilha contada através de gerações; o segundo ponto é a presença do casal Deni (Donald Glover) e Kofi (Rihana). Deni é um carismático músico que mesmo sabendo dos males do local onde vive, ama seu lar e deseja unir todos através de suas músicas, porém seus interesses são conflitantes com o de Red. Kofi, almeja sair da ilha, mas isso não é possível sem que Deni esteja ao seu lado, é uma personagem com talento desperdiçado, pois possui medo e segredos não explorados, simplesmente abandonaram estas questões e não deram recursos suficientes para Rihana trabalhar.
O diretor Miro Murai consegue expor bem a realidade da ilha numa espécie de documentário, expondo a cultura de Guava numa opressão quase imperceptível, mas existente. Miro também balanceia o tom do filme intercalando em leve e descontraído até chegar a um suspense com perigo iminente, este aspecto é importante, pois deixa-nos sem saber o que esperar da trama. Além disso, Guava Island é um musical e possui as características importantes para que o gênero funcione, isso é, músicas e coreografias que preenchem os olhos e ouvidos, mesmo as coreografias sendo em menores escalas. As músicas são iniciadas através de som diegéticos, por exemplo, de uma máquina sendo ligada, músicos nas ruas começam a tocar e shows que ocorrem na rua, isso faz com que os números musicais soem naturalista e orgânicos.
Guava Island é um filme curto, apenas 55 minutos, suficientes para uma homenagem à cultura negra; dialoga sobre sonhos, opressão e libertação através da arte. Compara a realidade de Guava com a da América afirmando que não há tantas diferenças, e possui muitos pontos que gerariam ótimas discussões, porém não explora todo seu potencial e deixa-nos com a sensação de aventura incompleta.
A Morte Te Dá Parabéns
3.3 1,5K Assista AgoraO diretor possui domínio do gênero, e usa isto para criar uma desconstrução dos slasher movies, além disso possui um auto deboche consciente de sua trama, deboche mais evidente quando é demonstrado a superficialidade das motivações do assassino (mais uma forma de brincar com o gênero).
Vingadores: Ultimato
4.3 2,6K Assista AgoraPara um fã, finalizar um arco que levou praticamente onze anos para se encerrar, não é fácil. Conta-se com o excesso de expectativas e uma linha tênue que vai entre felicidade de acompanhar o fim daquela história e a tristeza de dizer adeus para personagens que fizeram parte de nossas vidas; imagine o fã que aguardou três anos para ver o “um anel” ser destruído, ou o fã que aguardou dez anos para ver Harry Potter enfrentar o assassino de seus pais, estamos falando do mesmo sentimento.
Após Thanos dizimar metade dos habitantes da Terra, os Vingadores tem a difícil tarefa de manter a ordem no planeta, conviver com o fracasso de ter presenciado bilhões de pessoas sendo mortas e encontrar uma possível solução de reverter o grande ocorrido.
O sentimento de urgência que o filme aborda é quase sufocante, juntamente ao tom denso e emocionalmente carregado, faz desta obra um dos filmes que mais bem trabalhou o aspecto drama dos filmes da Marvel, e não podíamos esperar nada diferente, pois agora estamos acompanhando as consequências negativas do plano do grande vilão e a impotência daqueles que seriam os únicos capazes de proteger o planeta. A trilha sonora acentua a tristeza dos personagens através de pianos perfeitamente orquestrados, a fotografia crua expondo uma América debilitada, o azul predominante no Stark contornando seu pessimismo, estes são elementos narrativos que reforçam o tom que o filme gostaria de alcançar, e os fazem muito bem.
Todos os personagens tiveram seus filmes independentes e foram importantes no desenvolver deste universo, é plausível que nem todos ganhem a mesma importância e é o que ocorre, muitos destes heróis não são trabalhados ao máximo e nem são expostos quanto poderia ser, pois a história concentra em alguns poucos para resolução da trama, e este filtro vai afunilando ainda mais no decorrer do filme até focar especificamente em três heróis que possuem mais tempo em tela: Tony Stark, Thor e Steve Rogers. Robert Downey Jr. Teve uma mudança estética drástica tornando-se muito magro e carrega um grande sentimento de perda durante todo o filme, apresenta-nos uma tristeza palpável e um pessimismo compreensível, Thor faz parte do time mais cômico deste quarto filme e há um sentimento constante de que o mesmo pode colocar a missão em risco a todo o momento, junto com o Hulk, são os personagens que mais foram desconstruídos neste novo filme, Steve Rogers apresenta certo contraponto ao Tony stark, pois Steve está disposto a apostar todas as fichas em uma solução rápida para o conflito.
A cinematografia surpreende, em especial às cenas de ação que possuem planos longos de vários elementos ocorrendo simultaneamente, demonstrando um bom controle do que ocorre em quadro e trabalha muito bem com a direção de arte criando espetáculos imensos de catástrofes e desordem assim como as belas criações de cenários no espaço, ficaria satisfeito se a direção de arte fosse lembrada em 2020 na premiação do Oscar.
A direção trabalha muito bem o conceito de incertezas e o sentimento de morte iminente, é um filme que trabalha bem a questão de que tudo pode dar muito certo ou muito errado, e que durante este caminho poderá ocorrer muitas perdas, é ai que o filme acerta, pois a questão da imprevisibilidade rodeia tudo e todos deixando uma curiosidade constante para quem assiste. As cenas de ação são empolgantes e ágeis, quando é exigida um pouco mais de cautela para um momento mais introspectivo a direção não tem pressa e deixa-nos digerir toda aquela carga dramática, o conjunto destes aspectos de fato tira nossa percepção de que o filme durou três horas, acertando perfeitamente no ritmo. O saudosismo e nostalgia dos fãs contam muito para a aceitação do filme, tendo em vista que há inúmeras referências aos antigos filmes e quando determinados heróis aparecem em cena, a câmera faz questão de movimentar lentamente e preenche-los no quadro em tentativa de veneração, a direção sabia muito como ganhar o público e utilizou isso como arma.
Os roteiristas Stephen McFeely e Christopher Markus, os mesmo que escreveram os filmes do Capitão América e Vingadores: Guerra Infinita, tiveram que trabalhar e expor referências e premissas de antigos filmes concomitante com a resolução deste novo conflito, são tantos elementos orquestrados de uma só vez que nos resta aplaudir ao complexo trabalho de organização de informações, pois em nenhum momento sentimos perdidos a todo este caos. O roteiro é recheado de piadas e alívios cômicos como todo e qualquer filme da Marvel, muitas delas aqui funcionam e outras soam ingênuas não havendo graça alguma, certas vezes contrapondo ao tom denso que a cena exigiria.
Vingadores 4: Ultimato apresenta uma franquia consistente e audaciosa, sua resolução corajosa encerra mais de uma década de história colocando vingadores nos próximos livros de história do cinema.
Endemoniada
4.0 316 Assista AgoraDesgraça pouca é bobagem.
Nós
3.8 2,3K Assista AgoraApós escrever e dirigir seu primeiro longa, Corra (Get Out), Jordan Peele ganhou todas as atenções do público e dos críticos, merecidamente, pois Corra mesmo não sendo uma história original, apresentou um excelente suspense sendo ao mesmo tempo relevante socialmente abordando o preconceito velado de uma sociedade. A tarefa de permanecer no mesmo patamar de qualidade é difícil, não para Jordan, o mesmo veio para mostrar que ele tem muito mais a dizer.
Nós (Us), recente longa do diretor, apresenta-nos a família Wilson em suas férias quando, inesperadamente, é atacado por pessoas idênticas a eles, tornando aquelas férias um inferno.
O conjunto narrativo que o torna eletrizante é muito bem trabalhado com muito uso de sombras, reflexos, câmera desestabilizada refletindo o emocional da família, planos panorâmicos sem pressa de apresentar um desfecho e a trilha tensa intercalando entre cantos gregorianos feitos por crianças, batidas marcadas por violinos estridentes e gritos criando um palco de agonia. Isso tudo é multiplicado pela atuação da Lupita Nyong’o, aqui como Adelaide Wilson, demonstra uma mulher determinada a lutar pelos seus filhos, o desespero que a personagem transmite através dos olhos é algo crível, seu medo e sua força são palpáveis. As reações de Adelaide geram, depois de certo tempo, contradição conforme revelação dos fatos, tornando-a uma personagem rica e de difícil compreensão. A atuação no gênero horror é essencial para a imersão do espectador na trama, e Lupita soube muito bem transmitir todo o terror necessário para tornar o filme Nós, uma obra essencial do gênero.
Encontramos alternâncias no tom do filme, onde a tragédia é quase todo momento interrompida por piadas constantes, é uma característica dos roteiros de Jordan, entretanto inúmeras vezes soam destoantes retirando o sentimento de urgência que o enredo precisaria ter.
A cinematografia trabalha muito com uso de sombras fazendo bom uso da luz para criar espetáculos sombrios e captar belos planos; o uso dos reflexos não transparece apenas um fetiche visual, mas também para criar a impressão de duas pessoas iguais juntas, uma vez sabendo que a família Wilson foram atacados aparentemente por eles mesmos, isso torna quase um reforço da narrativa. Muito uso de planos subjetivos, ângulo nas costas e profundidade de campo, este último até fazendo referência ao Hitchcock, onde o rosto do personagem principal fica em um primeiríssimo plano (quase um plano detalhe) enquanto ao fundo acompanhamos a reação de um segundo personagem.
Nós é um Thriller tenso onde possui uma estrutura gradativa de caos, apresenta uma simbologia através da diferença de classes, onde os excessos de uns contrapõe a vida miserável de outros. Novamente Jordan cria a tragédia concomitante com um discurso social, assim como corra, o diretor consegue trabalhar os dois temas paralelamente sem atropelar um ao outro, criando assim uma identidade particular para suas obras.
- Abaixo uma rápida interpretação do filme com spoilers.
Jeremias - Cap. 11 Vers. 11: “Portanto assim diz o senhor: Eis que trarei mal sobre eles, de que não poderão escapar; e clamarão a mim, mas eu não os ouvirei”.
A citação bíblica aparece constantemente no filme, seja no anúncio da TV ou no horário expresso no relógio, esta passagem relata à queda dos habitantes de Judá e Jerusalém pelos invasores babilônicos, Deus havia punidos estes dois povos devido as suas rebeldias, pecados e idolatrias. No mesmo livro de Jeremias, é apresentada a promessa de Deus oferecendo uma nova aliança, onde os pecados dos homens seriam todos perdoados, sendo esta aliança o novo testamento.
A sociedade é atacada por clones delas mesmas que viviam secretamente no subterrâneo de Santa Cruz, estes clones viveram uma vida totalmente diferente, uma vida a beira do caos, pobreza e abandono. Os clones foram criados por humanos e abandonados vivendo de forma precária contrapondo ao estilo de vida da sociedade, e através de Red (Adelaide verdadeira que foi trocada no inicio do filme), esta planeja o ataque com a ideia da aliança Hand Across America (campanha publicitária da década de 80 para ajudar pobres dos Estados Unidos, campanha essa sem sucesso na época).
O filme em si aborda a diferença social que a America enfrenta; o fato de sermos atacados por nós mesmo, reforça a ideia que de que somos nossos próprios inimigos, permitimos que haja tantas vidas miseráveis criando disparidades com tantas outras que vivem em excessos, e a passagem bíblica aparece como forma de ameaça e maldição divina denunciando a nossa própria queda como sociedade, comprovada quando a família Wilson chega a sua cidade e encontra todos mortos.
Quando assistimos os clones vivendo no subterrâneo, um espelho das nossas próprias vidas, refletimos sobre nossos comportamentos, costumes e formas de agir, uma relação muito bem apresentada por Jordan. Se a nova aliança prometida por Deus é facilmente comparada ao Hand Across America colocada em prática pelos clones, então a mesma foi cumprida e não há mais diferenças e nem pecados, e o castigo divino foi concretizado, sendo a partir dali uma nova era, o novo testamento.
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A Favorita
3.9 1,2K Assista AgoraHá determinados diretores que nos surpreendem de tal forma que ficamos a espera de cada novo titulo que os mesmos venham a lançar, seja por seu estilo particular de filmar, pelos temas que estes abordam ou a relevância que o diretor possui na indústria cinematográfica, Yorgos Lanthimos é um destes diretores que devem estar anotado em nosso caderno, além de possui as características citadas, Yorgos é extremamente perfeccionista pensando em cada detalhe que possa tornar a experiência do espectador mais imersiva do que seria.
Em “A Favorita”, Yorgos apresenta uma trama mais acessível que os seus filmes anteriores, porém seu teor cômico em situações trágicas e a relação de pessoas com desvios de caráter estão aqui, quem já assistiu “O Lagosta” e “O Sacrifício do Servo Sagrado” entenderá o meu ponto de vista. Acompanhamos a rainha Anne (Olivia Colman) e sua relação com Lady Sarah (Rachel Weisz), esta última auxilia a rainha na governança e nas decisões do reino, porém esta relação pode ser comprometida com a chegada de Abigail (Emma Stone), prima de Sarah, que não pretende mais levar uma vida de criada e almeja tornar uma lady novamente.
Olivia Colman tem a difícil tarefa de nos entregar uma rainha problemática e incompetente, o roteiro ajuda muito neste quesito, porém sua interpretação dá um peso maior para a personagem, não só em suas falas, mas também em seu olhar e movimento corporal que enaltece uma mulher fraca, insegura e carente, inúmeras vezes utilizando do poder para ganhar o mínimo de atenção, indicação merecida ao Oscar de melhor atriz. Rachel Weisz é o oposto da rainha, uma mulher forte e determinada que utiliza o cargo de confiança para colocar em prática suas convicções políticas, suas palavras e sua postura acentuam mais o seu poder sobre todos, incluindo sobre a própria rainha. Emma Stone como Abigail, é a que mais possui um desenvolvimento de personagem na trama, passando de uma serva para melhor amiga da rainha, e está mudança é refletida em seu comportamento, acompanhamos uma Abigail observadora no ínicio, para uma Abigail manipuladora em determinado segmento do filme, como Emma é expressiva aqui, preste atenção no banho de lama como a mesma exprime em sua feição um sentimento de impotência.
A cinematografia é determinante para observarmos estas personagens em ação, em muito planos enxergamos Sarah em Contra-Plongée (câmera apontada de baixo para cima) tornando-a grande e poderosa, por exemplo, em certo segmento enxergamos Sarah neste plano e é criado a alusão de que a mesma está na proporção de tamanho da enorme janela do castelo, afirmando sua posição naquela casa enquanto a rainha está estirada no chão, em outro momento vemos Abigail sobre estes mesmos ângulos, pois ela está conseguindo seu poder almejado. As lentes oculares criam ambientes maiores do que eles já são e distorcem a imagem refletindo as perspectivas também distorcidas dos personagens em quadro. Os grandes planos de fundo dão uma dimensão de grandiosidade à locação que juntamente com a direção de arte, cria planos pictóricos para quem assiste. A iluminação contorna a vida daquelas pessoas, vemos muito tons de amarelos exprimindo as riquezas daquele reino enquanto a ala dos empregados está em um azul acinzentado deixando claro uma frieza e um vazio mordaz. Enquanto acompanhamos a vida dos personagens, há uma guerra acontecendo entre os ingleses e os franceses, não estamos acompanhando a guerra, mas há um detalhe que as janelas do castelo sempre estão totalmente iluminadas escondendo o que está por fora, podendo ser uma referência às bombas que estão sendo lançadas enquanto a rainha direciona sua atenção para assuntos particulares, e quando esta decide olhar pela janela, é acometida por uma grande tristeza ou pelo sentimento morte iminente.
A direção de arte cria belas ambientações para a Inglaterra do século XVIII acentuando obras e decorações condizentes a época, juntamente a isto, soma-se o figurino fenomenal de Sandy Powell, que já trabalhou inúmeras vezes com Martin Scorsese em “Os Infiltrados”, “Gangues de Nova York” e “Lobo de Wall Street”.
A trilha é um espetáculo a parte, aqui não funciona somente como uma forma de situarmos no tempo, mas ela carrega toda a carga dramática tornando-se a mais potente arma narrativa do filme. Vale mencionar como o design de som cria formas para o que estamos ouvindo, parece tudo palpável, como se estivéssemos do lado daquelas pessoas, tudo é perfeitamente audível em alto e bom som, sejam os passos das pessoas, o colocar dos brincos, o estalar da fogueira, o mastigar do bolo ou o eco dos tiros.
A Favorita surpreende como filme de ambição e jogo de poder, o tempo/espaço cria uma ambientação suave destoando do caráter dos personagens (ninguém neste filme toma suas decisões sem pensar em si mesmo), e Yorgos consegue trabalhar bem nestes detalhes, pois assim como Anne, você não sabe em quem confiar ou qual a melhor escolha a se fazer, esta ferramenta narrativa é crucial para mergulharmos no filme e querer saber o triste fim daqueles personagens, um dos meus FAVORITOS de 2018.
Frances Ha
4.1 1,5K Assista AgoraUma dedicação de amor a nouvelle vague francesa.
Você acha que o nome Frances foi coincidência? Eu não.
Mulan
4.2 1,1K Assista AgoraEstá entre os maiores filmes anti-machismo da história do cinema. Salve Mulan!
Amor
4.2 2,2K Assista AgoraLembro-me que meu avô era o símbolo de força e generosidade em nossa família, criou inúmeros filhos tratando-os com carinho, incluindo as gerações de netos que vieram a seguir. Uma vez diagnosticado com Alzheimer, uma nuvem de vulnerabilidade pairou sobre sua cabeça e todos da família foram afetados diretamente, todos fizeram o que podiam para ajuda-lo, e assim foi até o último dia de sua vida. Não consigo enxergar outra demonstração de amor mais poderosa do que esta.
Não fugindo completamente da minha introdução, “Amour” nos apresenta Anne (Emmanuelle Riva), uma ex-professora de piano que após sofrer um AVC e ter seu lado direito do corpo comprometido, torna-se dependente de seu esposo Georges (Jean-Louis Trintignant) para realização de todas as suas tarefas, desde aquelas mais simples.
Dirigido por Michael Haneke, um excelente diretor que geralmente gosta de subverter as características dos gêneros, assim foi em Caché e Funny Games, aqui não é diferente. Uma vez que o filme se chama “Amour” e retrata a vida de um casal, esperamos uma história de romance como todas as outras, mas Haneke não está interessado em narrar à estória de quando o mocinho conhece a mocinha, e sim o depois deste fato, quando o mocinho vive o suficiente ao lado da mocinha, onde a demonstração de amor está no cuidar quando um deles está totalmente debilitado, ou seja, aonde todos nós chegaremos um dia. Haneke gosta tanto de quebrar paradigmas que percebemos isto no início do filme, quando a câmera enquadra num plano geral uma plateia antes de um espetáculo iniciar, não notamos a presença do casal Anne e Georges, pois até então não sabemos quem será os personagens da história que iremos acompanhar, o diretor além de não nos dar pistas de que os nossos protagonistas estão na plateia, faz questão de coloca-los no canto inferior esquerdo, onde nossos olhos demoram mais a chegar.
A narrativa evidencia a iminência da morte e as trivialidades da vida de um casal de terceira idade, onde o esquecer da torneira aberta ou o não abastecimento do saleiro torna-se algo normal, uma conversa que será deixada de lado após algumas horas, porém a tristeza após uma tragédia como ocorrida com Anne, fez destas trivialidades algo digno de se sentir falta.
A cinematografia utiliza planos longos para retratar o cotidiano do casal, às vezes tão longo que estamos acompanhando uma conversa entre os personagens, um deles sai de quadro e após alguns minutos o outro também, o plano continua no mesmo enquadramento e a conversa não é interrompida demonstrando uma bela preparação dos atores para a gravação destas cenas, assim como o diretor sabia perfeitamente o que queria entregar para o público. A utilização destes planos pode parecer moroso para alguns depois de certo tempo, porém vemos que essa escolha é proposital para colocarmos naquele cotidiano, onde tudo demora mais a passar.
A direção de arte cria ambientações espetaculares demonstrando que aquela casa, onde se passa grande parte do filme, são de pessoas de mais idade ou de um tempo que não corresponde aos atuais. Há uma harmonia de cores na mise em scène entre o figurino e a locação, utilizando-se de cores pastéis, verde musgo e amarelo. Logo percebemos que Alexandre (Alexandre Tharaud), ex-aluno de Anne, e mais tarde a visita da filha do casal, não fazem parte daquele espaço, por estarem usando roupas pretas, destoando das outras cores. Ao fundo, notamos que o piano escuro, também diverge totalmente com o ambiente, exaltando que a música não é mais presente na vida do casal. Georges, depois de saber da doença da esposa, sempre é enquadrado usando azul, exaltando sua tristeza.
Jean-Louis Trintignant está perfeito como Georges, retratando um homem que se vê impotente ao assistir sua esposa morrendo aos poucos, percebemos em seus gestos que ele não possui agilidade para cuidar de pessoas, e sente-se frustrado a todo tempo, pois não basta sua esposa doente, deve lidar também com situações chatas de depender de todos para serviços simples e ainda pagar por eles, uma enfermeira que não possui aptidão e um pombo que sempre aparece depois de uma ação que não deveria ser feita, uma delas do próprio Georges. Não imagino a personagem Anne sendo interpretada por outra atriz, a não ser pela Emmanuelle Riva, sentimos em seus movimentos, olhares e falas de que Anne encontra-se presa em seu próprio corpo, e quando num estágio mais avançado da doença, a sua feição demonstra que estar viva, tornou-se sinônimo de sofrimento, com certeza é uma atuação que permanecerá comigo por muito tempo. A química entre o casal é muito verdadeira, em 10 minutos de filme estamos completamente mergulhados naquele relacionamento. Isabelle Huppert (excelente como sempre) mostra-se insatisfeita ao ver como a mãe se encontra, tendo em vista ao que esta última foi no passado.
Amour, ganhador da palma de ouro em 2012 e de melhor filme estrangeiro no Óscar em 2013, é uma obra-prima que evidencia o efeito do tempo sobre as pessoas, pois o tempo é inevitável e passa para todos, nada é mais forte do que ele, pois ninguém pode controlá-lo ou interrompê-lo.
A Noite do Jogo
3.5 671 Assista AgoraEu não me enquadraria no universo de Game Nigh, pois eu não sou nada competitivo e o nível dos personagens aqui está em hard para cima.
O filme tem tudo que dá certo: rimas narrativas, montagens criativas com matchcuts inteligentíssimos, planos sequencia difíceis, piadas que funcionam super bem, personagens cativantes, narrativa dinâmica e claro, Rachel Mcadams, tudo fica mais belo quando ela está presente.
Operação Overlord
3.3 502 Assista AgoraImagine que no meio dos horrores da segunda guerra mundial, não bastando as atrocidades dos nazistas, Hitler ainda realizasse experimentos com humanos para criar soldados zumbis poderosos, não é difícil imaginar sabendo que os nazistas usavam seres humanos em experiências cientificas, mas em Overlord isso torna possível, com muito gore e ação, temos uma história apreensiva que torna essa imaginação possível.
Após uma tropa de soldados americanos terem que abandonar seu avião após um ataque alemão, o soldado Boyce, Ford, Chase e Tibbet precisam continuar com a missão na qual foram designados, porém ao chegarem ao seu destino, descobrem mistérios que desafiam a compreensão humana.
O início é essencial para imergir na trama, através de planos fechados nos soldados e a exposição das suas percepções perante a guerra, vamos conhecendo cada um deles: Boyce é o inseguro e inexperiente, Ford em contraponto, é o experiente de poucas palavras que sempre parti para a ação, Tibbet é apresentado como um homem difícil por suas falas agressivas e poucos amigáveis, porém possui tempo suficiente para mudarmos esta visão sobre ele, e Chase é o fotografo do grupo tentando registrar tudo.
Além desta apresentação, é criada uma tensão crescente através da trilha pulsante que avisa sobre um perigo eminente, grandes planos de fundo onde na mesma ação que o general discursa para o pelotão, ao fundo há bombas explodindo e aviões caindo, é algo muito bem trabalhado.
A fotografia chama atenção por vezes demonstrando a desorientação do protagonista Boyce depois de uma explosão, câmeras tremidas depois de um ataque (não gosto de câmera tremida, mas aqui é usada do jeito certo), planos-sequência empolgantes, um deles incrível onde Boyce tenta fugir de um local especifico que está prestes a ruir, e a montagem tenta acompanhar essa ação com muitos cortes dando ritmo, por vezes falhando ao incluir jump scares esperados não acrescentando nada a tensão que o filme precisa ter, tensão essa muito perdida no segundo ato do filme.
O roteiro, infelizmente, possui algumas falhas, muito expositivo em determinadas cenas, onde numa cena de climax, os soldados têm que interrompê-la para expor o passado, onde era para criar empatia, tira-nos cada vez mais do filme. Chloe, uma personagem mal apresentada incluída para ser ponto emocional incompetente para o protagonista, possui falas que não a ajudam, por exemplo: Chloe convida os soldados para se refugiarem em sua casa, minutos depois a mesma diz que eles não podem ficar, pois traz perigo a ela e sua família, neste caso era só não ter convidado.
Overlod é divertido, cheio de ações empolgantes e provavelmente vai fazer virarmos o rosto inúmeras vezes pelo conjunto de cenas grotescas, assim como maquiagens incríveis de criaturas deformadas e membros decepados. Uma surpresa, pois o gênero gore é tão pouco divulgado, sendo este filme uma exceção.
A Esposa
3.8 557 Assista AgoraEstá certo que todos os casais possuem seus segredos íntimos e confidenciais, mas o que temos aqui não é brincadeira amigos, é passível de revolta.
O roteiro não tem pressa nenhuma em apresentar seu plot, ele começa íntimo retratando seus personagens e como eles se relacionam entre si, alguns flashbacks do casal, e quando tudo vem a tona, é impossível não ficar insandecido e ansioso por uma resolução, isso tudo graças a interação da Glenn Close com Jonathan Pryce, soa tão natural que você esquece que são atores exercendo sua profissão.
Muito interessante a abordagem da questão da mulher como esposa, onde a mesma sempre fica a sombra do marido recebendo alguns elogios, porém sempre esquecidas invalidando todas suas conquistas individuais.
Sabe aquela frase que sempre escutamos: "atrás de um grande homem, sempre existirá uma grande mulher", ela não funciona aqui, e certeza que não funciona em muitos casos, pois não são elas que deveriam estão atrás de alguém, na maioria das vezes, elas deveriam tomar a frente.
Creed: Nascido para Lutar
4.0 1,1K Assista AgoraCreed é uma homenagem à trajetória do Rocky Balboa sem que isso apague a grandiosidade do Creed Junior, há espaços para os dois, tanto para o desenvolvimento de personagem Adonis, quanto para mostrar o novo cotidiano de Rocky.
É um filme estiloso, a câmera sempre parece ser um fã tentando alcançar o protagonista, ela percorre a platéia na tentativa de enxerga-lo e antes dele entrar no ringue o ângulo sempre fica na nuca do protagonista, quando é para captar os momentos de lutas, são planos sequências longos e muito bem coreografados aumentando a realidade e apreensão de quem assiste, na primeira luta importante de Creed Junior é incrível ver a câmera girando em 360 graus sempre captando os movimentos dos lutadores, é legal demais! Na última luta essa técnica se perde um pouco e é utilizada mais cortes para avançar os 12 rounds, mas é compreensível e continua sendo arrepiante.
Michael B. Jordan está ótimo, ele transmite uma cara fechado e de personalidade forte, realçando com sutilezas os traumas de sua vida, sempre andando numa linha tênue de um cara Durão para alguém com uma carência familiar extrema. Stallone como Rocky não há o que dizer nada, ele criou o personagem e o conhece mais do que qualquer um, ainda transmite aquela simplicidade que conhecemos desde do Rocky de 1976, aqui ele é o treinador e criador de frases de efeitos, são tantas ditas no filme que daria para fazer uma antologia poética.
A montagem e edição é um show a parte, não há como vibrar nas sequências de treinamento, cenas curtas de cada etapa com cortes abruptos criando um ritmo frenético, dosando este ritmo quando é tratado algum assunto mais denso.
Creed é uma filme que eu indicaria para qualquer pessoa, independente do gênero favorito da mesma.
Na Mira do Chefe
3.7 360Eu possuo uma certa facilidade de gostar de filmes com roteiro regado a humor negro, onde há presença da comédia inglesa, todos os personagens são deploráveis e o protogonista contém desvios de caráter e procura resolver seus problemas na base da violência, na maioria das vezes estes protagonistas procuram uma certa redenção, sempre falhando miseravelmente. É uma formula que sempre dará certo para mim... isso não faz de mim uma pessoa má!
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho
4.1 3,2K Assista AgoraNão há como assistir ao filme e não se enxergar na pele do Leonardo em nossa adolescência, onde as inseguranças afloram, o desejo de pertencer a algo, a busca de fazer parte de um meio social, aceitação de terceiros e a determinação de provar-se a todo instante. Sendo tal trama já reproduzidas dezenas de vezes nos filmes de coming of age, aqui ele não encontra-se saturado, sendo pela naturalidade dos fatos que incidem na vida do protagonista, tanto pelas ações que, aos poucos, vão moldando a personalidade do mesmo.
Bancando o Águia
4.5 135 Assista AgoraÉ impressionante a genialidade no humor de Buster Keaton, a criatividade, talento e imaginação transporta o público para fora de sua realidade e faz-se ter olhos apenas para o que está sendo exibido.
Junto com Chaplin, produziu obras magnificas e importantes para era do cinema mudo, sendo Keaton utilizando de efeitos mais ousados com temáticas mais "ingênuas", e Chaplin sendo socialmente mais relevante em seus temas.
Operação Dragão
3.9 219 Assista AgoraLongos planos de dois personagens caindo na porrada, sem cortes e sem uso da câmera tremida para dar dinamismo, é assim que se faz takes de violência.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraQueen, sem sombra de dúvida, encontra-se entre as bandas mais bem-sucedidas de todos os tempos, devido a sua persistência e o talento de cada um dos integrantes da banda, em especial ao vocalista Freddie Mercury que sempre foi performático e carismático em suas apresentações ao vivo, levando uma vida desregrada a base festas e drogas. Era inevitável que um dia a história da banda, ou do vocalista, ganharia uma versão para o cinema, o que traz inúmeras responsabilidades tendo em vista a quantidade de fãs e o que a banda representa para o Rock N’ Roll em geral.
Eis que este dia chega e temos o filme Bohemian Rhapsody, nome retirado da música de mesmo nome, canção escrita por Mercury que se dedicou muito para compor a mesma, todos denominavam esta música como “a coisa do Freddie”, assim como a canção, o filme trata-se do Freddie, e “as coisas” que o envolviam. O filme retrata as nuances de personalidades do protagonista, demônios, solidão, banda, vida pessoal e amorosa, uma série de detalhes muito bem captados pelo ator Rami Malek, que demonstra um estudo de personagem formidável. Os membros da banda estão muito bem representados por atores que possuem as mesmas aparências físicas e faciais, chega a assustar tamanha semelhança, porém não ganham o mesmo desenvolvimento que Frieddie.
Dirigido por Bryan Singer, um diretor já consolidado na indústria com bons filmes no currículo, entre ele o ótimo “The Usual Suspects”, entrega-nos um filme saudosista a banda e possuem muitas características de promovê-los comercialmente, isto não é fator para diminuir a experiência fílmica.
O filme apresenta um ritmo frenético com uma montagem criativa e muito competente, é formidável ver um filme deste aspecto com uma montagem e edição tão genuína, uma vez que a película transita a todo instante de um show dinâmico para um assunto mais denso, tudo isso feito de um modo natural. A cinematografia acompanha a edição na questão do dinamismo gerando grande espetáculos ao demonstrar as apresentações ao vivo da banda, iluminação e as cores utilizada na fotografia remetem muito aos anos 70.
Deve-se apontar também à mixagem de som, a sincronia da voz original do cantor ao personagem, muito vezes é imperceptível, e há uma cena em especifico que os integrantes da banda, ao conversar com o representante do estúdio, gesticulam e atuam de acordo com o ritmo do som de fundo.
Caso você seja um fã da banda e do vocalista, vibrará a cada canção e show exposto, mas poderá ficar insatisfeito com o roteiro ao retratar com superficialidade muitos assuntos que foram determinantes na vida do artista, assim como usar inúmeros clichês do gênero já batidos que não funcionam como apelo dramático, assim não conseguindo nos emocionar em determinadas cenas cujo este era o objetivo, mas para um público que não conhece a banda, será uma viagem divertida e conhecerá as características mais relevantes sobre o que representava o queen, certeza buscarão mais sobre aquela que é uma das melhoras bandas de todos os tempos.
A Casa Que Jack Construiu
3.5 788 Assista AgoraA casa que Jack construiu, definitivamente não é um filme que agradará a todos; torturas, violências gráficas, duração longa e alegorias, são os primeiros tópicos do cardápio. Um filme que desafia a decifrar metáforas, suportar situações incomodas e testa o sadismo do público.
Jack é um engenheiro e psicopata que narra cinco dos seus sessenta casos de homicídios em duas horas e meia de filme. Sendo ele um homem com transtornos e enfrenta seus demônios diariamente, encontra em suas vitimas uma forma de adquirir superioridade, satisfazer seu narcisismo e, sobretudo, alcançar uma perfeição artística preenchendo seu ego, uma que vez que seus assassinatos são encarados como uma obra de arte. Por mais que o protagonista seja um engenheiro e arquiteto, fica claro que seu maior dom não é criar, sendo que a maior parte do tempo o mesmo está destruindo, seja a casa que ele tanto luta para construir, quanto as vidas que cruzam a seu caminho.
Dirigido por Lars Von Trier, o longa traz consigo toda a identidade do diretor, todas as suas característica de direção estão aqui: câmera na mão onde gera takes tremidos e desestabilização, roteiro recheado de filosofias, cortes secos, divisão por capítulos, alegorias concomitante às ações dos personagens, fotografia crua sem efeitos práticos criando ambientações densas, longas cenas, atuações impecáveis e narrativas criativas utilizando de linguagens poucos usuais para exprimir conceitos e ideias.
Com mais de uma hora e meia de filme, o diretor expõe cenas de alguns de seus filmes juntamente com opiniões sobre arte e artista, bem e mal, deixando claro que Jack, nada mais é, que o seu alter ego dialogando com o público. Sendo assim, não só atrelamos as obras de arte de Lars com os ambiciosos homicídios do perfeccionista Jack, mas todas as convicções do personagem, desejos e opiniões; o que pode ser perigoso tendo em vista que o protagonista possui visões equivocadas sobre assuntos delicados.
Lars Von Trier nos brinda com mais um filme complexo, artístico e, sobretudo, difícil de ser digerido, porém é disso que o diretor é conhecido e foi assim que o mesmo trilhou sua carreira. Que nada cale o Lars.
Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraIlfitrado na Klan é um filme de época, porém há inúmeros destaques aos comportamentos deploráveis que reverberam aos dias atuais.
Seguindo uma veia cômica do inicio ao fim, o filme nunca faz esquecer-se da gravidade do problema que ali está sendo retratado, e o público transforma-se em um espectador ao presenciar discursos daqueles personagens que representam suas ideologias, temos o forte e motivador discurso do personagem Kwame Ture, os generalistas comentários da Patrice e os discursos de preconceito e ódio do personagem David Duke. Esta obra arrancará bons sorrisos através de situações hilárias, após seu fim, irá fazer-te refletir e apresentará um final aterrorizador.
O roteiro é o grande herói, por se tratar de um assunto repetido centenas de vezes, mas com o seu humor sagaz e de palavras poderosas, faz-se deste filme um obra obrigatória. A montagem e edição brincam com nossos sentidos sendo mais dinâmica e enaltecendo a ação e comédia, utilizando-se assim de mais cortes para conduzir momentos tensos e engraçados, tornando assim um elemento cômico no próprio filme. A cinematografia competente utiliza-se muitos cenários da cor marrom com inúmeras nuances em vermelho criando uma identidade visual e remetendo a época em que se passa a história, ótimos planos em conjunto e movimentações suaves sem nunca tornar-se monótono.
John David Washington nos apresenta o excelente personagem Ron, faz-se acreditar que ele está prestes a explodir a qualquer momento, Adam Driver interpreta Flip, um homem que começa a refletir suas origens e que a todo instante está em alerta para tudo que possa ocorrer ao seu redor.
Spike Lee demonstra saber perfeitamente o filme que ele gostaria de entregar, pois a narrativa ocorre de forma natural, sem parecer forçado, como ocorre em muitos filmes que abordam o mesmo tema. Um grande filme com uma grande história, onde retrata um grupo de pessoas com mentes pequenas, mas caso você juntar um número razoável destas pessoas, as consequências são imensuráveis.
Hereditário
3.8 3,0K Assista AgoraCuidado!
Não espere que Hereditário seja o Exorcista da nova geração como dizem algumas matérias, é um engano afirmar esta preposição, porém temos uma obra que não deve passar despercebida. O filme intercala drama e terror, perfeitamente coreografados pelo diretor, que controla nossos sentidos a fim de trazer desconforto, angústia, curiosidade e empatia. Além dos segredos que uma família guarda para seus herdeiros, sejam estes segredos bons ou ruins, o filme vai adiante, trata-se de luto, desestruturação familiar, e claro, elementos sobrenaturais. Não discorre de um filme aterrorizante e espantoso, mas sim de uma película perturbadora criada através da situação incômoda na qual a família encontrava-se. Esteticamente e tecnicamente, o filme é impecável, a fotografia é afinada, com grande uso de tracking shots com movimentos lentos justamente com a função de fazer com que imergimos na trama, bom uso de sombras e jogos de câmeras aguçados demonstrando controle do diretor em querer mostrar aquilo que o público deve assistir; edição com planos longos, estas duas últimas características técnicas citadas, torna-o mais arrastados para alguns e mais tenso para outros. Trilha sonora empolgante, ajuda a criar tensão e o desing de som ligeiramente eficiente para causar sustos, tendo em vista que jumps scare aqui é ausente. Mis en scene precisa criando um espetáculo sombrio, atuações formidáveis, em especial para Toni Collete. É um daqueles que se faz pensar por semanas, é um terror feito de maneira diferenciada e que foge dos clichês dos gêneros, isto causando descontentamento entre os fãs mais tradicionalista, e satisfazendo aqueles que gostam de ver algo novo. Fez-me lembrar de aspectos que Polanski usou em Bebê de Rosemary, onde a situação é mais aterrorizante do que imagens gráficas, onde o terror não está nos sustos, mas sim no drama vivido pelos personagens, e o final, quem assistir saberá do que estou dizendo.
Dúvida
3.9 1,0K Assista AgoraNão assista pensando que você terá respostas, pois a dúvida, dentre vários assuntos tratados, é o que constrói a trama desta película e o que nos proporciona interesse, nenhumas das decisões tomadas pelos personagens são feito com total certeza. Além da dúvida que ronda a trama, assim como nossas vidas, o filme trata de fofocas, conservadorismo, opressão religiosa, voltar-nos contra aquilo que não concordamos mesmo que inofensivo para nós, solidão, passados obscuros, incertezas, cobertura da igreja para os padres pedófilos, abuso entre outros. Este filme é uma aula de cinematografia, cada plano é bonito por si só, fazendo-nos pensar que cada tomada foi pensada minuciosamente para nos proporcionar uma experiência fílmica única; Temos planos diagonais para causar desestabilização emocional, inúmeros planos gerais com ambientes introspectivos criando uma tensão constante ao longo do filme, close-up constantes destacando as reações de um elenco muito competente, contra-plongée exibindo a hierarquia e o poder do homem que fala pelo altar, não pisque o olho durante o filme para não perder nenhuma bela pintura. A edição é totalmente competente sendo este um filme todo falado, dando ênfase a um ótimo roteiro. Avaliando o roteiro em menor escala, temos diálogos inquietantes, duros e reflexivos perante a trama que não é fácil de digerir. Meryl Streep está perfeita, ela é a personificação do que é a igreja, inquisodora e controladora, é o objeto que move a história e nos oferece uma aula de atuação. Philip Seymour Hoffman está genial como sempre, uma grande perda para o cinema, porém nos deixou um legado de filmes bons, incluindo este. Philip nos entrega um personagem enigmático e constantemente está brincando com nossas atenções, nunca sabemos realmente se devemos confiar nesta persona, transitando entre o culpado e inocente, às vezes os dois juntos. Amy Adams é a nossa futura rainha, um currículo impecável de filmes bons, aqui ela transmite uma ingenuidade e bondade credíveis, mas o brilho aqui é todo da Meryl Streep. Viola Davis aparece pouco, mas o suficiente para mostrar aquilo que já sabemos sobre o seu talento, a mesma aqui é uma mulher que carregada de tristeza em suas costas, onde não tem poder de melhorar a vida de seu filho, uma mulher oprimida por diversas formas, tem noção de todos os seus problemas e fraquezas, mas não pode fazer nada para solucioná-los. Eu não sou padre, mas posso oferecer-lhe um conselho, assista este filme!
Conta Comigo
4.3 1,9K Assista AgoraMais um Filme baseado em uma obra de Stephen King, não são poucas as adaptações, e isso demonstra que ele é o "Rei" dos escritos adaptados para o cinema. Estamos falando do filme "stand by me", retirado do livro "the body". Quatro amigos reúnem-se para encontrar um cadáver perdido com o intuito de ficarem conhecidos com a descoberta. Para nós, o objetivo de encontrar o corpo torna-se segundo plano, pois durante a jornada, a autodescoberta de cada um dos garotos toma por completo a nossa atenção. São crianças, porém já sentem o peso do mundo em seus ombros, reconhece o destino já traçado, a perspectiva de um futuro ruim e, sobretudo, as consequências em suas vidas ocasionado pelo tratamento que recebem de seus pais. Chris é o personagem mais complexo do bando, ao longo do filme vemos nele o mais forte, o conselheiro, não se abstém para defender seus amigos, guarda consigo muitos problemas, o que faz ser um personagem carregado de dor. Sua família é conhecida por ser arruaceiros e seu pai um violento, fazendo-o acreditar que sua vida não poderá ser diferente, suas descrenças do futuro e dos adultos são evidentes quando o mesmo relata o caso ocorrido com sua professora, em minha visão, o ápice do filme, mas ele tem a felicidade de ter Gordie como amigo para mostrar que ele poder ser diferente. Gordie possui uma carga emocional densa por ser um invisível perante seus pais, sempre é rebaixado por não fazer aquilo que o irmão fazia, não estava no padrão na qual os adultos enquadravam como importante ou bem sucedido, mas teve a felicidade de ter Chis como amigo, pois Chris torna-se a forma paterna do pequeno Gordie. Vern é o alívio cômico competente e Teddy é o explosivo da turma, e possui uma necessidade constante de colocar sua coragem em prova, e demonstra trilhar a suposta loucura do pai. Mesmo após o ocorrido, há a separação do grupo, aquele momento foi eternizado, tornando lembranças que eles passarão a contar, pois assim é vida, feitos de pequenos momentos agradáveis que tornarão lembranças por aqueles que presenciaram tal momento, em determinada ocasião, essas memórias serão perdidas como lágrimas na chuva. Edição precisa tornando um filme ágil e uma trilha sonora impecável com a função de nos situarmos no tempo em que se passa o filme. Rob Reiner dirigindo mais um filme motivante, privilegiando as relações humanas e a importância de uma vida feliz, executando um roteiro complexo e ao mesmo tempo sensível. Um belo filme que mostra a beleza de termos amigos, mesmo que passageiros, mas que façam a diferença em nossa jornada chamada vida. A relevância de termos memórias, da relação entre pais e filhos e como somos influenciados pela nossa infância, não podemos perder essa fase tão sublime.