Céline Sciamma definitivamente sabe criar personagens maravilhosos e profundos, com ideais feministas absolutamente apaixonantes e complexos. Sejam adolescentes como em "Lírios dágua", infantis como em "Tomboy" a máxima de se existir por algo além do ideal que compõe uma sociedade doente viciada em ismos irrelevantes de condutas uniformes é a regra maior que permeia os excelentes e premiadíssimos longas da diretora. Em "Bande de Filles", ou "Garotas" a cultura do gueto e da periferia francesa é retratada de forma tão significativa que a personagem de Marieme se torna mais do que simplesmente uma menina que não se encaixa nos padrões, ela se torna uma utopia disforme de caminho, um caos interno que a leva ou para a ruína pessoal ou para uma ascensão sem precedentes; e por tudo o que o filme nos leva a vivenciar, todo o amor destas garotas que existem por elas e para além delas, em um grupo que as acolhe e as aceita como iguais, Mariene precisa ir além, não reproduzir a máxima da opressão e desbravar os limites do imaginário. Como quando sua amiga Lady a faz olhar em seus olhos, na fabulosa cena do quarto do hotel, e dizer, de cabeça erguida e de uma vez por todas, que as mulheres devem fazer o que tiverem vontade. E a faz repetir. Porque liberdade é isso.
O experimentalismo das imagens e o onirismo do roteiro, combinados a mais-que-perfeita trilha sonora emprestada de Nico do Velvet Underground fazem de "A Cicatriz Interior" uma viagem sensorial bem antes de ser cinematográfica.
Um filme que, mesmo tendo uma trama imortal - a fábula do homem que queria ser Deus e cria com isso um monstro - sofre pela ação do tempo, sendo por isso, datado. Contudo, se nos despirmos de julgamentos e entendermos a obra como sendo o marco cinematográfico que foi para a década de 30, entendemos seu valor e por conseguinte fica bem mais fácil apreciá-la. Em tempo: As diferenças entre o clássico de Mary Shelley e a obra cinematográfica de James Whale são muitas, tantas que fui pesquisar sobre esta adaptação e descobri que o filme não se baseou exatamente no livro original, mas sim numa peça dos anos de 1920 atribuída à Peggy Webling, que mudou o texto da autora literária Mary Shelley. Isso explicou o recorrente estranhamento que senti ao assisti-lo e minha acentuada preferencia pelo livro.
Já dizia Claice Lispector, nada é tão complexo quanto a simplicidade. E esta obra conseguiu despir a plateia de preconceitos e trazer, à luz da filosofia central dos personagens, um maravilhoso conto moderno sobre uma garota que pela simplicidade, evoca valores feministas ao desejar um regalo ao qual toda uma nação insiste em querer que ela entenda não ser apropriado para uma menina. "Wadjda" impressiona, não somente pelo lirismo que acolhe os conflitos religiosos e ideológicos da sociedade teuto-saudita, quanto pelo fato deste ser, em pleno século 21, o primeiro filme dirigido por uma mulher na arabia saudita. Haifaa Al-Mansour faz quase um retrato de si mesma ao dirigir o longa, trocando bicicleta por câmera para gritar para uma nação inteira, e para o mundo tendo em vista sua sensibilidade, que filmes também serão, de agora em diante, brincadeiras de menina! E, por Deus, que bom! Precisamos de mais filmes assim, de mais sensibilidade feminina em todos os campos, sejam eles artísticos ou não, do bagunçado mundo em que vivemos.
Quando a gente pensa que filmes de zumbis não tem mais nada de novo para acrescentar, aparece um que foge da linha e ferra um drama bonito de se ver sobre relações interpessoais em um mundo devastado pelo famigerado apocalipse. Peca um pouco pelo excesso de clichês, mas dá-se um desconto pois, pela máxima imposta pelo filme, algumas relações e situações até convencem. Para quem busca mais um drama do que a sanguinolência típica destes Blockbusters vai se surpreender positivamente se der a este "Extinction" uma chance, para quem só busca ação, terror e sangue, a sequência final não decepciona, você só precisa sobreviver até lá. Eu gostei bastante!
Representação memorável do período. Cheguei até este filme com base em meus estudos sobre a história da arte e fiquei imerso com a narrativa que mescla o período paleolítico (pelas vestes e pela subsistência nômade) com o neolítico (formação de aldeias, criação de armas aprimoradas pelo domínio do fogo). Como filme fiquei entretido pelo conto, mesmo sem este conter diálogos inteligíveis. Um achado!
O cinema de Robert Wiene foi fortemente influenciado pelo expressionismo alemão de Edvard Munch, sobretudo em seu famoso trabalho "O Grito" de 1893. Vale ressaltar que o expressionismo, ao contrário do que se pensa, não nasceu na Alemanha, mas foi lá que se consolidou e ganhou força, muito pelos horrores da guerra. O expressionismo, tanto no cinema, quanto na arte propunha exteriorizar o olhar subjetivo do homem, traduzindo visualmente os conflitos emocionais destes. Com esta premissa, o clássico atemporal "O gabinete do Dr. Caligari" comunga com o movimento ao atribuir, tanto ao seu roteiro, quanto a sua execução, os elementos que fortemente traduzem a proposta expressionista. Tal qual a obra do supracitado pintor, o filme não aborda o tema da loucura e do horror pela ótica de uma realidade concreta, percebe-se isso pelo uso dos maquineísmos e facetas de interpretação (recorrentes no cinema mudo), pelos cenários distorcidos, no contraste de luz e sombra e pela maquiagem dos personagens. Diria que é quase como se, ao assistir o clássico de Wiene, apreciássemos uma pintura de Munch em movimento, tamanha a sintonia.
Essa obra fez com que eu me lembrasse o quanto eu amo o cinema. Porque a sétima arte é tudo o que esse filme é. É Magia, é comédia e é drama, é o nonsense combinado com um roteiro maravilhosamente original. É um repertório musical deslumbrante, uma história querendo ser contada sem necessariamente querer fazer muito sentido pra isso. É acidez onde tem o que cutucar, é comédia onde tem do que se rir. É ficar duas horas com um sorriso bobo no rosto, não querendo que ele acabe nunca. É ser capaz de encontrar sempre, como eu encontrei hoje, o melhor filme de todos os tempos da última semana!!!
A sinopse chama mais a atenção do que o filme em si... Talvez por toda a narrativa submeter-se ao encantamento e perspectiva da pequena Ana, eu demorei muito para conceber o casal em crise. Contudo, o que mais me chamou a atenção foi justamente isso; a entrelinha que é a vida de todo casal aos olhos de uma criança. Neste aspecto a diretora faz um excelente trabalho, colocando-nos como espectadores passivos em uma linha muito mais cinematograficamente abrangente para a proposta, obrigando-nos, não só a entrar naquele carro com eles, como nos sentarmos no banco de trás, quase como se fossemos o terceiro filho do casal.
Da complexidade de um caso destes, Koreeda consegue extrair tanta beleza e simplicidade que é impossível não se apaixonar pelo longa. Não é o melhor trabalho deste belíssimo diretor, mas certamente leva seu selo.
Este filme nos faz lembrar o quanto a alma humana, mesmo e contudo, é maravilhosa. Que rara sensibilidade! As passagens de Rudi com Yu são uma das coisas mais lindas que a sétima arte pode proporcionar.
Me lembrou o ótimo "A Fita Branca" de Haneke em diversas passagens, e por toda a frieza humana, construí com a obra um repertório filosófico ímpar acerca do que e porque a negligencia familiar pode ser o verdadeiro terror por detrás dos grandes crimes contra a humanidade. Desconheço a obra homônima de Sartre a que o filme faz alusão, mas o filme em si, mesmo pretensioso, é digno de nota, sendo conciso, frio e coerente.
Eu consigo apreciar obras clássicas em um contexto, mas infelizmente para mim Alphaville se perdeu no tempo e eu não fui capaz de compreender a originalidade da proposta. Claro que tem algumas ótimas passagens e diálogos, mas no mais - e para mim - foi apenas maçante. Contudo, tenho certeza que para a época foi um marco. Não penso Godard tão atemporal quanto Bergman e Tarkovsky o são.
Um documentario ímpar que problematiza a questão da segurança da informação como eu nunca pensei que pudesse ser problematizada. A obra e a discussão da obra vão muito além do caso do Ross e se estendem sobre todos os aspectos de nossa vida, seja ela trilhada ou não no anonimato virtual.
Um marco cinematográfico nacional com uma interpretação monstruosa de Rodrigo Santoro. Fotografia, roteiro, direção... Tão genial quanto a personalidade destrutiva e caótica deste fenômeno.
Não está entre as melhores obras da Pixar, mas com certeza é digno dela. Uma animação com a assinatura, os valores e a inventividade do estúdio de animação mais original que existe. Sem sombra de dúvida, "O Bom Dinossauro", é um bom filme.
Um ótimo documentário que desfila a ignorância expansionista e fundamentalista cristã, mas nunca o faz em tom de crítica, deixando a análise dos fatos para o espectador que pode ou não se identificar. Pessoalmente eu preferia que os diretores tomassem partido e defendessem a posição contrária a iniciativa criminosa desta pastora Becky e falassem mais sobre o quão destrutivo lavagens cerebrais como essa podem significar para o indivíduo que a recebe desde a mais tenra infância, contudo, a abordagem imparcial permite que qualquer pessoa dotada do mínimo de bom senso veja o quão grave é esta exposição. Mais uma vez a religião e o protestantismo mostrando do que são capazes: sem sombra de dúvidas, este documentário é uma das coisas mais pavorosas que já tive a oportunidade de assistir. Criança alguma deveria ser exposta a nada parecido com isso.
É verdadeiramente espantosa a sensibilidade de Hirokazu Koreeda para o cinema. Com certeza ele é um dos, senão o melhor diretor em atividade, e com certeza um dos melhores de todos os tempos. Esta obra traduz de forma sublime sua proposta cinematográfica. Perfeita em cada take.
Até hoje mulheres sofrem opressão pelas mãos do fundamentalismo religioso, das facetas de sociedades machistas e por séculos e seculos de soberania do patriarcado. O grito que o diretor Deniz Gamze Ergüven ecoa com "Cinco Graças" vai além de tentar simplesmente chamar a atenção para um fato já conhecido por todos da sociedade Turca, e leva também para a narrativa a precocidade da revolta que surje quando, e por tanto tempo, a opressão desconstrói tudo aquilo que naturalmente o amor e valores familiares baseados no respeito deveriam ajudar a nutrir. A amizade das irmãs é linda e é realmente muito triste ver como o conservadorismo vitimiza uma a uma e para sempre. Uma bela obra, singular e com uma personagem principal tão valente que ao término da projeção chegamos mesmo a ter esperanças.
O filme é muito legal e é mesmo bem interessante a maneira como a Marvel explora seu universo nos cinemas, mas não é o melhor filme de super-heróis, isso é exagero. Gostei bastante da leveza, das lutas memoráveis, da inserção mais que bem vinda do homem aranha, dos alívios cômicos todos, mas o roteiro (leia-se o tal tratado) deixa de importar ainda na primeira metade e tudo passa a ser sobre encontrar, prender ou salvar o soldado invernal em uma desculpa tão clara quanto pequena - visto a dimensão do problema que o filme originalmente se propunha a debater - sobre o que fará o capitão América e o Homem de ferro se pegarem na porrada. Particularmente eu prefiro a visão mais densa e madura que a DC leva em sua proposta, mas dou a Marvel a excelência em explorar seu próprio universo nos cinemas; ela faz isso muito bem. E para terminar, por favor, podemos concordar que o melhor filme de super-heróis do cinema é o Batman - Cavaleiro das Trevas do Nolan? Sério, é melhor gente...
Mesmo inspirado em "Decameron" de Boccaccio, o filme em si é pouco expressivo. Propõe uma reflexão quase teatral acerca dos estilos narrativos mais atemporais de nossa literatura e cinema, mas o faz com pouco afinco, sendo apenas singelos episódios de uma história que nunca diz muito bem a que veio, tampouco para onde quer ir. Mediano, contudo, foi bom revisitar os irmãos Taviani.
A Bruxa é um conto de horror dos mais geniais que já tive o prazer de presenciar. É assumidamente psicológico, tenso pelo cenário de época tão meticulosamente revivido e abandona o recorrente uso de clichês do gênero para envolver o espectador preferindo com isso trazê-lo para dentro da narrativa usando excelentes sonoplastia, direção de arte, figurinos e fotografia unicamente como espelhos de um roteiro que por si só já é genuinamente macabro. Nada aqui é padronizado e lidar com a frustração dos adolescentes que lotaram as salas de cinema esperando um banho de sangue, ou o bucolismo destes mesmos ansiando pelo entretenimento barato e anencéfalo é o que de mais bizonho a obra apresenta. Para quem gosta de cinema de arte e aprecia bons contos de horror, como o igualmente sombrio "Deixe ela entrar" (versão sueca) ou o lirismo macabro de "O Labririnto do Fauno", "A Bruxa" é garantia marcante de não só uma boa pedida, como talvez a melhor!
Garotas
3.9 66 Assista Agora"Garotas" - 2014
Céline Sciamma definitivamente sabe criar personagens maravilhosos e profundos, com ideais feministas absolutamente apaixonantes e complexos.
Sejam adolescentes como em "Lírios dágua", infantis como em "Tomboy" a máxima de se existir por algo além do ideal que compõe uma sociedade doente viciada em ismos irrelevantes de condutas uniformes é a regra maior que permeia os excelentes e premiadíssimos longas da diretora.
Em "Bande de Filles", ou "Garotas" a cultura do gueto e da periferia francesa é retratada de forma tão significativa que a personagem de Marieme se torna mais do que simplesmente uma menina que não se encaixa nos padrões, ela se torna uma utopia disforme de caminho, um caos interno que a leva ou para a ruína pessoal ou para uma ascensão sem precedentes; e por tudo o que o filme nos leva a vivenciar, todo o amor destas garotas que existem por elas e para além delas, em um grupo que as acolhe e as aceita como iguais, Mariene precisa ir além, não reproduzir a máxima da opressão e desbravar os limites do imaginário.
Como quando sua amiga Lady a faz olhar em seus olhos, na fabulosa cena do quarto do hotel, e dizer, de cabeça erguida e de uma vez por todas, que as mulheres devem fazer o que tiverem vontade.
E a faz repetir. Porque liberdade é isso.
A Cicatriz Interior
4.1 12O experimentalismo das imagens e o onirismo do roteiro, combinados a mais-que-perfeita trilha sonora emprestada de Nico do Velvet Underground fazem de "A Cicatriz Interior" uma viagem sensorial bem antes de ser cinematográfica.
Frankenstein
4.0 285 Assista AgoraUm filme que, mesmo tendo uma trama imortal - a fábula do homem que queria ser Deus e cria com isso um monstro - sofre pela ação do tempo, sendo por isso, datado.
Contudo, se nos despirmos de julgamentos e entendermos a obra como sendo o marco cinematográfico que foi para a década de 30, entendemos seu valor e por conseguinte fica bem mais fácil apreciá-la.
Em tempo: As diferenças entre o clássico de Mary Shelley e a obra cinematográfica de James Whale são muitas, tantas que fui pesquisar sobre esta adaptação e descobri que o filme não se baseou exatamente no livro original, mas sim numa peça dos anos de 1920 atribuída à Peggy Webling, que mudou o texto da autora literária Mary Shelley.
Isso explicou o recorrente estranhamento que senti ao assisti-lo e minha acentuada preferencia pelo livro.
O Sonho de Wadjda
4.2 137 Assista AgoraJá dizia Claice Lispector, nada é tão complexo quanto a simplicidade.
E esta obra conseguiu despir a plateia de preconceitos e trazer, à luz da filosofia central dos personagens, um maravilhoso conto moderno sobre uma garota que pela simplicidade, evoca valores feministas ao desejar um regalo ao qual toda uma nação insiste em querer que ela entenda não ser apropriado para uma menina.
"Wadjda" impressiona, não somente pelo lirismo que acolhe os conflitos religiosos e ideológicos da sociedade teuto-saudita, quanto pelo fato deste ser, em pleno século 21, o primeiro filme dirigido por uma mulher na arabia saudita.
Haifaa Al-Mansour faz quase um retrato de si mesma ao dirigir o longa, trocando bicicleta por câmera para gritar para uma nação inteira, e para o mundo tendo em vista sua sensibilidade, que filmes também serão, de agora em diante, brincadeiras de menina!
E, por Deus, que bom! Precisamos de mais filmes assim, de mais sensibilidade feminina em todos os campos, sejam eles artísticos ou não, do bagunçado mundo em que vivemos.
Apocalipse
3.1 153 Assista AgoraQuando a gente pensa que filmes de zumbis não tem mais nada de novo para acrescentar, aparece um que foge da linha e ferra um drama bonito de se ver sobre relações interpessoais em um mundo devastado pelo famigerado apocalipse.
Peca um pouco pelo excesso de clichês, mas dá-se um desconto pois, pela máxima imposta pelo filme, algumas relações e situações até convencem.
Para quem busca mais um drama do que a sanguinolência típica destes Blockbusters vai se surpreender positivamente se der a este "Extinction" uma chance, para quem só busca ação, terror e sangue, a sequência final não decepciona, você só precisa sobreviver até lá.
Eu gostei bastante!
A Guerra do Fogo
3.6 352Representação memorável do período. Cheguei até este filme com base em meus estudos sobre a história da arte e fiquei imerso com a narrativa que mescla o período paleolítico (pelas vestes e pela subsistência nômade) com o neolítico (formação de aldeias, criação de armas aprimoradas pelo domínio do fogo).
Como filme fiquei entretido pelo conto, mesmo sem este conter diálogos inteligíveis.
Um achado!
O Gabinete do Dr. Caligari
4.3 524 Assista AgoraO cinema de Robert Wiene foi fortemente influenciado pelo expressionismo alemão de Edvard Munch, sobretudo em seu famoso trabalho "O Grito" de 1893.
Vale ressaltar que o expressionismo, ao contrário do que se pensa, não nasceu na Alemanha, mas foi lá que se consolidou e ganhou força, muito pelos horrores da guerra.
O expressionismo, tanto no cinema, quanto na arte propunha exteriorizar o olhar subjetivo do homem, traduzindo visualmente os conflitos emocionais destes.
Com esta premissa, o clássico atemporal "O gabinete do Dr. Caligari" comunga com o movimento ao atribuir, tanto ao seu roteiro, quanto a sua execução, os elementos que fortemente traduzem a proposta expressionista.
Tal qual a obra do supracitado pintor, o filme não aborda o tema da loucura e do horror pela ótica de uma realidade concreta, percebe-se isso pelo uso dos maquineísmos e facetas de interpretação (recorrentes no cinema mudo), pelos cenários distorcidos, no contraste de luz e sombra e pela maquiagem dos personagens.
Diria que é quase como se, ao assistir o clássico de Wiene, apreciássemos uma pintura de Munch em movimento, tamanha a sintonia.
O Novíssimo Testamento
3.9 165Essa obra fez com que eu me lembrasse o quanto eu amo o cinema.
Porque a sétima arte é tudo o que esse filme é.
É Magia, é comédia e é drama, é o nonsense combinado com um roteiro maravilhosamente original. É um repertório musical deslumbrante, uma história querendo ser contada sem necessariamente querer fazer muito sentido pra isso. É acidez onde tem o que cutucar, é comédia onde tem do que se rir.
É ficar duas horas com um sorriso bobo no rosto, não querendo que ele acabe nunca.
É ser capaz de encontrar sempre, como eu encontrei hoje, o melhor filme de todos os tempos da última semana!!!
De Quinta a Domingo
3.2 21 Assista AgoraA sinopse chama mais a atenção do que o filme em si...
Talvez por toda a narrativa submeter-se ao encantamento e perspectiva da pequena Ana, eu demorei muito para conceber o casal em crise. Contudo, o que mais me chamou a atenção foi justamente isso; a entrelinha que é a vida de todo casal aos olhos de uma criança.
Neste aspecto a diretora faz um excelente trabalho, colocando-nos como espectadores passivos em uma linha muito mais cinematograficamente abrangente para a proposta, obrigando-nos, não só a entrar naquele carro com eles, como nos sentarmos no banco de trás, quase como se fossemos o terceiro filho do casal.
Pais e Filhos
4.3 212 Assista AgoraDa complexidade de um caso destes, Koreeda consegue extrair tanta beleza e simplicidade que é impossível não se apaixonar pelo longa.
Não é o melhor trabalho deste belíssimo diretor, mas certamente leva seu selo.
Hanami: Cerejeiras em Flor
4.4 291Este filme nos faz lembrar o quanto a alma humana, mesmo e contudo, é maravilhosa.
Que rara sensibilidade!
As passagens de Rudi com Yu são uma das coisas mais lindas que a sétima arte pode proporcionar.
A Infância de Um Líder
3.1 59 Assista AgoraMe lembrou o ótimo "A Fita Branca" de Haneke em diversas passagens, e por toda a frieza humana, construí com a obra um repertório filosófico ímpar acerca do que e porque a negligencia familiar pode ser o verdadeiro terror por detrás dos grandes crimes contra a humanidade.
Desconheço a obra homônima de Sartre a que o filme faz alusão, mas o filme em si, mesmo pretensioso, é digno de nota, sendo conciso, frio e coerente.
Alphaville
3.9 177 Assista AgoraEu consigo apreciar obras clássicas em um contexto, mas infelizmente para mim Alphaville se perdeu no tempo e eu não fui capaz de compreender a originalidade da proposta. Claro que tem algumas ótimas passagens e diálogos, mas no mais - e para mim - foi apenas maçante. Contudo, tenho certeza que para a época foi um marco.
Não penso Godard tão atemporal quanto Bergman e Tarkovsky o são.
Deep Web
3.6 103Um documentario ímpar que problematiza a questão da segurança da informação como eu nunca pensei que pudesse ser problematizada. A obra e a discussão da obra vão muito além do caso do Ross e se estendem sobre todos os aspectos de nossa vida, seja ela trilhada ou não no anonimato virtual.
Heleno
3.6 431 Assista AgoraUm marco cinematográfico nacional com uma interpretação monstruosa de Rodrigo Santoro.
Fotografia, roteiro, direção... Tão genial quanto a personalidade destrutiva e caótica deste fenômeno.
O Bom Dinossauro
3.7 1,0K Assista AgoraNão está entre as melhores obras da Pixar, mas com certeza é digno dela.
Uma animação com a assinatura, os valores e a inventividade do estúdio de animação mais original que existe.
Sem sombra de dúvida, "O Bom Dinossauro", é um bom filme.
Jesus Camp
3.7 135Um ótimo documentário que desfila a ignorância expansionista e fundamentalista cristã, mas nunca o faz em tom de crítica, deixando a análise dos fatos para o espectador que pode ou não se identificar.
Pessoalmente eu preferia que os diretores tomassem partido e defendessem a posição contrária a iniciativa criminosa desta pastora Becky e falassem mais sobre o quão destrutivo lavagens cerebrais como essa podem significar para o indivíduo que a recebe desde a mais tenra infância, contudo, a abordagem imparcial permite que qualquer pessoa dotada do mínimo de bom senso veja o quão grave é esta exposição.
Mais uma vez a religião e o protestantismo mostrando do que são capazes: sem sombra de dúvidas, este documentário é uma das coisas mais pavorosas que já tive a oportunidade de assistir.
Criança alguma deveria ser exposta a nada parecido com isso.
Nossa Irmã Mais Nova
4.0 75 Assista AgoraÉ verdadeiramente espantosa a sensibilidade de Hirokazu Koreeda para o cinema. Com certeza ele é um dos, senão o melhor diretor em atividade, e com certeza um dos melhores de todos os tempos.
Esta obra traduz de forma sublime sua proposta cinematográfica.
Perfeita em cada take.
A Música e o Silêncio
3.8 18Um filme que tem tanto amor em sua narrativa, quanto significado. Extremamente emocional, um filme que, certamente, é para ser sentido.
Fanny e Alexander
4.3 215Para mim a obra prima mais singular e inquietante da história do cinema.
Cinco Graças
4.3 329 Assista AgoraAté hoje mulheres sofrem opressão pelas mãos do fundamentalismo religioso, das facetas de sociedades machistas e por séculos e seculos de soberania do patriarcado.
O grito que o diretor Deniz Gamze Ergüven ecoa com "Cinco Graças" vai além de tentar simplesmente chamar a atenção para um fato já conhecido por todos da sociedade Turca, e leva também para a narrativa a precocidade da revolta que surje quando, e por tanto tempo, a opressão desconstrói tudo aquilo que naturalmente o amor e valores familiares baseados no respeito deveriam ajudar a nutrir.
A amizade das irmãs é linda e é realmente muito triste ver como o conservadorismo vitimiza uma a uma e para sempre.
Uma bela obra, singular e com uma personagem principal tão valente que ao término da projeção chegamos mesmo a ter esperanças.
Capitão América: Guerra Civil
3.9 2,4K Assista AgoraO filme é muito legal e é mesmo bem interessante a maneira como a Marvel explora seu universo nos cinemas, mas não é o melhor filme de super-heróis, isso é exagero.
Gostei bastante da leveza, das lutas memoráveis, da inserção mais que bem vinda do homem aranha, dos alívios cômicos todos, mas o roteiro (leia-se o tal tratado) deixa de importar ainda na primeira metade e tudo passa a ser sobre encontrar, prender ou salvar o soldado invernal em uma desculpa tão clara quanto pequena - visto a dimensão do problema que o filme originalmente se propunha a debater - sobre o que fará o capitão América e o Homem de ferro se pegarem na porrada.
Particularmente eu prefiro a visão mais densa e madura que a DC leva em sua proposta, mas dou a Marvel a excelência em explorar seu próprio universo nos cinemas; ela faz isso muito bem.
E para terminar, por favor, podemos concordar que o melhor filme de super-heróis do cinema é o Batman - Cavaleiro das Trevas do Nolan? Sério, é melhor gente...
Maravilhoso Boccaccio
3.1 18 Assista AgoraMesmo inspirado em "Decameron" de Boccaccio, o filme em si é pouco expressivo. Propõe uma reflexão quase teatral acerca dos estilos narrativos mais atemporais de nossa literatura e cinema, mas o faz com pouco afinco, sendo apenas singelos episódios de uma história que nunca diz muito bem a que veio, tampouco para onde quer ir.
Mediano, contudo, foi bom revisitar os irmãos Taviani.
A Bruxa
3.6 3,4K Assista AgoraA Bruxa é um conto de horror dos mais geniais que já tive o prazer de presenciar.
É assumidamente psicológico, tenso pelo cenário de época tão meticulosamente revivido e abandona o recorrente uso de clichês do gênero para envolver o espectador preferindo com isso trazê-lo para dentro da narrativa usando excelentes sonoplastia, direção de arte, figurinos e fotografia unicamente como espelhos de um roteiro que por si só já é genuinamente macabro.
Nada aqui é padronizado e lidar com a frustração dos adolescentes que lotaram as salas de cinema esperando um banho de sangue, ou o bucolismo destes mesmos ansiando pelo entretenimento barato e anencéfalo é o que de mais bizonho a obra apresenta.
Para quem gosta de cinema de arte e aprecia bons contos de horror, como o igualmente sombrio "Deixe ela entrar" (versão sueca) ou o lirismo macabro de "O Labririnto do Fauno", "A Bruxa" é garantia marcante de não só uma boa pedida, como talvez a melhor!