um dos filmes mais conhecidos do costinha é o libertino (1973) também dirigido pelo victor lima. lá costinha convence fazendo "dois" papéis: o conservador emanoel e o seu lado libertino. aqui, a fórmula foi usada pela primeira vez: costinha faz um papel mais bobo e inocente (severino) e um papel mais malandro e sério (clementino) e novamente se destaca. óbvio que o comediante não tá preocupado em entregar uma grande atuação mas é inegável como é perceptível a diferença entre os dois personagens, novamente bem explorada como fator cômico pelo diretor. o elenco tem uma boa química em duplas: o onipresente wilson grey faz uma ponta sendo uma dupla do crime com angelo antonio, milton moraes e claudio cavalcanti fazem a polícia, a mulher e filha de severino e uma outra dupla de falsificadores. uma divisão clássica e herança da chanchada, mesmo num filme mais ~maduro em comparação. o conflito da casa de nudismo é bem bolado e a conclusão é divertida, mesmo sendo bobinha. um respiro final das chanchadas clássicas já na segunda metade dos anos 60 pelo bom diretor victor lima
segue uma estrutura já manjada de filmes biográficos brasileiros: as dificuldades pré fama, a mudança de vida, a fama, os conflitos causados pela fama (quase sempre a ausência com pessoas pré fama), uma certa decadência, alguma volta por cima e morte. não há nenhuma novidade ou destaque sobre a história em si. fica tudo muito por cima e com pouca profundidade - talvez funcionasse mais pegando um recorte um pouco mais preciso da vida do chacrinha. o destaque do filme fica mesmo pro stepan que faz um chacrinha PERFEITO. já sabia que fisicamente estaria muito parecido, mas há muitos detalhes importantes na voz, no jeito de falar e nos maneirismos do chacrinha original. como fizeram no bingo (2017), a criação do universo televisivo anos 70/80 é muito bem feita, mas aqui a globo (coprodutora) apresentando todas as emissorsa como mambembe e se colocando naquela de "meu defeito? ser perfeccionista demais" é um pouco desonesto. achei estranho não ter o carlos imperial em nenhum momento do filme, visto que ele e chacrinha tiveram vários momentos da carreira juntos as participações de luan santana e criolo são completamente gratuitas e eu sinceramente nem sei o motivo delas
grande filme do rob reiner (que tem uma filmografia muito maluca) numa adaptação do stephen king. a tensão criada pelo filme é muito bem feita e sua progressão não é forçada. o filme se constrói que nem a annie wilkes: com muita calma até explodir numa maluquice total. por demorar a chegar nessa explosão, esperava mais conflito (e mais sangue, sinceramente), mas por já ser de 1990 creio que isso tava começando a mudar. creio que não me pegou muito por ter ido ver esperando um lado mais terror, mas é um suspense clássico.
a premissa desse filme é muito boa. um ar de jogo de detetive e investigação a la agatha christie - lembra o e não sobrou nenhum (1939), provavelmente inspirado - misturando comédia e suspense bem no jeitão do que seria o clue (1985), que viria só 10 anos depois. a ideia de apresentar cada signo foi boa, mas após um tempo de filme tive que voltar pra lembrar qual era qual, mesmo que tenham criado um bom visual pra cada um. diverte muito e as mortes são bem criativas, algumas imprevisíveis. ainda numa comparação com clue: a conclusão do filme gringo é genial, ao contrário do brasileiro. filmes assim acabam jogando muita pressão pra finalização da história e aqui o plot twist simplesmente não rolou, além da cena
a filmografia do jean garrett tem personagens femininas muito interessantes!!!! a doralice tem uma ascensão de poder até se tornar talulah, a figura que o sugar daddy dela praticamente moldou e tornou tão real que se voltou contra ele. depois em negação de doralice - e o que ela representava - os conflitos vão se tornando cada vez mais pessoais até explodir no belíssimo final:
o assassinato de sua maior meta amorosa num casamento sangrento
um grande filme sobre o poder e a frequeza que o sexo pode representar. garrett na direção e reichenbach na fotografia formam uma ótima dupla, destacando os já ótimos enquadramentos do diretor. (fun fact: reichenbach faz uma ponta no filme como professor) adorei o personagem bissexual ser simplesmente por opção, sem qualquer motivo que mudasse o roteiro. mais representativide do que os filmes que forçam ela atualmente
divertida chanchada com golias competindo num programa contra carlos imperial & costinha (que dupla) com direito a perry salles de galã. grande otelo faz ele mesmo numa participação, como sempre, divertida. é um filme bem inocente e até meio ultrapassado pra época (um ano depois sairia assalto ao trem pagador e barravento, por exemplo) mas não deixa de ser divertido
a estrutura é bem interessante - a passagem no tempo, os relatos de outros casais, a evolução dramática - além de algumas discussões bem importantes no contexto de 1989. o problema é que o harry é absolutamente insuportável: não tem carisma, não tem charme, não tem graça, não tem NADA. simplesmente um falastrão chato e irritante. a sally também não é muito carismática, embora não seja exatamente problemática. acaba não funcionando num filme em que eu preciso torcer pra esse casal funcionar. tem uma filosofia bem boba de que "homem e mulher não podem ser amigos por causa da atração sexual" blablabla
mesmo indo sem pretensão e esperando uma comédia romântica não rolou
pra mim um dos melhores que já vi do scorsese. se aventurando na comédia, tem um ar menos pretensioso e mais aconchegante(??) de alguma forma - não sabia nada do personagem mas já comecei o filme convencido à acompanhá-lo. alguns momentos são de preocupação e outros são de completo "ainda bem que não sou você", porque ao mesmo tempo que é absurdo, é tão realista que poderia acontecer com qualquer pessoa. a entrada na noite de NY é muito bem feita e consegue até causar alguma identificação (por exemplo, a cena do metrô é completamente sao paulo) ao mesmo tempo que revela seu charme especial. uma comédia de erros muito bem escrita e dirigida pelo scorsese
usando a clássica estrutura de duplas na chanchada, costinha faz dupla com o palhaço carequinha. como era previsível, o humor físico foi mais explorado (tendo uma ótima de um cara botando o carequinha pra dormir) mas no humor falado - o melhor do costinha - senti que não acompanhou. não tem nada muito marcante no filme além do número musical com carlos imperial e paulo silvino, bem no começo do que seria o rock n roll brasileiro
poderia ter meia hora a menos? poderia. eu negaria essa meia hora a mais? nunca
esse filme é um espetáculo visual, uma das mais belas produções do scorsese: o clima noturno, os neons, as luzes, o rock n' roll 50s/60s (a cena de heart of stone na entrada de ginger é um espetáculo) e principalmente os figurinos. não tem como não admirar o trabalho maravilhoso do figurino (já que o de niro parece trocar de roupa a cada 15 minutos). a atmosfera dos anos 70 é muito bem criada e o filme não parece ser da metade dos 90s. a narrativa é bem na linha de goodfellas: diversos personagens que tem suas jornadas no crime entrelaçadas numa ascensão e queda com traições e conflitos. creio que goodfellas tenha equilibrado melhor essa inserção de personagens, mas não senti confusão pra entender as situações. de niro e joe pesci estão impecáveis, a divisão do lado carismático com o lado explosivo é muito bem feita por ambos. a ginger sharon stone era claramente cilada mas seu desenvolvimento é extremamente bem feito - notável, já que scorsese tem poucas personagens femininas relevantes. uma femme fatale clássica
tem um ponto em comum com todos os filmes de crime do scorsese: é pra ser uma crítica, mas é feito de modo tão cool e com personagens tão interessantes que parece uma exaltação
esse documentário me convenceu a comprar o livro da história dele e: que personagem absurdo! o homem participou do rock n roll à jovem guarda, da chanchada à pornochanchada, da tv ao teatro, da vice presidência do botafogo à deputado do rio de janeiro... carlos imperial era uma figura única e, por mais odiável (com razão) que possa ser, é inegavelmente parte da história da cultura e entretenimento brasileiro. é engraçado que ele inventasse tanta coisa sobre ele mesmo sendo que sua vida real já fosse completamente absurda
é muito interessante como as chanchadas faziam referência ao próprio fazer cinema. tendo até "cinemascope" como elogio, o petrônio com o inseparável cabeleira buscam sucesso e dinheiro no cinema pra pagar o tratamento de elisa. a estrutura da dupla com grande otelo funciona, mas ankito não tem o mesmo humor de oscarito, sendo até pouco engraçado no filme. as situações do assassino são inesperadas e bem feitas, dando alguns toques de criação de suspense muito bem feitas, como a cena do hospital (o victor lima muitos anos depois faria o maluco crazy - um dia muito louco (1981) e utilizaria a criação de suspense muito bem). há cenas musicais típicas de chanchada e não acontecem por acontecer: acontecem no estúdio do filme, o que fica um pouco menos gratuito e mais natural. há uma situação interessante pra época: há uma cena em que uma mulher se queixa de "mão boba" no lotação, resultando na expulsão do passageiro por grande otelo que diz a frase "se ela diz que fez, é porque fez"
o começo de fernanda montenegro no cinema já é grandioso e memorável. ainda com muito tom do teatro, a atriz tem um domínio do espaço como se fosse um enorme palco, puxando pra ela o foco de qualquer cena e a direção e filmagem souberam valorizar isso. ao contrário da atriz, a personagem zulmira não é muito cativante. suas motivações são gratuitas e suas relações são todas artificiais. a obsessão pelo enterro de luxo é bem interessante, mas acaba seguindo uma fórmula do nelson rodrigues: a progressão de loucura de uma mulher até um grandioso final épico e trágico. mesmo tendo só 96 minutos, há uma queda perceptível de ritmo, o que não ajudou em nada na construção e evolução da ""doença"" de zulmira, ponto crucial pra história funcionar. não "acabando quando termina", a cena no estádio é bem bonita, representação belíssima do homem destruído em meio a multidão.
bastante influente nos anos 60, o cangaceiro surpreende por ser de 1953. chutando um período histórico (ÉPOCA: IMPRECISA. QUANDO HAVIA CANGACEIROS. KKKKK???) o filme provavelmente desagrada quem realmente se interessa por cangaço: há erros históricos, a direção é paulista, o filme se passa em SP, o tom é de faroeste americano (essa ponte de western/cangaço voltaria depois nos anos 60 também) e os personagens muitas vezes não possuem nem sotaque ou expressões regionais. começando com muito mais força e violência, o filme perde um pouco da velocidade quando muda o foco de galdino pra teodoro com a situação de romance que o fez tomar suas decisões. com ótimo começo e ótimo final, o meio do filme acabou sendo um pouco arrastado, até porque o casal não era muito carismático. não torci pra eles em momento algum, apenas aguardava a solução do conflito com os cangaceiros. o tamanho da ansiedade que o final consegue criar e a bela ligação do homem com a sua terra
com um roteiro mais amarrado que o 1, a família addams chega no segundo filme tentando não repetir a fórmula do primeiro, o que é perfeitamente compreensível pelo sucesso. nisso, a situação de deslocamento foi uma ótima sacada: qualquer cena dos personagens fora da casa e do "universo" deles, funciona como piada. pra tirá-los de lá, criaram debbie jelinsky - uma vilã charmosa com passado sombrio, uma personagem muito bem feita pelo roteiro e muito bem executada pela joan cusack. o roteiro um pouco menos ágil que no primeiro filme, ainda cria algumas falas inesperadas, principalmente com a morticia: os tons pastel, o ADVOGADO e I RESPECT THAT, por exemplo. o momento da wandinha sorridente é bizarro e novamente a sacada do teatro funciona aqui. o filme insere algumas críticas sociais gratuitas ao momento dos EUA e até faz uma piada com o michael jackson, o que deve ter sido mais engraçado no contexto do lançamento. com 2 ótimos filmes, a família addams dos 90s merece o reconhecimento e sucesso até hoje, envelhecendo muito bem. uma pena que raul julia faleceu um ano depois do lançamento desse filme, ótima química com anjelica.
aproveitando a sexta feira 13 em agosto, resolvi assistir família addams, que não revia desde a infância. é impressionante como o filme envelheceu bem! a direção de arte fiel ao desenho e ao absurdo, permite a criação de um universo ótimo pro cinema, tendo um ar de filme indie dos anos 2000, mesmo sendo de 1991. utilizando algumas técnicas de horror antigo - a luz nos olhos de drácula aparecem na morticia, o ""chroma key'" às antigas (de invisible man (1993), por exemplo) para a mão - enquanto possui um ritmo e timing de comédia impecáveis: o roteiro é rasteiro, colocando algumas piadas inesperadas e brinca muito com a morbidez. a história em si só serve pra fazer o filme rodar no universo dos personagens, o que não incomoda de jeito nenhum. é divertido, engraçado, charmoso e uma boa experiência cinematográfica, mesmo com pouca pretensão. a cena sangrenta do teatro é hilária
ps: vendo legendado descobri que a wandinha é WEDNESDAY e o tio chico é UNCLE FESTER???
assisti no dia da morte do paulo josé, como alguma forma de homenagem, já que tava enrolando esse filme por muito tempo. o seu protagonista, tezinho, é a alma do filme: o filme não leva o nome "o rei da noite" por acaso. é uma jornada de degradação e conquista de poder que, positivamente (?), cria cada vez mais antipatia pelo antes carismático personagem de paulo josé - sendo proposital, ótimo. o ar de anos 40 é charmoso e bem executado (e provavelmente caro, o que é interessante por ser o primeiro filme do babenco). seu roteiro extremamente formal peca e até interfere nas emoções de algumas cenas e uma atriz consegue se destacar por uma atuação mais naturalista: a pupe de marília pêra é poderosa e fraca, cínica e verdadeira, argentina e brasileira. uma personagem forte e muito bem construída pelo diretor e potencializada pela marília, parceria que se consolidou 5 anos depois na sueli, de pixote: a lei do mais fraco (1980). interessante por ser o começo de babenco no cinema com indícios do que seria a carreira do diretor noturno, cru e criminal. o final, após toda a trajetória maluca do filme, acaba sendo meio bobo.
os filmes de fim/começo de década no cinema brasileiro são sempre muito interessantes como retrato de época. definir eu te amo como "pornochanchada" é absurdo: o filme realmente usa e abusa das cenas de sexo e nudez, mas há um lado denso na construção dos personagens. o contexto de 1981 traz personagens alienados, pessimistas e ansiosos. não por acaso, pereio faz um industrial lotado de tvs e videos em casa - o pós milagre econômico e a falsa modernização do brasil 70s. a escolha dos atores principais é de uma sacada muito boa: por mais que o roteiro seja meio engessado, a atuação do pereio transparece todo o pessimismo e insegurança do personagem (que não por acaso também chama paulo). um ator canastrão símbolo da malandragem colocado como um personagem inseguro é, novamente, uma forma de retratar o fim da década de 70. a queda de confiança, de poder, de potência. a escolha da sonia braga pra personagem é tão interessante quanto: uma falsa prostituta que na verdade é apaixonada por um homem casado. novamente o falso poder (sexual, inclusive) e controle da situação pra ocultar insegurança e fraqueza. vale lembrar a atuação de sonia braga na década de 70 como símbolo sexual (dona flor, lotação). com essa dupla se encontrando, é como se um precisasse do outro pra preencher alguma coisa que nunca é realmente preenchida. os personagens transam a todo momento porque todos seus diálogos são pessimistas, assustadores e qualquer ação causaria grande mudança em suas vidas - o grande vazio que é disfarçado com esses preenchimentos: o sexo, as televisões, o amante rico que vai mudar a vida, a ex mulher bem sucedida... a última cena do apartamento é uma das maiores que eu já vi - inclusive é inacreditável que seja dirigida pelo jabor. de modo inesperado, um clima de suspense e quase terror é criado e a composição de luzes, música e enorme atuação de sonia braga criam um ar que não permite nenhum piscar de olhos. a cena realmente final, logo após essa, é um pouco duvidosa: há quem ame e quem odeie. não amo nem odeio mas não acho que tem o tamanho (e tom) do filme, principalmente após essa cena absurda no apartamento. eu te amo é um filme enorme em analogias e em contextos históricos e não pode ser simplesmente resumido como pornochanchada. pra mim está acima de tudo bem (1978) na filmografia do jabor e deve ser a maior atuação da sonia braga.
o filme me pegou pelas razões erradas: fui completamente consciente de que veria um musical mas gostei mais da história do que das músicas. a história criminal com estilo cabaret e a atmosfera anos 20 ou 30 (?) são elementos que funcionam independentemente das músicas, o que acaba tornando elas enfadonhas - uma sensação de querer saber o que vai acontecer agora na história enquanto está preso num número musical de cinco minutos. não é exatamente um problema num musical, mas, a grande quantidade de músicas (de longa duração) ficam cansativas... principalmente porque (pra mim) nenhuma música teve algum impacto no sentido de querer simplesmente ouvir a música fora do filme - como um grease ou rocky horror, por exemplo. a direção de arte é grandiosa e exuberante, fazendo tudo com muito brilho, luz e charme. não esperava que richard gere fosse bem nesse papel canastrão, mas foi um dos destaques do filme. mas quem tem uma atuação enorme é catherine zeta jones como velma kelly, ofuscando completamente o protagonismo da zellweger toda vez que aparecia - inclusive, zeta jones levou o oscar de coadjuvante em 2002. o oscar não ter indicado trilha sonora ou canção original inclusive reforça a opinião que tive: um bom filme mas não exatamente um bom musical, ironicamente.
a melhor representação de ansiedade que eu já vi no cinema - não só nacional, no geral mesmo. a tereza tem tantos pensamentos que atropela sua própria linha de raciocínio com contrapontos. não sabe o que quer e não sabe porque não sabe o que quer nem sabe o que fazer sobre isso. como a ana carolina diz que fala por meio de todos os personagens, creio que a tereza seja a personagem mais próxima da diretora por completo - o jeito de falar, pensar e agir da diretora em entrevistas etc é bem parecido com a personagem. o filme é basicamente uma busca por respostas, a linearidade, o realismo e amarrar uma história de começo, meio e fim não é o objetivo. e acompanhar a tereza é se identificar com ela a todo momento (ou lembrar muito de alguns pensamentos de mulheres que conheço, como aconteceu por aqui também). é um filme sincero e talvez até sincero demais por parte da diretora: é uma exposição enorme de um turbilhão de sensações, anseios, medos e pensamentos que talvez não funcione pra todo mundo - eu me identifiquei e amei acompanhar, mas muita gente achou insuportável nos comentários aqui. ana carolina é absurdamente genial e deveria ser muito mais reconhecida e exaltada pelas suas obras. a cena final é um mix de sentimentos com surrealismo, algo que se fosse lynchiano seria exaltado. poucas pessoas no cinema (mundial, novamente) fazem um cinema como o de ana carolina
sou fã incondicional do mar de rosas (1977) da ana carolina mas nao tinha visto mais nada dela. daí descobri que havia uma certa trilogia entre os seus três primeiros longas: mar de rosas (infância), das tripas coração (adolescência) e sonho de valsa (vida adulta) - a famosa trilogia da condição feminina. aqui há uma escolha (um pouco facilitada, é verdade) porém muito interessante: o personagem do antonio fagundes resolve dar um cochilo no colégio e tudo dali pra frente será imaginação dele. a sacada é: as mulheres são uma visão masculina de mulheres, não exatamente mulheres. tudo é escrachado, escandaloso, absurdo e anárquico, um campo que ana carolina já mostrou que dominava em mar de rosas. a devassidão crescente no filme cria algumas cenas ótimas:
xixi na bíblia, mandar a professora pra puta que pariu, as professoras andando nuas, o piano caindo, o padre mijando
mas senti que antes de chegar o final causa um certo cansaço pela repetição - a devassidão não fica mais surpreendente, vai se tornando comum no filme ter gostado desse filme me levou pro sonho de valsa e desde então me aprofundando cada vez mais na carreira da ana carolina!! ps: sem querer criar as comparações de sempre, mas, mesmo com muito mais caos aqui, mar de rosas equilibrou isso melhor que das tripas
um bom filme dividido entre decisões boas e ruins. o filme possui diversos movimentos de câmera interessantíssimos pra época, além da própria escolha da temática - vale lembrar que havia o código hays vigorando até um ano antes, o que não autorizaria muita coisa do filme - e a perspectiva narrativa. a abertura com fotos tem uma ótima montagem. a escolha do elenco é perfeita: o clyde de warren beatty, mesmo já tendo histórico criminal, tem charme com certa inocência enquanto a bonnie de faye dunaway é mais explosiva e revoltada. essa certa oposição entre personalidades causa bons conflitos da relação de controle entre eles. infelizmente, o ritmo do filme é bem corrido e bonnie e clyde já se conhecem na primeira cena, explorando pouco essa individualidade. os conflitos, aliás, são muito bem explorados quando se completa a gangue: a relação do grupo de 5 pessoas é utilizada e dividida de diversas maneiras por boa parte do filme. o que chamo de decisão ruim é, certamente, a não seriedade do filme consigo mesmo. mesmo tendo bons conflitos criminais, amorosos, familiares, etc, o filme não parece querer se manter como um drama e corta completamente o clima de algumas cenas, as encerrando (diversas vezes) com uma cena de carro e música hillbilly de comédia pastelão fora de tom - o que, nesse caso, é o motivo de considerar que não funcionou, já que a cena (de humor) com gene wilder é uma das melhores do filme. a situação, cômica por si só, permitiu e sustentou humor no filme, música de comédia após pesadas cenas de ação, não. a forma de encerrar o filme foi bem interessante: abrupta, como o fim da "carreira" da dupla
Nudista à Fôrça
2.6 2um dos filmes mais conhecidos do costinha é o libertino (1973) também dirigido pelo victor lima. lá costinha convence fazendo "dois" papéis: o conservador emanoel e o seu lado libertino. aqui, a fórmula foi usada pela primeira vez: costinha faz um papel mais bobo e inocente (severino) e um papel mais malandro e sério (clementino) e novamente se destaca. óbvio que o comediante não tá preocupado em entregar uma grande atuação mas é inegável como é perceptível a diferença entre os dois personagens, novamente bem explorada como fator cômico pelo diretor. o elenco tem uma boa química em duplas: o onipresente wilson grey faz uma ponta sendo uma dupla do crime com angelo antonio, milton moraes e claudio cavalcanti fazem a polícia, a mulher e filha de severino e uma outra dupla de falsificadores. uma divisão clássica e herança da chanchada, mesmo num filme mais ~maduro em comparação. o conflito da casa de nudismo é bem bolado e a conclusão é divertida, mesmo sendo bobinha. um respiro final das chanchadas clássicas já na segunda metade dos anos 60 pelo bom diretor victor lima
Chacrinha: O Velho Guerreiro
3.4 83 Assista Agorasegue uma estrutura já manjada de filmes biográficos brasileiros: as dificuldades pré fama, a mudança de vida, a fama, os conflitos causados pela fama (quase sempre a ausência com pessoas pré fama), uma certa decadência, alguma volta por cima e morte. não há nenhuma novidade ou destaque sobre a história em si. fica tudo muito por cima e com pouca profundidade - talvez funcionasse mais pegando um recorte um pouco mais preciso da vida do chacrinha.
o destaque do filme fica mesmo pro stepan que faz um chacrinha PERFEITO. já sabia que fisicamente estaria muito parecido, mas há muitos detalhes importantes na voz, no jeito de falar e nos maneirismos do chacrinha original.
como fizeram no bingo (2017), a criação do universo televisivo anos 70/80 é muito bem feita, mas aqui a globo (coprodutora) apresentando todas as emissorsa como mambembe e se colocando naquela de "meu defeito? ser perfeccionista demais" é um pouco desonesto. achei estranho não ter o carlos imperial em nenhum momento do filme, visto que ele e chacrinha tiveram vários momentos da carreira juntos
as participações de luan santana e criolo são completamente gratuitas e eu sinceramente nem sei o motivo delas
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista Agoragrande filme do rob reiner (que tem uma filmografia muito maluca) numa adaptação do stephen king. a tensão criada pelo filme é muito bem feita e sua progressão não é forçada. o filme se constrói que nem a annie wilkes: com muita calma até explodir numa maluquice total. por demorar a chegar nessa explosão, esperava mais conflito (e mais sangue, sinceramente), mas por já ser de 1990 creio que isso tava começando a mudar. creio que não me pegou muito por ter ido ver esperando um lado mais terror, mas é um suspense clássico.
Louca Obsessão
4.1 1,3K Assista Agoraos caras que escreveram o final de game of thrones devem morrer de medo desse filme
O Signo de Escorpião
3.2 10a premissa desse filme é muito boa. um ar de jogo de detetive e investigação a la agatha christie - lembra o e não sobrou nenhum (1939), provavelmente inspirado - misturando comédia e suspense bem no jeitão do que seria o clue (1985), que viria só 10 anos depois. a ideia de apresentar cada signo foi boa, mas após um tempo de filme tive que voltar pra lembrar qual era qual, mesmo que tenham criado um bom visual pra cada um. diverte muito e as mortes são bem criativas, algumas imprevisíveis. ainda numa comparação com clue: a conclusão do filme gringo é genial, ao contrário do brasileiro. filmes assim acabam jogando muita pressão pra finalização da história e aqui o plot twist simplesmente não rolou, além da cena
do escorpião ter sido meio tosca
no geral um filme bem divertido e despretensioso, além de ter um certo charme. deveria ser mais conhecido e até funcionaria bem num remake
A Mulher que Inventou o Amor
3.9 26a filmografia do jean garrett tem personagens femininas muito interessantes!!!!
a doralice tem uma ascensão de poder até se tornar talulah, a figura que o sugar daddy dela praticamente moldou e tornou tão real que se voltou contra ele. depois em negação de doralice - e o que ela representava - os conflitos vão se tornando cada vez mais pessoais até explodir no belíssimo final:
o assassinato de sua maior meta amorosa num casamento sangrento
um grande filme sobre o poder e a frequeza que o sexo pode representar. garrett na direção e reichenbach na fotografia formam uma ótima dupla, destacando os já ótimos enquadramentos do diretor. (fun fact: reichenbach faz uma ponta no filme como professor)
adorei o personagem bissexual ser simplesmente por opção, sem qualquer motivo que mudasse o roteiro. mais representativide do que os filmes que forçam ela atualmente
O Dono da Bola
3.2 11divertida chanchada com golias competindo num programa contra carlos imperial & costinha (que dupla) com direito a perry salles de galã. grande otelo faz ele mesmo numa participação, como sempre, divertida. é um filme bem inocente e até meio ultrapassado pra época (um ano depois sairia assalto ao trem pagador e barravento, por exemplo) mas não deixa de ser divertido
Harry & Sally: Feitos um Para o Outro
3.9 505 Assista Agoraa estrutura é bem interessante - a passagem no tempo, os relatos de outros casais, a evolução dramática - além de algumas discussões bem importantes no contexto de 1989. o problema é que o harry é absolutamente insuportável: não tem carisma, não tem charme, não tem graça, não tem NADA. simplesmente um falastrão chato e irritante. a sally também não é muito carismática, embora não seja exatamente problemática. acaba não funcionando num filme em que eu preciso torcer pra esse casal funcionar. tem uma filosofia bem boba de que "homem e mulher não podem ser amigos por causa da atração sexual" blablabla
mesmo indo sem pretensão e esperando uma comédia romântica não rolou
Depois de Horas
4.0 457 Assista Agorapra mim um dos melhores que já vi do scorsese. se aventurando na comédia, tem um ar menos pretensioso e mais aconchegante(??) de alguma forma - não sabia nada do personagem mas já comecei o filme convencido à acompanhá-lo. alguns momentos são de preocupação e outros são de completo "ainda bem que não sou você", porque ao mesmo tempo que é absurdo, é tão realista que poderia acontecer com qualquer pessoa. a entrada na noite de NY é muito bem feita e consegue até causar alguma identificação (por exemplo, a cena do metrô é completamente sao paulo) ao mesmo tempo que revela seu charme especial. uma comédia de erros muito bem escrita e dirigida pelo scorsese
Sherlock de Araque
3.4 13usando a clássica estrutura de duplas na chanchada, costinha faz dupla com o palhaço carequinha. como era previsível, o humor físico foi mais explorado (tendo uma ótima de um cara botando o carequinha pra dormir) mas no humor falado - o melhor do costinha - senti que não acompanhou. não tem nada muito marcante no filme além do número musical com carlos imperial e paulo silvino, bem no começo do que seria o rock n roll brasileiro
Cassino
4.2 651 Assista Agorapoderia ter meia hora a menos? poderia. eu negaria essa meia hora a mais? nunca
esse filme é um espetáculo visual, uma das mais belas produções do scorsese: o clima noturno, os neons, as luzes, o rock n' roll 50s/60s (a cena de heart of stone na entrada de ginger é um espetáculo) e principalmente os figurinos. não tem como não admirar o trabalho maravilhoso do figurino (já que o de niro parece trocar de roupa a cada 15 minutos). a atmosfera dos anos 70 é muito bem criada e o filme não parece ser da metade dos 90s.
a narrativa é bem na linha de goodfellas: diversos personagens que tem suas jornadas no crime entrelaçadas numa ascensão e queda com traições e conflitos. creio que goodfellas tenha equilibrado melhor essa inserção de personagens, mas não senti confusão pra entender as situações.
de niro e joe pesci estão impecáveis, a divisão do lado carismático com o lado explosivo é muito bem feita por ambos. a ginger sharon stone era claramente cilada mas seu desenvolvimento é extremamente bem feito - notável, já que scorsese tem poucas personagens femininas relevantes. uma femme fatale clássica
tem um ponto em comum com todos os filmes de crime do scorsese: é pra ser uma crítica, mas é feito de modo tão cool e com personagens tão interessantes que parece uma exaltação
Eu sou Carlos Imperial
3.5 14esse documentário me convenceu a comprar o livro da história dele e: que personagem absurdo! o homem participou do rock n roll à jovem guarda, da chanchada à pornochanchada, da tv ao teatro, da vice presidência do botafogo à deputado do rio de janeiro... carlos imperial era uma figura única e, por mais odiável (com razão) que possa ser, é inegavelmente parte da história da cultura e entretenimento brasileiro. é engraçado que ele inventasse tanta coisa sobre ele mesmo sendo que sua vida real já fosse completamente absurda
Pé na tábua
3.6 3é muito interessante como as chanchadas faziam referência ao próprio fazer cinema. tendo até "cinemascope" como elogio, o petrônio com o inseparável cabeleira buscam sucesso e dinheiro no cinema pra pagar o tratamento de elisa. a estrutura da dupla com grande otelo funciona, mas ankito não tem o mesmo humor de oscarito, sendo até pouco engraçado no filme. as situações do assassino são inesperadas e bem feitas, dando alguns toques de criação de suspense muito bem feitas, como a cena do hospital (o victor lima muitos anos depois faria o maluco crazy - um dia muito louco (1981) e utilizaria a criação de suspense muito bem). há cenas musicais típicas de chanchada e não acontecem por acontecer: acontecem no estúdio do filme, o que fica um pouco menos gratuito e mais natural.
há uma situação interessante pra época: há uma cena em que uma mulher se queixa de "mão boba" no lotação, resultando na expulsão do passageiro por grande otelo que diz a frase "se ela diz que fez, é porque fez"
A Falecida
4.1 106o começo de fernanda montenegro no cinema já é grandioso e memorável. ainda com muito tom do teatro, a atriz tem um domínio do espaço como se fosse um enorme palco, puxando pra ela o foco de qualquer cena e a direção e filmagem souberam valorizar isso. ao contrário da atriz, a personagem zulmira não é muito cativante. suas motivações são gratuitas e suas relações são todas artificiais. a obsessão pelo enterro de luxo é bem interessante, mas acaba seguindo uma fórmula do nelson rodrigues: a progressão de loucura de uma mulher até um grandioso final épico e trágico. mesmo tendo só 96 minutos, há uma queda perceptível de ritmo, o que não ajudou em nada na construção e evolução da ""doença"" de zulmira, ponto crucial pra história funcionar. não "acabando quando termina", a cena no estádio é bem bonita, representação belíssima do homem destruído em meio a multidão.
O Cangaceiro
3.8 78bastante influente nos anos 60, o cangaceiro surpreende por ser de 1953. chutando um período histórico (ÉPOCA: IMPRECISA. QUANDO HAVIA CANGACEIROS. KKKKK???) o filme provavelmente desagrada quem realmente se interessa por cangaço: há erros históricos, a direção é paulista, o filme se passa em SP, o tom é de faroeste americano (essa ponte de western/cangaço voltaria depois nos anos 60 também) e os personagens muitas vezes não possuem nem sotaque ou expressões regionais. começando com muito mais força e violência, o filme perde um pouco da velocidade quando muda o foco de galdino pra teodoro com a situação de romance que o fez tomar suas decisões. com ótimo começo e ótimo final, o meio do filme acabou sendo um pouco arrastado, até porque o casal não era muito carismático. não torci pra eles em momento algum, apenas aguardava a solução do conflito com os cangaceiros.
o tamanho da ansiedade que o final consegue criar e a bela ligação do homem com a sua terra
(expressada de forma literal nas últimas cenas)
me marcaram bastante, provavelmente por abraçar a força do regionalismo que o filme representa. grande filme brasileiro da vera cruz!!
A Família Addams 2
3.5 382 Assista Agoracom um roteiro mais amarrado que o 1, a família addams chega no segundo filme tentando não repetir a fórmula do primeiro, o que é perfeitamente compreensível pelo sucesso. nisso, a situação de deslocamento foi uma ótima sacada: qualquer cena dos personagens fora da casa e do "universo" deles, funciona como piada. pra tirá-los de lá, criaram debbie jelinsky - uma vilã charmosa com passado sombrio, uma personagem muito bem feita pelo roteiro e muito bem executada pela joan cusack. o roteiro um pouco menos ágil que no primeiro filme, ainda cria algumas falas inesperadas, principalmente com a morticia: os tons pastel, o ADVOGADO e I RESPECT THAT, por exemplo. o momento da wandinha sorridente é bizarro e novamente a sacada do teatro funciona aqui. o filme insere algumas críticas sociais gratuitas ao momento dos EUA e até faz uma piada com o michael jackson, o que deve ter sido mais engraçado no contexto do lançamento.
com 2 ótimos filmes, a família addams dos 90s merece o reconhecimento e sucesso até hoje, envelhecendo muito bem. uma pena que raul julia faleceu um ano depois do lançamento desse filme, ótima química com anjelica.
A Família Addams
3.6 741 Assista Agoraaproveitando a sexta feira 13 em agosto, resolvi assistir família addams, que não revia desde a infância. é impressionante como o filme envelheceu bem! a direção de arte fiel ao desenho e ao absurdo, permite a criação de um universo ótimo pro cinema, tendo um ar de filme indie dos anos 2000, mesmo sendo de 1991. utilizando algumas técnicas de horror antigo - a luz nos olhos de drácula aparecem na morticia, o ""chroma key'" às antigas (de invisible man (1993), por exemplo) para a mão - enquanto possui um ritmo e timing de comédia impecáveis: o roteiro é rasteiro, colocando algumas piadas inesperadas e brinca muito com a morbidez. a história em si só serve pra fazer o filme rodar no universo dos personagens, o que não incomoda de jeito nenhum. é divertido, engraçado, charmoso e uma boa experiência cinematográfica, mesmo com pouca pretensão. a cena sangrenta do teatro é hilária
ps: vendo legendado descobri que a wandinha é WEDNESDAY e o tio chico é UNCLE FESTER???
O Rei da Noite
3.5 24 Assista Agoraassisti no dia da morte do paulo josé, como alguma forma de homenagem, já que tava enrolando esse filme por muito tempo. o seu protagonista, tezinho, é a alma do filme: o filme não leva o nome "o rei da noite" por acaso. é uma jornada de degradação e conquista de poder que, positivamente (?), cria cada vez mais antipatia pelo antes carismático personagem de paulo josé - sendo proposital, ótimo. o ar de anos 40 é charmoso e bem executado (e provavelmente caro, o que é interessante por ser o primeiro filme do babenco). seu roteiro extremamente formal peca e até interfere nas emoções de algumas cenas e uma atriz consegue se destacar por uma atuação mais naturalista: a pupe de marília pêra é poderosa e fraca, cínica e verdadeira, argentina e brasileira. uma personagem forte e muito bem construída pelo diretor e potencializada pela marília, parceria que se consolidou 5 anos depois na sueli, de pixote: a lei do mais fraco (1980).
interessante por ser o começo de babenco no cinema com indícios do que seria a carreira do diretor noturno, cru e criminal. o final, após toda a trajetória maluca do filme, acaba sendo meio bobo.
Amor, Palavra Prostituta
3.8 14onde assistir?
Eu Te Amo
3.4 75os filmes de fim/começo de década no cinema brasileiro são sempre muito interessantes como retrato de época.
definir eu te amo como "pornochanchada" é absurdo: o filme realmente usa e abusa das cenas de sexo e nudez, mas há um lado denso na construção dos personagens. o contexto de 1981 traz personagens alienados, pessimistas e ansiosos. não por acaso, pereio faz um industrial lotado de tvs e videos em casa - o pós milagre econômico e a falsa modernização do brasil 70s.
a escolha dos atores principais é de uma sacada muito boa: por mais que o roteiro seja meio engessado, a atuação do pereio transparece todo o pessimismo e insegurança do personagem (que não por acaso também chama paulo). um ator canastrão símbolo da malandragem colocado como um personagem inseguro é, novamente, uma forma de retratar o fim da década de 70. a queda de confiança, de poder, de potência.
a escolha da sonia braga pra personagem é tão interessante quanto: uma falsa prostituta que na verdade é apaixonada por um homem casado. novamente o falso poder (sexual, inclusive) e controle da situação pra ocultar insegurança e fraqueza. vale lembrar a atuação de sonia braga na década de 70 como símbolo sexual (dona flor, lotação).
com essa dupla se encontrando, é como se um precisasse do outro pra preencher alguma coisa que nunca é realmente preenchida. os personagens transam a todo momento porque todos seus diálogos são pessimistas, assustadores e qualquer ação causaria grande mudança em suas vidas - o grande vazio que é disfarçado com esses preenchimentos: o sexo, as televisões, o amante rico que vai mudar a vida, a ex mulher bem sucedida...
a última cena do apartamento é uma das maiores que eu já vi - inclusive é inacreditável que seja dirigida pelo jabor. de modo inesperado, um clima de suspense e quase terror é criado e a composição de luzes, música e enorme atuação de sonia braga criam um ar que não permite nenhum piscar de olhos. a cena realmente final, logo após essa, é um pouco duvidosa: há quem ame e quem odeie. não amo nem odeio mas não acho que tem o tamanho (e tom) do filme, principalmente após essa cena absurda no apartamento.
eu te amo é um filme enorme em analogias e em contextos históricos e não pode ser simplesmente resumido como pornochanchada. pra mim está acima de tudo bem (1978) na filmografia do jabor e deve ser a maior atuação da sonia braga.
Chicago
4.0 997o filme me pegou pelas razões erradas: fui completamente consciente de que veria um musical mas gostei mais da história do que das músicas. a história criminal com estilo cabaret e a atmosfera anos 20 ou 30 (?) são elementos que funcionam independentemente das músicas, o que acaba tornando elas enfadonhas - uma sensação de querer saber o que vai acontecer agora na história enquanto está preso num número musical de cinco minutos. não é exatamente um problema num musical, mas, a grande quantidade de músicas (de longa duração) ficam cansativas... principalmente porque (pra mim) nenhuma música teve algum impacto no sentido de querer simplesmente ouvir a música fora do filme - como um grease ou rocky horror, por exemplo. a direção de arte é grandiosa e exuberante, fazendo tudo com muito brilho, luz e charme.
não esperava que richard gere fosse bem nesse papel canastrão, mas foi um dos destaques do filme. mas quem tem uma atuação enorme é catherine zeta jones como velma kelly, ofuscando completamente o protagonismo da zellweger toda vez que aparecia - inclusive, zeta jones levou o oscar de coadjuvante em 2002. o oscar não ter indicado trilha sonora ou canção original inclusive reforça a opinião que tive: um bom filme mas não exatamente um bom musical, ironicamente.
Sonho de Valsa
3.5 12 Assista Agoraa melhor representação de ansiedade que eu já vi no cinema - não só nacional, no geral mesmo. a tereza tem tantos pensamentos que atropela sua própria linha de raciocínio com contrapontos. não sabe o que quer e não sabe porque não sabe o que quer nem sabe o que fazer sobre isso. como a ana carolina diz que fala por meio de todos os personagens, creio que a tereza seja a personagem mais próxima da diretora por completo - o jeito de falar, pensar e agir da diretora em entrevistas etc é bem parecido com a personagem. o filme é basicamente uma busca por respostas, a linearidade, o realismo e amarrar uma história de começo, meio e fim não é o objetivo. e acompanhar a tereza é se identificar com ela a todo momento (ou lembrar muito de alguns pensamentos de mulheres que conheço, como aconteceu por aqui também). é um filme sincero e talvez até sincero demais por parte da diretora: é uma exposição enorme de um turbilhão de sensações, anseios, medos e pensamentos que talvez não funcione pra todo mundo - eu me identifiquei e amei acompanhar, mas muita gente achou insuportável nos comentários aqui.
ana carolina é absurdamente genial e deveria ser muito mais reconhecida e exaltada pelas suas obras. a cena final é um mix de sentimentos com surrealismo, algo que se fosse lynchiano seria exaltado. poucas pessoas no cinema (mundial, novamente) fazem um cinema como o de ana carolina
Das Tripas Coração
3.5 36 Assista Agorasou fã incondicional do mar de rosas (1977) da ana carolina mas nao tinha visto mais nada dela. daí descobri que havia uma certa trilogia entre os seus três primeiros longas: mar de rosas (infância), das tripas coração (adolescência) e sonho de valsa (vida adulta) - a famosa trilogia da condição feminina.
aqui há uma escolha (um pouco facilitada, é verdade) porém muito interessante: o personagem do antonio fagundes resolve dar um cochilo no colégio e tudo dali pra frente será imaginação dele. a sacada é: as mulheres são uma visão masculina de mulheres, não exatamente mulheres. tudo é escrachado, escandaloso, absurdo e anárquico, um campo que ana carolina já mostrou que dominava em mar de rosas. a devassidão crescente no filme cria algumas cenas ótimas:
xixi na bíblia, mandar a professora pra puta que pariu, as professoras andando nuas, o piano caindo, o padre mijando
mas senti que antes de chegar o final causa um certo cansaço pela repetição - a devassidão não fica mais surpreendente, vai se tornando comum no filme
ter gostado desse filme me levou pro sonho de valsa e desde então me aprofundando cada vez mais na carreira da ana carolina!!
ps: sem querer criar as comparações de sempre, mas, mesmo com muito mais caos aqui, mar de rosas equilibrou isso melhor que das tripas
Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas
4.0 399 Assista Agoraum bom filme dividido entre decisões boas e ruins. o filme possui diversos movimentos de câmera interessantíssimos pra época, além da própria escolha da temática - vale lembrar que havia o código hays vigorando até um ano antes, o que não autorizaria muita coisa do filme - e a perspectiva narrativa. a abertura com fotos tem uma ótima montagem. a escolha do elenco é perfeita: o clyde de warren beatty, mesmo já tendo histórico criminal, tem charme com certa inocência enquanto a bonnie de faye dunaway é mais explosiva e revoltada. essa certa oposição entre personalidades causa bons conflitos da relação de controle entre eles. infelizmente, o ritmo do filme é bem corrido e bonnie e clyde já se conhecem na primeira cena, explorando pouco essa individualidade. os conflitos, aliás, são muito bem explorados quando se completa a gangue: a relação do grupo de 5 pessoas é utilizada e dividida de diversas maneiras por boa parte do filme.
o que chamo de decisão ruim é, certamente, a não seriedade do filme consigo mesmo. mesmo tendo bons conflitos criminais, amorosos, familiares, etc, o filme não parece querer se manter como um drama e corta completamente o clima de algumas cenas, as encerrando (diversas vezes) com uma cena de carro e música hillbilly de comédia pastelão fora de tom - o que, nesse caso, é o motivo de considerar que não funcionou, já que a cena (de humor) com gene wilder é uma das melhores do filme. a situação, cômica por si só, permitiu e sustentou humor no filme, música de comédia após pesadas cenas de ação, não.
a forma de encerrar o filme foi bem interessante: abrupta, como o fim da "carreira" da dupla