Só não dou 4,5 porque fiquei um pouco perdida na cronologia em alguns momentos. Algo que uma separação em seções/capítulos poderia ter remediado. Além de sublinhar as ideias chaves de cada fase.
E por, ao final do longa, sentir a falta de ao menos uma fala de Pam Grier (!!!). Bem como por não deixar de acreditar que Spike Lee, Dee Rees, Kasi Lemmons, Julie Dash... e até Tarantino e Scorsese poderiam ter homenageado as e os artistas de antigamente, falando de suas inspirações e as referências presentes em suas filmografias... E pensar que entrevistas de mulheres cineastas até compensariam as barreiras históricas de outrora para mulheres negras. Mas acabam perpetuando o apagamento e exclusão das mulheres negras...
1. Piper Chapman (infância) 2. Tasha 'Taystee' Jefferson (e Vee Parker) 3. Suzanne 'Crazy Eyes' Warren 4. Lorna Morello 5. Gloria Mendoza 6. Poussey Washington 7. Cindy Hayes (aka Black Cindy) 8. Miss Rosa 9. Red e Vee 10. Piper e Vause 11. Irmã Ingalls 12. Vee Parker 13. nenhum flashback
Para quem está afim de afrossurrealismo de verdade [e não alguma apropriação cultural dessa linguagem por diretores brancos (como no caso de mais de 90% dessa série) com violência gráfica e gratuita], aqui uma lista de sugestões: https://filmow.com/listas/afro-surrealismo-l218453/.
Eu fui assistindo a série sem criar julgamentos ou avaliar muito até terminar de vê-la. Mas o final acabou me fazendo repensar muita coisa...
Toda a violência gráfica (física e psicológica) que atormenta a família e o casal negro coadjuvante não se justifica afinal. São 10 episódios detalhando, aprofundando e ostentando (?) o sofrimento decorrente do racismo (e misoginia) com um desfecho apressado e abstrato demais, sem justificativa ou desenrolar plausível.
Querem vender a série como a história de uma família unida, mas os criadores exploram demais a protagonista feminina. Até mesmo as rimas (aquela mesma fala que aparece em 3 ocasiões entre o pai e a mãe) carecem de simetria.
Quando a mulher a profere pela primeira vez, faz parte de um momento de escuta que ajuda o marido a se recuperar -parcialmente- de um trauma. Quando o pai a emite, mais parece cobrança e em quase nada ajudou a mãe: ela continuando a carregar o cadáver do filho pelo país... e o pai continua sobretudo cumprindo seu papel de provedor. No último episódio, ela tira forças "de lugar nenhum" / "de si mesma", anda sei lá que distância, fraca e a pé, enfrenta uma horda literalmente na força do grito, salva (ou ajuda) ambas as filhas e o marido, antes de enfrentar completamente SO-ZI-NHA seu maior trauma.
Para mim, essa representação não ajuda em nada às mulheres negras, alçadas ao posto de "guerreiras", "batalhadoras", "sobrehumanas" (sejam elas mães solo ou não...). Pois se ela não precisava forçosamente ser ajudada pelo companheiro de vida, poderiam ao menos mostrar alguma outra dinâmica entre as mulheres negras.
No fim das contas, ela aparenta ter matado a médica apenas por "raiva": ela nem solta nem abraça a sua semelhante -com quem, além de etnia cultural e gênero, partilha ainda um mesmo trauma!-, que foi deixada para se virar, na sala de operação... do hospício!
Aliás, essa visão de que pessoas negras (em especial as mulheres negras) seriam descomunalmente mais resistentes e tolerantes à dor é o que faz com que sofram muito mais que qualquer outro grupo demográfico de pacientes nas mãos dos médicos hoje em dia.
E hoje descubro que 9 dos 10 episódios foram dirigidos por homens brancos!!! Sendo que o da Janicza Bravo dura menos de 33 minutos!!! Outros tendo direito a até mais de 50 minutos... Ou seja, apesar de terem me indicado a série como sendo afrossurrealista, está mais para apropriação cultural mesmo. Para surfar na onda dos sucessos de Jordan Peele, Donald Glover e Barry Jenkins, chamam a Janicza Bravo, que já dirigiu episódio de 'Atlanta' (2016-), contratam Shahadi Wright Joseph, que atuou em 'US' (2019), elegem como pano de fundo um período histórico assim como 'The Underground Railroad' (2021) e 'Lovecraft Country' (2020)...
Aliás, tive uma forte sensação de déjà-vu com essa série de 2021: a intriga lembra DEMAIS a obra afro-surealista de Remi Weekes de 2020, cuja sinopse disponível no Filmow diz o seguinte: "Depois de sentir os horrores do Sudão devastado pela guerra, um casal de refugiados tentam recomeçar a vida em Londres mas encontram algo ainda mais assustador, e não é deste mundo, em sua nova casa."
Se eu tivesse credenciais de psicanalista, eu arriscaria dizer que aquela cena em que se desmascara a real etnia da personagem interpretada por Jeremiah Birkett é projeção das pessoas não-negras que cumularam as funções de produção executiva, direção e escrita de roteiro.
Não é meu foco principal, mas falarei brevemente também da misoginia na representação da Betty Wendell. Afinal de contas, é uma mulher que cresceu sofrendo abuso sexual pelo pai, com não só o consentimento da mãe, mas culpabilização pela mesma; teve um casamento de fachada com um homem que mentia para ela e usou as economias para frequentar bares gays; era constantemente diminuída (vimos explicitamente pelo pai, por "amigas", e até pela protagonista) por não ter conseguido engravidar. E a série não falhou em representar a dificuldade enfrentada pelas mulheres (brancas) no mercado de trabalho, na figura da corretora. A série não teve tato nenhum ao por a Betty em cárcere privado e executada "ao longe", como se ela tivesse tido "o que merecia". Se era para terminar assim, precisava mesmo ter apresentado ela como vítima de abuso na infância??? A responsabilizaram pela própria morte. Sendo que lhe foi introjetada a crença de que tudo o que ela conseguiria obter seria seduzindo homens. Foi isso que os pais lhe "ensinaram".
E, para encerrar, a resolução final da temporada foi de completa exposição a qualquer tipo de violência (por parte da sociedade como do Estado, na figura da polícia) da família inteira... Duvido que quem defendia o método da não-violência (nas cafeterias e filas de cinemas, por exemplo) aprovaria o discurso de que tem-se que, a qualquer custo, não importa o quê, "parar de fugir", expondo dessa forma uma criança como a Gracie ou até mesmo (pré-)adolescente como a Ruby, sem nem lhe servir de escudo.
Lá vem textão com spoilers das duas primeiras temporadas, rs. "Esteje avizado".
Ao meu ver, a primeira temporada tem muito mais suspense. Isso porque as motivações das personagens são bem justificadas mesmo que opostas. Então a gente fica torcendo para "todas" sabendo que nem todas terão o que querem, como com Marina, Penelope e Colin.
O impasse do duelo e seu desenrolar ilustra muito bem isso.
Anthony, Simon e Daphne teriam que voltar atrás ou matar/morrer/ficar de luto. Se Anthony matasse Simon, ele enfim daria vazão a seu sonho com Sienna, mas aí Benedict teria de abrir mão de seus projetos. E assim por diante.
Também demorei a ter plena certeza da orientação sexual de Benedict (hétero? gay? bi?).
Aqui, a gente já tem ciência de quem é a Lady Whistledown e nenhum mistério veio suprir essa perda... Além disso, já sabemos desde o primeiro episódio que o casal protagonista está "predestinado", e tudo até o último episódio é só encheção de linguiça já vista inúmeras vezes por aí. Então não há atuação e diálogo que crie tensão o bastante a partir disso. Ainda por cima, pessoalmente ao menos, o recorrente machismo de Anthony o tornou intragável a temporada inteira. (Não consegui torcer pelo casal do machistinha escroto com a pseudo-feminista que sabe cavalgar, caçar e não pretende formar família.)
E também o que é esse carossel de tropos?!! Cena em que um casal hétero se abaixa para juntar algo que caiu ao chão de modo que suas mãos se toquem e seus olhares se cruzem acontece com Kate e Anthony E com Eloise e Theo, dois episódios depois. A primeira temporada oferecia um frescor ao gênero bem acima da média. Já, no meu entender, essa daí foi uma sucessão de vergonhas alheias.
De modo que a fixação pela linhagem/sobrenome/família Bridgerton (agora reforçada com a apresentação idealizadora do patriarca falecido, a ausência de um contraponto como o fornecido pelo arco do Simon e o título herdado de seu pai, a plena redenção do Anthony, e o rebaixamento dos Featherington) soa, para mim, bem antiquada e conservadora. A "partida" de pall mall do final da temporada reforça bem isso.
Eloïse estaria 100% certa e Penelope 100% errada, sendo que Pen ao menos era amiga da El, enquanto essa nunca deixou de ser egocêntrica. Basta comparar as cenas em que cada uma passa pela outra visivelmente chateada. Quem segue a amiga e a conforta, e quem nem se importa em saber o que está acontecendo.
Por fim, algo que (de duas uma, rs) ou eu deixei passar desapercebido na primeira temporada, ou se exacerbou na segunda: a fixação com o ouro, a ostentação, os diamantes, os rubis, as esmeraldas... Historicamente, foram posses de pessoas brancas obtidas em cima de escravidão e genocídio dos povos colonizados. Inclusive, a "British India" recebeu o epíteto de 'Jewel in the Crown'... Então acho uma mistificação barata toda essa glamourização ostentatória em narrativa romântica com casais interétnicos. A primeira temporada, ao meu ver, teve uma vibe 'What if' ao criar uma linha do tempo alternativa que teria surgido com o casamento do Rei George com uma mulher negra, e aproximou o gênero 'de época' do de fantasia. A segunda, por outro lado, ficou na ludibriação. Minha percepção é que a romantização (senso comum infeliz) dos ducados e condados da primeira temporada, repaginada por meio do apagamento do racismo (nos mostrando uma mulher branca aprendendo a ser uma boa duquesa sendo que o duque negro já é capacitado para a função) aqui cedeu lugar a um mascaramento das relações coloniais que só existiram porque sustentadas pela ideia de supremacia branca. Então, dessa vez, não consegui "comprar" ou "suspender minha descrença".
E já que estamos no Filmow, vou aproveitar para recomendar outra obra audiovisual: Exterminate all the brutes, disponível no HBO Max.
Design de produção bacana, diálogos cheios de humor e trocadilhos, que provavelmente se perdem na tradução (seja legendagem ou dublagem).
O filme poderia ser mais curto. Evitaria o cansaço no final devido tanto às repetições do filme quanto ao desenvolvimento lógico de causalidade (que a gente entenderia sem precisar que se arrastasse tanto).
Quesito construção de personagens, as melhores são as não-humanas. Isso porque recaem menos em clichês (como sobre os estereótipos de adolescentes, mulher divorciada, mulher solteirona, homem divorciado que noiva com a secretária, amante jovem bonita e burra, homem cafajeste, etc.) e têm arcos bem menos previsíveis e até interessantes.
O universo e a linguagem imaginados também tinham muito potencial. Ficaram bons, mas fiquei com a impressão que poderiam ter sido melhor desenvolvidos,
Bloquinho de anotações pessoais. Aberto a apontamentos alheios ou contraargumentos. Não é um ataque a quem gostou. #Pas
Listinha de coisas de que gostei no filme: 1. no começo, interpretei a presidenta como representante eleita pelos democratas (por ser mulher - o que é mais progressista - sendo que ainda apareceu depois foto dela abraçada com o B. Clinton, que remete diretamente a H. Clinton) => seria uma crítica da classe política para além do espantalho (fácil) da extrema-direita 2. a autocrítica contra artistas e celebridades engajadas 3. os 'shots' da natureza e de eventos singelos que dão uma noção de escala não-especista e global da catástrofe sem perder a beleza do quotidiano 4. a crítica ao militarismo (ilustrado pelo herói estadunidense des-necessário) e ao armamentismo (cf. cena final do veterano, como se armas de fogo fossem capazes de derrubar o cometa) 5. bem no 'midpoint' da trama é desvelado que a democracia representativa é bem fajuta no sistema capitalista (quem detém o capital exerce um real poder sobre representantes políticos, mesmo que eleitos para a presidência dos EUA)
Listinha de coisas de que não gostei no filme: 1. se tratar de mais uma narrativa que normaliza ainda mais o fim do mundo em vez de apresentar alternativas 2. a representação muito negativa das pessoas no geral (se salvam um punhado de personagens, com as quais a audiência vai querer se identificar; todas as outras são egoístas, ou tapadas, ou covardes) => esse discurso propicia até o ecofascismo (inclusive, não à toa tem comentários de torcida pelo cometa logo abaixo) 4. a representação passiva e alienada de todos os povos tradicionais do sul global 5. a metáfora do cometa não serve à responsabilização das verdadeiras crises pelas quais passamos 6. ataque raso à relevância de eventos políticos como as nomeações à Suprema Corte, o que só agrava a relevância personalista dada pela obra à presidência dos EUA (sem nem a aparição de presidentes de outras nações) 7. a representação racista do cientista negro (ele não tem 1 colega de trabalho, 1 amigo, 1 amante, nem 1 parente com quem passar seus últimos momentos) => se não era para construir um arco para ele (como fizeram pro Mindy), nem justificar a ruptura com a família (cf. Dibiasky), podiam mostrá-lo com um núcleo de figurantes que representariam seus entes queridos nos momentos finais de sua vida. Desse jeito, a obra diminui de forma bem racista a personagem negra coadjuvante, representando-a sem qualquer comunidade, família ou vida própria. 8. a caracterização do Peter Isherwell como dentro do espectro autista beira ao capacitismo 9. as duas cenas pós-créditos reforçam o tom cômico do filme após o final trágico, dourando a pílula (fim do mundo como desfecho) para a audiência, fazendo com que o longa afinal não seja tão diferente assim do jornalismo matinal criticado, que anuncia o fim do mundo mas faz logo em seguida piadinhas a respeito 10. a representação da presidenta afinal terminou como caricatura da extrema-direita (alvo muito mais fácil que os democratas defensores do capitalismo verde ou do Green New Deal, esse que "geraria inúmeros empregos") e ainda assim, como foi caracterizada parcialmente como democrata no início do filme, conspiracionistas se veem representados no grupo de protagonistas e não dos antagonistas => o filme só consegue reforçar as opiniões prévias dos espectadores, sejam elas quais forem 11. se era para apresentar um espantalho tão caricato de má presidência, seria mais honesto ser um homem em vez de uma mulher; foi constatada uma correlação entre (a) gênero das e dos representantes eleites ao redor do mundo e (b) tipos de gestões frente à pandemia 12. a dicotomia moralista amante vs. esposa, que não "teve um caso" nem "traiu" o marido, apenas transou com um cara na faculdade, e por isso considera-se que estão quites (oi???) => tropo Madonna vs. Whore 13. a misoginia que diaboliza a amante e humaniza o homem que trai
'Não olhe para cima' e os reforços das colonialidades: algumas impressões por Geni Núñez (@genipapos) - 31/12/21
Assisti o filme "Não olhe para cima" e vou compartilhar algumas impressões e interpretações pessoais que a narrativa despertou em mim (que de maneira alguma são A verdade).
Explicar a exploração ambiental pela lente do capitalismo, dos ricos x pobres é insuficiente, a meu ver. A desigualdade de classe social é um efeito da ideologia colonial, de forma que o racismo não é um detalhe dessas explorações, mas sua própria lógica. O problema não está em um/a presidente pontualmente desonesto e interesseiro, mas na existência desse tipo de poder.
Também me entristece perceber o quanto é comum que se ilustre pessoas negacionistas como burras, caricatas, ingênuas. Antes de pensar nas práticas, é preciso se perguntar qual a racionalidade que orienta essas ações.
O cristianismo e seu binarismo coloca essa vida como secundária e inferior à vida verdadeira, a celeste e infinita. Essa ideologia despreza corpo, sexo, terra, bicho. O humano se define pelo negação dos demais seres, sente vergonha de ser bicho, se sente o especial filho do dono da empresa terra, predestinado a um lugar vip. Não reconhece que os demais seres também são gente, pessoa, que têm alma. O des-envolvimento é por si só negacionista da interconexão da vida e da naturcultura.
Nessa narrativa, tudo foi criado para o Humano, que seria o centro do mundo. Isso é tão forte que para a maioria das pessoas, o fim do humano = fim do mundo. Sendo que mesmo com a vinda de um cometa, provavelmente formigas, baratas, insetos diversos e outros seres não teriam um fim de seus mundos. O mundo não acaba com o fim do humano, o planeta continua sem nós, o contrário que não é verdadeiro.
A pregação cristã no filme reafirma o velho pânico do "na hora da queda do avião até o cientista ateu ora". Reforça ainda a narrativa monogâmica da amante ruim/vulgar/"burra" x esposa para a qual se volta quando se terminam as aventuras. Ambas dimensões parte da mesma conversão.
A vida não tem começo e fim, ela se transforma. Compreendê-la a partir do marco temporal da colonialidade não é semear o pânico e desesperança, mas cultivar a artesania cotidiana do nosso envolvimento com todos os seres que existem e dos quais somos parte.
O filme critica o jornalismo que adocica e apresenta de forma bem humorada o fim do planeta Terra... mas o que ele faz com as duas cenas pós-créditos do filme??? Exatamente isso.
Uma verdadeira pena terem relegado a atriz negra a falar sobre a interseção da mulher racializada. Como se ela não pudesse também falar do que é ser atriz (ponto).
O episódio sobre a luta feminista apresenta falhas graves.
Por exemplo, fala em "direito de trabalhar fora de casa" como se antes de 1920 as mulheres brancas proletárias não existissem e como se as mulheres negras descendentes de pessoas escravizadas não trabalhassem...
Outro erro (mais desculpável...) é falar em pílulas anticoncepcionais como se se tratassem dos primeiros métodos contraceptivos da história, sendo que antes mesmo do capitalismo as mulheres tinham conhecimentos botânicos e medicinais que lhes conferiam liberdades reprodutivas.
E achei a edição muito ruim. Porque boa parte da introdução é só a fala de várias pessoas entrevistadas reproduzindo falas machistas com um tom de desacordo mas sem argumentação nem desenvolvimento. Ou as falas foram paupérrimas, ou a montagem cortou o mais argumentativo / elucidativo delas.
De todo modo, ficou dois terços do episódio pecando na falta de intersecionalidade seguidos da apresentação do conceito, sendo que esse conceito é para ser uma ferramenta de análise de ambas as opressões (de gênero e "raça") desde suas raízes, não uma cereja no bolo (mesmo que marcando presença).
A Última Etapa
4.2 6Disponível no/na Mubi: https://mubi.com/films/the-last-stage.
48 Horas
3.4 96 Assista AgoraO Walter Chaw destrincha as leituras raciais desse filme num episódio de 'A ótica do cinema', série da Netflix.
A História do Cinema Negro nos EUA
4.2 13 Assista AgoraSó não dou 4,5 porque fiquei um pouco perdida na cronologia em alguns momentos. Algo que uma separação em seções/capítulos poderia ter remediado. Além de sublinhar as ideias chaves de cada fase.
E por, ao final do longa, sentir a falta de ao menos uma fala de Pam Grier (!!!). Bem como por não deixar de acreditar que Spike Lee, Dee Rees, Kasi Lemmons, Julie Dash... e até Tarantino e Scorsese poderiam ter homenageado as e os artistas de antigamente, falando de suas inspirações e as referências presentes em suas filmografias... E pensar que entrevistas de mulheres cineastas até compensariam as barreiras históricas de outrora para mulheres negras. Mas acabam perpetuando o apagamento e exclusão das mulheres negras...
Orange Is The New Black (3ª Temporada)
4.2 793 Assista AgoraPersonagem em foco nos flashbacks de cada episódio:
1. várias lembranças com suas respectivas mães
2. sem flashback
3. Nicole "Nicky" Nichols
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
Orange Is The New Black (2ª Temporada)
4.4 877 Assista AgoraPersonagem em foco nos flashbacks de cada episódio:
1. Piper Chapman (infância)
2. Tasha 'Taystee' Jefferson (e Vee Parker)
3. Suzanne 'Crazy Eyes' Warren
4. Lorna Morello
5. Gloria Mendoza
6. Poussey Washington
7. Cindy Hayes (aka Black Cindy)
8. Miss Rosa
9. Red e Vee
10. Piper e Vause
11. Irmã Ingalls
12. Vee Parker
13. nenhum flashback
Orange Is the New Black (1ª Temporada)
4.3 1,2K Assista AgoraPersonagem em foco nos flashbacks de cada episódio:
1. Piper Chapman
2. 'Red' Reznikov
3. Sophia Burset
4. Miss Claudette Pelage
5. Dayanara Diaz
6. Nicky Nichols
7. Janae Watson
8. 'Red' Reznikov (pela 2ª vez)
9. Alex Vause
10. Tricia Miler
11. Piper e Alex (término)
12. Tiffany 'Pennsatucky' Doggett
13. nenhum flashback
Eles (1ª Temporada)
4.1 546 Assista AgoraPara quem está afim de afrossurrealismo de verdade [e não alguma apropriação cultural dessa linguagem por diretores brancos (como no caso de mais de 90% dessa série) com violência gráfica e gratuita], aqui uma lista de sugestões: https://filmow.com/listas/afro-surrealismo-l218453/.
Eles (1ª Temporada)
4.1 546 Assista AgoraEu fui assistindo a série sem criar julgamentos ou avaliar muito até terminar de vê-la. Mas o final acabou me fazendo repensar muita coisa...
Toda a violência gráfica (física e psicológica) que atormenta a família e o casal negro coadjuvante não se justifica afinal. São 10 episódios detalhando, aprofundando e ostentando (?) o sofrimento decorrente do racismo (e misoginia) com um desfecho apressado e abstrato demais, sem justificativa ou desenrolar plausível.
Querem vender a série como a história de uma família unida, mas os criadores exploram demais a protagonista feminina. Até mesmo as rimas (aquela mesma fala que aparece em 3 ocasiões entre o pai e a mãe) carecem de simetria.
Quando a mulher a profere pela primeira vez, faz parte de um momento de escuta que ajuda o marido a se recuperar -parcialmente- de um trauma. Quando o pai a emite, mais parece cobrança e em quase nada ajudou a mãe: ela continuando a carregar o cadáver do filho pelo país... e o pai continua sobretudo cumprindo seu papel de provedor. No último episódio, ela tira forças "de lugar nenhum" / "de si mesma", anda sei lá que distância, fraca e a pé, enfrenta uma horda literalmente na força do grito, salva (ou ajuda) ambas as filhas e o marido, antes de enfrentar completamente SO-ZI-NHA seu maior trauma.
Para mim, essa representação não ajuda em nada às mulheres negras, alçadas ao posto de "guerreiras", "batalhadoras", "sobrehumanas" (sejam elas mães solo ou não...). Pois se ela não precisava forçosamente ser ajudada pelo companheiro de vida, poderiam ao menos mostrar alguma outra dinâmica entre as mulheres negras.
No fim das contas, ela aparenta ter matado a médica apenas por "raiva": ela nem solta nem abraça a sua semelhante -com quem, além de etnia cultural e gênero, partilha ainda um mesmo trauma!-, que foi deixada para se virar, na sala de operação... do hospício!
E hoje descubro que 9 dos 10 episódios foram dirigidos por homens brancos!!! Sendo que o da Janicza Bravo dura menos de 33 minutos!!! Outros tendo direito a até mais de 50 minutos... Ou seja, apesar de terem me indicado a série como sendo afrossurrealista, está mais para apropriação cultural mesmo. Para surfar na onda dos sucessos de Jordan Peele, Donald Glover e Barry Jenkins, chamam a Janicza Bravo, que já dirigiu episódio de 'Atlanta' (2016-), contratam Shahadi Wright Joseph, que atuou em 'US' (2019), elegem como pano de fundo um período histórico assim como 'The Underground Railroad' (2021) e 'Lovecraft Country' (2020)...
Aliás, tive uma forte sensação de déjà-vu com essa série de 2021: a intriga lembra DEMAIS a obra afro-surealista de Remi Weekes de 2020, cuja sinopse disponível no Filmow diz o seguinte: "Depois de sentir os horrores do Sudão devastado pela guerra, um casal de refugiados tentam recomeçar a vida em Londres mas encontram algo ainda mais assustador, e não é deste mundo, em sua nova casa."
Se eu tivesse credenciais de psicanalista, eu arriscaria dizer que aquela cena em que se desmascara a real etnia da personagem interpretada por Jeremiah Birkett é projeção das pessoas não-negras que cumularam as funções de produção executiva, direção e escrita de roteiro.
Não é meu foco principal, mas falarei brevemente também da misoginia na representação da Betty Wendell. Afinal de contas, é uma mulher que cresceu sofrendo abuso sexual pelo pai, com não só o consentimento da mãe, mas culpabilização pela mesma; teve um casamento de fachada com um homem que mentia para ela e usou as economias para frequentar bares gays; era constantemente diminuída (vimos explicitamente pelo pai, por "amigas", e até pela protagonista) por não ter conseguido engravidar. E a série não falhou em representar a dificuldade enfrentada pelas mulheres (brancas) no mercado de trabalho, na figura da corretora. A série não teve tato nenhum ao por a Betty em cárcere privado e executada "ao longe", como se ela tivesse tido "o que merecia". Se era para terminar assim, precisava mesmo ter apresentado ela como vítima de abuso na infância??? A responsabilizaram pela própria morte. Sendo que lhe foi introjetada a crença de que tudo o que ela conseguiria obter seria seduzindo homens. Foi isso que os pais lhe "ensinaram".
E, para encerrar, a resolução final da temporada foi de completa exposição a qualquer tipo de violência (por parte da sociedade como do Estado, na figura da polícia) da família inteira... Duvido que quem defendia o método da não-violência (nas cafeterias e filas de cinemas, por exemplo) aprovaria o discurso de que tem-se que, a qualquer custo, não importa o quê, "parar de fugir", expondo dessa forma uma criança como a Gracie ou até mesmo (pré-)adolescente como a Ruby, sem nem lhe servir de escudo.
Uma Noite em Haifa
2.5 1 Assista AgoraAssista em sescsp.org.br/cinemaisraelense. Disponível de 24 a 30/6 com limite de 2.000 visualizações.
Bridgerton (2ª Temporada)
3.6 201 Assista AgoraLá vem textão com spoilers das duas primeiras temporadas, rs. "Esteje avizado".
Ao meu ver, a primeira temporada tem muito mais suspense. Isso porque as motivações das personagens são bem justificadas mesmo que opostas. Então a gente fica torcendo para "todas" sabendo que nem todas terão o que querem, como com Marina, Penelope e Colin.
O impasse do duelo e seu desenrolar ilustra muito bem isso.
Anthony, Simon e Daphne teriam que voltar atrás ou matar/morrer/ficar de luto. Se Anthony matasse Simon, ele enfim daria vazão a seu sonho com Sienna, mas aí Benedict teria de abrir mão de seus projetos. E assim por diante.
Também demorei a ter plena certeza da orientação sexual de Benedict (hétero? gay? bi?).
Aqui, a gente já tem ciência de quem é a Lady Whistledown e nenhum mistério veio suprir essa perda... Além disso, já sabemos desde o primeiro episódio que o casal protagonista está "predestinado", e tudo até o último episódio é só encheção de linguiça já vista inúmeras vezes por aí. Então não há atuação e diálogo que crie tensão o bastante a partir disso. Ainda por cima, pessoalmente ao menos, o recorrente machismo de Anthony o tornou intragável a temporada inteira. (Não consegui torcer pelo casal do machistinha escroto com a pseudo-feminista que sabe cavalgar, caçar e não pretende formar família.)
E também o que é esse carossel de tropos?!! Cena em que um casal hétero se abaixa para juntar algo que caiu ao chão de modo que suas mãos se toquem e seus olhares se cruzem acontece com Kate e Anthony E com Eloise e Theo, dois episódios depois. A primeira temporada oferecia um frescor ao gênero bem acima da média. Já, no meu entender, essa daí foi uma sucessão de vergonhas alheias.
De modo que a fixação pela linhagem/sobrenome/família Bridgerton (agora reforçada com a apresentação idealizadora do patriarca falecido, a ausência de um contraponto como o fornecido pelo arco do Simon e o título herdado de seu pai, a plena redenção do Anthony, e o rebaixamento dos Featherington) soa, para mim, bem antiquada e conservadora. A "partida" de pall mall do final da temporada reforça bem isso.
E essa cena ainda dá a entender que
Eloïse estaria 100% certa e Penelope 100% errada, sendo que Pen ao menos era amiga da El, enquanto essa nunca deixou de ser egocêntrica. Basta comparar as cenas em que cada uma passa pela outra visivelmente chateada. Quem segue a amiga e a conforta, e quem nem se importa em saber o que está acontecendo.
Por fim, algo que (de duas uma, rs) ou eu deixei passar desapercebido na primeira temporada, ou se exacerbou na segunda: a fixação com o ouro, a ostentação, os diamantes, os rubis, as esmeraldas... Historicamente, foram posses de pessoas brancas obtidas em cima de escravidão e genocídio dos povos colonizados. Inclusive, a "British India" recebeu o epíteto de 'Jewel in the Crown'... Então acho uma mistificação barata toda essa glamourização ostentatória em narrativa romântica com casais interétnicos. A primeira temporada, ao meu ver, teve uma vibe 'What if' ao criar uma linha do tempo alternativa que teria surgido com o casamento do Rei George com uma mulher negra, e aproximou o gênero 'de época' do de fantasia. A segunda, por outro lado, ficou na ludibriação. Minha percepção é que a romantização (senso comum infeliz) dos ducados e condados da primeira temporada, repaginada por meio do apagamento do racismo (nos mostrando uma mulher branca aprendendo a ser uma boa duquesa sendo que o duque negro já é capacitado para a função) aqui cedeu lugar a um mascaramento das relações coloniais que só existiram porque sustentadas pela ideia de supremacia branca. Então, dessa vez, não consegui "comprar" ou "suspender minha descrença".
E já que estamos no Filmow, vou aproveitar para recomendar outra obra audiovisual: Exterminate all the brutes, disponível no HBO Max.
Mães de Maio: Um grito por justiça
4.5 4No YouTube:
* Parte 1/2 - https://www.youtube.com/watch?v=Y4STk8g3uI4
* Parte 2/2 - https://www.youtube.com/watch?v=yFwtI0C13Yw
Mães de Maio: Um grito por justiça
4.5 4https://nucleopiratininga.org.br/documentario-maes-de-maio-um-grito-por-justica-2012/
Vaga Carne
4.3 26Filme disponível até 10/04/2022 no Sesc Digital https://sesc.digital/conteudo/cinema-e-video/cinema-em-casa-com-sesc/vaga-carne-
BigBug
2.5 46 Assista AgoraDesign de produção bacana, diálogos cheios de humor e trocadilhos, que provavelmente se perdem na tradução (seja legendagem ou dublagem).
O filme poderia ser mais curto. Evitaria o cansaço no final devido tanto às repetições do filme quanto ao desenvolvimento lógico de causalidade (que a gente entenderia sem precisar que se arrastasse tanto).
Quesito construção de personagens, as melhores são as não-humanas. Isso porque recaem menos em clichês (como sobre os estereótipos de adolescentes, mulher divorciada, mulher solteirona, homem divorciado que noiva com a secretária, amante jovem bonita e burra, homem cafajeste, etc.) e têm arcos bem menos previsíveis e até interessantes.
O universo e a linguagem imaginados também tinham muito potencial. Ficaram bons, mas fiquei com a impressão que poderiam ter sido melhor desenvolvidos,
Boyz'n the Hood: Os Donos da Rua
4.0 247 Assista AgoraAparece uma menção crítica a ele no doc 'Crack: Cocaína, Corrupção e Conspiração' de Stanley Nelson.
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraBloquinho de anotações pessoais. Aberto a apontamentos alheios ou contraargumentos. Não é um ataque a quem gostou. #Pas
Listinha de coisas de que gostei no filme:
1. no começo, interpretei a presidenta como representante eleita pelos democratas (por ser mulher - o que é mais progressista - sendo que ainda apareceu depois foto dela abraçada com o B. Clinton, que remete diretamente a H. Clinton) => seria uma crítica da classe política para além do espantalho (fácil) da extrema-direita
2. a autocrítica contra artistas e celebridades engajadas
3. os 'shots' da natureza e de eventos singelos que dão uma noção de escala não-especista e global da catástrofe sem perder a beleza do quotidiano
4. a crítica ao militarismo (ilustrado pelo herói estadunidense des-necessário) e ao armamentismo (cf. cena final do veterano, como se armas de fogo fossem capazes de derrubar o cometa)
5. bem no 'midpoint' da trama é desvelado que a democracia representativa é bem fajuta no sistema capitalista (quem detém o capital exerce um real poder sobre representantes políticos, mesmo que eleitos para a presidência dos EUA)
Listinha de coisas de que não gostei no filme:
1. se tratar de mais uma narrativa que normaliza ainda mais o fim do mundo em vez de apresentar alternativas
2. a representação muito negativa das pessoas no geral (se salvam um punhado de personagens, com as quais a audiência vai querer se identificar; todas as outras são egoístas, ou tapadas, ou covardes) => esse discurso propicia até o ecofascismo (inclusive, não à toa tem comentários de torcida pelo cometa logo abaixo)
4. a representação passiva e alienada de todos os povos tradicionais do sul global
5. a metáfora do cometa não serve à responsabilização das verdadeiras crises pelas quais passamos
6. ataque raso à relevância de eventos políticos como as nomeações à Suprema Corte, o que só agrava a relevância personalista dada pela obra à presidência dos EUA (sem nem a aparição de presidentes de outras nações)
7. a representação racista do cientista negro (ele não tem 1 colega de trabalho, 1 amigo, 1 amante, nem 1 parente com quem passar seus últimos momentos) => se não era para construir um arco para ele (como fizeram pro Mindy), nem justificar a ruptura com a família (cf. Dibiasky), podiam mostrá-lo com um núcleo de figurantes que representariam seus entes queridos nos momentos finais de sua vida. Desse jeito, a obra diminui de forma bem racista a personagem negra coadjuvante, representando-a sem qualquer comunidade, família ou vida própria.
8. a caracterização do Peter Isherwell como dentro do espectro autista beira ao capacitismo
9. as duas cenas pós-créditos reforçam o tom cômico do filme após o final trágico, dourando a pílula (fim do mundo como desfecho) para a audiência, fazendo com que o longa afinal não seja tão diferente assim do jornalismo matinal criticado, que anuncia o fim do mundo mas faz logo em seguida piadinhas a respeito
10. a representação da presidenta afinal terminou como caricatura da extrema-direita (alvo muito mais fácil que os democratas defensores do capitalismo verde ou do Green New Deal, esse que "geraria inúmeros empregos") e ainda assim, como foi caracterizada parcialmente como democrata no início do filme, conspiracionistas se veem representados no grupo de protagonistas e não dos antagonistas => o filme só consegue reforçar as opiniões prévias dos espectadores, sejam elas quais forem
11. se era para apresentar um espantalho tão caricato de má presidência, seria mais honesto ser um homem em vez de uma mulher; foi constatada uma correlação entre (a) gênero das e dos representantes eleites ao redor do mundo e (b) tipos de gestões frente à pandemia
12. a dicotomia moralista amante vs. esposa, que não "teve um caso" nem "traiu" o marido, apenas transou com um cara na faculdade, e por isso considera-se que estão quites (oi???) => tropo Madonna vs. Whore
13. a misoginia que diaboliza a amante e humaniza o homem que trai
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista Agora'Não olhe para cima' e os reforços das colonialidades: algumas impressões
por Geni Núñez (@genipapos) - 31/12/21
Assisti o filme "Não olhe para cima" e vou compartilhar algumas impressões e interpretações pessoais que a narrativa despertou em mim (que de maneira alguma são A verdade).
Explicar a exploração ambiental pela lente do capitalismo, dos ricos x pobres é insuficiente, a meu ver. A desigualdade de classe social é um efeito da ideologia colonial, de forma que o racismo não é um detalhe dessas explorações, mas sua própria lógica. O problema não está em um/a presidente pontualmente desonesto e interesseiro, mas na existência desse tipo de poder.
Também me entristece perceber o quanto é comum que se ilustre pessoas negacionistas como burras, caricatas, ingênuas. Antes de pensar nas práticas, é preciso se perguntar qual a racionalidade que orienta essas ações.
O cristianismo e seu binarismo coloca essa vida como secundária e inferior à vida verdadeira, a celeste e infinita. Essa ideologia despreza corpo, sexo, terra, bicho. O humano se define pelo negação dos demais seres, sente vergonha de ser bicho, se sente o especial filho do dono da empresa terra, predestinado a um lugar vip. Não reconhece que os demais seres também são gente, pessoa, que têm alma. O des-envolvimento é por si só negacionista da interconexão da vida e da naturcultura.
Nessa narrativa, tudo foi criado para o Humano, que seria o centro do mundo. Isso é tão forte que para a maioria das pessoas, o fim do humano = fim do mundo. Sendo que mesmo com a vinda de um cometa, provavelmente formigas, baratas, insetos diversos e outros seres não teriam um fim de seus mundos. O mundo não acaba com o fim do humano, o planeta continua sem nós, o contrário que não é verdadeiro.
A pregação cristã no filme reafirma o velho pânico do "na hora da queda do avião até o cientista ateu ora". Reforça ainda a narrativa monogâmica da amante ruim/vulgar/"burra" x esposa para a qual se volta quando se terminam as aventuras. Ambas dimensões parte da mesma conversão.
A vida não tem começo e fim, ela se transforma. Compreendê-la a partir do marco temporal da colonialidade não é semear o pânico e desesperança, mas cultivar a artesania cotidiana do nosso envolvimento com todos os seres que existem e dos quais somos parte.
(Texto de Geni Núñez)
Não Olhe para Cima
3.7 1,9K Assista AgoraO filme critica o jornalismo que adocica e apresenta de forma bem humorada o fim do planeta Terra... mas o que ele faz com as duas cenas pós-créditos do filme??? Exatamente isso.
Seja Bela e Cale a Boca!
4.2 3Uma verdadeira pena terem relegado a atriz negra a falar sobre a interseção da mulher racializada. Como se ela não pudesse também falar do que é ser atriz (ponto).
Escola de Carteiros
4.0 10Disponível no Sesc Digital até 21/08/2021: https://sesc.digital/conteudo/cinema-e-video/curta-em-frances/l-ecole-des-facteurs
Do Que Vem Antes
4.4 12 Assista AgoraEstá disponível no Mubi.
Cabras da Peste
3.2 255Homenagem bem bacana: https://www.youtube.com/watch?v=uZD8HKVKneI
Seja Bela e Cale a Boca!
4.2 3Entrou no catálogo do MUBI hoje!!!
EUA: A Luta pela Liberdade
4.4 6O episódio sobre a luta feminista apresenta falhas graves.
Por exemplo, fala em "direito de trabalhar fora de casa" como se antes de 1920 as mulheres brancas proletárias não existissem e como se as mulheres negras descendentes de pessoas escravizadas não trabalhassem...
Outro erro (mais desculpável...) é falar em pílulas anticoncepcionais como se se tratassem dos primeiros métodos contraceptivos da história, sendo que antes mesmo do capitalismo as mulheres tinham conhecimentos botânicos e medicinais que lhes conferiam liberdades reprodutivas.
E achei a edição muito ruim. Porque boa parte da introdução é só a fala de várias pessoas entrevistadas reproduzindo falas machistas com um tom de desacordo mas sem argumentação nem desenvolvimento. Ou as falas foram paupérrimas, ou a montagem cortou o mais argumentativo / elucidativo delas.
De todo modo, ficou dois terços do episódio pecando na falta de intersecionalidade seguidos da apresentação do conceito, sendo que esse conceito é para ser uma ferramenta de análise de ambas as opressões (de gênero e "raça") desde suas raízes, não uma cereja no bolo (mesmo que marcando presença).