Que pancada. Pelo que conhecia do argumento do livro que deu origem ao filme, imaginei que Glazer ia aproveitar esse pulo pra mergulhar em diversas questões humanas e sociais, com essa ênfase incrível nos gêneros e na misoginia. O que eu não esperava é que esse mergulho fosse tão profundo.
O jogo do filme é completamente sensorial e simbólico. A falta de explicações sobre os corpos, os motoqueiros e o contexto da personagem da Johansson fazem parte disso, é o que leva a metáfora original para a seara dos sentidos
: a atração que Isserley exerce nos homens ganha aqui mais nitidamente os contornos da atração por um idealizações irreais e inalcançáveis do que da fatalidade do desejo masculino; a ação da lama negra entrega as intenções destruidoras dos homens que desejam essa ~perfeição~ mais do que se expõe como uma ferramenta de um processo de produção de disfarces para uma invasão alienígina em execução; o processo de "esvaziamento" que os homens sofrem na lama afirma o quanto o sexo é frequentemente o único caminho para se alcançar o que existe no âmago da intimidade masculina mais do que se coloca como forma de obtenção dos disfarces humanos; o jogo de sedução que a alienígena desenvolve é mais uma constatação da natureza performática (logo artificial) da atração sexual, mais do que uma estratégia de caça (principalmente quando a atuação da Johansson aqui é sensacional); o ~~perdão~~ ao rapaz que tem síndrome de Proteu se torna muito mais uma questão de compaixão e indentificação com sua condição de não-pertencimento ao corpo (e as decorrências sociais de ser aquele corpo) do que de inutilidade de sua pele como disfarce para outros alienígenas; o ~~despertar~~ de Isserlay para emoções que passa a acessar a medida que passa a ver além do inicial estranhamento indiferente que tem pelo mundo ao seu redor praticamente grita como analogia ao início de uma percepção do lugar social das mulheres no mundo misógino que vivemos; a lágrima no rosto da mulher de quem Isserlay pega as roupas, a primeira "caçadora", é o grito reprimido de quem se recusou a continuar um jogo cruel que mais lhe prejudicava que favorecia - tanto metaforicamente, como mulher, quanto literalmente como alienígena.
Sob o olhar da alienígena recém-chegada à Terra, Glazer cria oportunidade de problematizar o cotidiano nessa experiência cinematográfica.
A cena em que Isserlay está no carro, ouvindo no rádio sobre a morte por afogamento que havia acabado de presenciar... e 2 segundos depois já está se falando sobre a importância política do ano para a Escócia é um exemplo disso: aonde foi parar nosso senso de prioridade, que faz com que a destruição de uma família sequer nos comova? O momento em que a alien vai fazer compras de itens de beleza e vê mulheres fazendo tratamentos cosméticos é uma afirmação categórica da feminilidade como invólucro da humanidade das mulheres, um disfarce forçado tanto quanto a pele humana de Isserlay e que serve pra manter longe das vistas o que existe de verdade dentro delas. Sensacional.
"Under The Skin" só não me agradou mais porque exige um conhecimento prévio sobre a obra que originou o filme para que suas mensagens sejam realmente efetivas, e isso é um grande problema pois abre a possibilidade de alguém assistir o filme e apreender metade da experiência - o que seria uma perda irreparável. E é foda, porque a galera que vai atrás desse filme só pra ver a Johansson pelada, é justamente quem precisaria compreender mesmo toda a narrativa pra, talvez, sair do filme sendo uma pessoa melhor do que era quando ele começou.
Vi o filme pelo Taylor Kitsch, admito. E me surpreendeu positivamente. Digo, não é uma aula de profundidade, mas é bastante divertido.
Agora, sabe uma coisa que sempre me chama atenção? Cê vai pra marte, encontra até alienígenas de quatro braços, mas nenhuma pessoa negra. Engraçado, isso, rs.
Se todo atropelamento de cicilista terminasse em amor, São Paulo seria um cidade muito mais legal.
Falando sério, "This Isn't Funny" é um filme bacana sobre adultos aprendendo a agir, de fato, como adultos. E as piadas são bem legais, hahaha. Bacana como quebra com estereótipos racistas com o personagem Ryan (e até faz piada disso, quando o Russ encontra eles na loja de sucos). E, meudeus, como vivi tanto tempo sem Katie Page e Beth Stelling na minha vida? <3
Uma sala, 50 pessoas: é disso que "Circle" precisa pra manter quem assiste ligado até o final. O ditado diz que "a ocasião faz o ladrão", mas aqui ela faz é uma leva de assassinos, que escondem atrás dos motivos mais torpes possíveis seu desejo egoísta de viver em detrimento de outra pessoa. E o final foi legal, mas acho que explicou mais do que deveria
- pra mim, ficaria sensacional se no final morresse todo mundo mesmo. A mensagem ia ficar mais impactante, "não importa o que você faça, no final da história todo mundo morre".
Aquela saída do cara, ele indo ficar no meio de um outro grupo... pelo visto, essa invasão alienígena é inevitável e aquele cara sacou que não há como sobreviver fugindo daqueles jogos, então ele se infiltra em todos os grupos e manipula eles pra que no final fique somente ele, 1 criança e 1 mulher grávida (haviam essas duas pessoas também no grupo que ele chegou, no final). A questão que fica é: ele já havia feito isso antes daquele grupo ou começou ali?
Sempre fui um forte opositor à ideia de que existem filmes que você assiste ~~com o cérebro desligado~~, porque acho que se você apertar dá pra fazer suco de tudo (até de coisas que parecem pouco suculentas). Ouija me fez reconsiderar essa certeza. Não é o pior filme do mundo e não falha isso tudo no que pretende construir: tem o grupo de amigos unido em um mistério sobrenatural, tem as cenas de burrices, tem as mortes anunciadas, todos os principais clichês que o gênero consolidou nos últimos 20~30 anos (até a reviravolta do final, mas aqui sendo mais previsível do que devia). É legal pra ver na tarde de um feriado, tomando umas cervejas e rindo, rs.
A discusão sobre a fronteira entre arte e entretenimento é antiga, mas cada vez mais inchada pelo tanto de conteúdo que consumimos hoje. Alverson apresenta sua visão dessa questão logo na segunda cena do filme: um palhaço dançando, pulando de uma mesa pra outra enquanto é aplaudido por presidiários - taí sua definição de entretenimento, é justamente o contrário disso que "Entertainment" entrega.
Os espetáculos de Neil vão ficando cada vez mais depressivos, o filme vai sendo preenchido cada vez mais pelo vazio e o mais impactante é que muito pouco disso é dito, escrito de qualquer jeito. Sendo sincero, fiquei o tempo todo tentando ~~ler~~ o filme, só pra perceber que ele pede justamente o contrário. A dificuldade que Neil tem pra cativar sua audiência é a mesma que tem pra se relacionar com pessoas, de realmente alcançá-las. O fracasso do comediante é o fracasso da comunicação.
E é aí que Rick Alverson se posiciona no debate: o entretenimento seria essa fuga boba do mundo, da vida, e arte é o que ele tenta fazer aqui, ao incomodar, cutucar, muitas vezes sem dizer uma palavra. E por isso tantos tapas na cara. A corrida pro oeste fez os EUA crescerem? Veja o vazio que ela deixou pra trás. Road movies são filmes sobre descobertas e acontecimentos? Então encare a monotonia homogênea que Neil descobre. Histórias são legais por nos oferecerem oportunides de catarse através de personagens fictícias? Aceite a lacuna que fica pairando sobre a relação do protagonista com sua filha (sobre a própria existência ou não dela). A afirmação estética, o peso dado à forma na comunicação das mensagens (em detrimento da narrativa, dos diálogos, etc), tudo isso faz desse filme uma puta afirmação cinematográfica.
Não há uma escalada na narrativa, não há clímax. "Entertainment" abusa da ironia pra entregar sua mensagem, e faz isso da mesma forma direta e sem rodeios que a vida faz com a gente. É impossível não se incomodar com isso, é verdade. Seguindo a lógica do filme, se a risada é a comprovação do entretenimento, o desconforto só pode ser o resultado legítimo da arte. E eu posso até não concordar tanto com isso, mas esse filme é um baita de um argumento.
Quando soube do argumento do primeiro filme, acho que, no fundo, eu esperava o que o DeMonaco entrega aqui, no segundo filme. O universo dessa sociedade criada pelos Novos Pais Fundadores, a importância do expurgo pra manutenção de um status quo, tudo é bem trabalhado nesse filme, mas sem bombardear quem assiste com muita informação. Isso é bacana porque deixa a crítica social que move o filme mais afiada
: assim como em The Purge, no nosso mundo o Estado é o maior promotor e financiador da violência urbana (na vida real é ainda pior, porque eles nem se dão ao trabalho de legalizar isso e se dão o privilégio de passar por cima das leis). Pra que fique ainda mais certeira só precisava colocar aqui o papel das corporações, das grandes empresas que lucram com tudo isso e que movem os peões da política.
Pensei que por mudar a dinâmica do primeiro filme teríamos invariavelmente personagens mais rasos, mas ouso dizer que não, viu? As personagens aqui são mais aprofundadas, com backgrounds diferentes, momentos de vida diferentes, e tudo parece bem costuradinho,
Histórias futuristas são sempre um ótimo jeito de pegar algum ponto da nossa sociedade e tentar responder aquela velha pergunta: "aonde vamos parar?". The Purge pega a sanguinolência típica desse ocidente desigual em que vivemos e leva à enésima potência com a ideia do expurgo anual. A proposta de focar a história em uma família tentando sobreviver de primeira me parecia subaproveitar um argumento cheio de potencial, mas acabou na verdade fazendo um bom desenvolvimento. A família em questão tem sua riqueza baseada justamente na existência do expurgo e do medo generalizado que existe nessa noite: o personagem do Ethan Hawke é justamente um vendedor de sistemas segurança.
É interessante a mensagem esperançosa do final do filme: o pai, que vive de fomentar o expurgo, morre; seu filho salva uma pessoa que estava sendo perseguida por expurgadores, e sua esposa se recusa a matar a vizinha que vai à sua casa expurgar, renegando a atividade familiar. Uma forma curiosa de propor uma superação individual à essa babárie coletiva.
Paul Rudd no comando e assinando o roteiro, junto com Edgar Wright e companhia limitada? Taí uma combinação que não tinha como dar errado. Divertídissimo o filme, boas cenas de ação na apresentação desse personagem que deve ainda ser bem utilizado no Marvel Cinematic Universe.
Confesso que o que mais deixava apreensivo com o filme do Homem-Formiga era que tipo de profundidade seria trabalhada nele, já que ele é realmente um cara bem ambíguo. O foco na recuperação da proximidade com a filha caiu muito bem nesse primeiro filme, e tem tudo a ver com a nobreza que a Marvel tem empregado nas apresentações de seus personagens.
E, velho, as narrações do Luis são as melhores, hahaha.
Gostei do filme, mas acho que fiquei decepcionado por esperar que J. J. Abrams desse a essa continuação a profundidade que deu aos personagens de Star Trek. Na ânsia de se manter fiel ao estilo e não provocar a ira dos fãs (que definitivamente não reagem bem a certas mudanças narrativas, como mostra a relação negativa que tem com a segunda trilogia) o filme ficou raso - o que é coerente com a franquia, mas destoa do que são hoje as grandes franquias de blockbuster, que misturam a ação empolgante com um desenvolvimento aprofundado de personagens que faz com que vilões sejam mais amados que temidos. O alívio é que o filme deixa pontas soltas pra dar esse mergulho dentro das personagens nos próximos episódios... ou nos prováveis 579 milhões de produtos spin-offs que devem ser lançados até 2017, rs. E, putz, sensacional ter uma mulher e um cara negro como personagens principais, mesmo. Isso sim é um baita sinal dos tempos <3
Acho que todos nós podemos elencar alguns momentos e períodos da vida que definiram tudo que viemos a nos tornar. Esse filme é sobre isso, e sobre como por mais que o tempo passe nós nunca vamos conseguir sair de verdade deles; estamos sempre lá, revivendo, pensando em todos os "e se...?" e como aquele passado longínquo ainda se faz presente em cada decisão cotidiana que tomamos
- no caso de Paul, a loucura da mãe e o amor das tias avós definiram a forma como lidaria com a sexualidade no futuro; as surras do pai, a disciplina com que se voltaria para os estudos; a viagem à Rússia fica como um souvenir mental do que ele é capaz de fazer pelas causas que acha corretas; e a relação com Esther, um exemplo de como é capaz de estragar até a mais bela das coisas.
É curioso, porque escrevendo isso, percebo que #SomosTodosPaulDédalus, em alguma medida, rs.
Não sabia da relação direta com "Como Eu Briguei (Por Minha Vida Sexual)", mas é uma sequência bem peculiar, pois só descobri depois de ver o filme e não acho que isso tenha atrapalhado minha experiência, sinceramente. Filme bacana, me deixou com vontade de ver mais coisas do diretor e, principalmente, ver os estreantes Quentin Dolmaire e Lou Roy Lecollinet trabalhando mais.
Quando soube do que se tratava o filme, pensei "vai ser chato". Quando vi que ganhou Oscar, senti "vai ser fraco". Ás vezes é uma maravilha estar errado. Birdman sai distribuindo as pancadas que precisam ser dadas, tanto na indústria do entretenimento quanto na galera que anda por aí se considerando os últimos bastiões da arte.
Diferente de um monte de gente que falou aqui, não consegui ver crítica aos atores de filmes super-heróis no filme, muito pelo contrário: a presença do Norton e do Keaton colocam o dedo bem direitinho na cara de quem reduz o artista a esse tipo de personagem. Aliás, o metadiscurso embasado na presença dos dois é maravilhoso, porque brinca com estereótipos que ambos os atores enfrentam em suas carreiras: Norton, o de ser uma ~~primadonna~~ e querer mandar em todos os seus projetos; Keaton, de ser sempre ~~aquele cara que fez o Batman~~. A resposta eles dão na tela.
Mas há, sim, crítica aos filmes de super-heróis, e a como supostamente afastam os artistas de uma suposta real ação artística (o próprio Iñarritu afirmou em entrevista de divulgação de Birdman que considera esse tipo de filme uma forma de promover "genocídio cultural), o que evoca a velhíssima discussão da fronteira entre arte e entretenimento. Aqui eu me coloco diametralmente em oposição à Iñarritu e a lógica de que somente o incômodo traz reflexão. Acredito que esse paradigma pode até ter sido verdade em algum momento, mas não mais. Talvez tenha a ver com minha trajetória particular, quem sabe?
A parte mais "universal" do filme, com que qualquer pessoa pode se relacionar, entretanto, é a mais direto e, ao mesmo tempo, dolorosa: todos queremos ser amados, mas o quanto estamos fazendo de fato pra isso? A distinção entre amor e admiração existe mesmo? Como pergunta o título da peça montada pelo Riggan, "do que estamos falando quando falamos de amor"? A resposta pra isso tudo fica aberta. Até porque se existisse uma resposta universal pra isso, duvido que o Iñarritu fosse estar fazendo filmes, rs.
Quando esse filme foi lançado, eu corri pra longe dos cinemas. Nada contra super-heróis, muito pelo contrário. O lance é que eu tava cagado de medo dessa porra ser apenas um ~~reloaded~~ do primeiro filme, cheio de piadas ruins, show off e fanservice. E, bom, não é que esses três elementos não estejam presentes, tão lá do começo ao fim. Mas ele traz o que vem sendo a marca nesse segundo ciclo de filmes da Marvel: profundidade.
Ultron veio ao mundo pra lembrar que a diferença entre veneno e a cura é simplesmente a dose. E a simples existência cria UM MUNDO AINDA MAIOR em cima de Stark e Banner, os cientistas malucos cheios de demônios interiores (um que vira um monstro e sai destruindo tudo sem controlar-se, o outro que cria todos os seus próprios problema misturando um pouco de egocentrismo, boas intenções e bastante irresponsabilidade). A relação de negação que o bicho tem com Stark, a propósito, parece ser a chave de todo mundo ter amado esse vilão: noves fora o discursinho niilistaciamente misantropo que tá na moda desde o sec. XIX, a audiência do filme se encontra toda nesse mesmo dilema. Visão e Ultron tem muito a render se a Marvel souber (e quiser) vender eles direito.
Natasha tá sensacional nesse filme. Olhar pra dentro dela como personagem é uma maravilha. A relação dela com o Banner tem potencial demais, não apenas como casal, como pessoas que se entendem, sabe? É um bom artifício narrativo, dá pra explorar muito. A Marvel precisa fazer um filme dessa personagem, por favor. Ou então dar um papel mais central à intimidade dela, como fez com o Clint aqui. Preciso dizer que o olho encheu de lágrima com a postura "pai de família" dele, em casa e no trabalho. A conversa dele com a Feiticeira Escarlate durante a batalha é daquelas falas que dá pra imprimir e emoldurar, ainda mais pra uma geração que lida com suas fraquezas mais compartilhandoi coisas depressivas nas redes sociais do que de fato tentando superá-las (eu incluso aqui, rs).
Vejo que a galera que mais bate no filme critica uma suposta superficialidade das coisas, do enredo, etc. Minha sugestão: olhe de novo. Mas, dessa vez, tire a trava dos olhos.
A maior parte das pessoas parece ter detestado o filme. Eu já acho que ele cumpriu seu papel de baixar a bolinha do Tony Stark e nos apresentar um ser humano de verdaaaaade, sabe? O segundo filme já caminhava pra isso, mostrando a relação do Tony com seu pai, mas é nesse que a gente vê um cara desgraçadíssimo da cabeça ao perceber que tá no meio de uma treta muito maior do que seu ego. Não é o melhor filme da franquia (o primeiro se mantém inabalável no topo), mas já indicava a guinada ~~humana~~, contraditória e pesada que a Marvel imprimiria em seus heróis nos próximos filmes.
Quando li a sinopse, pensei que o grande dilema que a personagem principal enfrentaria seria a dúvida entre prosseguir ou não com a ideia de festa pro aniversário de casamento, tendo que escolher entre se sentir realizada com a comemoração ou ser solidária ao luto do marido. Por sorte, eu estava profundamente enganado.
E o mais legal do filme, ao meu ver, é como as emoções da personagem masculina, dentro da narrativa do filme, funcionam menos em prol dele mesmo, e mais em prol de desvendar a vida da Kate. A semana de choque de Geoff é intensa e é bacana ver como ela o leva a refletir sobre a importância de Kate na sua vida. Mas ver a declaração dele naquela cena final é só um passo pra que o último da Kate ganhe ainda mais força. É duro perceber que ela, na verdade, foi o ~~tapa-buracos~~ da Katya na vida dele - sendo a Mrs. K. Marcer, seu desejo de não ter filhos que casava bem com a perda que ele havia sofrido, sua aversão a fotografias que era uma boa muleta pro medo de lembrar que o Geoff tinha. E a interrogação sobre o quanto daqueles 45 anos ela foi realmente amada é, realmente, aterrorizante.
E é irônico pensar que se o Geoff tivesse jogado aberto desde o começo, eles teriam ficado juntos do mesmo jeito, com a diferença positiva de o diálogo ter o potencial de ajudá-lo a lidar com a dor da perda, que ele suplantou por tanto tempo.
As conversas mais necessárias numa relação são as mais dolorosas. Anotado.
Todo mundo repete , o quão importante é "fazer a coisa certa".... mas geralmente esquece de falar dos obstáculos que existem pra quem tenta fazê-la.
"Hipócrates" leva quem assiste a pensar sobre isso enquanto conta a história de um jovem interno de um hospital francês simples, às voltas com problemas de rentabilidade. E nisso toca em pontos bem cruciais e problemáticos da carreira médica: as péssimas condições de trabalho, o nepotismo, o corporativismo e a perda da noção de que, no final das contas, o que está em jogo são vidas humanas que valem mais do que carreiras ou egos.
Uma coisa que me surpreendeu bastante foi a personagem Abdel. Entra na história dando a impressão de que se trata de um antagonista, que vai rivalizar com o jovem protagonista e se diz disposto a fazer qualquer coisa para se consolidar na carreira... mas seus firmes princípios e sua entrega à profissão o impede de efetivamente se integrar aquela prática cotidiana viciada. O fato do personagem ser argelino é um ponto muito positivo também, afinal a islamofobia e a xenofobia são realidades odiosas na França e ver um personagem estrangeiro assumir um papel central e exemplar em um filme que trata justamente de uma categoria historicamente privilegiada é um sinal dos tempos.
O filme é bem bacana, e a jornada de amadurecimento de Benjamin ao ser confrontado com a vida real é algo que, em certa medida, deve apelar a todo mundo que tá nessa fase da vida, também. Apelou a mim, pelo menos, rs.
Eu sei que a ideia desse filme começou a tomar forma logo depois d'O Labirinto da Fauno, mas é impossível não relacionar o resultado final com a experiência do Del Toro em Pacific Rim: ali ele sintetizou toda a tradição do subegênero japonês "mechas protegendo o mundo dos aliens" em um filme divertido, com personagens carismáticos e uma história cheia de camadas. Aqui, os ingredientes da sopa são duas das tradições mais populares quando se trata de terror - o romance obscuro gótico do começo do século XX (que formou justamente os clássicos, como o Drácula que consagrou Bela Lugosi) e o terror sobrenatural japonês do começo do XXI, trazendo seu neogore debaixo do braço.
Enquanto assistia o filme, imaginei que veria muita gente reclamando dos clichês. Mas, gente, essa é justamente a graça! A forma como o mistério é revelado primeiro pra audiência, e só depois pras personagens que estão buscando revelá-lo é clássica, assim como as tomadas ~~investigativas~~ do Charlie Hunnam, ou a vilã maquiavélica da Jessica Chastain, e até mesmo o Thomas Sharpe, trazendo aquele tropo do golpista que se apaixona pela vítima e se arrepende (tão antigo que tá lá no cânone da literatura brasileira n'A Senhora, de José de Alencar). A forma como as cenas se fecham em alguns momentos, destacando itens chave para o desenrolar do enredo, também é algo clássico. O gore tá ali, junto com os sustos. E a originalidade do Del Toro tá em amarrar tudo isso com aquilo no que é especialista: técnica visual impecável, mixagem de som perfeita nos sentimentos que pretende despertar e, claro, a postura de desbravamento e respeito ao saber desconhecido que costuma defender em suas obras de fantasia.
AGORA, precisamos falar: a forma como o filme entrega sua proposta metafórica logo no começo não é legal. "Ah, Júlio, o pessoal costumava fazer isso lá na década de 30", eu sei, sei. Mas, poxa, dá pra fazer uma homenagem e adaptar ao mesmo tempo, vai?
Enfim, não é o melhor filme do mundo. Mas é muito legal ver uma história se desenvolver em ritmos diferentes, homenageando os grandes marcos do gênero em que se insere. Del Toro, você arrasa <3
Ultimamente tenho redescoberto o prazer de assistir filmes sem pesquisar antes um pouco sobre eles. Resultado: entrei no cinema esperando ver um daqueles filmes sobre mulheres que abrem mão de seus sonhos em prol de um casamento pra depois se arrependerem, me deparei com um drama pessoal e político surpreendente.
Agora, vou te contar: Nicole Kidman, puq vc fas isu? Fora a cena inicial, em que dá uma sambada GOSTOSA na cara do Ministro das Finanças francês, ela simplesmente só consegue convencer como Grace nos momentos em que a personagem está bancando a ~boneca~ que se esperava que ela fosse. Os momentos mais humanos, de força e fraqueza, de dúvida e certeza, se tornam plástico na interpretação de Kidman. A cena do jantar com os líderes europeus, em que a a desconfiança toma Grace, dá agonia de tão forçada. Fico aqui pensando o estrago que a Scarlet Johanson não faria nesse papel, hahaha. Quem arrasa como Rennier é o Tim Roth. Meudeus, que homem.
É muito legal ver jeito que o filme aborda a construção das relações políticas na interseção entre o pessoal e o institucional. E afirmar a importância de Grace pra costurar paz em um momento de crise política tem tudo a ver com o crescimento visível do poder dos movimentos de mulheres ao redor de todo mundo: é dizer que as mulheres brasileiras contra Cunha e as indianas que fazem tropas urbanas para previnir estupros fazem parte de uma história que não começou hoje, mas que não costuma ser muito contada por aí.
Essa galera pós-moderna, relativista ao extremo, que me perdoe, mas sou um partidário da verdade. Acredito que existe, sim, uma verdade concreta, objetiva, factual a respeito das coisas (e, ingenuamente, até valorizo demais a bendita). O ponto é: o fato dela existir não quer dizer que podemos alcancá-la em última instância. É nisso que "Gone Girl" se sustenta.
Eu não tô falando que a verdade do que rolou entre Amy e Nick é inalcancável, ela é bem concreta, palpável e demonstrada -
a graça da história até certo momento é justamente o desvendar dessa verdade.
Só que além disso existem verdades escondidas atrás dos olhos e das perguntas não respondidas. "O que você está pensando? O que você está sentindo? O que nós fizemos com nós mesmos? O que faremos?", são as questões que abrem e encerram o filme que, sim, é um caso extrema que nos força a repensar questões sobre imprensa, opinião pública, julgamentos precipitados e, acima de tudo, o papel que as aparências tem dentro de toda e qualquer relação amorosa supostamente estável.
Mas será que alguém é capaz de traçar a linha que separa o sofrimento da satisfação
Talvez eu tenha achado o filme legal justamente por ter começado a assistir com as expectativas bem perto de zero - afinal, é o quê que Gia Coppola quer fazendo filme, plmdd, ainda mais adaptando um livro de contos do James Franco?
Tapa na cara, chute no estômago. "Palo Alto" faz questão de jogar fora todo discursinho sobre "geração y, a geração mais preparada" pra dizer que se você tira a Internet dessa galera, o que sobra é vazio e desgraçamento de cabeça. E abuso, muito abuso. A forma como os abusos ditam cada uma das relações presentes no filme é gritante e assustadora, principalmente por ser um lance bem real.
(Parênteses pra dizer que: foi legal ver a associação entre "sofrer abusos" e "praticar abusos" que o roteiro construiu, principalmente na personalidade do Fred, mas foi nojento o modo como a Emily parece só estar no filme pra isso. No final a gente vê ele dirigindo na contramão sem ter pra onde e ir e ela some logo depois de dar a garrafada nele. Foda que é bem assim que a sociedade lida com abusos sexuais na infância/adolescência, né? Se é um cara quem sofre, coitado, isso vai destruir a subjetividade dele, ele vai ser uma pessoa problemática; se é uma guria, bom, talvez ela estivesse até gostando, dirão os malditos).
Mas, bem, como o grosso do roteiro é do James Franco, não podia deixar de ter merda, não é mesmo?
A relação da April com a família é colocada na tela de modo a você se ver muito puto com a mãe dela por não perceber como ela tá fudida, quando, hey, ela tem um padrasto que também não tá nem aí e nem ouvimos falar do pai dela. Isso é bem misógino, é dar um jeito de culpar a mulher sempre, mesmo quando a tônica de todas as relações familiares no filme é a ausência e o esquema do "don't ask, don't tell". E é interessante ver como a única família que parece fugir ~~um pouquinho~~ disso é a do Teddy, a gente vê a mãe apoiando ele depois da audiência em que é condenado a prestar serviços comunitários... e vemos também a importância disso, já que no final das contas ele é o único de todos que parece saber pra onde está caminhando no final do filme: na direção da April e do amor (call me brega, it's the fucking truth).
Se me perguntarem, sempre direi que esse é um filme sobre vulnerabilidade. E sobre como sempre que você está minimamente destroçado, haverão pessoas por aí dispostas a se aproveitar disso pra te destroçar ainda mais.
E não sei se é porque ando numa vibe meio cínica, mas mesmo Teddy e April, que terminam o filme começando um romance, estão fragilizados e caminhando pra iniciar um relacionamento com esperanças de curarem um ao outro.
E qualquer um com mais de 20 anos deve saber que só duas coisas curam as pessoas: elas mesmas e o tempo.
Esse filme parece aqueles times que tem um monte de jogadores incríveis mas no campo não consegue fazer nada. Pra não dizer que não tem pontos fortes, constrói bem o clima de desesperança e inevitabilidade do desfecho trágico que se aproxima dos personagens. Mas, nossa, os diálogos parecem todos muitos forçados
e os estereótipos das personagens femininas centrais dão nos nervos (Cameron Diaz como a mulher traiçoeira, que faz o que puder pra chegar aonde quer, e Penélope Cruz como a donzela amada que desconhece os podres do seu príncipe e depois paga por isso)
Demorei bastante de ver esse filme porque na minha cabeça tava fadado a ser menos interessante que o primeiro (que a nível de enredo me surpreendeu) e não é que achei legal? As personagens se desenvolvem bem
A trama prende, sem sombra de dúvidas, e tira leite de um elenco é limitado - no mínimo, mal aproveitado. Dave Franco e Eisenberg estão em personagens bem medianos, e Isla Fisher parece ser a Amy Adams da semana. O jeito como cada passo dos Cavaleiros parece tão surreal é encantador, mesmo. E o midfucking do final, WOW, hahahaha.
A insistência em certos estereótipos de gênero irrita - a ilusionista que ainda é vista como mera assistente, a detetive que é a primeira suspeita quando surge a possibilidade de haver um espião na equipe de investigação -,
mas acho que ninguém começa a ver esse filme esperando encontrar o melhor longa de suas vidas.
A sinopse me motivou por conta da lacuna de como estaria a superfície após o terremoto. O modo como abordaram o cenário, entretanto, foi decepcionante: tomadas fechadas e pouca visão do cenário que nem mataram minha curiosidade e tampouco a alimentou.
As cenas de estupro desnecessárias e a unidimensionalidade dos fugitivos me irritou - afinal, houve um terremoto e aquelas pessoas tem famílias, como a preocupação de nenhum deles é encontrar sua família e protegê-la?
Pensei em dar meia estrela, mas uma reflexão positiva me ocorreu.
O começo do filme pinta todas as personagens como irritantes e cheguei em algum momento a me animar com o fato de que invariavelmente quase todo mundo ia morrer, mas o desenrolar da história te leva a realmente sentir muito pelas desgraças que acontecem. No final das contas, todo mundo tem direito à vida.
Sob a Pele
3.2 1,4K Assista AgoraQue pancada. Pelo que conhecia do argumento do livro que deu origem ao filme, imaginei que Glazer ia aproveitar esse pulo pra mergulhar em diversas questões humanas e sociais, com essa ênfase incrível nos gêneros e na misoginia. O que eu não esperava é que esse mergulho fosse tão profundo.
O jogo do filme é completamente sensorial e simbólico. A falta de explicações sobre os corpos, os motoqueiros e o contexto da personagem da Johansson fazem parte disso, é o que leva a metáfora original para a seara dos sentidos
: a atração que Isserley exerce nos homens ganha aqui mais nitidamente os contornos da atração por um idealizações irreais e inalcançáveis do que da fatalidade do desejo masculino; a ação da lama negra entrega as intenções destruidoras dos homens que desejam essa ~perfeição~ mais do que se expõe como uma ferramenta de um processo de produção de disfarces para uma invasão alienígina em execução; o processo de "esvaziamento" que os homens sofrem na lama afirma o quanto o sexo é frequentemente o único caminho para se alcançar o que existe no âmago da intimidade masculina mais do que se coloca como forma de obtenção dos disfarces humanos; o jogo de sedução que a alienígena desenvolve é mais uma constatação da natureza performática (logo artificial) da atração sexual, mais do que uma estratégia de caça (principalmente quando a atuação da Johansson aqui é sensacional); o ~~perdão~~ ao rapaz que tem síndrome de Proteu se torna muito mais uma questão de compaixão e indentificação com sua condição de não-pertencimento ao corpo (e as decorrências sociais de ser aquele corpo) do que de inutilidade de sua pele como disfarce para outros alienígenas; o ~~despertar~~ de Isserlay para emoções que passa a acessar a medida que passa a ver além do inicial estranhamento indiferente que tem pelo mundo ao seu redor praticamente grita como analogia ao início de uma percepção do lugar social das mulheres no mundo misógino que vivemos; a lágrima no rosto da mulher de quem Isserlay pega as roupas, a primeira "caçadora", é o grito reprimido de quem se recusou a continuar um jogo cruel que mais lhe prejudicava que favorecia - tanto metaforicamente, como mulher, quanto literalmente como alienígena.
Sob o olhar da alienígena recém-chegada à Terra, Glazer cria oportunidade de problematizar o cotidiano nessa experiência cinematográfica.
A cena em que Isserlay está no carro, ouvindo no rádio sobre a morte por afogamento que havia acabado de presenciar... e 2 segundos depois já está se falando sobre a importância política do ano para a Escócia é um exemplo disso: aonde foi parar nosso senso de prioridade, que faz com que a destruição de uma família sequer nos comova? O momento em que a alien vai fazer compras de itens de beleza e vê mulheres fazendo tratamentos cosméticos é uma afirmação categórica da feminilidade como invólucro da humanidade das mulheres, um disfarce forçado tanto quanto a pele humana de Isserlay e que serve pra manter longe das vistas o que existe de verdade dentro delas. Sensacional.
"Under The Skin" só não me agradou mais porque exige um conhecimento prévio sobre a obra que originou o filme para que suas mensagens sejam realmente efetivas, e isso é um grande problema pois abre a possibilidade de alguém assistir o filme e apreender metade da experiência - o que seria uma perda irreparável. E é foda, porque a galera que vai atrás desse filme só pra ver a Johansson pelada, é justamente quem precisaria compreender mesmo toda a narrativa pra, talvez, sair do filme sendo uma pessoa melhor do que era quando ele começou.
John Carter: Entre Dois Mundos
3.2 1,6K Assista AgoraVi o filme pelo Taylor Kitsch, admito. E me surpreendeu positivamente. Digo, não é uma aula de profundidade, mas é bastante divertido.
Agora, sabe uma coisa que sempre me chama atenção? Cê vai pra marte, encontra até alienígenas de quatro braços, mas nenhuma pessoa negra. Engraçado, isso, rs.
This Isn't Funny
3.2 1Se todo atropelamento de cicilista terminasse em amor, São Paulo seria um cidade muito mais legal.
Falando sério, "This Isn't Funny" é um filme bacana sobre adultos aprendendo a agir, de fato, como adultos. E as piadas são bem legais, hahaha. Bacana como quebra com estereótipos racistas com o personagem Ryan (e até faz piada disso, quando o Russ encontra eles na loja de sucos). E, meudeus, como vivi tanto tempo sem Katie Page e Beth Stelling na minha vida? <3
Circle
3.0 681 Assista AgoraUma sala, 50 pessoas: é disso que "Circle" precisa pra manter quem assiste ligado até o final. O ditado diz que "a ocasião faz o ladrão", mas aqui ela faz é uma leva de assassinos, que escondem atrás dos motivos mais torpes possíveis seu desejo egoísta de viver em detrimento de outra pessoa. E o final foi legal, mas acho que explicou mais do que deveria
- pra mim, ficaria sensacional se no final morresse todo mundo mesmo. A mensagem ia ficar mais impactante, "não importa o que você faça, no final da história todo mundo morre".
Aquela saída do cara, ele indo ficar no meio de um outro grupo... pelo visto, essa invasão alienígena é inevitável e aquele cara sacou que não há como sobreviver fugindo daqueles jogos, então ele se infiltra em todos os grupos e manipula eles pra que no final fique somente ele, 1 criança e 1 mulher grávida (haviam essas duas pessoas também no grupo que ele chegou, no final). A questão que fica é: ele já havia feito isso antes daquele grupo ou começou ali?
Ouija: O Jogo dos Espíritos
2.0 983 Assista AgoraSempre fui um forte opositor à ideia de que existem filmes que você assiste ~~com o cérebro desligado~~, porque acho que se você apertar dá pra fazer suco de tudo (até de coisas que parecem pouco suculentas). Ouija me fez reconsiderar essa certeza. Não é o pior filme do mundo e não falha isso tudo no que pretende construir: tem o grupo de amigos unido em um mistério sobrenatural, tem as cenas de burrices, tem as mortes anunciadas, todos os principais clichês que o gênero consolidou nos últimos 20~30 anos (até a reviravolta do final, mas aqui sendo mais previsível do que devia). É legal pra ver na tarde de um feriado, tomando umas cervejas e rindo, rs.
Entertainment
2.7 10A discusão sobre a fronteira entre arte e entretenimento é antiga, mas cada vez mais inchada pelo tanto de conteúdo que consumimos hoje. Alverson apresenta sua visão dessa questão logo na segunda cena do filme: um palhaço dançando, pulando de uma mesa pra outra enquanto é aplaudido por presidiários - taí sua definição de entretenimento, é justamente o contrário disso que "Entertainment" entrega.
Os espetáculos de Neil vão ficando cada vez mais depressivos, o filme vai sendo preenchido cada vez mais pelo vazio e o mais impactante é que muito pouco disso é dito, escrito de qualquer jeito. Sendo sincero, fiquei o tempo todo tentando ~~ler~~ o filme, só pra perceber que ele pede justamente o contrário. A dificuldade que Neil tem pra cativar sua audiência é a mesma que tem pra se relacionar com pessoas, de realmente alcançá-las. O fracasso do comediante é o fracasso da comunicação.
E é aí que Rick Alverson se posiciona no debate: o entretenimento seria essa fuga boba do mundo, da vida, e arte é o que ele tenta fazer aqui, ao incomodar, cutucar, muitas vezes sem dizer uma palavra. E por isso tantos tapas na cara. A corrida pro oeste fez os EUA crescerem? Veja o vazio que ela deixou pra trás. Road movies são filmes sobre descobertas e acontecimentos? Então encare a monotonia homogênea que Neil descobre. Histórias são legais por nos oferecerem oportunides de catarse através de personagens fictícias? Aceite a lacuna que fica pairando sobre a relação do protagonista com sua filha (sobre a própria existência ou não dela). A afirmação estética, o peso dado à forma na comunicação das mensagens (em detrimento da narrativa, dos diálogos, etc), tudo isso faz desse filme uma puta afirmação cinematográfica.
Não há uma escalada na narrativa, não há clímax. "Entertainment" abusa da ironia pra entregar sua mensagem, e faz isso da mesma forma direta e sem rodeios que a vida faz com a gente. É impossível não se incomodar com isso, é verdade. Seguindo a lógica do filme, se a risada é a comprovação do entretenimento, o desconforto só pode ser o resultado legítimo da arte. E eu posso até não concordar tanto com isso, mas esse filme é um baita de um argumento.
Uma Noite de Crime: Anarquia
3.5 1,2K Assista AgoraQuando soube do argumento do primeiro filme, acho que, no fundo, eu esperava o que o DeMonaco entrega aqui, no segundo filme. O universo dessa sociedade criada pelos Novos Pais Fundadores, a importância do expurgo pra manutenção de um status quo, tudo é bem trabalhado nesse filme, mas sem bombardear quem assiste com muita informação. Isso é bacana porque deixa a crítica social que move o filme mais afiada
: assim como em The Purge, no nosso mundo o Estado é o maior promotor e financiador da violência urbana (na vida real é ainda pior, porque eles nem se dão ao trabalho de legalizar isso e se dão o privilégio de passar por cima das leis). Pra que fique ainda mais certeira só precisava colocar aqui o papel das corporações, das grandes empresas que lucram com tudo isso e que movem os peões da política.
principalmente a narrativa de perdão e recuperação do personagem do Frank Grillo e do cara que matou o filho dele.
Uma Noite de Crime
3.2 2,2K Assista AgoraHistórias futuristas são sempre um ótimo jeito de pegar algum ponto da nossa sociedade e tentar responder aquela velha pergunta: "aonde vamos parar?". The Purge pega a sanguinolência típica desse ocidente desigual em que vivemos e leva à enésima potência com a ideia do expurgo anual. A proposta de focar a história em uma família tentando sobreviver de primeira me parecia subaproveitar um argumento cheio de potencial, mas acabou na verdade fazendo um bom desenvolvimento. A família em questão tem sua riqueza baseada justamente na existência do expurgo e do medo generalizado que existe nessa noite: o personagem do Ethan Hawke é justamente um vendedor de sistemas segurança.
É interessante a mensagem esperançosa do final do filme: o pai, que vive de fomentar o expurgo, morre; seu filho salva uma pessoa que estava sendo perseguida por expurgadores, e sua esposa se recusa a matar a vizinha que vai à sua casa expurgar, renegando a atividade familiar. Uma forma curiosa de propor uma superação individual à essa babárie coletiva.
Homem-Formiga
3.7 2,0K Assista AgoraPaul Rudd no comando e assinando o roteiro, junto com Edgar Wright e companhia limitada? Taí uma combinação que não tinha como dar errado. Divertídissimo o filme, boas cenas de ação na apresentação desse personagem que deve ainda ser bem utilizado no Marvel Cinematic Universe.
Confesso que o que mais deixava apreensivo com o filme do Homem-Formiga era que tipo de profundidade seria trabalhada nele, já que ele é realmente um cara bem ambíguo. O foco na recuperação da proximidade com a filha caiu muito bem nesse primeiro filme, e tem tudo a ver com a nobreza que a Marvel tem empregado nas apresentações de seus personagens.
Star Wars, Episódio VII: O Despertar da Força
4.3 3,1K Assista AgoraGostei do filme, mas acho que fiquei decepcionado por esperar que J. J. Abrams desse a essa continuação a profundidade que deu aos personagens de Star Trek. Na ânsia de se manter fiel ao estilo e não provocar a ira dos fãs (que definitivamente não reagem bem a certas mudanças narrativas, como mostra a relação negativa que tem com a segunda trilogia) o filme ficou raso - o que é coerente com a franquia, mas destoa do que são hoje as grandes franquias de blockbuster, que misturam a ação empolgante com um desenvolvimento aprofundado de personagens que faz com que vilões sejam mais amados que temidos. O alívio é que o filme deixa pontas soltas pra dar esse mergulho dentro das personagens nos próximos episódios... ou nos prováveis 579 milhões de produtos spin-offs que devem ser lançados até 2017, rs. E, putz, sensacional ter uma mulher e um cara negro como personagens principais, mesmo. Isso sim é um baita sinal dos tempos <3
Três Lembranças da Minha Juventude
3.7 11 Assista AgoraAcho que todos nós podemos elencar alguns momentos e períodos da vida que definiram tudo que viemos a nos tornar. Esse filme é sobre isso, e sobre como por mais que o tempo passe nós nunca vamos conseguir sair de verdade deles; estamos sempre lá, revivendo, pensando em todos os "e se...?" e como aquele passado longínquo ainda se faz presente em cada decisão cotidiana que tomamos
- no caso de Paul, a loucura da mãe e o amor das tias avós definiram a forma como lidaria com a sexualidade no futuro; as surras do pai, a disciplina com que se voltaria para os estudos; a viagem à Rússia fica como um souvenir mental do que ele é capaz de fazer pelas causas que acha corretas; e a relação com Esther, um exemplo de como é capaz de estragar até a mais bela das coisas.
Não sabia da relação direta com "Como Eu Briguei (Por Minha Vida Sexual)", mas é uma sequência bem peculiar, pois só descobri depois de ver o filme e não acho que isso tenha atrapalhado minha experiência, sinceramente. Filme bacana, me deixou com vontade de ver mais coisas do diretor e, principalmente, ver os estreantes Quentin Dolmaire e Lou Roy Lecollinet trabalhando mais.
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
3.8 3,4K Assista AgoraQuando soube do que se tratava o filme, pensei "vai ser chato". Quando vi que ganhou Oscar, senti "vai ser fraco". Ás vezes é uma maravilha estar errado. Birdman sai distribuindo as pancadas que precisam ser dadas, tanto na indústria do entretenimento quanto na galera que anda por aí se considerando os últimos bastiões da arte.
Diferente de um monte de gente que falou aqui, não consegui ver crítica aos atores de filmes super-heróis no filme, muito pelo contrário: a presença do Norton e do Keaton colocam o dedo bem direitinho na cara de quem reduz o artista a esse tipo de personagem. Aliás, o metadiscurso embasado na presença dos dois é maravilhoso, porque brinca com estereótipos que ambos os atores enfrentam em suas carreiras: Norton, o de ser uma ~~primadonna~~ e querer mandar em todos os seus projetos; Keaton, de ser sempre ~~aquele cara que fez o Batman~~. A resposta eles dão na tela.
Mas há, sim, crítica aos filmes de super-heróis, e a como supostamente afastam os artistas de uma suposta real ação artística (o próprio Iñarritu afirmou em entrevista de divulgação de Birdman que considera esse tipo de filme uma forma de promover "genocídio cultural), o que evoca a velhíssima discussão da fronteira entre arte e entretenimento. Aqui eu me coloco diametralmente em oposição à Iñarritu e a lógica de que somente o incômodo traz reflexão. Acredito que esse paradigma pode até ter sido verdade em algum momento, mas não mais. Talvez tenha a ver com minha trajetória particular, quem sabe?
A parte mais "universal" do filme, com que qualquer pessoa pode se relacionar, entretanto, é a mais direto e, ao mesmo tempo, dolorosa: todos queremos ser amados, mas o quanto estamos fazendo de fato pra isso? A distinção entre amor e admiração existe mesmo? Como pergunta o título da peça montada pelo Riggan, "do que estamos falando quando falamos de amor"? A resposta pra isso tudo fica aberta. Até porque se existisse uma resposta universal pra isso, duvido que o Iñarritu fosse estar fazendo filmes, rs.
Vingadores: Era de Ultron
3.7 3,0K Assista AgoraQuando esse filme foi lançado, eu corri pra longe dos cinemas. Nada contra super-heróis, muito pelo contrário. O lance é que eu tava cagado de medo dessa porra ser apenas um ~~reloaded~~ do primeiro filme, cheio de piadas ruins, show off e fanservice. E, bom, não é que esses três elementos não estejam presentes, tão lá do começo ao fim. Mas ele traz o que vem sendo a marca nesse segundo ciclo de filmes da Marvel: profundidade.
Ultron veio ao mundo pra lembrar que a diferença entre veneno e a cura é simplesmente a dose. E a simples existência cria UM MUNDO AINDA MAIOR em cima de Stark e Banner, os cientistas malucos cheios de demônios interiores (um que vira um monstro e sai destruindo tudo sem controlar-se, o outro que cria todos os seus próprios problema misturando um pouco de egocentrismo, boas intenções e bastante irresponsabilidade). A relação de negação que o bicho tem com Stark, a propósito, parece ser a chave de todo mundo ter amado esse vilão: noves fora o discursinho niilistaciamente misantropo que tá na moda desde o sec. XIX, a audiência do filme se encontra toda nesse mesmo dilema. Visão e Ultron tem muito a render se a Marvel souber (e quiser) vender eles direito.
Natasha tá sensacional nesse filme. Olhar pra dentro dela como personagem é uma maravilha. A relação dela com o Banner tem potencial demais, não apenas como casal, como pessoas que se entendem, sabe? É um bom artifício narrativo, dá pra explorar muito. A Marvel precisa fazer um filme dessa personagem, por favor. Ou então dar um papel mais central à intimidade dela, como fez com o Clint aqui. Preciso dizer que o olho encheu de lágrima com a postura "pai de família" dele, em casa e no trabalho. A conversa dele com a Feiticeira Escarlate durante a batalha é daquelas falas que dá pra imprimir e emoldurar, ainda mais pra uma geração que lida com suas fraquezas mais compartilhandoi coisas depressivas nas redes sociais do que de fato tentando superá-las (eu incluso aqui, rs).
Vejo que a galera que mais bate no filme critica uma suposta superficialidade das coisas, do enredo, etc. Minha sugestão: olhe de novo. Mas, dessa vez, tire a trava dos olhos.
Homem de Ferro 3
3.5 3,4K Assista AgoraA maior parte das pessoas parece ter detestado o filme. Eu já acho que ele cumpriu seu papel de baixar a bolinha do Tony Stark e nos apresentar um ser humano de verdaaaaade, sabe? O segundo filme já caminhava pra isso, mostrando a relação do Tony com seu pai, mas é nesse que a gente vê um cara desgraçadíssimo da cabeça ao perceber que tá no meio de uma treta muito maior do que seu ego. Não é o melhor filme da franquia (o primeiro se mantém inabalável no topo), mas já indicava a guinada ~~humana~~, contraditória e pesada que a Marvel imprimiria em seus heróis nos próximos filmes.
45 Anos
3.7 254 Assista AgoraQuando li a sinopse, pensei que o grande dilema que a personagem principal enfrentaria seria a dúvida entre prosseguir ou não com a ideia de festa pro aniversário de casamento, tendo que escolher entre se sentir realizada com a comemoração ou ser solidária ao luto do marido. Por sorte, eu estava profundamente enganado.
E o mais legal do filme, ao meu ver, é como as emoções da personagem masculina, dentro da narrativa do filme, funcionam menos em prol dele mesmo, e mais em prol de desvendar a vida da Kate. A semana de choque de Geoff é intensa e é bacana ver como ela o leva a refletir sobre a importância de Kate na sua vida. Mas ver a declaração dele naquela cena final é só um passo pra que o último da Kate ganhe ainda mais força. É duro perceber que ela, na verdade, foi o ~~tapa-buracos~~ da Katya na vida dele - sendo a Mrs. K. Marcer, seu desejo de não ter filhos que casava bem com a perda que ele havia sofrido, sua aversão a fotografias que era uma boa muleta pro medo de lembrar que o Geoff tinha. E a interrogação sobre o quanto daqueles 45 anos ela foi realmente amada é, realmente, aterrorizante.
E é irônico pensar que se o Geoff tivesse jogado aberto desde o começo, eles teriam ficado juntos do mesmo jeito, com a diferença positiva de o diálogo ter o potencial de ajudá-lo a lidar com a dor da perda, que ele suplantou por tanto tempo.
Hipócrates
3.4 33Todo mundo repete , o quão importante é "fazer a coisa certa".... mas geralmente esquece de falar dos obstáculos que existem pra quem tenta fazê-la.
"Hipócrates" leva quem assiste a pensar sobre isso enquanto conta a história de um jovem interno de um hospital francês simples, às voltas com problemas de rentabilidade. E nisso toca em pontos bem cruciais e problemáticos da carreira médica: as péssimas condições de trabalho, o nepotismo, o corporativismo e a perda da noção de que, no final das contas, o que está em jogo são vidas humanas que valem mais do que carreiras ou egos.
Uma coisa que me surpreendeu bastante foi a personagem Abdel. Entra na história dando a impressão de que se trata de um antagonista, que vai rivalizar com o jovem protagonista e se diz disposto a fazer qualquer coisa para se consolidar na carreira... mas seus firmes princípios e sua entrega à profissão o impede de efetivamente se integrar aquela prática cotidiana viciada. O fato do personagem ser argelino é um ponto muito positivo também, afinal a islamofobia e a xenofobia são realidades odiosas na França e ver um personagem estrangeiro assumir um papel central e exemplar em um filme que trata justamente de uma categoria historicamente privilegiada é um sinal dos tempos.
O filme é bem bacana, e a jornada de amadurecimento de Benjamin ao ser confrontado com a vida real é algo que, em certa medida, deve apelar a todo mundo que tá nessa fase da vida, também. Apelou a mim, pelo menos, rs.
A Colina Escarlate
3.3 1,3K Assista AgoraGuillermo Del Toro, Edgar Allan Poe e Hideo Nakata entram num bar.
É uma piada ruim e também uma forma de explicar o que compõe "A Colina Escarlate".
Eu sei que a ideia desse filme começou a tomar forma logo depois d'O Labirinto da Fauno, mas é impossível não relacionar o resultado final com a experiência do Del Toro em Pacific Rim: ali ele sintetizou toda a tradição do subegênero japonês "mechas protegendo o mundo dos aliens" em um filme divertido, com personagens carismáticos e uma história cheia de camadas. Aqui, os ingredientes da sopa são duas das tradições mais populares quando se trata de terror - o romance obscuro gótico do começo do século XX (que formou justamente os clássicos, como o Drácula que consagrou Bela Lugosi) e o terror sobrenatural japonês do começo do XXI, trazendo seu neogore debaixo do braço.
Enquanto assistia o filme, imaginei que veria muita gente reclamando dos clichês. Mas, gente, essa é justamente a graça! A forma como o mistério é revelado primeiro pra audiência, e só depois pras personagens que estão buscando revelá-lo é clássica, assim como as tomadas ~~investigativas~~ do Charlie Hunnam, ou a vilã maquiavélica da Jessica Chastain, e até mesmo o Thomas Sharpe, trazendo aquele tropo do golpista que se apaixona pela vítima e se arrepende (tão antigo que tá lá no cânone da literatura brasileira n'A Senhora, de José de Alencar). A forma como as cenas se fecham em alguns momentos, destacando itens chave para o desenrolar do enredo, também é algo clássico. O gore tá ali, junto com os sustos. E a originalidade do Del Toro tá em amarrar tudo isso com aquilo no que é especialista: técnica visual impecável, mixagem de som perfeita nos sentimentos que pretende despertar e, claro, a postura de desbravamento e respeito ao saber desconhecido que costuma defender em suas obras de fantasia.
AGORA, precisamos falar: a forma como o filme entrega sua proposta metafórica logo no começo não é legal. "Ah, Júlio, o pessoal costumava fazer isso lá na década de 30", eu sei, sei. Mas, poxa, dá pra fazer uma homenagem e adaptar ao mesmo tempo, vai?
Enfim, não é o melhor filme do mundo. Mas é muito legal ver uma história se desenvolver em ritmos diferentes, homenageando os grandes marcos do gênero em que se insere. Del Toro, você arrasa <3
P.S.: OBRIGADO, DEUS, PELA BUNDINHA DELICIA DO TOM HIDDLESTON <3
Grace de Mônaco
3.0 240 Assista AgoraUltimamente tenho redescoberto o prazer de assistir filmes sem pesquisar antes um pouco sobre eles. Resultado: entrei no cinema esperando ver um daqueles filmes sobre mulheres que abrem mão de seus sonhos em prol de um casamento pra depois se arrependerem, me deparei com um drama pessoal e político surpreendente.
Agora, vou te contar: Nicole Kidman, puq vc fas isu? Fora a cena inicial, em que dá uma sambada GOSTOSA na cara do Ministro das Finanças francês, ela simplesmente só consegue convencer como Grace nos momentos em que a personagem está bancando a ~boneca~ que se esperava que ela fosse. Os momentos mais humanos, de força e fraqueza, de dúvida e certeza, se tornam plástico na interpretação de Kidman. A cena do jantar com os líderes europeus, em que a a desconfiança toma Grace, dá agonia de tão forçada. Fico aqui pensando o estrago que a Scarlet Johanson não faria nesse papel, hahaha. Quem arrasa como Rennier é o Tim Roth. Meudeus, que homem.
É muito legal ver jeito que o filme aborda a construção das relações políticas na interseção entre o pessoal e o institucional. E afirmar a importância de Grace pra costurar paz em um momento de crise política tem tudo a ver com o crescimento visível do poder dos movimentos de mulheres ao redor de todo mundo: é dizer que as mulheres brasileiras contra Cunha e as indianas que fazem tropas urbanas para previnir estupros fazem parte de uma história que não começou hoje, mas que não costuma ser muito contada por aí.
Bem legal. Curti :)
Garota Exemplar
4.2 5,0K Assista AgoraEssa galera pós-moderna, relativista ao extremo, que me perdoe, mas sou um partidário da verdade. Acredito que existe, sim, uma verdade concreta, objetiva, factual a respeito das coisas (e, ingenuamente, até valorizo demais a bendita). O ponto é: o fato dela existir não quer dizer que podemos alcancá-la em última instância. É nisso que "Gone Girl" se sustenta.
Eu não tô falando que a verdade do que rolou entre Amy e Nick é inalcancável, ela é bem concreta, palpável e demonstrada -
a graça da história até certo momento é justamente o desvendar dessa verdade.
Mas será que alguém é capaz de traçar a linha que separa o sofrimento da satisfação
no jogo de interpretar em que o casal de protagonistas se envolve no final, desafiando o outro a ser a melhor versão de si que for capaz
Palo Alto
3.2 429Talvez eu tenha achado o filme legal justamente por ter começado a assistir com as expectativas bem perto de zero - afinal, é o quê que Gia Coppola quer fazendo filme, plmdd, ainda mais adaptando um livro de contos do James Franco?
Tapa na cara, chute no estômago. "Palo Alto" faz questão de jogar fora todo discursinho sobre "geração y, a geração mais preparada" pra dizer que se você tira a Internet dessa galera, o que sobra é vazio e desgraçamento de cabeça. E abuso, muito abuso. A forma como os abusos ditam cada uma das relações presentes no filme é gritante e assustadora, principalmente por ser um lance bem real.
(Parênteses pra dizer que: foi legal ver a associação entre "sofrer abusos" e "praticar abusos" que o roteiro construiu, principalmente na personalidade do Fred, mas foi nojento o modo como a Emily parece só estar no filme pra isso. No final a gente vê ele dirigindo na contramão sem ter pra onde e ir e ela some logo depois de dar a garrafada nele. Foda que é bem assim que a sociedade lida com abusos sexuais na infância/adolescência, né? Se é um cara quem sofre, coitado, isso vai destruir a subjetividade dele, ele vai ser uma pessoa problemática; se é uma guria, bom, talvez ela estivesse até gostando, dirão os malditos).
Mas, bem, como o grosso do roteiro é do James Franco, não podia deixar de ter merda, não é mesmo?
A relação da April com a família é colocada na tela de modo a você se ver muito puto com a mãe dela por não perceber como ela tá fudida, quando, hey, ela tem um padrasto que também não tá nem aí e nem ouvimos falar do pai dela. Isso é bem misógino, é dar um jeito de culpar a mulher sempre, mesmo quando a tônica de todas as relações familiares no filme é a ausência e o esquema do "don't ask, don't tell". E é interessante ver como a única família que parece fugir ~~um pouquinho~~ disso é a do Teddy, a gente vê a mãe apoiando ele depois da audiência em que é condenado a prestar serviços comunitários... e vemos também a importância disso, já que no final das contas ele é o único de todos que parece saber pra onde está caminhando no final do filme: na direção da April e do amor (call me brega, it's the fucking truth).
Se me perguntarem, sempre direi que esse é um filme sobre vulnerabilidade. E sobre como sempre que você está minimamente destroçado, haverão pessoas por aí dispostas a se aproveitar disso pra te destroçar ainda mais.
E não sei se é porque ando numa vibe meio cínica, mas mesmo Teddy e April, que terminam o filme começando um romance, estão fragilizados e caminhando pra iniciar um relacionamento com esperanças de curarem um ao outro.
O Conselheiro do Crime
2.4 584Esse filme parece aqueles times que tem um monte de jogadores incríveis mas no campo não consegue fazer nada. Pra não dizer que não tem pontos fortes, constrói bem o clima de desesperança e inevitabilidade do desfecho trágico que se aproxima dos personagens. Mas, nossa, os diálogos parecem todos muitos forçados
e os estereótipos das personagens femininas centrais dão nos nervos (Cameron Diaz como a mulher traiçoeira, que faz o que puder pra chegar aonde quer, e Penélope Cruz como a donzela amada que desconhece os podres do seu príncipe e depois paga por isso)
Thor: O Mundo Sombrio
3.4 2,3K Assista AgoraDemorei bastante de ver esse filme porque na minha cabeça tava fadado a ser menos interessante que o primeiro (que a nível de enredo me surpreendeu) e não é que achei legal? As personagens se desenvolvem bem
e dá muita raiva do Loki de ter acabado com nossas chances de amá-lo, hahahahaha
Truque de Mestre
3.8 2,5K Assista AgoraA trama prende, sem sombra de dúvidas, e tira leite de um elenco é limitado - no mínimo, mal aproveitado. Dave Franco e Eisenberg estão em personagens bem medianos, e Isla Fisher parece ser a Amy Adams da semana. O jeito como cada passo dos Cavaleiros parece tão surreal é encantador, mesmo. E o midfucking do final, WOW, hahahaha.
Tem umas coisas que incomodam.
A insistência em certos estereótipos de gênero irrita - a ilusionista que ainda é vista como mera assistente, a detetive que é a primeira suspeita quando surge a possibilidade de haver um espião na equipe de investigação -,
Também fiquei bolado sobre o final e a curiosidade que fica a respeito do que acontece quando eles finalmente entram na sociedade secreta!
Aftershock
2.5 297A sinopse me motivou por conta da lacuna de como estaria a superfície após o terremoto. O modo como abordaram o cenário, entretanto, foi decepcionante: tomadas fechadas e pouca visão do cenário que nem mataram minha curiosidade e tampouco a alimentou.
As cenas de estupro desnecessárias e a unidimensionalidade dos fugitivos me irritou - afinal, houve um terremoto e aquelas pessoas tem famílias, como a preocupação de nenhum deles é encontrar sua família e protegê-la?
Pensei em dar meia estrela, mas uma reflexão positiva me ocorreu.
O começo do filme pinta todas as personagens como irritantes e cheguei em algum momento a me animar com o fato de que invariavelmente quase todo mundo ia morrer, mas o desenrolar da história te leva a realmente sentir muito pelas desgraças que acontecem. No final das contas, todo mundo tem direito à vida.