Um filme sobre solidão e isolamento com ótimas passagens, roteiro filosófico, atuações sensacionais e Selton Melo fazendo mais uma dobradinha com Seu Jorge resgatando "Tarantino's mind" e toda a magia que envolve a filosofia destes atores tão conceituais quanto formidáveis. Contudo, o trunfo para mim está mesmo com Ralph Ineson que entregou uma atuação segura e tão madura que mesmo conhecendo-o pouco ouso dizer que esta foi a performance de sua carreira. Este filme tem tudo o que eu aprecio no cinema e me faz acreditar cada vez mais no circuito nacional de obras independentes e alternativas.
Que filme fantástico e fabuloso! Uma pérola, extremamente filosófica e existencial. A aparente comédia do longa esconde um drama e um roteiro profundos, cujo nonsense cria a mise-en-scène perfeita para a abordagem. Daniel Mantovani é um dos personagens mais ricos da história cinema, sem exageros!
O sistema não deve se impor sobre a vida de ninguém, pelo contrário, o sistema existe para nortear, guiar e auxiliar uma pessoa a viver com dignidade e felicidade... Mas quando a burocracia de direito tira de um homem a dignidade, ignora suas limitações, o descredita e o escorraça a quem devemos culpar? Funcionários cujo sistema os torna incapazes de discernir o bem do mal? O estado como se tivéssemos a quem agredir em revolta? Devemos enlouquecer como única saída natural desta corrente desfavorável de angústia e desespero? "Eu, Daniel Blake" é a história revoltante de um homem bom, como tantos homens bons, que vivem pela margem de um sistema que consegue ser tremendamente cruel e desumano. O filme em si é uma obra prima, o melhor trabalho de Ken Loach sem sombra de dúvida, com atuações e momentos que nos tocam tão profundamente a alma que ao término da projeção choramos de rancor e de tristeza, revoltados por entender, ainda mais nos dias de hoje, o quanto somos e vamos nos tornando o protagonista deste longa, cujas boas intenções de nada valem para um sistema que ignora famílias, trabalhadores, homens e mulheres, que esquece seus nomes e os chama de números, para depois relegá-los a uma sarjeta qualquer, contabilizando com desdem e os chamando de indigentes. Esta obra ficará comigo e será meu hino contra injustiças sociais.
Um embate filosófico extremamente angustiante, brutal e visceral do homem com seu credo. Este sem sombra de dúvida vale por si só o ingresso e reafirma Martin Scorcese como um diretor profundo e original. Contudo, acredito que a produção se alongou um pouco por demais e as colocações, inicialmente inquietantes, se tornaram repetitivas na segunda metade e o final foi, por tudo, um pouco previsível e apressado. Deveriam ter encurtado a narrativa, se alongado mais na conclusão e no encontro do protagonista com Ferreira. "Silêncio" carrega consigo ótimos momentos, reflexões e embates filosóficos dos mais interessantes e arrojados, faltou um polimento aqui e ali, mas ainda sim é uma das melhores produções norte americanas deste ano.
Ao se problematizar qualquer questão, por mais pessoal que esta seja, o filósofo sempre lidará com os extremos e com os discursos passionais advindos destes. Contudo é intrínseco ao ato de pensar o de contestar e se o primeiro todo ser humano carrega consigo, somente alguns poucos intelectuais realmente entendem o segundo. Dentro desta lógica, a banalidade do mal nasce quando se retira - pela massificação da sociedade e pela criação de uma estrutura organizacional do tipo militar burocrática - o ato de pensar e o de distinguir atos morais de pessoas comuns o que as torna recipientes vazios sem capacidade de discernimento, capazes de grandes atrocidades, mas incapazes de resistir às ordens que recebem, estas sim cruéis e desumanas. Hannah Arendt não só contestou como problematizou o holocausto, responsabilizou alguns líderes judeus e isso em meio ao julgamento de um dos maiores líderes nazistas por seus crimes contra a humanidade. O Problema do mal desde então foi sua busca e obsessão, e ela seguiu trabalhando nele, até os últimos dias de vida, sendo por isto amada por uns, odiada por outros, lidando com a rejeição de um povo, e a ofensa moral de tantos outros, mas com pouquíssimos argumentos sólidos contrários à sua teoria. Uma grande pensadora política, e este filme faz jus a questão fundamental da revolta que se seguiu ao julgamento de Eichmann presenteando a audiência e aspirantes a filósofos com uma belíssima obra cinematográfica. Eu particularmente me senti como a menina na última classe, instantes antes do fim, arrebatada pelo fascínio que somente o ato do saber pensar - problematizando questões e ponderando soluções - pode proporcionar. Não temos apenas que apontar o mal e nos compadecer por ele, precisamos entender a estrutura que toda disfunção carrega consigo. E este filme é sobre isso.
Se existisse justiça nessa vida (e nessa premiação) "Fences" deveria ter levado a estatueta de melhor filme. A obra em si é belíssima, Denzel Washington está excelente tanto como diretor do longa quanto como o frustrado protagonista que contracena com a sempre soberba Viola Davis em momentos de um brilhantismo que são dignos de um Oscar (na melhor conotação do termo). Talvez por ser baseado em uma peça teatral, a história flui literal, os discursos e os monólogos do sombrio Troy são geniais, ouvir seus relatos e sua bravura frente a frustração de uma vida relegada a apenas uma conquista - conseguir ser o primeiro negro a dirigir um caminhão de lixo - são realmente dignos de nota. Como não se encantar com as paródias e suposições de Troy em analogias com o baseball, de seus encontros com a morte e com o diabo? Um filme falado, com pouco espaço para o silêncio, mas que perturba pelos monólogos e colóquios entre personagens de uma profundidade ímpar, nos convidando a uma espécie de reflexão atemporal sobre vida e sobre as nossas escolhas.
Se tem uma coisa em "Manchester a Beira Mar" que chama a atenção e é original, é que o filme em nenhum momento é sobre a superação de uma perda. Realmente impressionante a história não ser sobre isso, nossos vícios cinematográficos anteriores nos fazem esperar por algo assim desde o início, e é impactante quando nos damos por vencidos e acolhemos o desfecho sem a grande pretensão que esperávamos a priori. A obra é de identidade, sobre lidar com a consciência enquanto o roteiro nos conta pouco a pouco o drama de Lee Chandler, aqui extraordinariamente interpretado por Casey Affleck, que fez algumas coisas bem estúpidas na vida, mas que agora tenta conviver com elas. A história é boa, como todos os concorrentes a melhor filme que estou revisando, este também presa por uma supremacia técnica e visual surpreendentes o que garante, do início ao fim, uma atenção por parte da audiência que por si só já é garantia de sucesso.
Para mim, "Moonlight", embora seja um bom filme, foi a grande decepção deste Oscar. Assim como o superficial, porém belíssimo "La La Land" brigou por muitas estatuetas, este veio com tudo para angariar a vice liderança da noite e o oscar de melhor filme, e não por menos a obra é um deleite visual, com uma ótima temática, interpretações seguras, fotografia sublime e um roteiro que cativa em alguns bons momentos. Contudo, a obra nunca leva a sério contexto algum e consegue o feito de ficar em cima do muro, não dizendo nunca a que veio em suas quase duas horas de projeção. O filme não é político, não é social, não é antropológico, não é cinema de arte. Não vejo a comunidade LGBT representada, a afrodescendência também não é um tema pertinente a obra, o filme não critica e não contextualiza nada, não quer incomodar ninguém e sinto muito, mas penso justamente como Antony Gormley quando este diz: "A arte que faz você se sentir cômodo provavelmente é artesanato, não arte". Moonlight nasceu para ser um filme bonito sobre um homem que passa uma vida encantado por outro homem, sofrendo bullying e preconceito de alguns (sem alguma razão clara aparente), inclusive da mãe e flertando com a depressão clínica por não estabelecer seu lugar em um mundo afetivo e de ideias. Rende alguns bons momentos - a sequência final é belíssima - mas para uma cultura e um povo que clama por igualdade e por ser aceito com identidade e raiz próprios, "Moonlight" consegue o feito de ser apenas bonitinho. Para se mostrar para aquela tia homofóbica e ver ela sentir pena dos personagens.
Lion é um bom filme, definitivamente uma história instigante sobre uma criança que se perde da mãe e do irmão por longos 25 anos! É notável o desespero do protagonista, da direção e interpretação precisas que souberam trabalhar a obsessão do menino e do homem Saroo afim de reconectar-se com sua história e sobretudo desenhar seu destino afim de reencontrar a mãe biológica para poder dizer a ela que o filho ainda vive. A devastação emocional por que passa cada personagem a quem a busca de Saroo fazem jus é bonito de se ver e assim como Dev Patel brilha como o menino perdido, Nicole Kidman mais uma vez desmancha-se em lágrimas e também brilha como a mãe adotiva que precisa lidar com o fato da família estar desmoronando diante dela. Enlaces e devastaçoes emocionais são de longe o grande triunfo de "Lion" ; uma ótima história, com um desfecho emocionante que cativa justamente por expor conceitos de família em suas várias vertentes. Lion merece um lugar em nossos corações.
Não me entendam mal, se tem um filme que talvez mereça todos os prêmios técnicos que disputou (concorreu em 14 categorias), este um é, sem dúvida, "La La Land". Com seus números musicais atraentes, atuações primorosas, fotografia sublime, direção segura, cada nova performance pela soundtrack em jazz e piano ganharam o suspiro da plateia e a euforia de críticos pelo mundo inteiro... Então sim, o filme merece todos os prêmios técnicos - ou ao menos concorrer a eles - com excessão do de melhor filme. A superficialidade do longa chega a incomodar quem busca um cinema com um pouco mais de conteúdo, configurando-se quase como um "malhação" hollywoodiano, mas que preza, com ardor, pelos requisitos técnicos, e o preza tanto, que procurou desesperadamente tapar a falta de seriedade em seu roteiro raso e nenhum pouco original com cenas e canções que saltam aos olhos e buscam sobrepor-se a medianidade de tudo o mais. Contudo, permita-se estalar os dedos com os hits deste musical que pode não ter a seriedade de um "Chicago" por exemplo, ou a genialidade de "Whiplash", mas com certeza vai te encantar. Só não se deixe enganar. Um filme, ainda mais um que almejou ser a pérola do ano, precisa ter mais que belos takes em momentos musicais sublimes. Uma obra que aspira a eternidade precisa ficar com você após a projeção, como esta fica, mas pelos motivos certo.
Um filme necessário para todo e qualquer ser humano que acredita em um ideal e reconhece as injustiças sociais que mulheres, negros e especialmente mulheres negras sofreram e sofrem para sobreviverem e terem - pelos extremos da genialidade humana - seu lugar reconhecido na história da humanidade. Que filme corajoso! Ele soa quase como uma resposta para o Oscar que ano passado atreveu-se a pintar a premiação de branco e de preconceito não reconhecendo nenhuma atriz, ator, filme ou produção afrodescendente em seu hall de melhores do ano. Mas este não poderia passar desapercebido. Sua supremacia é reconhecida desde a primeira cena que mostra com simpatia, coragem e bom humor a revolta e ingenuidade das três heroínas contra o sistema, o que ganha, desde o princípio, o afeto e a atenção do público, consolidando o filme como o grande marco contra o preconceito que é. A obra é política pela seriedade com que lida com o preconceito racial na América de 1961 e nos convida a refletir sobre o tema, é histórica ao retratar os bastidores de um dos maiores triunfos da humanidade - a corrida espacial - e é artística por rechear o roteiro com cenas, atuações, diálogos e direção tão impecáveis que coroam com maestria a intenção do diretor em recriar uma época, com suas leis, suas injustiças e seus desafetos. Pouco ou nada acrescento a esta análise que não; assistam a este filme, se deem "Estrelas além do tempo" de presente... Pensar que algo assim aconteceu tão somente a cinquenta anos atrás é tão assustador quanto se deparar com aqueles que acreditam que o preconceito acabou e que hoje a meritocracia nos faz todos iguais perante o sistema e com as mesmas oportunidades.
"Até o último homem", mesmo com uma história inusitada e por tudo inspiradora, sofre de todos os problemas que são comuns ao gênero guerra: o de ser unilateral, simplista nas análises e muito, mas muito superficial. Visualmente falando o diretor Mel Gibson é excelente e visceral, tendo recriado o horror da guerra em ótimas sequências de ação, com bombas, granadas, tiros, explosões, pernas e braços por todos os lados, um deleite para os amantes do gênero. A originalidade da proposta é realmente interessante, e por ser história real mais interessante ainda. Um homem que por ser devoto consegue o milagre de salvar dezenas de soldados em um campo de guerra, sem portar uma arma sequer, tendo apenas a fé ao seu lado, é no mínimo curiosa e é justamente esta curiosidade a única responsável por manter o longa e a plateia vivos até o fim da projeção. Mas esta fé toda, inabalável, distancia uma parcela significativa da audiência que, como eu, prefere atribuir grandes feitos da humanidade a apenas grandes homens, não a um Deus que, pela lógica abordada no longa, deveria ser parcial e tremendamente sádico.
Esta obra bebe da fonte dos mais célebres westerns e consegue ir além, entregando um drama inquietantemente complacente com a alma humana, mas nenhum pouco com os insultos capitalistas que nos são impostos pela tirania dos bancos públicos e privados. Pela crítica em si o filme brilha, mais ainda quando percebemos que não conseguimos odiar a dupla de irmãos anti-heróis pela lógica do sistema que conta uma parábola de injustiças as avessas e clama por vingança. E isto é apenas uma das pontas da narrativa que dialoga também com a marginalidade indígena, o porte legal de armas, a sociedade machista e patriarcal do Texas e a crise imigratória. Um filme absolutamente rico na abordagem, que soube dosar climaxes e filosofia com maestria e coragem.
A relação que se cria entre cratura, criador e parasita é de longe o ponto alto deste drama coreano que consegue encantar em uma primeira metade fascinante e desencantar em outra na mesma intensidade que promove uma crítica social contundente à uma geração acostumada a tudo pronto, como se reconhecimento e sucesso fossem apenas mercadorias a se desejar em prateleiras de supermercados e lojas de fast-food. Quando a obra foca - especialmente em sua primeira metade - o relacionamento da musa com o escritor septuagenário, o filme rende as melhores cenas, planos sequências e transborda inspiração em passagens encantadoras de tão sublimes (vide o nascimento da poesia-título "Eungyo", sucedida após a fabulosa passagem da tatuagem de rena, que rende uma das cenas mais brilhantes com um banho de poesia em imagens de pura sensualidade e maestria), contudo, quando o filme segue para a questão parasitária do jovem ajudante, ele infelizmente se perde e passa a reproduzir a máxima dos thrillers e enlatados que visam chocar bem mais do que harmonizar. Uma pena, mas que ao mesmo tempo reflete justamente o que essa geração espera da sétima arte: respostas simples, prontas e fáceis de digerir. Qualquer coisa diferente disso, dá sono e é difícil demais. Com um pouco mais de esmero, acredito que a obra tivesse potencial para ser um clássico arrebatador.
Mais uma ficção científica que brinca com o tempo e o espaço e entrega um ótimo drama, rico, complexo e abstrato. Denis Villeneuve foi muito longe com esta obra e no quanto ela é filosoficamente impactante. É muito interessante como a resposta acerca da chegada dos espécimes alienígenas está na própria intenção e escolha narrativa do filme. A hipótese de Sapir-Whorf - se você mergulhar em uma língua não nativa, você pode reprogramar seu cérebro - serve de pano de fundo para a relação que a Dra. Louise Banks tem com os aliens e, mais que isso, ajuda a humanizar a ficção e trazer o outrora plot do propósito da invasão para uma base bem mais familiar: a tristeza de uma mãe que precisa lidar com a morte da filha. E como tudo vai ficando claro nos instantes finais é arrebatador de tão inteligente. "A Chegada" já tem, sem sobra de dúvida, minha torcida neste oscar.
"A comunidade" é um filme rico em personagens e situações comoventes. O único grande problema do longa, a meu ver, é que o mesmo é centrado em apenas três personagens centrais e todos os outros servem apenas de alegorias e panos de fundo para o drama que se desenha - este sim maravilhoso e intimista - sobre, e apenas, nos líderes Erik, Anna e Freja. Mesmo o final nos brindando com uma metáfora preciosa sobre o fim da inocência do grupo, penso que os outros membros da comuna poderiam ser bem melhor trabalhados. Personagens como Alon, Ole, a hippie Mona (com a melhor entrevista de abertura, cômica e irreverente), o pequeno Villards e seu bom coração tinham a obrigação de existirem para muito mais além do que alívios cômicos e estranhezas passionais. Mesmo e contudo recomendo a "A comunidade". Temos um Thomas Vinterberg menos inspirado que em "A Caça", ou "Querida Wendy", por exemplo, mas ainda sim este diretor é acima da média e sempre entrega, senão uma obra impecável, ao menos ótimas cenas e momentos marcantes dignos de nota e que sempre valerão a investida.
Edward Yang foi um mestre com essa obra. Mestre em nos encantar pela a pureza de um olhar, mestre em retratar as idas e vindas do amor, mestre em desmistificar o remorso, a alegria e a superstição. Cada núcleo existe por um propósito maior e cada personagem é tão apaixonantemente lírico e rico que os questionamentos deles em algum momento se encontram com os nossos e de repente é o nosso drama que passamos a assistir, não mais o deles. Este filme me fez refletir muito, mas muito mesmo; sobre as coisas simples da vida... Com certeza um dos mais belos filmes da história do cinema.
"The Fits" é simplesmente genial. Ainda mais impressionante quando se constata que tudo aqui é independente. O orçamento é baixíssimo, as atrizes são da comunidade local, a protagonista nunca havia interpretado e é impressionante o que ela alcança com pouquíssimas linhas de diálogo. O lirismo do filme, a metáfora histérica coletiva por detrás de todos os "acessos", o ritual que marca a despedida da pequena "Tomboy" Toni, a sequencia final, enfim, a vertente independente sela este longa como o clássico que é e nos encanta pela máxima de que reina no underground o que de melhor a arte tem a oferecer, seja ela onde, qual ou o que for. Mais maravilhoso que o longa é a capacidade do cinema de se reinventar com estas visões geniais todas! Anna Rose Holmer; precisamos ficar atentos a esta diretora.
O filme é uma graça, bastante imaginativo e realmente peculiar. Uma aventura interessante, contudo, como todos os recentes trabalhos de Tim Burton, carece de um significado maior, de mais relação entre as personagens que não o poder delas, e mais profundidade. O filme é raso, mas como uma aventura despretensiosa funciona muito bem.
Definitivamente o filme se conta nas entrelinhas. Mesmo após o término da projeção o espectador ainda fica assimilando a proposta de tão intrigante que ela é. Molly e Ryder são apenas as peças de um segredo muito maior do que o suposto abuso que se torna tão insignificante quanto a homossexualidade do protagonista. Que família estranha e que filme interessante.
"Rogue One" foi mais esquadrão suicida do que esquadrão suicida foi esquadrão suicida. O melhor Star Wars, maduro, forte e original! Em um ano cheio de decepções cinematográficas, este conto veio e nos lavou a alma. Valeu o ingresso e a espera.
Um filme corajoso. Impossível não traçar paralelos com José Saramago em seu “Ensaio Sobre a Cegueira". Filosofico e cruel, o grande triunfo da obra está em propor um estudo de causa e efeito em como o ser humano lida com a idéia iminente de um fim literalmente "sem sentido" e a insistência pelo apego nas coisas que sempre nos mantiveram vivos e principalmente vivendo. Aqui pela máxima, o amor. Excelente uso de uma trilha sonora melancólica, de uma direção de arte impecável que realmente trabalha cenários e personagens para uma ideia surreal de apocalipse. Mas eu gostaria de ver mais o fim pelo vies social e menos pela questão do relacionamento amoroso que irrompe nos protagonistas. Contudo, um ótimo filme, um romance nada convencional e que realmente propõe uma discussão e uma reflexão sobre aspectos primordiais da natureza humana.
Soundtrack
3.4 42Um filme sobre solidão e isolamento com ótimas passagens, roteiro filosófico, atuações sensacionais e Selton Melo fazendo mais uma dobradinha com Seu Jorge resgatando "Tarantino's mind" e toda a magia que envolve a filosofia destes atores tão conceituais quanto formidáveis.
Contudo, o trunfo para mim está mesmo com Ralph Ineson que entregou uma atuação segura e tão madura que mesmo conhecendo-o pouco ouso dizer que esta foi a performance de sua carreira.
Este filme tem tudo o que eu aprecio no cinema e me faz acreditar cada vez mais no circuito nacional de obras independentes e alternativas.
O Cidadão Ilustre
4.0 198 Assista AgoraQue filme fantástico e fabuloso! Uma pérola, extremamente filosófica e existencial.
A aparente comédia do longa esconde um drama e um roteiro profundos, cujo nonsense cria a mise-en-scène perfeita para a abordagem. Daniel Mantovani é um dos personagens mais ricos da história cinema, sem exageros!
The Forest
3.1 6Um belíssimo conto de horror, com momentos verdadeiramente belos e um roteiro assustador e intrigante.
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista AgoraO sistema não deve se impor sobre a vida de ninguém, pelo contrário, o sistema existe para nortear, guiar e auxiliar uma pessoa a viver com dignidade e felicidade...
Mas quando a burocracia de direito tira de um homem a dignidade, ignora suas limitações, o descredita e o escorraça a quem devemos culpar?
Funcionários cujo sistema os torna incapazes de discernir o bem do mal? O estado como se tivéssemos a quem agredir em revolta?
Devemos enlouquecer como única saída natural desta corrente desfavorável de angústia e desespero?
"Eu, Daniel Blake" é a história revoltante de um homem bom, como tantos homens bons, que vivem pela margem de um sistema que consegue ser tremendamente cruel e desumano.
O filme em si é uma obra prima, o melhor trabalho de Ken Loach sem sombra de dúvida, com atuações e momentos que nos tocam tão profundamente a alma que ao término da projeção choramos de rancor e de tristeza, revoltados por entender, ainda mais nos dias de hoje, o quanto somos e vamos nos tornando o protagonista deste longa, cujas boas intenções de nada valem para um sistema que ignora famílias, trabalhadores, homens e mulheres, que esquece seus nomes e os chama de números, para depois relegá-los a uma sarjeta qualquer, contabilizando com desdem e os chamando de indigentes.
Esta obra ficará comigo e será meu hino contra injustiças sociais.
Silêncio
3.8 576Um embate filosófico extremamente angustiante, brutal e visceral do homem com seu credo. Este sem sombra de dúvida vale por si só o ingresso e reafirma Martin Scorcese como um diretor profundo e original.
Contudo, acredito que a produção se alongou um pouco por demais e as colocações, inicialmente inquietantes, se tornaram repetitivas na segunda metade e o final foi, por tudo, um pouco previsível e apressado. Deveriam ter encurtado a narrativa, se alongado mais na conclusão e no encontro do protagonista com Ferreira.
"Silêncio" carrega consigo ótimos momentos, reflexões e embates filosóficos dos mais interessantes e arrojados, faltou um polimento aqui e ali, mas ainda sim é uma das melhores produções norte americanas deste ano.
Hannah Arendt - Ideias Que Chocaram o Mundo
4.0 196Ao se problematizar qualquer questão, por mais pessoal que esta seja, o filósofo sempre lidará com os extremos e com os discursos passionais advindos destes.
Contudo é intrínseco ao ato de pensar o de contestar e se o primeiro todo ser humano carrega consigo, somente alguns poucos intelectuais realmente entendem o segundo.
Dentro desta lógica, a banalidade do mal nasce quando se retira - pela massificação da sociedade e pela criação de uma estrutura organizacional do tipo militar burocrática - o ato de pensar e o de distinguir atos morais de pessoas comuns o que as torna recipientes vazios sem capacidade de discernimento, capazes de grandes atrocidades, mas incapazes de resistir às ordens que recebem, estas sim cruéis e desumanas.
Hannah Arendt não só contestou como problematizou o holocausto, responsabilizou alguns líderes judeus e isso em meio ao julgamento de um dos maiores líderes nazistas por seus crimes contra a humanidade.
O Problema do mal desde então foi sua busca e obsessão, e ela seguiu trabalhando nele, até os últimos dias de vida, sendo por isto amada por uns, odiada por outros, lidando com a rejeição de um povo, e a ofensa moral de tantos outros, mas com pouquíssimos argumentos sólidos contrários à sua teoria.
Uma grande pensadora política, e este filme faz jus a questão fundamental da revolta que se seguiu ao julgamento de Eichmann presenteando a audiência e aspirantes a filósofos com uma belíssima obra cinematográfica.
Eu particularmente me senti como a menina na última classe, instantes antes do fim, arrebatada pelo fascínio que somente o ato do saber pensar - problematizando questões e ponderando soluções - pode proporcionar.
Não temos apenas que apontar o mal e nos compadecer por ele, precisamos entender a estrutura que toda disfunção carrega consigo.
E este filme é sobre isso.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraSe existisse justiça nessa vida (e nessa premiação) "Fences" deveria ter levado a estatueta de melhor filme.
A obra em si é belíssima, Denzel Washington está excelente tanto como diretor do longa quanto como o frustrado protagonista que contracena com a sempre soberba Viola Davis em momentos de um brilhantismo que são dignos de um Oscar (na melhor conotação do termo).
Talvez por ser baseado em uma peça teatral, a história flui literal, os discursos e os monólogos do sombrio Troy são geniais, ouvir seus relatos e sua bravura frente a frustração de uma vida relegada a apenas uma conquista - conseguir ser o primeiro negro a dirigir um caminhão de lixo - são realmente dignos de nota.
Como não se encantar com as paródias e suposições de Troy em analogias com o baseball, de seus encontros com a morte e com o diabo?
Um filme falado, com pouco espaço para o silêncio, mas que perturba pelos monólogos e colóquios entre personagens de uma profundidade ímpar, nos convidando a uma espécie de reflexão atemporal sobre vida e sobre as nossas escolhas.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraSe tem uma coisa em "Manchester a Beira Mar" que chama a atenção e é original, é que o filme em nenhum momento é sobre a superação de uma perda.
Realmente impressionante a história não ser sobre isso, nossos vícios cinematográficos anteriores nos fazem esperar por algo assim desde o início, e é impactante quando nos damos por vencidos e acolhemos o desfecho sem a grande pretensão que esperávamos a priori.
A obra é de identidade, sobre lidar com a consciência enquanto o roteiro nos conta pouco a pouco o drama de Lee Chandler, aqui extraordinariamente interpretado por Casey Affleck, que fez algumas coisas bem estúpidas na vida, mas que agora tenta conviver com elas.
A história é boa, como todos os concorrentes a melhor filme que estou revisando, este também presa por uma supremacia técnica e visual surpreendentes o que garante, do início ao fim, uma atenção por parte da audiência que por si só já é garantia de sucesso.
Moonlight: Sob a Luz do Luar
4.1 2,4K Assista AgoraPara mim, "Moonlight", embora seja um bom filme, foi a grande decepção deste Oscar.
Assim como o superficial, porém belíssimo "La La Land" brigou por muitas estatuetas, este veio com tudo para angariar a vice liderança da noite e o oscar de melhor filme, e não por menos a obra é um deleite visual, com uma ótima temática, interpretações seguras, fotografia sublime e um roteiro que cativa em alguns bons momentos.
Contudo, a obra nunca leva a sério contexto algum e consegue o feito de ficar em cima do muro, não dizendo nunca a que veio em suas quase duas horas de projeção.
O filme não é político, não é social, não é antropológico, não é cinema de arte.
Não vejo a comunidade LGBT representada, a afrodescendência também não é um tema pertinente a obra, o filme não critica e não contextualiza nada, não quer incomodar ninguém e sinto muito, mas penso justamente como Antony Gormley quando este diz: "A arte que faz você se sentir cômodo provavelmente é artesanato, não arte".
Moonlight nasceu para ser um filme bonito sobre um homem que passa uma vida encantado por outro homem, sofrendo bullying e preconceito de alguns (sem alguma razão clara aparente), inclusive da mãe e flertando com a depressão clínica por não estabelecer seu lugar em um mundo afetivo e de ideias.
Rende alguns bons momentos - a sequência final é belíssima - mas para uma cultura e um povo que clama por igualdade e por ser aceito com identidade e raiz próprios, "Moonlight" consegue o feito de ser apenas bonitinho.
Para se mostrar para aquela tia homofóbica e ver ela sentir pena dos personagens.
Lion: Uma Jornada para Casa
4.3 1,9K Assista AgoraLion é um bom filme, definitivamente uma história instigante sobre uma criança que se perde da mãe e do irmão por longos 25 anos!
É notável o desespero do protagonista, da direção e interpretação precisas que souberam trabalhar a obsessão do menino e do homem Saroo afim de reconectar-se com sua história e sobretudo desenhar seu destino afim de reencontrar a mãe biológica para poder dizer a ela que o filho ainda vive.
A devastação emocional por que passa cada personagem a quem a busca de Saroo fazem jus é bonito de se ver e assim como Dev Patel brilha como o menino perdido, Nicole Kidman mais uma vez desmancha-se em lágrimas e também brilha como a mãe adotiva que precisa lidar com o fato da família estar desmoronando diante dela.
Enlaces e devastaçoes emocionais são de longe o grande triunfo de "Lion" ; uma ótima história, com um desfecho emocionante que cativa justamente por expor conceitos de família em suas várias vertentes.
Lion merece um lugar em nossos corações.
La La Land: Cantando Estações
4.1 3,6K Assista AgoraNão me entendam mal, se tem um filme que talvez mereça todos os prêmios técnicos que disputou (concorreu em 14 categorias), este um é, sem dúvida, "La La Land". Com seus números musicais atraentes, atuações primorosas, fotografia sublime, direção segura, cada nova performance pela soundtrack em jazz e piano ganharam o suspiro da plateia e a euforia de críticos pelo mundo inteiro... Então sim, o filme merece todos os prêmios técnicos - ou ao menos concorrer a eles - com excessão do de melhor filme.
A superficialidade do longa chega a incomodar quem busca um cinema com um pouco mais de conteúdo, configurando-se quase como um "malhação" hollywoodiano, mas que preza, com ardor, pelos requisitos técnicos, e o preza tanto, que procurou desesperadamente tapar a falta de seriedade em seu roteiro raso e nenhum pouco original com cenas e canções que saltam aos olhos e buscam sobrepor-se a medianidade de tudo o mais.
Contudo, permita-se estalar os dedos com os hits deste musical que pode não ter a seriedade de um "Chicago" por exemplo, ou a genialidade de "Whiplash", mas com certeza vai te encantar.
Só não se deixe enganar. Um filme, ainda mais um que almejou ser a pérola do ano, precisa ter mais que belos takes em momentos musicais sublimes.
Uma obra que aspira a eternidade precisa ficar com você após a projeção, como esta fica, mas pelos motivos certo.
Estrelas Além do Tempo
4.3 1,5K Assista AgoraUm filme necessário para todo e qualquer ser humano que acredita em um ideal e reconhece as injustiças sociais que mulheres, negros e especialmente mulheres negras sofreram e sofrem para sobreviverem e terem - pelos extremos da genialidade humana - seu lugar reconhecido na história da humanidade.
Que filme corajoso!
Ele soa quase como uma resposta para o Oscar que ano passado atreveu-se a pintar a premiação de branco e de preconceito não reconhecendo nenhuma atriz, ator, filme ou produção afrodescendente em seu hall de melhores do ano.
Mas este não poderia passar desapercebido. Sua supremacia é reconhecida desde a primeira cena que mostra com simpatia, coragem e bom humor a revolta e ingenuidade das três heroínas contra o sistema, o que ganha, desde o princípio, o afeto e a atenção do público, consolidando o filme como o grande marco contra o preconceito que é.
A obra é política pela seriedade com que lida com o preconceito racial na América de 1961 e nos convida a refletir sobre o tema, é histórica ao retratar os bastidores de um dos maiores triunfos da humanidade - a corrida espacial - e é artística por rechear o roteiro com cenas, atuações, diálogos e direção tão impecáveis que coroam com maestria a intenção do diretor em recriar uma época, com suas leis, suas injustiças e seus desafetos.
Pouco ou nada acrescento a esta análise que não; assistam a este filme, se deem "Estrelas além do tempo" de presente... Pensar que algo assim aconteceu tão somente a cinquenta anos atrás é tão assustador quanto se deparar com aqueles que acreditam que o preconceito acabou e que hoje a meritocracia nos faz todos iguais perante o sistema e com as mesmas oportunidades.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista Agora"Até o último homem", mesmo com uma história inusitada e por tudo inspiradora, sofre de todos os problemas que são comuns ao gênero guerra: o de ser unilateral, simplista nas análises e muito, mas muito superficial.
Visualmente falando o diretor Mel Gibson é excelente e visceral, tendo recriado o horror da guerra em ótimas sequências de ação, com bombas, granadas, tiros, explosões, pernas e braços por todos os lados, um deleite para os amantes do gênero.
A originalidade da proposta é realmente interessante, e por ser história real mais interessante ainda. Um homem que por ser devoto consegue o milagre de salvar dezenas de soldados em um campo de guerra, sem portar uma arma sequer, tendo apenas a fé ao seu lado, é no mínimo curiosa e é justamente esta curiosidade a única responsável por manter o longa e a plateia vivos até o fim da projeção.
Mas esta fé toda, inabalável, distancia uma parcela significativa da audiência que, como eu, prefere atribuir grandes feitos da humanidade a apenas grandes homens, não a um Deus que, pela lógica abordada no longa, deveria ser parcial e tremendamente sádico.
A Qualquer Custo
3.8 803 Assista AgoraEsta obra bebe da fonte dos mais célebres westerns e consegue ir além, entregando um drama inquietantemente complacente com a alma humana, mas nenhum pouco com os insultos capitalistas que nos são impostos pela tirania dos bancos públicos e privados.
Pela crítica em si o filme brilha, mais ainda quando percebemos que não conseguimos odiar a dupla de irmãos anti-heróis pela lógica do sistema que conta uma parábola de injustiças as avessas e clama por vingança.
E isto é apenas uma das pontas da narrativa que dialoga também com a marginalidade indígena, o porte legal de armas, a sociedade machista e patriarcal do Texas e a crise imigratória.
Um filme absolutamente rico na abordagem, que soube dosar climaxes e filosofia com maestria e coragem.
Eungyo - A Musa
3.7 24A relação que se cria entre cratura, criador e parasita é de longe o ponto alto deste drama coreano que consegue encantar em uma primeira metade fascinante e desencantar em outra na mesma intensidade que promove uma crítica social contundente à uma geração acostumada a tudo pronto, como se reconhecimento e sucesso fossem apenas mercadorias a se desejar em prateleiras de supermercados e lojas de fast-food.
Quando a obra foca - especialmente em sua primeira metade - o relacionamento da musa com o escritor septuagenário, o filme rende as melhores cenas, planos sequências e transborda inspiração em passagens encantadoras de tão sublimes (vide o nascimento da poesia-título "Eungyo", sucedida após a fabulosa passagem da tatuagem de rena, que rende uma das cenas mais brilhantes com um banho de poesia em imagens de pura sensualidade e maestria), contudo, quando o filme segue para a questão parasitária do jovem ajudante, ele infelizmente se perde e passa a reproduzir a máxima dos thrillers e enlatados que visam chocar bem mais do que harmonizar. Uma pena, mas que ao mesmo tempo reflete justamente o que essa geração espera da sétima arte: respostas simples, prontas e fáceis de digerir. Qualquer coisa diferente disso, dá sono e é difícil demais.
Com um pouco mais de esmero, acredito que a obra tivesse potencial para ser um clássico arrebatador.
A Chegada
4.2 3,4K Assista AgoraMais uma ficção científica que brinca com o tempo e o espaço e entrega um ótimo drama, rico, complexo e abstrato.
Denis Villeneuve foi muito longe com esta obra e no quanto ela é filosoficamente impactante. É muito interessante como a resposta acerca da chegada dos espécimes alienígenas está na própria intenção e escolha narrativa do filme.
A hipótese de Sapir-Whorf - se você mergulhar em uma língua não nativa, você pode reprogramar seu cérebro - serve de pano de fundo para a relação que a Dra. Louise Banks tem com os aliens e, mais que isso, ajuda a humanizar a ficção e trazer o outrora plot do propósito da invasão para uma base bem mais familiar: a tristeza de uma mãe que precisa lidar com a morte da filha.
E como tudo vai ficando claro nos instantes finais é arrebatador de tão inteligente.
"A Chegada" já tem, sem sobra de dúvida, minha torcida neste oscar.
A Comunidade
3.4 77 Assista Agora"A comunidade" é um filme rico em personagens e situações comoventes.
O único grande problema do longa, a meu ver, é que o mesmo é centrado em apenas três personagens centrais e todos os outros servem apenas de alegorias e panos de fundo para o drama que se desenha - este sim maravilhoso e intimista - sobre, e apenas, nos líderes Erik, Anna e Freja.
Mesmo o final nos brindando com uma metáfora preciosa sobre o fim da inocência do grupo, penso que os outros membros da comuna poderiam ser bem melhor trabalhados.
Personagens como Alon, Ole, a hippie Mona (com a melhor entrevista de abertura, cômica e irreverente), o pequeno Villards e seu bom coração tinham a obrigação de existirem para muito mais além do que alívios cômicos e estranhezas passionais.
Mesmo e contudo recomendo a "A comunidade".
Temos um Thomas Vinterberg menos inspirado que em "A Caça", ou "Querida Wendy", por exemplo, mas ainda sim este diretor é acima da média e sempre entrega, senão uma obra impecável, ao menos ótimas cenas e momentos marcantes dignos de nota e que sempre valerão a investida.
As Coisas Simples da Vida
4.3 120Edward Yang foi um mestre com essa obra.
Mestre em nos encantar pela a pureza de um olhar, mestre em retratar as idas e vindas do amor, mestre em desmistificar o remorso, a alegria e a superstição.
Cada núcleo existe por um propósito maior e cada personagem é tão apaixonantemente lírico e rico que os questionamentos deles em algum momento se encontram com os nossos e de repente é o nosso drama que passamos a assistir, não mais o deles.
Este filme me fez refletir muito, mas muito mesmo; sobre as coisas simples da vida...
Com certeza um dos mais belos filmes da história do cinema.
The Fits
3.6 25"The Fits" é simplesmente genial. Ainda mais impressionante quando se constata que tudo aqui é independente. O orçamento é baixíssimo, as atrizes são da comunidade local, a protagonista nunca havia interpretado e é impressionante o que ela alcança com pouquíssimas linhas de diálogo.
O lirismo do filme, a metáfora histérica coletiva por detrás de todos os "acessos", o ritual que marca a despedida da pequena "Tomboy" Toni, a sequencia final, enfim, a vertente independente sela este longa como o clássico que é e nos encanta pela máxima de que reina no underground o que de melhor a arte tem a oferecer, seja ela onde, qual ou o que for.
Mais maravilhoso que o longa é a capacidade do cinema de se reinventar com estas visões geniais todas!
Anna Rose Holmer; precisamos ficar atentos a esta diretora.
O Lar das Crianças Peculiares
3.3 1,5K Assista AgoraO filme é uma graça, bastante imaginativo e realmente peculiar. Uma aventura interessante, contudo, como todos os recentes trabalhos de Tim Burton, carece de um significado maior, de mais relação entre as personagens que não o poder delas, e mais profundidade.
O filme é raso, mas como uma aventura despretensiosa funciona muito bem.
Take Me to the River
3.3 46 Assista AgoraDefinitivamente o filme se conta nas entrelinhas.
Mesmo após o término da projeção o espectador ainda fica assimilando a proposta de tão intrigante que ela é.
Molly e Ryder são apenas as peças de um segredo muito maior do que o suposto abuso que se torna tão insignificante quanto a homossexualidade do protagonista.
Que família estranha e que filme interessante.
Rogue One: Uma História Star Wars
4.2 1,7K Assista Agora"Rogue One" foi mais esquadrão suicida do que esquadrão suicida foi esquadrão suicida.
O melhor Star Wars, maduro, forte e original! Em um ano cheio de decepções cinematográficas, este conto veio e nos lavou a alma.
Valeu o ingresso e a espera.
Sentidos do Amor
4.1 1,2KUm filme corajoso. Impossível não traçar paralelos com José Saramago em seu “Ensaio Sobre a Cegueira".
Filosofico e cruel, o grande triunfo da obra está em propor um estudo de causa e efeito em como o ser humano lida com a idéia iminente de um fim literalmente "sem sentido" e a insistência pelo apego nas coisas que sempre nos mantiveram vivos e principalmente vivendo.
Aqui pela máxima, o amor.
Excelente uso de uma trilha sonora melancólica, de uma direção de arte impecável que realmente trabalha cenários e personagens para uma ideia surreal de apocalipse.
Mas eu gostaria de ver mais o fim pelo vies social e menos pela questão do relacionamento amoroso que irrompe nos protagonistas.
Contudo, um ótimo filme, um romance nada convencional e que realmente propõe uma discussão e uma reflexão sobre aspectos primordiais da natureza humana.
O Predestinado
4.0 1,6K Assista AgoraMINDFUCK