Após praticamente criar o subgênero dos zumbis e com ele um excelente filme de sobrevivência e horror com pouquíssimo dinheiro (Noite dos mortos vivos); e explorar e aprofundar os conceitos e subtextos na continuação (Madrugada dos Mortos); Romero fecha perfeitamente sua trilogia de zumbis com outro clássico.
Aqui, ele dá um passo para trás e tenta, ao invés de simplesmente explorar a luta pela sobrevivência e aquilo que ela gera, abordar os conceitos mais filosóficos e éticos sobre a questão, bem como suas consequências a nível psicológico e social. Então por boa parte do filme, o que temos não é escatologia e tiros, mas sim, diálogos afiados e situações de tensão sufocada, que gradualmente vão se agravando até cominar no final grandioso que usa de todos os recursos possíveis ao orçamento para criar as mais violentas e divertidas cenas entre os três filmes.
É interessante ver como os três filmes conseguiram abranger todas as possibilidades temáticas que o gênero permite. No primeiro, as questões básicas: medo, família, estupidez humana, homicídio, sobrevivência... No segundo, o tema é ampliado de uma casa para um shopping, explorando mais o lado divertido desse universo, as possibilidades de sobreviver nele, bem como criticando o consumismo e introduzindo o mais clássico plot do gênero: "no Apocalipse zumbi, os humanos são piores que os monstros..."
E finalmente, no terceiro filme, a trilogia se conclui de uma maneira mais intimista e analítica. É possível curá-los? Caso não, é possível conviver com eles? Valeria a pena lutar por isso? Todos os personagens, até os mais detestáveis, tem boas motivações, impulsionadas por fortes atuações e um roteiro inteligente. Os únicos problemas do filme pra mim são, primeiramente, a transição do segundo pro terceiro ato, que é literalmente feito em um corte, abrupto e apressado, que acaba por diminuir muito a capacidade dramática do clímax. Em segundo, a conclusão é um pouco otimista demais para todo o caráter fúnebre do resto do longa. A trilha sonora oitentista também datou um pouco a obra.
Infelizmente o filme depende de algumas conveniências um tanto absurdas para se sustentar; não vou me aprofundar e dizer quais são, mas basta pensar na trama alguns minutos para encontrar inúmeros furos difíceis de serem ignorados.
Mas sou disposto a aceitar coisas assim, se aquilo que o filme me oferecer em troca valer a pena. E aqui, definitivamente, vale! Atuação emblemática de Vincent Price, em uma atmosfera de terror e suspense que fica melhor a cada momento, além de um plot sensacional que já te prende na primeira cena. Uma pequena pérola do terror clássico!
Eu me pergunto como alguém em sã consciência pode gostar desse pedaço substancial de merda. Sinceramente, um dos piores filmes que já vi na vida. Nos primeiros 15 minutos eu já estava pensando "Caramba, que roteiro bagunçado! Mas ok, deve estar preparando terreno pro desenrolar da comédia". Ledo engano. Todos os elementos secundários que deveriam ser semi-relevantes em qualquer comédia, são elevados ao patamar de protagonismo, enquanto Peter Sellers nada mais é que um coadjuvante esquecível e com poucos, ou nenhum, grande momento.
Ok, então como comédia o filme é um fracasso, mas sobra algo disso? Bem, personagens absolutamente detestáveis sendo tratados como se o público tivesse alguma empatia por eles; cenas que deveriam durar 3 minutos sendo alongadas por 15... Sério, o que é aquela cena da princesa bêbada? Não só é um puta desserviço com a personagem reduzir ela a uma amante de um vilão merda, como é insuportável. Dura quase 20 minutos de um diálogo enfadonho sem graça nenhuma.
A única coisa que salva é a trilha sonora. De resto, que porcaria!
Há tanta coisa boa para ser destacada aqui! Creio que o primeiro ponto que chama atenção, até mesmo aos leigos, é o visual. Há uma preocupação estética impressionante aqui; tanto nas composições e cenários, quanto nos enquadramentos precisos do diretor.
Cada cena podia ser um quadro; cores vibrantes e carnavalescas, figurinos extravagantes e luxuosos... Mais impressionante que o uso sábio da paleta, só o fato de ser uma escolha um tanto inconvencional para uma obra de horror, e ainda assim funciona perfeitamente.
O roteiro não fica atrás do visual; as três histórias são repletas de tensão, e são ordenadas em uma crescente de terror e sobrenatural; indo de uma simples trama neo-noir, até um clássico conto fantasmagórico; e entre eles, um excepcional drama familiar envolvendo vampiros. Recomendo para todos os gostos! De fãs de cinema clássico até os que só buscam se divertir por uma hora e meia.
Um terror psicológico sobre solidão, introversão, pressão social e trauma; mas acima de todos as intertextualidades e camadas, o que chama atenção é a fantástica direção que o filme apresenta.
Cheio de tomadas completamente fora dos padrões da época, uma trilha sonora atmosférica e inquietante, ótimas atuações e um surrealismo que contribui para os significados do longa. Uma pequena pérola do gênero!
O filme é excelente em tantos pontos: A criação de tensão, o uso do ocultismo na história, o personagem do Christopher Lee (como sempre brilhando em sua performance), o vilão ameaçador e enigmático, além de vários momentos memoráveis.
Infelizmente, o filme sofre de uma péssima tendência de só conseguir manter o rumo da trama usando de conveniências ou da estupidez de seus personagens coadjuvantes. Além disso, o final é péssimo. Parece um comercial de margarina, e contraria toda a atmosfera de paganismo e horror que o longa havia construído até então. Uma pena, eu estava amando o filme...
Como é bom ver um documentário sobre Sgt.Peppers que não perde 30 minutos falando sobre a capa e foca mais na criação artística! Contando ainda com as participações de George Martin e George Harrison! O único defeito é que é curto demais e não conseguiu abordar todas as músicas; e também achei a entrevista com o Phil Collins desnecessária.
Um dos piores documentários que eu já vi. O motivo? Primeiramente, foco. O filme não tem foco nenhum, ele só vai jogando histórias sem nenhuma conexão ou fluidez, sem se aprofundar em nenhum e ainda achando que está fazendo um puta trabalho de pesquisa. Sério, tem inúmeros momentos que eu só ficava tipo "O que caralhos essa fala tem a ver com o resto? Foi uma experiência enfadonha, e caramba, são os Beatles! Como você torna um documentário sobre os Beatles ruim? Nem vou entrar no mérito do nome indicar ser sobre Sgt. Peppers quando é bem claro que não é o caso. De todo o filme deve ter uns 5 minutos a respeito do álbum. É até engraçado de tão desesperador que é ver os caras tentando retomar o assunto do álbum dos 3 minutos finais, como se o filme tivesse sido a respeito dele.
É um filme que acerta em muitos pontos, bem como erra feio em outros.
Pra começar pelos acertos, adorei a escolha do foco. É interessante como, por não poderem utilizar as músicas dos Beatles, as cinebiografias deles sempre são algo fora dos padrões formulaicos do gênero. Em "Garoto de Liverpool" vemos mais da relação Lennon/McCartney, bem como a mãe e tia de Lennon; enquanto aqui, temos um insight na vida do enigmático e trágico ex-membro da banda. Trata-se de um personagem fascinante da música pop, que se absteve da banda de maior sucesso da história para focar em sua arte.
Mas aí já temos o erro central do filme: Ele não sabe se quer ser mais um filme sobre os Beatles ou sobre o Stu. Percebam como a narrativa do filme é fragmentada, cortando muito e com muitos momentos que dão a impressão de clímax ou lentidão, sem se conectarem muito bem. Por causa disso não conseguimos nem um filme nem outro. Mal se vê da relação entre os Beatles, o Paul principalmente ta muito deslocado, sem nenhuma profundidade (apesar de terem escolhido um ator perfeito pro papel) e do outro lado, o Stu é bem desenvolvido apenas por blocos de emoções. Perceba que quase nunca acompanhamos a transição de uma persona do Stu pra próxima; o filme alterna entre ele e os Beatles, e quando voltamos nele, ele já está diferente, mas nada disso é muito bem trabalhado.
As performances estão ótimas; pode-se dizer que o John ta babaca demais, mas esse era o John. Todo filme com o John de personagem retrata ele babaca, por que ele era um puta babaca mesmo, apesar de um babaca genial. Mas como já havia dito, o filme não tira o máximo que podia de seus atores, uma direção melhor faria muita diferença. O filme também é muito repetitivo; tocando sempre as mesmas músicas e com umas 10 cenas de sexo totalmente gratuitas.
Minha última reclamação é que, perdeu-se uma oportunidade perfeita de fazer o filme em p&b, pra emular as fotografias da personagem da Lee. São fotografias tão icônicas, teria deixado o filme belíssimo. Também acho que na cena final, os Beatles foram filmados de maneira que os engradece, quando acho que poderiam ter feito a cena como se fossem eles perdendo-se na fama, deixando de ser quem eles eram; afinal um amigo acaba de morrer, mas eles tem que ir lá, dançar, sorrir, gritar e cantar Twist and Shout. Coisas pequenas assim me fazem perceber que o filme tem muito pouco a dizer; sendo o maior mérito da direção a retratação da época, e as cenas que contrapõem a música da banda e as pinturas do Stu; grande sacada.
Você tem que ter muita birra do Adam Sandler pra não admitir que esse especial é excelente. Eu acho a maioria dos filmes dele uma porcaria, mas cacete, esse show foi genial! Tocante, engraçado, divertido... Sem preocupações a respeito de intelectualidade, simplesmente querendo fazer o público rir... Deem uma chance pro bar mitzvah boy!
Simplesmente, a melhor cinebiografia de músico de todos os tempos (sem considerar Amadeus, que é um caso à parte). Ao invés de simplesmente desenvolver uma estrutura narrativa batida que o cinema cansou de produzir (início fracassado - ascensão - decadência - redenção) e que só tem o papel de mostrar os melhores momentos do artista com uma boa trilha sonora e nada mais a dizer (Pastiches como Bohemian Rapsody, e outros melhores como Walk The Line e Ray), o filme decide focar em dois pontos chave da vida de seu protagonista, e destrincha-los em um exemplar trabalho de estudo de personagem.
Somos ainda brindados com a dramatização hiper-realista de como foi a produção de um dos maiores álbuns de todos os tempos (Pet Sounds). Um dos únicos filmes que de fato se aprofunda na dificuldade que é a produção artística e nos bastidores de uma obra-prima. As interpretações são absurdas; Paul Dano e John Cusack em dois dos melhores papéis de suas carreiras, se não o melhor. Ridículo ambos não terem sido indicados a Oscar's, bem como Paul Giamatti e Elizabeth Banks, todos dando um show.
O filme consegue ser íntimo, existencialista, psicodélico, realista, fiel a realidade, cheio de momentos icônicos e ainda entreter. Não tenho palavras, é simplesmente um clássico contemporâneo, e um dos filmes mais subestimados da história. Viva Brian Wilson!
Essa talvez seja a única comédia-paródia da história a conseguir atingir TODOS os filmes relacionados ao gênero escolhido para a sátira. Sério, assista qualquer filme de cinebiografia musical da história, e haverá algum paralelo dele neste filme. Não só por ser um gênero extremamente formulaico e repetitivo, como também pela genialidade dos envolvidos na produção do filme (Judd Apatow é um monstro).
Então, não pensem que esse é apenas mais um besteirol dispensável. É uma das sátiras mais geniais que eu já vi, tanto a indústria da música, quanto ao gênero cinematográfico das biopic's. A quantidade de momentos icônicos é incontável, e incrivelmente, as músicas do filme são ótimas (minha favorita é a canção dos anões). Um clássico da comédia contemporânea, recomendo.
Apesar de ter sido meu filme favorito indicado a categoria, não deveria ter ganhado. Isso porque ele agora vai passar de "filme que ou as pessoas acham legalzinho ou amam" pra "o filme medíocre que tirou o Oscar de Roma e Spike Lee!". Creio que Roma não levou pois queriam dividir os prêmios para não acumular em apenas um, o que sempre fazem. E como, sinceramente, nenhum outro indicado esse ano tinha peso suficiente pra ganhar (o Honest Trailers até fez uma piada com isso, dizendo que não importasse quem ganhasse, seria considerado injusto) acabou ficando com Green book. Mas vamos ao porque de eu ter amado o filme...
Eu sei que vão ter muitos apontamentos a respeito do suposto racismo do filme, o que é extremamente injusto, e o motivo de serem apontamentos injustos, é porque o filme é sobre amizade e construção de caráter mais do que sobre racismo. Sim, a questão racial é o condutor da aventura, mas não é o objetivo nem a essência da história. O filme é, antes de tudo, um road movie; e road movies nada mais são do que uma metáfora para uma mudança de caráter. É desenvolvimento de personagem puro, chegar de ponto A até o ponto B, e no centro disso temos duas performances maravilhosas (Ali ganhou um dos prêmio mais merecidos da noite), dois personagens interessantíssimos e autodescobertas a serem feitas.
Então não há um "White savior" nesse filme. Não é o Tony que salva o Doc. É a jornada que salva a ambos.
Mas não é como se o elemento racial do filme fosse pobre. Ao meu ver, a discussão dos protagonistas no carro a respeito da pobreza e riqueza em virtude da cor da pele, que termina no emocionante e arrebatador monólogo de Doc na chuva a respeito de quando ele desce do palco, volta a ser tratado que nem animal... Meus amigos, essa cena pra mim resume todo o debate racial que temos até os dias de hoje, e demonstra como o estado de espírito de alguém é mais importante que seu status econômico. Vemos nela, que cada pessoa tem uma cruz pra carregar, e não devemos julgar a dos outros, pois não passamos pelas mesmos sentimentos, mas de uma forma ou de outra, todos sentimos, e a cruz do próximo, pode não parecer pesada, mas talvez seja mais do que a sua. Cena sensacional!
Por último, o que mais me fez amar o filme, é a subtrama envolvendo a escritura de cartas. Não só é lindo ver a importância que o filme deu as cartas em uma época onde tudo é mensagem virtual, como todo o processo do Tony tentando cativar sua esposa é de uma verdade fascinante. Sério, o jeito simples que ele escreve as cartas dele, é honesto, bonito, e demonstra como a beleza está mais na sinceridade e amor verdadeiro do que no uso belo da linguagem. Ainda assim, esse fator rende cenas hilárias e lindas poesias que o Doc ajuda-o a compor. Eu poderia ficar o dia inteiro falando o quanto eu amei todas as cenas envolvendo as cartas do Tony, mas acho que já falei o bastante. Para por aqui, e não despreze Green Book apenas por ele não ter "merecido" o Oscar. É um belo filme.
Ótimos personagens e discussão de conflitos (Um homem negro tornando-se policial, uma ativista vendo que as coisas não são tão simples quanto parecem, um judeu sem fé reavaliando suas raízes...) em uma história envolvente e relevante, repleta do estilo cinematográfico de Spike Lee, que aqui homenageia o blackexploitation fazendo do protagonista uma espécie de Shaft com os pés na realidade.
Dito tudo isso, o filme tem dois grandes problemas, um deles é algo que percebo em quase todos os filmes do Lee, o outro é específico de blackkklansman. Sobre o primeiro problema, é a falta de sutileza, bem como a ambiguidade ideológica do Lee; claro, nenhum filme tem obrigação de ser sútil, mas uma coisa é você deixar clara suas mensagens, outra é você inserir elementos mais próximos de uma propaganda no meio do filme. Não estou falando da cena final, que é um ótimo soco no estômago de qualquer um, e ajuda a enfatizar o alerta do filme a respeito do mundo que vivemos hoje ser tão problemático quanto o dos anos 70. Estou falando de cenas como o discurso dos Black Panther's, onde a câmera fica mostrando o rosto das pessoas da plateia.
Aquilo é artificial e tira o espectador do filme, e parece estar dizendo que tudo aquilo que o discurso diz é a verdade única e simples que o Lee está tentando apontar; e isso entra em contradição com os subtextos que o próprio Lee trás pra história.
Aqui entra a parte da ambiguidade do diretor; em todo filme ele parece não ter se decidido se é um radical ou um pacifista, e alterna entre cenas que dizem "olha como você deve respeitar o próximo" para outras que dizem "Fuck police come straights from the underground!". Note que eu não estou criticando uma visão ou a outra, pois estou apenas analisando o filme, não suas mensagens. O problema dessa ambiguidade, é que faz com que o filme perca foco, ou mesmo pareça não querer dizer nada, apenas criar cenas impactantes a respeito da temática. Essas duas ideias que se confrontam nos filmes do Lee, guerra racial VS respeito mútuo, são muito contrastantes para que tenham peso igual numa história, e isso compromete o impacto das mensagens debatidas.
Agora um problema específico do filme, que é simplesmente, falta de organização na trama. Apesar de todos os subgêneros que o filme trabalha, ele é em essência um suspense de infiltração, e ele não funciona nesse aspecto. O humor do filme funciona, bem como o drama, o estudo de personagem, buddy cop movie e até o romance. Mas na parte de thriller, as coisas parecem não fluir. A começar pela forma como somos introduzidos na investigação, que é simplesmente uma ligação que brota sem qualquer preparo. Depois disso nós temos a falta de zelo dos personagens na preservação da história, e por fim, a resolução do caso, que acontece em uma cena extremamente bagunçada, seguida pela falta de compreensão de coisas como: "O que exatamente eles estavam tentando fazer com isso tudo? Eles conseguiram? Tudo isso era pra impedir um carro bomba? Mas eles nem sabiam que ia ter carro bomba quando começaram a investigar..."
Fica pior quando vc vê que tanto o fato de terem colocado um policial judeu quanto a resolução do caso, foram invenções do filme. Por mais interessante que seja ver o conflito do Adam Driver no filme, não faz a menor lógica na construção do caso, pois colocou em risco toda a operação. E a forma como a investigação acabou na vida real, foi muito mais impactante e relevante do que simplesmente salvar a namorado do infiltrado. Na vida real, Ron conseguiu causar a prisão de quatro membros da KKK participantes do exército, e atrapalhar o roubo de armas militares que ocorria na Klan. Uma pena terem reduzido a investigação.
Fazia tempo que eu não me decepcionava tanto com um filme.
O problema não é, nem de longe, o uso de licença poética, que é algo bem compreensível em qualquer cinebiografia; mas sim, o fato do filme não ter substância alguma. É uma das cinebiografias mais vazias que eu já assisti, e fica pior quando você pensa o quão complexo e interessante é a figura de Freddie Mercury, ou mesmo dos outros membros da banda, ou até das pessoas envolvidas por fora.
Pegue de exemplo outras cinebiografias e vai perceber que todas elas tinham algo a dizer ou a criar além do que um simples videoclipe de 2 horas. Johnny e June é uma história de amor extremamente bem contada, The Doors é uma análise quase esotérica da vida de Jim Morrison (um bom exemplo de licença poética a favor da obra), Ray é um puta drama sobre vício e amor às raízes, Garoto de Liverpool um excelente drama familiar...
Agora, Bohemian Rapsody é sobre... Músicas fodas... E olha, olha o quanto a banda é foda... Ah é, e ele é gay, e isso foi um problema na época, mas vamos voltar pra música foda.... E olha que frase de efeito tipo... Super foda.
Nenhum personagem nesse filme é desenvolvido, todas as subtramas que tinham potencial para render um filme só sobre àquilo são jogadas sem nenhum contexto; além dos clichês e frases de efeito que pqp...
Poderia ser um filme sobre às dificuldades de um artista mundialmente aclamado se assumir homossexual, ou melhor, sobre a solidão do personagem. O filme até flerta com isso algumas vezes, mas no final, tudo que ele tem pra oferecer são momentos avulsos de drama, comédia e fodagem, amarrados sem nexo algum. Sem contar o esculacho do filme com os personagens secundários: Resolvem o amor da vida do Freddie em uma cena de 10 segundos, zoam o baixista nas únicas 3 cenas que ele tem fala, e resumem a ex-esposa dele a uma chorona que brota nos lugares.
Herzog é um dos diretores mais sensíveis da história do cinema, e esse um de seus mais emocionantes trabalhos. Pode-se dizer que há pouco trabalho de criação artística aqui, já que o diretor se limita apenas a registrar as imagens, deixando-as falar por si só. Por um lado, faz falta os monólogos existenciais e poéticos que Herzog faz em outros documentários, e que pra mim são sua marca registrada. Por outro, as histórias contadas aqui são tão fortes e instigantes, que esses apontamentos tornam-se desnecessários.
Experiência alucinógena e divertidíssima, pelo menos para quem é familiarizado com este tipo de humor, não é um filme para todos. O grande problema, obviamente, é o fato de serem tantos animadores com qualidades tão dispares. Alguns trechos te fazem querer ver o filme inteiro com aquele estilo, outros parecem intermináveis de tão forçados. Mas no geral esse conflito de sentimentos é parte do que faz esse projeto algo único de ser apreciado.
Um tipo de comédia que não se faz a muito tempo no cinema. Pautada mais na sagacidade e sutileza, temos aqui um verdadeiro clássico contemporâneo do gênero, tanto pelas situações criadas, atuações envolvidas e, claro, a forte crítica ao autoritarismo, partindo do regime genocida e ditador soviético, que o encabeça como uma das melhores sátiras políticas que já vi, ao lado de “Cupido não tem bandeira” de Billy Wilder, “Dr. Fantástico” de Stanley Kubrick entre outros…
O único problema do filme, a meu ver, é que em alguns momentos ele fica negro demais. Se torna difícil levar os fatos de maneira leve e divertida quando as cenas estão tão viscerais, permeadas por violência e dramaticidade.
Nota especial pelo sentimento maravilhoso que é ver Michael Palin em um grande filme novamente. Sou apaixonado por Monty Python e é sempre ótimo vê-los em cena.
Dos clássicos Disney, esse foi o que menos gostei. Os personagens são todos unidimensionais, a suposta protagonista não tem 10 falas, o príncipe é genérico... Mas, de certa forma é compreensível.
Quando falamos que filmes como "a bela e a fera", "shrek", ou mesmo "aladdin" e "enrolados" subvertem as convenções de gênero, é necessário que exista filmes que se enquadrem nas convenções do gênero, se não, não seriam subeversões.
Os pontos realmente positivos são a vilã, que não me admira ter sido a protagonista da versão live action (sendo que é a personagem mais interessante da animação), a animação em si, que apesar de não ser tão imaginativa quanto outros filmes da Disney, tem uma fluidez chocante, em especial na cena das 3 fadas organizando a festa ou da dança de Rosa com os animais, e as 3 fadas que depois da malévola são as que seguram o filme.
Fica melhor cada vez que se assiste. De longe a melhor comédia em animação de todos os tempos, o humor está presente a todo momento de todas as formas. Muito diferente de porcarias como "festa da salsicha" ou "mr.pickles", South Park (Graças aos gênios Parker e Stone) sempre soube como conciliar escatologia, humor negro e humor convencional de maneira inteligente e hilária, ao invés de gratuita.
O filme é incessante, deve ter uma piada a cada 5 segundos, e não me lembro de uma que não tenha funcionado, e tudo isso permeado pela qualidade musical de Trey Parker que é um excelente compositor. É difícil escolher uma única canção favorita, todas são hilárias, e também, muito belas. Há também a preocupação de dar ao menos um bom momento para cada personagem, e sub-arcos realmente interessantes.
Veja um exemplo da qualidade do filme em relação a outros semelhantes. Enquanto festa da salsicha é só um monte de trocadilho porco sobre sexo e sobre "hahaha vamos geral se comer e ta tudo certo", as piadas sexuais aqui tem conceitos excelente, no caso, o sub-arco do Diabo com Saddam Hussein. Não apenas é algo tão absurdo que de cara já ranca gargalhadas do espectador pelo simples fato de alguém ter imaginado isso, mas é uma piada que ajuda no desenvolvimento dos personagens em questão. O fato de Saddam só querer sexo está diretamente relacionado com o desfecho da história, além de ser uma espécie de crítica a casais que realmente sofrem por relações abusivas. Não bastasse isso, este sub-arco rende duas músicas fantásticas: "up there" que é uma linda canção sobre alguém estar distante de seus sonhos, e "i can change", que também não deixa de ser repleta de significados intertextuais sobre pessoas que usam de seu passado para justificar os erros presentes.
A outra piada sexual do filme é a busca de Stan pelo clitóris, outra sacada brilhante, que transforma um problema adulto através da inocência do personagem, em uma saga mágica e metafórica sobre encontrar o sentido e ordem para sua ambição amorosa. Da mesma forma, as piadas de peido esbanjadas por Terrence & Philip são uma sátira fantástica a indústria de cinema de massas, e todo o arco relacionado a isso aborda inúmeros temas: Como os pais se preocupam mais com coisas supérfluas do que com de fato serem bons pais, a hipocrisia do fato de que violência no cinema está tudo bem mas dizer uns palavrões já basta para censurá-lo....
Não bastasse tudo isso o filme ainda acha espaço para virar uma sátira de guerra, mostrando o racismo presente nos campos de batalha e exagerando ao máximo a violência dos massacres. Por essas e outras "south park bigger longer and uncut", é não só uma animação hilária, mas definitivamente, uma obra-prima da comédia.
Robert Altman é o mestre da sutileza. O humor do filme está nas entrelinhas; determinados gestos dos personagens, pequenos detalhes nos objetos de cena, algumas expressões e metalinguagens... Essas pequenas coisas constroem a base do filme, sendo essa uma grande sátira a indústria norte-americana de cinema.
Na superfície do filme, temos também um grande thriller, movido a fantásticas atuações, dilemas morais perfeitamente desenvolvidos, personagens fortes e temas significantes. A todo momento o filme brinca com a metalinguagem daquilo que é verdade e o que é ficção, os personagens tentam fugir da realidade a todo custo, e o final do filme, por mais feliz que seja, deixa uma ambiguidade no ar. Pela conversa no telefone entre Tim Robbins e o homem que o ameaçava, percebemos que ele tem um certo desespero na voz quando diz "tem que me garantir de que o final será esse", dando a entender que o que vemos é, assim como "habeas corpus", a versão fantasiosa do que realmente aconteceu, e o personagem procura esperança para sua vida nessa ficção.
De certa forma, todos nós vemos no cinema uma fuga de nossa própria vida, Nos alienamos da tristeza que nos cerca com falsos finais felizes e conclusões banais, e essa fuga se torna nossa salvação. Percebam o detalhe de que, a única personagem que tenta manter a realidade no final do filme que estão produzindo, é também a única que termina com um final triste e amargo, enquanto todos os outros que renunciaram a realidade conseguiram alcançar o final feliz.
Assim como Nashville é uma genial sátira ao mundo da música e todos os seus jogos de falsidade, egoísmo e avareza, Altman faz o mesmo em The Player com a indústria do cinema. Tudo que eu falei está mais relacionado ao roteiro, cheio de subtextos e discussões, mas a direção precisa ser exaltada. A câmera se move de um jeito espetacular, a começar por um dos planos sequência mais impressionantes que já vi em um filme. Clássico absoluto!
Como renovar o gênero de ação em um período do qual praticamente tudo que poderia ter sido feito no gênero já foi repetido exaustivamente? É difícil entender como, mas John Wick conseguiu.
O grande mérito desses filmes talvez seja a genialidade de como a franquia entendeu o que faz de um filme de ação bom, e ainda agregou a isso suficientes coisas para torná-lo original dentro dos limites que o filme se propõem. A começar pelo personagem central; carismático, com uma pitada de drama e um objetivo moral que dá um rumo ao personagem e cria um elo dele e o espectador. Sim, a ideia de "assassino querendo se aposentar" é uma das mais repetidas da história do cinema, mas algo ser clichê, não é o mesmo que "fácil de ser executado". Pelo contrário. Pra cada "os imperdoáveis" que fez a coisa do jeito certo, existem centenas de "x-men origens Wolverine" que fizeram da maneira mais tosca e sem alma possível.
Definindo bem o personagem, que tal uma direção competente? Não precisa ser um George Miller, basta um bom diretor que saiba manter a história e atuações nas rédeas, com um bom padrão de qualidade, e cenas onde a ação se mantém clara ao público e vibrante aos olhos. Longe daquelas porcarias de câmeras tremidas que invadiram o gênero e destruíram todas as cenas que puderam. Em John Wick a ação é clara e objetiva, e o filme ainda se preocupa em criar momentos marcantes, como a cena do tiroteio no labirinto de espelhos, que é um caleidoscópio de violência.
Agora, a grande sacada vem na história. Ao mesmo tempo que você estabelece um plot simplista, que torna a ação ágil e perfeita para aqueles que só querem um cinema escapista, você ainda faz dela uma espécie de sátira do gênero. Qual o motivo mais banal pra um cara decidir matar 2 milhões de pessoas? Bem, e não são todos?
Nessa continuação, o universo é expandido. O quão brilhante é vermos esse contraste da violência banal e descontrolada, com os modos e códigos morais que regem o mundo dos assassinos.Outro aspecto extremamente acertado desses filmes, é o cansaço e mutilação que o protagonista sofre ao longo de sua jornada. Sim, John Wick matará a todos, mas no processo, será esfaqueado, baleado, pisado, cuspido, atropelado.… Esse pequeno detalhe, torna o personagem mais vulnerável, e por mais foda que ele seja, o público ainda teme por sua vida, e torce a todo momento para que ele consiga escapar de mais uma.
Por fim, o detalhe que foi a cereja no bolo de sangue pra mim, e fez eu chegar a conclusão de que, se o terceiro filme manter o nível, será a melhor trilogia de ação do cinema: A paranoia!
Sim! Um dos melhores conceitos pra boas histórias é a paranoia. Como em "the thing" ou “invasores de almas”, onde qualquer um pode ser o alienígena, ou então nas obras de Agatha Christie, onde qualquer pessoa em um local pequeno pode ser o culpado pelo crime; aqui nós temos um universo onde qualquer um pode ser um assassino, e todos querem te matar. Quase que um apocalipse zumbi elevado ao quadrado, o próximo filme da franquia tem tudo na mão pra ser uma obra-prima da escatologia e ação. Torcemos para que tudo dê certo.
Mais um grande exemplo da beleza artística e cultural única das animações japonesas. O filme se inicia apenas como uma fábula fofa e belíssimamente animada a respeito de amizade, criação e mudanças; mas quanto mais o tempo passa, mais camadas vão se juntando ao escopo inicial, dando ao filme inúmeras possibilidades interpretativas e um forte elemento dramático.
Toda a busca dos pretendentes pelo presente que conquistaria Kaguya é brilhantemente construído, com as doses exatas de humor, romance e tragédia. Kaguya, inclusive, é uma das personagens mais complexas e fascinantes que já vi em uma animação. Sua evolução de garota simples e feliz para uma princesa deprimida, seguido de sua busca por algo que traga-lhe a felicidade de volta; é uma trajetória de personagem extremamente marcante e identificável.
Os únicos problemas do filme são algumas transgressões e excessos de elementos narrativos como sonhos e narrações, que poderiam ter sido podados, eliminando assim o segundo problema do filme: a duração. De resto, clássico contemporânea do gênero.
Sem dúvida, o que mais se sobressaí nessa adaptação do clássico dramatúrgico de Shakespeare, é o elemento visual. Com uma ostentação de estilo e coreografia de câmera que buscam atingir os limites do que era possível se fazer no cinema da época, o filme consegue criar cenas extremamente icônicas, em especial a da apresentação de teatro, onde acompanhamos um plano-sequência brilhante, e também a cena da batalha final, feito com muita sutileza e enquadramentos precisos. Fora essas cenas que buscam o espetáculo cinematográfico, há outras que visam um apelo mais poético e onírico, como as conversas de Hamlet com o fantasma de seu pai, ou o suicídio de Ofélia; cenas muito belas. Há também outras mais simples e íntimas, como o monólogo "ser ou não ser" ou o diálogo no cemitério.
Portanto, visualmente, não poderia haver uma direção mais acertada que levasse o clássico ao cinema, de maneira a proporcionar uma experiência única e diferente da que se vê nos palcos. Em compensação para a genialidade narrativa do filme, a parte de roteiro deixa a desejar. Mesmo sendo muito fiel ao texto original, o filme não entende que uma boa adaptação necessita de mudanças substanciais de uma mídia a outra, isso significa que, há muitos momentos do filme onde a busca pela fidelidade textual atrapalha a linguagem visual. Há monólogos desnecessários e cenas que não precisavam de diálogo, além de outras que só existem na peça porque não haveria forma de mostra-las de outra maneira nos limites do teatro. Quando se adapta algo para outra mídia, esses pontos devem ser notados para que aquilo que funciona em A não se torne extremamente desagradável em B.
A personagem de Ofélia também está péssima. Irritante e afetada. E por último, o estilo de atuação teatral do filme era bem comum para todos os filmes da época, mas não deixa de ser algo que tenha datado o filme, ainda mais pela densidade do texto.
Dia dos Mortos
3.7 304 Assista AgoraApós praticamente criar o subgênero dos zumbis e com ele um excelente filme de sobrevivência e horror com pouquíssimo dinheiro (Noite dos mortos vivos); e explorar e aprofundar os conceitos e subtextos na continuação (Madrugada dos Mortos); Romero fecha perfeitamente sua trilogia de zumbis com outro clássico.
Aqui, ele dá um passo para trás e tenta, ao invés de simplesmente explorar a luta pela sobrevivência e aquilo que ela gera, abordar os conceitos mais filosóficos e éticos sobre a questão, bem como suas consequências a nível psicológico e social. Então por boa parte do filme, o que temos não é escatologia e tiros, mas sim, diálogos afiados e situações de tensão sufocada, que gradualmente vão se agravando até cominar no final grandioso que usa de todos os recursos possíveis ao orçamento para criar as mais violentas e divertidas cenas entre os três filmes.
É interessante ver como os três filmes conseguiram abranger todas as possibilidades temáticas que o gênero permite. No primeiro, as questões básicas: medo, família, estupidez humana, homicídio, sobrevivência... No segundo, o tema é ampliado de uma casa para um shopping, explorando mais o lado divertido desse universo, as possibilidades de sobreviver nele, bem como criticando o consumismo e introduzindo o mais clássico plot do gênero: "no Apocalipse zumbi, os humanos são piores que os monstros..."
E finalmente, no terceiro filme, a trilogia se conclui de uma maneira mais intimista e analítica. É possível curá-los? Caso não, é possível conviver com eles? Valeria a pena lutar por isso? Todos os personagens, até os mais detestáveis, tem boas motivações, impulsionadas por fortes atuações e um roteiro inteligente. Os únicos problemas do filme pra mim são, primeiramente, a transição do segundo pro terceiro ato, que é literalmente feito em um corte, abrupto e apressado, que acaba por diminuir muito a capacidade dramática do clímax. Em segundo, a conclusão é um pouco otimista demais para todo o caráter fúnebre do resto do longa. A trilha sonora oitentista também datou um pouco a obra.
Ainda assim, clássico absoluto!
A Casa dos Maus Espíritos
3.6 162 Assista AgoraInfelizmente o filme depende de algumas conveniências um tanto absurdas para se sustentar; não vou me aprofundar e dizer quais são, mas basta pensar na trama alguns minutos para encontrar inúmeros furos difíceis de serem ignorados.
Mas sou disposto a aceitar coisas assim, se aquilo que o filme me oferecer em troca valer a pena. E aqui, definitivamente, vale! Atuação emblemática de Vincent Price, em uma atmosfera de terror e suspense que fica melhor a cada momento, além de um plot sensacional que já te prende na primeira cena. Uma pequena pérola do terror clássico!
A Pantera Cor-de-Rosa
3.6 90 Assista AgoraEu me pergunto como alguém em sã consciência pode gostar desse pedaço substancial de merda. Sinceramente, um dos piores filmes que já vi na vida. Nos primeiros 15 minutos eu já estava pensando "Caramba, que roteiro bagunçado! Mas ok, deve estar preparando terreno pro desenrolar da comédia". Ledo engano. Todos os elementos secundários que deveriam ser semi-relevantes em qualquer comédia, são elevados ao patamar de protagonismo, enquanto Peter Sellers nada mais é que um coadjuvante esquecível e com poucos, ou nenhum, grande momento.
Ok, então como comédia o filme é um fracasso, mas sobra algo disso? Bem, personagens absolutamente detestáveis sendo tratados como se o público tivesse alguma empatia por eles; cenas que deveriam durar 3 minutos sendo alongadas por 15... Sério, o que é aquela cena da princesa bêbada? Não só é um puta desserviço com a personagem reduzir ela a uma amante de um vilão merda, como é insuportável. Dura quase 20 minutos de um diálogo enfadonho sem graça nenhuma.
A única coisa que salva é a trilha sonora. De resto, que porcaria!
As Três Máscaras do Terror
3.9 131 Assista AgoraHá tanta coisa boa para ser destacada aqui! Creio que o primeiro ponto que chama atenção, até mesmo aos leigos, é o visual. Há uma preocupação estética impressionante aqui; tanto nas composições e cenários, quanto nos enquadramentos precisos do diretor.
Cada cena podia ser um quadro; cores vibrantes e carnavalescas, figurinos extravagantes e luxuosos... Mais impressionante que o uso sábio da paleta, só o fato de ser uma escolha um tanto inconvencional para uma obra de horror, e ainda assim funciona perfeitamente.
O roteiro não fica atrás do visual; as três histórias são repletas de tensão, e são ordenadas em uma crescente de terror e sobrenatural; indo de uma simples trama neo-noir, até um clássico conto fantasmagórico; e entre eles, um excepcional drama familiar envolvendo vampiros. Recomendo para todos os gostos! De fãs de cinema clássico até os que só buscam se divertir por uma hora e meia.
O Parque Macabro
3.8 142 Assista AgoraUm terror psicológico sobre solidão, introversão, pressão social e trauma; mas acima de todos as intertextualidades e camadas, o que chama atenção é a fantástica direção que o filme apresenta.
Cheio de tomadas completamente fora dos padrões da época, uma trilha sonora atmosférica e inquietante, ótimas atuações e um surrealismo que contribui para os significados do longa. Uma pequena pérola do gênero!
As Bodas de Satã
3.7 77O filme é excelente em tantos pontos: A criação de tensão, o uso do ocultismo na história, o personagem do Christopher Lee (como sempre brilhando em sua performance), o vilão ameaçador e enigmático, além de vários momentos memoráveis.
Infelizmente, o filme sofre de uma péssima tendência de só conseguir manter o rumo da trama usando de conveniências ou da estupidez de seus personagens coadjuvantes. Além disso, o final é péssimo. Parece um comercial de margarina, e contraria toda a atmosfera de paganismo e horror que o longa havia construído até então. Uma pena, eu estava amando o filme...
The Making Of Sgt. Pepper
4.5 9Como é bom ver um documentário sobre Sgt.Peppers que não perde 30 minutos falando sobre a capa e foca mais na criação artística! Contando ainda com as participações de George Martin e George Harrison! O único defeito é que é curto demais e não conseguiu abordar todas as músicas; e também achei a entrevista com o Phil Collins desnecessária.
It Was Fifty Years Ago Today! The Beatles: Sgt Pepper …
3.5 10Um dos piores documentários que eu já vi. O motivo? Primeiramente, foco. O filme não tem foco nenhum, ele só vai jogando histórias sem nenhuma conexão ou fluidez, sem se aprofundar em nenhum e ainda achando que está fazendo um puta trabalho de pesquisa. Sério, tem inúmeros momentos que eu só ficava tipo "O que caralhos essa fala tem a ver com o resto? Foi uma experiência enfadonha, e caramba, são os Beatles! Como você torna um documentário sobre os Beatles ruim? Nem vou entrar no mérito do nome indicar ser sobre Sgt. Peppers quando é bem claro que não é o caso. De todo o filme deve ter uns 5 minutos a respeito do álbum. É até engraçado de tão desesperador que é ver os caras tentando retomar o assunto do álbum dos 3 minutos finais, como se o filme tivesse sido a respeito dele.
Que porcaria....
Backbeat: Os 5 Rapazes de Liverpool
3.8 90É um filme que acerta em muitos pontos, bem como erra feio em outros.
Pra começar pelos acertos, adorei a escolha do foco. É interessante como, por não poderem utilizar as músicas dos Beatles, as cinebiografias deles sempre são algo fora dos padrões formulaicos do gênero. Em "Garoto de Liverpool" vemos mais da relação Lennon/McCartney, bem como a mãe e tia de Lennon; enquanto aqui, temos um insight na vida do enigmático e trágico ex-membro da banda. Trata-se de um personagem fascinante da música pop, que se absteve da banda de maior sucesso da história para focar em sua arte.
Mas aí já temos o erro central do filme: Ele não sabe se quer ser mais um filme sobre os Beatles ou sobre o Stu. Percebam como a narrativa do filme é fragmentada, cortando muito e com muitos momentos que dão a impressão de clímax ou lentidão, sem se conectarem muito bem. Por causa disso não conseguimos nem um filme nem outro. Mal se vê da relação entre os Beatles, o Paul principalmente ta muito deslocado, sem nenhuma profundidade (apesar de terem escolhido um ator perfeito pro papel) e do outro lado, o Stu é bem desenvolvido apenas por blocos de emoções. Perceba que quase nunca acompanhamos a transição de uma persona do Stu pra próxima; o filme alterna entre ele e os Beatles, e quando voltamos nele, ele já está diferente, mas nada disso é muito bem trabalhado.
As performances estão ótimas; pode-se dizer que o John ta babaca demais, mas esse era o John. Todo filme com o John de personagem retrata ele babaca, por que ele era um puta babaca mesmo, apesar de um babaca genial. Mas como já havia dito, o filme não tira o máximo que podia de seus atores, uma direção melhor faria muita diferença. O filme também é muito repetitivo; tocando sempre as mesmas músicas e com umas 10 cenas de sexo totalmente gratuitas.
Minha última reclamação é que, perdeu-se uma oportunidade perfeita de fazer o filme em p&b, pra emular as fotografias da personagem da Lee. São fotografias tão icônicas, teria deixado o filme belíssimo. Também acho que na cena final, os Beatles foram filmados de maneira que os engradece, quando acho que poderiam ter feito a cena como se fossem eles perdendo-se na fama, deixando de ser quem eles eram; afinal um amigo acaba de morrer, mas eles tem que ir lá, dançar, sorrir, gritar e cantar Twist and Shout. Coisas pequenas assim me fazem perceber que o filme tem muito pouco a dizer; sendo o maior mérito da direção a retratação da época, e as cenas que contrapõem a música da banda e as pinturas do Stu; grande sacada.
Adam Sandler: 100% Fresh
3.7 18 Assista AgoraVocê tem que ter muita birra do Adam Sandler pra não admitir que esse especial é excelente. Eu acho a maioria dos filmes dele uma porcaria, mas cacete, esse show foi genial! Tocante, engraçado, divertido... Sem preocupações a respeito de intelectualidade, simplesmente querendo fazer o público rir... Deem uma chance pro bar mitzvah boy!
The Beach Boys: Uma História de Sucesso
3.9 169 Assista AgoraSimplesmente, a melhor cinebiografia de músico de todos os tempos (sem considerar Amadeus, que é um caso à parte). Ao invés de simplesmente desenvolver uma estrutura narrativa batida que o cinema cansou de produzir (início fracassado - ascensão - decadência - redenção) e que só tem o papel de mostrar os melhores momentos do artista com uma boa trilha sonora e nada mais a dizer (Pastiches como Bohemian Rapsody, e outros melhores como Walk The Line e Ray), o filme decide focar em dois pontos chave da vida de seu protagonista, e destrincha-los em um exemplar trabalho de estudo de personagem.
Somos ainda brindados com a dramatização hiper-realista de como foi a produção de um dos maiores álbuns de todos os tempos (Pet Sounds). Um dos únicos filmes que de fato se aprofunda na dificuldade que é a produção artística e nos bastidores de uma obra-prima. As interpretações são absurdas; Paul Dano e John Cusack em dois dos melhores papéis de suas carreiras, se não o melhor. Ridículo ambos não terem sido indicados a Oscar's, bem como Paul Giamatti e Elizabeth Banks, todos dando um show.
O filme consegue ser íntimo, existencialista, psicodélico, realista, fiel a realidade, cheio de momentos icônicos e ainda entreter. Não tenho palavras, é simplesmente um clássico contemporâneo, e um dos filmes mais subestimados da história. Viva Brian Wilson!
A Vida é Dura: A História de Dewey Cox
3.5 83 Assista AgoraEssa talvez seja a única comédia-paródia da história a conseguir atingir TODOS os filmes relacionados ao gênero escolhido para a sátira. Sério, assista qualquer filme de cinebiografia musical da história, e haverá algum paralelo dele neste filme. Não só por ser um gênero extremamente formulaico e repetitivo, como também pela genialidade dos envolvidos na produção do filme (Judd Apatow é um monstro).
Então, não pensem que esse é apenas mais um besteirol dispensável. É uma das sátiras mais geniais que eu já vi, tanto a indústria da música, quanto ao gênero cinematográfico das biopic's. A quantidade de momentos icônicos é incontável, e incrivelmente, as músicas do filme são ótimas (minha favorita é a canção dos anões). Um clássico da comédia contemporânea, recomendo.
Green Book: O Guia
4.1 1,5K Assista AgoraApesar de ter sido meu filme favorito indicado a categoria, não deveria ter ganhado. Isso porque ele agora vai passar de "filme que ou as pessoas acham legalzinho ou amam" pra "o filme medíocre que tirou o Oscar de Roma e Spike Lee!". Creio que Roma não levou pois queriam dividir os prêmios para não acumular em apenas um, o que sempre fazem. E como, sinceramente, nenhum outro indicado esse ano tinha peso suficiente pra ganhar (o Honest Trailers até fez uma piada com isso, dizendo que não importasse quem ganhasse, seria considerado injusto) acabou ficando com Green book. Mas vamos ao porque de eu ter amado o filme...
Eu sei que vão ter muitos apontamentos a respeito do suposto racismo do filme, o que é extremamente injusto, e o motivo de serem apontamentos injustos, é porque o filme é sobre amizade e construção de caráter mais do que sobre racismo. Sim, a questão racial é o condutor da aventura, mas não é o objetivo nem a essência da história. O filme é, antes de tudo, um road movie; e road movies nada mais são do que uma metáfora para uma mudança de caráter. É desenvolvimento de personagem puro, chegar de ponto A até o ponto B, e no centro disso temos duas performances maravilhosas (Ali ganhou um dos prêmio mais merecidos da noite), dois personagens interessantíssimos e autodescobertas a serem feitas.
Então não há um "White savior" nesse filme. Não é o Tony que salva o Doc. É a jornada que salva a ambos.
Mas não é como se o elemento racial do filme fosse pobre. Ao meu ver, a discussão dos protagonistas no carro a respeito da pobreza e riqueza em virtude da cor da pele, que termina no emocionante e arrebatador monólogo de Doc na chuva a respeito de quando ele desce do palco, volta a ser tratado que nem animal... Meus amigos, essa cena pra mim resume todo o debate racial que temos até os dias de hoje, e demonstra como o estado de espírito de alguém é mais importante que seu status econômico. Vemos nela, que cada pessoa tem uma cruz pra carregar, e não devemos julgar a dos outros, pois não passamos pelas mesmos sentimentos, mas de uma forma ou de outra, todos sentimos, e a cruz do próximo, pode não parecer pesada, mas talvez seja mais do que a sua. Cena sensacional!
Por último, o que mais me fez amar o filme, é a subtrama envolvendo a escritura de cartas. Não só é lindo ver a importância que o filme deu as cartas em uma época onde tudo é mensagem virtual, como todo o processo do Tony tentando cativar sua esposa é de uma verdade fascinante. Sério, o jeito simples que ele escreve as cartas dele, é honesto, bonito, e demonstra como a beleza está mais na sinceridade e amor verdadeiro do que no uso belo da linguagem. Ainda assim, esse fator rende cenas hilárias e lindas poesias que o Doc ajuda-o a compor. Eu poderia ficar o dia inteiro falando o quanto eu amei todas as cenas envolvendo as cartas do Tony, mas acho que já falei o bastante. Para por aqui, e não despreze Green Book apenas por ele não ter "merecido" o Oscar. É um belo filme.
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Infiltrado na Klan
4.3 1,9K Assista AgoraÓtimos personagens e discussão de conflitos (Um homem negro tornando-se policial, uma ativista vendo que as coisas não são tão simples quanto parecem, um judeu sem fé reavaliando suas raízes...) em uma história envolvente e relevante, repleta do estilo cinematográfico de Spike Lee, que aqui homenageia o blackexploitation fazendo do protagonista uma espécie de Shaft com os pés na realidade.
Dito tudo isso, o filme tem dois grandes problemas, um deles é algo que percebo em quase todos os filmes do Lee, o outro é específico de blackkklansman. Sobre o primeiro problema, é a falta de sutileza, bem como a ambiguidade ideológica do Lee; claro, nenhum filme tem obrigação de ser sútil, mas uma coisa é você deixar clara suas mensagens, outra é você inserir elementos mais próximos de uma propaganda no meio do filme. Não estou falando da cena final, que é um ótimo soco no estômago de qualquer um, e ajuda a enfatizar o alerta do filme a respeito do mundo que vivemos hoje ser tão problemático quanto o dos anos 70. Estou falando de cenas como o discurso dos Black Panther's, onde a câmera fica mostrando o rosto das pessoas da plateia.
Aquilo é artificial e tira o espectador do filme, e parece estar dizendo que tudo aquilo que o discurso diz é a verdade única e simples que o Lee está tentando apontar; e isso entra em contradição com os subtextos que o próprio Lee trás pra história.
Aqui entra a parte da ambiguidade do diretor; em todo filme ele parece não ter se decidido se é um radical ou um pacifista, e alterna entre cenas que dizem "olha como você deve respeitar o próximo" para outras que dizem "Fuck police come straights from the underground!". Note que eu não estou criticando uma visão ou a outra, pois estou apenas analisando o filme, não suas mensagens. O problema dessa ambiguidade, é que faz com que o filme perca foco, ou mesmo pareça não querer dizer nada, apenas criar cenas impactantes a respeito da temática. Essas duas ideias que se confrontam nos filmes do Lee, guerra racial VS respeito mútuo, são muito contrastantes para que tenham peso igual numa história, e isso compromete o impacto das mensagens debatidas.
Agora um problema específico do filme, que é simplesmente, falta de organização na trama. Apesar de todos os subgêneros que o filme trabalha, ele é em essência um suspense de infiltração, e ele não funciona nesse aspecto. O humor do filme funciona, bem como o drama, o estudo de personagem, buddy cop movie e até o romance. Mas na parte de thriller, as coisas parecem não fluir. A começar pela forma como somos introduzidos na investigação, que é simplesmente uma ligação que brota sem qualquer preparo. Depois disso nós temos a falta de zelo dos personagens na preservação da história, e por fim, a resolução do caso, que acontece em uma cena extremamente bagunçada, seguida pela falta de compreensão de coisas como: "O que exatamente eles estavam tentando fazer com isso tudo? Eles conseguiram? Tudo isso era pra impedir um carro bomba? Mas eles nem sabiam que ia ter carro bomba quando começaram a investigar..."
Fica pior quando vc vê que tanto o fato de terem colocado um policial judeu quanto a resolução do caso, foram invenções do filme. Por mais interessante que seja ver o conflito do Adam Driver no filme, não faz a menor lógica na construção do caso, pois colocou em risco toda a operação. E a forma como a investigação acabou na vida real, foi muito mais impactante e relevante do que simplesmente salvar a namorado do infiltrado. Na vida real, Ron conseguiu causar a prisão de quatro membros da KKK participantes do exército, e atrapalhar o roubo de armas militares que ocorria na Klan. Uma pena terem reduzido a investigação.
Bohemian Rhapsody
4.1 2,2K Assista AgoraFazia tempo que eu não me decepcionava tanto com um filme.
O problema não é, nem de longe, o uso de licença poética, que é algo bem compreensível em qualquer cinebiografia; mas sim, o fato do filme não ter substância alguma. É uma das cinebiografias mais vazias que eu já assisti, e fica pior quando você pensa o quão complexo e interessante é a figura de Freddie Mercury, ou mesmo dos outros membros da banda, ou até das pessoas envolvidas por fora.
Pegue de exemplo outras cinebiografias e vai perceber que todas elas tinham algo a dizer ou a criar além do que um simples videoclipe de 2 horas.
Johnny e June é uma história de amor extremamente bem contada, The Doors é uma análise quase esotérica da vida de Jim Morrison (um bom exemplo de licença poética a favor da obra), Ray é um puta drama sobre vício e amor às raízes, Garoto de Liverpool um excelente drama familiar...
Agora, Bohemian Rapsody é sobre... Músicas fodas... E olha, olha o quanto a banda é foda... Ah é, e ele é gay, e isso foi um problema na época, mas vamos voltar pra música foda.... E olha que frase de efeito tipo... Super foda.
Nenhum personagem nesse filme é desenvolvido, todas as subtramas que tinham potencial para render um filme só sobre àquilo são jogadas sem nenhum contexto; além dos clichês e frases de efeito que pqp...
Poderia ser um filme sobre às dificuldades de um artista mundialmente aclamado se assumir homossexual, ou melhor, sobre a solidão do personagem. O filme até flerta com isso algumas vezes, mas no final, tudo que ele tem pra oferecer são momentos avulsos de drama, comédia e fodagem, amarrados sem nexo algum. Sem contar o esculacho do filme com os personagens secundários: Resolvem o amor da vida do Freddie em uma cena de 10 segundos, zoam o baixista nas únicas 3 cenas que ele tem fala, e resumem a ex-esposa dele a uma chorona que brota nos lugares.
Tinha tanto potencial pra ser maravilhoso...
Terra do Silêncio e da Escuridão
4.4 11Herzog é um dos diretores mais sensíveis da história do cinema, e esse um de seus mais emocionantes trabalhos. Pode-se dizer que há pouco trabalho de criação artística aqui, já que o diretor se limita apenas a registrar as imagens, deixando-as falar por si só. Por um lado, faz falta os monólogos existenciais e poéticos que Herzog faz em outros documentários, e que pra mim são sua marca registrada. Por outro, as histórias contadas aqui são tão fortes e instigantes, que esses apontamentos tornam-se desnecessários.
Shrek Retold
4.1 3Experiência alucinógena e divertidíssima, pelo menos para quem é familiarizado com este tipo de humor, não é um filme para todos. O grande problema, obviamente, é o fato de serem tantos animadores com qualidades tão dispares. Alguns trechos te fazem querer ver o filme inteiro com aquele estilo, outros parecem intermináveis de tão forçados. Mas no geral esse conflito de sentimentos é parte do que faz esse projeto algo único de ser apreciado.
A Morte de Stalin
3.6 134 Assista AgoraUm tipo de comédia que não se faz a muito tempo no cinema. Pautada mais na sagacidade e sutileza, temos aqui um verdadeiro clássico contemporâneo do gênero, tanto pelas situações criadas, atuações envolvidas e, claro, a forte crítica ao autoritarismo, partindo do regime genocida e ditador soviético, que o encabeça como uma das melhores sátiras políticas que já vi, ao lado de “Cupido não tem bandeira” de Billy Wilder, “Dr. Fantástico” de Stanley Kubrick entre outros…
O único problema do filme, a meu ver, é que em alguns momentos ele fica negro demais. Se torna difícil levar os fatos de maneira leve e divertida quando as cenas estão tão viscerais, permeadas por violência e dramaticidade.
Nota especial pelo sentimento maravilhoso que é ver Michael Palin em um grande filme novamente. Sou apaixonado por Monty Python e é sempre ótimo vê-los em cena.
A Bela Adormecida
3.6 452 Assista AgoraDos clássicos Disney, esse foi o que menos gostei. Os personagens são todos unidimensionais, a suposta protagonista não tem 10 falas, o príncipe é genérico... Mas, de certa forma é compreensível.
Quando falamos que filmes como "a bela e a fera", "shrek", ou mesmo "aladdin" e "enrolados" subvertem as convenções de gênero, é necessário que exista filmes que se enquadrem nas convenções do gênero, se não, não seriam subeversões.
Os pontos realmente positivos são a vilã, que não me admira ter sido a protagonista da versão live action (sendo que é a personagem mais interessante da animação), a animação em si, que apesar de não ser tão imaginativa quanto outros filmes da Disney, tem uma fluidez chocante, em especial na cena das 3 fadas organizando a festa ou da dança de Rosa com os animais, e as 3 fadas que depois da malévola são as que seguram o filme.
South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes
3.9 316 Assista AgoraFica melhor cada vez que se assiste. De longe a melhor comédia em animação de todos os tempos, o humor está presente a todo momento de todas as formas. Muito diferente de porcarias como "festa da salsicha" ou "mr.pickles", South Park (Graças aos gênios Parker e Stone) sempre soube como conciliar escatologia, humor negro e humor convencional de maneira inteligente e hilária, ao invés de gratuita.
O filme é incessante, deve ter uma piada a cada 5 segundos, e não me lembro de uma que não tenha funcionado, e tudo isso permeado pela qualidade musical de Trey Parker que é um excelente compositor. É difícil escolher uma única canção favorita, todas são hilárias, e também, muito belas. Há também a preocupação de dar ao menos um bom momento para cada personagem, e sub-arcos realmente interessantes.
Veja um exemplo da qualidade do filme em relação a outros semelhantes. Enquanto festa da salsicha é só um monte de trocadilho porco sobre sexo e sobre "hahaha vamos geral se comer e ta tudo certo", as piadas sexuais aqui tem conceitos excelente, no caso, o sub-arco do Diabo com Saddam Hussein. Não apenas é algo tão absurdo que de cara já ranca gargalhadas do espectador pelo simples fato de alguém ter imaginado isso, mas é uma piada que ajuda no desenvolvimento dos personagens em questão. O fato de Saddam só querer sexo está diretamente relacionado com o desfecho da história, além de ser uma espécie de crítica a casais que realmente sofrem por relações abusivas. Não bastasse isso, este sub-arco rende duas músicas fantásticas: "up there" que é uma linda canção sobre alguém estar distante de seus sonhos, e "i can change", que também não deixa de ser repleta de significados intertextuais sobre pessoas que usam de seu passado para justificar os erros presentes.
A outra piada sexual do filme é a busca de Stan pelo clitóris, outra sacada brilhante, que transforma um problema adulto através da inocência do personagem, em uma saga mágica e metafórica sobre encontrar o sentido e ordem para sua ambição amorosa.
Da mesma forma, as piadas de peido esbanjadas por Terrence & Philip são uma sátira fantástica a indústria de cinema de massas, e todo o arco relacionado a isso aborda inúmeros temas: Como os pais se preocupam mais com coisas supérfluas do que com de fato serem bons pais, a hipocrisia do fato de que violência no cinema está tudo bem mas dizer uns palavrões já basta para censurá-lo....
Não bastasse tudo isso o filme ainda acha espaço para virar uma sátira de guerra, mostrando o racismo presente nos campos de batalha e exagerando ao máximo a violência dos massacres. Por essas e outras "south park bigger longer and uncut", é não só uma animação hilária, mas definitivamente, uma obra-prima da comédia.
O Jogador
4.0 85 Assista AgoraRobert Altman é o mestre da sutileza. O humor do filme está nas entrelinhas; determinados gestos dos personagens, pequenos detalhes nos objetos de cena, algumas expressões e metalinguagens... Essas pequenas coisas constroem a base do filme, sendo essa uma grande sátira a indústria norte-americana de cinema.
Na superfície do filme, temos também um grande thriller, movido a fantásticas atuações, dilemas morais perfeitamente desenvolvidos, personagens fortes e temas significantes. A todo momento o filme brinca com a metalinguagem daquilo que é verdade e o que é ficção, os personagens tentam fugir da realidade a todo custo, e o final do filme, por mais feliz que seja, deixa uma ambiguidade no ar. Pela conversa no telefone entre Tim Robbins e o homem que o ameaçava, percebemos que ele tem um certo desespero na voz quando diz "tem que me garantir de que o final será esse", dando a entender que o que vemos é, assim como "habeas corpus", a versão fantasiosa do que realmente aconteceu, e o personagem procura esperança para sua vida nessa ficção.
De certa forma, todos nós vemos no cinema uma fuga de nossa própria vida, Nos alienamos da tristeza que nos cerca com falsos finais felizes e conclusões banais, e essa fuga se torna nossa salvação. Percebam o detalhe de que, a única personagem que tenta manter a realidade no final do filme que estão produzindo, é também a única que termina com um final triste e amargo, enquanto todos os outros que renunciaram a realidade conseguiram alcançar o final feliz.
Assim como Nashville é uma genial sátira ao mundo da música e todos os seus jogos de falsidade, egoísmo e avareza, Altman faz o mesmo em The Player com a indústria do cinema. Tudo que eu falei está mais relacionado ao roteiro, cheio de subtextos e discussões, mas a direção precisa ser exaltada. A câmera se move de um jeito espetacular, a começar por um dos planos sequência mais impressionantes que já vi em um filme. Clássico absoluto!
John Wick: Um Novo Dia Para Matar
3.9 1,1K Assista AgoraComo renovar o gênero de ação em um período do qual praticamente tudo que poderia ter sido feito no gênero já foi repetido exaustivamente? É difícil entender como, mas John Wick conseguiu.
O grande mérito desses filmes talvez seja a genialidade de como a franquia entendeu o que faz de um filme de ação bom, e ainda agregou a isso suficientes coisas para torná-lo original dentro dos limites que o filme se propõem. A começar pelo personagem central; carismático, com uma pitada de drama e um objetivo moral que dá um rumo ao personagem e cria um elo dele e o espectador. Sim, a ideia de "assassino querendo se aposentar" é uma das mais repetidas da história do cinema, mas algo ser clichê, não é o mesmo que "fácil de ser executado". Pelo contrário. Pra cada "os imperdoáveis" que fez a coisa do jeito certo, existem centenas de "x-men origens Wolverine" que fizeram da maneira mais tosca e sem alma possível.
Definindo bem o personagem, que tal uma direção competente? Não precisa ser um George Miller, basta um bom diretor que saiba manter a história e atuações nas rédeas, com um bom padrão de qualidade, e cenas onde a ação se mantém clara ao público e vibrante aos olhos. Longe daquelas porcarias de câmeras tremidas que invadiram o gênero e destruíram todas as cenas que puderam. Em John Wick a ação é clara e objetiva, e o filme ainda se preocupa em criar momentos marcantes, como a cena do tiroteio no labirinto de espelhos, que é um caleidoscópio de violência.
Agora, a grande sacada vem na história. Ao mesmo tempo que você estabelece um plot simplista, que torna a ação ágil e perfeita para aqueles que só querem um cinema escapista, você ainda faz dela uma espécie de sátira do gênero. Qual o motivo mais banal pra um cara decidir matar 2 milhões de pessoas? Bem, e não são todos?
Nessa continuação, o universo é expandido. O quão brilhante é vermos esse contraste da violência banal e descontrolada, com os modos e códigos morais que regem o mundo dos assassinos.Outro aspecto extremamente acertado desses filmes, é o cansaço e mutilação que o protagonista sofre ao longo de sua jornada. Sim, John Wick matará a todos, mas no processo, será esfaqueado, baleado, pisado, cuspido, atropelado.… Esse pequeno detalhe, torna o personagem mais vulnerável, e por mais foda que ele seja, o público ainda teme por sua vida, e torce a todo momento para que ele consiga escapar de mais uma.
Por fim, o detalhe que foi a cereja no bolo de sangue pra mim, e fez eu chegar a conclusão de que, se o terceiro filme manter o nível, será a melhor trilogia de ação do cinema: A paranoia!
Sim! Um dos melhores conceitos pra boas histórias é a paranoia. Como em "the thing" ou “invasores de almas”, onde qualquer um pode ser o alienígena, ou então nas obras de Agatha Christie, onde qualquer pessoa em um local pequeno pode ser o culpado pelo crime; aqui nós temos um universo onde qualquer um pode ser um assassino, e todos querem te matar. Quase que um apocalipse zumbi elevado ao quadrado, o próximo filme da franquia tem tudo na mão pra ser uma obra-prima da escatologia e ação. Torcemos para que tudo dê certo.
O Conto da Princesa Kaguya
4.4 802 Assista AgoraMais um grande exemplo da beleza artística e cultural única das animações japonesas. O filme se inicia apenas como uma fábula fofa e belíssimamente animada a respeito de amizade, criação e mudanças; mas quanto mais o tempo passa, mais camadas vão se juntando ao escopo inicial, dando ao filme inúmeras possibilidades interpretativas e um forte elemento dramático.
Toda a busca dos pretendentes pelo presente que conquistaria Kaguya é brilhantemente construído, com as doses exatas de humor, romance e tragédia. Kaguya, inclusive, é uma das personagens mais complexas e fascinantes que já vi em uma animação. Sua evolução de garota simples e feliz para uma princesa deprimida, seguido de sua busca por algo que traga-lhe a felicidade de volta; é uma trajetória de personagem extremamente marcante e identificável.
Os únicos problemas do filme são algumas transgressões e excessos de elementos narrativos como sonhos e narrações, que poderiam ter sido podados, eliminando assim o segundo problema do filme: a duração. De resto, clássico contemporânea do gênero.
Hamlet
4.2 79Sem dúvida, o que mais se sobressaí nessa adaptação do clássico dramatúrgico de Shakespeare, é o elemento visual. Com uma ostentação de estilo e coreografia de câmera que buscam atingir os limites do que era possível se fazer no cinema da época, o filme consegue criar cenas extremamente icônicas, em especial a da apresentação de teatro, onde acompanhamos um plano-sequência brilhante, e também a cena da batalha final, feito com muita sutileza e enquadramentos precisos. Fora essas cenas que buscam o espetáculo cinematográfico, há outras que visam um apelo mais poético e onírico, como as conversas de Hamlet com o fantasma de seu pai, ou o suicídio de Ofélia; cenas muito belas. Há também outras mais simples e íntimas, como o monólogo "ser ou não ser" ou o diálogo no cemitério.
Portanto, visualmente, não poderia haver uma direção mais acertada que levasse o clássico ao cinema, de maneira a proporcionar uma experiência única e diferente da que se vê nos palcos. Em compensação para a genialidade narrativa do filme, a parte de roteiro deixa a desejar. Mesmo sendo muito fiel ao texto original, o filme não entende que uma boa adaptação necessita de mudanças substanciais de uma mídia a outra, isso significa que, há muitos momentos do filme onde a busca pela fidelidade textual atrapalha a linguagem visual. Há monólogos desnecessários e cenas que não precisavam de diálogo, além de outras que só existem na peça porque não haveria forma de mostra-las de outra maneira nos limites do teatro. Quando se adapta algo para outra mídia, esses pontos devem ser notados para que aquilo que funciona em A não se torne extremamente desagradável em B.
A personagem de Ofélia também está péssima. Irritante e afetada. E por último, o estilo de atuação teatral do filme era bem comum para todos os filmes da época, mas não deixa de ser algo que tenha datado o filme, ainda mais pela densidade do texto.