Eu, [insira aqui seu nome]. Filme que mostra com realismo e crueza (o máximo de artifício é um fade out entre algumas cenas) a impotência do cidadão comum e trabalhador frente à opressão do estado, de uma sociedade impessoal e desumana, kafkianamente burocrática. Um filme triste, mas politicamente necessário, e que para nós desmistifica um pouco a ideia que fazemos de "primeiro mundo".
A priori parece apenas um típico filme baseado em peça teatral daqueles com um enredo sobre integrantes de uma família que se reúnem em determinada ocasião e as reações e consequências que este encontro desencadeia em cada personagem. O resultado parece ambíguo, deixando um pouco a impressão de um filme incompleto, que fica apenas nisso e não oferece muita coisa além. Mas o maior feito de Xavier Dolan aqui – e o grande trunfo do filme, além do elenco incrível – é a capacidade que ele teve de conseguir transmitir todas as informações e sensações através da linguagem corporal – no caso facial – dos personagens: todos os diálogos, as palavras, as discussões, são apenas vozes confusas e falhas – a ponta de um iceberg – que não conseguem expressar tudo aquilo que está encoberto, todas as emoções e sentimentos daquela família, mas que são comunicados através da forma e sensibilidade com que Dolan e sua câmera capta os rostos de cada um.
Uma grata surpresa. Pareceu seguir o mesmo estilo de "Rua Cloverfield, 10", só que menos conhecido, e acho até que gostei mais de "O Homem nas Trevas", por não ter o final extravagante do primeiro.
Como o próprio título original sugere, você não respira no filme de tanta tensão e suspense, e quando pensa que está pra acabar vem mais. História original que sustenta a ação e o suspense sem apelação.
Confesso que ao final e durante o filme fiquei com aquela sensação de, "É apenas isso?", como se o tempo todo estivesse esperando algo acontecer, ou que o filme fosse diferente... Mas acho que o grande trunfo de "Julieta" é esse, ser um filme simples e despretensioso, sobre o amor materno. Não é dos melhores do Almodóvar, mas consegue ser superior a muitos dramas que vemos por aí.
A impressão que tive foi de uma história tirada de algum livro, até ir pesquisar e saber que foi baseada em contos (uma mistura de três contos, não apenas um) da Alice Munro, escritora canadense Prêmio Nobel de Literatura de 2013, cujos contos são exatamente assim, mostrando a beleza em situações simples e cotidianas.
Construção narrativa incrível, com um roteiro cheio de plot twists digno dos grandes filmes coreanos e das demais obras dirigidas pelo Chan-wook Park. Tava sentindo falta de um novo filme coreano desse tipo, mostrando que o país continua firme e forte como o único capaz de se equiparar aos americanos em técnica e produção. Tem cheiro de que terá remake feito por Hollywood.
Apesar do viés chauvinista e religioso, é um bom filme com uma mensagem bonita. Gostei da mesma forma que gostei de "Capitão Fantástico", que também é tendencioso, digamos, para o outro lado. Não aprecio muito arte panfletária, mas acho muito mais digno se expressar dessa forma do que infernizando a vida dos outros pra concordarem e viverem de acordo com suas convicções.
Falar das atuações seria chover no molhado. O que mais apreciei nesse filme foi se tratar de um drama familiar, que vai além da questão social dos negros como muitos outros filmes do gênero. A história poderia ser de qualquer outra família branca de classe baixa (ou até mesmo alta), não apenas nos EUA daquele período, mas até mesmo por aqui no Brasil. É interessante ver uma história de contornos universais com uma família negra, mostrando que eles não precisam fazer parte apenas de filmes que tratem da questão do racismo. Quem é que não teve ou não conheceu alguém que teve um pai como aquele? Um personagem complexo e rico, que no início da história desperta nossa empatia pela personalidade e histórico de vida, mas aos poucos vai mostrando uma outra faceta odiosa, de um homem despótico que oprime a família, a mulher e os filhos, que acha que prover materialmente a casa é suficiente e mais importante que o afeto, e que, tragicamente, por mais que tivesse a intenção, é incapaz de não cometer os mesmos erros e ser um pai melhor do que o que teve. Por se tratar de uma peça adaptada, os diálogos são complexos e densos, alguns memoráveis por sua densidade psicológica. Viola Davis está incrível como sempre, um Oscar previsível, até mesmo por se tratar de uma personagem que é tão protagonista quanto o do Denzel Washington.
Meu filme preferido do Oscar 2017, junto com "Moonlight". Que roteiro e narrativa incríveis. Se há alguns filmes que são adaptados de livros, esse é um exemplo de uma obra que poderia ser adaptada para a literatura, tal sua riqueza. Uma tragédia anônima, numa pequena cidade desconhecida que poderia ser em qualquer lugar do mundo; um frio que nunca acaba (mesmo as cenas do passado em flashback são no inverno) simbolizando as emoções de um personagem que está morto por dentro, que se penitencia consertando as casas dos outros por um erro que cometeu na sua própria e que teve consequências devastadoras. Um final realista e fiel às circunstâncias, que não subestima o espectador apelando pra um desfecho que nos desse algum conforto e esperança frente a dor e ao sofrimento retratados. Sensível e doloroso. O tipo de papel que daria o Oscar a qualquer bom ator em que caísse nas mãos, em que a atuação do Casey Affleck se não foi perfeita ou algum outro poderia ter feito melhor, ainda assim não desmereceu sua premiação. A sequência de cenas com a trilha do Adagio de Albinoni, que começa a tocar mesmo antes de sabermos o que aconteceu já nos fazendo inferir que algo estaria por vir, foi belíssima.
Desde que vi o trailer fiquei curioso com esse filme por causa das imagens bonitas e da ideia interessante de sobrevivência num pequeno pedaço de rocha no mar... mas não contava que o filme seria tão exagerado. Esse tubarão deve ter sido ex-marido da personagem numa encarnação passada... só pode.
As pessoas estão cada vez mais tolerantes emocionalmente aos filmes de suspense/ação, de forma que pra liberar a mesma quantidade de adrenalina/dopamina que as obras de 30 anos atrás, é preciso cada vez mais "espetacularização", mesmo que beire as raias do absurdo e contrarie as leis naturais e físicas.
Não chega a ser tão bom quanto "As Aventuras de Robin Hood", de 1938, também dirigido pelo Michael Curtiz e com a mesma dupla Errol Flynn e Olivia de Havilland (que fizeram juntos três filmes de aventura nesse estilo "capa e espada", o outro sendo "A Carga de Cavalaria Ligeira", de 37), mas é um ótimo filme também, super produção.
Errol Flynn, embora não tivesse um grande talento, possuía um charme como poucos, com aquele sorrizinho e cara de cafajeste interpretando bons moços, que o torna irresistível. Quem é Jonnhy Depp na fila do pão comparado a ele? Juntamente com Olivia de Havilland formaram um dos casais com maior química em cena do cinema clássico.
Lindo. Direção, atuações (que trio incrível), no início achei o enquadramento estilo Instagram meio hipster mas depois me conquistou, nem que tenha sido apenas pra cena em que ele momentaneamente se enlarga. Trilha sonora ótima e despretensiosa, com músicas já bastante batidas mas que ficaram ótimas nas cenas.
A personagem da Kyla é de quem menos sabemos e do que o filme mais trata. Fico imaginando o que a levou a se afeiçoar dos vizinhos e crio mil teorias e explicações na minha cabeça. O amor de mãe é grande, só não é maior que a possessividade e o ciúmes, e Die prefere perder o filho a dividir seu afeto com outra.
Tenho de concordar com alguns comentários, o filme tenta fazer um recorte da vida daqueles personagens isolados da civilização, mas em função da estética, pecando um pouco pela falta de profundidade e na dimensão dos personagens (talvez pela limitação até do "casting", a maioria dos atores me parecendo amadores, moradores do próprio local). Mas ainda assim é um filme bonito, e levando em conta ser o primeiro longa-metragem do diretor, diria que foi bem sucedido.
Depois de ter visto esse filme e "Boi Neon", acho que Gabriel Mascaro se tornou um dos meus diretores pernambucanos preferidos, junto com Cláudio Assis e Camilo Cavalcante, que me enchem de orgulho do nosso cinema nordestino. Prefiro filmes assim como os deles que se preocupam mais em alcançar um objetivo estético, do que passar uma mensagem política, soando meio panfletários e preocupados com uma agenda da esquerda, como Kleber Mendonça Filho.
"Desencanto" me lembrou meu amado "Fim de Caso", mas se por um lado gosto mais da história do Graham Greene e de seus personagens, a adaptação feita dele por Neil Jordan não se compara a essa obra magnifica de David Lean.
Incrível a forma como o roteiro (corajoso para a época, talvez por isso não tenha ganho prêmios) se desenrola a partir da narrativa da própria personagem, numa atuação primorosa, juntamente com a direção e a trilha com Rachmaninoff.
A história original fala sobre perdão (o nome "Paulina" não é por acaso), num contexto religioso, mas que parece não haver aqui. Ela não me pareceu perdoá-los, o diretor pegou esse mote e quis fazer mais uma discussão política acerca da ética da Justiça. Ela resolve absolvê-los e ter o filho apenas para confrontar o pai e a justiça institucional, mas ao mesmo tempo que se apropriando do direito de fazer o que ela acha que deve baseada em seus princípios e também como dona do próprio corpo. Percebemos que o problema dela não é o aborto, fica claro num diálogo que em outras circunstâncias ela faria. Na verdade às vezes não entendemos o que se passa com ela, e isso a torna uma personagem interessante e rica, fora do convencional. Ficamos o tempo todo querendo que ela faça o que achamos que ela deveria fazer e o que seria correto naquele caso, mas ela só faz o que lhe dá na telha. Será que não é um direito dela mesmo que isso vá contra as normas e convenções legais?...
Eu me identifiquei um pouco com a personagem no sentido de que também sempre tive a sensação de que se *EU* sofresse alguma forma de violência não conseguiria me contentar com uma vingança ou com a "justiça", acho que me resignaria numa espécie de frustração em existir a violência e se poderíamos fazer algo para evitá-la primeiro antes de apenas tentar resolvê-la com a punição. Num diálogo ao final com o pai em que ela diz que era uma vítima sim e não se considerava uma heroína, mas a quem serviria a "justiça ser feita"?, diz muito sobre isso e sobre as questões que o filme trata e levanta. Paulina parece levar às últimas consequências uma ética própria ao se sentir enquanto indivíduo responsável pelas mazelas da sociedade e pelo mundo torpe em que vivemos, inclusive ao sofrer as consequências dele, como ter um filho de um estupro. Independente de estar certa ou errada, de concordarmos ou não, é uma personagem inconformista e anti-pragmática.
Algumas cenas são um pouco aversivas podendo parecer forçadas e desnecessárias mas não são, pois a proposta estética do filme é exatamente essa, ser naturalista e mostrar com "crueza" a vida de quem vive pela estrada nas vaquejadas, etc, mas contrapondo com o romantismo através dos personagens, principalmente no protagonista (Juliano Cazarré incrível), um "bom-selvagem" machão mas que possui sensibilidade para moda e perfumes, contrastando com toda aquela realidade "suja", e cuja ambiguidade sexual só nos é revelada ao final.
As cenas e diálogos são tão naturais e espontâneos que parece que foram filmadas com uma câmera escondida e estamos observando tudo aquilo, ao mesmo tempo que são trabalhadas de forma tão exímia tecnicamente que nos passam a impressão de que o diretor deve ter feito diversas tomadas em algumas até conseguir aquela "perfeita". Um dos melhores filmes nacionais que vi nos últimos tempos. Se for preciso fazerem co-produções com outros países como nesse caso para termos mais filmes brasileiros com uma qualidade assim, que venham mais.
Um dos filmes do gênero com mais "plot twists" que já vi, isso foi interessante. Mas as cenas constantes de um drama forçado e de um suspense criado de forma artificial demais foram uma chatice.
Os irmãos Duffer parecem ter querido se lançar num cinema de terror autoral, mas só reciclaram os mesmos clichês com uma roupagem diferente, e os vendendo com um verniz de originalidade.
Numa das raras e última entrevista de Clarice, pouco tempo antes de morrer, falou que havia acabado de escrever uma novela: "A história de uma moça tão pobre, que só comia cachorro-quente (...) a história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima"...
Clarice não quis dizer o nome da heroína, era segredo. Depois do privilégio de ter conhecido esse segredo chamado Macabéa ("A Hora da Estrela" é um dos meus livros preferidos de nossa literatura), pude finalmente assistir a essa adaptação restaurada há pouco tempo.
É impossível não se emocionar ou sentir empatia por essa personagem tão simbólica (lindamente interpretada por Marcelia Cartaxo, que ganhou o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim), que gosta de prego e parafusos e toma aspirinas porque se dói o tempo todo.
Uma obra que abre um leque para tantas leituras e interpretações, tratando num único filme de questões filosóficas, epistemológicas, sociológicas, semióticas e teológicas... e ao mesmo tempo fazendo uma crítica a todas elas.
Werner Herzog faz uma viagem no tempo e nos leva à primeira metade do século 19, ao narrar a história de Kaspar Hauser, tecendo uma verdadeira ode romântica ao humanismo e uma crítica ao positivismo então em voga.
Freud dizia que a civilização existe porque para vivermos em sociedade precisamos sublimar nosso lado "selvagem" e instintos. Esse filme nos mostra como a sociedade pode também nos privar do nosso lado mais humano.
Não fosse um probleminha de ritmo, principalmente a última parte que parece um tanto abrupta, daria 5 estrelas. Mas é um ótimo filme, o argumento e ideia originais (que só ficam claros perto do final), a direção e fotografia incríveis, as atuações que não comprometem (um problema em filmes nacionais assim)...
Vejo a "eternidade" do título como um conceito de universalidade, mostrando que mesmo num fim de mundo como aquela "aldeia", um lugar onde Judas perdeu as botas, as contingências humanas são as mesmas que em qualquer outro lugar, os mesmos desejos e carências, os mesmos dramas e tragédias...
Com 15 minutos de filme eu já tinha a certeza que ia amar. Só cometendo algum erro grosseiro mesmo para estragar, mas Joachim Trier não me decepcionou, assim como Lars von Trier nunca decepciona também, deve estar no sangue.
E que escolha de título foi essa? Representa perfeitamente do que trata o filme, como a dor e o sofrimento são inerentes à condição humana, de forma explícita como numa guerra, mas também no silêncio "explosivo" das relações entre família.
Esse filme dialoga bastante com "Que Horas Ela Volta?", mas apesar deste ser mais incensado, confesso que gostei mais de "Casa Grande", por ter tido o cuidado de ser menos panfletário, usando questões sociais como pano de fundo para narrar a história de um adolescente de classe média "virando homem" e seus conflitos.
Enquanto que o primeiro parece ter usado a história e seus personagens mais estereotipados com intuito de passar uma mensagem política e de crítica social, o grande acerto de "Casa Grande" foi exatamente ter conseguido problematizar e ser político sem fazer propaganda ou juízo de valor, mas simplesmente mostrando a realidade.
São dois filmes diferentes em um, a primeira metade, cheia de tiradas geniais e piadas sarcásticas, com o personagem usando da malandragem pra se livrar dos apuros, e a segunda, com as trapalhadas dele ao escalar o prédio.
Mas ambas são excelentes e muito engraçadas, e toda a sequência da segunda parte é antológica. Sem dúvida um dos filmes mais subestimados desse período, que só quem o descobre parece reconhecer seu valor e se tornar fã.
Drama com toques de suspense psicológico, que me lembrou "Swimming Pool", do Ozon. "A Espera" é a estreia desse diretor italiano com longa metragem, e para um primeiro filme, começou muito bem.
Ambientação e fotografia lindas, mas assim como o filme do Ozon tem como maior mérito a atuação da Charlotte Rampling, aqui temos Juliette Binoche atuando incrível como sempre, em francês e italiano.
Eu, Daniel Blake
4.3 533 Assista AgoraEu, [insira aqui seu nome]. Filme que mostra com realismo e crueza (o máximo de artifício é um fade out entre algumas cenas) a impotência do cidadão comum e trabalhador frente à opressão do estado, de uma sociedade impessoal e desumana, kafkianamente burocrática. Um filme triste, mas politicamente necessário, e que para nós desmistifica um pouco a ideia que fazemos de "primeiro mundo".
É Apenas o Fim do Mundo
3.5 302 Assista AgoraA priori parece apenas um típico filme baseado em peça teatral daqueles com um enredo sobre integrantes de uma família que se reúnem em determinada ocasião e as reações e consequências que este encontro desencadeia em cada personagem. O resultado parece ambíguo, deixando um pouco a impressão de um filme incompleto, que fica apenas nisso e não oferece muita coisa além. Mas o maior feito de Xavier Dolan aqui – e o grande trunfo do filme, além do elenco incrível – é a capacidade que ele teve de conseguir transmitir todas as informações e sensações através da linguagem corporal – no caso facial – dos personagens: todos os diálogos, as palavras, as discussões, são apenas vozes confusas e falhas – a ponta de um iceberg – que não conseguem expressar tudo aquilo que está encoberto, todas as emoções e sentimentos daquela família, mas que são comunicados através da forma e sensibilidade com que Dolan e sua câmera capta os rostos de cada um.
O Homem nas Trevas
3.7 1,9K Assista AgoraUma grata surpresa. Pareceu seguir o mesmo estilo de "Rua Cloverfield, 10", só que menos conhecido, e acho até que gostei mais de "O Homem nas Trevas", por não ter o final extravagante do primeiro.
Como o próprio título original sugere, você não respira no filme de tanta tensão e suspense, e quando pensa que está pra acabar vem mais. História original que sustenta a ação e o suspense sem apelação.
Julieta
3.8 529 Assista AgoraConfesso que ao final e durante o filme fiquei com aquela sensação de, "É apenas isso?", como se o tempo todo estivesse esperando algo acontecer, ou que o filme fosse diferente... Mas acho que o grande trunfo de "Julieta" é esse, ser um filme simples e despretensioso, sobre o amor materno. Não é dos melhores do Almodóvar, mas consegue ser superior a muitos dramas que vemos por aí.
A impressão que tive foi de uma história tirada de algum livro, até ir pesquisar e saber que foi baseada em contos (uma mistura de três contos, não apenas um) da Alice Munro, escritora canadense Prêmio Nobel de Literatura de 2013, cujos contos são exatamente assim, mostrando a beleza em situações simples e cotidianas.
A Criada
4.4 1,3K Assista AgoraConstrução narrativa incrível, com um roteiro cheio de plot twists digno dos grandes filmes coreanos e das demais obras dirigidas pelo Chan-wook Park. Tava sentindo falta de um novo filme coreano desse tipo, mostrando que o país continua firme e forte como o único capaz de se equiparar aos americanos em técnica e produção. Tem cheiro de que terá remake feito por Hollywood.
Até o Último Homem
4.2 2,0K Assista AgoraApesar do viés chauvinista e religioso, é um bom filme com uma mensagem bonita. Gostei da mesma forma que gostei de "Capitão Fantástico", que também é tendencioso, digamos, para o outro lado. Não aprecio muito arte panfletária, mas acho muito mais digno se expressar dessa forma do que infernizando a vida dos outros pra concordarem e viverem de acordo com suas convicções.
Um Limite Entre Nós
3.8 1,1K Assista AgoraFalar das atuações seria chover no molhado. O que mais apreciei nesse filme foi se tratar de um drama familiar, que vai além da questão social dos negros como muitos outros filmes do gênero. A história poderia ser de qualquer outra família branca de classe baixa (ou até mesmo alta), não apenas nos EUA daquele período, mas até mesmo por aqui no Brasil. É interessante ver uma história de contornos universais com uma família negra, mostrando que eles não precisam fazer parte apenas de filmes que tratem da questão do racismo. Quem é que não teve ou não conheceu alguém que teve um pai como aquele? Um personagem complexo e rico, que no início da história desperta nossa empatia pela personalidade e histórico de vida, mas aos poucos vai mostrando uma outra faceta odiosa, de um homem despótico que oprime a família, a mulher e os filhos, que acha que prover materialmente a casa é suficiente e mais importante que o afeto, e que, tragicamente, por mais que tivesse a intenção, é incapaz de não cometer os mesmos erros e ser um pai melhor do que o que teve. Por se tratar de uma peça adaptada, os diálogos são complexos e densos, alguns memoráveis por sua densidade psicológica. Viola Davis está incrível como sempre, um Oscar previsível, até mesmo por se tratar de uma personagem que é tão protagonista quanto o do Denzel Washington.
Manchester à Beira-Mar
3.8 1,4K Assista AgoraMeu filme preferido do Oscar 2017, junto com "Moonlight". Que roteiro e narrativa incríveis. Se há alguns filmes que são adaptados de livros, esse é um exemplo de uma obra que poderia ser adaptada para a literatura, tal sua riqueza. Uma tragédia anônima, numa pequena cidade desconhecida que poderia ser em qualquer lugar do mundo; um frio que nunca acaba (mesmo as cenas do passado em flashback são no inverno) simbolizando as emoções de um personagem que está morto por dentro, que se penitencia consertando as casas dos outros por um erro que cometeu na sua própria e que teve consequências devastadoras. Um final realista e fiel às circunstâncias, que não subestima o espectador apelando pra um desfecho que nos desse algum conforto e esperança frente a dor e ao sofrimento retratados. Sensível e doloroso. O tipo de papel que daria o Oscar a qualquer bom ator em que caísse nas mãos, em que a atuação do Casey Affleck se não foi perfeita ou algum outro poderia ter feito melhor, ainda assim não desmereceu sua premiação. A sequência de cenas com a trilha do Adagio de Albinoni, que começa a tocar mesmo antes de sabermos o que aconteceu já nos fazendo inferir que algo estaria por vir, foi belíssima.
Águas Rasas
3.4 1,3K Assista AgoraDesde que vi o trailer fiquei curioso com esse filme por causa das imagens bonitas e da ideia interessante de sobrevivência num pequeno pedaço de rocha no mar... mas não contava que o filme seria tão exagerado. Esse tubarão deve ter sido ex-marido da personagem numa encarnação passada... só pode.
As pessoas estão cada vez mais tolerantes emocionalmente aos filmes de suspense/ação, de forma que pra liberar a mesma quantidade de adrenalina/dopamina que as obras de 30 anos atrás, é preciso cada vez mais "espetacularização", mesmo que beire as raias do absurdo e contrarie as leis naturais e físicas.
Capitão Blood
3.8 42 Assista AgoraNão chega a ser tão bom quanto "As Aventuras de Robin Hood", de 1938, também dirigido pelo Michael Curtiz e com a mesma dupla Errol Flynn e Olivia de Havilland (que fizeram juntos três filmes de aventura nesse estilo "capa e espada", o outro sendo "A Carga de Cavalaria Ligeira", de 37), mas é um ótimo filme também, super produção.
Errol Flynn, embora não tivesse um grande talento, possuía um charme como poucos, com aquele sorrizinho e cara de cafajeste interpretando bons moços, que o torna irresistível. Quem é Jonnhy Depp na fila do pão comparado a ele? Juntamente com Olivia de Havilland formaram um dos casais com maior química em cena do cinema clássico.
Mommy
4.3 1,2K Assista AgoraLindo. Direção, atuações (que trio incrível), no início achei o enquadramento estilo Instagram meio hipster mas depois me conquistou, nem que tenha sido apenas pra cena em que ele momentaneamente se enlarga. Trilha sonora ótima e despretensiosa, com músicas já bastante batidas mas que ficaram ótimas nas cenas.
A personagem da Kyla é de quem menos sabemos e do que o filme mais trata. Fico imaginando o que a levou a se afeiçoar dos vizinhos e crio mil teorias e explicações na minha cabeça. O amor de mãe é grande, só não é maior que a possessividade e o ciúmes, e Die prefere perder o filho a dividir seu afeto com outra.
Ventos de Agosto
3.3 73 Assista AgoraTenho de concordar com alguns comentários, o filme tenta fazer um recorte da vida daqueles personagens isolados da civilização, mas em função da estética, pecando um pouco pela falta de profundidade e na dimensão dos personagens (talvez pela limitação até do "casting", a maioria dos atores me parecendo amadores, moradores do próprio local). Mas ainda assim é um filme bonito, e levando em conta ser o primeiro longa-metragem do diretor, diria que foi bem sucedido.
Depois de ter visto esse filme e "Boi Neon", acho que Gabriel Mascaro se tornou um dos meus diretores pernambucanos preferidos, junto com Cláudio Assis e Camilo Cavalcante, que me enchem de orgulho do nosso cinema nordestino. Prefiro filmes assim como os deles que se preocupam mais em alcançar um objetivo estético, do que passar uma mensagem política, soando meio panfletários e preocupados com uma agenda da esquerda, como Kleber Mendonça Filho.
Desencanto
4.4 171 Assista Agora"Desencanto" me lembrou meu amado "Fim de Caso", mas se por um lado gosto mais da história do Graham Greene e de seus personagens, a adaptação feita dele por Neil Jordan não se compara a essa obra magnifica de David Lean.
Incrível a forma como o roteiro (corajoso para a época, talvez por isso não tenha ganho prêmios) se desenrola a partir da narrativa da própria personagem, numa atuação primorosa, juntamente com a direção e a trilha com Rachmaninoff.
Paulina
3.6 40 Assista AgoraA história original fala sobre perdão (o nome "Paulina" não é por acaso), num contexto religioso, mas que parece não haver aqui. Ela não me pareceu perdoá-los, o diretor pegou esse mote e quis fazer mais uma discussão política acerca da ética da Justiça. Ela resolve absolvê-los e ter o filho apenas para confrontar o pai e a justiça institucional, mas ao mesmo tempo que se apropriando do direito de fazer o que ela acha que deve baseada em seus princípios e também como dona do próprio corpo. Percebemos que o problema dela não é o aborto, fica claro num diálogo que em outras circunstâncias ela faria. Na verdade às vezes não entendemos o que se passa com ela, e isso a torna uma personagem interessante e rica, fora do convencional. Ficamos o tempo todo querendo que ela faça o que achamos que ela deveria fazer e o que seria correto naquele caso, mas ela só faz o que lhe dá na telha. Será que não é um direito dela mesmo que isso vá contra as normas e convenções legais?...
Eu me identifiquei um pouco com a personagem no sentido de que também sempre tive a sensação de que se *EU* sofresse alguma forma de violência não conseguiria me contentar com uma vingança ou com a "justiça", acho que me resignaria numa espécie de frustração em existir a violência e se poderíamos fazer algo para evitá-la primeiro antes de apenas tentar resolvê-la com a punição. Num diálogo ao final com o pai em que ela diz que era uma vítima sim e não se considerava uma heroína, mas a quem serviria a "justiça ser feita"?, diz muito sobre isso e sobre as questões que o filme trata e levanta. Paulina parece levar às últimas consequências uma ética própria ao se sentir enquanto indivíduo responsável pelas mazelas da sociedade e pelo mundo torpe em que vivemos, inclusive ao sofrer as consequências dele, como ter um filho de um estupro. Independente de estar certa ou errada, de concordarmos ou não, é uma personagem inconformista e anti-pragmática.
Boi Neon
3.6 461Algumas cenas são um pouco aversivas podendo parecer forçadas e desnecessárias mas não são, pois a proposta estética do filme é exatamente essa, ser naturalista e mostrar com "crueza" a vida de quem vive pela estrada nas vaquejadas, etc, mas contrapondo com o romantismo através dos personagens, principalmente no protagonista (Juliano Cazarré incrível), um "bom-selvagem" machão mas que possui sensibilidade para moda e perfumes, contrastando com toda aquela realidade "suja", e cuja ambiguidade sexual só nos é revelada ao final.
As cenas e diálogos são tão naturais e espontâneos que parece que foram filmadas com uma câmera escondida e estamos observando tudo aquilo, ao mesmo tempo que são trabalhadas de forma tão exímia tecnicamente que nos passam a impressão de que o diretor deve ter feito diversas tomadas em algumas até conseguir aquela "perfeita". Um dos melhores filmes nacionais que vi nos últimos tempos. Se for preciso fazerem co-produções com outros países como nesse caso para termos mais filmes brasileiros com uma qualidade assim, que venham mais.
Escondidos
3.3 232Um dos filmes do gênero com mais "plot twists" que já vi, isso foi interessante. Mas as cenas constantes de um drama forçado e de um suspense criado de forma artificial demais foram uma chatice.
Os irmãos Duffer parecem ter querido se lançar num cinema de terror autoral, mas só reciclaram os mesmos clichês com uma roupagem diferente, e os vendendo com um verniz de originalidade.
A Hora da Estrela
3.9 514Numa das raras e última entrevista de Clarice, pouco tempo antes de morrer, falou que havia acabado de escrever uma novela: "A história de uma moça tão pobre, que só comia cachorro-quente (...) a história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima"...
Clarice não quis dizer o nome da heroína, era segredo. Depois do privilégio de ter conhecido esse segredo chamado Macabéa ("A Hora da Estrela" é um dos meus livros preferidos de nossa literatura), pude finalmente assistir a essa adaptação restaurada há pouco tempo.
É impossível não se emocionar ou sentir empatia por essa personagem tão simbólica (lindamente interpretada por Marcelia Cartaxo, que ganhou o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim), que gosta de prego e parafusos e toma aspirinas porque se dói o tempo todo.
O Enigma de Kaspar Hauser
4.0 328Uma obra que abre um leque para tantas leituras e interpretações, tratando num único filme de questões filosóficas, epistemológicas, sociológicas, semióticas e teológicas... e ao mesmo tempo fazendo uma crítica a todas elas.
Werner Herzog faz uma viagem no tempo e nos leva à primeira metade do século 19, ao narrar a história de Kaspar Hauser, tecendo uma verdadeira ode romântica ao humanismo e uma crítica ao positivismo então em voga.
Freud dizia que a civilização existe porque para vivermos em sociedade precisamos sublimar nosso lado "selvagem" e instintos. Esse filme nos mostra como a sociedade pode também nos privar do nosso lado mais humano.
A História da Eternidade
4.3 448Não fosse um probleminha de ritmo, principalmente a última parte que parece um tanto abrupta, daria 5 estrelas. Mas é um ótimo filme, o argumento e ideia originais (que só ficam claros perto do final), a direção e fotografia incríveis, as atuações que não comprometem (um problema em filmes nacionais assim)...
Vejo a "eternidade" do título como um conceito de universalidade, mostrando que mesmo num fim de mundo como aquela "aldeia", um lugar onde Judas perdeu as botas, as contingências humanas são as mesmas que em qualquer outro lugar, os mesmos desejos e carências, os mesmos dramas e tragédias...
Mais Forte que Bombas
3.5 133 Assista AgoraCom 15 minutos de filme eu já tinha a certeza que ia amar. Só cometendo algum erro grosseiro mesmo para estragar, mas Joachim Trier não me decepcionou, assim como Lars von Trier nunca decepciona também, deve estar no sangue.
E que escolha de título foi essa? Representa perfeitamente do que trata o filme, como a dor e o sofrimento são inerentes à condição humana, de forma explícita como numa guerra, mas também no silêncio "explosivo" das relações entre família.
Casa Grande
3.5 576 Assista AgoraEsse filme dialoga bastante com "Que Horas Ela Volta?", mas apesar deste ser mais incensado, confesso que gostei mais de "Casa Grande", por ter tido o cuidado de ser menos panfletário, usando questões sociais como pano de fundo para narrar a história de um adolescente de classe média "virando homem" e seus conflitos.
Enquanto que o primeiro parece ter usado a história e seus personagens mais estereotipados com intuito de passar uma mensagem política e de crítica social, o grande acerto de "Casa Grande" foi exatamente ter conseguido problematizar e ser político sem fazer propaganda ou juízo de valor, mas simplesmente mostrando a realidade.
O Homem Mosca
4.3 82 Assista AgoraSão dois filmes diferentes em um, a primeira metade, cheia de tiradas geniais e piadas sarcásticas, com o personagem usando da malandragem pra se livrar dos apuros, e a segunda, com as trapalhadas dele ao escalar o prédio.
Mas ambas são excelentes e muito engraçadas, e toda a sequência da segunda parte é antológica. Sem dúvida um dos filmes mais subestimados desse período, que só quem o descobre parece reconhecer seu valor e se tornar fã.
A Espera
3.7 59Drama com toques de suspense psicológico, que me lembrou "Swimming Pool", do Ozon. "A Espera" é a estreia desse diretor italiano com longa metragem, e para um primeiro filme, começou muito bem.
Ambientação e fotografia lindas, mas assim como o filme do Ozon tem como maior mérito a atuação da Charlotte Rampling, aqui temos Juliette Binoche atuando incrível como sempre, em francês e italiano.
Branco Sai, Preto Fica
3.5 173Dá a impressão de uma ideia (até boa) que não foi amadurecida, conduzida às pressas e um tanto pretensiosamente.
A única coisa que salva é direção de fotografia, com umas tomadas e enquadramentos bem profissionais e artísticos.