Grande parte dos road movies dos anos 70 e 80 foram marcados pela contracultura, com discursos antiguerra, existencialistas e de negação do ser. Não é muito diferente em "A Morte Pede Carona". O que parece ser um filme carregado de elementos de horror e suspense, se revela um bom estudo de personagem.
A construção do suspense é eficiente e estimula a criação de várias teorias sobre o desfecho do filme. As perseguições e cenas de ação num geral são ótimas, mas do meio pro final são adicionados elementos um tanto quanto inacreditáveis e exagerados, que contribuíram pra construção de um roteiro ainda mais característico desse tipo de produção oitentista.
A grande falha do filme é não focar no antagonista e seus dilemas, já que o argumento gira em torno dele. O fato de suas motivações permanecerem um mistério faz com que as próprias decisões do protagonista nos minutos finais do filme sejam questionáveis.
Apesar de mostrar com riqueza quase documental (e ao mesmo tempo sutil) a barbárie da ditadura, é deficiente em provar o envolvimento americano na eclosão do golpe (justiça seja feita, tais evidências só apareceram mais de 20 anos depois do lançamento do filme).
A frieza da trama e excesso de informações dificultaram uma conexão de início, mas o filme se desenvolve bem até chegar a um final sufocante.
Destaque para as atuações brilhantes de Jack Lemmon e Sissy Spacek, ambos indicados ao Oscar.
O filme anterior desse diretor, "Corpus Christi", foi indicado ao último Oscar de melhor filme internacional, o que já é um motivo pra conferir esse aqui.
"Rede de Ódio" é um dos filmes-denúncia que tem tomado conta do cinema europeu, só que esse é original: a mistura de thriller político com elementos de suspense é ousada e prende do começo ao fim. Tropeça em alguns clichês, mas o ato final compensa tudo.
Tentei ver Boyhood pela primeira vez na época do lançamento e abandonei antes de terminar. Hoje revi o filme e lembrei porque fiz isso. Mason é INSUPORTÁVEL.
Linklater manda muito bem na condução, com destaque para as transições de idade dos personagens que são bem sutis. Apesar de ser um filme inovador, o roteiro não surpreende. É um dos grandes coming of age do cinema, mas falta transgressão. Falta carisma.
A escolha por fazer a personagem da Patricia Arquette só se relacionar com cachaceiros não me passa muita fidedignidade. A personagem seria maior se não fosse, no meu ponto de vista, erroneamente rotulada como dedo podre crônica.
No fim o saldo é positivo. O filme é melhor do que eu me lembrava.
Os personagens são chatos. As suas angústias são rasas e suas vidas sem sentido. Um bom retrato de uma longínqua classe média que hoje recebe o auxílio emergencial.
Um grupo de crianças intrinsecamente más lideradas por Klara e Martin, filhos do pastor, espalham o terror por uma vila na Alemanha pré Primeira Guerra Mundial. Esse argumento criado por Haneke trás inúmeros questionamentos e deixa lições.
Na verdade as crianças não eram intrinsecamente más. Elas eram o reflexo da tirania, da maldade, da corrupção e da degradação moral dos seus pais no período de início do século XX. As profundas incertezas morais, políticas e econômicas dessa época justificam historicamente o surgimento de regimes totalitários de direita pela Europa Ocidental e de esquerda pela Europa Oriental. As crianças estavam sendo criadas para serem os futuros carrascos da humanidade.
A célebre frase de Nietzsche "Deus está morto", que na verdade tinha como objetivo escancarar o definhamento da moral e dos valores naquele período, ajuda a explicar a perca da inocência, representada pela fita branca, e posterior sustentação ao regime nazista por essas mesmas crianças.
Muito além de desenvolver um dos personagens mais psicologicamente complexos da história do cinema, Scorsese nos apresenta ao longo do filme uma transição do puro e incólume para o impuro e degenerado: o relacionamento de Travis com Betsy, inicialmente promissor, acabou não só sendo uma decepção, mas também um dos gatilhos pra queda do personagem principal; a infância roubada da personagem Iris; e por fim a melodia angelical e perfeita que segue Travis durante todo o filme, no fim, durante sua queda, é adaptada e profanada pra se encaixar em sua situação de completa degradação.
"Taxi Driver" é original, inquietante e nunca envelhece, diferente de cópias mequetrefes que já nascem datadas em pleno 2019.
Apesar do elevado nível de hipocrisia, Dalton Trumbo parodia a tragédia para criar um dos mais importantes filmes pacifistas da história (talvez o mais), com roteiro astuto, ácido e profundamente crítico.
Lázaro, o Santo, teve sua trajetória de sofrimento e injustiças recompensada com uma segunda chance de viver. Corrompido pela modernidade e por sua própria ingenuidade, teve esse privilégio removido por quem de direito lhe concedeu. O homem é o lobo do homem.
O filme começa com um casamento. Termina com um velório. Nesse ínterim, através do olhar do pequeno Yang-Yang, o espectador se torna cúmplice por saber da versão da história que os personagens jamais souberam e por conhecer seus lados que nem eles tinham acesso.
O filme segue uma narrativa bastante convencional, centrando a trama na vida de duas personagens misteriosas e potenciais psicopatas. A forma contida com que Chabrol conduz a interação entre as duas é magistral e ponto alto do filme. É inacreditável a entrega e competência das duas atrizes.
O ato final ficou um pouco apressado e as ações das personagens no desfecho um tanto quanto injustificáveis, tendo como base elementos que o diretor apresenta durante a obra.
Um dos filmes que serviu de inspiração para Parasita, "Mulheres Diabólicas" começa como uma crônica gourmet sobre a luta de classes que expõe de forma sutil as diferenças entre a classe trabalhadora e a burguesia francesa, e termina como um thriller de suspense onde o vilão se dá bem no final.
A fé de Andrei Rublev foi testada de todas as formas possíveis. Quando se viu derrotado pela sua própria ortodoxia, fez voto de silêncio em desafio a Deus, quebrado apenas quando há vislumbre de sinal divino, personificado pelo sucesso do jovem Boriska.
Começou como uma espécie de "Dia de treinamento". No desenvolvimento se mostrou um grandíssimo clichê moral que força um final reflexivo. Pega emprestado nome e diretrizes da obra de Victor Hugo, mas é raso e esquecível.
A interação entre os dois soldados, pilar do enredo na primeira parte do filme, é extremamente problemática. Os diálogos são fracos (parece mais retirado de um filme de colegial qualquer, do que de um filme que retrata um conflito do início do século XX), dando lugar a discussões inócuas com zero carga sentimental, o que dificultou a conexão com qualquer dos personagens.
A opção pelo plano sequência é ousada mas não inovadora. Muitos outros já fizeram isso e com mais sucesso, pois souberam trabalhar com o roteiro tão bem quanto com a câmera.
As qualidades técnicas de 1917 não escondem os diversos deslizes do roteiro, que mais parece ter sido escrito por alguém sem experiência nenhuma no ramo.
O cinema já nos presenteou com grandes obras retratando a Primeira Guerra. Já nos apresentou filmes de guerra contemplativos e inovadores. 1917 não é um desses filmes.
Superprodução de guerra que narra com riqueza de detalhes os preparativos e chegada das tropas aliadas à Normandia, evento que ficou conhecido como o "Dia D", explorado também em outras produções cinematográficas.
O filme é de grande primor técnico, não atoa abocanhou melhor fotografia e melhores efeitos visuais no Oscar.
Por ser meramente expositivo, como um documentário, a falta de conexão com os personagens e suas histórias pode prejudicar a experiência de quem assiste procurando outra coisa.
O documentário é eficiente em mostrar a vida de Carlos Marighella em seus diversos períodos: intelectual, político e terrorista. O material usado pela diretora é vasto e os entrevistados impedem que o filme fique desinteressante. Por se tratar de ex-militantes comunistas, usaram termos para encobrir e suavizar suas ações, tais como "expropriações" para roubo e "justiçamento" para assassinato.
As constantes referências ao imperialismo e dominação norte-americana no discurso de Marighella mostram que a excentricidade ideológica estava presente também em alas da esquerda, mais especificamente na comunista marxista-leninista; resultado de extrema polarização político-ideológica.
Fora isso, o filme narra com clareza a trajetória de uma figura controversa que, se não materializou seu plano utópico de criação de um exército de libertação nacional, já que foi morto por seus algozes antes de fazê-lo; contribuiu de certa forma para o debate político nacional
A Morte Pede Carona
3.5 294Grande parte dos road movies dos anos 70 e 80 foram marcados pela contracultura, com discursos antiguerra, existencialistas e de negação do ser. Não é muito diferente em "A Morte Pede Carona". O que parece ser um filme carregado de elementos de horror e suspense, se revela um bom estudo de personagem.
A construção do suspense é eficiente e estimula a criação de várias teorias sobre o desfecho do filme. As perseguições e cenas de ação num geral são ótimas, mas do meio pro final são adicionados elementos um tanto quanto inacreditáveis e exagerados, que contribuíram pra construção de um roteiro ainda mais característico desse tipo de produção oitentista.
A grande falha do filme é não focar no antagonista e seus dilemas, já que o argumento gira em torno dele. O fato de suas motivações permanecerem um mistério faz com que as próprias decisões do protagonista nos minutos finais do filme sejam questionáveis.
Desaparecido - Um Grande Mistério
4.1 84Apesar de mostrar com riqueza quase documental (e ao mesmo tempo sutil) a barbárie da ditadura, é deficiente em provar o envolvimento americano na eclosão do golpe (justiça seja feita, tais evidências só apareceram mais de 20 anos depois do lançamento do filme).
A frieza da trama e excesso de informações dificultaram uma conexão de início, mas o filme se desenvolve bem até chegar a um final sufocante.
Destaque para as atuações brilhantes de Jack Lemmon e Sissy Spacek, ambos indicados ao Oscar.
Rede de Ódio
3.7 362 Assista AgoraO filme anterior desse diretor, "Corpus Christi", foi indicado ao último Oscar de melhor filme internacional, o que já é um motivo pra conferir esse aqui.
"Rede de Ódio" é um dos filmes-denúncia que tem tomado conta do cinema europeu, só que esse é original: a mistura de thriller político com elementos de suspense é ousada e prende do começo ao fim. Tropeça em alguns clichês, mas o ato final compensa tudo.
Oasis
4.2 34A história de amor suja, imperfeita e desajustada é sempre a melhor.
Boyhood: Da Infância à Juventude
4.0 3,7K Assista AgoraTentei ver Boyhood pela primeira vez na época do lançamento e abandonei antes de terminar. Hoje revi o filme e lembrei porque fiz isso. Mason é INSUPORTÁVEL.
Linklater manda muito bem na condução, com destaque para as transições de idade dos personagens que são bem sutis. Apesar de ser um filme inovador, o roteiro não surpreende. É um dos grandes coming of age do cinema, mas falta transgressão. Falta carisma.
A escolha por fazer a personagem da Patricia Arquette só se relacionar com cachaceiros não me passa muita fidedignidade. A personagem seria maior se não fosse, no meu ponto de vista, erroneamente rotulada como dedo podre crônica.
No fim o saldo é positivo. O filme é melhor do que eu me lembrava.
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraOs personagens são chatos. As suas angústias são rasas e suas vidas sem sentido. Um bom retrato de uma longínqua classe média que hoje recebe o auxílio emergencial.
A Fita Branca
4.0 756 Assista AgoraUm grupo de crianças intrinsecamente más lideradas por Klara e Martin, filhos do pastor, espalham o terror por uma vila na Alemanha pré Primeira Guerra Mundial. Esse argumento criado por Haneke trás inúmeros questionamentos e deixa lições.
Na verdade as crianças não eram intrinsecamente más. Elas eram o reflexo da tirania, da maldade, da corrupção e da degradação moral dos seus pais no período de início do século XX. As profundas incertezas morais, políticas e econômicas dessa época justificam historicamente o surgimento de regimes totalitários de direita pela Europa Ocidental e de esquerda pela Europa Oriental. As crianças estavam sendo criadas para serem os futuros carrascos da humanidade.
A célebre frase de Nietzsche "Deus está morto", que na verdade tinha como objetivo escancarar o definhamento da moral e dos valores naquele período, ajuda a explicar a perca da inocência, representada pela fita branca, e posterior sustentação ao regime nazista por essas mesmas crianças.
A Vastidão da Noite
3.5 576 Assista AgoraObrigado Amazon por ressuscitar o sci-fi.
Taxi Driver
4.2 2,6K Assista AgoraMuito além de desenvolver um dos personagens mais psicologicamente complexos da história do cinema, Scorsese nos apresenta ao longo do filme uma transição do puro e incólume para o impuro e degenerado: o relacionamento de Travis com Betsy, inicialmente promissor, acabou não só sendo uma decepção, mas também um dos gatilhos pra queda do personagem principal; a infância roubada da personagem Iris; e por fim a melodia angelical e perfeita que segue Travis durante todo o filme, no fim, durante sua queda, é adaptada e profanada pra se encaixar em sua situação de completa degradação.
"Taxi Driver" é original, inquietante e nunca envelhece, diferente de cópias mequetrefes que já nascem datadas em pleno 2019.
Johnny Vai à Guerra
4.3 189Apesar do elevado nível de hipocrisia, Dalton Trumbo parodia a tragédia para criar um dos mais importantes filmes pacifistas da história (talvez o mais), com roteiro astuto, ácido e profundamente crítico.
Lazzaro Felice
4.1 217 Assista AgoraLázaro, o Santo, teve sua trajetória de sofrimento e injustiças recompensada com uma segunda chance de viver. Corrompido pela modernidade e por sua própria ingenuidade, teve esse privilégio removido por quem de direito lhe concedeu. O homem é o lobo do homem.
Destacamento Blood
3.8 448 Assista AgoraO filme sobrevive de frases de efeito, conflitos e situações rasas já comuns em várias outras dezenas de filmes.
Spike Lee não surpreende ao não surpreender.
As Coisas Simples da Vida
4.3 120O filme começa com um casamento. Termina com um velório. Nesse ínterim, através do olhar do pequeno Yang-Yang, o espectador se torna cúmplice por saber da versão da história que os personagens jamais souberam e por conhecer seus lados que nem eles tinham acesso.
O Cavalo de Turim
4.2 211Curioso como um filme com pouquíssimos diálogos consegue, ao mesmo tempo, dizer tanto sobre vários dilemas da vida.
Ele Está de Volta
3.8 681Se não tivesse aquele plot de disputa chinfrim dentro da emissora de TV, certamente daria pra levar um pouco mais a sério.
A História da Eternidade
4.3 448A tentativa superforçada de ser poético incomoda.
Um filme sobre nada, que se desenvolve em nada, no qual a moral da história é nada.
Mulheres Diabólicas
4.0 86 Assista AgoraO filme segue uma narrativa bastante convencional, centrando a trama na vida de duas personagens misteriosas e potenciais psicopatas. A forma contida com que Chabrol conduz a interação entre as duas é magistral e ponto alto do filme. É inacreditável a entrega e competência das duas atrizes.
O ato final ficou um pouco apressado e as ações das personagens no desfecho um tanto quanto injustificáveis, tendo como base elementos que o diretor apresenta durante a obra.
Um dos filmes que serviu de inspiração para Parasita, "Mulheres Diabólicas" começa como uma crônica gourmet sobre a luta de classes que expõe de forma sutil as diferenças entre a classe trabalhadora e a burguesia francesa, e termina como um thriller de suspense onde o vilão se dá bem no final.
Andrei Rublev
4.3 131A fé de Andrei Rublev foi testada de todas as formas possíveis. Quando se viu derrotado pela sua própria ortodoxia, fez voto de silêncio em desafio a Deus, quebrado apenas quando há vislumbre de sinal divino, personificado pelo sucesso do jovem Boriska.
Os Miseráveis
4.0 161Começou como uma espécie de "Dia de treinamento". No desenvolvimento se mostrou um grandíssimo clichê moral que força um final reflexivo. Pega emprestado nome e diretrizes da obra de Victor Hugo, mas é raso e esquecível.
1917
4.2 1,8K Assista AgoraA interação entre os dois soldados, pilar do enredo na primeira parte do filme, é extremamente problemática. Os diálogos são fracos (parece mais retirado de um filme de colegial qualquer, do que de um filme que retrata um conflito do início do século XX), dando lugar a discussões inócuas com zero carga sentimental, o que dificultou a conexão com qualquer dos personagens.
A opção pelo plano sequência é ousada mas não inovadora. Muitos outros já fizeram isso e com mais sucesso, pois souberam trabalhar com o roteiro tão bem quanto com a câmera.
As qualidades técnicas de 1917 não escondem os diversos deslizes do roteiro, que mais parece ter sido escrito por alguém sem experiência nenhuma no ramo.
O cinema já nos presenteou com grandes obras retratando a Primeira Guerra. Já nos apresentou filmes de guerra contemplativos e inovadores. 1917 não é um desses filmes.
O Paradoxo Cloverfield
2.7 779 Assista AgoraMirou em Alien, acertou a lata de lixo.
Adoráveis Mulheres
4.0 975 Assista AgoraAguardo ansiosamente pelo filme em que Greta Gerwig finalmente ousará e se diferenciará dos demais.
O Mais Longo dos Dias
4.0 63 Assista AgoraSuperprodução de guerra que narra com riqueza de detalhes os preparativos e chegada das tropas aliadas à Normandia, evento que ficou conhecido como o "Dia D", explorado também em outras produções cinematográficas.
O filme é de grande primor técnico, não atoa abocanhou melhor fotografia e melhores efeitos visuais no Oscar.
Por ser meramente expositivo, como um documentário, a falta de conexão com os personagens e suas histórias pode prejudicar a experiência de quem assiste procurando outra coisa.
Marighella
4.1 112O documentário é eficiente em mostrar a vida de Carlos Marighella em seus diversos períodos: intelectual, político e terrorista. O material usado pela diretora é vasto e os entrevistados impedem que o filme fique desinteressante. Por se tratar de ex-militantes comunistas, usaram termos para encobrir e suavizar suas ações, tais como "expropriações" para roubo e "justiçamento" para assassinato.
As constantes referências ao imperialismo e dominação norte-americana no discurso de Marighella mostram que a excentricidade ideológica estava presente também em alas da esquerda, mais especificamente na comunista marxista-leninista; resultado de extrema polarização político-ideológica.
Fora isso, o filme narra com clareza a trajetória de uma figura controversa que, se não materializou seu plano utópico de criação de um exército de libertação nacional, já que foi morto por seus algozes antes de fazê-lo; contribuiu de certa forma para o debate político nacional