Não há nenhuma razão de "Depois da Terra" existir se não a do ego de Will Smith de alçar seu filho Jaden Smith a astro de filme de ação, colocando o diretor M. Night Shyamalan como um mero funcionário padrão já que visual e esteticamente não existe nenhuma assinatura do indiano.
Pois bem, o filme que pretende ser classificado como ficção científica parte do princípio que a ação humana tornou o planeta Terra inabitável, fazendo com que os seres humanos se instalassem em um outro planeta, porém em seu novo lar, os humanos precisam enfrentar a ameaça de criaturas que se alimentam do medo (sim, isso é usado literal e quimicamente). Durante uma missão liderada pelo general Cypher Raige (Will Smith), considerado um soldado fantasma já que não demonstra medo, logo é capaz de exterminar as terríveis criaturas que se alimentam do medo, em que ele decide trazer seu filho Kitai (Jaden Smith), algo dá errado e eles precisam de um pouso forçado na Terra. Incapaz de se locomover já que está gravemente ferido, Cypher passa a guiar o filho neste planeta inóspito para que ele encontre o sinalizador que fará com que eles sejam salvos, tendo que escapar no meio do caminho de criaturas digitais criadas pela equipe de efeitos especiais, do frio e, é claro, da própria criatura que de maneira conveniente também caiu no planeta Terra.
As sequências de ação são extremamente preguiçosas, incapazes de despertar o mínimo de tensão, sendo que o maior alcance foi obtido com a participação de uma águia que funciona como uma espécie de "fênix" na vida do nosso herói. A mitologia do universo do filme é fraco e os diálogos são sofríveis, seja quando se limitam a especular sobre a natureza do planeta, seja para reforçar a relação de pai e filho, resumindo-se a uma filosofia de auto-ajuda digna de se cair de joelhos. Jaden Smith que havia demonstrado um carisma irresistível em "À Procura da Felicidade" já havia demonstrado que sabia ser um ator mirim irritante no remake "O Dia Em Que a Terra Parou", porém neste aqui só lhe cabe o constrangimento, embora a culpa não seja totalmente sua. Posando de herói de filme de ação infanto-juvenil (note como ele anda na Terra com passos firmes e fortes até para reforçar a ação da gravidade para só depois de um tempo sair correndo por aí), os seus esforços são inúteis. Will Smith, o pai, se comporta como uma figura robótica como uma forma de reforçar a natureza militar do seu personagem, combinando com uma espécie de trauma familiar do passado, envolvendo sua filha mais velha. É provavelmente uma das atuações mais aborrecidas e burocráticas de um ator que já emprestou muito mais carisma e simpatia em filmes anteriores.
"Depois da Terra" é uma tragédia na sua tentativa de funcionar como filme-denúncia com mensagem ecológica de pano de fundo e parece ser dirigido por um diretor qualquer, o mesmo diretor qualquer que fez "O Último Mestre do Ar" e não aquele que surgiu de forma tão promissora em "O Sexto Sentido" e "O Corpo Fechado" e que demonstrava uma inspiradora qualidade técnica mesmo em filmes medianos como "Sinais" e "A Vila". Parece que M. Night Shyamalan só vem colecionando constrangimentos desde "A Dama na Água" e "Fim dos Tempos". Indefensável do início ao fim, "Depois da Terra" é um fracasso retumbante para todos os seus envolvidos.
Este documentário espelha muito mais o exemplo de vida dado pelo crítico de cinema Roger Ebert em sua luta pela vida contra o câncer do que propriamente uma investigação sobre a sua carreira como crítico ou um aprofundamento sobre o seu estilo de escrita e/ou o que fez com que a qualidade dos seus textos lhe credenciassem ao Pulitzer, maior prêmio da literatura mundial. Cobrindo rapidamente sua infância e a sua vida familiar como filho único (as influências de pai e mãe são resgatadas apenas em alguns momentos), o documentário logo se encarrega de mostrar Ebert como um prodígio no jornalismo já que assumiu muito cedo um jornal regional até chegar ao Chicago Sun-Times e ser direcionado como crítico de cinema, tendo como auge o reconhecimento deste renomado prêmio que sempre se tornou a sua maior e principal credencial. Sempre pontuado pelo relato de amigos e pessoas que trabalharam ao lado de Ebert, o filme tenta equilibrar o trunfo profissional ao mesmo tempo que foca em seu alcoolismo, mas sem deixar muito claro como Eber lidava com dois extremos tão críticos sem que isso lhe prejudicasse profissionalmente. O documentário tem mais sucesso ao explorar a amizade conturbada de Eber com Gene Siskel, outro respeitável crítico de cinema, no longo período que trabalharam juntos em um programa de televisão. Inteligentíssimos, os dois eram extremamente competitivos e se tornaram de certa forma rivais, sempre se alfinetando, embora não conseguissem se separar já que a dinâmica da disputa de opiniões e personalidades, no final das contas, servia de combustível para a vida e a carreira dos dois. O momento que mais aproxima o documentário dos textos de Ebert é quando já impossibilitado de usar a voz em decorrência da doença, ele transforma o seu blog em sua "nova" voz, uma espécie de catalisador e passa a realizar textos cada vez mais inspiradores (a quantidade de textos exibidos/narrados no documentário ainda assim são frustrantes). Os elogios de Scorsese, Herzog e outros diretores ajudam a traçar o peso e o impacto das palavras de Ebert para os profissionais da área. De qualquer forma, o aspecto mais absoluto em "Life Itself" certamente é o que acompanha a rotina de Ebert sempre ao lado de sua dedicada e admirável esposa Chaz, mostrando que mesmo com inúmeras dificuldades e limitações, ele ainda exercia uma extrema paixão pelo seu trabalho e consequentemente pela vida, uma lição universal aliada a uma história de amor que acontece diante dos nossos olhos, capaz de inspirar e deixar qualquer um verdadeiramente emocionado com este documentário que, em linhas gerais, faz mais jus ao homem do que ao crítico. Um bom documentário, uma excelente história de vida!
O cinema de Sergio Castelitto visto em "Não Se Mova" e aqui em "Bem-Vindo ao Mundo" flerta perigosamente com o melodrama já que caminha em uma linha tênue entre a beleza e a sensibilidade da narrativa e os eventos marcantes e trágicos que a acompanham, porém as escolhas do roteirista e diretor italiano são quase sempre muito sensatas e assertivas, o que favorece que o peso da história tenha o seu próprio apelo, natural, sem apelações e/ou excessos.
Baseado na obra de Margaret Mazzantini, o filme acompanha a italiana Gemma (Penelope Cruz) que regressa para Sarajevo, agora acompanhada do filho de 16 anos, e revive as lembranças da história de amor que viveu com o jovem fotógrafo Diego (Emily Hirsch) em função de uma exposição de antigas fotografias tiradas por ele. Qualquer outro detalhe sobre a evolução da narrativa tende a tirar um pouco do impacto da cadeia de eventos e que são ligadas diretamente ao filho do casal, logo basta registrar que a relação do casal é marcada por dramas, conflitos, inseguranças, fraquezas e provações que colocam o futuro dos dois em risco.
Falado quase que totalmente em inglês e contando com um elenco internacional, "Bem-Vindo ao Mundo" tem quatro grandes atuações. A espanhola Penélope Cruz repete a parceria de "Não Se Mova" com Castelitto e entrega mais uma atuação forte e densa, sensível e delicada, sabendo conduzir muito bem as ambições dramáticas da sua personagem seja quando Gemma é registrada como uma jovem insegura, seja tornando-se uma mulher mais amargurada e melancólica no decorrer da sua jornada. O americano Emily Hirsch empresta seu charme e carisma para construir um Diego otimista e espirituoso que se mostra um devoto apaixonado, mas que também possui seu próprio arco dramático. O bósnio Adnan Haskovic é uma grata surpresa como o guia Gojco que acompanha Gemma em toda a sua jornada, mantendo uma admiração secreta por ela, mas que a sua maneira também não mede esforços para vê-la feliz e Haskovic constrói um personagem generoso, carismático, mas que também tem a sua própria tragédia de vida. Outra atuação marcante é da turca Saadet Işıl Aksoy que interpreta uma importante e vital personagem para o destino de todos os envolvidos nessa trama. O ponto fora da curva no que se refere às atuações fica a cargo do italiano Pietro Castelitto, filho do diretor, e que interpreta o filho de Gemma e Diego, mas que se mostra um ator bastante limitado e pouco carismático, mesmo considerando que a sua escolha tenha sido bastante corajosa por parte de Sergio Castelitto.
Em "Bem-Vindo ao Mundo", a guerra da Bósnia que atingiu Sarajevo e imediações no início da década de 90 serve de pano de fundo e de evento catalisador para a passagem de tempo. Castelitto consegue capitalizar boa parte do mistério acerca das surpresas da narrativa com a idas e vindas de tempo da narrativa, mas em determinados momentos usa um recurso preguiçoso de mesclar um determinado personagem no presente e no passado como uma forma de lembrar o espectador de quem se trata. Em outros momentos, a variação no tempo acaba quebrando o ritmo da narrativa, tornando-a mais extensa e exaustiva, especialmente lá pelo final do segundo ato. Ainda assim, há algumas soluções de Castelitto que são interessantes, como quando envolve os pais em sombras diante de notícias ruins ou em uma sequência que envolve a entrega de uma montante em dinheiro, algumas outras rimas visuais interessantes. As escolhas musicais da trilha sonora já parecem confusas, tentando repetir a mesma diversidade de nacionalidades, mas ora acabam fazendo com que muitas sequências soem deslocadas do conjunto da obra enquanto que outras surgem apenas serem explicativas ao que já se vê, soando redundantes.
A busca pela identidade. Essa parece ser a premissa central de "Bem-Vindo ao Mundo" e de certa forma o que todos os personagens buscam é o seu lugar no mundo e em meio à tragédia da guerra, todos acabaram encontrando o seu destino assim como de certa forma a própria região e os pais e mães de Sarajevo. Identidade e personalidade são as principais características deste belíssimo drama que tinha todos os ingredientes para se tornar um filme piegas e melodramático, mas que resultou em uma produção muito mais integra, legítima, forte e muito mais verdadeira emocionalmente.
Jim Stark (James Dean) é um jovem encrenqueiro de passado problemático que muda para uma nova cidade com os pais, porém não demora muito tempo para arranjar novos inimigos em seu colégio ao passo que demonstra um interesse amoroso por Judy (Natalie Wood), namorada do seu maior rival, e desperta uma admiração quase que obsessiva de Platão (John Crawford), um garoto bastante introspectivo.
Dirigido por Nicholas Ray, "Juventude Transviada" é um filme que possui um grave tom caricatural que coloca quase tudo a perder já que os dilemas enfrentados pelos seus personagens adolescentes são exageradamente teatrais, quase que como uma farsa, logo a interação entre os jovens nunca soa convincente o bastante, ressaltando o fato de que os atores escalados parecem muito mais velhos do que seria conveniente para a faixa etária que representam.
Essa "farsa" soa tão escancarada que parece até mesmo proposital, especialmente diante das discussões entre pais e filhos já que os adolescentes surgem ameaçadores e/ou inconformados diante das figuras de autoridade, logo ao perceber a submissão do pai de Jim perante a mãe ou notar que os pais de Judy dormem em camas separadas, a sensação que se dá é que estamos muito mais diante de uma comédia do que um filme que pretende discutir a rebeldia adolescente e/ou a insegurança e falta de perspectivas desse público.
James Dean demonstra em "Juventude Transviada" ser um jovem ator bastante promissor, mas ainda mais cru e irregular na condução do arco dramático vivido pelo seu personagem. Natalie Wood é de uma nulidade dramática que a torna uma figura aborrecida, especialmente pelo fato da sua personagem mudar sua postura e atitude de maneira tão abrupta através do mero artificio da imaturidade. O grande destaque fica por conta de John Crawford que demonstra um repertório maior e com muito mais sensibilidade fazendo de Platão um jovem triste e melancólico já que parece marginalizado, inclusive pelos próprios pais.
Contando com um terceiro ato tenso e extremamente eficiente justamente por girar em torno dos destinos dos personagens (nem tanto pela evolução da "química" entre eles), especialmente Platão, "Juventude Transviada" é um filme irregular e inseguro que padece de falta de personalidade, mas que, exageros à parte, em sua essência funciona como uma espécie de grito de socorro de uma geração que ainda não encontrou o seu lugar no mundo. E, de certa forma, a imperfeição do filme acaba sendo estranhamente apropriada.
Há uma certa teatralidade, uma acerta afetação nas atuações em "A Um Passo da Eternidade" que faz com que algumas passagens, especialmente envolvendo os casais, se tornem um pouco caricatas, como se faltasse apenas a algum determinado personagem que posasse diante da câmera, olhando para o horizonte enquanto uma música brega tocaria de fundo. Ainda assim, este filme dirigido por Fred Zinnerman estabelece com extrema competência o arco dramático de pelo menos dois personagens centrais, além de apresentar uma gama de personagens masculinos e femininos antes do início do ataque japonês a Pearl Harbor, base do exército americano no Havaí. Concentrando-se na rotina dos soldados, o roteiro apresenta o soldado Robert Prewitt (Montgomery Cliff), um ex-boxeador que é o mais novo transferido para a base militar, que tem a sua vida transformada num martírio no quartel por não participar da equipe de boxe do regimento, o que cria certos inimigos ao passo que se apaixona por uma prostituta (Donna Reed) e estabelece uma relação de amizade com outro oficial (Frank Sinatra). Paralelamente, o sargento Warden (Burt Lancaster) passa a se envolver amorosamente com a esposa do capitão (Debora Kerr) e os dois passam a enfrentar os dilemas decorrentes da decisão de ficarem juntos. A obstinação de Robert e a paixão de Warden são os principais fios condutores que sustentam a narrativa, logo as figuras femininas também são determinantes para a motivação dos mesmos, sendo curioso notar como a natureza trágica e melancólica da esposa do capitão chega a ser muitas o maior empecilho, contando com uma marcante atuação de Debora Kerr, enquanto que a prostituta vivida por uma simpática Donna Reed ganha contornos de heroína romântica e dramático a medida que ela vê em Robert a oportunidade de ter uma vida normal como esposa dele. O limitado Montgomery Cliff realiza um bom trabalho, traz uma rigidez ao seu personagem que favorece o lado introspectivo do personagem (a passagem em que ele faz uma homenagem silenciosa é extremamente tocante) enquanto que Burt Lancaster chama mais a atenção pelo contraste entre a firmeza e a sutileza dramática encarnados pelo personagem (se inicialmente ele parece mais interessado em galantear com o passar do tempo acredita-se nas suas intenções amorosas). De qualquer forma, o maior destaque fica por conta da participação de Frank Sinatra que rouba todas as cenas em que está presente pelo lado fanfarrão do personagem. Contando com um desfecho simplista diante de um clímax que não consegue atingir plenamente seus principais contornos dramáticos, embora tenha lá sua carga dramática, "A Um Passo da Eternidade" é muito menos um filme sobre a guerra e muito mais um filme sobre os homens e as mulheres que tiveram que enfrentá-la tendo como arma a esperança de viverem o que o futuro os reservava, mesmo que essa garantia diante de tal cenário fosse um elemento tão frágil.
O elemento mais marcante em "Aconteceu Naquela Noite" é a dinâmica romântica e divertida dos seus personagens centrais, o que permite um encantamento quase que instantâneo e absoluto, uma comédia romântica na sua mais legítima e carismática definição. Ellie (Claudette Colbert) é a filha de um ricaço que resolve fugir para encontrar e casar com seu amado, mesmo contra a vontade do seu pai, e no meio do caminho encontra Peter (Clark Gable), um jornalista desempregado que vê neste acaso uma oportunidade de levantar uma importante história e retomar seu emprego em Nova Iorque. O que se estabelece a partir da união entre Ellie e Peter é o desenvolvimento da química entre dois opostos que gradativamente vão se permitindo uma aproximação até ao ponto de se descobrirem apaixonados um pelo outro. Contando com um energético trabalho de direção de Frank Capra que possui um "timming" cômico impecável na condução das situações mais absurdas e divertidas enfrentadas pelo casal, o filme ainda conta com duas atuações marcantes e memoráveis do seu casal de protagonistas. Clark Gable exibe uma atuação arrojada que mescla um certo estilo rústico com um pouco de elegância que lhe dá um charme cômico e romântico na medida certa. Já Claudette Colbert dá vida a uma figura feminina inquieta, petulante, desbocada e cheia de energia que cria um contraponto irresistível a figura masculina de Gable. Divertido e simpático na maior parte do tempo, "Aconteceu Naquela Noite" até se estende mais que o necessário em seu terceiro ato, perdendo um pouco do seu ritmo cômico, mas ainda assim se apresenta como um filme marcante e deliciosamente carismático.
"Amor à Primeira Vista" é um filme romântico à moda antiga. Molly (Meryl Streep) e Frank (Robert De Niro) se conhecem casualmente e o sentimento que passam a nutrir um pelo outro passa a ameaçar o futuro dos seus casamentos. Dirigido com elegância por Ulu Grosbard, o filme a narra a história desse dilema amoroso a partir de uma sucessão de sutilezas, logo o encanto pode ser notado em pequenos detalhes, como a excitação de Molly ao notar que Frank ainda não chegou na estação da trem ou o aborrecimento dele ao se dar conta de que não a verá naquele dia. Da mesma forma, a troca de olhares carinhosos e amorosos entre os dois legitimam o sentimento romântico que ambos passam a nutrir um pelo outro e consequentemente realça as virtudes dos trabalhos sensíveis e delicados de Meryl Streep e Robert De Niro em um clássico filme do gênero romântico. Se os seus respectivos parceiros não são retratados como vilões também não são apresentados da forma mais afetuosa, sugerindo um conveniente distanciamento emocional que será essencial para a evolução moral da narrativa e as conclusões indiretas referentes aos casamentos (não há como negar certos moralismos e conveniências, desde que não "manchem" a imagem de Molly e Frank). Contando com uma trilha sonora leve e romântica, "Amor À Primeira Vista", ainda assim, é um romance delicado, repleto de sutilezas e pequenos detalhes que certamente realçam a aura romântica do projeto e conta com duas performances charmosas e encantadoras de Streep e De Niro.
Em meio ao som das batidas de música eletrônica, "Paraísos Artificiais" apresenta um arco dramático legítimo costurado pelo diretor e co-roteirista Marcos Prado, porém até alcançar esse resultado, ele parece mais interessado em explorar o efeito visual das raves e preencher as lacunas com algum tipo de filosofia parada, como aquela que sentencia que a droga só traz à tona o que cada um de nós já carregamos dentro de nós mesmos. Os caminhos de Érika (Nathália Dill) e Nando (Luca Bianchi) se cruzam ao longo da trajetória dela que se torna uma DJ famosa, mas trazendo consigo marcas de um passado trágico e de superação, e dele que embarca em uma viagem com um amigo para Amsterdã, mas acaba preso no Brasil por transportar drogas ilegais. O primeiro e segundo atos acabam sendo vazios e inconsequentes assim como a geração que pretende retratar e em meio a narrativa algumas passagens desconectadas são inseridas para criar um senso de confusão e alguma expectativa de como os eventos irão se encaixar no final, mas sem muita sofisticação ou criatividade por parte de roteiro e/ou montagem (o recurso de fazer com que a despedida do casal esconda um segredo é pra lá de conveniente). A ótima atuação de Nathália Dill se mantém regular ao longo de toda a projeção ao passo que Luca Bianchi se mostra um ator bastante irregular, não conseguindo satisfazer todas as necessidades emocionais do personagem ao longo da sua trajetória, alcançando um melhor equilíbrio lá pelo final. Outro destaque positivo por parte do elenco é Lívia de Bueno que interpreta a namorada de Érika e se torna uma presença marcante justamente em função do seu carisma e da sua energia em cena e até por isso que o envolvimento delas acaba sendo o único elemento que justifica as bem fotografadas, porém extensas e cansativas sequências de festas assim como aquelas que tentam evocar certa poesia, como a que envolve búfalos ou ondas no mar. Felizmente o terceiro ato costura as pontas soltas da narrativa e cria um intenso clímax que reúne não apenas mais uma vez os destinos de Érika e Nando, como ainda por cima insere a figura do irmão mais novo dele de uma forma a ampliar o alcance da proposta de um filme que além das sua própria narrativa também tem o interesse de chamar a atenção para essa geração que cada vez mais está buscando o prazer e/ou a felicidade através da pílulas e/ou comprimidos, pois são incapazes de lidar com suas próprias fraquezas e/ou incertezas. Uma pena, no entanto, que a mensagem de Marcos Prado acabe ficando pelo caminho em meio ao barulho dos batidões e/ou dos efeitos alucinógenos que tanto fez questão de condenar. Um pouco mais de lucidez não faria mal a ninguém.
O roteirista e diretor Robert Benton adaptou o romance "Kramer Vs Kramer" e o equilibrou em um drama tocante e cativante a partir da história de Ted Kramer (Dustin Hoffman), um respeitável e "workaholic" publicitário, que precisa cuidar sozinho do seu filho Billy (Justin Henry) a partir do momento que sua esposa Joanna (Meryl Streep) lhe pede o divórcio e os abandonam para encontrar um novo rumo de sua vida. O filme trata o assunto do ponto de vista de Ted, logo ao longo do filme sabemos muito pouco sobre as motivações de Joanna, sendo que ela mesmo resume a sua condição como uma oportunidade para encontrar a si mesma, logo é natural que nos identifiquemos com o drama muito mais pelo ponto de vista do pai. E mesmo levando em consideração que as motivações de Joanna são legítimas, a evolução do relacionamento entre pai e filho que parte do estranhamento inicial sem a figura feminina em suas vidas até o encantamento genuíno é de extremamente comovente pela maneira leve com que Benton conduz a narrativa, ainda mais diante de um tema tão espinhoso, sem fugir do embate jurídico, mas ganhando pontos sendo emocional sem exagerar no sentimentalismo barato. A leveza e o bom humor da narrativa permite que Dustin Hoffman ofereça um dos seus trabalhos de atuação mais carismáticos de sua carreira, mesclando intensidade e sensibilidade. O mesmo pode ser dito de Justin Henry, um ator mirim adorável e encantador. Meryl Streep tem a difícil missão de interpretar a mulher que os abandona, sugerindo um possível problema emocional, mas um desconforto diante de uma situação com a qual não sabe lidar e que de uma hora para outra reaparece querendo a custódia da criança. Ainda assim, Streep é sutil o bastante para não deixar de transparecer em seu semblante, especialmente no seu olhar, as emoções que a sua personagem enfrenta ao se colocar entre seu ex-marido e filho. É um drama sensível e delicado que dá uma lição de humanidade para qualquer relacionamento que mesmo desfeito precisa manter sua integridade pelo bem dos filhos e da família.
No decorrer de "Viagem Sem Volta", você fica com a expectativa se o suspense virá da insuportável Alicia (Juno Temple, péssima), uma jovem antissocial que de repente se vê deslocada e paranóica em uma viagem pelo interior do Chile, ou de seus insuportáveis companheiros de viagem, dentre eles a aborrecida Barbara (Catalina Sandino Moreno, péssima), o irritante Agustin (Agustin Silva, péssimo) e o abominável Michael Cera (Michael Cera sendo Michael Cera, logo péssimo). O filme tenta se estabelecer como um suspense/terror psicológico com toques dramáticos, especialmente por se concentrar na figura perturbada de Alicia, mas a narrativa é um completo engodo repleto de eventos desinteressantes e de passagens sem um mínimo de tensão, logo fica difícil entender se a tal viagem sem volta é uma espécie de mensagem subliminar para o espectador que ora fica entendiado, ora fica inconformado com o desenvolvimento do filme. A inserção de uma subtrama que envolve Sarah (Emily Browning, perdida e péssima), melhor amiga de Alicia, em um situação de aborto só deixa o cenário mais caótico, pois a narrativa não dá nenhum indicativo de que irá se preocupar com esse assunto e/ou qualquer outro. O diretor Sebastian Silva parece ser um guia de viagem perdido, sem o menor pulso para arrancar algum tipo de vivacidade de um filme moribundo que simplesmente não vê a hora de morrer e nessa hora não há índio no mundo, seja ele chileno ou brasileiro, que o salve do fim definitivo que é o seu total esquecimento.
Dirigido e co-escrito por Brian Goodman ao lado do também ator Donnie Wahlberg, "Redes do Crime" traz uma história baseada em fatos reais que acompanha os amigos Brian (Mark Ruffalo) e Paulie (Ethan Hawke) que desde a infância praticam pequenos crimes na cidade de Boston, tornando-se comparsas de um importante mafioso da região (Goodman) até se envolverem em golpes maiores por conta própria e serem presos. Quando Brian sai primeiro da prisão, ele resolve viver uma vida honesta, apesar das dificuldades em conseguir emprego, mas a partir do momento que Paulie ganha a liberdade, os dois voltam a se envolver com as pessoas erradas.
O filme tem um sério problema que é a pressa, tudo acontece em cena em uma velocidade que não permite que a narrativa seja desenvolvida com discernimento e competência. Os eventos saltam um do outro como se cada um deles fosse uma consequência instantânea do que acabou de acontecer, sem preparo nenhum, sem nenhum tipo de capricho ou refinamento por parte do roteiro, muito menos por parte da edição, se é que existe já que a sensação de que as sequências são simplesmente coladas umas nas outras sem nenhum tipo de acabamento. Em determinado momento, por exemplo, Brian sai da casa que divide com sua esposa (Amanda Peet), na cena seguinte está se drogando e na outra já é ilustrado como um viciado incorrigível. Dessa forma fica difícil entender quais são os eventos mais importante dentro da jornada, como se houvesse uma pressa na narrativa para se alcançar logo o final, mesmo que ele venha de qualquer jeito e/ou qualquer custo.
Tentando emular certa nostalgia e/ou uma relação que possuem à cidade de Boston, Goodman e Wahlberg (que também participa do filme como o detetive que não larga dos pés de Brian e Paulie) parecem mais interessados e/ou encantados com o círculo vicioso do crime do que consistí-lo em uma trama com eventos sólidos. Como se a desculpa do "baseado em fatos reais" dessem carta branca a eles para fazer tudo o que quiser. A sorte dos dois é que existe um grande ator ao lado deles: Mark Ruffalo. Ele faz com que toda a jornada de Brian se transforme em uma característica que salta aos olhos do personagens que parece se incomodar com as suas práticas e se apresenta visivelmente arrependido após os anos de prisão, mas que sofre por não conseguir algum tipo de sucesso através de uma vida digna, como se a vida de crime fosse seu verdadeiro vício. Uma atuação poderosa de Ruffalo mesmo que o roteiro tenha tanta pressa pra contar tanta coisa! Ethan Hawke não tem um papel com o mesmo desenvolvimento que o seu parceiro em cena, logo Paulie funciona apenas como o estopim para as principais bobagens cometidas pela dupla. A única coisa que Amanda Peet tem a fazer é se balançar no clichê e deixar que ele a leve até onde ele quer ir, quase sempre com diálogos genéricos ou repetitivos. Ainda assim, a presença de Mark Rufalo é um dos poucos pontos confiáveis que o filme tem em mãos.
Contando com um clímax fajuto que se torna ainda mais fajuto por ser antecipado já que a narrativa é contada a partir do "flashback" desse evento (tá na cara que o roteiro não foi "costurado" dessa forma, mas sim na mesa de edição), "Redes do Crime" é um filme que acompanha a trajetória de um sujeito "torto" que tenta de todas as maneiras se livrar dessa vida, mas que parece não conseguir escapar do seu "destino torto". Esse tipo de filme que se propõe a narrar uma história de redenção tem um apelo universal, porém esse só não é o melhor, o mais complexo e nem o mais completo a lidar com esse tipo de assunto.
"Estamos Juntos" é um filme camaleônico que tenta ir por diversos caminhos, mas que não alcança pleno sucesso em nenhum deles. A princípio parece acompanhar as desventuras amorosas da jovem Carmem (Leandra Leal) apostando em suposto triângulo amoroso entre ela, seu melhor amigo gay Murilo (Cauã Reymond) e o interesse de ambos, o músico Juan (Nazareno Casero). Nesse meio tempo, a narrativa assume contornos de contexto social, explorando um jovem casal que serão pais e que fazem parte de um grupo de sem-teto liderados por Leonora (Dira Paes). Em meio a isso, Carmem trata de assuntos filosóficos com um homem misterioso (Lee Taylor) que divide seu apartamento. E lá pela metade é um drama em que Carmem precisa enfrentar uma grave doença e no clímax esses três núcleos tentam de alguma forma se ligar através de aparentes laços de amizade que parece ser o objetivo central da narrativa. Irregular e inconstante, o diretor Tony Venturi não sabe qual filme deseja comandar, resultando em um projeto que mais parece uma colcha de retalhos, ora soa contemplativo demais, ora pé no chão demais, ora fantástico. Se há algo que merece destaque é o elenco, especialmente Leandra Leal, demonstrando mais uma vez uma incrível dramaticidade que apenas comprovam que se trata de uma das mais talentosas atrizes brasileiras. Cauã Reymond também cria uma personagem interessante, mas seu personagem é descartável, logo seus esforços não recebem a devida atenção. Nazareno Casero e Lee Taylor fazem o que podem com personagem claramente limitados enquanto Dira Paes é eficiente mesmo com pouco tempo em cena. Dessa forma, esse esforço criativo do cinema nacional acaba sendo prejudicado pela sua falta de foco e que se não chega a ser um desperdício é graças à Leandra Leal.
Como filme de suspense há de se reconhecer que "A Última Casa da Rua" tem um grande mérito que é o de ser um filme enxuto e não fazer rodeios para estabelecer seus personagens e sua premissa central. Aqui temos a jovem Elissa (Jennifer Lawrence) que se muda com a mãe (Elisabeth Shue) para a casa ao lado daquela que teve um massacre anos atrás cujos pais foram mortos, a filha dada como desaparecida e que atualmente é ocupada pelo tímido, recatado e do lar Ryan (Max Thierot), filho do casal, mas que durante o ocorrido morava com a avó. Um pouco antes da metade do filme nós já tomamos conhecimento de que existe pelo menos um aspecto mal contato nesta história até que mais algumas reviravoltas (nem tão engenhosas assim) ganham forma e a verdadeira motivação por trás destes acontecimento seja finalmente revelada, inclusive a que é utilizada na sequência final (que era até previsível diante da ordem cronológica dos eventos). De qualquer forma é um suspense simples e regular que não se prende a sustos fáceis (que acabam sendo mínimos) e o que permite o diretor Mark Tonderai explore ao máximo o contexto de um filme cuja tensão se sustenta através de conceitos concretos e reais, especialmente ambiente internos (qualquer outro diretor certamente abusaria das sequências na floresta com vultos passando atrás de alguma personagem), logo não espere nada assombroso ou sobrenatural. A jovem e talentosa Jennifer Lawrence demonstra eficiência em um papel que se resume basicamente a manter-se assustada, mas são em momentos mais intimistas como cantando solitária ou reagindo a determinadas situações, sejam elas constrangedoras ou dramáticas mesmo, que nota-se uma atriz com recursos. Max Thierot tem a difícil missão de interpretar o sujeito ambíguo e misterioso que está presente em 10 de cada 10 filmes do gênero, mas consegue ser sutil e discreto sempre que possível. A personagem de Elisabeth Shue tenta não ser apenas a mãe preocupada e obcecada pela segurança da filha, mas a sua presença se torna mais aborrecida que o necessário. Genérico e despretensioso até mesmo pela sua trilha sonora, "A Última Casa da Rua" não é a última bolacha do pacote, tem lá a sua dose de clichês e lugares comuns do gênero, mas não ofende a inteligência do espectador, logo entre mortos e feridos, salvaram-se quase todos.
"O Som Ao Redor" é um filme sobre conflito entre classes cuja narrativa apresenta uma série de pessoas, cada um vivendo suas vidinhas em uma mesma rua de um bairro de classe média em Pernambuco. É um retrato nada glamourizado de rotinas e cotidianos que serve para mostrar que entre quatro paredes não somos tão diferentes entre si, mas que quando precisamos defender "nosso pedaço de terra" que escancaramos nossos maiores preconceitos, seja durante uma reunião de condomínio ou quando somos saudosistas diante de um passado que escapou das nossas mãos. A utilização da edição do som é brilhante ao mostrar todo esse cenário de angústia, desconforto e até mesmo de prazer que vivemos em nossas vidas por mais simples ou inócuo que seja. É um filme contemplativo que trabalha com simbolismos, mas que às vezes exagera e deixa esse tom filosófico tomar conta da narrativa que gira em torno da chegada de um grupo de seguranças particulares para fazer a vigilância da rua, mas que acabam não chegando a lugar nenhum. A subtrama envolvendo o relacionamento entre dois jovens da classe médio é vazio e efêmero como pretende ser, mas a tentativa de evocar as raízes da personagem através da materialização da ruínas de sua antiga casa se assemelha mais com filosofia barata. O mesmo acontece com o contexto que coloca a figura de mulher sentindo-se ameaçada e sufocada dentro da sua rotina, cuja materialização são os latidos do vizinho como representa nossa relação uns com os outros, repletas de ruídos, porém o desfecho é corriqueiro. Já quando envolve os seguranças particulares, como verdadeiros observadores daquela rotina, o roteiro acaba criando um conflito artificial entre dois deles e um dos moradores apenas para soar alinhado com a máxima de causa e consequência. De qualquer forma, Kleber Mendonça Filho cria um painel de pessoas e classes que estão cada vez mais interessados apenas em seus próprios umbigos, o que não deixa de ser um sentimento sufocante, como fica claramente demonstrado em uma sequência de sonho que mostram invasores entrando dentro de uma residência, o que talvez seja o maior pesadelo de muitos. É um filme intrigante a sua maneira, mas tão existencialista e filosófico quanto masturbação em máquina de lavar roupa.
Como drama, o filme "72 Horas" funciona muito bem já que o diretor e co-roteirista Paul Haggis não exagera na pieguice, aposta na força do conflito dramático central e arranca duas ótimas atuações de Russel Crowe e de Elizabeth Banks, porém como "thriller policial" até acerta quando a narrativa mantém os pés no chão, mas especialmente a partir do terceiro ato, ele se trai completamente abraçando muito mais o entretenimento do que propriamente a sua coerência interna.
Co-escrito também por Fred Cabayé, o roteiro estabelece sua premissa rapidamente em que Laura Brennam (Banks) é presa "injustamente" por ter cometido um assassinato e seu marido John (Crowe) tendo que lidar com a dolorosa situação ao lado do filho e tentando de todas as formas fazer com que ela "escape" da prisão. O "injustamente" aparece em aspas, pois o filme se encarrega de mostrar a cena do crime de maneira tão econômica e desleixada apenas para nos causar a dúvida, mas se ela existe é apenas por não conseguirmos ver neste primeiro momento o que realmente aconteceu e não porque a dúvida é um sentimento legítimo, mas de qualquer forma a obstinação de John nos faz crer na inocência por mais que o filme queira nos convencer do contrário seja neste início ou lá pela metade.
A variação do verbo "escapar" também parece entre aspas, pois as pistas e os desdobramentos do julgamento envolvendo o crime são relevados para nos fazer acreditar que não foi possível provar a inocência de Banks, logo John decide ir contra o sistema e planeja uma fuga da sua esposa da prisão. Nesse ponto, o roteiro é muito assertivo ao mostrar as dificuldades práticas de um homem comum em realizar um plano criminoso, logo se inicia com a busca de um escritor e ex-detento, especialista em fugas (uma participação eficiente de Liam Neeson), a busca por uma arma não-registrada, mas principalmente a necessidade de passaportes e identificações falsas que permitem que ele, sua esposa e filho fujam do país sem deixar rastros. Se por um lado, o roteiro acerta em colocar John em perigo evidente ao se envolver com o submundo do crime e até mesmo evidenciar as dificuldades financeiras do seu plano (ele precisa vender os móveis e a própria casa para financiar o seu plano), a partir do momento que John resolve arrecadar uma grana através da máxima do "homem comum que rouba ladrão", a partir daí o filme assume contornos fantásticos, no sentido cinematográfico da palavra.
Se no decorrer da narrativa conhecemos algumas partes do plano de John, o terceiro ato simplesmente joga pro alto qualquer naturalidade e prepara o filme para uma fuga hollywoodiana já que John passa a ter conhecimentos extraordinários sobre a planta do prédio de um hospital e até mesmo da maneira como a polícia monta as suas estratégias de segurança, o que certamente não foi percebido em nenhum outro momento do filme. Logicamente que quando chegamos neste momento, o alcance dramático da história é legítimo, muito em função da ótima atuação de Russel Crowe que consegue extrair uma constante força dramática através de uma interpretação econômica, sutil, mas bastante intensa (uma sincronia bacana é estabelecida com a figura do pai de John, interpretado pelo veterano Brian Dennehy). Já Elisabeth Banks realiza um surpreendente trabalho dramático como extrema devoção a uma personagem que se apresenta muito mais melancólica do que ambígua e se esse aspecto de certa forma depõe contra o apelo do filme se deve muito mais a um problema do roteiro do que de sua eficiente atuação.
Contando com um desfecho que parece saído de um outro tipo de filme em uma tentativa forçada de estabelecer um senso de justiça e de vitória à narrativa, "72 Horas" acaba ficando em um meio-termo entre o filme que poderia ser e o filme que acabou sendo, repleto de extremos, muitos altos e baixos, pontos positivos que o revigoram e o enaltecem e negativos que o comprometem e acabam chamando muito mais atenção do que deveriam.
“A Primeira Vez” é uma simpática comédia romântica adolescente que acompanha o encontro e a relação entre o tímido Dave Hodgman (Dylan O´Brien) e a espirituosa Aubrey Miller (Britt Robertson) que em um fim de semana se conhecem, se apaixonam e tem a primeira experiência sexual de suas vidas. Dirigido e escrito por Jonathan Kasdan, o filme é uma agridoce experiência que apresenta seus jovens e imaturos personagens com extrema transparência e sensibilidade, o que representa um banho de autenticidade que faz toda a diferença já que é íntegro, legítimo e honesto em suas intenções.
O roteiro de Kasdan estabelece dois personagens jovens que poderiam se transformar em uma verdadeira armadilha. Dave é o clichê do jovem tímido, recatado e que sequer tem coragem de se declarar para a garota que ama e que não lhe dá bola, mas que ganha contornos sensíveis na interpretação carismática de Dylan O´Brien, como se vê muito pouco nos filmes de hoje em dia. Já Aubrey é aquela jovem autêntica e desbocada que parece segura de si mesma e ter a resposta para todas as questões, mas cujas aflições e inseguranças permeiam seus pensamentos como de qualquer garota. E na pele de uma inspiradíssima Britt Robertson, o alcance da sua personagem é irresistível.
E se o filme já havia conquistado muitos pontos com dois personagens tão atraentes diante de suas imaturidades e fragilidades, Kasdan ainda permite um retrato tão autêntico da libido adolescente e dos sentimentos, inclusive o da curiosidade, que tanto cerca o universo juvenil, mas também a maneira assustada e confusa com que lidam após a primeira vez, como quando Dave conversa sobre a maneira como o sexo é encarado de maneira superestimada ou até mesmo pela ingênua de Aubrey em olhar para seu rosto diante do espelho para ver se haverá alguma marca que denunciará o que acabou de fazer e/ou se seus pais perceberão algo. Esse retrato e esses pequenos fragmentos tão sutis são tão importantes e essenciais para a legitimação do conflito vivido entre os personagens que fica difícil não elogiar a coragem e autenticidade desse adorável filme.
“A Primeira Vez” realmente não é perfeita. Os personagens coadjuvantes, especialmente os melhores amigos de Dave não são alívios cômicos inspirados, embora sejam tipos curiosos, o mesmo acontece com a figura do namorado melancólico de Aubrey. O melhor efeito fica garantido com os pais dela que são retratados como figuras igualmente inseguros, mas extremamente amorosos e certamente mereciam mais espaço. Mas, ainda assim, o filme é de uma doçura tão encantadora que fica difícil resistir ao seu charme ao lidar com temas tão sérios e maduros com extrema sensibilidade e honestidade, sem ignorar a ingenuidade e a falta de maturidade de seus personagens, o que torna toda a experiência ainda mais marcante e significativa.
"Lovelace" é a cinebiografia da atriz Linda Lovelace (Amanda Seyfried) que ficou mundialmente conhecida por ser a estrela do filme "Gargante Profunda", uma espécie de "blockbuster" da indústria pornô de cinema que apresentou a primeira sequência de sexo oral explícito a partir da história de uma garota que tinha seu clitóris no fundo da sua garganta. Dirigido pela dupla Jeffrey Friedman e Rob Epstein, o filme não faz jus ao drama de Linda, pois é um filme extremamente irregular na apresentação dos eventos e na condução da narrativa, muito em função também do frágil roteiro de Andy Belin na tentativa de narrar a sua história através da imagem que se criou dela, mas também através dos segredos que Linda revelou apenas em uma biografia literária.
O roteiro de Andy Belin caiu na sua própria armadilha, afinal o filme pode ser dividido claramente em duas partes. Na primeira delas, que acompanha os principais momentos do envolvimento de Linda com o sedutor Chuck Traynor (Peter Sarsgaard), é extremamente abrupto na passagem do tempo e consequentemente na trajetória de vida do casal, logo quando ela decide morar com Chuck aos 21 anos, nenhum elo emocional foi construído entre Linda e seus pais (Robert Patrick e uma irreconhecível Sharon Stone). Da mesma forma, a ingressão de Linda na indústria cinematográfica acontece como em um passe de mágica e a aceitação dela com relação a tudo que acontece ao seu redor é de uma ingenuidade absurda, porém os diretores Jeffrey Friedman e Rob Epstein criam uma espécie de fantasia, um conto de fadas púdico e quase puritano.
A partir da segunda metade é que vem o "pulo do gato" do roteiro que tenta subverter a narrativa a partir do ponto de vista de Linda (como se até aqui já não estivesse sendo dessa forma), mas como uma forma de mostrar que a sequência de eventos que vimos até então não foi bem como apresentada, sugerindo uma natureza muito mais trágica e cruel. A necessidade de construir uma metade de filme através de um falsa reviravolta não se justifica, afinal a primeira metade ficou comprometida pela colcha de retalhos que se tornou e as peças que se encaixam nessa segunda metade são atiradas como grandes sacadas, mas que enfraquecem o ritmo da narrativa que se torna cada vez mais picotado e irregular. Ao final, o filme tenta estimular o conflito de impressões que as pessoas podem possuir com relação à trajetória de vida de Linda, porém a sensação que se dá é que se a narrativa fosse apresentada em sua ordem cronológica, a identificação com o drama e os conflitos dela seriam muito mais respeitados e que seria muito mais condizente com o clima sentimental que embala o desfecho do filme.
Amanda Syfried realiza um bom e corajoso trabalho com o que tem em mãos já que precisa construir uma atuação muitas vezes através de fragmentos de uma personagem que muda muito de personalidade em intervalos de cena muito pequenos (também em função do atrapalhado roteiro). Peter Sarsgaard fazia um ótimo trabalho construindo um anti-herói romântico e rude, porém a partir da segunda metade o seu personagem abraça o papel de vilão da história e vira um clichê ambulante. Adam Brody, Bobby Cannavale e, especialmente, Hank Azaria tem participações carismáticas, já a presença de Robert Patrick e Sharon Stone é prejudicada pela frágil dedicação a figura dos pais de Linda e pelo pouco tempo de cena. Não há muito mais o que dizer das pequenas participações de James Franco e Alec Baldwin
O trabalho de fotografia, reconstituição de época e figurino são muito eficientes para a construção do universo em que os personagens estão inseridos assim como a trilha sonora que remete a clássicos da época. Mas, infelizmente, o filme deixa um gosto amargo no final já que o filme parecia mais interessado em transformar o drama de uma vida em um mistério e acabou prejudicando a experiência como um todo que se torna rasa e injusta quando tinha material mais do que suficiente para se tornar mais intenso e profundo.
Após uma transa casual e sem proteção, o atrapalhado Fred (Noah Ben) precisa acompanhar a espirituosa Mindy (Rachel Boston) por 12 horas para garantir que ela tome as duas doses da pílula anticoncepcional do dia seguinte, logo passa a conhecer seu ex-namorado, sua família e precisa escapar da marcação cerrada da sua namorada Nelly (Anna Chlumsky) que acaba de chegar de viagem. Nada contra a premissa, mas há um certo sexismo inicial que responsabiliza Mindy pela irresponsabilidade do sexo sem camisinha, afinal por que sugerir que ele teve a preocupação e ela agiu de maneira impulsiva? Por que não optar por um esquecimento mútuo pelo calor do momento? Mas não, os piores julgamentos são feitos a ela, porém com o passar do tempo nota-se que ela e Fred são dois mentirosos compulsivos, logo as atitudes egoístas e inconsequentes dos dois só indicam que eles realmente se merecem, além de ambos possuir uma dificuldade enorme de compreensão já que são capazes de cometer o mesmo erro inicial lá pela metade do filme novamente apenas pra criar conflito (o que só enfraquece ainda mais os dois). Contando com dois protagonistas de personalidades desinteressantes, o filme escancara a sua pretensão de aproximar o inusitado casal, porém o máximo que o roteiro escrito pelo também diretor J.C. Khoury consegue é construir sequências em que os personagens aparecem rindo com piegas músicas românticas de fundo. E nem mesmo ao transformar Nelly em uma mulher obsessiva e aborrecida, a narrativa consegue fazer com que a expectativa para que Fred e Mindy fiquem juntos se torne algo pelo qual vale a pena torcer. Se Noah Ben não possui o menor carisma para tornar Fred um sujeito minimamente carismático, tornando-o irritante enquanto Rachel Boston não consegue explorar a vivacidade da personagem, tornando-a irritante. ainda assim cabe a presença da talentosa Anna Chlumsky ser o melhor e maior atrativo de um filme tão vazio quanto inconsequente, como se percebe da primeira a última cena, ideal para ser esquecido imediatamente.
"O Convite" é um drama com toques de suspense psicológico que constrói um clima de angústia e tensão crescente e palpável a partir de um jantar aparentemente normal entre um grupo de amigos que vai se transformando cada vez mais em uma surtada reunião macabra.
O centro narrativo do filme reside na figura de Will, que traz intimamente um desconforto diante do encontro, especialmente com relação ao seu passado com Eden (Tammy Blanchard). O roteiro da dupla Matt Manfredi e Phil Hay é intrigante e extremamente inteligente ao ser econômico na revelação dos detalhes do trauma que marcou as vidas de Will e Eden (e saber o mínimo possível antes de ver o filme só ajuda), o que trabalha muito a favor do clima claustrofóbico e conspiratório da trama. Se por um lado acerta quando permite que uma determinada personagem deixe a reunião amistosamente, por outro abraça algumas convenções mais óbvias, como quando utiliza a mensagem deixada por um integrante do grupo que está atrasado.
A diretora Karyn Kusama sabe colocar a sua câmera em posições que realçam a sensação de desconforto de Will, usa de lentes e efeitos de focos que constrói o clima de paranoia e durante o clímax sabe construir sequências fortes e chocantes, altamente coerentes com a proposta da trama que insere “pessoas” (e não meros personagens e/ou clichês) em uma situação crítica e assustadora. O eficiente trabalho de fotografia ajuda na construção do ambiente sombrio assim como a própria arquitetura interna da casa que serve de cenário central para o desenrolar da narrativa. Em contrapartida, a trilha sonora poderia ser um elemento mais marcante, soando mais como um exercício de estilo e com melodias apenas estranhas.
A atuação devotada, espantosa do ótimo e surpreendente Logan Marshall-Green é essencial para a consolidação da narrativa, embora o elenco como um todo tenha um ótimo desempenho, como a intensa Tammy Blanchard, a elegante Emayatzy Corinealdi que interpreta Kira, a namorada de Will, o talentoso Michiel Huisman e até mesmo o minimalista John Carol Lynch. Com um elenco tão homogêneo em uma trama que se sustenta tanto pelo que os personagens deixam subentendido, muito do apelo do filme resulta da qualidade das atuações e do carisma dos atores.
Contando com um desfecho desnecessário que sugere uma dimensão mais ampla para o que acabamos de ver dentro daquela casa com aqueles personagens, “O Convite” é um ótimo exemplar de filme que sabe mesclar drama e suspense, resultando em uma produção tensa, curiosa, criativa e de qualidade.
Neste filme dirigido por Elia Kazan, o dilema do ex-boxeador Terry Malloy (Marlon Brando) que serviu de álibi para a morte de um potencial delator da máfia que mantém negócios escusos com o sindicato dos portuários sustenta muito mais a narrativa que os eventos em si. Não é à toa que Malloy seja o personagem mais emblemático já que na paleta de cores de Kazan é tudo preto no branco, mocinhos e bandidos, e até por isso a sua relação com a irmã do falecido é tão importante para a sua humanização. O diretor consegue construir um filme intrigante mesmo que alguns aspectos relacionados aos vilões soe tão cartunesco por muitas vezes, inclusive com a inclusão de uma trilha sonora pra lá de escancarada (às vezes chega a ser cômico, restando apenas chifrinhos e rabinhos para os membros da máfia para terminar a caricatura). Ainda assim, a sua melhor intervenção tem fundo dramático como na sequência em que Malloy revela para a amada a sua participação na morte do irmão, utilizando do silêncio dos diálogos e de elementos da cena para criar a tensão dramática. A atuação do Marlon Brando é hipnotizante, repleta de detalhismos e nuances, assisti-lo depois de toda uma carreira consolidada é muito injusto, mas neste ele já demonstra uma maturidade, uma segurança que fica fácil entender porque ele era tão especial e venerado. Só dá pra imaginar como foi acompanhar o crescimento da sua carreira, filme após filme, deve ter sido um privilégio. Ele demonstra ser um ator formidável só pelo que se vê neste aqui. Com Brando em cena, o filme em si vira um mero detalhe. Contando com um clímax cujo efeito dramático é efetivo, ainda mais por aproximar os dramas de vida do casal, o desfecho é épico ao evocar uma potencial rebelião dos trabalhadores contra o sistema criminoso que os aprisiona, mas ainda assim é um filme apenas Ok, menor se comparado ao tamanho do talento de Brando.
Escrito e dirigido pela atriz Jennifer Westfeldt, "Solteiros Com Filhos" é uma comédia romântica que tenta fugir do convencional, mas sempre quando convém abraça os clichês, porém conta com um elenco simpático e carismático o bastante para legitimar seus principais conflitos. Julie (Westfeldt) e Jason (Adam Scott) são dois amigos na faixa dos 30 anos, independentes, solteiros, bem sucedidos na carreira, mas que não possuem muito sucesso para encontrar a cara da metade e constituir uma família. Como uma medida impulsiva, eles decidem ter um filho juntos, dividindo as responsabilidades e obrigações, mas sem deixar que isso afete a amizade entre os dois e a vida de solteiro. A partir do nascimento do filho, Jason se envolve com Mary Jane (Megan Fox) e Julie com Kurt (Edward Burns), porém o sentimento de Julie com relação a Jason começa a mudar e colocar em risco a amizade entre os dois.
O roteiro não é muito feliz na utilização das piadas mais pesadas já que a utilização delas não parecem muito naturais sendo utilizadas pelos personagens, soando forçadas e sem a graça que se pretende, afinal não é sempre que falar sobre a largura do órgão sexual feminino favorece a interação entre duas pessoas. Já quando se concentra nos dilemas enfrentados por Julie e Jason, a narrativa torna-se mais relevante e complexa justamente por explorar as dificuldades que um casal passa a ter depois do casamento e, especialmente, depois da chegada dos filhos. Nesse ponto, a figura dos melhores amigos dos dois é muito importante para oferecer um contraponto, desde o casal formado por Maya Rudolph e Chris O'Dowd, explorados de forma mais cômica, como aquele interpretado por John Hamm e Kristen Wiig que possuem uma trajetória mais melancólica e triste. Nos dois casos, os atores dão conta do recado e o carisma dos personagens se mantém impacto, mesmo que sejam subaproveitados lá pelo final do segundo ato.
O ritmo da narrativa não consegue se manter estável e constante, o que prejudica bastante a evolução dos acontecimentos envolvendo Julie e Jason, especialmente com relação à mudança dos sentimentos dela que se resumem a uma sequência em uma música romântica toca de fundo enquanto ela olha pro nada, sendo que os personagens Kurt e Mary Jane são descartados sem mais nem menos. Jennifer Westfeldt deixa demonstrar o carinho que tem pelo projeto e defende a sua personagem com extrema sensibilidade e mesmo diante das atitudes mais absurdas ainda é possível manter-se ao lado dela. O mesmo não pode ser dito de Adam Scott que não tem o meu potencial para sustentar seu personagem, deixando transparecer a sua falta de repertório, dando a sensação de que estaria mais confortável se o seu personagem continuasse falando apenas besteiras e sacanagens. Ele, definitivamente, não é o melhor parceiro em cena que Westfeldt merecia.
Contando com uma trilha sonora povoada por canções fracas e um desfecho tão previsível quanto corriqueiro, "Solteiros Com Filhos" deixa a desejar quando busca algo diferente dentro da sua narrativa convencional, mas quando abraça os clichês, mesmo aqueles que soam mais piegas, consegue ser suficientemente simpático. Poderia ser muito mais, mas parece satisfeito com o pouco que oferece, uma pena, mas que não chega a ser uma completa decepção.
“Esquadrão Suicida” é um filme extremamente problemático do começo ao fim. Antes mesmo de estabelecer a premissa, o filme já se encarrega de apresentar dois personagens, o Pistoleiro (Will Smith) e Arlequina (Margot Robbie). A partir do momento que Amanda Waller (Viola Davis) apresenta para seus superiores um projeto de reunir os piores violões para fazer o serviço sujo na missão de proteger os cidadãos americanos, o histórico destes mesmos personagens é novamente apresentado dando destaque à participação do Batman (Ben Affleck) na prisão dos dois e o envolvimento amoroso dela com o Coringa (Jared Leto), fazendo com que a apresentação dos personagens se torne muito arrastada, quebrando o ritmo da narrativa, sendo que os demais membros do time são introduzidos, mas sem o mesmo destaque.
Ou seja, em um filme que se trata de uma equipe, liderados por Flag (Joel Kinnaman), os personagens não recebem a mesma atenção, o que é prejudicial para o desenvolvimento do filme. E se não bastasse a apresentação irregular dos personagens, eles ainda são testados para que se verifiquem se são aptos ou não para fazer parte da equipe, o que torna esse primeiro ainda mais redundante, ainda mais arrastado. Outro problema inicial do filme é a falta de convencimento na legitimação da premissa já que os argumentos de Waller são pouco convincentes, quase que estabelecido à força por um implante que promete explodir os integrantes do esquadrão, caso fujam da linha (não é à toa que um dos personagens que não foi previamente apresentado é explodido rapidamente, sem deixar saudades), exceto, claro, Magia (Carla Delevigne), namorada de Flag, afinal algo precisa dar errado para que se tenha uma história pra contar, o que no caso desta era mais do que previsível; e a missão que serve de estopim para a reunião da equipe não se justifica totalmente, afinal quais são os recursos que o Esquadrão Suicida possui que os credenciam para serem imprescindíveis?
Mas de qualquer forma eles partem para a tal missão suicida e a mão pesada do roteirista e diretor David Ayer (que já havia sido notada em “Coração de Ferro”) fica ainda mais evidente já que ação é tão burocrática, resumindo-se a tiros e explosões, que nem mesmo a montagem consegue conferir algum tipo de tensão. E a aposta em um tom de fotografia pesado, sombrio e excessivamente escuro coloca tudo a perder já que a falta de criatividade na condução com os cortes rápidos na edição faz com que, literalmente, pouca coisa seja digna de se ver. E no decorrer da narrativa, o roteiro investe em uma interação sem um pingo de sintonia entre os membros do esquadrão (família???), além de inserir novos “flashbacks” de Arlequina, apenas para justificar uma maior participação do Coringa, e também de Diabo (Jay Hernandez) que havia sido negligenciado até então. Nesse momento, Capitão Bumerangue (Jai Courtney fantasiado de Tom Hardy), Crocodilo (Adeale Akinnuoye-Agbaje, uma espécie de “Coisa” escamada) e Katana (Karen Fukuhara) são meras peças decorativas, quiçá alívio cômico. Essas constantes quebras da narrativa são cruéis para a condução do fio narrativo e a chegada ao clímax só expõe todos os problemas apresentados até então, logo a falta de clima favorável para o desfecho da trama não é de se estranhar, ainda mais quando sustentado por efeitos especiais artificiais e conflitos dramáticos clichês e piegas.
A escolha de Will Smith como Pistoleiro já demonstra a falta de ambição em torná-lo um anti-herói em sua essência já que a indicação de que ele é um pai apaixonado pela filha toma conta da história (mais moralista impossível). Margot Robbie está à vontade ao interpretar a sua insana personagem que traz uma certa ingenuidade infantil mesclada com uma imprevisibilidade assustadora, dona dos melhores diálogos, mas ainda assim Arlequina é uma figura escolhida para fazer parte da equipe, apenas por não ser normal... e ter um taco de golfe nas mãos. Se os demais membros do elenco são tão discretos quanto passíveis e descartáveis ao longo do filme, Jared Leto parece que está em outro filme já que Coringa aparece superficialmente ao longo da narrativa, sendo um desperdício de qualquer esforço criativo que o mesmo tenha se submetido, mas nada que seja acima da média já que sua participação é discreta e pouco marcante, o que é cruel quando se tem um personagem desse em mãos, destacando-se também apenas por soar estranho mesmo.
Contando com canções energéticas, maneiras e estilizadas, mas que nem sempre combinam com as cenas (a do Eminem, por exemplo), isso quando não são expositivas demais (as primeiras do Pistoleiro e da Arlequina), “Esquadrão Suicida” é, na verdade, um samba do crioulo doido e o fato de eu já ter usado essa descrição para outros filmes ruins e problemáticos demonstra que nem mesmo em seus aspectos ruins, o filme consegue ser original.
"Romance e Cigarros" é uma comédia musical que estabelece uma visão ora romântica e poética, ora triste e melancólica sobre os relacionamentos, especialmente o casamento entre um operário da construção civil Nick Murder (James Gandolfini) e a dona de casa Kitty (Susan Sarandon) que vive uma crise em função da traição dele com Tula (Kate Winslet), uma ruiva ardente e sedutora. Escrito e dirigido por John Turturro, a narrativa tem alguns problemas com relação ao tom e ao ritmo já que a maioria das sequências musicais são irregulares, inseridas de maneira displicente e a opção de colocar os atores cantando as canções, mas com a música original por cima de suas vezes, cria um efeito que causa muito mais estranheza do que beleza, além do que ora existem sequências que existe uma atenção maior com coreografia e composição de cena, ora dá a impressão de que a intenção não é se preocupar com os detalhes. Além disso, por muitas vezes, Turturro acaba sendo refém das elipses, o que demonstra uma certa insegurança já que a narrativa não flui de maneira singular, devido aos cortes e as passagens de tempo irregulares. Ainda assim, o filme tem um apelo dramático forte, pois Nick demonstra que ainda ama a esposa e que a sua traição foi fruto de uma fraqueza de caráter da qual ele se arrepende enquanto Kitty se mostra uma mulher de personalidade forte, mas dividida entre os sentimento do amor e do orgulho ferido. James Gandolfini é um ator que traz uma intensidade grande aos conflitos do seu personagem já que possui elegância no tom de voz e nos diálogos que confere muita franqueza, serenidade e humanidade de um homem falho. Susan Sarandon parece que sufoca toda a dor da sua personagem através de uma interpretação sutil e sensível que estabelece um maravilhoso contraponto ao seu companheiro de cena. Kate Winslet parece à vontade ao interpretar a amante do personagem central cuja personalidade é ardilosa, impetuosa, sem amarras, pode-se dizer que sua personagem tem uma luz diferente dos demais personagens, bem-humorada, mas quase como uma representação da luxúria e do pecado. Há uma tentativa de torná-la uma figura mais dramática até com esforços legítimos de Winslet, mas o alcance nunca chega próximo ao de marido e mulher. Apesar de certo moralismo, o segundo ato se encerra com uma sequência de extremo bom gosto protagonizada por Nick e Tula e no terceiro ato vem à tona um importante álibi dramático que fortalece a relação entre e Kitty, apesar do desfecho abrupto. Entre altos e baixos e mesmo tendo um pesado pano de fundo dramático, "Romance e Cigarros" consegue ser uma produção leve que compensa sua irregularidade com competentes atuações que legitimam as principais intenções da história.
"Renascimento" parte de uma premissa interessante para se transformar em uma besteira colossal que soa tão falso quanto os comerciais utilizados em um documentário exibido dentro do próprio filme como auto-propaganda. Em resumo, difícil levar algo tão ruim a sério. Kyle (Fran Kranz) é um pai de família de classe média que vive uma rotina repetitiva e burocrática em seu escritório até que recebe a visita de seu melhor amigo da faculdade, Zack (Adam Goldberg), e o convida para participar de um programa chamado "Renascimento", uma espécie de retiro de fim de semana que promete retirá-lo da rotina e transformá-lo em um novo ser humano. A partir do momento que o programa começa, a narrativa se transforma em um exercício de redundâncias e metáforas que soam tão artificiais que somente um protagonista tão limitado intelectualmente seria capaz de se deixar levar. Aliás, Fran Kranz, uma espécie de cópia genérica do Bradley Cooper, é um ator tão ruim que a sua escalação já sentencia o filme ao fracasso. Se não bastasse o péssimo ator, alguns diálogos são tão ruins, especialmente aqueles que tentam soar inteligentes para sustentar o mistérios, como os travados com uma misteriosa mulher, que mais parecem recém-saídos do Zorra Total. Sabe aquelas piadinhas em que você responde uma pergunta com outra pergunta que rende uma outra pergunta que gera como resposta uma nova pergunta? Não entendeu? É mais ou menos por aí que o roteiro se encarrega de entregar o que supostamente entende como algo criativo e/ou inteligente, mas não é, independente da porta escolhida por Kyle. O terceiro ato é um embaraço total, incapaz de construir algum clímax ou estabelecer algum tipo de desfecho que só reforça que o diretor Karl Mueller não tem a mínima noção do tom que pretende dar ao seu filme, seja o de suspense ou de comédia involuntária. Ao final, pelo menos não é necessário muito tempo para esquecer o filme e as suas estúpidas idéias depois de assistí-los. Já esqueci...
Depois da Terra
2.6 1,4K Assista AgoraDEPOIS DA TERRA
Não há nenhuma razão de "Depois da Terra" existir se não a do ego de Will Smith de alçar seu filho Jaden Smith a astro de filme de ação, colocando o diretor M. Night Shyamalan como um mero funcionário padrão já que visual e esteticamente não existe nenhuma assinatura do indiano.
Pois bem, o filme que pretende ser classificado como ficção científica parte do princípio que a ação humana tornou o planeta Terra inabitável, fazendo com que os seres humanos se instalassem em um outro planeta, porém em seu novo lar, os humanos precisam enfrentar a ameaça de criaturas que se alimentam do medo (sim, isso é usado literal e quimicamente). Durante uma missão liderada pelo general Cypher Raige (Will Smith), considerado um soldado fantasma já que não demonstra medo, logo é capaz de exterminar as terríveis criaturas que se alimentam do medo, em que ele decide trazer seu filho Kitai (Jaden Smith), algo dá errado e eles precisam de um pouso forçado na Terra. Incapaz de se locomover já que está gravemente ferido, Cypher passa a guiar o filho neste planeta inóspito para que ele encontre o sinalizador que fará com que eles sejam salvos, tendo que escapar no meio do caminho de criaturas digitais criadas pela equipe de efeitos especiais, do frio e, é claro, da própria criatura que de maneira conveniente também caiu no planeta Terra.
As sequências de ação são extremamente preguiçosas, incapazes de despertar o mínimo de tensão, sendo que o maior alcance foi obtido com a participação de uma águia que funciona como uma espécie de "fênix" na vida do nosso herói. A mitologia do universo do filme é fraco e os diálogos são sofríveis, seja quando se limitam a especular sobre a natureza do planeta, seja para reforçar a relação de pai e filho, resumindo-se a uma filosofia de auto-ajuda digna de se cair de joelhos. Jaden Smith que havia demonstrado um carisma irresistível em "À Procura da Felicidade" já havia demonstrado que sabia ser um ator mirim irritante no remake "O Dia Em Que a Terra Parou", porém neste aqui só lhe cabe o constrangimento, embora a culpa não seja totalmente sua. Posando de herói de filme de ação infanto-juvenil (note como ele anda na Terra com passos firmes e fortes até para reforçar a ação da gravidade para só depois de um tempo sair correndo por aí), os seus esforços são inúteis. Will Smith, o pai, se comporta como uma figura robótica como uma forma de reforçar a natureza militar do seu personagem, combinando com uma espécie de trauma familiar do passado, envolvendo sua filha mais velha. É provavelmente uma das atuações mais aborrecidas e burocráticas de um ator que já emprestou muito mais carisma e simpatia em filmes anteriores.
"Depois da Terra" é uma tragédia na sua tentativa de funcionar como filme-denúncia com mensagem ecológica de pano de fundo e parece ser dirigido por um diretor qualquer, o mesmo diretor qualquer que fez "O Último Mestre do Ar" e não aquele que surgiu de forma tão promissora em "O Sexto Sentido" e "O Corpo Fechado" e que demonstrava uma inspiradora qualidade técnica mesmo em filmes medianos como "Sinais" e "A Vila". Parece que M. Night Shyamalan só vem colecionando constrangimentos desde "A Dama na Água" e "Fim dos Tempos". Indefensável do início ao fim, "Depois da Terra" é um fracasso retumbante para todos os seus envolvidos.
2.0/10
Life Itself - A Vida de Roger Ebert
4.2 40LIFE ITSELF
Este documentário espelha muito mais o exemplo de vida dado pelo crítico de cinema Roger Ebert em sua luta pela vida contra o câncer do que propriamente uma investigação sobre a sua carreira como crítico ou um aprofundamento sobre o seu estilo de escrita e/ou o que fez com que a qualidade dos seus textos lhe credenciassem ao Pulitzer, maior prêmio da literatura mundial. Cobrindo rapidamente sua infância e a sua vida familiar como filho único (as influências de pai e mãe são resgatadas apenas em alguns momentos), o documentário logo se encarrega de mostrar Ebert como um prodígio no jornalismo já que assumiu muito cedo um jornal regional até chegar ao Chicago Sun-Times e ser direcionado como crítico de cinema, tendo como auge o reconhecimento deste renomado prêmio que sempre se tornou a sua maior e principal credencial. Sempre pontuado pelo relato de amigos e pessoas que trabalharam ao lado de Ebert, o filme tenta equilibrar o trunfo profissional ao mesmo tempo que foca em seu alcoolismo, mas sem deixar muito claro como Eber lidava com dois extremos tão críticos sem que isso lhe prejudicasse profissionalmente. O documentário tem mais sucesso ao explorar a amizade conturbada de Eber com Gene Siskel, outro respeitável crítico de cinema, no longo período que trabalharam juntos em um programa de televisão. Inteligentíssimos, os dois eram extremamente competitivos e se tornaram de certa forma rivais, sempre se alfinetando, embora não conseguissem se separar já que a dinâmica da disputa de opiniões e personalidades, no final das contas, servia de combustível para a vida e a carreira dos dois. O momento que mais aproxima o documentário dos textos de Ebert é quando já impossibilitado de usar a voz em decorrência da doença, ele transforma o seu blog em sua "nova" voz, uma espécie de catalisador e passa a realizar textos cada vez mais inspiradores (a quantidade de textos exibidos/narrados no documentário ainda assim são frustrantes). Os elogios de Scorsese, Herzog e outros diretores ajudam a traçar o peso e o impacto das palavras de Ebert para os profissionais da área. De qualquer forma, o aspecto mais absoluto em "Life Itself" certamente é o que acompanha a rotina de Ebert sempre ao lado de sua dedicada e admirável esposa Chaz, mostrando que mesmo com inúmeras dificuldades e limitações, ele ainda exercia uma extrema paixão pelo seu trabalho e consequentemente pela vida, uma lição universal aliada a uma história de amor que acontece diante dos nossos olhos, capaz de inspirar e deixar qualquer um verdadeiramente emocionado com este documentário que, em linhas gerais, faz mais jus ao homem do que ao crítico. Um bom documentário, uma excelente história de vida!
8.0/10
Prova de Redenção
4.2 363BEM-VINDO AO MUNDO
O cinema de Sergio Castelitto visto em "Não Se Mova" e aqui em "Bem-Vindo ao Mundo" flerta perigosamente com o melodrama já que caminha em uma linha tênue entre a beleza e a sensibilidade da narrativa e os eventos marcantes e trágicos que a acompanham, porém as escolhas do roteirista e diretor italiano são quase sempre muito sensatas e assertivas, o que favorece que o peso da história tenha o seu próprio apelo, natural, sem apelações e/ou excessos.
Baseado na obra de Margaret Mazzantini, o filme acompanha a italiana Gemma (Penelope Cruz) que regressa para Sarajevo, agora acompanhada do filho de 16 anos, e revive as lembranças da história de amor que viveu com o jovem fotógrafo Diego (Emily Hirsch) em função de uma exposição de antigas fotografias tiradas por ele. Qualquer outro detalhe sobre a evolução da narrativa tende a tirar um pouco do impacto da cadeia de eventos e que são ligadas diretamente ao filho do casal, logo basta registrar que a relação do casal é marcada por dramas, conflitos, inseguranças, fraquezas e provações que colocam o futuro dos dois em risco.
Falado quase que totalmente em inglês e contando com um elenco internacional, "Bem-Vindo ao Mundo" tem quatro grandes atuações. A espanhola Penélope Cruz repete a parceria de "Não Se Mova" com Castelitto e entrega mais uma atuação forte e densa, sensível e delicada, sabendo conduzir muito bem as ambições dramáticas da sua personagem seja quando Gemma é registrada como uma jovem insegura, seja tornando-se uma mulher mais amargurada e melancólica no decorrer da sua jornada. O americano Emily Hirsch empresta seu charme e carisma para construir um Diego otimista e espirituoso que se mostra um devoto apaixonado, mas que também possui seu próprio arco dramático. O bósnio Adnan Haskovic é uma grata surpresa como o guia Gojco que acompanha Gemma em toda a sua jornada, mantendo uma admiração secreta por ela, mas que a sua maneira também não mede esforços para vê-la feliz e Haskovic constrói um personagem generoso, carismático, mas que também tem a sua própria tragédia de vida. Outra atuação marcante é da turca Saadet Işıl Aksoy que interpreta uma importante e vital personagem para o destino de todos os envolvidos nessa trama. O ponto fora da curva no que se refere às atuações fica a cargo do italiano Pietro Castelitto, filho do diretor, e que interpreta o filho de Gemma e Diego, mas que se mostra um ator bastante limitado e pouco carismático, mesmo considerando que a sua escolha tenha sido bastante corajosa por parte de Sergio Castelitto.
Em "Bem-Vindo ao Mundo", a guerra da Bósnia que atingiu Sarajevo e imediações no início da década de 90 serve de pano de fundo e de evento catalisador para a passagem de tempo. Castelitto consegue capitalizar boa parte do mistério acerca das surpresas da narrativa com a idas e vindas de tempo da narrativa, mas em determinados momentos usa um recurso preguiçoso de mesclar um determinado personagem no presente e no passado como uma forma de lembrar o espectador de quem se trata. Em outros momentos, a variação no tempo acaba quebrando o ritmo da narrativa, tornando-a mais extensa e exaustiva, especialmente lá pelo final do segundo ato. Ainda assim, há algumas soluções de Castelitto que são interessantes, como quando envolve os pais em sombras diante de notícias ruins ou em uma sequência que envolve a entrega de uma montante em dinheiro, algumas outras rimas visuais interessantes. As escolhas musicais da trilha sonora já parecem confusas, tentando repetir a mesma diversidade de nacionalidades, mas ora acabam fazendo com que muitas sequências soem deslocadas do conjunto da obra enquanto que outras surgem apenas serem explicativas ao que já se vê, soando redundantes.
A busca pela identidade. Essa parece ser a premissa central de "Bem-Vindo ao Mundo" e de certa forma o que todos os personagens buscam é o seu lugar no mundo e em meio à tragédia da guerra, todos acabaram encontrando o seu destino assim como de certa forma a própria região e os pais e mães de Sarajevo. Identidade e personalidade são as principais características deste belíssimo drama que tinha todos os ingredientes para se tornar um filme piegas e melodramático, mas que resultou em uma produção muito mais integra, legítima, forte e muito mais verdadeira emocionalmente.
8.0/10
Juventude Transviada
3.9 546 Assista AgoraJUVENTUDE TRANSVIADA
Jim Stark (James Dean) é um jovem encrenqueiro de passado problemático que muda para uma nova cidade com os pais, porém não demora muito tempo para arranjar novos inimigos em seu colégio ao passo que demonstra um interesse amoroso por Judy (Natalie Wood), namorada do seu maior rival, e desperta uma admiração quase que obsessiva de Platão (John Crawford), um garoto bastante introspectivo.
Dirigido por Nicholas Ray, "Juventude Transviada" é um filme que possui um grave tom caricatural que coloca quase tudo a perder já que os dilemas enfrentados pelos seus personagens adolescentes são exageradamente teatrais, quase que como uma farsa, logo a interação entre os jovens nunca soa convincente o bastante, ressaltando o fato de que os atores escalados parecem muito mais velhos do que seria conveniente para a faixa etária que representam.
Essa "farsa" soa tão escancarada que parece até mesmo proposital, especialmente diante das discussões entre pais e filhos já que os adolescentes surgem ameaçadores e/ou inconformados diante das figuras de autoridade, logo ao perceber a submissão do pai de Jim perante a mãe ou notar que os pais de Judy dormem em camas separadas, a sensação que se dá é que estamos muito mais diante de uma comédia do que um filme que pretende discutir a rebeldia adolescente e/ou a insegurança e falta de perspectivas desse público.
James Dean demonstra em "Juventude Transviada" ser um jovem ator bastante promissor, mas ainda mais cru e irregular na condução do arco dramático vivido pelo seu personagem. Natalie Wood é de uma nulidade dramática que a torna uma figura aborrecida, especialmente pelo fato da sua personagem mudar sua postura e atitude de maneira tão abrupta através do mero artificio da imaturidade. O grande destaque fica por conta de John Crawford que demonstra um repertório maior e com muito mais sensibilidade fazendo de Platão um jovem triste e melancólico já que parece marginalizado, inclusive pelos próprios pais.
Contando com um terceiro ato tenso e extremamente eficiente justamente por girar em torno dos destinos dos personagens (nem tanto pela evolução da "química" entre eles), especialmente Platão, "Juventude Transviada" é um filme irregular e inseguro que padece de falta de personalidade, mas que, exageros à parte, em sua essência funciona como uma espécie de grito de socorro de uma geração que ainda não encontrou o seu lugar no mundo. E, de certa forma, a imperfeição do filme acaba sendo estranhamente apropriada.
6.0/10
A Um Passo da Eternidade
3.9 154 Assista AgoraA UM PASSO DA ETERNIDADE
Há uma certa teatralidade, uma acerta afetação nas atuações em "A Um Passo da Eternidade" que faz com que algumas passagens, especialmente envolvendo os casais, se tornem um pouco caricatas, como se faltasse apenas a algum determinado personagem que posasse diante da câmera, olhando para o horizonte enquanto uma música brega tocaria de fundo. Ainda assim, este filme dirigido por Fred Zinnerman estabelece com extrema competência o arco dramático de pelo menos dois personagens centrais, além de apresentar uma gama de personagens masculinos e femininos antes do início do ataque japonês a Pearl Harbor, base do exército americano no Havaí. Concentrando-se na rotina dos soldados, o roteiro apresenta o soldado Robert Prewitt (Montgomery Cliff), um ex-boxeador que é o mais novo transferido para a base militar, que tem a sua vida transformada num martírio no quartel por não participar da equipe de boxe do regimento, o que cria certos inimigos ao passo que se apaixona por uma prostituta (Donna Reed) e estabelece uma relação de amizade com outro oficial (Frank Sinatra). Paralelamente, o sargento Warden (Burt Lancaster) passa a se envolver amorosamente com a esposa do capitão (Debora Kerr) e os dois passam a enfrentar os dilemas decorrentes da decisão de ficarem juntos. A obstinação de Robert e a paixão de Warden são os principais fios condutores que sustentam a narrativa, logo as figuras femininas também são determinantes para a motivação dos mesmos, sendo curioso notar como a natureza trágica e melancólica da esposa do capitão chega a ser muitas o maior empecilho, contando com uma marcante atuação de Debora Kerr, enquanto que a prostituta vivida por uma simpática Donna Reed ganha contornos de heroína romântica e dramático a medida que ela vê em Robert a oportunidade de ter uma vida normal como esposa dele. O limitado Montgomery Cliff realiza um bom trabalho, traz uma rigidez ao seu personagem que favorece o lado introspectivo do personagem (a passagem em que ele faz uma homenagem silenciosa é extremamente tocante) enquanto que Burt Lancaster chama mais a atenção pelo contraste entre a firmeza e a sutileza dramática encarnados pelo personagem (se inicialmente ele parece mais interessado em galantear com o passar do tempo acredita-se nas suas intenções amorosas). De qualquer forma, o maior destaque fica por conta da participação de Frank Sinatra que rouba todas as cenas em que está presente pelo lado fanfarrão do personagem. Contando com um desfecho simplista diante de um clímax que não consegue atingir plenamente seus principais contornos dramáticos, embora tenha lá sua carga dramática, "A Um Passo da Eternidade" é muito menos um filme sobre a guerra e muito mais um filme sobre os homens e as mulheres que tiveram que enfrentá-la tendo como arma a esperança de viverem o que o futuro os reservava, mesmo que essa garantia diante de tal cenário fosse um elemento tão frágil.
8.0/10
Aconteceu Naquela Noite
4.2 332 Assista AgoraACONTECEU NAQUELA NOITE
O elemento mais marcante em "Aconteceu Naquela Noite" é a dinâmica romântica e divertida dos seus personagens centrais, o que permite um encantamento quase que instantâneo e absoluto, uma comédia romântica na sua mais legítima e carismática definição. Ellie (Claudette Colbert) é a filha de um ricaço que resolve fugir para encontrar e casar com seu amado, mesmo contra a vontade do seu pai, e no meio do caminho encontra Peter (Clark Gable), um jornalista desempregado que vê neste acaso uma oportunidade de levantar uma importante história e retomar seu emprego em Nova Iorque. O que se estabelece a partir da união entre Ellie e Peter é o desenvolvimento da química entre dois opostos que gradativamente vão se permitindo uma aproximação até ao ponto de se descobrirem apaixonados um pelo outro. Contando com um energético trabalho de direção de Frank Capra que possui um "timming" cômico impecável na condução das situações mais absurdas e divertidas enfrentadas pelo casal, o filme ainda conta com duas atuações marcantes e memoráveis do seu casal de protagonistas. Clark Gable exibe uma atuação arrojada que mescla um certo estilo rústico com um pouco de elegância que lhe dá um charme cômico e romântico na medida certa. Já Claudette Colbert dá vida a uma figura feminina inquieta, petulante, desbocada e cheia de energia que cria um contraponto irresistível a figura masculina de Gable. Divertido e simpático na maior parte do tempo, "Aconteceu Naquela Noite" até se estende mais que o necessário em seu terceiro ato, perdendo um pouco do seu ritmo cômico, mas ainda assim se apresenta como um filme marcante e deliciosamente carismático.
9.0/10
Amor à Primeira Vista
3.4 115 Assista AgoraAMOR À PRIMEIRA VISTA
"Amor à Primeira Vista" é um filme romântico à moda antiga. Molly (Meryl Streep) e Frank (Robert De Niro) se conhecem casualmente e o sentimento que passam a nutrir um pelo outro passa a ameaçar o futuro dos seus casamentos. Dirigido com elegância por Ulu Grosbard, o filme a narra a história desse dilema amoroso a partir de uma sucessão de sutilezas, logo o encanto pode ser notado em pequenos detalhes, como a excitação de Molly ao notar que Frank ainda não chegou na estação da trem ou o aborrecimento dele ao se dar conta de que não a verá naquele dia. Da mesma forma, a troca de olhares carinhosos e amorosos entre os dois legitimam o sentimento romântico que ambos passam a nutrir um pelo outro e consequentemente realça as virtudes dos trabalhos sensíveis e delicados de Meryl Streep e Robert De Niro em um clássico filme do gênero romântico. Se os seus respectivos parceiros não são retratados como vilões também não são apresentados da forma mais afetuosa, sugerindo um conveniente distanciamento emocional que será essencial para a evolução moral da narrativa e as conclusões indiretas referentes aos casamentos (não há como negar certos moralismos e conveniências, desde que não "manchem" a imagem de Molly e Frank). Contando com uma trilha sonora leve e romântica, "Amor À Primeira Vista", ainda assim, é um romance delicado, repleto de sutilezas e pequenos detalhes que certamente realçam a aura romântica do projeto e conta com duas performances charmosas e encantadoras de Streep e De Niro.
7.0/10
Paraísos Artificiais
3.2 1,8K Assista AgoraPARAÍSOS ARTIFICIAIS
Em meio ao som das batidas de música eletrônica, "Paraísos Artificiais" apresenta um arco dramático legítimo costurado pelo diretor e co-roteirista Marcos Prado, porém até alcançar esse resultado, ele parece mais interessado em explorar o efeito visual das raves e preencher as lacunas com algum tipo de filosofia parada, como aquela que sentencia que a droga só traz à tona o que cada um de nós já carregamos dentro de nós mesmos. Os caminhos de Érika (Nathália Dill) e Nando (Luca Bianchi) se cruzam ao longo da trajetória dela que se torna uma DJ famosa, mas trazendo consigo marcas de um passado trágico e de superação, e dele que embarca em uma viagem com um amigo para Amsterdã, mas acaba preso no Brasil por transportar drogas ilegais. O primeiro e segundo atos acabam sendo vazios e inconsequentes assim como a geração que pretende retratar e em meio a narrativa algumas passagens desconectadas são inseridas para criar um senso de confusão e alguma expectativa de como os eventos irão se encaixar no final, mas sem muita sofisticação ou criatividade por parte de roteiro e/ou montagem (o recurso de fazer com que a despedida do casal esconda um segredo é pra lá de conveniente). A ótima atuação de Nathália Dill se mantém regular ao longo de toda a projeção ao passo que Luca Bianchi se mostra um ator bastante irregular, não conseguindo satisfazer todas as necessidades emocionais do personagem ao longo da sua trajetória, alcançando um melhor equilíbrio lá pelo final. Outro destaque positivo por parte do elenco é Lívia de Bueno que interpreta a namorada de Érika e se torna uma presença marcante justamente em função do seu carisma e da sua energia em cena e até por isso que o envolvimento delas acaba sendo o único elemento que justifica as bem fotografadas, porém extensas e cansativas sequências de festas assim como aquelas que tentam evocar certa poesia, como a que envolve búfalos ou ondas no mar. Felizmente o terceiro ato costura as pontas soltas da narrativa e cria um intenso clímax que reúne não apenas mais uma vez os destinos de Érika e Nando, como ainda por cima insere a figura do irmão mais novo dele de uma forma a ampliar o alcance da proposta de um filme que além das sua própria narrativa também tem o interesse de chamar a atenção para essa geração que cada vez mais está buscando o prazer e/ou a felicidade através da pílulas e/ou comprimidos, pois são incapazes de lidar com suas próprias fraquezas e/ou incertezas. Uma pena, no entanto, que a mensagem de Marcos Prado acabe ficando pelo caminho em meio ao barulho dos batidões e/ou dos efeitos alucinógenos que tanto fez questão de condenar. Um pouco mais de lucidez não faria mal a ninguém.
6.0/10
Kramer vs. Kramer
4.1 546 Assista AgoraKRAMER VS KRAMER
O roteirista e diretor Robert Benton adaptou o romance "Kramer Vs Kramer" e o equilibrou em um drama tocante e cativante a partir da história de Ted Kramer (Dustin Hoffman), um respeitável e "workaholic" publicitário, que precisa cuidar sozinho do seu filho Billy (Justin Henry) a partir do momento que sua esposa Joanna (Meryl Streep) lhe pede o divórcio e os abandonam para encontrar um novo rumo de sua vida. O filme trata o assunto do ponto de vista de Ted, logo ao longo do filme sabemos muito pouco sobre as motivações de Joanna, sendo que ela mesmo resume a sua condição como uma oportunidade para encontrar a si mesma, logo é natural que nos identifiquemos com o drama muito mais pelo ponto de vista do pai. E mesmo levando em consideração que as motivações de Joanna são legítimas, a evolução do relacionamento entre pai e filho que parte do estranhamento inicial sem a figura feminina em suas vidas até o encantamento genuíno é de extremamente comovente pela maneira leve com que Benton conduz a narrativa, ainda mais diante de um tema tão espinhoso, sem fugir do embate jurídico, mas ganhando pontos sendo emocional sem exagerar no sentimentalismo barato. A leveza e o bom humor da narrativa permite que Dustin Hoffman ofereça um dos seus trabalhos de atuação mais carismáticos de sua carreira, mesclando intensidade e sensibilidade. O mesmo pode ser dito de Justin Henry, um ator mirim adorável e encantador. Meryl Streep tem a difícil missão de interpretar a mulher que os abandona, sugerindo um possível problema emocional, mas um desconforto diante de uma situação com a qual não sabe lidar e que de uma hora para outra reaparece querendo a custódia da criança. Ainda assim, Streep é sutil o bastante para não deixar de transparecer em seu semblante, especialmente no seu olhar, as emoções que a sua personagem enfrenta ao se colocar entre seu ex-marido e filho. É um drama sensível e delicado que dá uma lição de humanidade para qualquer relacionamento que mesmo desfeito precisa manter sua integridade pelo bem dos filhos e da família.
9.0/10
Viagem Sem Volta
2.1 281 Assista AgoraVIAGEM SEM VOLTA
No decorrer de "Viagem Sem Volta", você fica com a expectativa se o suspense virá da insuportável Alicia (Juno Temple, péssima), uma jovem antissocial que de repente se vê deslocada e paranóica em uma viagem pelo interior do Chile, ou de seus insuportáveis companheiros de viagem, dentre eles a aborrecida Barbara (Catalina Sandino Moreno, péssima), o irritante Agustin (Agustin Silva, péssimo) e o abominável Michael Cera (Michael Cera sendo Michael Cera, logo péssimo). O filme tenta se estabelecer como um suspense/terror psicológico com toques dramáticos, especialmente por se concentrar na figura perturbada de Alicia, mas a narrativa é um completo engodo repleto de eventos desinteressantes e de passagens sem um mínimo de tensão, logo fica difícil entender se a tal viagem sem volta é uma espécie de mensagem subliminar para o espectador que ora fica entendiado, ora fica inconformado com o desenvolvimento do filme. A inserção de uma subtrama que envolve Sarah (Emily Browning, perdida e péssima), melhor amiga de Alicia, em um situação de aborto só deixa o cenário mais caótico, pois a narrativa não dá nenhum indicativo de que irá se preocupar com esse assunto e/ou qualquer outro. O diretor Sebastian Silva parece ser um guia de viagem perdido, sem o menor pulso para arrancar algum tipo de vivacidade de um filme moribundo que simplesmente não vê a hora de morrer e nessa hora não há índio no mundo, seja ele chileno ou brasileiro, que o salve do fim definitivo que é o seu total esquecimento.
1.0/10
Redes do Crime
3.0 65REDES DO CRIME
Dirigido e co-escrito por Brian Goodman ao lado do também ator Donnie Wahlberg, "Redes do Crime" traz uma história baseada em fatos reais que acompanha os amigos Brian (Mark Ruffalo) e Paulie (Ethan Hawke) que desde a infância praticam pequenos crimes na cidade de Boston, tornando-se comparsas de um importante mafioso da região (Goodman) até se envolverem em golpes maiores por conta própria e serem presos. Quando Brian sai primeiro da prisão, ele resolve viver uma vida honesta, apesar das dificuldades em conseguir emprego, mas a partir do momento que Paulie ganha a liberdade, os dois voltam a se envolver com as pessoas erradas.
O filme tem um sério problema que é a pressa, tudo acontece em cena em uma velocidade que não permite que a narrativa seja desenvolvida com discernimento e competência. Os eventos saltam um do outro como se cada um deles fosse uma consequência instantânea do que acabou de acontecer, sem preparo nenhum, sem nenhum tipo de capricho ou refinamento por parte do roteiro, muito menos por parte da edição, se é que existe já que a sensação de que as sequências são simplesmente coladas umas nas outras sem nenhum tipo de acabamento. Em determinado momento, por exemplo, Brian sai da casa que divide com sua esposa (Amanda Peet), na cena seguinte está se drogando e na outra já é ilustrado como um viciado incorrigível. Dessa forma fica difícil entender quais são os eventos mais importante dentro da jornada, como se houvesse uma pressa na narrativa para se alcançar logo o final, mesmo que ele venha de qualquer jeito e/ou qualquer custo.
Tentando emular certa nostalgia e/ou uma relação que possuem à cidade de Boston, Goodman e Wahlberg (que também participa do filme como o detetive que não larga dos pés de Brian e Paulie) parecem mais interessados e/ou encantados com o círculo vicioso do crime do que consistí-lo em uma trama com eventos sólidos. Como se a desculpa do "baseado em fatos reais" dessem carta branca a eles para fazer tudo o que quiser. A sorte dos dois é que existe um grande ator ao lado deles: Mark Ruffalo. Ele faz com que toda a jornada de Brian se transforme em uma característica que salta aos olhos do personagens que parece se incomodar com as suas práticas e se apresenta visivelmente arrependido após os anos de prisão, mas que sofre por não conseguir algum tipo de sucesso através de uma vida digna, como se a vida de crime fosse seu verdadeiro vício. Uma atuação poderosa de Ruffalo mesmo que o roteiro tenha tanta pressa pra contar tanta coisa! Ethan Hawke não tem um papel com o mesmo desenvolvimento que o seu parceiro em cena, logo Paulie funciona apenas como o estopim para as principais bobagens cometidas pela dupla. A única coisa que Amanda Peet tem a fazer é se balançar no clichê e deixar que ele a leve até onde ele quer ir, quase sempre com diálogos genéricos ou repetitivos. Ainda assim, a presença de Mark Rufalo é um dos poucos pontos confiáveis que o filme tem em mãos.
Contando com um clímax fajuto que se torna ainda mais fajuto por ser antecipado já que a narrativa é contada a partir do "flashback" desse evento (tá na cara que o roteiro não foi "costurado" dessa forma, mas sim na mesa de edição), "Redes do Crime" é um filme que acompanha a trajetória de um sujeito "torto" que tenta de todas as maneiras se livrar dessa vida, mas que parece não conseguir escapar do seu "destino torto". Esse tipo de filme que se propõe a narrar uma história de redenção tem um apelo universal, porém esse só não é o melhor, o mais complexo e nem o mais completo a lidar com esse tipo de assunto.
5.5/10
Estamos Juntos
2.9 245 Assista AgoraESTAMOS JUNTOS
"Estamos Juntos" é um filme camaleônico que tenta ir por diversos caminhos, mas que não alcança pleno sucesso em nenhum deles. A princípio parece acompanhar as desventuras amorosas da jovem Carmem (Leandra Leal) apostando em suposto triângulo amoroso entre ela, seu melhor amigo gay Murilo (Cauã Reymond) e o interesse de ambos, o músico Juan (Nazareno Casero). Nesse meio tempo, a narrativa assume contornos de contexto social, explorando um jovem casal que serão pais e que fazem parte de um grupo de sem-teto liderados por Leonora (Dira Paes). Em meio a isso, Carmem trata de assuntos filosóficos com um homem misterioso (Lee Taylor) que divide seu apartamento. E lá pela metade é um drama em que Carmem precisa enfrentar uma grave doença e no clímax esses três núcleos tentam de alguma forma se ligar através de aparentes laços de amizade que parece ser o objetivo central da narrativa. Irregular e inconstante, o diretor Tony Venturi não sabe qual filme deseja comandar, resultando em um projeto que mais parece uma colcha de retalhos, ora soa contemplativo demais, ora pé no chão demais, ora fantástico. Se há algo que merece destaque é o elenco, especialmente Leandra Leal, demonstrando mais uma vez uma incrível dramaticidade que apenas comprovam que se trata de uma das mais talentosas atrizes brasileiras. Cauã Reymond também cria uma personagem interessante, mas seu personagem é descartável, logo seus esforços não recebem a devida atenção. Nazareno Casero e Lee Taylor fazem o que podem com personagem claramente limitados enquanto Dira Paes é eficiente mesmo com pouco tempo em cena. Dessa forma, esse esforço criativo do cinema nacional acaba sendo prejudicado pela sua falta de foco e que se não chega a ser um desperdício é graças à Leandra Leal.
5.0/10
A Última Casa da Rua
3.0 1,6K Assista AgoraA ÚLTIMA CASA DA RUA
Como filme de suspense há de se reconhecer que "A Última Casa da Rua" tem um grande mérito que é o de ser um filme enxuto e não fazer rodeios para estabelecer seus personagens e sua premissa central. Aqui temos a jovem Elissa (Jennifer Lawrence) que se muda com a mãe (Elisabeth Shue) para a casa ao lado daquela que teve um massacre anos atrás cujos pais foram mortos, a filha dada como desaparecida e que atualmente é ocupada pelo tímido, recatado e do lar Ryan (Max Thierot), filho do casal, mas que durante o ocorrido morava com a avó. Um pouco antes da metade do filme nós já tomamos conhecimento de que existe pelo menos um aspecto mal contato nesta história até que mais algumas reviravoltas (nem tão engenhosas assim) ganham forma e a verdadeira motivação por trás destes acontecimento seja finalmente revelada, inclusive a que é utilizada na sequência final (que era até previsível diante da ordem cronológica dos eventos). De qualquer forma é um suspense simples e regular que não se prende a sustos fáceis (que acabam sendo mínimos) e o que permite o diretor Mark Tonderai explore ao máximo o contexto de um filme cuja tensão se sustenta através de conceitos concretos e reais, especialmente ambiente internos (qualquer outro diretor certamente abusaria das sequências na floresta com vultos passando atrás de alguma personagem), logo não espere nada assombroso ou sobrenatural. A jovem e talentosa Jennifer Lawrence demonstra eficiência em um papel que se resume basicamente a manter-se assustada, mas são em momentos mais intimistas como cantando solitária ou reagindo a determinadas situações, sejam elas constrangedoras ou dramáticas mesmo, que nota-se uma atriz com recursos. Max Thierot tem a difícil missão de interpretar o sujeito ambíguo e misterioso que está presente em 10 de cada 10 filmes do gênero, mas consegue ser sutil e discreto sempre que possível. A personagem de Elisabeth Shue tenta não ser apenas a mãe preocupada e obcecada pela segurança da filha, mas a sua presença se torna mais aborrecida que o necessário. Genérico e despretensioso até mesmo pela sua trilha sonora, "A Última Casa da Rua" não é a última bolacha do pacote, tem lá a sua dose de clichês e lugares comuns do gênero, mas não ofende a inteligência do espectador, logo entre mortos e feridos, salvaram-se quase todos.
5.5/10
O Som ao Redor
3.8 1,1K Assista AgoraO SOM AO REDOR
"O Som Ao Redor" é um filme sobre conflito entre classes cuja narrativa apresenta uma série de pessoas, cada um vivendo suas vidinhas em uma mesma rua de um bairro de classe média em Pernambuco. É um retrato nada glamourizado de rotinas e cotidianos que serve para mostrar que entre quatro paredes não somos tão diferentes entre si, mas que quando precisamos defender "nosso pedaço de terra" que escancaramos nossos maiores preconceitos, seja durante uma reunião de condomínio ou quando somos saudosistas diante de um passado que escapou das nossas mãos. A utilização da edição do som é brilhante ao mostrar todo esse cenário de angústia, desconforto e até mesmo de prazer que vivemos em nossas vidas por mais simples ou inócuo que seja. É um filme contemplativo que trabalha com simbolismos, mas que às vezes exagera e deixa esse tom filosófico tomar conta da narrativa que gira em torno da chegada de um grupo de seguranças particulares para fazer a vigilância da rua, mas que acabam não chegando a lugar nenhum. A subtrama envolvendo o relacionamento entre dois jovens da classe médio é vazio e efêmero como pretende ser, mas a tentativa de evocar as raízes da personagem através da materialização da ruínas de sua antiga casa se assemelha mais com filosofia barata. O mesmo acontece com o contexto que coloca a figura de mulher sentindo-se ameaçada e sufocada dentro da sua rotina, cuja materialização são os latidos do vizinho como representa nossa relação uns com os outros, repletas de ruídos, porém o desfecho é corriqueiro. Já quando envolve os seguranças particulares, como verdadeiros observadores daquela rotina, o roteiro acaba criando um conflito artificial entre dois deles e um dos moradores apenas para soar alinhado com a máxima de causa e consequência. De qualquer forma, Kleber Mendonça Filho cria um painel de pessoas e classes que estão cada vez mais interessados apenas em seus próprios umbigos, o que não deixa de ser um sentimento sufocante, como fica claramente demonstrado em uma sequência de sonho que mostram invasores entrando dentro de uma residência, o que talvez seja o maior pesadelo de muitos. É um filme intrigante a sua maneira, mas tão existencialista e filosófico quanto masturbação em máquina de lavar roupa.
6.5/10
72 Horas
3.6 838 Assista Agora72 HORAS
Como drama, o filme "72 Horas" funciona muito bem já que o diretor e co-roteirista Paul Haggis não exagera na pieguice, aposta na força do conflito dramático central e arranca duas ótimas atuações de Russel Crowe e de Elizabeth Banks, porém como "thriller policial" até acerta quando a narrativa mantém os pés no chão, mas especialmente a partir do terceiro ato, ele se trai completamente abraçando muito mais o entretenimento do que propriamente a sua coerência interna.
Co-escrito também por Fred Cabayé, o roteiro estabelece sua premissa rapidamente em que Laura Brennam (Banks) é presa "injustamente" por ter cometido um assassinato e seu marido John (Crowe) tendo que lidar com a dolorosa situação ao lado do filho e tentando de todas as formas fazer com que ela "escape" da prisão. O "injustamente" aparece em aspas, pois o filme se encarrega de mostrar a cena do crime de maneira tão econômica e desleixada apenas para nos causar a dúvida, mas se ela existe é apenas por não conseguirmos ver neste primeiro momento o que realmente aconteceu e não porque a dúvida é um sentimento legítimo, mas de qualquer forma a obstinação de John nos faz crer na inocência por mais que o filme queira nos convencer do contrário seja neste início ou lá pela metade.
A variação do verbo "escapar" também parece entre aspas, pois as pistas e os desdobramentos do julgamento envolvendo o crime são relevados para nos fazer acreditar que não foi possível provar a inocência de Banks, logo John decide ir contra o sistema e planeja uma fuga da sua esposa da prisão. Nesse ponto, o roteiro é muito assertivo ao mostrar as dificuldades práticas de um homem comum em realizar um plano criminoso, logo se inicia com a busca de um escritor e ex-detento, especialista em fugas (uma participação eficiente de Liam Neeson), a busca por uma arma não-registrada, mas principalmente a necessidade de passaportes e identificações falsas que permitem que ele, sua esposa e filho fujam do país sem deixar rastros. Se por um lado, o roteiro acerta em colocar John em perigo evidente ao se envolver com o submundo do crime e até mesmo evidenciar as dificuldades financeiras do seu plano (ele precisa vender os móveis e a própria casa para financiar o seu plano), a partir do momento que John resolve arrecadar uma grana através da máxima do "homem comum que rouba ladrão", a partir daí o filme assume contornos fantásticos, no sentido cinematográfico da palavra.
Se no decorrer da narrativa conhecemos algumas partes do plano de John, o terceiro ato simplesmente joga pro alto qualquer naturalidade e prepara o filme para uma fuga hollywoodiana já que John passa a ter conhecimentos extraordinários sobre a planta do prédio de um hospital e até mesmo da maneira como a polícia monta as suas estratégias de segurança, o que certamente não foi percebido em nenhum outro momento do filme. Logicamente que quando chegamos neste momento, o alcance dramático da história é legítimo, muito em função da ótima atuação de Russel Crowe que consegue extrair uma constante força dramática através de uma interpretação econômica, sutil, mas bastante intensa (uma sincronia bacana é estabelecida com a figura do pai de John, interpretado pelo veterano Brian Dennehy). Já Elisabeth Banks realiza um surpreendente trabalho dramático como extrema devoção a uma personagem que se apresenta muito mais melancólica do que ambígua e se esse aspecto de certa forma depõe contra o apelo do filme se deve muito mais a um problema do roteiro do que de sua eficiente atuação.
Contando com um desfecho que parece saído de um outro tipo de filme em uma tentativa forçada de estabelecer um senso de justiça e de vitória à narrativa, "72 Horas" acaba ficando em um meio-termo entre o filme que poderia ser e o filme que acabou sendo, repleto de extremos, muitos altos e baixos, pontos positivos que o revigoram e o enaltecem e negativos que o comprometem e acabam chamando muito mais atenção do que deveriam.
6.5/10
A Primeira Vez
3.4 589A PRIMEIRA VEZ
“A Primeira Vez” é uma simpática comédia romântica adolescente que acompanha o encontro e a relação entre o tímido Dave Hodgman (Dylan O´Brien) e a espirituosa Aubrey Miller (Britt Robertson) que em um fim de semana se conhecem, se apaixonam e tem a primeira experiência sexual de suas vidas. Dirigido e escrito por Jonathan Kasdan, o filme é uma agridoce experiência que apresenta seus jovens e imaturos personagens com extrema transparência e sensibilidade, o que representa um banho de autenticidade que faz toda a diferença já que é íntegro, legítimo e honesto em suas intenções.
O roteiro de Kasdan estabelece dois personagens jovens que poderiam se transformar em uma verdadeira armadilha. Dave é o clichê do jovem tímido, recatado e que sequer tem coragem de se declarar para a garota que ama e que não lhe dá bola, mas que ganha contornos sensíveis na interpretação carismática de Dylan O´Brien, como se vê muito pouco nos filmes de hoje em dia. Já Aubrey é aquela jovem autêntica e desbocada que parece segura de si mesma e ter a resposta para todas as questões, mas cujas aflições e inseguranças permeiam seus pensamentos como de qualquer garota. E na pele de uma inspiradíssima Britt Robertson, o alcance da sua personagem é irresistível.
E se o filme já havia conquistado muitos pontos com dois personagens tão atraentes diante de suas imaturidades e fragilidades, Kasdan ainda permite um retrato tão autêntico da libido adolescente e dos sentimentos, inclusive o da curiosidade, que tanto cerca o universo juvenil, mas também a maneira assustada e confusa com que lidam após a primeira vez, como quando Dave conversa sobre a maneira como o sexo é encarado de maneira superestimada ou até mesmo pela ingênua de Aubrey em olhar para seu rosto diante do espelho para ver se haverá alguma marca que denunciará o que acabou de fazer e/ou se seus pais perceberão algo. Esse retrato e esses pequenos fragmentos tão sutis são tão importantes e essenciais para a legitimação do conflito vivido entre os personagens que fica difícil não elogiar a coragem e autenticidade desse adorável filme.
“A Primeira Vez” realmente não é perfeita. Os personagens coadjuvantes, especialmente os melhores amigos de Dave não são alívios cômicos inspirados, embora sejam tipos curiosos, o mesmo acontece com a figura do namorado melancólico de Aubrey. O melhor efeito fica garantido com os pais dela que são retratados como figuras igualmente inseguros, mas extremamente amorosos e certamente mereciam mais espaço. Mas, ainda assim, o filme é de uma doçura tão encantadora que fica difícil resistir ao seu charme ao lidar com temas tão sérios e maduros com extrema sensibilidade e honestidade, sem ignorar a ingenuidade e a falta de maturidade de seus personagens, o que torna toda a experiência ainda mais marcante e significativa.
7.5/10
Lovelace
3.4 548 Assista AgoraLOVELACE
"Lovelace" é a cinebiografia da atriz Linda Lovelace (Amanda Seyfried) que ficou mundialmente conhecida por ser a estrela do filme "Gargante Profunda", uma espécie de "blockbuster" da indústria pornô de cinema que apresentou a primeira sequência de sexo oral explícito a partir da história de uma garota que tinha seu clitóris no fundo da sua garganta. Dirigido pela dupla Jeffrey Friedman e Rob Epstein, o filme não faz jus ao drama de Linda, pois é um filme extremamente irregular na apresentação dos eventos e na condução da narrativa, muito em função também do frágil roteiro de Andy Belin na tentativa de narrar a sua história através da imagem que se criou dela, mas também através dos segredos que Linda revelou apenas em uma biografia literária.
O roteiro de Andy Belin caiu na sua própria armadilha, afinal o filme pode ser dividido claramente em duas partes. Na primeira delas, que acompanha os principais momentos do envolvimento de Linda com o sedutor Chuck Traynor (Peter Sarsgaard), é extremamente abrupto na passagem do tempo e consequentemente na trajetória de vida do casal, logo quando ela decide morar com Chuck aos 21 anos, nenhum elo emocional foi construído entre Linda e seus pais (Robert Patrick e uma irreconhecível Sharon Stone). Da mesma forma, a ingressão de Linda na indústria cinematográfica acontece como em um passe de mágica e a aceitação dela com relação a tudo que acontece ao seu redor é de uma ingenuidade absurda, porém os diretores Jeffrey Friedman e Rob Epstein criam uma espécie de fantasia, um conto de fadas púdico e quase puritano.
A partir da segunda metade é que vem o "pulo do gato" do roteiro que tenta subverter a narrativa a partir do ponto de vista de Linda (como se até aqui já não estivesse sendo dessa forma), mas como uma forma de mostrar que a sequência de eventos que vimos até então não foi bem como apresentada, sugerindo uma natureza muito mais trágica e cruel. A necessidade de construir uma metade de filme através de um falsa reviravolta não se justifica, afinal a primeira metade ficou comprometida pela colcha de retalhos que se tornou e as peças que se encaixam nessa segunda metade são atiradas como grandes sacadas, mas que enfraquecem o ritmo da narrativa que se torna cada vez mais picotado e irregular. Ao final, o filme tenta estimular o conflito de impressões que as pessoas podem possuir com relação à trajetória de vida de Linda, porém a sensação que se dá é que se a narrativa fosse apresentada em sua ordem cronológica, a identificação com o drama e os conflitos dela seriam muito mais respeitados e que seria muito mais condizente com o clima sentimental que embala o desfecho do filme.
Amanda Syfried realiza um bom e corajoso trabalho com o que tem em mãos já que precisa construir uma atuação muitas vezes através de fragmentos de uma personagem que muda muito de personalidade em intervalos de cena muito pequenos (também em função do atrapalhado roteiro). Peter Sarsgaard fazia um ótimo trabalho construindo um anti-herói romântico e rude, porém a partir da segunda metade o seu personagem abraça o papel de vilão da história e vira um clichê ambulante. Adam Brody, Bobby Cannavale e, especialmente, Hank Azaria tem participações carismáticas, já a presença de Robert Patrick e Sharon Stone é prejudicada pela frágil dedicação a figura dos pais de Linda e pelo pouco tempo de cena. Não há muito mais o que dizer das pequenas participações de James Franco e Alec Baldwin
O trabalho de fotografia, reconstituição de época e figurino são muito eficientes para a construção do universo em que os personagens estão inseridos assim como a trilha sonora que remete a clássicos da época. Mas, infelizmente, o filme deixa um gosto amargo no final já que o filme parecia mais interessado em transformar o drama de uma vida em um mistério e acabou prejudicando a experiência como um todo que se torna rasa e injusta quando tinha material mais do que suficiente para se tornar mais intenso e profundo.
5.0/10
The Pill
2.5 51A PÍLULA
Após uma transa casual e sem proteção, o atrapalhado Fred (Noah Ben) precisa acompanhar a espirituosa Mindy (Rachel Boston) por 12 horas para garantir que ela tome as duas doses da pílula anticoncepcional do dia seguinte, logo passa a conhecer seu ex-namorado, sua família e precisa escapar da marcação cerrada da sua namorada Nelly (Anna Chlumsky) que acaba de chegar de viagem. Nada contra a premissa, mas há um certo sexismo inicial que responsabiliza Mindy pela irresponsabilidade do sexo sem camisinha, afinal por que sugerir que ele teve a preocupação e ela agiu de maneira impulsiva? Por que não optar por um esquecimento mútuo pelo calor do momento? Mas não, os piores julgamentos são feitos a ela, porém com o passar do tempo nota-se que ela e Fred são dois mentirosos compulsivos, logo as atitudes egoístas e inconsequentes dos dois só indicam que eles realmente se merecem, além de ambos possuir uma dificuldade enorme de compreensão já que são capazes de cometer o mesmo erro inicial lá pela metade do filme novamente apenas pra criar conflito (o que só enfraquece ainda mais os dois). Contando com dois protagonistas de personalidades desinteressantes, o filme escancara a sua pretensão de aproximar o inusitado casal, porém o máximo que o roteiro escrito pelo também diretor J.C. Khoury consegue é construir sequências em que os personagens aparecem rindo com piegas músicas românticas de fundo. E nem mesmo ao transformar Nelly em uma mulher obsessiva e aborrecida, a narrativa consegue fazer com que a expectativa para que Fred e Mindy fiquem juntos se torne algo pelo qual vale a pena torcer. Se Noah Ben não possui o menor carisma para tornar Fred um sujeito minimamente carismático, tornando-o irritante enquanto Rachel Boston não consegue explorar a vivacidade da personagem, tornando-a irritante. ainda assim cabe a presença da talentosa Anna Chlumsky ser o melhor e maior atrativo de um filme tão vazio quanto inconsequente, como se percebe da primeira a última cena, ideal para ser esquecido imediatamente.
3.0/10
O Convite
3.3 1,1KO CONVITE
"O Convite" é um drama com toques de suspense psicológico que constrói um clima de angústia e tensão crescente e palpável a partir de um jantar aparentemente normal entre um grupo de amigos que vai se transformando cada vez mais em uma surtada reunião macabra.
O centro narrativo do filme reside na figura de Will, que traz intimamente um desconforto diante do encontro, especialmente com relação ao seu passado com Eden (Tammy Blanchard). O roteiro da dupla Matt Manfredi e Phil Hay é intrigante e extremamente inteligente ao ser econômico na revelação dos detalhes do trauma que marcou as vidas de Will e Eden (e saber o mínimo possível antes de ver o filme só ajuda), o que trabalha muito a favor do clima claustrofóbico e conspiratório da trama. Se por um lado acerta quando permite que uma determinada personagem deixe a reunião amistosamente, por outro abraça algumas convenções mais óbvias, como quando utiliza a mensagem deixada por um integrante do grupo que está atrasado.
A diretora Karyn Kusama sabe colocar a sua câmera em posições que realçam a sensação de desconforto de Will, usa de lentes e efeitos de focos que constrói o clima de paranoia e durante o clímax sabe construir sequências fortes e chocantes, altamente coerentes com a proposta da trama que insere “pessoas” (e não meros personagens e/ou clichês) em uma situação crítica e assustadora. O eficiente trabalho de fotografia ajuda na construção do ambiente sombrio assim como a própria arquitetura interna da casa que serve de cenário central para o desenrolar da narrativa. Em contrapartida, a trilha sonora poderia ser um elemento mais marcante, soando mais como um exercício de estilo e com melodias apenas estranhas.
A atuação devotada, espantosa do ótimo e surpreendente Logan Marshall-Green é essencial para a consolidação da narrativa, embora o elenco como um todo tenha um ótimo desempenho, como a intensa Tammy Blanchard, a elegante Emayatzy Corinealdi que interpreta Kira, a namorada de Will, o talentoso Michiel Huisman e até mesmo o minimalista John Carol Lynch. Com um elenco tão homogêneo em uma trama que se sustenta tanto pelo que os personagens deixam subentendido, muito do apelo do filme resulta da qualidade das atuações e do carisma dos atores.
Contando com um desfecho desnecessário que sugere uma dimensão mais ampla para o que acabamos de ver dentro daquela casa com aqueles personagens, “O Convite” é um ótimo exemplar de filme que sabe mesclar drama e suspense, resultando em uma produção tensa, curiosa, criativa e de qualidade.
8.0/10
Sindicato de Ladrões
4.2 295 Assista AgoraSINDICATO DE LADRÕES
Neste filme dirigido por Elia Kazan, o dilema do ex-boxeador Terry Malloy (Marlon Brando) que serviu de álibi para a morte de um potencial delator da máfia que mantém negócios escusos com o sindicato dos portuários sustenta muito mais a narrativa que os eventos em si. Não é à toa que Malloy seja o personagem mais emblemático já que na paleta de cores de Kazan é tudo preto no branco, mocinhos e bandidos, e até por isso a sua relação com a irmã do falecido é tão importante para a sua humanização. O diretor consegue construir um filme intrigante mesmo que alguns aspectos relacionados aos vilões soe tão cartunesco por muitas vezes, inclusive com a inclusão de uma trilha sonora pra lá de escancarada (às vezes chega a ser cômico, restando apenas chifrinhos e rabinhos para os membros da máfia para terminar a caricatura). Ainda assim, a sua melhor intervenção tem fundo dramático como na sequência em que Malloy revela para a amada a sua participação na morte do irmão, utilizando do silêncio dos diálogos e de elementos da cena para criar a tensão dramática. A atuação do Marlon Brando é hipnotizante, repleta de detalhismos e nuances, assisti-lo depois de toda uma carreira consolidada é muito injusto, mas neste ele já demonstra uma maturidade, uma segurança que fica fácil entender porque ele era tão especial e venerado. Só dá pra imaginar como foi acompanhar o crescimento da sua carreira, filme após filme, deve ter sido um privilégio. Ele demonstra ser um ator formidável só pelo que se vê neste aqui. Com Brando em cena, o filme em si vira um mero detalhe. Contando com um clímax cujo efeito dramático é efetivo, ainda mais por aproximar os dramas de vida do casal, o desfecho é épico ao evocar uma potencial rebelião dos trabalhadores contra o sistema criminoso que os aprisiona, mas ainda assim é um filme apenas Ok, menor se comparado ao tamanho do talento de Brando.
7.0/10
Solteiros Com Filhos
3.1 403 Assista AgoraSOLTEIROS COM FILHOS
Escrito e dirigido pela atriz Jennifer Westfeldt, "Solteiros Com Filhos" é uma comédia romântica que tenta fugir do convencional, mas sempre quando convém abraça os clichês, porém conta com um elenco simpático e carismático o bastante para legitimar seus principais conflitos. Julie (Westfeldt) e Jason (Adam Scott) são dois amigos na faixa dos 30 anos, independentes, solteiros, bem sucedidos na carreira, mas que não possuem muito sucesso para encontrar a cara da metade e constituir uma família. Como uma medida impulsiva, eles decidem ter um filho juntos, dividindo as responsabilidades e obrigações, mas sem deixar que isso afete a amizade entre os dois e a vida de solteiro. A partir do nascimento do filho, Jason se envolve com Mary Jane (Megan Fox) e Julie com Kurt (Edward Burns), porém o sentimento de Julie com relação a Jason começa a mudar e colocar em risco a amizade entre os dois.
O roteiro não é muito feliz na utilização das piadas mais pesadas já que a utilização delas não parecem muito naturais sendo utilizadas pelos personagens, soando forçadas e sem a graça que se pretende, afinal não é sempre que falar sobre a largura do órgão sexual feminino favorece a interação entre duas pessoas. Já quando se concentra nos dilemas enfrentados por Julie e Jason, a narrativa torna-se mais relevante e complexa justamente por explorar as dificuldades que um casal passa a ter depois do casamento e, especialmente, depois da chegada dos filhos. Nesse ponto, a figura dos melhores amigos dos dois é muito importante para oferecer um contraponto, desde o casal formado por Maya Rudolph e Chris O'Dowd, explorados de forma mais cômica, como aquele interpretado por John Hamm e Kristen Wiig que possuem uma trajetória mais melancólica e triste. Nos dois casos, os atores dão conta do recado e o carisma dos personagens se mantém impacto, mesmo que sejam subaproveitados lá pelo final do segundo ato.
O ritmo da narrativa não consegue se manter estável e constante, o que prejudica bastante a evolução dos acontecimentos envolvendo Julie e Jason, especialmente com relação à mudança dos sentimentos dela que se resumem a uma sequência em uma música romântica toca de fundo enquanto ela olha pro nada, sendo que os personagens Kurt e Mary Jane são descartados sem mais nem menos. Jennifer Westfeldt deixa demonstrar o carinho que tem pelo projeto e defende a sua personagem com extrema sensibilidade e mesmo diante das atitudes mais absurdas ainda é possível manter-se ao lado dela. O mesmo não pode ser dito de Adam Scott que não tem o meu potencial para sustentar seu personagem, deixando transparecer a sua falta de repertório, dando a sensação de que estaria mais confortável se o seu personagem continuasse falando apenas besteiras e sacanagens. Ele, definitivamente, não é o melhor parceiro em cena que Westfeldt merecia.
Contando com uma trilha sonora povoada por canções fracas e um desfecho tão previsível quanto corriqueiro, "Solteiros Com Filhos" deixa a desejar quando busca algo diferente dentro da sua narrativa convencional, mas quando abraça os clichês, mesmo aqueles que soam mais piegas, consegue ser suficientemente simpático. Poderia ser muito mais, mas parece satisfeito com o pouco que oferece, uma pena, mas que não chega a ser uma completa decepção.
6.0/10
Esquadrão Suicida
2.8 4,0K Assista AgoraESQUADRÃO SUICIDA
“Esquadrão Suicida” é um filme extremamente problemático do começo ao fim. Antes mesmo de estabelecer a premissa, o filme já se encarrega de apresentar dois personagens, o Pistoleiro (Will Smith) e Arlequina (Margot Robbie). A partir do momento que Amanda Waller (Viola Davis) apresenta para seus superiores um projeto de reunir os piores violões para fazer o serviço sujo na missão de proteger os cidadãos americanos, o histórico destes mesmos personagens é novamente apresentado dando destaque à participação do Batman (Ben Affleck) na prisão dos dois e o envolvimento amoroso dela com o Coringa (Jared Leto), fazendo com que a apresentação dos personagens se torne muito arrastada, quebrando o ritmo da narrativa, sendo que os demais membros do time são introduzidos, mas sem o mesmo destaque.
Ou seja, em um filme que se trata de uma equipe, liderados por Flag (Joel Kinnaman), os personagens não recebem a mesma atenção, o que é prejudicial para o desenvolvimento do filme. E se não bastasse a apresentação irregular dos personagens, eles ainda são testados para que se verifiquem se são aptos ou não para fazer parte da equipe, o que torna esse primeiro ainda mais redundante, ainda mais arrastado. Outro problema inicial do filme é a falta de convencimento na legitimação da premissa já que os argumentos de Waller são pouco convincentes, quase que estabelecido à força por um implante que promete explodir os integrantes do esquadrão, caso fujam da linha (não é à toa que um dos personagens que não foi previamente apresentado é explodido rapidamente, sem deixar saudades), exceto, claro, Magia (Carla Delevigne), namorada de Flag, afinal algo precisa dar errado para que se tenha uma história pra contar, o que no caso desta era mais do que previsível; e a missão que serve de estopim para a reunião da equipe não se justifica totalmente, afinal quais são os recursos que o Esquadrão Suicida possui que os credenciam para serem imprescindíveis?
Mas de qualquer forma eles partem para a tal missão suicida e a mão pesada do roteirista e diretor David Ayer (que já havia sido notada em “Coração de Ferro”) fica ainda mais evidente já que ação é tão burocrática, resumindo-se a tiros e explosões, que nem mesmo a montagem consegue conferir algum tipo de tensão. E a aposta em um tom de fotografia pesado, sombrio e excessivamente escuro coloca tudo a perder já que a falta de criatividade na condução com os cortes rápidos na edição faz com que, literalmente, pouca coisa seja digna de se ver. E no decorrer da narrativa, o roteiro investe em uma interação sem um pingo de sintonia entre os membros do esquadrão (família???), além de inserir novos “flashbacks” de Arlequina, apenas para justificar uma maior participação do Coringa, e também de Diabo (Jay Hernandez) que havia sido negligenciado até então. Nesse momento, Capitão Bumerangue (Jai Courtney fantasiado de Tom Hardy), Crocodilo (Adeale Akinnuoye-Agbaje, uma espécie de “Coisa” escamada) e Katana (Karen Fukuhara) são meras peças decorativas, quiçá alívio cômico. Essas constantes quebras da narrativa são cruéis para a condução do fio narrativo e a chegada ao clímax só expõe todos os problemas apresentados até então, logo a falta de clima favorável para o desfecho da trama não é de se estranhar, ainda mais quando sustentado por efeitos especiais artificiais e conflitos dramáticos clichês e piegas.
A escolha de Will Smith como Pistoleiro já demonstra a falta de ambição em torná-lo um anti-herói em sua essência já que a indicação de que ele é um pai apaixonado pela filha toma conta da história (mais moralista impossível). Margot Robbie está à vontade ao interpretar a sua insana personagem que traz uma certa ingenuidade infantil mesclada com uma imprevisibilidade assustadora, dona dos melhores diálogos, mas ainda assim Arlequina é uma figura escolhida para fazer parte da equipe, apenas por não ser normal... e ter um taco de golfe nas mãos. Se os demais membros do elenco são tão discretos quanto passíveis e descartáveis ao longo do filme, Jared Leto parece que está em outro filme já que Coringa aparece superficialmente ao longo da narrativa, sendo um desperdício de qualquer esforço criativo que o mesmo tenha se submetido, mas nada que seja acima da média já que sua participação é discreta e pouco marcante, o que é cruel quando se tem um personagem desse em mãos, destacando-se também apenas por soar estranho mesmo.
Contando com canções energéticas, maneiras e estilizadas, mas que nem sempre combinam com as cenas (a do Eminem, por exemplo), isso quando não são expositivas demais (as primeiras do Pistoleiro e da Arlequina), “Esquadrão Suicida” é, na verdade, um samba do crioulo doido e o fato de eu já ter usado essa descrição para outros filmes ruins e problemáticos demonstra que nem mesmo em seus aspectos ruins, o filme consegue ser original.
3.5/10
Romance e Cigarros
3.0 58 Assista AgoraROMANCE E CIGARROS
"Romance e Cigarros" é uma comédia musical que estabelece uma visão ora romântica e poética, ora triste e melancólica sobre os relacionamentos, especialmente o casamento entre um operário da construção civil Nick Murder (James Gandolfini) e a dona de casa Kitty (Susan Sarandon) que vive uma crise em função da traição dele com Tula (Kate Winslet), uma ruiva ardente e sedutora. Escrito e dirigido por John Turturro, a narrativa tem alguns problemas com relação ao tom e ao ritmo já que a maioria das sequências musicais são irregulares, inseridas de maneira displicente e a opção de colocar os atores cantando as canções, mas com a música original por cima de suas vezes, cria um efeito que causa muito mais estranheza do que beleza, além do que ora existem sequências que existe uma atenção maior com coreografia e composição de cena, ora dá a impressão de que a intenção não é se preocupar com os detalhes. Além disso, por muitas vezes, Turturro acaba sendo refém das elipses, o que demonstra uma certa insegurança já que a narrativa não flui de maneira singular, devido aos cortes e as passagens de tempo irregulares. Ainda assim, o filme tem um apelo dramático forte, pois Nick demonstra que ainda ama a esposa e que a sua traição foi fruto de uma fraqueza de caráter da qual ele se arrepende enquanto Kitty se mostra uma mulher de personalidade forte, mas dividida entre os sentimento do amor e do orgulho ferido. James Gandolfini é um ator que traz uma intensidade grande aos conflitos do seu personagem já que possui elegância no tom de voz e nos diálogos que confere muita franqueza, serenidade e humanidade de um homem falho. Susan Sarandon parece que sufoca toda a dor da sua personagem através de uma interpretação sutil e sensível que estabelece um maravilhoso contraponto ao seu companheiro de cena. Kate Winslet parece à vontade ao interpretar a amante do personagem central cuja personalidade é ardilosa, impetuosa, sem amarras, pode-se dizer que sua personagem tem uma luz diferente dos demais personagens, bem-humorada, mas quase como uma representação da luxúria e do pecado. Há uma tentativa de torná-la uma figura mais dramática até com esforços legítimos de Winslet, mas o alcance nunca chega próximo ao de marido e mulher. Apesar de certo moralismo, o segundo ato se encerra com uma sequência de extremo bom gosto protagonizada por Nick e Tula e no terceiro ato vem à tona um importante álibi dramático que fortalece a relação entre e Kitty, apesar do desfecho abrupto. Entre altos e baixos e mesmo tendo um pesado pano de fundo dramático, "Romance e Cigarros" consegue ser uma produção leve que compensa sua irregularidade com competentes atuações que legitimam as principais intenções da história.
7.0/10
Rebirth
2.2 149 Assista AgoraRENASCIMENTO
"Renascimento" parte de uma premissa interessante para se transformar em uma besteira colossal que soa tão falso quanto os comerciais utilizados em um documentário exibido dentro do próprio filme como auto-propaganda. Em resumo, difícil levar algo tão ruim a sério. Kyle (Fran Kranz) é um pai de família de classe média que vive uma rotina repetitiva e burocrática em seu escritório até que recebe a visita de seu melhor amigo da faculdade, Zack (Adam Goldberg), e o convida para participar de um programa chamado "Renascimento", uma espécie de retiro de fim de semana que promete retirá-lo da rotina e transformá-lo em um novo ser humano. A partir do momento que o programa começa, a narrativa se transforma em um exercício de redundâncias e metáforas que soam tão artificiais que somente um protagonista tão limitado intelectualmente seria capaz de se deixar levar. Aliás, Fran Kranz, uma espécie de cópia genérica do Bradley Cooper, é um ator tão ruim que a sua escalação já sentencia o filme ao fracasso. Se não bastasse o péssimo ator, alguns diálogos são tão ruins, especialmente aqueles que tentam soar inteligentes para sustentar o mistérios, como os travados com uma misteriosa mulher, que mais parecem recém-saídos do Zorra Total. Sabe aquelas piadinhas em que você responde uma pergunta com outra pergunta que rende uma outra pergunta que gera como resposta uma nova pergunta? Não entendeu? É mais ou menos por aí que o roteiro se encarrega de entregar o que supostamente entende como algo criativo e/ou inteligente, mas não é, independente da porta escolhida por Kyle. O terceiro ato é um embaraço total, incapaz de construir algum clímax ou estabelecer algum tipo de desfecho que só reforça que o diretor Karl Mueller não tem a mínima noção do tom que pretende dar ao seu filme, seja o de suspense ou de comédia involuntária. Ao final, pelo menos não é necessário muito tempo para esquecer o filme e as suas estúpidas idéias depois de assistí-los. Já esqueci...
2.0/10