A trilha sonora me deu dor de cabeça. Até Insônia, longa mais fraco do Nolan, tem diálogos melhores que TENET. A montagem é propositalmente confusa, o que só piora a experiência de assistir ao filme. A moça que eu nem lembro o nome, coitada, não sei o que faz aqui, uma amadora tentativa de replicar o sentimentalismo de A Origem, talvez? O David Washington não está bem no papel, e ele é um ótimo ator, vide Infiltrado na Klan. Tenho mais uma porrada de coisa ruim pra falar de TENET, mas a verdade é que eventualmente deixei de me importar com o que acontecia na tela.
Esse filme salvaria o cinema em 2020. Um verdadeiro fracasso, em todos os aspectos.
Kurosawa consegue criar um clima de terror que poucas vezes vi num filme, e que praticamente nunca vi num filme que não é puramente de terror. Simplesmente impressionante.
Impossível não lembrar de "Trinta Anos Esta Noite". Mas diferentemente do protagonista do filme de Louis Malle, Charles é um completo cínico e, pior do que isso, covarde. Mas é um personagem tão complexo que dá gosto de acompanhar a sua trajetória, e tudo fica ainda melhor com o rigor estilístico do Bresson.
Os sapatinhos vermelhos representam a renúncia de vários aspectos da vida, a corrida interminável por perfeição, o júbilo e prazer momentâneos e, em último caso, um trágico fim. As reflexões deixadas pelo longa são relevantes e duradouras, e curioso que mesmo que de forma tardia, é sempre interessante assistir a um filme e enxergar nele inspiração para tantos outros que vieram a seguir.
Bastante atual, original e inventivo. Possivelmente seria o grande vencedor em Cannes se o festival não tivesse sido cancelado. Vinterberg em grandíssima forma e o que dizer sobre Mads Mikkelsen? Espetacular.
Há uma tentativa aqui de se diferenciar das demais farofas do gênero quebrando arquétipos comuns a elas. O atleta prodígio não é extrovertido e nem bulina os colegas, a moça mais bonita da classe não é mesquinha e nem superficial, a nerd introvertida é na verdade muito bem quista e indispensável para o funcionamento da classe. Se seguisse apenas esse caminho até o final, o resultado teria sido um tanto melhor.
Só que o filme peca por tentar mostrar uma profundidade que simplesmente não é tangível (sem ser forçada) em nenhum momento, e isso fica muito evidente no fim. Ficou a impressão de que os personagens são tão superficiais que as ações anticlimáticas do fim chegam a ser inexplicáveis. Antes aceitasse ser uma comédia romântica sem grandes pretensões filosóficas, e por isso acho que Love, Simon foi um filme importantíssimo para o gênero pois é ao menos honesto em sua proposta.
Filme flagrantemente desonesto pois tenta constantemente esconder do espectador a imagética referente aos crimes de Ted Bundy, como ele os comete, seu modus operandi, suas emoções enquanto mata e todas as circunstâncias referentes aos seus assassinatos a fim de criar uma duvidosa empatia pelo serial killer, numa tentativa pueril de replicar a comoção da época, o que é no mínimo controverso e um artifício narrativo dos mais pobres.
O filme não traz nada de novo, mas ainda assim é um melodrama bastante cativante. O diretor constrói uma narrativa com claras influências de Wong Kar-wai e numa observação bem atenta ainda contém algumas homenagens a Tsai Ming-liang. O cinema taiwanês dessa década tem se dedicado com afinco a contar histórias de certa forma transgressoras num claro desafio ao regime chinês. Que continue assim.
O filme apresenta um recorte atual e duro de uma Teerã pouco conhecida pelos ocidentais, seja por simples falta de interesse ou pela exposição mínima da sociedade iraniana. Há diversos temas polêmicos tratados aqui, alguns com bastante sutileza: criminalidade, trabalho infantil, evasão escolar, imigração. A metralhadora giratória de denúncias políticas dos cineastas iranianos continua em grande estilo.
Nashville é um filme de difícil acesso, com inúmeros personagens, sem um aparente fio condutor narrativo e com ritmo bastante frenético que sustenta bem as quase três horas de filme. Só que a impressão final é que vi uma obra de grande teor crítico que poderia facilmente se passar por um documentário, sem prejuízo de valor, e que ao mesmo tempo não me causou grande impacto já que me senti apenas um espectador longínquo daquelas histórias, afastado pelas escolhas narrativas do próprio diretor.
O cinema de Farhadi é certeiro quando trata de trivialidades tendo como pano de fundo o regime iraniano. Quando tenta reproduzir o mesmo efeito em uma sociedade radicalmente diferente, ocorre que o impacto é bem menor se comparado a "A Separação" e a "O Apartamento". Ainda assim, muito bom filme.
"A Infância de Ivan" é o primeiro filme do diretor Andrei Tarkóvski, e provavelmente sua obra mais acessível, além de ter sido uma das poucas a passar ilesa pela repressão soviética. Conta a história de um habilidoso garoto russo de 12 anos usado pelo Exército Vermelho para espionar os avanços alemães na Frente Oriental durante a WW2.
O filme conta com elementos caros ao diretor russo, como a evocação da natureza como parte importante da trama, o uso de sonhos e memórias como artifício narrativo e questionamentos existencialistas. Todas essas características seriam aperfeiçoadas em obras futuras, como "Andrei Rublev" e "O Espelho", tornando-se algumas de suas marcas registradas.
Fora do QG, a fotografia sempre preza pela beleza natural e vibrante de elementos chave como o rio que separa russos e alemães, o pântano que dá a passagem aos soldados em suas missões e a floresta no meio da estrada que vira palco de um brevíssimo e inoportuno flerte.
Tudo o que sabemos sobre Ivan é contado por ele mesmo através de sonhos e memórias de uma vida em que aparentemente era feliz ao lado da família, já vítima da guerra. Fica evidente que, apesar da pouca idade, o garoto já experimentou situações que moldaram sua personaliade, como a morte da família e constante exposição à barbárie e a lugares improváveis pra alguém de pouca idade. A adultização pela guerra forjou o personagem em um pequeno e indispensável soldado. Apesar de paradoxal, a única sensação de pertencimento que Ivan experimentava era quando realizava com excelência sua incumbência de espião, por isso se revoltava quando tratado como o que era, uma criança.
Mas a sua valentia não o poupava de também precoces crises existenciais. Em várias cenas do filme fica evidente o desapego do personagem pela própria vida, razão pela qual nunca hesitava em executar missões praticamente suicidas.
Filmes de guerra protagonizados por crianças sempre chocam. Mas apesar de ser uma história triste, "A Infância de Ivan" é também um poderoso filme antiguerra que explora a retidão, valentia e heroísmo de seu protagonista sem cair no panfletarismo.
"Persépolis" narra a trajetória de uma menina iraniana desde a infância até o início da vida adulta, ao mesmo tempo em que contextualiza a história recente do Irã desde o período pré-Revolução até a contemporaneidade.
O filme funciona de várias maneiras diferentes: é um ótimo coming of age, uma vez que foca em diferentes períodos da vida da protagonista e nos laços que a unem com as pessoas mais importantes de sua vida; fornece uma visão geral sobre os diversos conflitos políticos iranianos e como isso influenciou a vida da protagonista e de seus familiares; e, por fim, funciona perfeitamente como crítica ao regime opressor iraniano, mas sem descaracterizar os personagens, sendo que não houve cinismo na representação de como a protagonista, transgressora por natureza, sentia-se péssima e deslocada mesmo longe de toda a barbárie.
Ao mesmo tempo em que o filme é visualmente belo, é carregado de reflexões políticas e pode gerar grandes desconfortos. Em todos os lugares do mundo existem pequenos revolucionários, mas a maioria só irá florescer em meio à injustiça, à desordem, ao totalitarismo e ao caos.
Realidade e ficção enquanto dicotomia representam apenas parte da genialidade desse filme, que diz ainda mais sobre como a urgência em reescrever a própria história dá um respiro à arte em meio ao caos.
Drama familiar denso em que Cassavetes critica o ideário da classe média americana. Pra isso, fez com que o marido fosse problemático o suficiente pra ser considerado um dos fatores causadores de descontrole da esposa. A personalidade explosiva e odiosa de Nick até com a sombra aliada à inércia e omissão de seus pais e dos pais de Mabel, dos amigos do casal e dos companheiros de trabalho evidenciam uma hipocrisia que chama a atenção.
Ao mesmo tempo, o diretor enche os personagens de humanismo para criar situações, como o desfecho, que podem causar confusão moral: como bem mostrado, os filhos foram colocados para dormir, continuarão a amar a mãe, que por sua vez continuará a ser cuidada pelo marido, que já aceitou a sua condição de guardião.
Apesar de abordar um tema interessante e necessário, o doc é deficiente em alguns aspectos:
1 - Há um tom sensacionalista que soa hipócrita, e isso não é culpa dos especialistas ouvidos no documentário. Usuários diferentes são afetados de formas diferentes pelas informações nas redes, de forma que podem ser extremamente benéficas para uma maioria consciente e danosas para uma minoria influenciável. O contraste entre esse tom e a falta de autocrítica da Netflix em se assumir parte do problema tira um pouco da credibilidade.
2 - Há um dilema ético apontado no doc quando acusam as redes sociais e as empresas contratantes de "negociarem" o tempo dos usuários através dos anúncios e monetização no geral, ao mesmo tempo que trataram com o mesmo nível de preocupação as ferramentas de recomendação. As declarações recheadas de informações técnicas são robustas e preocupantes o bastante pra chegar no final do doc e sugerirem "deletar as redes sociais". É uma conclusão amadora e reducionista.
3 - Os especialistas ensaiaram uma espécie de argumento uno a respeito de uma intervenção estatal regulatória nas redes sociais. Isso foi o que mais chegou perto de uma solução, porém não desenvolveram.
4 - A parte da dramatização pode parecer uma boa sacada ao dar vida aos medos e ansiedades dos especialistas, mas acaba que soa amador e desnecessariamente didático, fora as performances horríveis.
Resumindo: o documentário tem bons momentos, mas os problemas são muitos pra passarem despercebidos.
Apesar de ser um respiro para a democracia liberal, o documentário aponta sem medo os principais obstáculos que as democracias representativas enfrentam nos últimos anos e, pela conclusão do filme, ainda enfrentarão por algum tempo.
O filme não subestima a inteligência de quem assiste. A montagem dá agilidade aos acontecimentos e o texto igualmente rápido cadencia a narrativa de forma a fazer com que o filme funcione muito bem nesses aspectos, além da fotografia incrível e cast afiado.
Ao proclamar o nome de Jesus para realizar os seus malfeitos, ameaçar e dizer a sua vingança, o personagem principal dá uma facada certeira no tradicionalismo.
O final, criticado por alguns, representa a redenção dos irmãos, exaustos após experimentarem diversas faces do sofrimento.
Os diretores não tem pressa em mostrar seu argumento até mais ou menos a metade do filme. O que parecia mais uma produção europeia inofensiva logo se transforma em uma tragicômica e contemporânea releitura de "A Fita Branca", com um desfecho sensacional e de cair o queixo.
Tenet
3.4 1,3K Assista AgoraA trilha sonora me deu dor de cabeça.
Até Insônia, longa mais fraco do Nolan, tem diálogos melhores que TENET.
A montagem é propositalmente confusa, o que só piora a experiência de assistir ao filme.
A moça que eu nem lembro o nome, coitada, não sei o que faz aqui, uma amadora tentativa de replicar o sentimentalismo de A Origem, talvez?
O David Washington não está bem no papel, e ele é um ótimo ator, vide Infiltrado na Klan.
Tenho mais uma porrada de coisa ruim pra falar de TENET, mas a verdade é que eventualmente deixei de me importar com o que acontecia na tela.
Esse filme salvaria o cinema em 2020. Um verdadeiro fracasso, em todos os aspectos.
A Cura
3.9 79Kurosawa consegue criar um clima de terror que poucas vezes vi num filme, e que praticamente nunca vi num filme que não é puramente de terror. Simplesmente impressionante.
O Diabo, Provavelmente
3.7 45Impossível não lembrar de "Trinta Anos Esta Noite". Mas diferentemente do protagonista do filme de Louis Malle, Charles é um completo cínico e, pior do que isso, covarde. Mas é um personagem tão complexo que dá gosto de acompanhar a sua trajetória, e tudo fica ainda melhor com o rigor estilístico do Bresson.
Jogos Familiares
4.1 3Pega o cinema de Yasujiro Ozu e vira de cabeça pra baixo.
Joguem Fora Seus Livros e Saiam às Ruas
4.3 43Quando absolutamente tudo é perfeito:
o titulo
o pôster
o filme
Os Sapatinhos Vermelhos
4.3 171 Assista AgoraOs sapatinhos vermelhos representam a renúncia de vários aspectos da vida, a corrida interminável por perfeição, o júbilo e prazer momentâneos e, em último caso, um trágico fim. As reflexões deixadas pelo longa são relevantes e duradouras, e curioso que mesmo que de forma tardia, é sempre interessante assistir a um filme e enxergar nele inspiração para tantos outros que vieram a seguir.
Druk: Mais Uma Rodada
3.9 798 Assista AgoraBastante atual, original e inventivo. Possivelmente seria o grande vencedor em Cannes se o festival não tivesse sido cancelado. Vinterberg em grandíssima forma e o que dizer sobre Mads Mikkelsen? Espetacular.
Você Nem Imagina
3.4 517 Assista AgoraHá uma tentativa aqui de se diferenciar das demais farofas do gênero quebrando arquétipos comuns a elas. O atleta prodígio não é extrovertido e nem bulina os colegas, a moça mais bonita da classe não é mesquinha e nem superficial, a nerd introvertida é na verdade muito bem quista e indispensável para o funcionamento da classe. Se seguisse apenas esse caminho até o final, o resultado teria sido um tanto melhor.
Só que o filme peca por tentar mostrar uma profundidade que simplesmente não é tangível (sem ser forçada) em nenhum momento, e isso fica muito evidente no fim. Ficou a impressão de que os personagens são tão superficiais que as ações anticlimáticas do fim chegam a ser inexplicáveis. Antes aceitasse ser uma comédia romântica sem grandes pretensões filosóficas, e por isso acho que Love, Simon foi um filme importantíssimo para o gênero pois é ao menos honesto em sua proposta.
Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal
3.3 584 Assista AgoraFilme flagrantemente desonesto pois tenta constantemente esconder do espectador a imagética referente aos crimes de Ted Bundy, como ele os comete, seu modus operandi, suas emoções enquanto mata e todas as circunstâncias referentes aos seus assassinatos a fim de criar uma duvidosa empatia pelo serial killer, numa tentativa pueril de replicar a comoção da época, o que é no mínimo controverso e um artifício narrativo dos mais pobres.
Seu Nome Gravado em Mim
4.0 180O filme não traz nada de novo, mas ainda assim é um melodrama bastante cativante. O diretor constrói uma narrativa com claras influências de Wong Kar-wai e numa observação bem atenta ainda contém algumas homenagens a Tsai Ming-liang. O cinema taiwanês dessa década tem se dedicado com afinco a contar histórias de certa forma transgressoras num claro desafio ao regime chinês. Que continue assim.
Crianças do Sol
3.7 16 Assista AgoraO filme apresenta um recorte atual e duro de uma Teerã pouco conhecida pelos ocidentais, seja por simples falta de interesse ou pela exposição mínima da sociedade iraniana. Há diversos temas polêmicos tratados aqui, alguns com bastante sutileza: criminalidade, trabalho infantil, evasão escolar, imigração. A metralhadora giratória de denúncias políticas dos cineastas iranianos continua em grande estilo.
Nova Ordem
3.0 45Parece que essa mesma história já foi contada várias vezes e de formas muito melhores.
Hamilton
4.5 256 Assista AgoraIsto é arte.
Nashville
3.9 63Nashville é um filme de difícil acesso, com inúmeros personagens, sem um aparente fio condutor narrativo e com ritmo bastante frenético que sustenta bem as quase três horas de filme. Só que a impressão final é que vi uma obra de grande teor crítico que poderia facilmente se passar por um documentário, sem prejuízo de valor, e que ao mesmo tempo não me causou grande impacto já que me senti apenas um espectador longínquo daquelas histórias, afastado pelas escolhas narrativas do próprio diretor.
Cães Errantes
3.8 42Pobre Hsiao-Kang, vítima eterna das maldades de Tsai Ming-liang.
O Passado
4.0 294 Assista AgoraO cinema de Farhadi é certeiro quando trata de trivialidades tendo como pano de fundo o regime iraniano. Quando tenta reproduzir o mesmo efeito em uma sociedade radicalmente diferente, ocorre que o impacto é bem menor se comparado a "A Separação" e a "O Apartamento". Ainda assim, muito bom filme.
A Infância de Ivan
4.3 156 Assista Agora"A Infância de Ivan" é o primeiro filme do diretor Andrei Tarkóvski, e provavelmente sua obra mais acessível, além de ter sido uma das poucas a passar ilesa pela repressão soviética. Conta a história de um habilidoso garoto russo de 12 anos usado pelo Exército Vermelho para espionar os avanços alemães na Frente Oriental durante a WW2.
O filme conta com elementos caros ao diretor russo, como a evocação da natureza como parte importante da trama, o uso de sonhos e memórias como artifício narrativo e questionamentos existencialistas. Todas essas características seriam aperfeiçoadas em obras futuras, como "Andrei Rublev" e "O Espelho", tornando-se algumas de suas marcas registradas.
Fora do QG, a fotografia sempre preza pela beleza natural e vibrante de elementos chave como o rio que separa russos e alemães, o pântano que dá a passagem aos soldados em suas missões e a floresta no meio da estrada que vira palco de um brevíssimo e inoportuno flerte.
Tudo o que sabemos sobre Ivan é contado por ele mesmo através de sonhos e memórias de uma vida em que aparentemente era feliz ao lado da família, já vítima da guerra. Fica evidente que, apesar da pouca idade, o garoto já experimentou situações que moldaram sua personaliade, como a morte da família e constante exposição à barbárie e a lugares improváveis pra alguém de pouca idade. A adultização pela guerra forjou o personagem em um pequeno e indispensável soldado. Apesar de paradoxal, a única sensação de pertencimento que Ivan experimentava era quando realizava com excelência sua incumbência de espião, por isso se revoltava quando tratado como o que era, uma criança.
Mas a sua valentia não o poupava de também precoces crises existenciais. Em várias cenas do filme fica evidente o desapego do personagem pela própria vida, razão pela qual nunca hesitava em executar missões praticamente suicidas.
Filmes de guerra protagonizados por crianças sempre chocam. Mas apesar de ser uma história triste, "A Infância de Ivan" é também um poderoso filme antiguerra que explora a retidão, valentia e heroísmo de seu protagonista sem cair no panfletarismo.
Persépolis
4.5 754"Persépolis" narra a trajetória de uma menina iraniana desde a infância até o início da vida adulta, ao mesmo tempo em que contextualiza a história recente do Irã desde o período pré-Revolução até a contemporaneidade.
O filme funciona de várias maneiras diferentes: é um ótimo coming of age, uma vez que foca em diferentes períodos da vida da protagonista e nos laços que a unem com as pessoas mais importantes de sua vida; fornece uma visão geral sobre os diversos conflitos políticos iranianos e como isso influenciou a vida da protagonista e de seus familiares; e, por fim, funciona perfeitamente como crítica ao regime opressor iraniano, mas sem descaracterizar os personagens, sendo que não houve cinismo na representação de como a protagonista, transgressora por natureza, sentia-se péssima e deslocada mesmo longe de toda a barbárie.
Ao mesmo tempo em que o filme é visualmente belo, é carregado de reflexões políticas e pode gerar grandes desconfortos. Em todos os lugares do mundo existem pequenos revolucionários, mas a maioria só irá florescer em meio à injustiça, à desordem, ao totalitarismo e ao caos.
Um Instante de Inocência
4.3 39Realidade e ficção enquanto dicotomia representam apenas parte da genialidade desse filme, que diz ainda mais sobre como a urgência em reescrever a própria história dá um respiro à arte em meio ao caos.
Uma Mulher Sob Influência
4.3 159 Assista AgoraDrama familiar denso em que Cassavetes critica o ideário da classe média americana. Pra isso, fez com que o marido fosse problemático o suficiente pra ser considerado um dos fatores causadores de descontrole da esposa. A personalidade explosiva e odiosa de Nick até com a sombra aliada à inércia e omissão de seus pais e dos pais de Mabel, dos amigos do casal e dos companheiros de trabalho evidenciam uma hipocrisia que chama a atenção.
Ao mesmo tempo, o diretor enche os personagens de humanismo para criar situações, como o desfecho, que podem causar confusão moral: como bem mostrado, os filhos foram colocados para dormir, continuarão a amar a mãe, que por sua vez continuará a ser cuidada pelo marido, que já aceitou a sua condição de guardião.
O Dilema das Redes
4.0 594 Assista AgoraApesar de abordar um tema interessante e necessário, o doc é deficiente em alguns aspectos:
1 - Há um tom sensacionalista que soa hipócrita, e isso não é culpa dos especialistas ouvidos no documentário. Usuários diferentes são afetados de formas diferentes pelas informações nas redes, de forma que podem ser extremamente benéficas para uma maioria consciente e danosas para uma minoria influenciável. O contraste entre esse tom e a falta de autocrítica da Netflix em se assumir parte do problema tira um pouco da credibilidade.
2 - Há um dilema ético apontado no doc quando acusam as redes sociais e as empresas contratantes de "negociarem" o tempo dos usuários através dos anúncios e monetização no geral, ao mesmo tempo que trataram com o mesmo nível de preocupação as ferramentas de recomendação. As declarações recheadas de informações técnicas são robustas e preocupantes o bastante pra chegar no final do doc e sugerirem "deletar as redes sociais". É uma conclusão amadora e reducionista.
3 - Os especialistas ensaiaram uma espécie de argumento uno a respeito de uma intervenção estatal regulatória nas redes sociais. Isso foi o que mais chegou perto de uma solução, porém não desenvolveram.
4 - A parte da dramatização pode parecer uma boa sacada ao dar vida aos medos e ansiedades dos especialistas, mas acaba que soa amador e desnecessariamente didático, fora as performances horríveis.
Resumindo: o documentário tem bons momentos, mas os problemas são muitos pra passarem despercebidos.
Boys State
3.8 14Apesar de ser um respiro para a democracia liberal, o documentário aponta sem medo os principais obstáculos que as democracias representativas enfrentam nos últimos anos e, pela conclusão do filme, ainda enfrentarão por algum tempo.
O Mensageiro do Diabo
4.1 262 Assista AgoraO filme não subestima a inteligência de quem assiste. A montagem dá agilidade aos acontecimentos e o texto igualmente rápido cadencia a narrativa de forma a fazer com que o filme funcione muito bem nesses aspectos, além da fotografia incrível e cast afiado.
Ao proclamar o nome de Jesus para realizar os seus malfeitos, ameaçar e dizer a sua vingança, o personagem principal dá uma facada certeira no tradicionalismo.
O final, criticado por alguns, representa a redenção dos irmãos, exaustos após experimentarem diversas faces do sofrimento.
Fábulas Ruins
3.5 15Os diretores não tem pressa em mostrar seu argumento até mais ou menos a metade do filme. O que parecia mais uma produção europeia inofensiva logo se transforma em uma tragicômica e contemporânea releitura de "A Fita Branca", com um desfecho sensacional e de cair o queixo.